“A origem dos elementos químicos” – Roberto da costa
O Big Bang, marco inicial do cosmos, deflagrou um espetáculo cósmico que
moldou o universo como o conhecemos hoje. Este evento colossal, ocorrido há aproximadamente 13,8 bilhões de anos, representou uma explosão de energia e matéria que deu início à expansão do espaço-tempo. Em seus momentos iniciais, o universo era um ambiente fervilhante de temperaturas extremas e densidades infinitas. Nos primeiros minutos após o Big Bang, as condições eram tão extraordinárias que possibilitaram a ocorrência de um fenômeno crucial conhecido como nucleossíntese primordial. Nesse cenário caótico, o ambiente cósmico propiciou a formação dos elementos mais básicos e fundamentais da matéria: hidrogênio e hélio. Esses elementos primordiais foram os primeiros a emergir, criando as sementes a partir das quais as estruturas cósmicas mais complexas se desenvolveriam ao longo do tempo. A nucleossíntese primordial foi uma fase crítica e efêmera durante a qual núcleos atômicos simples se formaram através de fusões nucleares. O hidrogênio, o elemento mais abundante no universo, e o hélio, o segundo em abundância, foram forjados nessas condições extremas. Esses elementos primordiais, oriundos dos primeiros minutos após o Big Bang, são os blocos de construção fundamentais que constituem as estrelas, galáxias e planetas que observamos hoje. Ao longo do ciclo de vida estelar, que varia de acordo com a massa da estrela, diferentes estágios desempenham papéis fundamentais na síntese de elementos mais pesados a partir dos mais leves. Em estrelas como o nosso Sol, a sequência principal é uma fase crucial. Durante essa fase, o hidrogênio é convertido em hélio por meio de reações de fusão nuclear no núcleo estelar. Essa fusão nuclear libera uma quantidade colossal de energia, alimentando a estrela e mantendo seu equilíbrio contra a gravidade. À medida que a estrela envelhece e consome seu suprimento de hidrogênio, ela entra em estágios mais avançados. Estrelas de massa maior podem passar por processos adicionais, como a fusão do hélio para formar carbono e oxigênio. Essas reações nucleares sucessivas durante as diversas fases do ciclo de vida estelar são responsáveis pela geração de uma variedade cada vez maior de elementos químicos. A fusão nuclear é uma força poderosa no coração das estrelas. Elementos mais leves, como o hélio, podem fundir-se para criar elementos mais pesados, e esse processo continua, formando átomos cada vez mais complexos. A síntese de elementos mais pesados, como carbono, oxigênio, nitrogênio e além, ocorre em núcleos estelares, onde as altas temperaturas e pressões fornecem a energia necessária para superar as barreiras de energia das reações nucleares. Quando uma estrela atinge o fim de sua vida, dependendo de sua massa, pode passar por uma explosão espetacular chamada supernova. Durante esse evento cataclísmico, elementos ainda mais pesados, incluindo aqueles além do ferro na tabela periódica, são formados e lançados no espaço, enriquecendo as regiões interestelares com uma mistura complexa de elementos. No estágio final da evolução estelar, quando uma estrela exauriu seu combustível nuclear, a pressão gravitacional não é mais contrabalançada pelas reações nucleares que geram energia. Em um instante cataclísmico, a estrela colapsa sob sua própria gravidade e, em seguida, sofre uma violenta explosão – uma supernova. Durante esse evento, a estrela libera enormes quantidades de energia, temporariamente brilhando com uma intensidade que pode superar a luz combinada de bilhões de estrelas em uma galáxia. A tremenda pressão e temperatura geradas nas profundezas de uma supernova são capazes de impulsionar reações nucleares que sintetizam elementos mais pesados a partir dos elementos mais leves previamente criados nas entranhas estelares. Elementos como ferro, ouro, urânio e outros metais pesados são forjados nesse ambiente extremo. A formação de elementos mais pesados durante uma supernova ocorre através de processos como a captura de nêutrons, a rápida captura de nêutrons (r-process) e a síntese de elementos via processos de fusão nuclear em condições extremas. O ferro, em particular, é um elemento crucial nesse contexto, pois representa um ponto de transição após o qual a liberação de energia por meio de fusões nucleares não é mais eficiente. Assim, a síntese de elementos mais pesados ocorre durante os estágios finais de uma supernova. Após a explosão, os elementos recém-formados são liberados no espaço interestelar, misturando-se com gás e poeira cósmicos. Essas partículas enriquecidas são então incorporadas em novas nuvens moleculares e sistemas estelares em formação. Em última análise, isso significa que os átomos que compõem nosso planeta, nossos corpos e todos os objetos ao nosso redor têm origens profundas em explosões estelares passadas. A evolução galáctica e planetária é uma narrativa fascinante que começa com as contribuições das estrelas anteriores e culmina na formação diversificada de sistemas planetários, incluindo o nosso próprio sistema solar.Tudo começa com nuvens interestelares, vastas extensões de gás e poeira no espaço cósmico. Essas nuvens são impregnadas com elementos químicos formados nas entranhas de estrelas, especialmente durante eventos como supernovas, onde elementos mais pesados são sintetizados e liberados no espaço. Essa matéria enriquecida, contendo uma ampla variedade de elementos, forma uma espécie de berçário cósmico que servirá como o campo de jogo para a criação de novos sistemas estelares e planetários. À medida que essas nuvens colapsam sob a influência da gravidade, regiões mais densas começam a se contrair e formar protoestrelas. O material remanescente em torno dessas protoestrelas forma um disco protoplanetário, onde partículas de poeira e gás começam a se aglomerar, colidir e se fundir. Esse processo gradual de acreção leva à formação de planetesimais e, eventualmente, a planetas. O nosso próprio sistema solar é um exemplo desse fenômeno. Há aproximadamente 4,6 bilhões de anos, uma região particularmente densa de uma nuvem molecular colapsou, iniciando a formação do que hoje chamamos de Sol e seus planetas. Durante esse processo, os elementos químicos herdados de estrelas anteriores desempenharam um papel fundamental na composição dos corpos celestes em formação. Em adição aos elementos naturais que compõem a riqueza da Terra, os cientistas expandiram o escopo da tabela periódica ao criar elementos sintéticos em laboratórios, marcando um capítulo emocionante na exploração da química e da física nuclear. A tabela periódica, uma ferramenta essencial na química, é o resultado de décadas de observação, experimentação e descoberta. Organizados com base em suas propriedades químicas, número atômico crescente e configurações eletrônicas distintas, os elementos naturais fornecem uma estrutura que ajuda os cientistas a entender a complexidade e a regularidade do mundo atômico. No entanto, a busca por compreensão e inovação levou os cientistas a explorar além dos limites inicialmente estabelecidos pela natureza. A síntese de elementos sintéticos ocorre em laboratórios especializados de física nuclear, onde aceleradores de partículas são empregados para criar condições extremas que possibilitam a fusão de núcleos atômicos. O primeiro elemento sintético a ser produzido foi o tecnécio, em 1937. Desde então, os cientistas progrediram na criação de vários outros elementos, muitos dos quais estão além dos elementos naturais listados na tabela periódica tradicional. Elementos transurânicos, aqueles com números atômicos superiores a 92 (o número do urânio, o último elemento natural da tabela periódica), são um exemplo notável dessa busca. Elementos como o amerício , o curio e o califórnio foram sintetizados em laboratório. Os elementos sintéticos muitas vezes são efêmeros e altamente instáveis, decaindo rapidamente em elementos mais leves por meio de processos radioativos. Contudo, sua breve existência nos laboratórios fornece informações valiosas sobre as propriedades fundamentais da matéria e sobre os limites da estabilidade nuclear. Essas criações laboratoriais expandem a tabela periódica, desafiando e estendendo nossa compreensão da química e da física nucleares. Além disso, a síntese de elementos sintéticos contribui para a pesquisa de novos materiais, a compreensão das forças fundamentais da natureza e até mesmo para possíveis aplicações em campos como a medicina nuclear. Dessa forma, a exploração de elementos sintéticos em laboratório não apenas amplia o alcance da tabela periódica, mas também demonstra a capacidade humana de inovar e transcender os limites impostos pela natureza em busca do entendimento mais profundo do universo que nos cerca.