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HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL - 1º ANO

AULA Nº 16 a 21

SUMÁRIO:

- Roma
- O Império Carolíngio
- A Liturgia Romana: A Missa e o Ofício
- Canto Gregoriano: Formação, decadência e restauração
- A notação gregoriana
- Processos de formação do cantochão
- Géneros e formas: Estrófico e Salmódico
- Estilos de composição

_______________________________________________________ROMA

Capital imperial nos primeiros séculos, nela habitavam um grande número de


cristãos. A celebração dos seus ritos era feita em segredo devido às perseguições de
que eram alvo.

Em 313, com a promulgação do Édito de Milão por Constantino I, a emergência da


Igreja cristã é feita de forma acentuada, sendo que no século IV o LATIM substituiu
o GREGO como língua oficial da liturgia romana.
Esta emergência faz o Bispo de Roma ganhar cada vez mais prestígio,
sucedendo o inverso com o Imperador, e vai sendo reconhecido como autoridade
preeminente de Roma em fé e disciplina.
O grande volume de conversões e a crescente riqueza da Igreja leva à construção
de grandes basílicas, deixando de haver possibilidade de continuar com a forma
informal da celebração dos primeiros tempos. Tal crescimento implica a revisão
da música litúrgica por parte dos Papas entre o século V e VI.

Em 520 é decretada a REGRA DE S. BENTO, um conjunto de instruções que


determinam a forma de organizar um mosteiro, já havendo menção a um
CHANTRE sem, no entanto, dizer os seus deveres.
Nos séculos seguintes, o chantre torna-se fundamental por ser responsável pela
organização da biblioteca e do scriptorium, bem como pela orientação da
celebração da liturgia.
Será pelas mãos de GREGÓRIO I (GREGÓRIO MAGNO), papa entre 590 e 604, que
começa a ser feita a regulamentação e uniformização dos cantos litúrgicos

 este trabalho é admirado de tal forma que em meados do século IX surge


a lenda que diz ter sido o próprio Papa a compor, por inspiração divina, todas
as melodias cantadas na Igreja

 faz a compilação do ANTIFONÁRIO – livro de coro com as antífonas,


versículos principais de um salmo cantados antes e depois do mesmo – com
textos dentro do RITO ROMANO ANTIGO e é o fundador da SCHOLA
CANTORUM – onde os cantores do clero ensaiavam

Para além deste trabalho, também lhe era atribuído a designação de partes da
liturgia pelos vários serviços religiosos e foi visto como o impulsionador do
movimento que uniformizou os cânticos de toda a cristandade, o que será
demasiada coisa para ser feita em apenas 14 anos de papado.
Os cânticos da Igreja Romana constituem um dos mais valiosos repertórios vocais
ainda em uso hoje em dia.

____________________________________________O IMPÉRIO CAROLÍNGIO

A total unificação dos ritos só acontecerá no Império Carolíngio, em finais do


século VIII. Existe um esforço na coordenação das diferentes escolas, sendo que a
que está no topo é a ESCOLA PALATINA (do Palácio), cuja missão era definir uma
norma da liturgia utilizada em todo o Império – oração, música e gestos.
A capital do Reino Franco será AIX-LA-CHAPELLE, que será a primeira capital
cultural e administrativa correspondente a uma estrutura organizada centrada num
único ponto. Assim, CARLOS MAGNO chama a Aix-la-Chapelle vários filósofos, entre
eles está ALCUINO DE YORK – um sábio em todas as matérias que vai ser o
mestre da ESCOLA PALATINA

 deseja fazer uma ponte entre a música prática e a teoria musical

 esforço pela unificação litúrgica iniciada por CARLOS MAGNO

O resultado é a JUNÇÃO de diferentes aspectos num corpus global organizado – o


rito romano engloba aspectos do galicano e do milanês. Daqui resulta um conjunto
de livros com cânticos próprios para se celebrar cada festa ao longo do
tempo litúrgico.
Deparam-se dificuldades porque tal cenário significa uma ruptura com a rotina que
durante séculos vingou em cada comunidade/paróquia.

Surge então o Mito de S. Gregório criado pela Igreja para que as pessoas adiram
rapidamente a este cenário. Passa-se a mensagem de que S. Gregório teria tido
inspiração divina através de uma pomba (o “Espírito Santo”) para esta unificação.
Seria então este o rito “puro” contrastando com os usados até este momento, que
estariam adulterados.
Dá-se a este novo rito o nome de CANTO GREGORIANO – vindo do nome do Papa
– para que este fique legitimado, 200 anos após a morte de S. Gregório. A Igreja
considerará este o RITO ÚNICO do Império.

__________________________________________A LITURGIA ROMANA

Existem 2 categorias principais nos serviços religiosos romanos: a MISSA e o


OFÍCIO.
A primeira codificação do OFÍCIO DIVINO deu-se nos capítulos 8 a 19 da Regra de
S. Bento (c. 520)
É celebrado todos os dias em horas determinadas e SEMPRE pela mesma ordem.
A sua recitação é feita nos MOSTEIROS e em certas IGREJAS e CATEDRAIS.
As HORAS CANÓNICAS são compostas por:
. matinas (antes do nascer do Sol)
. laudas (ao amanhecer)
. prima (6 horas)
. terça (9 horas)
. sexta (12 horas)
. nona (15 horas)
. vésperas (ao pôr-do-sol)
. completas (logo a seguir às vésperas)

O OFÍCIO é celebrado pelo CLERO SECULAR – o que se encontra enclausurado em


mosteiros – e pelos MEMBROS DAS ORDENS RELIGIOSAS.
É composto por ORAÇÕES, SALMOS, CÂNTICOS, ANTÍFONAS, RESPONSOS,
HINOS e LEITURAS, sendo que os momentos musicais mais importantes são o
canto dos SALMOS, e respectivas ANTÍFONAS, o canto dos HINOS e dos
CÂNTICOS e a entoação das LIÇÕES (passagens das ESCRITURAS) com os
respectivos RESPONSÓRIOS.
A Música para estes ofícios está compilada num livro litúrgico intitulado
ANTIPHONALE ou ANTIFONÁRIO.
Musicalmente, apontam-se as MATINAS, as LAUDAS e as VÉSPERAS como os
ofícios mais importantes:
- As MATINAS contêm alguns dos mais antigos cantos da Igreja
- As VÉSPERAS compreendem o cântico “Magnificat anima mea Dominum” (A minha
alma glorifica o Senhor)

- As COMPLETAS englobam 4 antífonas marianas (de louvor à Virgem Maria), uma


para cada divisão do ano litúrgico:
. “Alma Redemptoris Mater” (Doce Mãe do Redentor) Advento até 1 de Fevereiro
. “Ave, Regina Caelorum” (Salve, Rainha dos Céus) 2 Fevereiro à 4ª-feira da
Semana Santa
. “Regina ceali laetare” (Alegrai-vos Rainha dos Céus) Páscoa até ao Domingo da
Trindade
. “Salve, Regina” (Salve, Rainha) da Trindade até ao Advento

_____________________________________A MISSA E A SUA CONSTITUIÇÃO

É o serviço religioso mais importante da Igreja Católica. O nome advém da frase que
termina o serviço - Ite, Missa Est
A Missa culmina com a COMEMORAÇÃO ou CELEBRAÇÃO da ÚLTIMA CEIA,
através da consagração e oferta do pão e do vinho que é partilhado pelos fiéis.

A Missa é composta por:

1). INTRÓITO
Originalmente era um SALMO completo com a sua antífona, que acompanhava a
entrada do padre. Mais tarde seria reduzido a um só versículo do salmo com a
respectiva antífona. O TEXTO varia de festa para festa

2). KYRIE
É cantado pelo coro, contem três frases em grego:
- Kyrie eleison – “Senhor, tende piedade de nós”
- Christe eleison – “Cristo, tende piedade de nós”
- Kyrie eleison
Cada frase é cantada 3 vezes

3). GLÓRIA
Não é cantado nas épocas penitenciais do Advento e da Quaresma. O padre inicia
com “Gloria in excelsis Deo” (Glória a Deus nas alturas), ao que o coro responde “Et
in terra pax” (e paz na terra).

4). COLECTA - orações;


5). Leitura da EPÍSTOLA do dia;
6). GRADUAL

7). ALELUIA
Oração de grande júbilo pela ressurreição de Cristo. Em certas festividades, como a
Páscoa, é seguido por uma SEQUÊNCIA. Em épocas penitenciais, é substituído pelo
TRACTO, que é mais solene.

8). EVANGELHO
S. Mateus, S. Marcos, S. Lucas e S. João

9). CREDO
Credo in unum Deum (dito pelo Padre) seguido de patrem omnipotentem dito pelo
coro. Com este termina a primeira grande divisão da missa: até aqui é denominada
MISSA DOS CATECÚMENOS, ou seja, até aqui toda a gente podia assistir à
cerimónia.

A partir daqui é denominada a MISSA DOS FIÉIS ou LITURGIA DA EUCARISTIA –


só podia assistir ao resto da cerimónia quem estivesse BAPTIZADO

10). OFERTÓRIO
Cantado durante a preparação do pão e do vinho

11). PREFÁCIO
Precedido de várias orações e que conduz ao

12). SANCTUS e BENEDICTUS


Cantados pelo coro, seguido pelo CÂNON ou prece da consagração e pelo PATER
NOSTER.

13). AGNUS DEI


O Cordeiro de Deus, altura em que se consome o pão e o vinho

14). COMMUNIO
Cantado pelo coro
15). POST-COMMUNIO
Orações entoadas pelo Padre

16). ITE MISSA EST (BENEDICAMUS DOMINO)


Fórmula de despedida cantada de forma responsorial

A Música para a Missa – quer para o próprio quer para o ordinário - vem compilada
num livro litúrgico, denominado GRADUALE
Outro, o LIBER USUALIS, contém os cânticos mais utilizados tanto do
ANTIPHONALE como do GRADUALE. Os textos da missa e do ofício são coligidos,
respectivamente, no MISSALE e no BREVIARIUM.

_______CANTO GREGORIANO – FORMAÇÃO, DECADÊNCIA E RESTAURAÇÃO

Em 754, o Papa Estêvão II procura apoio junto de Pepino para evitar a aproximação
dos Lombardos. Durante a sua estadia em França, o Papa observa a diversidade de
cantos e ritos que por ali militam. A busca pela unificação faz com que deixe em
território gaulês o subchefe da Schola Cantorum para ensinar música romana.
O Bispo de Metz, depois de estar em Roma, pretende a introdução do canto romano
na sua cidade.

A ligação entre o reino franco e o Papado ganha maiores contornos com a expedição
militar na Lombardia, na qual Pepino restitui a cidade de Ravena ao Papa (Paulo III)
e este envia para o rei, entre outras dádivas, um ANTIFONAL e um
RESPONSORIAL juntamente com novos cantores encarregues de instruir os
franceses.

Mais tarde, Carlos Magno mantém essa ligação com Roma e ordena em 789 que
todos os clérigos aprendam perfeitamente o canto romano, impondo-o na Missa e no
Ofício.

De Roma chegam mais dois cantores trazendo o Sacramentário Gregoriano e mestres


como Alcuíno, Amalario (Bispo de Metz) e Agobardo (Bispo de Lyon) copiaram e –
muito importante - COMPLETARAM esses livros, resultando assim em:

. compromisso entre as duas tradições


. canto litúrgico fundamentalmente romano com marcas galicanas muito
definidas
O novo repertório nasce então de uma FUSÃO das tradições musicais romanas e
galicanas. O nome GREGORIANO advém da vontade de dar autoridade ao novo
canto, utilizando assim a fama, ou o mito musical, do Papa Gregório I.

Contudo esta imposição carolíngia não durou muito tempo, nem no Império nem
praticamente por toda a Europa.
Lentamente o Canto Gregoriano vai perdendo autoridade e a sua pureza inicial:
aparecimento dos TROPOS e da POLIFONIA CULTA – fenómenos que aparecem já
no século IX.

 os TROPOS, que eram acrescentos/alterações que modificavam e


embelezavam o cantochão, surgem em finais de séc. VIII/inícios de séc. IX –
poderão ter aparecido pelo facto da liturgia romana ser demasiado severa e
rígida, indo contra o desejo de liturgia do Império Franco, pensando-se que,
após a adopção do rito romano, tenham sido criados para embelezar esse
mesmo rito.

 a POLIFONIA também é um rude golpe nas aspirações do cantochão. Apesar


de ter nascido do mesmo, a sua difusão contribui para a rápida perda de
importância do canto tradicional. Vai haver adaptação das figuras gregorianas
para a música figurada no século XIII/XIV.

Só em meados do século XIX é que a restauração do Canto Gregoriano encontrou


caminho pelas mãos de D. PROSPER GUÉRANGER ao fundar a Abadia de Solesmes,
e se empenhou a fundo na reforma do canto litúrgico.
_________________________________________A NOTAÇÃO GREGORIANA

Até ao século IX, o cantochão não conhece qualquer tipo de notação – é transmitido
exclusivamente por via oral.
O processo de criação de novas melodias era feito recorrendo a fórmulas pré-
existentes. A sacralidade dada ao canto gregoriano garantiu a continuidade do
repertório durante séculos sem qualquer notação. O cantor solista necessitava de cerca
de 10 anos para decorar todo o repertório litúrgico.
Apesar de ser quase certo o conhecimento do SISTEMA MUSICAL GREGO, não seria
fácil adoptá-lo num tipo de música adornada ou melismática.
Quando o repertório se começa a alargar excessivamente e é necessário manter
uniformidade, surgem SINAIS para ajudar o cantor. Estes sinais denominaram-se
NEUMAS

Surgem no século IX e começam por aparecer in campo aperto, ou seja, de forma


adiastemática – sem qualquer referência intervalar definida.
No início do século XI surge o princípio da linha orientadora, com os neumas a
aparecerem em torno de 2 linhas: uma vermelha – FÁ – e uma amarela – DÓ -,
confirmadas com as letras F e C respectivamente

Em meados do século XI, surge já a PAUTA DE 4 LINHAS – sistematizada por


Guido D’Arezzo – o que permite uma definição intervalar bastante grande.
Será Guido quem nomeará as notas, através do hino de S. João Baptista:

UT queant laxis
REsonare fibris
MIra gestorum
FAmuli tuorum
SOLve polluti
LAbii reatu
Sancte Ioannes

“Para que possam teus servos cantar livremente a maravilha dos teus feitos, tirai toda a mácula do pecado
dos seus lábios impuros, ó São João.”

As primeiras notações de que há registo são muito complexas – terão sido as


primeiras ou haveriam outras anteriormente?
Isto porque estas notações surgem em vários sítios quase simultaneamente.
_______________________________________PROCESSOS DE FORMAÇÃO

a) Processo original – melodia composta para um determinado texto, em especial


para Intróitos, Ofertórios e Comunhões;

b) Processo de Melodias-Tipo – Aplica-se um novo texto a melodias já existentes;

c) Processo de Centonização – Uso de material preexistente, mas não melodias


completas – fórmulas simples ou células que são ajustadas como um MOSAICO
MUSICAL.

________________________________GÉNEROS E FORMAS GREGORIANAS

a) o ESTRÓFICO – uma mesma melodia com vários textos.

b) o SALMÓDICO – construído sobre um Salmo e dependente da FÓRMULA


SALMÓDICA
- suporte melódico de cada salmo – distinguem-se pela função do TENOR e existem
fórmulas próprias para cada um dos 8 modos litúrgicos.

- Sobressaem 3 elementos fundamentais:


. ENTOAÇÃO (1)
. TENOR (2) ou corda de recitação – nota pedal, repercutida, onde se entoa a
maior parte das palavras do versículo
. FLEXA (3) – que pode surgir quando o 1º hemistíquio se alonga mais que o
normal
. FÓRMULAS CADENCIAIS (4 e 5) – mediatio e terminatio respectivamente

3 SISTEMAS DE EXECUÇÃO:

. Directo – o SOLISTA canta sozinho

SOLISTA ou CORO: V1 V2 V3 V4

. Responsorial – alternância entre SOLISTA e CORO

SOLISTA: V1 V2 V3 V4
CORO: R R R R
. Antifonal – alternância entre DUAS PARTES DO CORO

CORO 1: V1 V2 V3 V4
CORO 2: V1 V2 V3 V4

Um versículo do Salmo nunca é cantado seguidamente a outro. Entre eles há uma


contravoz que se denomina ANTÍFONA

Doxologia: Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto. Sicut erat in principio, et nunc,
et semper, et in saecula saeculorum. Amen. (Euouae)

________________________________________ESTILOS DE COMPOSIÇÃO

a) SILÁBICO – onde a totalidade ou a maioria das sílabas correspondem cada uma


à respectiva nota. É utilizado em muitos HINOS e em quase todas as ANTÍFONAS
DO OFÍCIO

b) NEUMÁTICO (ornamentado) – consiste em atribuir breves melismas de 2, 3 ou 4


notas sobre uma mesmas sílaba. É o estilo normal das ANTÍFONAS DA MISSA.

c) MELISMÁTICO (florido) – caracteriza-se por longas passagens melódicas sobre


uma única sílaba. Utiliza-se sobretudo no TRACTO, no GRADUAL e no ALELUIA
DA MISSA, que recebem o nome de JUBILUS pelo seu carácter especial, bem como
em alguns RESPONSÓRIOS DE MATINAS

FORMAS TARDIAS DE CANTOCHÃO

___________________________________________TROPO E SEQUÊNCIA

TROPO
Na sua origem era um acrescento feito para um dos cânticos antifonais do próprio da
missa, em especial e mais frequentemente no INTRÓITO, menos frequentemente
no OFERTÓRIO e na COMUNIO.
Mais tarde surgiram acrescentos semelhantes nos cantos do ORDINÁRIO, em
especial no GLORIA

Ex. Kyrie fons bonitatis, Pater ingenitae, a quo bona cuncta procedunt, eleison
Podemos falar em 3 estilos de TROPO:
 aplicação de texto a melismas – o texto submete-se silabicamente ao
melisma,
 texto novo com melodia nova,
 interpolação puramente melódica – passagem melismática num ponto
determinado.

O grande problema de definir o porquê do surgimento dos tropos reside no facto


de este ter ocorrido paralelamente ao processo de fixação do repertório gregoriano.
Uma das explicações para o início da Tropagem é dada pelo facto de a liturgia romana
ser severa e rígida, indo contra o desejo da liturgia no Império de Franco. Quando
esta região adopta o rito romano, pensa-se que terá sido criado este processo de
embelezamento para combater essa austeridade e rigidez.
A tropagem é o fenómeno criativo mais importante na Idade Média, já que
de acordo com o princípio de aproveitamento do material preexistente surge mais
tarde a polifonia.
Os tropos surgem primordialmente associados a 2 grandes centros religiosos, os
Mosteiros Beneditinos:
 Stº Martial de Limoges
 Stº Gall

Estes 2 centros contribuíram largamente para o repertório dos tropos. A sua


grande importância reside na excelente preservação das suas bibliotecas, onde estão
um grande número de manuscritos. A prática da tropagem tornou-se rapidamente
comum e estendeu-se rapidamente a outros países (especialmente Itália e
Inglaterra).

A origem do tropo passa pela adaptação de um texto (em prosa ou em verso) às


secções melismáticas de uma dada peça, tornando-se um processo comum para
criar obras.
Este processo foi, no início, muito usado para os melismas do Alleluia (forma
responsorial, sendo que o seu texto é somente Alleluia)
O tropo do Alleluia é normalmente designado por Prósula. À autonomização da
Prósula ficamos com uma melodia e estrutura musical distintas, dando origem à
Sequência.

SEQUÊNCIA
A sequência data de finais do séc. IX até sensivelmente ao séc. XI. No entanto
escrevem-se sequências até aos finais do séc. XV.
Trata-se de uma composição de texto e música, cuja característica principal é a sua
estrutura estrófica, com a particularidade de os versículos serem emparelhados.
Designa-se por sequência porque se cantava na sequência do Alleluia.

Começa por ser um tropo – aplicação de um texto ao prolongado melisma sobre a


última sílaba do ALLELUIA, denominada jubilus

Esse JUBILUS ou SEQUENTIA ouvia-se na Missa na repetição do Alleluia depois do


versículo dos Salmos, da seguinte forma:

Alleluia-Alleluia+jubilus-versículo-Alleluia+jubilus
S C S-C S C

Essa sequência melismática, quando provida de um texto, passou a designar-se


prosa ad sequetiam ou prosula, convertendo-se assim numa sequência no sentido
pleno do termo, com melodia tratada de forma SILÁBICA. Há também longos
melismas e sequências independentes de todo e qualquer Alleluia.
De Saint Gall chega o relato de um monge, NOTKER BALBULUS (840-912) que
explica como terá “inventado” a sequência ao escrever silabicamente sob certos
melismas longos, por forma a facilitar a memorização da música.
Cedo a Sequência se separou do canto litúrgico, desenvolvendo-se de forma
independente, surgindo às centenas por toda a Europa Ocidental entre os séculos X
e XIII e mesmo mais tarde.
O princípio estrutural fundamental da sequência é a chamada repetição
progressiva, isto é, a sucessão de versículos emparelhados, os quais são cantados
com a mesma melodia, normalmente com versículos únicos no principio e no fim. Ou
seja, é a repetição de cada unidade melódica duas vezes: aa... bb… cc... sendo
que o primeiro e o ultimo versículos não são repetidos: a.. bb... cc ...dd ......z

Após o Concilio de Trento (1543-1563) a maioria das sequências foram banidas dos
serviços religiosos católicos, sobrando apenas 4:

- Victimae paschali laudes, na Páscoa


- Veni Sancte Spiritus, no domingo de Pentecostes
- Lauda Sion, atribuida a S. Tomás de Aquino, para a festa do Corpus Christi
- Dies Irae, utilizada nas Missas de Mortos

Mais tarde, em 1727, juntou-se:

- Stabat Mater (Estava a Mãe dolorosa, chorando junto à cruz)


BIBLIOGRAFIA

 MICHELS, Ulrich, Atlas de Música I, Gradiva, 2003,

 GROUT, D. J., PALISCA, C. V., História da Música Ocidental, Lisboa, Gradiva, 1995

 BORGES, Maria José, CARDOSO, José Maria Pedrosa, História da Música, Manual do
Aluno – 1º Ano, Edições Sebenta, Mem Martins, s/d

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