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[Jean Valjean]- Eu tenho dinheiro eu posso pagar! Por favor, estou faminto.

[Voz no fundo 1]-Eu já disse, aqui não é lugar para você, vá embora!

[Jean Valjean]- Calma, eu também sou padeiro, eu posso ajudar na cozinha!

[Voz no fundo 1]- Agora também é padeiro? Me poupe.

(Som de porta abrindo)

(Jean Valjean com uma aparência cansada e miserável entra em cena caindo e derrubando seu
cajado e bolsa de viajem]

[Voz no fundo 1]- E não volte mais!

(Som de porta batendo com força)

(O homem recolhe seus pertences, se levanta e segue andando, até que no meio do palco de
aproxima de um canto e simula bater em uma porta)

Voz no fundo 2]- Quem é?!

[Jean Valjean]- Ah! Oi, aqui também é uma estalagem não é? Preciso de um lugar pra passar a
noite e aquela outra era uma espelunca, eu tenho dinheiro, eu posso pagar.

(Som de porta abrindo)

[Voz no fundo 2]- Ah, você! Dá o fora daqui ladrãozinho miserável!

[Jean Valjean]- Calma senhor, acho que você deve ter se confundido, eu sou um herói do
exército!

[Voz no fundo 2]- Herói do exército né?

[Jean Valjean]- Sim,Herói do...

-Mentiroso descarado, eu sei muito bem quem você é, Jean Valjean não é? Se quer um lugar
pra passar a noite, volte pra prisão!

(Porta fecha com força)

(Jean Valjean se deita em um banco, triste e cansado, e cobre o rosto tentando dormir, até que
sons de passos podem ser ouvidos)

[Voz no fundo 3]- Boa noite senhor, o que faz aí deitado?

[Jean Valjean] Tentando dormir! Não tá vendo?

[Voz no fundo 3] Calma! Só queria ajudar! Enfim, por que não vai em alguma estalagem?

[Jean Valjean] Não me aceitaram, agora me deixe quieto, preciso dormir!

[Voz no fundo 3] Entendo... Já tentou ir na casa do bispo do cidade, fica logo alí, talvez ele te
ajude, mas já que estou incomodando, vou indo embora. (Som de passos)

(Jean Valjean olha em uma das direções do palco, pensa por um tempo, se levanta e anda em
direção de onde olhou)
>>>> CENA 2 <<<<

(Monsenhor Benvindo entra em cena, se sentando em sua mesa, até que começa um som de
batidas em uma porta e ele se levanta, anda em direção ao som, e um som de porta abrindo,
então Jean Valjean também entra em cena)

[Jean Valjean] É... Boa noite senhor, meu nome é Jean Valjean, já deve ter ouvido falar de mim,
eu sou o ex-presidiário que tanto se fala nessa cidade, passei 19 anos nas galés por roubar pães
para minha família, e por diversas tentativas de fuga, fui libertado recentemente, e desde
então não consegui me estabelece em lugar algum, sinto fome, muita fome, e frio, e tô
cansado... Me disseram que você poderia me ajudar, tenho dinheiro, não é muito, mas deve
ser o suficiente para um prato de comida e uma noite de sono.

(O bispo responde com o sorriso gentil)

[Monsenhor Benvindo] Pode ir entrando senhor, não precisava se apresentar ou se explicar,


não deve se preocupar com isto enquanto estiver aqui, meu nome é Charles Benvindo, e como
já deve saber, sou bispo, essa casa não é só minha ou da minha família, também é dele (aponta
para cima), e aqui recebemos qualquer um que precise de ajuda, e vejo que você precisa de
ajuda não é senhor?

[Jean Valjean] Senhor... Mesmo depois de saber de onde venho e o que sou, ainda me chama
de senhor, não sabe o quanto isso me deixa feliz! Muito obrigado mesmo, fazem anos que não
me sinto tratado como um humano de fato.

[Monsenhor Benvindo] Vamos, você deve estar faminto, por ir se sentando na mesa, vou
buscar meus castiçais de prata, afinal é uma ocasião especial! (rindo gentilmente)

(Jean Valjean admira e analisa fixamente os talheres de prata, e os castiçais trazidos e esboça
um sorriso)

(Luzes de apagam, os personagens saem da mesa, o bispo pega uma coberta e um travesseiro,
as luzes ascendem, o bispo entrega a coberta e o travesseiro a Jean Valjean)

[Monsenhor Benvindo] Aqui está! Como já deve ter notado a casa não é muito grande, e a
única lareira da fica aqui nessa sala, como você deve estar com frio, deduzi que prefere dormir
aqui, certo?

[Jean Valjean] Sim, senhor! Muito obrigado, tenha uma boa noite!

(Bispo sai, Jean Valjean coloca a cobertura e travesseiro no chão e se deita, luzes enfraquecem,
Jean Valjean se levanta disfarçadamente, olhando os arredores, se aproxima da mesa e furta
dos talheres de prata, olha para trás e saí da casa)

(Alguns segundo passam, até que o bispo chega novamente)

[Monsenhor Benvindo] Ah! Esqueci de avisar que...(confuso, analisa o local e percebe que os
talheres sumiram) minha prataria...

(Segundos se passam até que se escuta uma voz no fundo, que chama a atenção do bispo)
[???] Uma vez ladrão! Sempre ladrão não é mesmo? Sabia que era questão de tempo até você
ir para a cadeia novamente!

(O bispo entra em cena, e do outro lado chega Javert empurrando Jean Valjean)

[Javert] Aqui bispo! Estava fazendo uma ronda pela rua até que acabei encontrando esse
delinquente saindo de sua casa com essas pratarias, já deve saber que este é um criminoso
sem escrúpulos, mas não se preocupe, a situação já está sobre controle novamente, ele irá
voltar para a prisão.

[Monsenhor Benvindo] Não há nada de errado acontecendo inspetor Javert, sei que a situação
é inusitada, mas este rapaz é um amigo meu, e a pratarias na verdade são um presente que dei
a ele!

(Jean Valjean e Javert olham surpresos)

[Jean Valjean] O que?

[Javert] Como assim? Mas é óbvio que ele estava roubando.

[Jean Valjean] Ele está certo bispo, eu sou um caso perdido, não tenho escrúpulos, mesmo
após você ter me ajudado, eu te enganei e o decepcionei, não deveria estar me defendendo!

[Monsenhor Benvindo] Do que você está falando? Não se lembra de quando eu te entreguei a
prataria pessoalmente? Você deve estar com sono! Ah, além do mais, acabei esquecendo de te
entregar os castiçais! Aqui eles estão, perdoe minha memória, a idade já deve estar me
afetando (risada e entrega os castiçais)

(Javert olha indignado, enquanto Jean Valjean está paralisado e surpreso pela ação
benevolente do bispo, transbordando arrependimento, Javert olha para Jean Valjean)

[Javert] Você pode até ter escapado pela generosidade do monsenhor, mas não se preocupe,
não vai demorar muito até estragar tudo denovo e voltar para a prisão, te vejo logo! (Sai de
cena)

[Monsenhor Benvindo] Pronto, está resolvido, venda essas peças e conseguirá um bom
dinheiro, pode ir agora e se cuide rapaz.

[Jean Valjean] Eu não entendo, depois de tudo que eu fiz, depois do que fiz com você... Eu não
mereço sua generosidade... Tome, não posso aceitar isso.

(Bispo responde com um sorriso gentil e saí de cena sem dizer nada)

[Jean Valjean] Eu já fiz tantas coisas ruins... Tantas coisas, e eu nunca senti isso, essa sensação,
de repente isso não parece mais certo, eu não posso mais continuar decepcionando todos que
conheço...

(Sai de cena)

>>>> CENA 3 <<<<


(Entra em cena Cossete esfregando o chão e Sra. Thernadier logo em seguida bebendo um
copo de água, até que em determinado momento ela derrama propositalmente o resto de
água remanescente no chão)

[Sra. Thernadier] Limpe... E rápido!

[Cossete] Mas... Foi você quem jogou a água...

[Sra. Thernadier] Não seja ingrata garota! Sua mãe precisava de um jeito de se livrar de você, e
nós te acolhemos, você deve isso a gente!

(Sra. Thernadier começa a sair de cena até que Cossete a interrompe)

[Cossete] Estou com fome.

[Sra. Thernadier] O gato já está terminando, quando ele acabar de comer, pode pegar o pote
dele, deve ter algum pedaço de pão mofado na pia... Ah, e não suje o chão!

(Sra. Thernadier saí de cena, Cossete começa a esfregar o chão, Éponine entra em cena)

[Éponine] Posso ajudar?

[Cossete] Pode (com expressão de curiosidade).

(As duas esfregam o chão juntas por alguns segundos)

[Éponine] Já faz um tempo que você está aqui e mal nos falamos ainda, você já deve saber,
meu nome é Eponine, você é Cossete não é?

(Cossete responde balançando a cabeça)

[Éponine] Sinto muito que sua mãe te largou aqui, eu sei que minha família não é a das mais
fáceis de se conviver.

[Cossete] Ela não me largou, já faz tempo mas ainda lembro, ela me deixou para conseguir um
emprego, e disse que voltaria quando tivesse dinheiro pra cuidar de mim, ela vai vir me buscar
um dia, eu sei disso!

[Éponine] Calma, não queria te ofender, mas é que já fazem alguns anos e ela não retornou pra
te buscar, então eu pensei que...

[Cossete] Não deveria, isso não é da sua conta, muito obrigada pela a ajuda, mas eu gostaria de
terminar de limpar a casa sozinha.

[Éponine] Então tá... (Se levanta e sai da cena)

(Cossete continua esfregando o chão até que começa a escutar uma conversa no fundo, e vai
escutar discretamente)

[Sra. Thernadier]... Eu vi um vestido incrível em uma loja hoje, preciso dele! Por que não
aproveitamos que já está perto do dia de recebermos o pagamento daquela mulher e pedimos
um pouco mais de dinheiro? Poderíamos dizer que ela cresceu muito e as roupas já não cabem
nela.

[Sr. Thernadier] Que roupas? Já vendi todas! (Risadas)

[Sra. Thernadier] Mas, será que ela vai conseguir pagar?


[Sr. Thernadier] E quem se importa? Também podemos falar que ela está muito doente e
precisa de remédios, ela com certeza vai mandar o dinheiro.

[Sra. Thernadier] Aliás, quando será que ela virá buscar essa ratazana que ela chama de filha?
Não suporto mais olhar para ela todos os dias.

[Cossete] É minha mãe! Eu sabia que ela não havia me abandonado, agora só preciso esperar,
ela ainda vai vir me buscar!

>>>> CENA 4 <<<<

(Fantine entra em cena tossindo e evidentemente adoentada, e vai em direção a uma mesa de
trabalho onde começa a mexer com os materiais)

[Voz feminina no fundo] É ela, Fantine não é, fiquei sabendo que ela teve uma filha sem ser
casada e foi largada pelo companheiro, será que o Sr. Madeleine já sabe disso, parece que ele é
um homem tradicional que segue valores familiares a risca, não acho que vai acabar bem pra
ela se isso se espalhar mais.

(Fantine percebe as falas, mas ignora)

[Outra voz feminina no fundo] E do que importa? Ela é uma irresponsável, além de ter uma
filha sem ser casada parece que ainda abandonou ela em uma estalagem qualquer, não é atoa
que o companheiro largou ela, inclusive eu já falei com os supervisores sobre isso.

[Fantine] Qual é o problema de vocês?! Se isso não te afeta, então por que se incomoda? Mas
para deixar claro, eu nunca abandonaria minha filha, eu estou conseguindo dinheiro para
trazer ela.

(Sons de passos)

[Voz do supervisor] Fantine, não é? Vejo que fez um escândalo, não me surpreende... Enfim,
como já devia esperar, você está demitida, você não se adequa nos padrões morais da
empresa.

[Fantine] Mas...eu preciso desse trabalho... Eu preciso para ajudar minha filha.

[Voz do supervisor] Não prolongue essa conversa, já foi decidido, arrume suas malas no seu
quarto e vá embora.

(Fantine furiosa anda até o outro lado do palco, onde começa a guardar suas roupas, até que
ela percebe uma carta no chão, pega e abre]

[Fantine] É dos Thernadier! Deve ser alguma notícia da minha filha!

(Começa a ler)

[Fantine] O que?! Eu não tenho dinheiro o suficiente... Minha filha vai morrer de frio, e de
gripe! Não, não, eu preciso achar um emprego logo... Talvez no jornal (Pega o jornal ao lado, lê
por uns segundos).
[Fantine] Compra-se cabelos...(lentamente pega o espelho e alisa seus cabelos, com expressão
de choro e sai de cena)

>>>> CENA 5 <<<<

(Fantine chega no local com o jornal nas mãos)

[Fantine] (respira fundo) Olá? É aqui que estão comprando cabelos?

(Som de porta abrindo)

[Voz no fundo] Olá? Ah! Vejo que viu o anúncio, a tabela de valores é logo alí, vai depender do
tamanho que for cortar.

[Fantine] Tudo... Quero vender tudo.

[Voz no fundo] Tem certeza? Digo, sei que não é da minha conta, mas a senhora tem cabelos
tão longos e belos, por que faria isto?

[Fantine] Para ajudar alguém que amo.

[Voz no fundo] Certo... Pode entrar.

(Fantine sai de cena, alguns segundos se passam em Madeleine entra em cena conversando
com Javert, andando pelo palco)

[Javert] Não me leve a mal senhor prefeito Madeleine... Mas acho muito curioso não haver
literalmente nenhuma informação acerca do passado de alguém tão influente quanto você, o
prefeito de uma cidade e dono de uma das fábricas mais lucrativas do país...

[Madeleine] Não é necessário tanto enfeite só para falar o meu nome Javert (leve risada)...
Mas o que você quer dizer com não haver informações? Você já sabe, há muitos e muitos anos
atrás eu não tinha amigos, não tinha dinheiro, só fome e desonra, até que uma pessoa muito
especial me ajudou a me tornar uma pessoa melhor, logo depois cheguei nessa cidade e tive a
sorte de...

[Javert] a sorte de descobrir técnicas de melhoria de ladrilhos, começou um negócio, esse


negócio virou uma fábrica, você se tornou influente e então prefeito, isso eu já sei, todos
sabem, o que não se sabe é sobre o que lhe ocorreu antes de chegar aqui, se você tem família
ou conhecidos, isto é, além do bispo de uma cidade próxima.

[Madeleine] Toda a minha família próxima morreu de fome ou de doenças, sou o único que
restou.

[Javert] Ah! Sinto muito senhor prefeito, digo, Madeleine...(alguns segundos de silêncio, Javert
encara Madeleine desconfiado)...Eu já sou inspetor de toda está região, há muitos anos,
conheço todos os moradores de todas essas cidades, alguns por nome, outros pelo rosto, e
garanto que nunca vi ou ouvi falar de algum Madeleine.

[Madeleine] Provavelmente eu só não tenho rosto e nome memoráveis! (Sorri)

[Javert] (sorriso irônico) Você realmente acha que me engana, não é?


(Madeleine olha assustado)

[Madeleine] Não entendi inspetor, o que isso significa?

[Javert] Significa que eu não sou burro e tenho uma boa memória, é claro que tem algo muito
suspeito sobre você, e eu ainda vou descobrir o que é...e sabe de uma coisa, não me leve a
mal...e talvez seja um tiro no escuro, mas você prefeito, me lembra muito um dos criminosos
que prendi há muito tempo atrás.

[Madeleine] Eu...eu não sei do que você está falando, você está me acusando? (assustado e

nervoso)

[Javert] Claro que não...Enfim, fiquei sabendo que haverá um julgamento importante daqui a
dois dias, ainda não sei quem é o réu, mas solicitaram a sua presença.

(Champmathieu entra em cena, acenando os presentes)

[Champmathieu] Seu prefeito! (Cumprimenta) Inspetô! (Cumprimenta)

(Fantine com o cabelo muito curto entra em cena novamente, visivelmente doente e devastada
pela perda do cabelo, até que Champmathieu percebe a chegada da mulher, automaticamente
soltando uma gargalhada]

[Champmathieu] Que tipo de aberração é essa?!

(Fantine, antes devastada, começa a ficar furiosa até que parte descontroladamente em
direção a Champmathieu, que se amedronta e sai de cena correndo)

[Fantine] Ei! Volte agora! (Furiosa e em lágrimas)

(Javert impede a passagem da mulher)

[Fantine] Me solte, maldito! Me solte!

[Javert] O que disse? Olha só, parabéns, a senhora está presa por desacato a autoridade, não
se mova.

[Fantine] Eu não me importo com sua autoridade! Vocês são todos cruéis, principalmente
você prefeito, o senhor me enoja!

[Javert] Já basta, agora você vai para a cadeia!

[Madeleine] Espera Javert, quero escutar o que ela tem a dizer, diga senhora, o que aconteceu?

[Fantine] Você nem se quer lembra de mim, não é? Já deve estar acostumado a demitir e tirar a
única fonte de renda de pessoas necessitadas somente por não seguirem seu código de moral
estúpido! Eu estou cansada, com fome, frio, e doente, muito doente e não sei quanto tempo
ainda tenho...Eu já fiz de tudo, eu já dei tudo que tinha, minha saúde, meu tempo, meus
cabelos, tudo por ela, e ainda não tenho como ajudá-la, minha filha vai acabar morrendo
naquela estalagem, e o pior de tudo é saber que a culpa não é somente sua, é principalmente
minha.

[Madeleine] Eu não sabia...

[Javert] Cansei dessa conversa sentimental, vamos logo, vou te apresentar a sua cela.
[Madeleine] Não, solte ela.

[Javert] O que? Você está brincando, não é? Já vejo que seu teatrinho não vai durar muito
tempo.

[Madeleine] Olha, sinto muito por tudo, tudo mesmo, como eu posso aju...

[Fantine] Você não pode, não pode me ajudar.

[Madeleine]... Você disse que sua filha está em uma estalagem, e que ela precisa de ajuda, não
disse? Posso te ajudar a trazer ela.

[Fantine] Por que você faria isso?

[Madeleine] Acredite, eu sei bem como é ter fome e frio... e sei como é ser ajudado, talvez
agora seja a minha vez de ajudar...Onde é a estalagem, ou melhor, quem são os donos, vou ir
até lá o mais breve possível.

[Fantine] Thernadier, é a estalagem dos Thernadier, quando encontrar busque por Cossete,
esse é o nome da minha filha.

[Madeleine] Certo, agora não se preocupe, vou trazer sua filha de volta...Mas, e você? Você
não parece estar muito bem.

[Fantine] Não! Eu estou bem...eu vou ficar.

(Fantine, com uma aparência doente e cansada olha fragilizada e surpresa, até que ela acaba
perdendo suas forças e quase cai no chão, sendo segurada por Madeleine)

[Madeleine] Alguém chame os médicos! Ela precisa de ajuda! O que você tem?

[Fantine] Não chegue perto! (Se solta e cai no chão) É tuberculose... Eu não sei quanto tempo
eu ainda tenho, e eu estou com medo, não me deixe morrer sem rever minha Cossete, por
favor. (Chorando)

[Madeleine] (retira um lenço do bolso e cobre o rosto) Deixa eu te ajudar, vou te levar ao
hospital, você vai ficar bem, vai ficar tudo bem (ajuda ela a levantar e lentamente vão saindo
de cena)

[Fantine] Certo...mas não me permita atrapalhar o seu trabalho, você tem tarefas muito mais
importantes do que cuidar de mim.

[Madeleine] Não se preocupe quanto a isso, meu próximo compromisso é um julgamento, e o


local em que vai ocorrer fica bem próximo do hospital.

(Saem de cena)

>>>> CENA 6 <<<<

(Madeleine chega no local do julgamento e se depara com Javert)

[Javert] Senhor prefeito, sinto muito pela minha conduta inapropriada, por isso quero que o
senhor decida qual será a minha punição.
[Madeleine] O que? Do que você está falando?

[Javert] Olha... horas depois de você ter liberado aquela mulher, decidi compartilhar as minhas
suspeitas com as autoridades de Paris, acusei o senhor de ser Jean Valjean como se fosse uma
certeza absoluta, e em seguida fui informado que o criminoso havia sido localizado.

[Madeleine] Espera...Jean Valjean foi encontrado?

[Javert] Ainda não foi avisado? O julgamento de hoje... é dele.

(Madeleine em choque, então o Juiz entra em cena para iniciar o julgamento)

[Juíz] Muito bem, hoje contamos com a presença ilustre do prefeito da cidade, o senhor
Madeleine (aplausos)... também anuncio que um dos criminosos mais procurados da região
finalmente foi identificado, e hoje, é o seu julgamento...Podem trazer o réu.

(Champmathieu chega algemado e claramente confuso)

[Champmathieu] Olha eu confesso! Eu roubei uma maçã, mas eu juro que foi só uma maçã...e
talvez algumas moedas... mas juro que foi só isso, seu juiz!

[Juiz] Só isso? Você tem uma lista de crimes bem extensa, a maioria você já cumpriu a pena
mas parece que no meio tempo da sua liberação e do seu desaparecimento você cometeu
alguns pequenos furtos, e isso já é o suficiente para te mandar de volta para a cadeia, Jean
Valjean.

[Champmathieu] Jean quem? Meu nome é Champmathieu senhor, eu não sou quem você
procura...(vira para Madeleine e Javert) Seu prefeito, inspetor, vocês lembram de mim não é?

[Madeleine] Eu...eu não acho que esse seja...

[Juiz] Esses furtos que confessou não estavam na lista, acho que devo incluí-los, espere um
momento... pronto, com isso sua pena vai se prolongar um pouco mais, sinto muito que tenha
escolhido continuar no caminho do crime Jean Valjean, espero que se arrependa e melhore.

[Champmathieu] O que?! Eu não sou nenhum Jean Valjean...eu se quer tive direito a defesa...

(Madeleine olhando com expressão de culpa)

[Madeleine] Olha...espera...

[Juiz] Podem levar o réu.

[Madeleine] Calma! (Silêncio total, e todos os presentes da cena observam ele) eu não sei um
jeito fácil de se dizer isso, mas..."Senhores jurados, mandem soltar o acusado. Senhor
presidente, mande-me prender: o homem que procuram não é ele, sou eu. Sou Jean Valjean".

(Todos em choque e silêncio, menos Javert)

[Juiz] Que tipo de brincadeira é essa?

[Javert] Eu sabia! Eu sabia! Vamos Juiz, solicite a prisão dele!

[Juiz] Calma, primeiro é preciso um mandado de prisão, não é algo instantâneo.

[Javert] Então vai deixar ele ir embora livremente? (Indignado)

[Jean Valjean] Bem, se os senhores me derem licença, preciso ir agora (sai de cena).
[Javert] O que?! Rápido juiz, solicite o mandado de prisão, ele é um criminoso, esqueceu? Ele
vai fugir!

[Champmathieu] É...o momento não é o melhor, mas... já posso ir embora?

>>>> CENA 7 <<<<

(Jean Valjean chegam ao hospital onde Fantine está visivelmente pior em uma maca)

[Enfermeira/o] Prefeito, ela não vai resistir por muito tempo, a situação é muito grave, os
médicos avisaram que ela pode partir a qualquer momento.

[Jean Valjean] Só se passou uma noite e ela parece muito pior...

[Fantine] Cossete? Você está aí?

[Jean Valjean] Fantine! Você vai ficar bem, eu vou trazer sua filha, não se preocupe.

[Fantine] Madeleine...eu...eu não vou conseguir sair dessa, vou?

[Jean Valjean] Você vai! Não diga uma coisa dessas...

[Fantine] Eu não vou conseguir ver minha filha não é? Eu não estou pronta pra ir...

[Jean Valjean] Ei Fantine, sou eu, Madeleine, não fecha os olhos, vou chamar os médicos, já
volto.

(Javert chega em cena correndo)

[Javert] Finalmente, depois de tantos anos, você está preso! Eu nem consigo acreditar (rindo
levemente, se aproxima de Jean Valjean e segura ele)

[Jean Valjean] Javert, não é o momento, ela precisa da minha ajuda, tenha um pouco de
empatia!

[Javert] Quer que eu tenha empatia, ao mesmo tempo que mente para ela? Então tá, vou ter
empatia...por ela! Olha, Fantine, não é? Este homem, é Jean Valjean, um criminoso! Ele mentiu
para todos nós, você inclusa.

[Fantine] Do...do que você está falando?

[Javert] Ele não vai trazer sua filha de volta, na verdade, talvez ela esteja em perigo, não tem
como saber das intenções de uma pessoa tão ardilosa quanto esse homem!

[Jean Valjean] O que você está fazendo?! Não vê o estado dela?

(Fantine começa a entrar em crise, falando frases desconexas)

[Jean Valjean] Fantine! Ei! Ei! O que está acontecendo?! Chame os médicos Javert! Rápido!

(Javert está em choque e permanece imóvel)

[Jean Valjean] Faça alguma coisa!

(Javert solta Jean Valjean)


[Jean Valjean] Fantine! Não dorme! Olha pra mim, eu vou trazer a Cossete, você vai rever ela,
mas não dorme!

[Fantine] Prometa...prometa que você vai cuidar dela... (Voz fragilizada)

[Jean Valjean] Não! Você vai cuidar dela, você vai ficar bem!

[Fantine] Por favor...por favor, cuide da minha filha.

(Fantine solta seu último suspiro e morre, deixando Madeleine em choque por alguns
segundos, até que algumas lágrimas escorrem do seu rosto)

[Javert] Olha...agora é tarde, vamos... a cadeia te espera...

(Jean Valjean olha para Javert furioso, empurra o mesmo e sai de cena correndo, Javert cai no
chão, tenta correr atrás mas desiste antes de sair de cena)

[Javert] Que inferno! Eu ainda te acho, maldito!

>>>> CENA 8 <<<<

(Jean Valjean entra em cena)

[Jean Valjean] Alô! Tem alguém aí?

(Som de porta abrindo)

[Sr. Thernadier] Quem é!? O que você quer? (Entrando em cena)

[Sr. Thernadier] Prefeito?! Perdão pelos meus modos é que eu...

[Sra. Thernadier] Querido!? Quem é que está na porta? E por que você estava falando do
imbecil do prefeito? (Entrando em cena)

[Sra. Thernadier] Perfeito?! É um prazer te receber em nossa humilde estalagem!

[Jean Valjean] É...Aqui tem alguma Cossete? Vim a pedido da mãe dela.

[Sra. Thernadier] Ah! Claro, espere só um segundo...Ratazana, digo, Cossete minha querida,
você tem visita! (Sai de cena para buscar a garota)

[Sr. Thernadier] Mas espera só um momento, a menina não vai embora sem antes recebermos
o pagamento das dividas, não foi barato criar essa menina com o que há de bom e melhor.

[Jean Valjean] Claro, eu trouxe o dinheiro combinado (pega um saco de moedas e entrega)

[Sr. Thernadier] Espera, você realmente trouxe? Digo, que bom que trouxe! (Pega o saco de
moedas, olha por uns segundos) Na verdade...é o dobro do que está aí.

[Madeleine] O dobro? Mas ela me mostrou a última carta enviada por vocês e...

[Sr. Thernadier] É... Inflação sabe? Sempre subindo e descendo...

(Sra. Thernadier falando no fundo)


[Sra. Thernadier] Olha, te emprestei uma roupa da Éponine, mas não vai achando que é sua,
então se comporte e vê se não suje muito, e aí de você se falar alguma coisa que não devia!

(Sra. Thernadier e Cossete entram em cena)

[Jean Valjean] Por que ela está tão magra? Tão pálida? Ela está bem?

[Sr. Thernadier] Claro que está! Isso aí é coisa da adolescência.

[Jean Valjean] Coisa da adolescência? Ela claramente não está bem! O que vocês vêm fazendo?

[Sra. Thernadier] Olha só senhor prefeito, muito cuidado quando criar suposições na sua
cabeça e não tiver nenhuma prova para confirmar, se eu fosse o senhor pagaria o que aquela
mulher nos deve e levava essa criança embora de uma vez.

(Madeleine entrega seu relógio ao Sr. Thernadier)

[Jean Valjean] Isso já deve ser mais que o triplo do que você pediu, espero nunca mais ver
vocês, ou a situação não vai terminar boa!

[Cossete] Minha mãe te mandou não foi? Eu sabia que ela viria! Podemos ir agora? Estou
muito animada para ver ela denovo.

[Jean Valjean] Cossete...eu sinto muito...

[Cossete] Como assim... você sente muito?

[Jean Valjean] Sua mãe te amava muito, muito mesmo, ela sacrificou tudo que tinha e que não
tinha para poder de rever, mas infelizmente ela não resistiu.

[Cossete] Eu... Eu não entendo, então...ela me deixou mesmo dessa vez? Então o que você, o
prefeito da cidade faz aqui?

[Jean Valjean] Eu não sou mais o prefeito da cidade... aliás, meu nome é Jean Valjean, pode me
chamar de Jean.

(Os Thernadier contando o dinheiro e admirando o relógio, então Madeleine e Cossete


começam a sair de cena juntos)

[Sr. Thernadier] Finalmente estamos livres dessa praga, pelo menos agora o gato pode comer
em sua tigela sem ter que dividir com essa ratazana.

(Jean Valjean olha para trás furioso)

[Jean Valjean] Espere aqui Cossete, esqueci de resolver uma coisa.

(Vai em direção ao Sr. Thernadier e dá um soco em seu rosto)

[Sr. Thernadier] Meu nariz! Você quebrou o meu nariz! Maldito, você ainda me paga!

[Sra. Thernadier] Querido! Está doendo muito? Consegue andar? Deixa que eu te ajudo, venha
comigo.

(Todos saem de cena)

>>>> CENA 9 <<<<


(Marius entra em cena com um semblante pensativo, com uma carta nas mãos, anda se senta
em uma cadeira, abre e lê a carta e então solta uma leve risada como se tivesse lido algo
engraçado, alguns segundos se passam até que Éponine entra em cena batendo na porta)

[Marius] Ah! É você, pode...

[Éponine] Nem precisa falar, já tô entrando! Olha, desculpa o incomodo novamente, mas meu
pai me pediu pra te entregar essa carta...ficamos sabendo que pagou nosso aluguel, salvou a
gente do despejo...muito gentil da sua parte... Aliás, prometo que da última vez que nos vimos
melhorei minha leitura! E um pouco da escrita, obrigada pelas dicas, moço!

[Marius] Não precisa agradecer, Éponine, não é? Pode me chamar de Marius, é bom sabermos
os nomes uns dos outros agora que somos vizinhos.

[Éponine] Aqui a carta...

[Marius] Agora que melhorou, que tal você mesma ler? (Sorriso)

[Éponine] (Risada) Certo, eu vou ler, só não ria se eu errar! “Honrado vizinho, Soube de sua
bondade, pagando o trimestre que eu devia ao

Senhorio. O Senhor o abençoe! Minha filha lhe dirá que estamos sem pão há dois dias.

São quatro pessoas, e minha esposa está doente. Julgo que, com seu generoso coração,

Não me negará um pequeno donativo.

Com consideração, Jondrette”...e aí, tem um trocadinho? (Sorriso)

[Marius] Tá bom, toma aqui(entrega algumas moedas do bolso)

[Éponine] Muito obrigada, Marius.

[Marius] Ah! Isso aqui também deve ser seu, não é? Encontrei no caminho de casa.

[Éponine] Olha, eu posso explicar, era para um senhor caridoso e sua filha, ficamos sabendo
que eles ajudam pessoas necessitadas...e eu sei que tem algumas mentiras, mas é o que
fazemos para sobreviver, é o que minha família sempre fez, até mesmo antes de perdemos a
estalagem que te falei...sinto muito.

[Marius] Não precisa se desculpar, que nem você disse, é o que vocês fazem para sobreviver,
eu que sinto muito por tudo que devem ter passado.

(Se abraçam, se despedem e Éponine vai para o outro lado do cenário, que seria a casa dos
Thernadier, de aspecto miserável e bagunçada onde também chegam Sr e Sra. Thernadier)

[Sra. Thernadier] Conseguiu? O bobo do vizinho cedeu?

[Éponine] Ele entregou, mas não precisa falar assim (entrega as moedas)

[Sr. Thernadier] Certo, certo, mas e a carta, entregou pro idoso e pra filha?

[Éponine] Eu tinha perdido a carta deles, mas refiz já entreguei, disseram que vão vir hoje
mesmo.
[Sra. Thernadier] Hoje mesmo?! Tá, querido vamos preparar o lugar!

(Bagunçam ainda mais a casa, até que chegam Jean Valjean e Cossete batendo na porta)

[Sra. Thernadier] Boa noite bom moço, muito obrigada por terem vindo...como podem ver
nossa casa é extremamente humilde, temos apenas essa cadeira velha e esse colchão mofado,
essa precariedade toda vem nos prejudicando, mas principalmente a nossa querida filhinha,
que está muito doente.

[Éponine] O que?

(Sr. Thernadier encara Éponine)

[Éponine] Ah! (tosse)

(Enquanto isso Marius está vendo e ouvindo a conversa por uma brecha na parede)

[Sr. Thernadier] O nosso aluguel está atrasado, acho que seremos despejados logo logo se não
pagarmos, o senhor poderia primeiramente nos ajudar com isso?

[Jean Valjean] Por algum motivo, vocês me são familiares...

[Cossete] Pai, você não percebeu que...

[Sr. Thernadier] Não não, não tem como você nos conhecer... nós... nós somos viajantes.

[Sra. Thernadier] Isso isso, chegamos aqui recentemente, os senhor não nós conhece, não.

[Cossete] O que aconteceu com vocês nesse meio tempo? Como acabaram assim?

[Éponine] Desde que você foi embora, perdemos a pousada, perdemos tudo.

[Sra. Thernadier] O que? Não, a gente não conhece ela filha, não conhecemos não...ela tá um
pouco confusa, deve ser por conta da doença, coitada.

[Jean Valjean] Olha, infelizmente também não estamos em uma boa situação, mas tenho essas
moedas, podem ficar com elas, buscaremos mais algumas para poder pagar o aluguel, não se
preocupem.

[Sr. Thernadier] Muito obrigado senhor, muito obrigado!

(Jean Valjean sai de cena)

[Cossete] Eu sinto muito que tenham acabado assim...

(Cossete começa a sair de cena, Marius percebe e tenta ir até ela, eles se vêem, porém Marius
não consegue falar com ela, enquanto isso os Thernadier, com excessão de Éponine estão
contando as moedas)

[Marius] Essa menina...eu vi ela antes, nos falamos em um parque há alguns dias, mas acabei
esquecendo de perguntar seu nome, eu preciso encontrá-la, preciso falar com ela, tem algo de
especial nessa garota.

[Éponine] Ah...O nome dela é Cossete, ela já se hospedou na estalagem dos meus pais,
digamos assim.
[Marius] Uma vez você me disse que conseguiria encontrar qualquer um nessa cidade, agora
que já conhece ela, poderia tentar descobrir onde posso achar ela?

[Éponine] O que? O que tem de especial nela? Por que quer que eu encontre ela?

[Marius] Eu ainda não sei, mas vou descobrir, faz esse favor por mim, por favor, nós somos
amigos!

[Éponine] (Claramente triste) Tudo bem, tudo bem...somos amigos...

(Ambos saem de cena)

[Sra. Thernadier] Nem posso acreditar que ele não nos reconheceu!

[Sr. Thernadier] Talvez ele tenha reconhecido, mas preferiu pagar de sonso, esse homem ainda
nos deve muito mais do que um aluguel.

[Sra. Thernadier] Então ele teve a audácia de ter esmurrado seu rostinho, tomado nosso
ganha-pão e ainda fingir que não nos conhece, não podemos deixar assim, querido.

[Sr. Thernadier] Não mesmo! A Éponine já tá em busca dele, quando ela encontrar, nos
encontramos também, então tudo que precisaremos fazer é avisar o Inspetor Javert, e depois
planejamos uma emboscada.

(Ambos riem, e começam a escrever algo)

>>>> CENA 10 <<<<

(Marius entra em cena com uma carta nas mãos)

[Marius] ...O endereço é esse...agora é torcer que Éponine esteja certa...

(Marius se aproxima do local e coloca a carta em cima de um banco)

[Marius] Espero que ela leia...

(Quando Marius está se afastando, chega Cossete em cena desconfiada e na defensiva)

[Cossete] Ei! Você! O que você tá fazendo aqui?...espera, eu já te vi antes, que tipo de
perseguidor você é?

[Marius] Calma, te prometo que a última vez que me viu foi apenas uma coincidência.

[Cossete] A última vez? Tiveram outras?

[Marius] Ah, comecei mal não é? Olha, meu nome é Marius, Marius Pontmercy, e eu sei que
isso tudo é muito estranho, mas vou te deixar em paz, apenas peço que leia a carta, por favor.

(Começa a sair de forma desajeitada, Cossete acha engraçado e sorri, soltando um leve riso)

[Cossete] Já que está aqui, por que mesmo não fala?

[Marius] O que? Espera... não quer que eu vá embora logo?


[Cossete] Eu estava brincando, eu lembro de você, já trocamos bom dias algumas vezes no
parque... Também já percebi que você não desgrudava os olhos de mim toda vez que eu ia lá
com meu pai...ele também percebeu, não acho que ele gosta muito de você, mas nunca nos
conhecemos de fato...meu nome é Cossete, prazer em conhecê-lo.

[Marius] Olá Cossete, prazer em conhecê-la, sou Marius...No caso, seu pai seria aquele senhor
que sempre está com você não é? Ele parece te amar muito.

[Cossete] Sim, ele ama, somos só eu e ele há anos.

[Marius] Como assim? E sua mãe?

[Cossete] Ela faleceu há muitos anos... Então ele me adotou.

[Marius] Nossa, sinto muito mesmo, sou um tolo, que pergunta insensível que eu fiz!

[Cossete] Não tem problema, anos já se passaram, já consigo lidar melhor com isso...e você,
fale sobre você.

[Marius] Ah, sim...meu nome é Marius, eu tenho 18 anos, moro no quarto ao lado daquele que
você visitou com sei pai dois dias atrás...sobre minha família, nunca conheci minha mãe, meu
pai, foi um oficial do exército de Napoleão, e isso é tudo que sei sobre ele, vivo com meu avô,
monarquista, fez de tudo para desmoralizar e me afastar do meu pai, quero dizer, vivia...ele me
expulsou de casa (risada)

[Cossete] Então ambos temos passados tristes (risada leve)...quero dizer, sinto muito por tudo
isso.

[Marius] Não se preocupa, isso não me magoa... aliás, deixando o passado de lado, agora sou
estudante de direito e faço parte de uma frente revolucionária contra a monarquia junto de
alguns amigos meus, Amigos do ABC o nome, posso te levar para conhecê-los um dia se
quiser...e sobre você, ainda não disse nada.

[Cossete] Tá, tá bom...Eu nunca conheci meu pai de sangue, ele abandonou minha mãe assim
que engravidou... já minha mãe? Uma mulher incrível, não passamos muito tempo juntas, mas
sei que ela me amava, ela morreu há tempos atrás, então eu passei alguns anos sofrendo todo
tipo de humilhação e exploração nas mãos de uma família cruel, até que fui adotada pelo Jean,
meu pai.

[Marius] Ah, o nome dele é Jean?

[Cossete] O que? Não... não, é um apelido que eu criei, o nome dele é Madeleine, me confundi
na hora de falar.

[Marius] Porque ficou tão nervosa de repente? O que poderia ter de tão misterioso sobre um
senhor tão simpático?

[Cossete] É...e a carta? Não vai ler?

[Marius] (envergonhado) Eu...eu já tenho que ir, desculpa, você lê por si só e na próxima vez
que nos vermos falamos sobre isso, você sabe onde moro, sei onde você mora, então não vai
ser um problema, te vejo em breve (sorri)

[Cossete] Te vejo em breve? (Risada leve)


[Marius] Cl...claro!

[Cossete] Depois de amanhã! Tá marcado, é um encontro.

[Marius] Como quiser, senhorita (sorriso desajeitado)

(Marius sai de cena Cossete abre a carta e começa a ler com um sorriso no rosto enquanto sai
lentamente de cena)

>>>> CENA 11 <<<<

(Cossete entra em cena e se senta esperando a chegada de Marius, até que de repente chega
Éponine)

[Éponine] Da pra perceber no rosto dele...ele realmente gosta de você.

[Cossete] Ele quem? E...quem é você?

[Éponine] Tô falando do Marius! Mas calma, você realmente não lembra de mim?

[Cossete] Espera... Éponine? O que faz aqui? Caramba, faz tanto tempo, nós mudamos tanto!

[Éponine] Pois é! Eu sinto muito mesmo por tudo que minha família fez com você, e pelo meu
descaso e insensibilidade.

[Cossete] Tá tudo bem, também peço desculpas, fui bem grosseira com você às vezes...que tal
um abraço de desculpas mútuo?

(Se abraçam)

[Cossete] Aliás, você conhece o Marius?

[Éponine] Conheço sim, somos amigos, ele já me falou muito sobre você, e sobre os encontros
que vocês tem.

[Cossete] Ah! Você sabe me dizer onde ele poderia estar hoje? Normalmente ele vem aqui
nesse horário, mas até agora nada.

[Éponine] Pelo que eu ouvi falar o grupo político ou sei lá o que que ele participa está fazendo
uma reunião, tem alguma coisa a ver com o enterro de um oficial ou algo do tipo... Ele é um
bom homem, o Marius, acho que ele gosta muito de você, então aproveita a oportunidade, por
quem gostaria de poder aproveitar.

[Cossete] Calma... você....eu sinto muito Éponine, eu não sabia que você e ele...

[Éponine] Não se culpe, não podemos controlar os nossos sentimentos, quanto mais os de
outras pessoas.

(Jean Valjean chega desesperado)

[Cossete] Pai? O que houve?

[Jean Valjean] Ele nos encontrou, o Inspetor, ele sabe onde estamos, arrume suas malas,
vamos embora amanhã mesmo!
[Cossete] Como assim? Eu não entendo, como ele poderia ter nos encontrado? Para onde
vamos?

[Jean Valjean] Eu não sei como ele nos encontrou, mas você sabe onde vamos, lembra da outra
casa na cidade que falei sobre há um tempo, vamos passar alguns dias lá enquanto isso darei
um jeito de resolver tudo.

[Éponine] Do que vocês estão falando, está tudo bem?

(Cossete sai de cena, pega um papel e um lápis e volta rapidamente em cena escrevendo algo
no papel)

[Cossete] Algo ruim aconteceu, muito ruim, e vamos nos mudar, então por favor, entregue essa
carta ao Marius.

[Éponine] Eu...eu não entendo, mas...tudo bem, eu entrego sim.

>>>> CENA 12 <<<<

(Marius deitado em uma cama, até que é acordado por um amigo seu)

[Marius] O que foi Enjolras? O que você quer?

[Enjolras] Não vai ao enterro do general Lamarque?

[Marius] Não me sinto tão disposto...aquela menina que te falei sobre...Cossete, já tem alguns
dias que não entra em contato comigo... Ela simplesmente sumiu, sem aviso.

[Amigo] E você vai deixar isso acabar com você dessa forma? Vamos Marius, você sabe quem é
o Lamarck e o que ele simboliza né?

[Amigo] Sei sei, ele foi do governo de Napoleão...mas por que exatamente deveríamos ir pra
seu enterro, isso realmente importa?

[Amigo] O ponto central não é o enterro, e sim o que a nossa presença nele significa, vários
grupos de oposição ao governo se uniram para participar do evento, para demonstrar a
aderência e a importância dos nossos ideais.

[Marius] Não sei... não estou com um bom pressentimento sobre isso, provavelmente vai
acabar em tumulto.

[Amigo] Vamos lá Marius, como você acha que seu pai agiria? Não acha que ele iria também?

[Marius] Que golpe baixo usar meu pai nisso hein...mas você conseguiu...vou para o enterro...

[Amigo] Muito bem, assim que se faz...Vamos lá!

(Marius se levanta e ambos saem de cena)

>>>> CENA 13 <<<<

(Marius e seu amigo entram em cena andando lentamente)


[Amigo]... e é por isso que é tão importante que participemos desses...Espera, você ouviu isso?

[Marius] Ouvi algo, parece até que...

(Chega uma pessoa correndo)

[Gavroche] Ei! Ei! Vocês, são membros de um dos grupos, não são? Precisamos de vocês.

[Amigo] O que aconteceu? Não entendo.

[Gavroche] Não sei exatamente como começou, mas ocorreu um pequeno desentendimento
do pessoal com a polícia, e isso acabou evoluindo e se tornou um caos generalizado.

[Amigo] Então... você estava certo, parece que você estava certo, acho que deveríamos voltar.

[Marius] Viu? Precisa confiar mais em mim.

[Gavroche] Acho que vocês não entenderam a situação...Essa vai ser uma briga das
grandes!...Espera, vocês são do Amigos do ABC certo? Reconheço vocês agora, seus amigos
estão no conflito.

[Marius] Eles o que? Por que eles iriam?

[Gavroche] Eles foram lutar pelos valores deles, já que seus valores não são uma motivação o
suficiente para você, então que tal lutar por seus amigos?

[Marius] Não podemos deixar eles lá, isso é estupidez, não vai ser pela violência que
mudaremos algo...Enjolras, precisamos encontrar eles.

[Amigo] Claro, vamos.

>>>> CENA 14 <<<<

(Em um lado da barricada entra um combatente segurando Javert, apresentando o mesmo a


Enjolras que acabou de entrar no local)

[Combatente] Você é Enjolras não é? O líder de um dos grupos? Olhe, este homem é um
policial, encontrei ele agindo de forma suspeita na multidão próxima, aposto que é um espião
do governo.

[Enjolras] Deixe-me ver... quem é você?

[Javert] Meu nome é Javert, pra você inspetor Javert.

(Javert é revistado pelo líder, que encontra um papel na roupa dele)

[Enjolras] Você...eu sei quem é você, conheci diversas pessoas que cruzaram seu caminho, a
maioria teve a vida arruinada depois disso, graças essa sua obsessão pela “justiça”, muitas
delas eram inocentes, sabe disso, não sabe?

[Javert] E daí? Eu fiz o que foi preciso, e o que foi pedido, mesmo que tenha ferido muitos
inocentes, ajudei muitos outros.
[Enjolras] Se você diz...Vamos ver o que tem aqui... (lê o papel) então, parece que é verdade,
você de fato estava nos espionando...(decepção) eu queria muito saber o que você ganha com
isso?

[Javert] Paz, ganho serenidade e paz comigo mesmo...se eu fosse você, me preparava, a guarda
nacional já está a caminho, sabem todos os seus recursos...acabou, vocês perderam.

[Enjolras] Eu tenho pena de você, de verdade...Vamos acabar com isso, amarrem ele em uma
árvore qualquer, ele será fuzilado, mas não agora, não podemos perder munição a toa...(se
aproxima de Javert) antes de morrer, quero que pense bem na vidas que você destruiu e na
vida inocentes que serão perdidas por sua causa.

(Eles saem de cena, segundos se passam e então entra Éponine disfarçada, armada e se
preparando para

[Marius] Éponine? O que você está fazendo aqui?

[Éponine] Marius? Não era pra você estar aqui, é muito perigoso!

[Marius] Eu sei disso! Por isso pergunto, por que você está aqui?

[Éponine] Me passando por você, não somos parecidos obviamente, mas o plano deu certo,
não precisa estar aqui.

[Marius] Por que você faria isso por mim? Éponine isso é muito mais perigoso do que aplicar
golpes, você precisa sair daqui.

[Éponine] Não, eu não posso, eu preciso fazer isso, preciso batalhar por quem amo, por minha
família, por mim...Por você...(Marius se assusta, então Éponine solta uma risada leve) Você
nunca percebe mesmo, não é? Eu sempre tive sentimentos por você...

[Marius] Éponine, gosto muito de você... Mas não sinto o mesmo que você sente, sinto muito
por isso, mas meu coração pertence a Cossete.

[Éponine] Claro...claro, eu sempre soube que não teria condições de competir com ela...O que
eu tava pensando, estamos no meio de uma batalha, esquece o que eu disse, vamos
apenas...lidar com isso, tá?

[Marius] Éponine, eu não disse que você é de alguma forma pior que ela, mas sinto muito se
foi o que eu transpareci, não era minha intenção.

[Éponine] Certo, certo, tá tudo bem... só...foca em dar um jeito de sair daqui, tá? Você ainda
tem que rever ela...Ah! Ela me pediu para te entregar está...(Começa a procurar pela carta na
roupa, mas diversos sons de tiros começam a vir de todos os lados)

[Éponine] Se abaixa! Eles chegaram! A coisa vai ficar feia, você precisa sair daqui agora!

[Marius] Não, nos vamos juntos!...Espera, eles estão destruindo a barricada!

(Éponine se aproxima correndo do local em que Marius está e exclama)

[Éponine] Bloqueem a entrada! Joguem cadeiras, mesas, qualquer coisa! Joguem! Joguem
tudo! (Som de tiro, silêncio total, dá a entender que Éponine foi atingida, mas não foi)

[Marius] Essa passou perto, agora vamos!


(Marius fica logo a frente esperando Éponine, que pega a carta de Cossete, encara ela por um
tempo, deixa um sorriso entristecido sair e se levanta para entregar a Marius)

[Éponine] Marius, A Cossete me pediu que....(outro som de tiro, desta vez Éponine foi atingida,
o tiro também danificou a carta, tornando ela parcialmente ilegível. Logo, Éponine para de
andar no momento e cai no chão com a carta na mão, Marius sai correndo em sua direção)

[Marius] Éponine! Não, não! Alguém ajuda! (Vários sons de tiros)

[Éponine] (voz debilitada e tossindo periodicamente, rosto assustado) Eu, eu não tava
esperando por isso...(grunhidos de dor) aqui, a carta (entrega a carta)

[Marius] Não tenta falar....Ei! Ei! Não fecha os olhos. Alguém ajuda! Ela foi ferida!

[Éponine] Para, para...Para, Marius! Acabou, acabou pra mim...Eu sinto muito por não ter te
enviado a carta antes.

[Marius] Esquece a carta! Éponine, olha pra mim, não dorme!

[Éponine] Ei... Posso fazer um último pedido? Não serão alguns trocados dessa vez. (risada leve
seguida de tosses)

[Marius] Não fala assim! Último coisa nenhuma!

[Éponine] Antes que eu morra, poderia me dar um beijo na testa? Quero saber como tudo
poderia ter sido.

(Marius beija a testa de Éponine)

[Éponine] Agora vá! Você precisa ir, me deixe aqui!

(Marius chorando balança a cabeça sinalizando que não, Éponine responde com tom de voz
choroso)

[Éponine] Vai! Vai embora...por favor, não quero que você me veja assim.

[Marius] Eu vou ficar, não vou te deixar sofrendo sozinha.

[Éponine] Você é muito bobo mesmo não é? (Solta uma risada leve, seguida de uma crise
tosses e hiperventilação, Marius entra em pânico, até que Éponine solta seu último suspiro,
deixando Marius perplexo, ajoelhado ao seu lado, segurando a carta)

[Marius] Eu...eu sinto muito...(diversos sons de tiros são escutados, assustando Marius, que
ainda persiste em continuar no local, até que Gavroche chega correndo, se deparando com a
cena trágica)

[Gavroche] Ei! Ei! Você não pode mais continuar aqui! Eles estão chegando, vamos! Você
precisa deixar ela ir! (Puxando o Marius, que de forma relutante se levanta e começa a deixar o
local , até que para)

[Marius] Não...eu tô cansado, não sei se quero continuar lutando.

[Gavroche] O que?! Você vai abandonar a batalha?

[Marius] Não nesse sentido de lutar, eu já não tenho mais forças para nada...(Marius pega dois
pedaços de papel da carta, escreve algo em ambos e entrega um a Gavroche junto da carta e
guarda o outro no bolso) Por favor, entregue essa mensagem para a moça do endereço da
carta, e diga a ela que eu sinto muito.

[Gavroche] Mas e a batalha? Eu não posso deixar tudo para traz... E esse segundo papel, o que
guardou no bolso, o que é?

[Marius] É para caso não consigam identificar meu cadáver... Então, por favor, leve a
mensagem, cumpra o último desejo de alguém.

[Gavroche] Tá... tá certo, eu levo sim a mensagem, mas vê se toma cuidado, não desiste da sua
vida tão fácil! (Sai correndo)

(Marius volta em meio aos sons de tiros, pega a arma caída de Éponine e segue em frente)

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