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Curso de Teologia
BELO HORIZONTE
2017
Breno Augusto Silveira
BELO HORIZONTE
2017
Breno Augusto Silveira
BANCA EXAMINADORA:
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The present research aims to present the Islamic doctrine regarding the person of
Jesus of Nazareth and His ministry. It is probable that the ignorance of this doctrine,
by the vast majority of the western population, is due to the fact that its formation was
mostly Christian, and, therefore, do not know that the figure of Jesus is extremely
relevant to Muslims, to the point of not only mentioning in the Quran by the prophet
Muhammad, but also have it in very high esteem and deep respect in Islam. From this
information a few questions naturally arise: What would be the classic Islam conception
regarding the nature of Jesus? How to interpret His message and His achievements
recorded in the Quran? What is Islam’s position on Christianity? It is possible to have
a compatibility between the two religions? The present research suggests some
conclusions that could assist in the search for a more refined understanding of the
Islamic faith regarding the person of Jesus contributing to the theological advancement
in the fields of christology and missiology.
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 8
CONCLUSÃO ...................................................................................................................................30
1. INTRODUÇÃO
O mundo ocidental, que ainda é em sua maioria cristão, talvez nem imagine que o
islamismo tem grande respeito e admiração por Jesus, filho de Maria. Mas como o
muçulmano entende Jesus? Certamente suas convicções são radicalmente diferentes
dos cristãos. Jesus é citado inúmeras vezes no Alcorão, escritura que para os
muçulmanos, é o registro exato do que disse Allah (Deus em árabe) a Muhammad ou
Maomé, o seu profeta. Este último é considerado o maior profeta do islamismo. Por
outro lado, consideram Jesus também um grande profeta, mas não divino, o que vai
de encontro com a doutrina cristã, que o considera Filho de Deus sentado à destra de
Deus Pai todo poderoso” (Credo Niceno-constantinopolitano). Portanto, o cristianismo
e o islamismo têm sérias divergências teológicas que são auto excludentes. O objetivo
desta pesquisa é apresentar, por meio da exposição do Alcorão e da tradição
muçulmana, Jesus, filho de Maria, sua natureza, seu ministério e suas obras, além da
opinião islâmica sobre os cristãos.
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1
Levantamento do instituto americano Pew Research Center, que analisou a evolução demográfica
entre as principais religiões do mundo.
9
O islamismo tem o profeta Muhammad como seu fundador. Ele nasceu na cidade de
Meca, no ano de 570 d.C., e pertencia ao clã de Banu Hashim, da tribo dos coraixitas,
uma da que mais se beneficiaram do crescimento econômico proporcionado pela rota
comercial das caravanas. Foi deserdado pelos familiares de seu pai que agiram de
acordo com a costume local por ter sido filho póstumo, isto é, seu nascimento se deu
após a morte de seu pai. Sua mãe faleceu quando tinha sete anos de idade. Com a
morte de seu avô materno, Muhammad passou aos cuidados de seu tio, o comerciante
Abu Talib. Desenvolveu habilidades comerciais e logo foi contratado como condutor
de caravanas de uma rica viúva de nome Khadija. Mais tarde, aos 25 anos,
Muhammad casou-se com Khadija, 15 anos mais velha do que ele, mulher de muitas
11
posses, com quem teve quatro filhos, o que proporcionou a ele bens materiais e
projeção social. (BRAIK, 2012, p.39).
A região de Meca, lugar onde o profeta Muhammad passou boa parte de sua vida, era
tida como um refúgio espiritual por haver ali centros de adoração e devoção a vários
ídolos, cerca de 360, aproximadamente. O monoteísmo não tinha grande expressão
naquela região. Haviam alguns judeus e cristãos, mas eles eram parte da minoria
daquela sociedade. Os cristãos eram um grupo distinto para aquela sociedade pois,
além acreditarem nos antigos profetas do judaísmo, também creem que Jesus Cristo
é o Messias esperado pelos judeus para redenção de toda criação. Mais ainda,
pregavam que Jesus Cristo é o próprio Deus encarnado que veio ao mundo para
redimi-lo, o que era absolutamente rejeitado pela maioria dos religiosos da época pois
era vista como uma religião exclusivista e herege por associar a essência divina com
a essência humana. É consenso entre a maioria dos historiadores de que Muhammad
não só teve o conhecimento como também foi bastante influenciado por todas estas
crenças em sua vida pessoal. Isso é demonstrado no Alcorão que traz muitas
menções aos profetas do Antigo Testamento e também de Jesus Cristo:
No ano de 610 d.C., em uma de suas meditações, no mês do Ramadã (mês sagrado
de orações para os muçulmanos, geralmente julho), como de costume, Muhammad
meditava em uma caverna no Monte Hira, nas proximidades de Meca. Em um
momento de reflexão naquele local, ele teria recebido a visita da revelação de Allah
pelo anjo Gabriel. Essa foi a primeira de muitas outras que sucederam durante 23
anos, até sua morte no ano de 632 d.C. Acredita-se que as primeiras palavras que lhe
vieram à mente foram: “Recita em nome de teu Senhor, que criou; que criou o homem
de sangue que coagulou! Recita, pois teu Senhor é o mais generoso, que com o
cálamo ensinou a escrever, ensinou ao homem um novo saber!” (ALCORÃO, sura
96:1-5). Para a maioria dos estudiosos, a partir deste momento, Muhammad passou
a crer que estava recebendo mensagens de Allah através do anjo Gabriel. Sua esposa
Khadija o incentivava e foi, portanto, considerada a primeira muçulmana. (ALCORÃO,
12
sura 97:1; 81:19-23; 53:1-18; 74:1-5). O nome Alcorão (ou Corão) vem do árabe
Qur’na que significa “leitura” ou “recitação”. Por este motivo, os muçulmanos devem
ler o Alcorão em árabe, pois não pode ser traduzido pelo fato de conter as palavras
de Allah que não podem ser modificadas. Qualquer texto em outro idioma é
considerado interpretação do Alcorão, mas não tradução. O Livro Sagrados dos
muçulmanos contém 114 capítulos, chamados de suras (ou suratas), organizados do
maior para o menor, e não em ordem cronológica. Estão contemplados temas diversos
como família, casamento, questões legais, éticas e claro, toda a concepção religiosa
islâmica.
Em verdade, o teu Senhor sabe que tu te levantas para rezar, algumas vezes
mais do que dois terços da noite, outras, metade, e outras, ainda, um terço,
assim como (o faz) uma boa parte dos teus; mas Allah mede a noite e o dia,
e bem sabe que não podeis precisar (as horas), pelo que vos absolve. Recitai,
pois, o que puderdes do Alcorão! Ele sabe que, entre vós, há enfermos, e
outros que viajam pela terra, à procura da graça de Allah, e outros que
combatem pela causa de Allah. Recitai, pois dele (Alcorão) o que puderdes,
e observai a oração, pagai o zakat e concedei a Allah um bom empréstimo.
E todo o bem que fizerdes, será em favor às vossas almas, e achareis a sua
recompensa em Allah, o Qual é preferível e mais recompensador. Implorai,
pois, o perdão de Allah, porque Allah é Indulgente, Misericordioso.
(ALCORÃO, sura 73:20).
Os princípios do Islam são conhecidos como os “cinco pilares”: Shaada (Credo ou fé)
consiste em dizer “Não há divindade além de Allah e Muhammad é mensageiro de
Allah”. A Salat (Oração) que é a oração obrigatória dos muçulmanos, que deve ser
praticada cinco vezes ao dia em horários específicos, de acordo com a posição do sol.
Durante o salat o muçulmano recita o Alcorão e faz súplicas prescritas pelo Profeta
Muhammad, de acordo com o que foi revelado por Allah a ele. O Zakat (Caridade) é
a doação compulsória de 2,5% para aqueles que tem capacidade de paga-la, ou seja,
que possuem valor de bens acima de 85 gramas de ouro. O valor é pago sobre a parte
que excede esses 85 gramas de ouro e é geralmente pago para instituições que fazem
a distribuição dos valores entre pobres e necessitados. Sawm (Jejum): todo
muçulmano que tiver capacidade para tal, deve fazer jejum durante todo o mês lunar
do Ramadan iniciando o jejum antes do sol nascer e encerrando após o sol se por. E
a Hajj (Peregrinação a Meca) deve ser feita pelo menos uma vez na vida pelos
muçulmanos com condições para tal. Na peregrinação, vários rituais são praticados
de acordo com a tradição abraâmica da peregrinação, tendo este pilar sido iniciado
com o profeta Abraão em suas visitas à Meca. (BRAIK, 2012, p.44).
ler, ou então veio a conhecê-la por tradição oral). Ele ficava irado contra a hipocrisia
do povo; a idolatria e qualquer coisa que era desonrosa para Allah o revoltava
bastante. Acreditava que Allah tinha revelado a Torá e o Injil “Evangelho em árabe”.
É neste contexto que surge o termo jihad islâmica. Sendo que os sinônimos mais
próximos dessa palavra são: esforço, batalha, empenho, combate. (CORRÊA, 2012).
Após Abu Bakr, foram líderes do povo muçulmano: Umar Ibn Al-Khattab, considerado
fundador do Império Árabe; Uthman Ibn Affan, considerado responsável pelo
estabelecimento do texto oficial do Alcorão; Ali Ibn Abi Talib, primo e genro de
Muhammad. O califa Ali enfrentou dura oposição de Moawiya, então governador
muçulmano da Síria que havia sido escolhido por boa parte dos muçulmanos, se opôs
ao califado, alegando que Ali teria participação na morte de Uthman. Ali foi morto por
um grupo dissidentes de seu próprio exército, Hawarig, que significa “os que saem”.
Tal grupo, que ficou conhecido como os Kharidjitas acabaram por se revoltar contra o
califado de Ali, e mais um cisma muçulmano se instalou.
Após sua morte, os seguidores de Ali denominaram-se Shiat Ali, que significa,
“Partidários de Ali”, expressão que originou o termo “xiita” que só aceitavam o Alcorão
como escritura sagrada. A ala opositora aos xiitas foi formada pelos seguidores da
Sunna, que é reunião dos ditos e ações de Muhammad, formada pelos califados acima
e mencionados. Os sunitas escolheram Moawiya como califa sucessor a Ali. Após a
morte de Moawiya, o califado deixou de ser escolhido por consenso e passou a ser
por hereditariedade.
Pela análise dos textos do Alcorão é possível concluir que Jesus Cristo, filho de Maria,
é admirado e respeitado por todos os muçulmanos. Estima-se que uma em cada cinco
pessoas no mundo, conhece algo sobre Jesus através do Islã e do Alcorão 2. Os
muçulmanos, inclusive os mais simples, acreditam conhecer Jesus o suficiente pelo
Alcorão. Segundo o Alcorão, Jesus foi um grande profeta anterior a Muhammad. Ele
foi concebido de forma milagrosa no ventre de Maria, que nunca se relacionou com
nenhum homem. Jesus Cristo é um profeta de Allah enviado aos israelitas para
anunciar o arrependimento e manifestar vários sinais entre os judeus.
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2
Mario Joseph, hoje católico, foi um Iman muçulmano na Índia. Em seu livro publicado em espanhol
“Encontré a Cristo en el Corán”, ele narra sua história de conversão ao cristianismo e traz a informação
de que uma em cada cinco pessoas no mundo sabe algo de Jesus pelo Alcorão.
17
O Alcorão conta como foi a concepção miraculosa de Jesus começando pela vida de
Maria, sua mãe. É importante ressaltar que Maria é a única mulher referenciada pelo
nome no Alcorão. Conforme o Livro Sagrado dos muçulmanos, ela era uma mulher
extremamente devota a Deus e por isso, teria recebido bênçãos diretas de Allah, como
por exemplo, alimentos do céu e proteção divina contra Satanás. Sobre ela o Alcorão
diz
Sem dúvida que Deus preferiu Adão, Noé, a família de Abraão e a de Imran,
aos seus contemporâneos, Famílias descendentes umas das outras, porque
Deus é Oniouvinte, Sapientíssimo. Recorda-te de quando a mulher de Imran
disse: Ó Senhor meu, é certo que consagrei a ti, integralmente, o fruto do meu
ventre; aceita-o, porque és o Oniouvinte, o Sapientíssimo. E quando
concebeu, disse: Ó Senhor meu, concebi uma menina. Mas Deus bem sabia
o que ela tinha concebido, e um macho não é o mesmo que uma fêmea. Eis
que a chamo Maria ponho-a, bem como à sua descendência, sob a Tua
proteção, contra o maldito Satanás. Seu Senhor a aceitou benevolentemente
e a educou esmeradamente, confiando-a a Zacarias. Cada vez que Zacarias
a visitava, no oratório, encontrava-a provida de alimentos, e lhe perguntava:
Ó Maria, de onde te vem isso? Ela respondia: De Deus!, porque Deus agracia
imensuravelmente quem Lhe apraz. (ALCORÃO, sura 3: 33-37).
Maria foi eleita por Allah que a aceitou de forma benevolente: “Recorda-te de quando
os anjos disseram: Ó Maria, é certo que Deus te elegeu e te purificou, e te preferiu a
todas as mulheres da humanidade! ” (ALCORÃO, sura 3:37). “Ele a fez crescer em
beleza e pureza”. (ALCORÃO, sura 3:42). Maria não é uma invenção para corroborar
a história de Jesus, muito pelo contrário! Maria era uma mulher verídica" (ALCORÃO,
sura 5:75). A concepção de Jesus foi extraordinária devido o estado virginal de Maria
exatamente porque ele não teve pai (ALCORÃO, sura 21:91 e 66:12). Portanto, ao
18
contrário do que registra a Bíblia Sagrada, no relato do Alcorão não existe a figura de
José. Maria nunca foi desposada ou prometida e não se casou com nenhum homem.
Sua concepção ocorreu pela vontade de Allah como diz o Alcorão:
A aparência de Jesus nunca foi algo com o que a maioria dos cristãos se apegassem
com tanto vigor. Curiosamente o teólogo Muhammad Atá Ur’Rahim, na obra “Jesus
um profeta do Islam” faz um relato de qual seria a provável aparência de Cristo.
Segundo o autor, Jesus
Era um homem rosado, tendendo para o branco e não tinha cabelo comprido.
Nunca ungiu a cabeça e costumava andar descalço; não tinha casa, nem
bens, nem roupas, não usava adornos e não levava consigo provisões,
exceto os alimentos necessários para o próprio dia. O seu cabelo era
desgrenhado e o rosto pequeno. Era um asceta neste mundo, esperando
ansiosamente pelo próximo a fim de adorar a Deus. (UR’RAHIM, 1995, p.19).
trazendo consigo a mesma mensagem que todos os antigos profetas desde Adão, o
primeiro, anunciaram. O centro de sua mensagem era a unidade e unicidade
indivisível do Criador (Eloh em hebraico ou Allah em árabe), que deveria ser aceita
por todos, a fim de se harmonizarem à vontade divina, se preparando para a vida do
"mais além" a eternidade. Assim diz o alcorão:
O Mensageiro crê no que foi revelado por seu Senhor e todos os fiéis creem
em Deus, em Seus anjos, em Seus Livros e em Seus mensageiros. Nós não
fazemos distinção entre os Seus mensageiros. Disseram: Escutamos e
obedecemos. Só anelamos a Tua indulgência, ó Senhor nosso! A Ti será o
retorno! (Sura 2: 285).
E ainda:
Dize: Cremos em Deus, no que nos foi revelado, no que foi revelado a Abraão,
a Ismael, a Isaac, a Jacó e às tribos, e no que, de seu Senhor, foi concedido
a Moisés, a Jesus e aos profetas; não fazemos distinção alguma entre eles,
porque somos, para Ele, muçulmanos. (Sura 3:84).
Assim como a Bíblia Sagrada, o Alcorão registra vários episódios em que Jesus Cristo
fez coisas extraordinárias. A mensagem de Jesus contra os maus hábitos dos
israelitas e a corrupção de sua religião foi sem dúvidas uma atitude fora dos padrões
religiosos de sua época. Seguindo o estilo dos profetas do passado, Jesus tem uma
mensagem forte e direta contra o pecado. É sabido que o sistema religioso judaico da
época de Cristo estava altamente comprometido com as forças políticas dominadoras
do Império Romano. Roma passou a controlar o povo por meio de seus sacerdotes, o
que teria levado Jesus a se levantar contra o absurdo de tal sacrilégio.
regras inventadas pelos próprios rabis e através das quais obtinham ganhos
pessoais. Ele convocou os Filhos de Israel para a unicidade de Allah, para a
honestidade e para a conduta virtuosa. (YAHYA, 2001, p.8).
Os muçulmanos têm Jesus como um homem extraordinário por diversos fatores. Entre
eles está o fato de que ele falou literalmente aos israelitas desde sua mais tenra
infância, isto é, desde o berço. No Alcorão, encontra-se registrado passagens que
afirmam que Jesus, ainda no berço falou ao povo. (ALCORÃO 3:46 / 19:29-30 / 5:110).
Não poucas vezes, os sermões dele eram acompanhados de algum sinal miraculoso
que endossava a pregação. O Alcorão registra alguns milagres de Jesus no 3º sura
denominado Ál Imran. Estão relacionados milagres e maravilhas realizados à vista de
todos como por exemplo, tomar nas mãos o barro e transformá-lo em pássaros que
ganhavam vida instantaneamente conforme registra o Alcorão:
Além desta passagem, o Alcorão relata muitos outros milagres de Jesus como a cura
de um cego de nascença (Sura 3:49 e 5:110) e a ressurreição de um morto (Sura
3:49/5:110). Jesus tinha habilidades extraordinárias como conhecer qual o alimento
que as pessoas estocavam e consumiam (ALCORÃO, sura 3:49). Ele também
recebeu de Allah uma escritura sagrada, o Evangelho, a mensagem Deus para que
humanidade siga o monoteísmo, faça o bem e pratique a caridade. Sua vida é
inspiração para todos; seu exemplo de humildade e obediência é um modelo a ser
seguido conforme registra o Alcorão: “E venho confirmar o que existia antes de mim
na Tora, e tornar legal parte do que vos estava proibido; e vim para vós como um Sinal
do vosso Senhor. Portanto, temei a Allah e obedecei-me”. (Sura 3:50). O teólogo
YAHYA escreveu:
O que na realidade Jesus (as) fez, foi apenas chamar o povo para o
verdadeiro caminho, e eliminar as falsas regras introduzidas no Judaísmo
pelos próprios rabis. O povo de Israel distorcera a sua religião, proibindo o
que era permitido pela revelação original, e permitindo o que era proibido pela
mesma. Deste modo, haviam mudado completamente o verdadeiro caminho
revelado por Allah. Dado isto, Allah enviou Jesus (as) para purificar a
verdadeira religião de todas as inovações nela incorporadas numa fase
precedente. Jesus (as) chamou o seu povo para o Injil (Evangelho), o qual
confirmava a verdadeira Tora (Tawrah) revelada o Moisés (Mussa) (as). O
versículo em causa no Alcorão é o seguinte: Surah 3, Al ‘Imran: 50. (YAHYA,
2001, p. 21).
21
Mesmo tendo realizados todos estes sinais, a tradição islâmica entende que Jesus
não os realizou por si próprio, pois os seus próprios ensinamentos são baseados na
crença em um único Deus sem associados e no amor à humanidade. Realizou muitos
milagres, mas nunca creditou os milagres a si mesmo, mas sempre a Allah
(CARABALLO, 2010, p. 22). Como um bom profeta, Jesus sempre rendeu glórias a
Allah dizendo que tudo o que fazia não fazia de si mesmo, mas só podia realizar tais
coisas porque Deus lhe concedera que fizesse. Para endossar esta doutrina, os
islâmicos se valem de alguns trechos bíblicos como João 5:30 “Por mim mesmo, nada
posso fazer; eu julgo apenas conforme ouço, e o meu julgamento é justo, pois não
procuro agradar a mim mesmo, mas àquele que me enviou” e no livro de Atos 2:32:
“Israelitas, ouçam estas palavras: Jesus de Nazaré foi aprovado por Deus diante de
vocês por meio de milagres, maravilhas e sinais, que Deus fez entre vocês por
intermédio dele, como vocês mesmos sabem”.
Conforme a concepção islâmica, Jesus nunca foi levado à cruz. Entendem que ao
encontrarem um modo diferente de interpretar a religião, os judeus sentiram-se
frustrados com o aconselhado por Jesus e por isso tentaram contra a sua vida como
registra o Alcorão. (Sura 43:63-65) (YAHYA, 2001, p. 22). Quando os judeus tentaram
dar cabo da vida do profeta de Allah que estava pregando em Israel, os anjos vieram
ao seu encontro e o elevaram até Deus. No entanto, um outro homem morreu na cruz.
Talvez o mais improvável de todos, Judas Iscariotes, o tesoureiro. Ele teria aceito a
promessa de receber trinta peças de prata, caso ajudasse a capturar Jesus. Para
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evitar maiores problemas com o povo que seguiam a Cristo, esperaram até o
anoitecer. Judas tinha ordens para identificar o nazareno com um beijo para que
ficasse evidente aos soldados quem era o profeta. Porém, ao chegarem pela noite,
um grande alvoroço se estabeleceu e os dois judeus confundiam-se no escuro e os
soldados, erradamente prenderam Judas em vez de Jesus que aproveitou a
oportunidade para fugir. Conforme UR-RAHIM, a tradição islâmica está em
consonância com a narrativa do Evangelho de Barnabé que também afirma que Jesus
não foi morto na cruz e sim Judas. O autor afirma:
Na descrição feita por Barnabé, diz-se que, na ocasião da captura, Judas foi
transformado pelo Criador de maneira a que até a sua mãe e os seus
seguidores mais próximos acreditassem que ele era Jesus. Só foram
informados do que tinham sucedido realmente, quando Jesus lhes apareceu,
depois de sua suposta morte. Isso iria explicar por que razão existe tanta
confusão à volta dos acontecimentos que tiveram lugar naquela altura, e por
que alguns registros, escritos por pessoas que não estiveram presentes
nesses acontecimentos, apoiam a falsa crença de que Jesus foi crucificado.
(UR-RAHIM, 1995, p. 38).
Jesus, portanto, nunca passou pelo sofrimento e pela humilhação da cruz conforme
autores do Novo Testamento bíblico afirmam. Os muçulmanos não acreditam que
Jesus foi crucificado, pois entendem se tratar apenas de plano malsucedido dos
inimigos de Jesus para matá-lo, mas Deus o salvou e o elevou para Ele. Existe ainda
uma outra tradição que diz que a aparência de Jesus teria sido colocada sobre um
outro homem e que os inimigos de Jesus, pegaram esse homem e o crucificaram
pensando que ele fosse Jesus. (IBRAHIM, 2002, p. 58).
E me fez gentil para com a minha mãe, não permitindo que eu seja arrogante
ou rebelde. A paz está comigo, desde o dia em que nasci; estará comigo no
dia em que eu morrer, bem como no dia em que eu for ressuscitado. Este é
Jesus, filho de Maria; é a pura verdade, da qual duvidam. (ALCORÃO, sura
19:32-34).
A ascensão de Jesus até os céus foi seu escape definitivo das mãos dos incrédulos.
Para os muçulmanos, Allah o fez subir e agora, Jesus é contado entre aqueles que
hão de herdar a terra. Portanto, Jesus não era um homem comum, mas sim, alguém
que foi gerado de forma extraordinária e também alguém que realizava muitos sinais
e maravilhas que ainda não passou pela morte pois foi elevado pelos anjos até Allah.
A teologia islâmica também ensina que o mesmo Jesus que foi elevado aos céus um
dia regressará. Sobre o assunto YAHYA escreve:
Jesus (‘Issa) (as), tal como todos os outros profetas, é um servo escolhido
por Allah, a quem Allah destinou convocar as pessoas para o verdadeiro
caminho. Contudo, existem determinados atributos de Jesus que o
23
distinguem dos outros profetas, sendo que o mais importante é o facto dele
ter sido elevado por Allah, e o de que regressará à Terra uma segunda vez.
(YAHYA, 2001, p. 6).
Jesus não passou pela morte porque não havia proveito algum em sua morte,
conforme a tradição islâmica. Jesus é um profeta a serviço de Allah e nada mais do
que isso. O cristianismo discorda radicalmente deste ponto pois crê que Jesus Cristo
é uma das Pessoas da Santíssima Trindade. A teologia islâmica por sua vez, reúne
vários argumentos para combater tais afirmações e assim, constrói um cabedal
religioso antagônico ao cristianismo negando pontos fundamentais para fé evangélica.
24
A natureza de Cristo sempre foi um tema importante para a teologia de um modo geral.
Esta polêmica foi teoricamente pacificada para o cristianismo no concílio de Nicéia em
325 d.C., com a conclusão de que Cristo possuía as duas naturezas, humana e divina.
Porém, este tema ainda permaneceu vivo entre religiosos de diversos segmentos
inclusive para o Islam. Como já exposto neste trabalho, o Alcorão retrata a pessoa de
Jesus como um grande profeta que tinha uma vida dedicada a Allah e que operou
muitos milagres pelo poder de Allah, contudo, isso não significa que ele, Jesus, era
divino. “Ele (Jesus) não é mais do que um servo que agraciamos, e do qual fizemos
um exemplo para os israelitas”. (ALCORÃO, sura 43:59).
A teologia cristã tem por base o reconhecimento da pessoa de Jesus Cristo como o
Filho de Deus, ou seja, da mesma essência de Deus Pai e Deus Espírito Santo,
portanto, Deus Filho, participante da Santíssima Trindade. Porém, a concepção
islâmica é antagônica a esta doutrina pois considera uma grande blasfêmia atribuir
qualidades ou prerrogativas divinas a qualquer pessoa. O Alcorão atribui somente a
Allah e a nenhum outro o status divino, isto é, nenhum ser ou espírito deve ser
equiparado a Allah. O Islam, por exemplo, não reconhece a doutrina do Espírito Santo
como legítima pois a considera uma heresia por parte dos cristãos. Portanto, Jesus
Cristo jamais pode ser comparado ou associado à Allah pois de acordo com o a
tradição muçulmana, ele não foi nada mais que um mensageiro humano que realizou
grandes sinais e maravilhas apenas porque isso lhe foi concedido.
25
O Islam crê que o próprio Jesus deixou claro ele dependia diretamente de Allah e que
o poder para realizar atos miraculosos não estava nele, mas vinha de Allah. Para os
muçulmanos, a divindade de Jesus, deve ser fortemente rejeitada porque ela ofende
diretamente a doutrina da unicidade de Allah. Nem mesmo o extraordinário fato de
Jesus Cristo ser o único ser humano gerado miraculosamente, isto é, sem a
participação masculina na sua concepção, lhe confere título divino ou qualquer outra
espécie de associação à Allah como filho, irmão ou qualquer outro grau de parentesco.
Para o Islam ele é um homem sagrado, porém, jamais pode ser venerado, adorado
ou reconhecido como Deus. Os versos do Livro Sagrado dos muçulmanos dão
fundamento a esta tradição por asseverarem que Jesus não é um “Deus”. Cita-se o
Alcorão:
São blasfemos aqueles que dizem: Allah é o Messias, filho de Maria. Dize-
lhes: Quem possuiria o mínimo poder para impedir que Allah, assim
querendo, aniquilasse o Messias, filho de Maria, sua mãe e todos os que
estão na terra? Só a Allah pertence o Reino dos céus e da terra, e tudo quanto
há entre ambos. Ele cria o que Lhe apraz, porque é Onipotente. (ALCORÃO,
sura 5:17 e 72).
Portanto, de acordo com a tradição islâmica, o próprio Jesus teria negado a sua
divindade deixando isso muito claro em suas palavras e ações, dizendo que ele, nem
sua mãe, a virgem Maria, eram deuses ou algum tipo de divindade, por isso, não
deveriam ser considerados como tal. Para corroborar esta doutrina, os muçulmanos
se valem de versículos bíblicos que supostamente dariam base para esta questão.
Um dos versículos mais utilizados é o de João capítulo cinco, verso 30, que diz: “Por
mim mesmo, nada posso fazer; eu julgo apenas conforme ouço, e o meu julgamento
é justo, pois não procuro agradar a mim mesmo, mas àquele que me enviou". Outras
passagens como em Mateus 12:28; Lucas 11:20; João 10:29; 14:28; Atos 2:22; são
amplamente utilizadas com o mesmo propósito de desmistificar a divindade de Jesus.
Portanto, qualquer doutrina que afirme a divindade de Cristo, assim como a da
Santíssima Trindade, incorre em um erro gravíssimo segundo o Islam. Cita-se o
Alcorão:
E ainda
E recorda-te de que quando Allah disse: Ó Jesus, filho de Maria! Foste tu que
disseste aos homens: Tomai a mim e a minha mãe por duas divindades, em
vez de Allah? Respondeu: Glorificado sejas! É inconcebível que eu tenha dito
o que por direito não me corresponde. Se o tivesse dito, tê-lo-ias sabido,
porque Tú conheces a natureza da minha mente, ao passo que ignoro o que
encerra a Tua. Somente Tu és Conhecedor do desconhecido. ”Não lhes
disse, senão o que me ordenaste: Adorai a Allah, meu Senhor e vosso! (Sura
5:116 - 118).
Como exposto, a fé islâmica defende que Jesus foi enviado especificamente ao povo
de Israel para confirmar a mensagem de submissão a Allah deixada pelos profetas
anteriores a ele e também entregar as boas novas que seria o evangelho puro, isto é,
uma mensagem diferente da que os cristãos chamam hoje de Evangelho, porque este
que se encontra na Bíblia Sagrada estaria comprometido por inserções indevidas e
supostas alterações arbitrárias realizadas por comunidades cristãs que forjaram
mentiras a respeito do profeta Jesus para idealizá-lo como Deus encarnado (UR’
RAHIM,1995, p.14). Segundo o islamismo, o evangelho original teria se perdido com
o tempo, mas graças às revelações do anjo Gabriel à Muhammad na formação do
Alcorão, a verdade sobre a pessoa de Jesus teria sido resgatada e registrada no Livro
Sagrado do Islamismo.
Conforme a tradição Islâmica, Jesus teria profetizado um mensageiro que viria após
ele para consolar seus seguidores e dar continuidade ao ministério profético, este
seria Muhammad, o fundador do islamismo. O Alcorão assim registra:
Muhammad é o de João capítulo 14, verso 16, que diz: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos
dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”. O termo grego utilizado
nesta passagem é (parákletos), que pode ser traduzido como
“chamado”, “convocado para estar ao lado de alguém”, “intercessor”, “conselheiro de
defesa” ou “advogado” (STRONG, 2002, p.1708). No entanto, a tradição islâmica
afirma que o termo não está correto, que na verdade, o texto original traz o termo
(períklytus), que seria uma corrupção de parákletetos que pode ser
traduzido como “o elogiado”, este termo seria equivalente ao nome árabe Ahmad, que
é uma forma abreviada do nome Muhammad. O pensador muçulmano A. Guthrie e
EFF Bishop, defende a tese de que a palavra grega original usada era períklytus, e
que os cristãos a substituíram por parákletos. Contudo, tal proposição não encontra
amparo nos manuais de exegese bíblicas para o texto grego, tampouco nos
dicionários de língua grega. Cita-se o autor:
Portanto, de acordo com a tradição islâmica, Jesus teria feito muitas menções à
Muhammad e seu importante ministério que guiaria a humanidade na direção da fé
verdadeira. Para endossar essa doutrina, os muçulmanos também utilizam o próprio
Evangelho, que em várias ocasiões é alvo de severas críticas pela tradição islâmica
no que tange a legitimidade do conteúdo da mensagem, mas que em alguns casos
serve de amparo ao pensamento muçulmano. Com o intuito de pavimentar sua
hermenêutica, os trechos do Evangelho de João 16:7, 12 a 14, confirmariam a tese
de que Cristo profetizou a vinda de Muhammad, o consolador. Portanto, se Jesus
negou sua divindade e ainda profetizou a vinda de Muhammad e não do Espirito
Santo, a doutrina da Santíssima Trindade é uma afronta à fé muçulmana. O livro
sagrado do islamismo condena quem assim acredita.
São blasfemos aqueles que dizem: Deus é o Messias, filho de Maria, ainda
quando o mesmo Messias disse: Ó israelitas, adorai a Deus, Que é meu
Senhor e vosso. A quem atribuir parceiros a Deus, ser-lhe-á vedada a entrada
no Paraíso e sua morada será o fogo infernal! Os iníquos jamais terão
socorredores. São blasfemos aqueles que dizem: Deus é um da Trindade!
Porquanto não existe divindade alguma além do Deus Único. Se não
desistirem de tudo quanto afirmam, um doloroso castigo açoitará os
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incrédulos entre eles. Por que não se voltam para Deus e imploram o Seu
perdão, uma vez que Ele é Indulgente, Misericordiosíssimo? (Sura 5:72-74).
O pensamento islâmico diz que a Trindade é uma heresia e uma afronta a Allah, e
claro, afirmam que Jesus não é membro da Trindade nem ao menos pode ser
considerado Filho de Deus ou seu parente. Para os muçulmanos, Jesus não teria sido
o único homem a quem os israelitas atribuíram o título de Filho de Deus. Segundo o
Islam, Esdras (Ezra), também foi chamado de Filho de Deus, da mesma forma que os
cristãos chamam a Jesus. (ALCORÃO, sura 9:30 e 19:35). Contudo, para a os
muçulmanos, Jesus é considerado a "Palavra de Deus", e um "Espírito d’Ele".
(ALCORÃO, sura 4:171). Isto significa que Jesus, seria um homem escolhido por
Allah, para uma obra profética, que foi acompanhada de sinais e maravilhas, mas
ainda assim, um ser humano comum, que por exemplo, se alimentava juntamente com
sua mãe, de alimentos terrenos como qualquer ser humano. (ALCORÃO, sura 5:75).
Apesar de não reconhecerem sua divindade, os muçulmanos, creem e se submetem
as palavras de Jesus Cristo, assim como se submetem a todos os profetas anteriores
e ao próprio Maomé.
Nem uma vez Jesus é referido como "Deus, o Filho", mas apenas como o
"Filho de Deus", cerca de 68 vezes no Novo Testamento da Bíblia, o que
significava que ele não é de forma alguma Deus. Dizer que ambas as
referências são uma e a mesma coisa em significado nega as regras da
linguagem, deixando-as absolutamente inútil como um instrumento de
comunicação. (CAVE, 1996, p. 75).
A expressão "Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo" não é apenas o
sinônimo de cristianismo, mas o núcleo da fé cristã. No entanto, esta crença,
considerada como a fonte da religião cristã, não era conhecida ou defendida
por Jesus ou pelos primeiros cristãos. Padres Apostólicos e as gerações
seguintes até o último quarto do século 4 d.C., nunca pensaram em um Deus
trino. Eles acreditavam em Um Criador Onipotente, Onisciente e
Transcendente que deve ser adorado sozinho. (CAVE, 1996, p.35).
E ainda:
Embora se pregue e se acredite que a Bíblia seja a Palavra de Deus, ela não
contém a celebrada doutrina da Trindade. Se a doutrina da Trindade fosse
verdadeira, deveria estar claramente apresentada na Bíblia porque
precisamos conhecer a Deus e a maneira de como adorá-Lo. Nenhum entre
os profetas de Deus, desde Adão até Jesus, teve o conceito da Trindade ou
de um Deus Uno e Trino. Nenhum deles fez qualquer declaração, ainda que
velada, com esse efeito; também não há qualquer referência tanto no Antigo
como no Novo Testamento confirmando tal doutrina. É, portanto, estranho
que nem Jesus, nem os seus discípulos falam sobre a Trindade na Bíblia.
Pelo contrário, Jesus diz: “... o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único
Senhor." (Marcos 12:29, na Bíblia). E de acordo com São Paulo: "Israelitas,
ouçam estas palavras: Jesus de Nazaré foi aprovado por Deus diante de
vocês por meio de milagres, maravilhas e sinais que Deus fez entre vocês
por intermédio dele, como vocês mesmos sabem." (Atos 2:22, na Bíblia).
(CAVE, 1996, p.38).
Como exposto, a tradição islâmica nega com veemência qualquer associação à Allah,
ou seja, Jesus Cristo, que na teologia cristã é tido como o Filho de Deus, na concepção
islâmica é apena um profeta que rejeitou ser comparado a Deus e negou toda doutrina
que não expusesse a unicidade de Allah, isto é, Jesus não deixou nenhuma margem
para que se acreditasse na doutrina da Santíssima Trindade. Ao que parece, o
relevante tema da divindade de Cristo, e a doutrina da Santíssima Trindade são o
divisor de águas entre as duas religiões, pois em nenhum outro ponto as divergências
são tão claras e antagônicas entre si.
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CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
YAHYA, Harun. Conceitos básicos do Alcorão. Rio de Janeiro: Iqra Editora ltda.
2001.