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GRAMSCI
Resumo
O objetivo deste ensaio é refletir sobre o conceito de Daiane Grando
educação na perspectiva marxista de Antonio Gramsci Faculdade Guairacá
elencando alguns de seus conceitos e as possíveis prof.daianegrando@hotmail.com
contribuições destes para a área educacional. Em síntese, a
forma de compreender e pensar a educação no Brasil
recebe influência de várias correntes teóricas e podemos
constatar que Antonio Gramsci trás contribuições para a
construção de um conceito de educação voltado para um
viés crítico. Apoiados na literatura, concluímos que a as
teorizações gramscianas abrem amplas possibilidades para
uma educação voltada para superação da dominação e
disseminação de saberes que levem a formação humana a
partir de um processo dialético do real no âmbito de toda
sociedade civil.
PRESSUPOSTOS INICIAIS
A análise das concepções de educação e sociedade através dos tempos é crucial
para que possamos identificar os teóricos que contribuíram nas discussões sobre o ensino
e aprendizagem. O foco desta análise está voltado para a corrente teórica atrelada as
produções de Antonio Gramsci. Elencamos conceitos e refletimos sobre a forma como o
autor pensa a educação, o conhecimento e a sociedade.
Gramsci inicia sua história de jovem revolucionário após ganhar uma bolsa de
estudos na universidade de Turim, não tendo condições de se manter na universidade
passa a escrever artigos para jornais. O momento pelo qual perpassa a cidade italiana é
de revolta, de luta entre os donos das fabricas e a classe operária. É nesse contexto que
ele sente a necessidade de estar à frente do movimento dos trabalhadores e auxiliar em
um processo revolucionário de esquerda (GUILHERME, 2009).
Não obtendo sucesso em sua luta e com a ascensão da classe burguesa no poder é
acusado de incitar a guerra civil e é condenado a vinte anos de prisão. Nesse período em
que está em cárcere utiliza de seu pensamento militante para escrever sobre o contexto
em que estava inserido.
Coutinho (2011) salienta ainda que não fosse possível fazer os apontamentos
teóricos de Antonio Gramsci sem essa fundamentação no marxismo e que sua concepção
de marxismo como filosofia da práxis parte de um modo novo de relacionar economia e
política, infraestrutura e estrutura e de evidenciar como se da à ação humana frente a
estas determinações.
Partindo dos pressupostos de Marx a história passa a ser valorizada como domínio
das ideias, do espírito e consequentemente do conhecimento. A atividade científica passa
a ser algo sistemático e consciente vinculada ao indivíduo de forma isolada ou associada,
tem sua origem no concreto deixando de ser abstrações apenas religiosas e sociológicas
arbitrárias (COUTINHO, 2011).
Gramsci vai contra essa aceitação passiva de ideias e concepções, contra um poder
coercitivo de impor formas de ser e pensar socialmente. A sociedade civil deve ser um
extenso e complexo espaço público composto por identidades coletivas, com iniciativa
própria, composta por sujeitos capazes de construir sua própria cultura e valores e que
possam ter autonomia em relação ao poder estatal (SEMERARO, 1999).
A importância dada por ele à liberdade e a vontade, mostra que isso só será
possível a partir de uma reforma intelectual e moral, sendo a escola e a cultura as
principais formadoras da consciência coletiva. Consciência esta que leva a participação
social ativa das classes menos privilegiadas construindo fundamentos éticos e políticos de
consenso, assim os homens se tornam sujeitos reais de sua história (SEMERARO, 1999).
Gramsci é contra essa escola voltada aos interesses burgueses que trata o
conhecimento de forma técnica e enciclopédica, que instrumentaliza o trabalhador para
exercer determinadas funções nas quais não se vê como parte do processo.
Com o intuito de transformar essa educação o autor faz uma crítica à educação
tradicional. No caderno 12 ele aborda como a escola tradicional vem tratando o
conhecimento científico de forma abstrata e enfatiza ainda a importância do papel dessa
instituição para o desenvolvimento social como um todo:
Esse domínio direto pode ser capaz de levar a hegemonia, a uma disseminação de
formas de ser e pensar como já foi discutido anteriormente, podendo a escola ser uma
ferramenta para esses fins. Por isso a importância em refletirmos sobre os objetivos
dessa instituição social e a função que esta desempenha na formação do indivíduo.
EDUCAÇÃO E ESCOLA
Partindo da necessidade da formação de uma consciência coletiva e da
importância da escola na formação dos intelectuais, Gramsci propõe algumas formas de
pensar a educação com o intuito de superar visões de senso comum e religião que
transformem os modos de pensar.
Falar em senso comum remete a ideia de que este é um mero significado ingênuo
da realidade, de uma compreensão aceita socialmente nos grupos sociais. Este sendo
comum em suas dimensões éticas e políticas não possui nada de ingênuo podendo
influenciar em determinadas visões de mundo e construir consensos que disseminam um
conformismo ativo das classes subalternas (MARTINS, 2008).
Diante desse ponto de vista Gramsci propõe uma educação que supere as
desigualdades de classe e leve a apropriação do conhecimento historicamente
construído. Um processo pedagógico que zele pela formação de uma consciência
coletiva.
Realiza sua opção por uma escola única de cultura geral humanística “no
sentido amplo e não somente no sentido tradicional”, isto é, definida a
solução racional da crise do princípio educativo, Gramsci dispõe‐se a
Nessa perspectiva a escola unitária atingiria as massas, fazendo com que o sendo
comum, seus costumes, idéias e crenças não sejam desconsiderados, mas se articulem ao
conhecimento cientifico. Partindo dessa visão é possível formar intelectuais no seio da
classe trabalhadora, os quais pudessem lutar por melhores condições de vida por meio de
uma emancipação de compreensões do concreto e do intelectual.
Há então uma recusa de uma escola de caráter “desinteressado” que não objetive
tais análises. Por meio da visão de Gramsci a educação pode ser utilizada para diferentes
finalidades, pois, não tem um caráter desinteressado mais sim um duplo sentido ético‐
político. Este sentido é utilizado socialmente para manter consensos atribuídos pela
classe dominante em uma disputa constante por poder, ou vista por outro viés, pode ser
o instrumento para romper com essa hegemonia e construir uma nova sociedade
(MARTINS 2008).
Essas concepções não podem se esmiuçar como algo objetivo. A sociedade não é
fundada na objetividade, mas sim em uma trama de relações sociais complexas e
subjetivas. Pensar a sociedade objetivamente é ver o mundo de forma acrítica, mecânica,
a‐histórica e anti‐humanista sendo isso prejudicial ao processo de transformação
(MARTINS, 2004).
ALGUNS APONTAMENTOS
Partindo das discussões elencadas evidenciamos a importância dada por Gramsci
em desenvolver as potencialidades culturais do ser humano sem distinção de classe.
Refletindo sobre o atual momento histórico percebemos que a sociedade continua sendo
constantemente vinculada a interesses de classe e protagonizada pela influência de
políticas neoliberais, assim muitos princípios discutidos por em Gramsci parecem fazer
referencia a atualidade. O desafio de mudança estabelecido por ele está historicamente
posto e em constantemente discussão, contribuindo nas produções dos intelectuais
contemporâneos.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, W. Marxismo: História, política e método. Monografia apresentada no
Instituto Federal de Educação, ciência e tecnologia, S/A.
GRAMSCI, A. Concepção dialética da história. Trad. Carlos Nelson Coutinho. 10 ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1981