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O PAI-NOSSO CANTADO NA MISSA

O ‘Pater Noster’ em Português

Realização e orientação: Clayton Dias


Idealização, colaboração e diagramação: Del Chiaro
A HISTÓRIA DO PAI-NOSSO NA MISSA
Já em épocas remotíssimas, o Pai-nosso era cantado na Liturgia. Harbel descreve, a partir da página 194,
uma série de elementos sobre a oração:

“Ao menos a partir do século IV é demonstrado que o Pater Noster era utilizado
como oração de preparação à Comunhão. Na sua carta ao bispo Giovanni da
Siracusa (s.d. – 609 ca.) o papa São Gregório Magno (s.d. – 604) apresenta as
linhas de sua reforma litúrgica: ‘o Pater Noster seja cantado imediatamente
depois do Cânon Romano (Oração Eucarística) diante das espécies eucarísticas
consagradas, agora presentes sobre o altar’. A colocação do Pater Noster na
liturgia da missa coloca em primeiro plano o significado eucarístico.”
(HABERL, 1977)

Na mesma seção, o autor também menciona que “o Pater Noster era a primeira oração que os
neobatizados diziam na presença da comunidade reunida antes de receberem a Primeira Comunhão”,
o que reforça ainda mais este sentido de preparação para a recepção da Santa Eucaristia.

Diversos doutores da igreja sempre colocaram o Pai-nosso como oração central, se referindo ao trecho
que pede o "pão nosso de cada dia" como uma alusão ao "Pão Celeste", o “Pão Vivo descido do céu”, que
em suma é o próprio Cristo em Sua Carne, Seu Sangue, Sua Alma e Sua Divindade.

São Gregório Magno também comenta em carta que “a oração do Pai-nosso é superior a qualquer
oração composta pelo homem incluindo as Orações Eucarísticas" (SEEWALD, 2006) e tendo em vista a
sua importância dentro da liturgia, devemos nos perguntar por que no Brasil esta oração primordial
raramente é executada pelos músicos em suas paróquias e comunidades locais, mas também não são
executadas nas missas solenes e nas catedrais.
Rudy Albino Assunção escreve que o rito da Comunhão inicia-se com o Pai-nosso, a Oração do Senhor."
e também que "o Pai-nosso é, ao mesmo tempo, o início e o centro do rito da comunhão". (ASSUNÇÃO,
2016, pág. 273)
O PAI-NOSSO CANTADO EM LATIM
Na busca pela partitura ‘original’ do Pai-nosso em latim, chegamos até o Graduale Triplex, que apresenta
três versões melódicas oficiais em canto Gregoriano para a missa, chamadas A, B e C, nas páginas 812 a
815. Antes do concílio Vaticano II, porém, existia ainda mais uma versão do Pai-nosso, chamada de ‘tom
ferial’.
Alberto Turco faz uma descrição mais técnica, dizendo que “A oração do Pai-nosso é introduzida pela
exortação do celebrante ‘receptis’ cujo tom melódico é o mesmo da Oração Coleta. O presente tom sobre
a corda de récita ‘Sol’ tem os mesmos sinais de pontuação melódicos da coleta e um acento
privilegiando, no texto, a nota ’Lá’. Tem uma cadência final semi-ornada idêntica à cadencia final do tom
solene.” (TURCO, 2011, pág. 141)

A melodia solene (Versão A) utiliza uma formula construída de maneira livre em forma salmódica com
um duplo tenor nas notas ‘Si’ e ‘Lá’, sendo estas, portanto, suas notas predominantes.

Além do canto do Pai-nosso, na partitura também se encontra a fórmula introdutória do sacerdote,


chamada Monição, que em latim sempre se conclui com os dizeres: “audemus dicere” (Ousamos dizer)
para, na sequência, começar o canto com a assembleia. É sabido que no missal em português existem
seis fórmulas introdutórias ao Pai-nosso, que poderão posteriormente adicionadas, à esta versão
apresentada a seguir, em uma próxima atualização do presente documento.
O Embolismo é a ‘conclusão’ do Pai-nosso – é o trecho que o sacerdote diz “livrai-nos dos males, ó Pai...”
- e também preferencialmente é cantado junto do Pai-nosso pelo sacerdote. Na sequência, a sua
conclusão pode ser cantada pela assembleia. (“vosso é o reino, o poder e a glória para sempre”)
Como é prescrito que o sacerdote deve rezar o Pai-nosso junto com a assembleia, conclui-se que, se for
cantado, o sacerdote também o canta com a assembleia do início ao fim. Seguindo o mesmo raciocínio,
caso o Pai-nosso não tenha sido cantado, não se canta o Embolismo de forma ‘avulsa’1.
Existem também as partituras das versões ‘B’ (de origem hispânico-mozarábica, que tem a melodia
similar ao Glória XV forma salmódica com o tenor em ‘Lá’), da versão ‘C’ (que tem sua melodia
construída sobre a versão da recitação do tom solene do hino Te Deum), do Embolismo e do ‘tom ferial’,
conforme se encontram no Graduale Triplex e no Missal em latim pré-Vaticano II:

1
Obs.: não se canta (nem se diz) ’Amém’ depois de ‘livrai-nos do mal’, não importando se o Pai-nosso será cantado ou rezado. Isto se deve ao fato de que o
Embolismo, que é recitado exclusivamente pelo sacerdote, já é a conclusão da oração. O ‘Amém’, portanto, deve ser dito ou cantado apenas na conclusão
do Embolismo.
VERSOES MELODICAS DO PAI NOSSO EM CANTO GREGORIANO:
O PAI-NOSSO NOS DOCUMENTOS SOBRE A REFORMA LITÚRGICA:
Na constituição Divinius Cultus, de 1928, no seu item 16, está escrito: ‘Para que os fiéis participem mais
ativamente do culto divino, restitua-se o canto gregoriano ao uso do povo, naquilo que cabe ao povo
cantar’. E ainda complementa: ‘cuide-se com diligência que os fiéis não assistam à Missa Rezada “como
espectadores estranhos e mudos’. Já a Constituição Sacrosantum Concilium, de 1963, ressalta: ‘Tenha-se
grande apreço, na Igreja Latina, o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de
trazer às cerimônias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus e
as realidades supremas’. Já no quirógrafo Tra Le Solecitudini, de 2003, escreve de próprio punho por São
João Paulo II, que ‘o canto gregoriano, portanto, continua a ser também hoje, um elemento de unidade na
liturgia romana’. A Instrução Musicam Sacram (1967) nº35, especificamente sobre o Pai-nosso, diz que:
‘é normal que a oração do Senhor seja dita pelo povo junto com o sacerdote.
No Enquirídio dos documentos da Reforma Litúrgica especifica em seu número 545 que “O Pai nosso, é
bom que o diga o povo juntamente com o sacerdote. Se for cantado em latim, empreguem-se as melodias
oficiais já existentes; mas se for cantado em língua vernácula, as melodias devem ser aprovadas pela
autoridade territorial competente.”
ESTRUTURA DO PAI-NOSSO EM LATIM
Para se criar a versão brasileira, foi escolhida a opção solene do Pai-nosso (Versão ‘A’) por ser a
versão que mais se popularizou nas celebrações Vaticanas. Após minuciosa análise da estrutura do
Pai-nosso, observando-o nota a nota, em sua ‘construção’ sílaba a sílaba, o resultado foi o seguinte:

A seguir apresentamos versões e opções de partituras tanto na versão gregoriana, como da versão
brasileira, sendo esta última apresentada em notação gregoriana e notação moderna, e ao final o
Embolismo também com a opção cantada.
Presidente faz a monição em latim:

E todos cantam juntos em latim:


Ou o presidente faz uma monição em português dentre as duas opções abaixo:

Opção 1:

Opção 2:
E todos cantam juntos em português:
O presidente canta o embolismo:

A assembleia responde:
CARTA DA AUTORIDADE ECLESIASTICA

Eu, Carlos Eduardo Lema, Bispo auxiliar de


São Paulo, autorizo o coro da Paróquia N.
Sra do Brasil, nesta cidade, a executar a
versão do Pai Nosso em português na
melodia apresentada acima.

São Paulo, dia / /

__________________________________________

EU, DOM ODILO (DOM EDUARDO),


AUTORIZO ETC...
ORIENTAÇÕES PARA EXECUÇÃO
O Pai nosso pode ser cantado na versão em Latim, qualquer uma das versões (A, B ou C), desde que o
celebrante aprove previamente e que a assembleia se acostume a cantar junto, já que é uma oração
que todos devem dizer dentro da celebração e não apenas ouvirem como simples expectadores. Até
que a assembleia se acostume é recomendável fazer um breve ensaio antes da missa, ensinando a
melodia ao povo.
Com o objetivo de auxiliar os músicos na execução correta do Pai-nosso dentro da missa, seguem alguns
comentários para contextualizar o seu uso na liturgia, bem como ponderações sobre o modo que o Pai-
nosso tem sido tocado/cantado na tradição da Igreja:
Como é sabido, na tradição do canto gregoriano, as melodias são sempre cantadas ‘à cappella’, em
uníssono, sem qualquer tipo de polifonia ou contracanto. É permitido apenas o acompanhamento de
órgão para apoiar a melodia – ou teclado com timbre de órgão, mas não outro instrumento como piano
ou violão – bem como não se deve colocar outros instrumentos para acompanhar o canto, seja para
dobrar a melodia, ou para se criar polifonia.
O arranjo do acompanhamento do órgão que apresentamos, também foi feito baseado no arranjo mais
usado no Vaticano, e portanto para obter um máximo proveito e se alcançar o maior esplendor musical
da obra, a transcrição para acompanhamento de órgão - apresentada juntamente com a versão em
notação moderna anteriormente - pode, e deve ser utilizada, sempre que possível.
Considerações finais e agradecimentos
Como curiosidade adicional, encontramos uma matéria bastante interessante que fala sobre a posição
dos braços e das mãos durante o Pai-nosso: http://diretodasacristia.com/home/liturgia/e-permitido-
abrir-os-bracos-ao-rezar-o-pai-nosso/

Este documento foi impresso em 19/08/2021. ACESSE A VERSAO ATUALIZADA DESTE DOCUMENTO
A GRAVAÇÃO EM AUDIO NO ENDEREÇO www.musicas-sacras.com.br/arquivos/pai-nosso
BIBLIOGRAFIA

ASSUNÇÃO, Rudy Albino. O Sacrifício da Palavra: A Liturgia da Missa Segundo Bento XVI. Ecclesiae,
2016.

FELICI, Péricles. Sacrosanctum Concilium: Sobre a Sagrada Liturgia. Roma: Paulus, 1963.

HABERL, Ferdinand. Il Kyriale romanum: Aspetti liturgici e musicali. Roma, 1977.

Pio X. Tra Le Sollecitudini: Sobre a Música sacra. Roma: Paulus, 1903.

Pio XI. Divini Cultus: Sobre Liturgia, Canto Gregoriano e Música Sacra. Roma: Paulus, 1928.

Pio XII. Musicae Sacrae Diciplina: Sobre a Música sacra. Roma: Paulus, 1955.

SEEWALD, Peter. Deus e o Mundo: A Fé Cristã Explicada por Bento XVI. Edições Tenacitas, 2006.

SOLESMES, Pierre. Graduale Triplex. França: Solesmes, 1973.

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