Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Organizadores da Série
OS ESPAÇOS DO DIÁLOGO
ENTRE A REQUALIFICAÇÃO
E O DESENHO URBANO
¤
¥
A parte nodal da série, do qual o livro do
prof. Benamy inaugura, é remontar o ¢ ¥
¦
debate sobre a autonomia e a identidade §§¨
do projeto urbano em sua amplitude ©
¢ ¤ ¤
nacional e internacional, no sentido de §§
refletir a troca de informações sobre profis- ¥
§§ ª
sionais e problemáticas, circundar os
temas e situar diferentes culturas e desvios
¢
entre ensino e prática. ¥
§§¨
A primeira parte do livro consta de uma ¢
¢
entrevista realizada com o objetivo de
traçar um diálogo entre o desenho urbano
£
e os planos diretores, e a segunda, de uma
palestra do Prof. Benamy Turkienicz minis-
O DIÁLOGO DESENHADO
§
trada de modo remoto na disciplina “Os
espaços do diálogo entre a Requalificação §§
Urbana e o Desenho Urbano” O DIÁLOGO DESENHADO:
(Unesp – 1o. semestre 2020)
PLANOS DIRETORES
¡ ¢
BENAMY
EA
¢ ¤
NOVA
«£
AGENDA URBANA ¬ ® « £
TURKIENICZ
¡ ® « ®
¢ ¤
¡
Organizadores
Autor
Benamy Turkienicz
O Diálogo Desenhado
planos diretores e a nova agenda urbana
1 Edição
TUPÃ/ SP
ANAP
2021
1
EDITOR A ANAP CONSELHO EDITORIAL
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Prof. Dr. Adeir Archanjo da Mota - UFGD
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de Profª. Drª. Alba Regina Azevedo Arana - UNOESTE
setembro de 2003. Prof. Dr. Alexandre Carneiro da Silva
Prof. Dr. Alexandre França Tetto - UFPR
Rua Bolívia, n 88, Jardim América, Cidade de Tupã, São Paulo. CEP Prof. Dr. Alexandre Sylvio Vieira da Costa - UFVJM
17.605-310. Prof. Dr. Alfredo Zenen Dominguez González - UNEMAT
Profª. Drª. Alina Gonçalves Santiago - UFSC
Contato: (14) 99808-5947 e 99102-2522 Profª. Drª. Aline Werneck Barbosa de Carvalho - UFV
Prof. Dr. Alyson Bueno Francisco - CEETEPS
www.editoraanap.org.br
Profª. Drª. Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão - UFPA
www.amigosdanatureza.org.br Profª. Drª. Ana Lúcia de Jesus Almeida - UNESP
Profª. Drª. Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa - IFAC
editora@amigosdanatureza.org.br Profª. Drª. Ana Paula Branco do Nascimento – UNINOVE
Profª. Drª. Ana Paula Fracalanza – USP
Diagramação da Obra – Hanna Abou Ali Lopes Profª. Drª. Ana Paula Novais Pires
Revisão Ortográfica - Anita Di Marco Profª. Drª. Ana Paula Santos de Melo Fiori - IFAL
Prof. Dr. André de Souza Silva - UNISINOS
Profª. Drª. Andrea Aparecida Zacharias – UNESP
Profª. Drª. Andrea Holz Pfutzenreuter - UFSC
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira - UFAM
Prof. Dr. Antonio Marcos dos Santos - UPE
Profª. Drª. Arlete Maria Francisco - FCT/UNP
J95o O Diálogo Desenhado: planos diretores e a nova agenda Profª. Drª. Beatriz Ribeiro Soares - UFU
agenda urbana / Benamy Turkienicz (autor) Adalberto da Silva Profª. Drª. Carla Rodrigues Santos - Faculdade FASIPE
Retto Junior; Geise Brizotti Pasquotto (orgs) - Tupã: ANAP, 2021
Prof. Dr. Carlos Andrés Hernández Arriagada
115 p; il.; 14,8 x 21 cm Profª. Drª. Carmem Silvia Maluf - Uniube
Profª. Drª. Célia Regina Moretti Meirelles - UPM
Requisitos do Sistema: Adobe Acrobat Reader
Prof. Dr. Cesar Fabiano Fioriti - FCT/UNESP
ISBN 978-65-86753-39-4
Prof. Dr. Cledimar Rogério Lourenzi - UFSC
1. Desenho 2. Urbano 3. Requalificação 4. Projeto Profª. Drª. Cristiane Miranda Martins - IFTO
5. Plano 6. Diretor Profª. Drª. Daniela de Souza Onça - FAED/UESC
I. Título
Prof. Dr. Darllan Collins da Cunha e Silva - UNESPv
Profª. Drª. Denise Antonucci - UPM
Profª. Drª. Diana da Cruz Fagundes Bueno - UNITAU
CDD: 710 Prof. Dr. Edson Leite Ribeiro - Unieuro - Brasília / Ministério das Cidades
CDU: 710/49 Prof. Dr. Eduardo Salinas Chávez - Universidade de La Habana, PPGG,
UFGD-MS
Prof. Dr. Edvaldo Cesar Moretti - UFGD
Índice para catálogo sistemático Profª. Drª. Eliana Corrêa Aguirre de Mattos - UNICAMP
Brasil:Planejamento Urbano Profª. Drª. Eloisa Carvalho de Araujo - UFF
Profª. Drª. Eneida de Almeida - USJT
Prof. Dr. Erich Kellner - UFSCar
Prof. Dr. Eros Salinas Chàvez - UFMS /Aquidauana Post doctorado
Profª. Drª. Fátima Aparecida da SIlva Iocca - UNEMAT
Prof. Dr. Felippe Pessoa de Melo - Centro Universitário AGES
Prof. Dr. Fernanda Silva Graciani - UFGD
Prof. Dr. Fernando Sérgio Okimoto - UNESP
Profª. Drª. Flávia Akemi Ikuta - UMS
2 3
Profª. Drª. Flávia Maria de Moura Santos - UFMT Profª. Drª. Martha Priscila Bezerra Pereira - UFCG
Profª. Drª. Flávia Rebelo Mochel - UFMA Prof. Dr. Maurício Lamano Ferreira - UNINOVE
Prof. Dr. Flavio Rodrigues do Nascimento - UFC Prof. Dr. Miguel Ernesto González Castañeda - Universidad de Guadalajara -
Prof. Dr. Francisco Marques Cardozo Júnior - UESPI México
Prof. Dr. Frederico Braida Rodrigues de Paula - UFJF Profª. Drª. Natacha Cíntia Regina Aleixo - UEA
Prof. Dr. Frederico Canuto - UFMG Profª. Drª. Natália Cristina Alves
Prof. Dr. Frederico Yuri Hanai - UFSCar Prof. Dr. Natalino Perovano Filho - UESB
Prof. Dr. Gabriel Luis Bonora Vidrih Ferreira - UEMS Prof. Dr. Nilton Ricoy Torres - FAU/USP
Profa. Dra. Gelze Serrat de Souza Campos Rodrigues - UFU Profª. Drª. Olivia de Campos Maia Pereira - EESC - USP
Prof. Dr. Generoso De Angelis Neto - UEM Profª. Drª. Onilda Gomes Bezerra - UFPE
Prof. Dr. Geraldino Carneiro de Araújo - UFMS Prof. Dr. Oscar Buitrago - Universidad Del Valle - Cali, Colombia
Profª. Drª. Gianna Melo Barbirato - UFAL Prof. Dr. Paulo Alves de Melo – UFPA
Prof. Dr. Glauco de Paula Cocozza - UFU Prof. Dr. Paulo Augusto Romera e Silva – DAEE - SP
Profª. Drª. sabel Crisitna Moroz Caccia Gouveia - FCT/UNESP Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha - FCT/UNESP
Profª. Drª. Jakeline Aparecida Semechechem - UENP Prof. Dr. Paulo Cesar Vieira Archanjo
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto - UEA Profª. Drª. Priscila Varges da Silva - UFMS
Prof. Dr. João Carlos Nucci - UFPR Profª. Drª. Regina Célia de Castro Fereira - UEMA
Prof. Dr. João Paulo Peres Bezerra - UFFS Prof. Dr. Renan Antônio da Silva - UNESP - IBRC
Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria - FAAC/UNESP Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino - UNICAMP
Prof. Dr. José Aparecido dos Santos - FAI Prof. Dr. Ricardo Toshio Fujihara - UFSCar
Prof. Dr. José Manuel Mateo Rodriguez – Universidade de Havana – Cuba Profª. Drª. Risete Maria Queiroz Leao Braga - UFPA
Prof. Dr. José Queiroz de Miranda Neto – UFPA Prof. Dr. Rodrigo Barchi - UNISO
Prof. Dr. José Seguinot - Universidad de Puerto Rico Prof. Dr. Rodrigo Cezar Criado - TOLEDO Prudente Centro Universitário
Prof. Dr. Josep Muntañola Thornberg - UPC -Barcelona, Espanha Prof. Dr. Rodrigo Gonçalves dos Santos - UFSC
Prof. Dr. Josinês Barbosa Rabelo - UFPE Prof. Dr. Rodrigo José Pisani - UNIFAL-MG
Profª. Drª. Jovanka Baracuhy Cavalcanti Scocuglia - UFPB Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho - UFGD
Profª. Drª. Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro - FEA Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araujo - UFMA
Prof. Dr. Junior Ruiz Garcia - UFPR Profª. Drª. Roselene Maria Schneider - UFMT
Profª. Drª. Karin Schwabe Meneguetti - UEM Prof. Dr. Salvador Carpi Junior - UNICAMP
Prof. Dr. Leandro Gaffo - UFSB Profª. Drª. Sandra Mara Alves da Silva Neves - UNEMAT
Profª. Drª. Leda Correia Pedro Miyazaki - UFU Prof. Dr. Sérgio Aaaugusto Mello da Silva - FEIS/UNESP
Profª. Drª. Leonice Seolin Dias - ANAP Prof. Dr. Sergio Luis de Carvalho - FEIS/UNES
Profª. Drª. Lidia Maria de Almeida Plicas - IBILCE/UNESP Profª. Drª. Sílvia Carla da Silva André - UFSCar
Profª. Drª. Lisiane Ilha Librelotto - UFS Profª. Drª. Silvia Mikami G. Pina - Unicamp
Profª. Drª. Luciana Ferreira Leal - FACCAT Profª. Drª. Simone Valaski - UFPR
Profª. Drª. Luciana Márcia Gonçalves - UFSCar Profª. Drª. Sueli Angelo Furlan - USP
Prof. Dr. Marcelo Campos - FCE/UNESP Profª. Drª. Tânia Paula da Silva - UNEMAT
Prof. Dr. Marcelo Real Prado - UTFPR Profª. Drª. Vera Lucia Freitas Marinho – UEMS
Profª. Drª. Marcia Eliane Silva Carvalho - UFS Prof. Dr. Vilmar Alves Pereira - FURG
Profª. Drª. Márcia Eliane Silva Carvalho - UFS Prof. Dr. Vitor Corrêa de Mattos Barretto - FCAE/UNESP
Prof. Dr. Márcio Rogério Pontes - EQUOIA Engenharia Ambiental LTDA Prof. Dr. Xisto Serafim de Santana de Souza Júnior - UFCG
Profª. Drª. Margareth de Castro Afeche Pimenta - UFSC Profª. Drª. Yanayne Benetti Barbosa
Profª. Drª. Maria Ângela Dias - UFRJ
Profª. Drª. Maria Ângela Pereira de Castro e Silva Bortolucci - IAU
Profª. Drª. Maria Augusta Justi Pisani - UPM
Profª. Drª. María Gloria Fabregat Rodríguez - UNESP
Profª. Drª. Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
Profª. Drª. Maria José Neto - UFMS
Profª. Drª. Maristela Gonçalves Giassi - UNESC
Profª. Drª. Marta Cristina de Jesus Albuquerque Nogueira - UFMT
4 5
Sumário
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Capítulo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Entrevista com Professor Turkienicz
Módulo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Desenho Urbano, Morfologia Urbana, Preservação
Assentamentos Espontâneos, Cidades Novas
Módulo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Seminário sobre Desenho Urbano no Brasil
Módulo III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Desenho Urbano e Prática Profissional
Módulo IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Pesquisa e Desenho Urbano
Módulo V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Desenho Urbano e Ensinamento
Módulo VI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Desenho Urbano e Estratégias Políticas
Módulo VII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Cidade Compacta x Cidade Dispersa
Módulo VIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Plano Diretor e Desenho Urbano
Módulo IX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Universidade e Produção de Conhecimento
Capítulo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
6 7
Urbanismo VI - Requalificação Urbana
INTRODUÇÃO
Módulo I
SEMINÁRIO SOBRE
DESENHO URBANO
NO BRASIL – SEDUR
Módulo VI
Morfológicas do Processo de Urbanização (op.
cit.) acabou gerando um Grupo de Pesquisa do
CNPq (DIMPU-UnB), coordenado pelo Prof.
Frederico Holanda. Em sua origem, o grupo
tinha a ambição de estruturar metodologias
DESENHO URBANO E
de Projeto Urbano e capacitou, talvez, o maior
ESTRATÉGIAS POLÍTICAS
número de pesquisadores e produziu o maior
número de estudos no Brasil sobre a relação O Projeto Urbano é, ao mesmo tempo, co-
entre aspectos sociais e culturais e a forma da nhecimento prático, assunto técnico, de de-
cidade. Tenho confiança que os descendentes senho, de representação, de economia etc.
de Holanda, Kohlsdorf e demais pesquisado- Como inserir a questão das estratégias polí-
res pioneiros citados entenderão a importân- ticas e seu tratamento no ensino do projeto
cia de desenvolver formas de interação entre urbano?
as linhas de pesquisa acima arroladas (e tantas
outras não arroladas), associação fundamental BT: A questão passa, em primeiro lugar,
para subsidiar o projeto urbano. por uma diretriz emanada pelo MEC: inexiste,
tanto quanto estou informado, qualquer orien-
tação do MEC nesse sentido. Acho que se trata
de uma questão estratégica no nível federal e
envolve uma definição fundamental do Estado
com relação ao papel que as cidades desem-
penham, tanto na dimensão econômica como
na ambiental. Ao contrário de um projeto de
edificação, que tem orçamento e uma equipe a
construí-la num prazo curto de tempo, a cida-
de se constrói em etapas.
(e, muitas vezes, sobrevive a) diferentes cená- Assim como as cidades italianas do Agro
rios políticos. É o caso, por exemplo, das Ci- Pontino, a configuração da maioria das nos-
dades Fascistas (criadas por Mussolini) da re- sas cidades facilita a mistura de grupos sociais
gião do Agro Pontino, na Itália, administradas e isso constitui um patrimônio cultural que, a
por partidos comunistas, no pós-guerra. Es- exemplo do patrimônio natural, deve ser pre-
sas cidades demonstram que a vida no espaço servado. A morfologia urbana da maioria dos
urbano tem mais a ver com as possibilidades países europeus foi profundamente alterada
oferecidas por sua configuração do que com a depois da II Guerra Mundial. A opção pelo
ideologia dos seus criadores. Seus arquitetos desenho urbano atomizado gerou um “passivo
buscaram enaltecer a figura do Duce, oferecen- cultural” que impacta negativamente a coesão
do à praça principal dessas cidades os discur- social. Muitos países testemunharam violentos
sos do ditador e, ao mesmo tempo, criaram um protestos, territorialmente localizados, porque
local que hoje serve para o encontro e lazer de separaram demasiadamente seus grupos étni-
seus moradores. cos e sociais: os casos de Brixton (1985), ao sul
Londres, e dos subúrbios de Paris, em 2005,
Se, para simplificar, comparamos duas constituíram exemplos desse fenômeno.
estratégias políticas: uma que procura limitar
encontros ao acaso entre cidadãos e outra que Preocupados com estas pequenas “in-
procura estimular a interface sem controles, surreições”, muitos países passaram a acelerar
estudos demonstram que a primeira estratégia processos de rompimento da clivagem social
favorece um controle vertical sobre os indiví- estimulada por segregação espacial isto é, pro-
duos enquanto a outra dificulta tal controle. curaram desenvolver áreas urbanas onde fosse
Existem cidades (como Brasília, Milton Keynes mais difícil a criação de guetos sociais apoia-
na Inglaterra e Tensta, na periferia de Estocol- dos por correspondências entre espaço e grupo
mo, Suécia) onde o projeto urbano, embora étnico-social. Nesse caso enquadram-se, por
precedido pelo discurso da integração social, exemplo, Dinamarca, Holanda e Suécia que
uma vez construído, contribuiu para separar instauraram políticas de Estado com o objeti-
36 37
vo de tornar suas grandes cidades socialmente ambiente construído e ambiente natural pode
mais coesas, atraindo famílias de descendentes trazer grandes vantagens tanto para a diminui-
de imigrantes e imigrantes para suas áreas cen- ção dos impactos advindos da ocupação antró-
trais, habitadas predominantemente por classe pica como a poluição atmosférica, a contami-
média, população “nativa” ou ainda, como é o nação do solo e a produção de ilhas de calor.
caso da Dinamarca e da Inglaterra, instauran- A combinação de tecnologias e conhecimentos
do políticas de estímulo para que a classe mé- científicos recentes, “embarcados” no projeto
dia “nativa” viesse a se instalar em áreas predo- urbano, vem tendo como efeito a diminuição
minantemente habitadas por descendentes de dos custos de operação e manutenção de in-
imigrantes e imigrantes. fraestruturas urbanas, além de oferecer maior
sustentabilidade e resiliência para as diferentes
Em ambos os casos, o Desenho Urbano cidades ao redor de um planeta, demografica-
foi protagonista na oferta de uma estrutura es- mente, cada vez mais urbano.
pacial de organização do uso do solo, apoiada
por inequívoca qualidade arquitetônica das Preocupados com o impacto crescente
edificações, que estimulasse a convivência no da ocupação antrópica sobre o ambiente natu-
espaço público e a integração não só com equi- ral, os países europeus também estabeleceram
pamentos de proximidade (centros comuni- metas para serem cumpridas ainda na presente
tários, bares, restaurantes, escolas, comércio) década e que envolvem não só a gradual subs-
mas, também, com grandes equipamentos que tituição de combustíveis fosseis nos diferentes
atraíssem a presença de moradores de outras modais de transporte, como também a utiliza-
áreas da cidade e, inclusive de turistas. ção de estratégias de conservação de energia
apoiada por bonificações e tecnologias susten-
O projeto urbano oferece, também, a táveis de produção de eletricidade, de calor e de
oportunidade para desenhar interfaces entre o resfriamento.
ambiente construído e o ambiente natural que
favoreçam a preservação dos serviços ecossis- A gestão das cidades vem sendo facili-
têmicos oferecidos pelo solo, mananciais hídri- tada pela crescente difusão de tecnologias de
cos, flora e fauna. Uma relação integrada entre informação que facilitam a comunicação entre
38 39
gestores de serviços urbanos e a comunidade escapavam da percepção dos indivíduos pas-
(crowd sourcing) e viabilizam o monitoramen- sam a ser capturados, analisados, traduzidos
to, em tempo real, através de sensores ubíquos e recebidos, numa linguagem simples e direta,
e de redes neurais convolucionais (CNN/ Con- em computadores pessoais e dispositivos mó-
volutional Neural Networks), das variações de veis de comunicação como os smartphones.
estado tanto das infraestruturas como da qua- Mais do que nunca, a percepção ambiental dos
lidade atmosférica, sonora, hídrica e dos fluxos indivíduos está sendo educada pela informa-
de mobilidade urbana (Kominos, 2015). ção instantânea oferecida por diferentes apli-
cativos. (Peters; Peters, 2018), (Cairns;Tunas,
A adoção recente de dados originados 2017), (Offenhuber; Ratti, 2014).
em sistemas de telefonia para o monitoramen-
to e controle da pandemia mostrou o enorme
A oferta de “realidade ampliada”, somada
potencial de interação das tecnologias da in-
à capacidade de comunicação transespacial das
formação com o território urbano, através da
redes sociais, aparentemente, poderia diminuir
conexão entre o sinal telefônico e a geolocali-
o papel do território na sociedade contempo-
zação desse sinal. Mais e mais projetos urbanos
rânea? Acredito justamente no contrário: acre-
passaram a ser debatidos e até mesmo finan-
dito que a intervenção sobre o espaço urbano
ciados através de plataformas digitais dedica-
tem poderoso papel a desempenhar não só para
das à descrição, participação comunitária, ao
aumentar a qualidade ambiental das nossas ci-
incentivo e apoio a projetos urbanos. Modelos
dades como também para aumentar os níveis
digitais de desempenho ambiental, movidos
de coesão social entre diferentes indivíduos. A
por sofisticadíssimos algoritmos, conseguem
autonomia individual para receber e enviar da-
analisar dados obtidos no espaço urbano e nas
dos e informações pode separar, por afinidade
edificações e comunicar para leigos, de forma
bastante simplificada e visual, complexos me- ideológica, membros de uma sociedade e con-
canismos de alteração do ambiente em que as tribuir para gerar polarizações muitas vezes be-
pessoas vivem e circulam. licosas; por outro lado, o território urbano po-
tencializa a interface de diferentes indivíduos e
Cada vez mais, dados ambientais que estimula a gentileza e as relações sem fronteiras
40 41
ideológicas previamente demarcadas. argumenta que para compreender a natureza
das cidades é necessário aprender a modelar o
Nesse sentido, entendo que o desenho espaço urbano e os sistemas que integram sua
do território pode contribuir decisivamente dinâmica evolutiva. Essa percepção já faz par-
para contrabalançar a tendência de clivagem te das agendas de Estado de países onde hou-
social estimulada pela telecomunicação. Usar ve mudanças radicais com relação a políticas
o espaço urbano como parte de estratégias de de preservação do meio ambiente natural e de
coesão social faz parte de desígnio político. incentivo à interação social entre diferentes es-
Visto que o controle social por sistemas auto- tratos da população. Tal percepção, por parte
ritários depende, fundamentalmente, do esta- dos tomadores de decisão, foi fundamentada e
belecimento de relações verticais de cima para sedimentada décadas antes nas universidades
baixo (a inteligência artificial vem permitindo e, principalmente, nos cursos de arquitetura e
aumentar esse controle, por exemplo, através urbanismo. Muitas das soluções adotadas em
da identificação facial), o tecido urbano pode cidades americanas e europeias, a partir do iní-
constituir, de baixo para cima, excelente supor- cio do século, foram ensaiadas nas pranchetas
te de ativação autônoma do tecido social. Tal de estudantes de escolas de arquitetura duas
ativação depende, claramente, do desenho dos décadas antes, apoiadas por evidências e teo-
espaços urbanos. A inclusão do desenho dos rias sobre o meio ambiente natural e sobre o
espaços de uso público, na agenda de políticas uso social do espaço. Penso que nossos cursos
de Estado voltadas para a consolidação da de- de arquitetura e urbanismo não acompanha-
mocracia, torna-o poderoso coadjuvante de te- ram essa evolução.
mas que afetam o futuro da economia, do meio
ambiente e da liberdade de expressão. Se quisermos inserir a política ambien-
tal, a política social e a política econômica no
A complexidade das relações sistêmicas ensino do projeto urbano, faz-se necessário es-
que envolvem o tecido urbano e o tecido social tabelecer pontes da ciência ambiental, da ciên-
ultrapassam o currículo atual dos cursos de cia política e da ciência econômica com a con-
Arquitetura e Urbanismo no país. Batty (2013) figuração das nossas cidades. A modelagem da
forma urbana vis-à-vis essas três dimensões é
42 43
possível quando se oferece educação adequada
Módulo VII
para que cientistas e profissionais possam, de
maneira criativa, colaborar para a solução dos
problemas básicos do país, como saúde, edu-
cação, economia e segurança. Os tomadores
de decisão, no nível federal, precisam perceber
que grande parte dos problemas do Brasil fa- PLANO DIRETOR E
zem parte de contextos municipais. Quando se DESENHO URBANO
derem conta da importância do território ur-
bano para o futuro da Nação, construiremos Ao ler os anais desses Seminários no-
projetos pedagógicos onde a educação do ur- ta-se a introdução de conhecimentos pro-
banista será consistente com as demandas de gressivos e a consolidação de laços entre
desenvolvimento social, econômico e cultural pesquisa, ação e desenvolvimento urbano,
do país. alimentando-se da experimentação, da abor-
dagem crítica e de pedagogias específicas.
Módulo VIII
escala intermediária: Planos de Pormenor, se
forem sabiamente estruturados, poderão criar
as condições jurídicas e legais para que o De-
senho Urbano saia do limbo e adquira força de
instrumento de qualificação do espaço urbano
brasileiro.
CIDADE COMPACTA X
CIDADE DISPERSA
Quais seriam então esses novos proce- - a Revolução da Informação que transforma
dimentos e qual nova ética a ser estabeleci- radicalmente a percepção do espaço territorial
da em matéria de concepção? Como preen- como essencial para a economia e a socializa-
cher o hiato entre concepção e construção, e ção.
como o desenvolvimento sustentável pode-
ria concretizar-se na prática? O tempo, como intervalo necessário
para a comunicação entre grupos e indivíduos
BT: Para Verebes (2014), enfrentamos fisicamente distantes, colapsa e o espaço enco-
quatro grandes revoluções: lhe; com as facilidades de transporte ao alcan-
ce de indivíduos, aumenta a independência e
- a do Neolítico, que resultou na abundância a espontaneidade dos movimentos. Na era da
de alimentos propiciada pela fixação demo- comunicação global se diluem as fronteiras ter-
gráfica em pequenos núcleos e utilização de ritoriais que caracterizam as nações e aumen-
ferramentas que aumentaram a produtividade tam os fluxos transnacionais entre cidades: a
no campo; ubiquidade da informação, o desaparecimento
das fronteiras físicas entre municípios separa-
- a Revolução Urbana que instrumentaliza o dos administrativamente e o policentrismo das
comércio através de uma rede de caminhos estruturas urbanas vêm transformando o pla-
e cria aglomerações nos cruzamentos desses neta numa rede de espaços interconectados e
caminhos; urbanizados, sensivelmente vulneráveis às ma-
cro transformações econômicas.
- a Revolução Industrial dos séculos 18 e 19
que amplia e acelera, através dos sistemas de Para Verebes (2014), as recentes mu-
transporte, a transferência de produtos e pes- danças escapam à capacidade preditiva das
60 61
atuais técnicas de planejamento urbano. As ser gradualmente diluído, em que as transfor-
novas forças industriais, baseadas em redes mações do projeto constituam parte de sua
de suprimento globais envolvendo transporte, estrutura generativa, simultaneidade paralela
armazenamento e distribuição de mercado- à capacidade de adaptação da construção a de-
rias, estabeleceram um fluxo de mercadorias mandas emergentes. Ou seja, o projeto urbano
aliado a um fluxo de pessoas de cidades para ou mesmo da edificação “se descobre” como
cidades que tornam a rede de cidades mais im- parte da construção do edifício ou da cidade.
portantes que as nações, ou seja, acabam por
desnacionalizar o espaço urbano. Centralida- À aleatoriedade que pode surgir
des adquiridas ao longo de séculos ou décadas desses processos contrapõem-se os critérios
podem ser rapidamente comprometidas pela e indicadores a serem perseguidos, através de
alteração desses fluxos transnacionais e infini- modelos de desempenho utilizados individual-
ta conectividade. As megalópoles podem estar mente ou correlacionados entre si. Estruturas
abrindo espaço a uma rede de lugares onde o generativas precisam ser estabelecidas através
equilíbrio se aproxima do metabolismo dos de modelos de forma construída, como guias
processos naturais, ensejando uma aproxima- de “propósitos”, ou seja, de desígnio sobre o
ção maior entre indústria e agricultura, entre comportamento esperado. Creio ser este um
ocupação antrópica e adequada valoração dos caminho interessante a ser perseguido rumo
serviços ecossistêmicos. ao desenvolvimento urbano sustentável.
Módulo IX
rentes formas e da distribuição e intensidade
de ocupação de espaços e atividades.
74 75
Capítulo 2
Desenhado
O Diálogo
Planos Diretores e a
Nova Agenda Urbana
URBANISMO VI
REQUALIFICAÇÃO
Posso recomendar os planos para ha- Aluno Kaique: O senhor falou que, em
bitação de interesse social de Canela-RS e geral, os planos diretores no Brasil têm essas
Taquara-RS, publicados no site do antigo Mi- deficiências de não pensar em todas as esca-
nistério das Cidades. Na ocasião utilizamos las e acabam limitados à escala do lote ou do
106 107
perímetro urbano, deixando esse vazio entre nos diretores. Ele diz exatamente isso: que os
escalas. A minha pergunta é se isso poderia ser planos diretores do Brasil não são suficientes e
mudado localmente? Por exemplo, no caso de são demasiadamente genéricos para abranger
uma cidade resolver se inspirar nesses lugares a escala local. Isto já está em desenvolvimen-
mencionados, como Barcelona, onde houve to no Senado Federal, a partir de uma lei que
mudanças positivas, ou se para essas mudan- está sendo formatada e será levada ao plenário
ças acontecerem no Brasil seria preciso uma para aprovação.
legislação federal exigindo isso mais dos pla-
nos da cidade? Com a Lei dos Planos de Pormenor, as
operações urbanas consorciadas serão mais
Prof. Benamy: Ótima pergunta, porque bem regulamentadas e, assim, poderão apoiar
na realidade, na nossa legislação atual e como qualquer cidade brasileira que queria imple-
parte dos planos diretores, temos a figura das mentar planos de ação local. Assim como o
operações urbanas associadas. Portanto, gros- Rio de Janeiro fez no Porto Maravilha e como
so modo, temos a prerrogativa para abrir a di- nós fizemos com o Masterplan do 4² Distrito
mensão jurídica de intervenção em áreas de- de Porto Alegre, projeto que, em outra oportu-
limitadas, por exemplo, do Porto Maravilha nidade, terei prazer de mostrar a vocês. É um
no Rio de Janeiro. A intervenção foi baseada projeto feito para essa escala, usando muito
na ideia da Operação Urbana Consorciada. O da experiência do Reino Unido e da Espanha,
município de São Paulo abriu a oportunida- principalmente Barcelona. Quando quiserem,
de de Operações Urbanas Consorciadas para posso falar sobre como é possível, numa cida-
várias áreas da cidade e, se não me engano, a de específica, intervir localmente a partir de
última delas é a do Vale do Tamanduateí. En- diretrizes, objetivos e da estruturação jurídica
tendo que com seu Plano Diretor, a cidade de para criar parcerias público-privadas.
São Paulo largou na frente dentro dessa apli-
cação localizada, mas ainda é pouco. Você ver- Flávia Carvalho: Falo de Uberlândia,
balizou muito bem, é resultado do que chamei Minas Gerais e também sou aluna do curso de
de escala intermediária e o Senador Antônio pós-graduação da Faculdade de Arquitetura de
Anastasia é quem fala dessa indigência dos pla- Uberlândia. Minha dúvida é sobre a dimensão
108 109
temporal: como é possível materializar essa jamento urbano você precisa ter escolhas es-
questão temporal intangível em propostas tratégicas que permitam a escolha de espaços
no plano diretor ou em vários planos, consi- generativos de qualificação urbana. Jaime Ler-
derando que hoje em dia a dinâmica é muito ner, que foi um grande comunicador, usou o
mais rápida na ocupação dos espaços urba- termo Acupunturas Urbanas. Essas acupuntu-
nos e essa diversidade, muitas vezes, difere ras urbanas significam que você pode intervir
do que foi planejado no ponto inicial. Então, em determinados lugares que têm um poder
como poderíamos materializar essa questão muito amplo de qualificação urbana. Para sa-
no plano? Durante o decorrer da palestra fi- ber quais será preciso usar esses indicadores. A
quei pensando se seria através desses planeja- Organização das Nações Unidas tem um con-
mentos menores, na escala menor, através do junto de indicadores, o City Prosperity Index
planejamento da unidade de vizinhança, que (CPI), que permite identificar esses lugares
conseguiríamos trabalhar com essa questão com maior poder de regeneração e, então, a
temporal; ou como no Reino Unido, através partir do uso desses indicadores pode-se co-
da aprovação ou do poder público estar acom- locar índices para alcançar aqueles objetivos
panhando essa aprovação mais de perto? Ou- apontados como necessários pelos indicado-
tro problema que também vejo é a questão dos res. Eu diria que isso é algo alcançável: no pla-
indicadores, porque entendo que o indicador no de Xangri-Lá, estamos trabalhando nessa
pressupõe uma meta a ser atingida e a meta direção. Estamos usando indicadores, projetos
pressupõe um pacto social na cidade e na so- e programas transversais e específicos como
ciedade sobre o que se quer, onde queremos parte do Plano Diretor. Estamos indicando os
chegar e o modelo de participação que temos pontos a serem trabalhados com essa acupun-
hoje na elaboração dos planos diretores. En- tura, com dimensão temporal claramente defi-
tendo que não conseguimos chegar nisso, en- nida, para que os projetos sejam executados.
tão como fechar para, pelo menos, ficar mais
próximo de atingir essa questão? Prof. Adalberto: Professor, gostaria de
parabenizá-lo outra vez pelo seu aniversário
Prof. Benamy: A resposta é sim, den- e agradecê-lo muito pela excelente palestra.
tro dos planos diretores ou dentro do plane- Agradeço também a todos vocês.
110 111
Prof. Benamy: Obrigado, agradeço a
BIBLIOGRÁFICA
atenção e espero encontrá-lo brevemente em
outra oportunidade.
SÍNTESE
Batty, M. (2013) The New Science of Cities. Cambridge: The MIT
Press.