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Texto 3: “Positivismo Jurídico e Direito Natural: Positivismo jurídico, em sentido óbvio, é a negação do
direito natural, e a afirmação de que o único direito que realmente existe é o direito positivo. Entretanto,
alguns autores positivistas (positivismo inclusivo) confessam admitir o direito natural; outros, se bem que
explicitamente o rejeitem (positivismo exclusivo), admitem-no implicitamente. E um positivismo jurídico
absoluto (a teoria pura do direito de Hans Kelson, por exemplo), que negue por completo o direito natural, só
é defensável, sem ilogismo, pelos que reduzem o direito às determinações arbitrárias (...) Para bem
compreender o positivismo jurídico (que remonta ao séc. XVIII, e segundo outros, a Thomas Hobbes),
importa lembrar a evolução ideológica do direito natural. Antes do positivismo, passara o conceito
clássico de direito natural por deturpações que muito o desprestigiaram, favorecendo o sucesso dos sistemas
que procuravam desterrá-lo para o mundo das quimeras. Há certas doutrinas de direito natural
excessivamente abstratas e constituídas pelo abuso do método dedutivo: as que se formaram depois de
Grócio, Puffendorf, Rousseau e Kant. Mas há também um sistema de direito natural baseado na evidência
dos primeiros princípios do conhecimento e resultante de uma análise objetiva da natureza racional do
homem. Esse sistema encontra-se naquela conceção que, proveniente dos filósofos gregos e dos
jurisconsultos romanos (Cícero, Ulpiano, etc.), se incorporou ao património doutrinário da filosofia chamada
por Bergson a metafísica natural da inteligência humana. Geralmente, as críticas feitas ao direito natural
atingem apenas o “ jusnaturalismo” abstrato e dedutivo. Entretanto, abroquelando-se nos argumentos
utilizados por tais críticas, precipitam-se muitos a uma negação sumária de todo direito natural.
Concepção Clássica do Direito Natural: A expressão direito, correspondente ao latim ius (jus), é usada
hoje para designar o que os antigos chamavam de iustum (dikaion - o justo objetivo), lex (a norma de
direito), licitum e potestas (direito subjetivo) e jurisprudentia (ciência do direito). Trata-se de um termo
análogo, isto é, que tem sentidos diversos mas relacionados entre si. É a lei que estabelece o que é justo e
determina os direitos subjetivos. Mas as leis não podem ser elaborados arbitrariamente pelo legislador. Há
uma justiça anterior e superior à lei escrita, há direitos que precedem a feitura das normas estatuídas
pelo poder social competente. Esta justiça e estes direitos, que não dependem das prescrições da ordem
jurídica positiva, fundamentam-se na lei natural. Distinguia Aristóteles o justo por natureza, do justo por lei.
E os mestres da jurisprudência em Roma afirmavam que, além do direito próprio de cada Estado, existe um
direito decorrente da natureza humana e, portanto, universal.” in SOUSA, J. P. Galvão (1940). O
Positivismo Jurídico e o Direito Natural. São Paulo: LAEL, pp. 3-5.
Texto 4: “A velha polémica entre o jusnaturalismo e o positivismo jurídico gira em torno da relação entre
direito e moral. Uma descrição simplista do conteúdo dessa polémica diria que, enquanto o jusnaturalismo
afirma que há uma conexão intrínseca entre direito e moral, o positivismo jurídico nega tal conexão.
Porém, ...há muitas maneiras diferentes de defender a existência de um vínculo importante entre direito e
moral. Não é possível supor que o jusnaturalismo ratifique todas as teses e o positivismo se oponha a todas
elas. Qual é, então, a tese sobre a relação entre direito e moral que o jusnaturalismo defende e que o
positivismo ataca? (…) Acima das normas determinadas pelos homens, há um conjunto de princípios
morais universais e imutáveis que estabelecem critérios de justiça e direitos fundamentais inerentes à
verdadeira natureza humana. Nele se incluem o direito à vida e à integridade física e o direito de expressar
opiniões políticas, de praticar cultos religiosos, de não ser discriminado por razões de raça, etc. e de não ser
coagido sem um devido processo legal. Esse conjunto de princípios configura o que se convencionou
chamar “direito natural”. As normas positivas determinadas pelos homens são normas - somente na medida
em que se ajustam ao direito natural e não o contradizem”. In NINO, Carlos Santiago (2010). Introdução à
Análise do Direito, trad. de Elza M. Gasparotto. São Paulo: WMF Martins-Fontes. pp.17-21.
Texto 5: Por uma correlação dialéctica entre o Direito Natural e o Direito Positivo: “O Direito Natural
tem sido uma constante histórica, no sentido de que, apesar de todas as profundas objeções que lhe foram e
são feitas, permanece sempre como um problema inarredável dos domínios da cognição jurídica. Mesmo nas
épocas de mais arraigado positivismo, quando parecia superada de vez a tese jusnaturalista (tomado este
termo na sua acepção ampla, sem reduzi-lo ao racionalismo abstrato pré-kantiano), não se poderá afirmar
que, mesmo então, a ideia de Direito Natural tenha deixado de ser um problema para se converter apenas em
uma indagação ilusória, devida à persistência inadmissível de um equívoco (...) O que desejo dizer, em
suma, é que, aceite-se ou não o Direito Natural, o seu problema (a começar pelo da sua existência ou
validade) continua sempre na ordem do dia, dando origem a uma série de questões quanto à “natureza” do
Direito Natural, às suas notas essenciais constitutivas, ou à sua pragmaticidade, isto é, ao seu significado no
plano da práxis jurídica, quer no plano legislativo, quer no doutrinário ou jurisprudencial” . REALE, Miguel
(1984). Direito Natural / Direito Positivo, São Paulo: Saraiva, pp. IX; 1.
Grandes Filósofos do Direito Natural: Sófocles; Aristóteles; Cícero; Tomás de Aquino; Leo Strauss
(1950); Eric Voelegin (1957); John Finnis (1980); Javier Hervada (1980; 1989); Michel Velley (2003;
2005), etc.
Questões:
1) Como é que o dualismo conceptual phusis-nomos (natureza e convenção) influenciou a história da
Filosofia do Direito?
2) Existem leis naturais relativas à justiça ou essa ideologia será uma mera ilusão como afirma Hans Kelsen?
3) O que significam exactamente as expressões “direito natural” e “direito positivo”?
4) Deve-se ou não falar da completude do direito natural e direito positivo? Se sim, o que isso significa
exactamente para a Filosofia do Direito?
5) Têm os supostos direitos naturais alguma relação com a ideia de uma ética especista?