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ENDÓCRINO

AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA TERAPÊUTICA DO

TRILOSTANO MANIPULADO EM CÃES COM


HIPERADRENOCORTICISMO ESPONTÂNEO
Professora Doutora Viviani de Marco - UNISA /Naya Especialidades /ABEV

INTRODUÇÃO FELDMAN, 2011; CHO et al., 2013; BEHREND, 2015). Trata-se de


um inibidor competitivo e reversível da enzima 3β-hidroxieste-
O HAC espontâneo ou de ocorrência natural é uma endocrino-
roide desidrogenase, sendo essa enzima responsável pela
patia frequentemente diagnosticada na espécie canina, sendo
conversão da pregnenolona em progesterona, e consequente
as principais formas o HAC ACTH ou hipófise-dependente,
inibição da síntese de cortisol, mineralocorticoides e esteroides
causado por um tumor secretor de ACTH que leva à hiperplasia
sexuais a partir da progesterona. É uma droga pouco solúvel
adrenocortical bilateral, e o HAC ACTH-independente, causado
em água, devendo ser administrada junto com alimentos,
por um tumor no córtex adrenal, que pode ser benigno ou
favorecendo sua absorção. É metabolizado pelo fígado e excre-
maligno (FELDMAN; NELSON, 2004; HERRTAGE, 2009).
tado pela urina e bile (RAMSEY, 2010).
O HAC hipofisário acomete, principalmente, cães com mais de
A dose preconizada em bula pelo fabricante é de aproximada-
6 anos de idade, sendo a média de idade em torno de 8, 6 a
mente 2-6 mg/kg/SID. No entanto, grandes variações têm sido
11,7 anos. As raças mais predispostas são Poodle, Teckel,
observadas nos protocolos ao longo dos últimos 10 anos. Uma
Beagle, terrier brasileiro, Yorkshire terrier, Scottish terrier, Boston
grande revisão de literatura realizada por RAMSEY (2010)
terrier, Labrador, Boxer e Pastor Alemão. Os cães com HAC
compilou diversos estudos clínicos e relatou doses que variaram
associado a tumores adrenocorticais tendem a ser mais velhos,
significantemente de 0,5 mg/kg/BID a 20 mg/kg/SID, com
sendo mais de 90% deles com idade superior a 9 anos (KOOIS-
dose média de 2,8 a 7,3 mg/kg, uma ou duas vezes por dia. Mas
TRA; GALAC, 2010; PETERSON, 2007).
de acordo com Feldman & Kass (2012), baseado em um estudo
As principais manifestações clínicas do HAC são: polidipsia,
retrospectivo com 70 animais com HAC espontâneo, a dose
poliúria, polifagia, distensão abdominal, respiração ofegante,
inicial do trilostano deve ser reconsiderada já que a dose média
obesidade abdominal, fraqueza muscular, alopecia, hiperpig-
nos grupos estudados variou de 1,19 mg/kg a 1,89 mg/kg, sendo
mentação, telangiectasia, comedões e calcinose cutânea
que apenas 8 desses animais (11%) requereram doses elevadas,
(BEHREND et al., 2013; GILOR; GRAVES, 2011; KOOISTRA;
sendo a mais alta de 3 mg/kg. Sugeriu-se ainda neste trabalho
GALAC, 2010; PETERSON, 2007). As alterações laboratoriais
uma possível correlação entre a dose de trilostano empregada
usualmente identificadas são: eritrocitose, leucograma de
e o peso corpóreo do animal, com uma tendência da dosagem
estresse, trombocitose, elevação das concentrações sanguíneas
diária total diminuir para cães com peso superior a 15 kg (FELD-
de alanino aminotransferase, fosfatase alcalina, triglicérides,
MAN & KASS, 2012).
colesterol, glicose, além de baixa densidade urinária, infecções
Visto essa necessidade de doses cada vez menores do trilosta-
urinárias, proteinúria e hipertensão arterial (BEHREND, 2015).
no, administrado a cada 12 horas, e também devido ao custo
O diagnóstico definitivo do HAC se baseia em resultados positi-
elevado do produto comercial, a prescrição do trilostano
vos de testes hormonais dinâmicos, tais como teste de supres-
manipulado tem aumentado cada vez mais na prática veteriná-
são com dexametasona e teste de estimulação com ACTH, os
ria, porém, são raros os estudos clínicos que avaliam sua
quais demonstram, respectivamente, a diminuição da sensibili-
eficácia terapêutica.
dade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal aos glicocorticoides e
a capacidade de reserva da glândula adrenal frente ao estímulo
de ACTH (HERRTAGE, 2009; BEHREND et al., 2013; KOOISTRA; OBJETIVOS
GALAC, 2010; PETERSON, 2007). O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia
O tratamento medicamentoso do HAC hipofisário consiste terapêutica do trilostano manipulado no tratamento do HAC
principalmente no uso do trilostano, que atualmente representa espontâneo em cães.
a primeira opção terapêutica, ou o mitotano (FELDMAN, 2011).
Naqueles casos oriundos de um tumor adrenocortical funcional, MATERIAIS E MÉTODOS
recomenda-se a adrenalectomia, e quando a mesma não é
Foram incluídos 18 cães com diagnóstico de HAC espontâneo
possível, seja pelo custo, risco anestésico ou em casos de tumo-
no estudo, atendidos no período de novembro de 2014 a
res inoperáveis ou com metástases, utiliza-se também o
novembro de 2015, no hospital veterinário da Universidade
trilostano ou mitotano (NELSON; COUTO, 2010).
Santo Amaro. Todos os animais foram submetidos ao exame
O trilostano ganhou uma crescente aceitação e muitos estudos
físico, exames laboratoriais, testes hormonais, ultrassom
têm sido publicados evidenciando sua eficácia (RAMSEY, 2010;
abdominal e tratados com o trilostano manipulado na farmácia

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DrogaVET. No entanto, no decorrer do estudo, sete cães tiveram que o animal apresentasse pelo menos um sintoma clínico e
que ser excluídos por não retornarem ao hospital nas datas uma alteração bioquímica compatível com HAC, além de um
pré-determinadas, ou devido a condição financeira dos proprie- dos testes hormonais mencionados acima positivos, isto é,
tários, ou devido a doenças concomitantes, óbito e desapareci- cortisol pós ACTH superior ou igual a 20 µg/dL ou cortisol
mento do animal. Portanto, ao término do estudo, nossa casuís- pós-dexametasona superior a 1,0 µg/dL µ (FELDMAN, 2011;
tica compreendeu onze animais. BEHREND et al. 2013).
Os onze cães incluídos nesse estudo apresentaram diagnóstico Dos onze cães com HAC espontâneo, dez (90,9%) apresenta-
de HAC espontâneo, sendo nove fêmeas e dois machos, com vam HAC de origem hipofisária e apenas um (9%) de origem
idade média de 11,09 ± 2,58 anos e peso médio de 11,60 ± 6,52 adrenal. O diagnóstico foi baseado no teste de supressão com
kg. A distribuição racial compreendeu as seguintes raças: dexametasona em cinco animais (n= 5/11; 45,4%), sendo o valor
Poodle (n= 1/11; 9%), Lhasa Apso (n= 1/11; 9%), Spitz Alemão (n= médio de cortisol 8 horas após a aplicação de dexametasona
1/11; 9%), Dachshund (n= 3/11; 27,2%), e cinco animais sem raça de 4,09µg/dL
µ (VR < 1,0µg/dL)
µ e nos 54,5% restantes o
definida (S.R.D) (n= 5/11; 45,4%). diagnóstico foi estabelecido através do teste de estimulação
O diagnóstico do HAC foi embasado na anamnese, exame com ACTH, sendo o valor médio de cortisol 1 hora após aplica-
físico, alterações em exames laboratoriais, tais como ALT, FA, ção do ACTH de 31,76 µ g/dL (VR= 6 – 17 µ g/dL). Alguns
triglicérides, colesterol, glicose, hemograma completo, exame de animais realizaram apenas a coleta do cortisol pós ACTH sem
urina 1 e testes hormonais (teste de supressão com dexameta- a amostra basal devido a limitações financeiras (n= 2/11; 18,1%),
sona e/ou teste de estimulação com ACTH). Também foi enquanto outros realizaram o teste completo, com amostra
realizada ultrassonografia abdominal de todos os animais para basal e pós ACTH.
investigação de adrenomegalia uni ou bilateral, bem como a Os dados referentes à idade, raça, sexo, peso e teste hormonal
presença de massas adrenais. Para o diagnóstico, era preciso diagnóstico estão dispostos na Tabela 1.

TABELA 1 – DADOS DOS ONZE ANIMAIS COM HAC ESPONTÂNEO (São Paulo/2015)

Animal Idade (anos) Raça Sexo Peso (kg) Cortisol pós dexametasona µg/dL Cortisol pós ACTH µ g/dL
1 11 S.R.D. Fêmea 13,8 2,73
2 8 S.R.D. Fêmea 14,7 28,11
3 11 S.R.D. Fêmea 12,8 21.93
4 7 Lhasa Apso Fêmea 8 3,79 35,55
5 11 Dachshund Fêmea 8,1 24,64
6 14 Poodle Fêmea 6,4 3,19
7 15 S.R.D. Fêmea 28,5 23,58
8 11 Spitz Alemão Macho 6,1 2,98
9 13 Dachshund Fêmea 6,9 55,42
10 13 Dachshund Macho 8,1 36,91
11 8 S.R.D. Fêmea 14,3 7,8
Média 11,09 - - 11,60 4,09 31,76
Desvio Padrão 2,58 - - 6,5 2,10 12,75
VR - - - - < 1,0 µ g/dL 6 - 17 µ g/dL

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Ao exame ultrassonográfico da glândula adrenal, foi identifica- RESULTADOS


da em um dos animais (n=1/11; 9%) a presença de massa
Todos os animais foram tratados exclusivamente com o
sugestiva de tumor, e os demais animais (n= 10/11; 90,0%)
trilostano manipulado em cápsula pela DrogaVET, sendo sua
apresentavam glândulas adrenais homogêneas e hipoecogêni-
administração a cada 12 horas. A média da dose inicial empre-
cas, sem nodulações, e não sugestivas de tumor adrenal.
gada nos onze cães foi 0,89 mg/kg/BID e a média de dose
Uma vez estabelecido o diagnóstico, o tratamento instituído foi
final foi 1,55 mg/kg/BID (gráfico 1). A dose considerada “final” foi
o trilostano manipulado1 na dose de 1 mg/kg/BID em cães
aquela utilizada no momento em que o cortisol pós ACTH
com peso inferior ou igual a 10 kg e 0,5 mg/kg/BID em cães
permaneceu entre 2,5 e 5,5 µg/dL µ pela primeira vez após
com mais de 10 kg, já que trabalhos prévios sugerem o uso
instituição da terapia.
efetivo de doses baixas de trilostano (FELDMAN, 2011) e uma
tendência a cães de médio a grande porte necessitarem de
doses menores (FELDMAN; KASS, 2012).
Os cães foram monitorados mensalmente através de exame GRÁFICO 1 - COMPARAÇÃO DA DOSE MÉDIA
clínico completo e a dose do trilostano foi ajustada de acordo INICIAL E FINAL DO TRILOSTANO MANIPULA-
com os resultados do teste de estimulação com ACTH realiza- DO EMPREGADA NOS OITO CÃES COM HAC
dos sempre 3 horas após a administração do trilostano (BONA- (São Paulo/ 2015-16)
DIO et al., 2014; BEHREND, 2015). Os valores de cortisol basal e
cortisol 1 hora após a aplicação do ACTH considerados adequa-
dos para um animal em tratamento foram maior ou igual a 1,0 1,8
µg/dL
µ e entre 2,5 e 5,5 µg/dL,
µ respectivamente. Sendo assim,
1,6
quando os valores de cortisol pós ACTH eram superiores a 5,5
µg/dL,
µ a dose de trilostano era aumentada em 25% e quando 1,4
os valores de cortisol eram inferiores a 2,5 a dose era diminuída
e um novo teste era realizado em um prazo de 30 dias aproxi- 1,2
1,55
madamente. Uma vez obtido esse controle (cortisol pós ACTH mg/kg/BID
1,0
entre 2,5 e 5,5 µg/dL),
µ a dose de trilostano utilizada era
considerada a dose terapêutica eficaz para este animal. 0,8
Todos os exames laboratoriais foram realizados no Laboratório
Veterinário PROVET2 . O cortisol sérico foi determinado pelo 0,6
método de radioimunoensaio3. 0,89
0,4 mg/kg/BID
Foi empregado análise estatística descritiva dos resultados,
calculando-se a média e desvio padrão de todos os parâmetros 0,2
laboratoriais antes (T0) e após a terapia (T1).
Os proprietários dos animais incluídos neste projeto de pesqui- 0,0
sa assinaram uma “Carta de Informação” e “Termo de Consenti- TO T1
mento Livre e Esclarecido”. Este estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Santo Amaro O tempo médio necessário para os animais alcançarem níveis
(CEP-UNISA), parecer n° 17/2014. de cortisol pós ACTH entre 2,5 e 5,5 µg/dL
µ foi de 5 ± 2,52
meses (Variação: 2 a 10 meses). A monitorização terapêutica
proposta aos tutores dos animais foi através de retornos
mensais para a realização de anamnese e exame físico e teste
1 DrogaVET Farmácia de Manipulação, Av. Pacaembu, n°981,
de estimulação com ACTH para adequado ajuste da dose, além
de outros exames bioquímicos quando necessário. No entanto,
Pacaembu, São Paulo.
2 Provet Unidade Aratãs, Av. Aratãs, nº 1009, Moema, São Paulo. esse intervalo variou de 30 a 60 dias, na dependência da dispo-
3 Kit Cortisol Coat-a-Count da empresa MP Biomedical -
nibilidade dos tutores dos cães participantes do projeto.
A média das concentrações séricas dos exames bioquímicos
Equipamento Wizard da Perkin Elmer.
coletados previamente ao início da terapia (T0) e após a obten-
ção do controle hormonal ideal (T1) foram, respectivamente:
ALT 192,94 e 88,18 UI/L (gráfico 2), FA 1866,15 e 335,55 UI/L
(gráfico 3), triglicérides 197,39 e 108,55 mg/dL (gráfico 4),
colesterol 346,09 e 230,45 mg/dL (gráfico 5), glicemia 80,50 e
91,62 mg/dL (n = 10/11) (gráfico 6).

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GRÁFICO 2 - COMPARAÇÃO DOS VALORES GRÁFICO 4 - COMPARAÇÃO DOS VALORES


MÉDIOS DAS CONCENTRAÇÕES SÉRICAS DE MÉDIOS DAS CONCENTRAÇÕES SÉRICAS DE
ALT ANTES (T0) E DURANTE A TERAPIA COM TRIGLICÉRIDES ANTES (T0) E DURANTE A
O TRILOSTANO, APÓS OBTENÇÃO DE CON- TERAPIA COM O TRILOSTANO, APÓS OBTEN-
TROLE HORMONAL (T1) ÇÃO DE CONTROLE HORMONAL (T1)

ALT (VR: 7,0 a 92,0 U. I./L) Triglicérides (VR: 32,0 a 125,0 mg/dL)
250,00 250,00

200,00 200,00

192,94 197,39
150,00 150,00

100,00 100,00
108,55
88,18
50,00 50,00

0,0 0,0
TO T1 TO T1

GRÁFICO 3 - COMPARAÇÃO DOS VALORES GRÁFICO 5 - COMPARAÇÃO DOS VALORES


MÉDIOS DAS CONCENTRAÇÕES SÉRICAS DE FA MÉDIOS DAS CONCENTRAÇÕES SÉRICAS DE
ANTES (T0) E DURANTE A TERAPIA COM O COLESTEROL ANTES (T0) E DURANTE A
TRILOSTANO, APÓS OBTENÇÃO DE CONTROLE TERAPIA COM O TRILOSTANO, APÓS OBTEN-
HORMONAL (T1) ÇÃO DE CONTROLE HORMONAL (T1)

FA (VR: 10,0 a 160,0 U. I./L) Colesterol (VR: 116,0 a 300,0 mg/dL)

2000,00 400,00

1800,00 350,00
1866,15
1600,00 300,00 346,09
1400,00 250,00

1200,00 200,00
230,45
1000,00 150,00

800,00 100,00

600,00 50,00

400,00 0,0

200,00 335,55 TO T1

0,0
TO T1

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GRÁFICO 6 - COMPARAÇÃO DOS VALORES DISCUSSÃO


DAS CONCENTRAÇÕES SÉRICAS DE GLICEMIA Cães com HAC hipófise dependente ou adrenal dependente,
ANTES (T0) E DURANTE A TERAPIA COM O são comumente tratados com o trilostano. Essa medicação
TRILOSTANO, APÓS OBTENÇÃO DE CONTROLE administrada com a dose e frequência adequada pode controlar
a sintomatologia clínica e as alterações bioquímicas típicas do
HORMONAL (T1) hipercortisolismo. Além disso, após o início do tratamento com
trilostano, é esperado que os animais respondam de forma
Glicemia (VR: 60,00 a 118,00 mg/dL) satisfatória com aumento da sobrevida (BONADIO et al., 2014).
A dose do trilostano utilizada no presente estudo no momento
em que os animais apresentaram um bom controle hormonal,
120,00 isto é, valores de cortisol pós ACTH entre 2,5 e 5,5 µg/dL
µ foi de
1,55 mg/kg, similar aos protocolos mais recentes que defendem
100,00 doses mais baixas e frequência de administração a cada 12
80,00 102,95 horas (FELDMAN, 2011; CHO et al., 2013).
Foi utilizado o teste de estimulação com ACTH como teste
81,00
60,00 hormonal padrão para monitorar a terapia do HAC conforme
indica a literatura, devendo ser o teste iniciado 3 a 4 horas após
40,00 a administração do Trilostano (FELDMAN, 2011) considerando
20,00 valores séricos de cortisol pós ACTH ideais entre 2,0 e 5,5
µg/dL
µ (NELSON; COUTO, 2010; FELDMAN, 2011). Para a obten-
0,0 ção desse controle hormonal foram necessários em média 5
meses, uma vez que vários ajustes de doses foram necessários.
TO T1 Em alguns animais (n=5/11), as concentrações de cortisol oscila-
ram bastante durante o tratamento que não apresentaram uma
A sintomatologia clínica relacionada ao hipercortisolismo como queda linear. Não se sabe ao certo o motivo, mas podemos
polifagia (PF), poliúria (PU) e polidpsia (PD) foram avaliadas e sugerir algumas possibilidades, tais como: influência do estresse
comparadas entre T0 e T1. Dessa forma a PF estava presente do animal durante a realização do teste de estimulação com
em sete animais (n= 7/11; 63,6%) em T0 e em seis animais (n=
6/11; 54,5%) em T1; dez animais (n= 10/11; 90,9%) apresentaram ACTH; administração incorreta da medicação; e como a causa
PU e PD em T0 e sete (n= 7/11; 63,6%) em T1 (gráfico 8). da doença é um tumor de hipófise, é possível que a secreção
de ACTH estimulando a secreção de cortisol oscile durante o
dia.
A administração da medicação a cada 12 horas nos onze cães
GRÁFICO 8 - FREQUÊNCIA DA SINTOMATOLO- incluídos nesse estudo se mostrou efetiva, e é sabido que o
GIA CLÍNICA TÍPICA DO HAC ANTES DO TRA- efeito supressor do trilostano sobre o cortisol é inferior a 20
TAMENTO (T0) E DURANTE A TERAPIA COM O horas (HERRTAGE, 2009), e sua duração de ação é menor do
que 16 a 20 horas (REINE, 2007). Os resultados apresentados
TRILOSTANO, APÓS OBTENÇÃO DE CONTROLE por Cho et al. (2013) também ressaltaram que a administração
HORMONAL (T1) do trilostano a cada 12 horas, com baixas doses, se mostrou
eficaz e causou poucos efeitos adversos, já que a ocorrência
90,90% 90,90%
dos mesmos são dose-dependente.
Os principais sintomas clínicos ainda estavam presentes na
maioria dos animais como polifagia (54,5%), poliúria e polidipsia
63,60% 63,60% 63,60% (ambos 63,6%) mesmo diante de um bom controle hormonal.
54,50% Esses sintomas ocorrem frequentemente associados à
hipercortisolemia. Teoricamente, espera-se que animais com
controle hormonal satisfatório durante a terapia com trilostano
apresentem resolução dos sintomas clínicos, mas não foi isso o
que observamos na maioria dos casos. Um trabalho publicado
recentemente por Boretti et al (2016) não identificou correlação
significante entre o escore de sinais clínicos relatados pelos
proprietários de cães com HAC com os resultados do teste de
Polifagia Poliúria Polidipsia estimulação com ACTH realizados 2 ou 3 horas após a
administração de trilostano.
TO T1

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Além disso, segundo Feldman (2011), a maioria dos cães neces- Medical Association, California, v. 238, p. 1441-1451, jun. 2011.
sitam da administração mais do que uma vez ao dia do Trilos- FELDMAN, E. C.; KASS, P.H.Trilostane Dose versus Body Weight
tano para ter a resolução dos sintomas clínicos, alguns até in the treatment of naturally occurring pituitary-dependent
mesmo três vezes ao dia. Alguns animais precisam atingir hyperadrenocorticism in dogs. Journal of Veterinary Internal
valores de cortisol pós-ACTH < 2,0 µg/dL
µ para que os sintomas Medicine, California, v. 26, n. 4, p. 1078-1080, jun. 2012.
desapareçam, porém valores de cortisol muito baixos podem
ser perigosos para o desenvolvimento de hipoadrenocorticismo FELDMAN, Edward C.; NELSON, Richard. W. Canine and feline
e, por este motivo, muitas vezes é preferível que o animal endocrinology and reproduction. 3 edição. Philadelphia: WB
permaneça um pouco sintomático. Saunders; 2004.
As concentrações séricas de ALT, FA, triglicérides e colesterol HERRTAGE, Michael E. Hiperadrenocorticismo canino. In:
apresentaram melhora ao longo do tratamento. Vale lembrar MOONEY, C. T. , PETERSON, M. E. Manual de endocrinologia
que muitos animais também foram submetidos a outros canina e felina. 3ª edição. São Paulo: Roca, 2009. cap. 15, p.
tratamentos na dependência das alterações encontradas, tais 181-206.
como silimarina e ácido ursodeoxicólico para alterações hepáti-
KOOISTRA, Hans S. ; GALAC, Sara. Recent advances in the
cas, bezafibrato e dieta hipocalórica para animais com hiperlipi-
diagnosis of Cushing’s syndrome in dogs. Veterinary clinics of
demia. Sendo assim, as diferenças de valores observadas em
North America in Small Animal Practice, Utrecht, v. 40, p.
T0 e T1 não podem ser atribuídas apenas ao uso do trilostano
259-267, mar. 2010.
e sim ao conjunto de fármacos utilizados.
PETERSON, Mark E. Diagnosis of hyperadrenocorticism in
CONCLUSÃO dogs. Clinical Techniques in Small Animal Practice, New York,
v. 22, p. 2-11, fev. 2007.
Foi possível constatar que a terapia com o trilostano manipula-
do nesses onze animais se mostrou eficaz no tratamento do RAMSEY, Ian K. Trilostane in Dogs. Veterinary Clinics of North
hiperadrenocorticismo espontâneo, sendo capaz de reduzir o America Small Animal Practice, Glasgow, v. 40, n.2, p. 269-283,
valor de cortisol a níveis séricos satisfatórios, durante um mar. 2010.
período médio de 5 meses. Mais estudos são necessários para
acompanhar os animais em tratamento por um período mais
prolongado.

REFERÊNCIAS
BEHREND, E. N. et al. Diagnosis of spontaneous canine hypera-
drenocorticism: 2012 ACVIM consensus statement (small
animal). Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 27, n. 6, p.
1292-1304, 2013.
BONADIO, C. M. et al. Comparison of Adrenocorticotropic
Hormone Stimulation Test Results Started 2 versus 4 Hours
after Trilostane Administration in Dogs with Naturally Occurring
Hyperadrenocorticism. Journal of Veterinary Internal Medici-
ne, v. 28, n. 4, p. 1239-1243, 2014.
BORETTI, F.S. et al. Lack of association between clinical signs
and laboratory parameters in dogs with hyperadrenocorticism
before and during trilostane treatment. Schweiz Arch
Tierheilkd. Vol 158, n. 9, p. 631-38, 2016.
CHO et al. Efficacy of low – and high-dose trilostane treatment
in dogs (<5 kg) with pituitary-dependent hyperadrenocorticism.
Journal of Veterinary Internal Medicine, Glasgow, v. 27, n. 1, p.
91-98, 2013.
FELDMAN, E. C, NELSON, R. W. Canine and feline endocrinolo-
gy and reproduction. 3ª ed. Philadelphia: WB Saunders; 2004.
FELDMAN, E. C. Evaluation of twice-daily lower-dose trilostane
treatment administered orally in dogs with naturally occurring
hyperadrenocorticism. Journal of the American Veterinary

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