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ETA - ESTÚDIO DE TREINAMENTO ARTÍSTICO

“OS MISERÁVEIS”

CONCLUSÃO DE 2º MÓDULO DA OFICINA DE TEATRO MUSICAL

ADAPTADO DO MUSICAL DE CLAUDE-MICHEL SCHÖNBERG COM VERSÃO


BRASILEIRA DE CLÁUDIO BOTELHO

CIA. GRANADA

DIREÇÃO: ERIC CÔCO

São Paulo
Julho, 2023
ELENCO Ensemble

Jean Valjean Barb. Day, Gustavo, Gyo, Lucas, Nay,


Rafa, Thomas
Tiburcio

Inspetor Javert
FICHA TÉCNICA
Hebert
Dramaturgia
Fantine
Allan, Gigi, Rafa, Tiburcio
Lumi
Sonoplastia
Cosette Criança
Gustavo, Hebert, Letícia
Gigi
Coreografia
Cosette Jovem
Isabella, Victor, Vinícius
Letícia
Figurino
Sr. Thénardier
Gustavo, Gy, Letícia, Vinícius
Allan
Cenografia
Sra. Thénardier
Allan, Barb, Gigi, Júlia, Luka, Victor
Júlia
Financeiro
Éponine
Day, Júlia
Isabella
Captação
Marius
Day, Gy, Júlia, Nayara, Rafa
Vinícius
Divulgação
Enjolras
Gy, Letícia, Luka, Thomas, Victor
Victor
PRÓLOGO

Olhai, olhai!

CORO:
Olhai, Olhai
Pro chão, olhai pro chão
Olhai, olhai
A eterna escuridão

PRISIONEIRO 1:
No céu o sol
Não há de arrefecer

CORO:
Olhai, olhai
Não há o que escolher

PRISIONEIRO 2:
Não fiz, não fui
Oh! Deus! Eu não errei!

CORO:
Olhai, olhai
Que Deus aqui é a Lei

PRISIONEIRO 3:
Depois daqui
Me espera uma mulher

CORO:
Olhai, olhai
Ninguém vos vai querer
PRISIONEIRO 4:
Hei de voltar
E me vingar
Sem perdão

CORO:
Olhai, olhai
Pro chão, olhai pro chão

PRISIONEIRO 5:
Oh Deus, meu Deus
Parai meu coração

CORO:
Olhai, olhai
Pro chão que encontrareis
Pisai, pisai
Na cova em que estareis

[falado]

JAVERT:
Número: 23612. Venha até aqui, seu tempo chegou! Sabe o que é isso?

VALJEAN:
Estou livre??

JAVERT:
Livre nunca! Ladrão é ladrão e vai levar essa marca por toda vida! Condicional com um
atestado de grande perigo para a sociedade

VALJEAN:
Eu só roubei um pão. Meu sobrinho, ainda bebê...morria de fome nos braços de minha
irmã! Roubei só pra salvar a vida dele

JAVERT:
Vai caçar um jeito de se estrepar se não andar dentro da lei!
VALJEAN:
Dessa sua lei eu só fui escravo, passei 19 anos preso nisso aqui igual um animal!

JAVERT:
Cinco porque roubou, o resto por tentar fugir, 23612

VALJEAN:
Meu nome é Jean Valjean!

JAVERT:
Pois vai ser esse número daqui até depois da terra lhe comer! Pegue aquela bandeira (ou
qualquer outro elemento teatral que sirva ao propósito futuro de identificação) e traga
ela aqui antes de ir!

[cantado]

CORO:
Olhai, olhai
Pro chão que encontrareis
Pisai, pisai
Na cova em que estareis

[Entra coro, fazendeiro e trabalhador]

[fazendeiro ouve fofoca de trabalhador em cochichos enquanto chega Valjean]

[falado]

VALJEAN:
Senhor! Finalizei os deveres do estábulo, posso tomar um café?

FAZENDEIRO:
Pegue aí, e outra coisa...(entrega dividendos) Aqui não dá mais pra tu ficar. Pega tuas
coisas,aí teu pagamento...pode ir!

VALJEAN:
Mas isso é metade do pagamento normal sendo que eu trabalhei dobrado!
TRABALHADOR:
Bandido não tinha que ter direito a nem um centavo! Pau que nasce torto não endireita
mais! Raspa fora, ladrão!

[Sai coro, fazendeiro e trabalhador] [poss. retirar parte taberneira]

[Entra coro, taberneira e trabalhador]

TABERNEIRA:
Aqui não tem lugar pro senhor não e a cozinha já tá fechada, sinto muito, mas cabô
tudo!

VALJEAN:
Uma lasca de pão, mistura sobrada, nada? Não sou cachorro pra ser enxotado assim!

TRABALHADOR:
Some daqui por bem ou vai por mal que aqui não tem vez pra marginal, não!

[brigam brevemente]

[Sai coro, taberneira e trabalhador]

[Valjean caminha sem rumo até se encolher no chão, à porta de uma casa]

VALJEAN:
Então essa é a lei! Passaporte direto pro inferno com uma corda no pescoço que é a
liberdade que essa “justiça” me deu! (se recolhe após caminhar) Chão frio é serventia da
casa

[Entra bispo]

BISPO:
Meu senhor, acorda! Aqui tu vai morrer de frio, venha! Durma conosco! Temos cama,
pão e vinho, descanse e amanheça o dia melhor!

VALJEAN:
A prata…o aparelho de jantar…os garfos, pratos, taças, valem mais que tudo que eu já
botei a mão em toda minha vida! Quanta riqueza num só lugar!…por que confiou em
mim??

[Sai bispo]

VALJEAN:
Eu fico agradecido de todo coração! Mas é tanto pra se deixar na vista de quem não tem
mais nada! Só isso, agora já tenho o necessário e só me resta fugir quando nascer o
dia…

[Entra guardas e coro]

Valjean Preso / Valjean Perdoado

[falado]

GUARDA 1:
Conta agora a tua história

GUARDA 2:
Vamos ver se vai colar

GUARDA 1:
Hóspede, uma ova!

GUARDA 2:
Qual trouxa você quer que acredite que o bispo colocou um mendigo desse em casa por
bondade no coração, pra ouvir história furada?

GUARDA 1:
E pra agradecer a companhia do pé rapado deu esse tanto de prata de presente!
[Entra bispo]

BISPO:
Meu senhores, agradeço seu serviço, cuidado e atenção! Mas a verdade é que abriguei
sim esse meu amigo e lhe presenteei com esses artefatos! Inclusive o amigo parece que
esqueceu ainda uma sacola...(para Valjean, pertinho) Use essa nova chance como um
meio para mudar seu destino e não um fim. (para todos) Vá em paz, amigo, e os
senhores também!

[Sai bispo]

Solilóquio de Valjean

VALJEAN:
Eis o que eu sou
Meus Deus, eu sou o que sou
Que animal eu virei
Que grande mal me tomou
E já é tarde demais
E já não dá pra voltar
E nada restou
Só meu ódio a gritar
Os gritos em vão
Ninguém vai ouvir
Nesse lugar de onde
Nunca vou sair!

Se havia mais que isso aqui


Há vinte anos eu já perdi
Tiraram de mim o sol da manhã
Levaram meu nome
Mataram valjean
Me atirando naquela prisão
Por um simples pedaço de pão!
Mas mesmo assim
Por que será?
Deixei tocar meu coração
Por esse homem que me chama
De irmão e me deu
Comida e cama
E me entregou nas mãos de Deus
Será por que?
Só tenho ódio em meu olhar
E ódio é tudo o que me vê!

Só vingança e rancor
Nesse meu coração
Dessa vida eu só levo
Essa amarga lição

Mas as palavras que ele diz


Despertam algo que eu não quis
Ele me fala em liberdade
Vergonha então me vem atormentar
Que alma julga que eu terei?
Eu já nem sei!
Que sonhos hão de me assaltar?
Como é viver dentro da lei?

Eu procuro, mas perdi


E a noite que já vem
Os meus olhos, o que verão?
Meus pecados, nada além

Eis que agora eu irei


Escapar de jean valjean
Jean valjean que diga adeus
À nova história que já vem!
[Sai Valjean]

FIM DO PRÓLOGO
1º ATO

[Entra pobres]

Ao Final Desse Dia

OS POBRES:
Ao final desse dia
És um dia mais velho
E não há outra vida
Pro pobre viver
É uma guerra, é lutar
E ninguém quer perder a partida
Mais um dia sob o sol
Quando acabar
Menos um nessa vida

Ao final desse dia


É um dia mais frio
E a camisa que vestes
Não vai te esquentar
Ninguém sabe, ninguém viu
Ninguém ouve as crianças chorando
E o inverno que já preveniu
Vem pra matar
É a morte chegando

Ao final desse dia


A esperança te espera
E o sol da manhã
Já querendo raiar
Como as ondas a quebrar
Como a fúria dos ventos soprando
Tem a fome a galopar
Tem as somas que vão somando
E a conta, quem vai pagar?
Quando o dia acabar

[Sai pobres]

[Entra capataz, garotas e Fantine]

CAPATAZ:
Ao final desse dia
Não ganhas um puto
Quem só fica sentado
Não leva um tostão
Tem os filhos pra comer
As crianças precisam de pão
E tem sorte quem tem seu lugar

GAROTA 1:
E o seu colchão

TRABALHADORAS:
E que Deus nos ajude!

GAROTA 2:
Olha só como bufa o seu capataz
Com seu hálito podre e tremores nas mãos

GAROTA 3:
É que a tal da Fantine não quer se render
Os favores que pede, ela sempre diz não

GAROTA 1:
E o patrão que nunca vê
Os desmandos do seu capataz
GAROTA 3:
Se Fantine não se cuidar
Digo a você
Não trabalha aqui mais

[Entra pobres]

OS POBRES:
Ao final desse dia é um dia cumprido
É no bolso a promessa de um dia melhor
Pague as contas, o aluguel
Faça mágica e corte a despesa
Corte a carne do pastel
Faça o pouco crescer sobre a mesa
Tudo só pra recomeçar
Quando o dia acabar

[falado]

GAROTA:
Olhem, aqui, meninas! (retira carta de Fantine em jogo de “bobinho”) Dona Fantine
recebeu uma carta (se protege atrás das garotas e lê) “Cara Fantine, é preciso pressa! A
criança está doente e necessita cuidados urgentes! Mande dinheiro o mais rápido o
possível”!

FANTINE:
Me devolve! (toma a carta de volta com violência) Morde tua língua antes de falar dos
outros que seu marido nem sonha o que você faz! Quem tá atolado na lama tem lugar de
julgar ninguém!

[Fantine e garotas brigam]

[Entra Valjean]

VALJEAN:
Que baderna é essa aqui? Isso aqui não é circo, minha gente, é lugar de trabalho! Sou
prefeito da cidade e dessa fábrica e aqui eu quero paz (ao capataz) Separa a briga e
descobre o que aconteceu, com paciência e compreensão.

CAPATAZ:
Quem começou essa zorra?

[Sai Valjean]

GAROTA:
Foi essa aqui (aponta para Fantine) que além de ser ruim de serviço e se achar melhor
que todo mundo, tem filha escondida pra sustentar, vai saber os horrores ela faz pra tirar
dinheiro extra além daqui, meu deus, uma vergonha pra nós!

FANTINE:
Eu tenho uma filha sim! Abandonada pelo pai, eu e ela! Tive que deixar a menina com
um casal onde ela nasceu em troca de pagamento todo mês pra eles, pra vir atrás de
ganhar a vida e poder voltar pra ela, por isso preciso do dinheiro!

GAROTAS [intercalando]:
Tá vendo onde isso vai dar? Essa aí só da despesa e problema...dá problema pro senhor
e problema pra gente. A gente aqui pra trabalhar e essa querendo cama macia, manda a
vadia pro olho da rua antes que a gente tem que pagar o preço!

CAPATAZ:
Eu sabia, bem que tinha o que desconfiar, que gata que cria garra uma hora arranha! A
coitadinha que bate no peito pra dizer que é santa é quem tá causando a zorra! Faz a
virgem de manhã e de noite, a cortesã!

GAROTA:
Ela vive rindo da sua cara e arruma homem por trás dos pano

GAROTAS [intercalando]:
É vadia, é problema! Já chega disso, seu capataz

CAPATAZ:
Tá certo! O patrão não quer problema e tá todo mundo de saco cheio, some daqui,
mulher! Anda! Pra rua que é cama quente!
[Sai garotas, capataz e pobres]

Eu Tinha um Sonho Pra Viver

FANTINE:
Já houve um tempo de homens bons
De palavras gentis
E de vozes mansas
Já houve um tempo de outros tons
E de tantas canções
E de tantas lembranças
E tanto mais
Que já não há

Eu tinha um sonho pra viver


Um sonho cheio de esperança
De que um amor não vai morrer
E Deus perdoa e não se cansa

Eu era forte e sem temor


E os sonhos eram de verdade
Não tinham preço nem valor
Canções e sons pela cidade

Mas a noite então caiu


E na noite tantas feras
Me rasgaram o coração
E tudo aquilo que eu sonhei

Foi num verão que ele surgiu


Me oferecendo a primavera
E prometeu e não cumpriu
Pois foi embora e eu fiquei

E hoje eu sonho que ele vem


E nos seus braços eu me entrego
Mas sei que é sonho e nada além
Dos velhos sonhos que eu carrego

Eu tinha um sonho pra viver


Mas eis que a vida foi mais forte
E de repente eu acordei
Mataram tudo
O que eu sonhei

[Sai Fantine]

[Entram marinheiros]

Lindas Moças

[falado]

MARINHEIRO 1:
Ó...cheirão bom de mulher! Hoje que eu jogo vara pra pescar um cardume!

MARINHEIRO 2:
Esse tempo todo no mar com fome...fome de mulher que é hoje que a gente matar!

MARINHEIRO 3:
Marinheiro quer lindas moças pra se alimentar!

[Entram mulheres]

[cantado]

MULHERES:
Lindas moças
Quem que vai querer?
Somos todas frutas
Tá na hora de colher
Lindas moças
Prontas pra levar
Seja pela proa
Pela popa, é só pegar
Pega e paga: preço a combinar!

[Saem marinheiros e mulheres]

[Entram Fantine e velha senhora]

[falado]

VELHA SENHORA:
Psiu, vem cá, meu bem...que dente lindo, deixe eu ver...

FANTINE:
Senhora, se quiser eu posso vender!

VELHA SENHORA:
Pago três tostões

FANTINE:
É pouco demais

VELHA SENHORA:
Pago cinco então e tá de bom tamanho que eu sei que tu ta precisando

FANTINE:
Mas é tudo que tenho...

VELHA SENHORA:
Problema seu, anda logo que se tu não quer tem quem quer!

[Sai Fantine e velha senhora]

[Entram mulheres]
[cantado]

MULHERES:
Lindas moças
Pela escuridão
Prontas pra qualquer
Que seja a sua pretensão

PROSTITUTA 1:
Meia hora
Muita sarração!
Quem quiser a noite toda
Paga a condução

TODAS:
Rapidinha – tá na promoção!

[Saem mulheres]

[Entram Crone e Fantine]

[falado]

CRONE:
Ei, moça! Vem cá! Quer quanto nesse cabelo?

FANTINE:
Me deixa em paz!

CRONE:
Quer quanto, fala? 10 resolve? Só dizer!

FANTINE:
Quer quanto, fala? 10 resolve? Só dizer!
[Sai Crone e Fantine]

[Entram mulheres]

[cantado]

PROSTITUTA:
Tão cansada
Já não posso mais
Dói-me tanto o ventre
E as feridas são demais

[Entra cafetão]

CAFETÃO:
Fica fria
Finja, meu amor
Que outras fazem fila
Pra sofrer da sua dor

PROSTITUTA:
Faço em dobro
Seja como for

[Entram Fantine e homens]

[falado]

CAFETÃO:
Aquela ali, saiu da onde?

PROSTITUTA 1:
a doida que vendeu o dente e o cabelo

PROSTITUTA 2:
Diz que tem filho pra criar
CAFETÃO:
Eu bem devia saber que tava é fodida! (para Fantine) Ei, mocinha linda, vem cá que
agora vai trabalhar aqui pra mim!

PROSTITUTA 1:
Vem querida, a vida é assim difícil mesmo e tu não é melhor que ninguém da gente
aqui! Vamo, tá na lama é pra se sujar

PROSTITUTAS [intercalando]:
Vende seu peixe! Vende tudo que tu tiver! Vende tudo, se vende, mulher!

[Sai Fantine e homem de mãos dadas]

[cantado]

MULHERES:
Velhos, moços, venha o que vier
Ratos e lagartos, só não vem quem não quiser
Pobres, ricos, chefes da nação
Quando tira a calça
Todo mundo tem bundão
Tem dinheiro, eu nunca digo não!

Lindas moças
Prontas pra levar
Todos fazem fila
Mas nenhum vai demorar

PROSTITUTA 1:
Vamos, venha, nobre capitão

PROSTITUTA 2:
Venha com a certeza de que eu
Nunca digo não
[Entra Fantine]

[Sai mulheres, cafetão e homens]

FANTINE:
Vida fácil
Cama pra deitar
Ninguém faz idéia que
Há um ódio a me queimar
Eis o meu cadáver
Venham todos chafurdar

Fantine É Presa + A Carroça

[Entra Bamatabois]

[falado]

BAMATABOIS:
Que isso, tem carne nova na praça? Vem cá, mocinha, foge não!

[Entra homens e mulheres]

FANTINE:
Me deixa em paz!

BAMATABOIS:
Tá de brincadeira, ô putinha? Tá querendo se ferrar sem ganhar?

FANTINE:
Sai daqui, rato nojento! Mesmo puta igual eu sem nada no mundo tem direito a negar!
(num impulso, fere o guarda)

BAMATABOIS:
Vaca desaforada, agora que tu me paga! Agora que eu acabo com a tua raça! Tá achando
que é quem? Eu sou a ordem, a lei, e agora tu vai pagar caro o que tu fez!
FANTINE:
Meu senhor, me perdoa! Eu...foi sem querer, não fiz por mal! Me perdoa, eu imploro!

BAMATABOIS:
Vai pedir teu perdão pra quem te come! (chamando Javert) Inspetor!

[Entram Javert e soldado]

JAVERT:
Que há, guarda? Houve agressão? Todo cuidado é pouco nesse ninho de cobra
disfarçado de mulher! Ferir um homem de bem é inadmissível! Quero a história toda em
detalhes.

BAMATABOIS:
O senhor não vai acreditar, inspetor! Eu tranquilamente caminhando no cumprir do
dever quando essa vagabunda louca veio me atacar, olha!

FANTINE:
Por favor, senhores, eu imploro perdão! Se não tiverem piedade de mim, pelo menos da
minha filha que eu preciso criar, por favor!

JAVERT:
Há 20 anos que atuo na justiça e há 20 anos escuto a mesma ladainha! Todo dia uma
historinha diferente de uma gentinha que não presta pra nada além de mentir, sem pudor
nem honradez!

[Entra Valjean]

VALJEAN:
Inspetor Javert, espera! Deixe a moça, vamos ter ponderação, escutar o que ela diz! Ela
parece sincera e tudo foi apenas um mal entendido

JAVERT:
Mas seu prefeito, é inadmissível…
VALJEAN:
Você cumpriu o seu dever de garantir a ordem, inspetor. De castigo já basta o que o
destino reservou pra essa infeliz, deixe estar!

JAVERT:
Mas seu prefeito…

VALJEAN [indo até Fantine]:


Seus olhos, moça...você me é familiar, tenho certeza que já te vi em algum lugar...

FANTINE:
Sem dó, meu senhor, que nem meu orgulho eu tenho mais! Seu capataz tratou de me
desgraçar a vida sem eu ter feito nada e o senhor assistiu a tudo parado, sem mover um
dedo só sequer!

VALJEAN:
Você...você era da fábrica, naquele dia de confusão?

FANTINE:
A minha filha doente na beira da morte, eu fazendo tudo que podia trabalhando tanto
quanto as outras e fui enxotada por intriga e ciúme, sem razão...

VALJEAN:
Eu..eu...lhe peço perdão! Mil perdões! Não sabia de nada e recomendei ao capataz
resolver tudo com calma e paciência...Eu que peço, por favor, me deixa te ajudar e
compensar esse mal!

FANTINE:
Se existe mesmo um deus ele que me leve daqui que não há nada que o senhor possa
fazer!

VALJEAN:
Eu irei...irei te compensar esse mal!

JAVERT:
Seu prefeito! E aqui, como fica a situação...
[Sai soldado e Fantine]

HOMEM 1:
Cuidado!

HOMEM 2:
A carroça!!!

[Entra Fauchelenvent embaixo da carroça]

VALJEAN:
Senhor! (corre até Fauchelevent atropelado e tenta ajudá-lo) Por deus, homens!
Ninguém vai me ajudar salvar esse senhor?

HOMEM:
Fique longe, seu prefeito

MULHER:
O peso não vai ceder

CORO [falando em confusão]:


Se mexer aí vai cair tudo, seu prefeito! Vão morrer dois ao invés de um!

[Valjean levanta a carroça e salva o morto tal e qual pegou a bandeira da França
ou outro elemento enquanto preso]

FAUCHELEVENT:
Seu prefeito, salvou minha vida! Não sei como começar a te agradecer!! (os homens se
cumprimentam)

[Sai homem, mulheres e Fauchelevent]

JAVERT [para si]:


Impossível...que força é essa! Um homem nessa idade conseguir levantar...igual aquele
desgraçado, alma infeliz, 23612

[Valjean percebe as balbúcias de Javert em sua direção e vai até ele]


JAVERT [para si]:
Cala a boca, Javert, perdão, meu deus!

VALJEAN:
Diga lá, inspetor, quero poder escutar o que te incomoda!

JAVERT:
Senhor prefeito, nada incomoda. Me admirou como o senhor conseguiu salvar o pobre
infeliz tão fácil que só vi força igual uma vez na vida...um miserável que ficou foragido
por 10 anos! Fique tranquilo, conseguimos o capturar e hoje, mesmo negando
desesperadamente, vai a julgamento! Nem Jean Valjean consegue se esconder pra
sempre!

VALJEAN:
Mas inspetor, se o homem nega assim com tanto desespero, certo que foi devidamente
averiguado e recolhidas as devidas provas para acusá-lo, não?

JAVERT:
Fui eu quem prendi o homem, senhor prefeito, conheço o desgraçado melhor que
qualquer um, como a palma de minha mão! Provas pra que se ele tem uma marca
inconfundível no corpo que quando for exposta o condenará, se deus for justo, à morte!

[Sai Javert]

Quem Sou Eu?

[falado]

VALJEAN:
A chance que eu pedi a deus...se condenarem esse homem eu me torno realmente,
verdadeiramente livre até morrer! Já cheguei tão longe nessa farsa que consegui
negócio, empregados, famílias que dependem de mim...esse outro infeliz por certo que
não deve ter nada e se eu ficar quieto um ou outro choram seu destino e acabou...agora
se eu falar a verdade eu me estrepo e tudo o que eu construí e um mundo de gente que
depende de mim vem abaixo...
[cantado]

Quem sou eu?


Pra condenar assim um outro ser
E me furtar da culpa, e me esconder

Um inocente em meu lugar


Caminha pra se acabar

Quem sou eu?


Pra me ocultar eternamente assim
E me esconder do homem que há em mim

E até a morte me levar


Meu nome nunca pronunciar
E mentir

Como é que eu vou olhar alguém assim?


Como é que eu vou poder olhar pra mim?

Minh’alma eu pus nas mãos de Deus


E que ele guie os passos meus
E é só por Deus que estou aqui
Só Deus mostrou o que eu não vi

Quem sou eu?


Quem sou eu?
Sou Jean Valjean!

[Entra Javert e júri]

VALJEAN:
Então, Javert, você errou
E este homem não pecou
Quem sou eu?
Dois, três, seis, um, dois!
[Sai Valjean, Javert e júri]

Morte de Fantine (Vem pra Mim)

[Entra Fantine]

FANTINE:
Vem já dormir, Cosette
Cosette, está tão frio!
Você brincou demais
Já vai escurecer

Vem pra mim, Cosette, anoitecendo


Lá no céu, estrelas já surgindo
Vem comigo, encosta no meu peito
O frio vem chegando, vem depressa
Pro meu leito

Vem deitar, que o sol já vai embora


Vem pra mim, que a noite não demora
Vem comigo, e eu vou cantar baixinho
Até você dormir, eu vou cantando de mansinho…

[Entra Valjean]

[falado]

VALJEAN:
Fantine! Fantine...não tem mais o que fazer agora, mas uma coisa eu te prometo...

FANTINE:
Vê, senhor, crianças a brincar, vê Cosette...

VALJEAN:
Fica em paz, Fantine, fique em paz! Enquanto tiver vivo vou cuidar bem de Cosette e
garantir sua segurança e que nada ou ninguém a faça mal!
[cantado]

FANTINE:
És tão bom, vieste como um anjo

VALJEAN:
Ninguém vai maltratar Cosette
Enquanto estou por perto

FANTINE:
Minhas mãos,
Senhor, eu vos entrego

VALJEAN:
Não há o que temer

FANTINE:
E Cosette
A vós estou deixando

VALJEAN:
Eu juro proteger

FANTINE:
Vou dormir, a noite não demora
Avise a Cosette que eu a verei
Quando acordar…

[Entra Javert]

O Confronto

[falado]

JAVERT:
É, Valjean, agora é a gente a sós! Senhor prefeito, agora tua vida tá acabada...
VALJEAN:
Javert, antes que tu começe as condenações, escuta! Eu prometi à essa mulher no leito
de morte que eu vou salvar e cuidar da filha dela e eu pretendo cumprir minha
promessa, então me dá só três dias pra resolver essa questão...

JAVERT:
Você só pode ter tomado veneno e perdido a cabeça! 10 anos eu caçando e você fugindo
que agora que eu te botei as mãos tu não vai...

[cantado]

VALJEAN e JAVERT
Mas creia em mim, pode crer
(Eu jamais irei mudar)
Há um juramento e eu vou cumprir
(Tu jamais irás mudar)
Não sou mais o que já fui
(Não, dessa vez é o fim)
Já não sou mais quem rouba um pão

(Agora é só a lei)
Minha história já mudou
(Sem conversa, nem pensar)
E eu não vou morrer assim
(Dessa vez é o fim)
Sem consertar um erro tão cruel…
(Eis que a história reverteu
Jean Valjean não é ninguém)

Ouça o que eu direi, Javert


(Não me fale em salvação)
Sou mais forte que você
(E no preço a se pagar)
Toda força que há em mim
(Quem nasceu em meio aos cães)
Meu sangue ainda é meu!
(Faça tudo pra mudar)

Ouça o que eu direi, Javert


(Ninguém sabe de Javert)
Eu farei o que eu puder
(Que nasceu numa prisão)
Se é preciso te matar
(Que foi pária igual você)
Eu cumpro o meu papel
(Tinha nada pra perder)

VALJEAN:
Um juramento eu vou fazer

JAVERT:
Não há lugar pra se esconder

VALJEAN:
Essa criança vai vingar

JAVERT:
E onde quer que você vá

VALJEAN:
Essa criança vai crescer

VALJEAN e JAVERT:
E sempre lá eu hei de estar!

[Sai Valjean, Javert e Fantine]

[Entra Cosette Jovem]


Castelo Lá no Céu

COSETTE JOVEM:
Tem um castelo lá no céu
Onde eu vou sempre me esconder
Lá nada tenho que varrer
No meu castelo lá no céu

Lá tem brinquedos só pra mim


Tantas crianças pra brincar
Lá todo sonho aconteceu
No meu castelo lá no céu

Uma figura de mulher


Que sempre vem pra me ninar
Que linda é
E no seu calor
Me diz: Cosette, tu és o meu amor

Eu sei que existe esse lugar


Lá não tem choro e não tem dor
Lá onde o sonho aconteceu
No meu castelo lá no céu

[Entra Madame THÉNARDIER e Éponine Jovem]

[falado]

MADAME THÉNARDIER:
Ah, mas olha só, que lindo! Que anjinho! Fugindo da obrigação fingindo de boa
mocinha, ai de ti que se eu te pego eu te envergo, menina! Sua mãe paga uma merreca
que não sobra nem pra tirar o ranço das suas lambanças! Pega esse balde e some daqui,
vai pro poço pegar água e trazer pra cá que é o mínimo, moleca insolente! Maldita hora
que eu te botei dentro de casa, ai que burra que eu fui! Peste, tal mãe, tal filha, da pior
das laias...Éponine, meu amor, vem cá, toma aqui filha! Que linda meu bebê com esse
chapéu! Como é bom ver uma menina que sabe andar, se vestir, se comportar...Cossette,
que merda, ainda tá aqui?! Cadê a água que eu pedi? Ta achando que vai chorar até
encher esse balde? Te mete pra fora e vai pro poço antes que eu perco a cabeça!

COSETTE JOVEM:
Não, por favor, lá fora, não, tá muito escuro agora!

MADAME THÉNARDIER:
Cala a boca! Mimada! Eu já mandei uma, mandei duas e na terceira eu vou esquentar
teu lombo pra aprender virar gente!

[Saem Cosette e ÉPONINE Jovens]

[Entram Sr. Thénardier e fregueses]

Seu Anfitrião

[falado]

FREGUÊS 1:
Bora lá, rapaz

FREGUÊS 2:
Manda ver o que é bom, chefia

FREGUÊS 3:
Enche o copo até o talo

THÉNARDIER:
Essa é da boa, tu vai gostar! Se não, não me chamo THÉNARDIER!

FREGUÊS 4:
Para com essa falação e bora encher a cara, meu povo!

THÉNARDIER:
Claro, seu bundão! Tudo bem, freguesia!

COMENSAL 1:
Essa merda tá pior
COMENSAL 2:
Mas pra mim foi sempre assim

[cantado]

THÉNARDIER:
Amigos meus
Meus putos beberrões
Bagaços meus, inúteis falastrões
Bastardos cães
No balcão, seu canil
Olhos fixos no barril
Após vomitar
Não se esqueçam de pagar

Entra M’sieur
Vem se sentar
Peço atenção
Pra me apresentar
Sou o patrão
Dou meu suor
Não poupo a mão
Pra dar o melhor

Outro como eu
Tu não conheceu
Um cara tão capaz
Que só faz o seu…

Seu anfitrião
Chefe de vocês
Que não poupa esforço
Pra ‘agradá’ o freguês!
Sabe divertir
Sabe acompanhar
Mais que tudo, sabe a hora de parar

Pronto pra qualquer parada


Sempre pra qualquer favor
Mas é melhor saber que
Tudo tem um preço, meu senhor

Seu anfitrião
Chefe do quartel
Pronto pra esquecer
Seu troco no chapéu
Água no licor
Óleo no balcão
Escorrega o cotovelo
E abre a mão!

Todo mundo é meu compadre


Todo mundo é amigão!
Mas claro que eu também preciso
Então no fim eu meto a mão

THÉNARDIER e CORO:
Seu anfitrião
Sempre a controlar
Sempre vigiando
Pra não se estrepar
Pronto pra servir
Sempre ao seu dispor
Pároco e filósofo e até doutor
Todo mundo é camarada
Todo mundo é como irmão
THÉNARDIER:
Mas é melhor cuidar do bolso
Pois eu tenho comichão

Entre M’sieur
Vem se sentar
Tire o chapéu
Vem relaxar
Mas isso aqui
Pesa demais
Pode deixar
Que eu guardo lá atrás

O melhor pernil
Já vem vindo aí
Ninguém jamais serviu
Como eu sirvo aqui

Santa refeição
Dá pra acreditar
Que esse picadinho
É mesmo de babar?

Pombo por faisão


Gato por filé
Dentro da salsicha
Eu já nem sei quem é!

Fora os quartos lá de cima


Disponíveis pra casal
Preço camarada
Mais as taxazinhas no final…

Taxa pra deitar


Extra pra roncar
Dez por cento que é
Pro rato não entrar

Banho a combinar
Taxa pro sabão
Pra fazer espuma
Tá na promoção

E no fim, lá vem a conta


Meio quilo de papel
Quanto mais eu somo
Muito mais eu tomo
Deus, mas essa conta é um troféu!

THÉNARDIER e CORO:
Seu anfitrião
Sempre a controlar
Sempre vigiando
Pra não se estrepar
Pronto pra servir
Sempre ao seu dispor
Pároco e filósofo e até doutor!
Todo mundo é camarada
Todo mundo é bom freguês!

THÉNARDIER:
Bando de panacas
Ai! Por que não morrem de uma vez!

MADAME THÉNARDIER:
E eu que sonhei
Com um príncipe galã
Pois olha o sapo
E eu agora sou a rã
“Seu anfitrião”
Olha o que ele faz
Pároco e filósofo
E que merda mais?

Cérebro de cú
Bafo de leitão
Diz que é bom de cama
Mas não tem pintão

O destino foi carrasco


E me deu esse animal
Eu queria ter um lar
Mas hoje eu vivo num curral

THÉNARDIER e CORO:
Seu anfitrião

MADAME:
Seu afanador

THÉNARDIER e CORO:
Pároco e filósofo

MADAME:
Enganador!

THÉNARDIER e CORO:
Pronto pra servir
Sempre ao seu dispor

MADAME:
Bêbado, hipócrita e
Bajulador!
THÉNARDIER e CORO:
Todo mundo faça um brinde
Pra patroa e o patrão!

THÉNARDIER:
Todo mundo vai brindar

MADAME:
Todo mundo vai peidar

TODOS:
Todo mundo vai brindar, sim
Ao nosso anfitrião

[Saem todos]

[Entram Cosette Jovem e Valjean]

Cena do Poço + A Barganha

[Cosette no poço, Valjean se aproxima e a garota se assusta com sua presença e se


esconde, ele vai até ela num singelo jogo de “cute”]

[falado]

VALJEAN:
Ei, menina, não precisa se assustar, ta tudo bem! Por que tá aqui sozinha essa hora e
como você chama?

COSETTE JOVEM:
Cossete…tá tudo bem, Cosette, não precisa ter medo, me diz onde você mora que eu
vou com você e tudo vai ficar bem!

[Cosette e Valjean vão juntos até chegar à casa dos Thénardiers. Sra. Thénardier
entra com Sr. Thénardier e vai até ela com fúria e disfarça ao perceber Valjean]

MADAME THÉNARDIER:
Ah, sua desgra… ças a Deus querida!
VALJEAN:
Eu encontrei essa criança sozinha no meio da floresta à essa hora da noite, como pode
isso? Bom, vim pra ajudar e me disponho a pagar toda e qualquer compensação pra
levar Cosette comigo.

MADAME THÉNARDIER:
Seu casaco, senhor, da aqui...

VALJEAN:
Prometi à mãe dela no leito de morte que cuidaria da menina como se fosse minha e falo
agora em nome de Fantine, que descanse em paz, que a partir de hoje estou em seu
lugar; Cosette é agora minha filha!

THÉNARDIER:
Seja muitíssimo bem-vindo aqui, senhor…

VALJEAN:
Levarei Cosette comigo, arrumem suas coisas!, aqui uns honorários pelo tempo da
garota com você!

THÉNARDIER:
Vem beber

MADAME:
Vem sentar

VALJEAN:
Aqui uns honorários pelo tempo da garota com vocês!

THÉNARDIER:
Ele quer levar nosso bibelô, nossa mina de ouro, menina linda, formosa, sentirei tantas
saudades da Colette!!

MADAME:
Cosette…
THÉNARDIER:
Cosette! Sinto muito por Fantine, pobre alma, que descanse em paz!

MADAME THÉNARDIER:
Que generosidade a do senhor! Mas sabe, né, a menina adoeceu, ferveu de febre, tanto
remédio, a inflação na farmácia, longe de mim abusar da sua generosidade senhor, mas
sabe…

M. & MADAME THÉNARDIER:


E aliás, hoje em dia o mundo anda tão de cabeça pra baixo. não é mesmo? As coisas
andam perigosas, como a gente vai saber o que lá o senhor quer com a nossa menina…

VALJEAN:
Já, já! Toma aqui mais umas notas pros senhores. Cosette, busque seu casaco apenas
que está frio, o resto deixe comigo. Obrigado pelos seus serviços e não vai demorar a
ficarem muito bem pelas saudades da garota!

[Sai M. & Madame Thénardier]

[cantado]

VALJEAN:

Vem Cosette, vem meu bem


Vem comigo pra sempre e além
Eu irei com você

COSETTE:
Vai ter castelo
E crianças pra ver

VALJEAN:
Sim, Cosette
Sim, vai ter
Um castelo esperando você

[Sai Cosette Jovem e Valjean]


[Entra mendigos, Gavroche, M. & Madame Thénardier e ÉPONINE]

Olhai

MENDIGOS:
Olhai pra ver, mendigo aos vossos pés
Olhai, por Deus, e tende compaixão
Olhai pra ver
São ratos de convés
Olhai, olhai
Que todos são irmãos

GAVROCHE:
Oi, como vai, eu sou Gavroche
Eis o meu povo, eis o meu chão
Nada pra ver além pó
Nenhum refresco pra visão

Eis minha escola, minhas páginas


Eis os barracos Saint Michelle
Sobre as migalhas, bocas ávidas
Brigam por ossos, sob o céu
Pobres são
Livres são
Sigam-me, sigam-me!

MENDIGOS:
Olhai, por Deus, e tende compaixão
Olhai, olhai, que todos são irmãos

[Entra Marius e Enjolras]

[falado]

MARIUS:
Cadê? Quem é que manda aqui?
ENJOLRAS:
Fala com Lamarque! Vai lá!

[cantado]

CORO:
Fome e solidão
Ilhas de terror

REVOLUCIONÁRIO 1:
Tudo por um magro pão
Em nome do senhor

REVOLUCIONÁRIO 2:
Por amor do senhor

CORO:
Do senhor
Do senhor
Do senhor

[falado]

MARIUS [eufórico]:
Ei! Pessoal! Eu ouvi…entre os outros.;.Lamarque…a doença piorou e já tá na beira da
morte!

ENJOLRAS:
Levantem-se! Vamos salvar essa nação a qualquer custo! Avante!

GAVROCHE:
Olhem lá! Lá vem os Thénardiers dando mais um golpe! Depois que faliram e se
ferraram, colocaram até a cobra da filha pra ajudar na lambança! Ai, meu Deus!
[cantado]

MENDIGOS:
Olhai, por Deus, e tende compaixão
Olhai, olhai, que todos são irmãos

O Roubo + Intervenção de Javert

[falado]

THÉNARDIER:

Prestem atenção, seus idiotas! Você! Vai ficar de vigia! Você, minha filhinha linda,
chora como a gente ensaiou, ok? O resto dos beberrões, concentrem-se em não foder
tudo!

MADAME THÉNARDIER:
Praga de estudantes, sujando tudo, fazendo balbúrdia! E a nossa preciosa jóia indo atrás
deles!

MARIUS:
Ei, Éponine! Éponine! Ta sumida, que aconteceu? Por onde anda? Como vai a vida?

ÉPONINE:
Nada de mais, estou sempre por aqui.

MARIUS:
Isso porque a polícia ainda não te pegou!

ÉPONINE:
Quantos livros você carrega, que inteligente! Sabe, eu também gosto de ler. Sou mais
inteligente que parece.

MARIUS:
Ah! Mas sua inteligência é das ruas!

ÉPONINE:
O seu cabelo já cresceu!
MARIUS:
Você é sempre tão gentil

[Entram Valjean e Cosette]

MADAME THÉNARDIER:
Psiu! Éponine! Atenção!

ÉPONINE:
Some daqui!

MARIUS:
Mas, ÉPONINE…

ÉPONINE:
Melhor você sair, vai embora!

[Sai Marius]

THÉNARDIER:
Oh por favor, m’sieur, teria um trocado que seja? Veja, a criança está nas últimas, olha a
cara de doente! Ela precisa comer, pelo amor de Deus! E que ele te dê em dobro! Mas…
Pera aí, esse mundo é pequeno demais! Você não é o…

MADAME THÉNARDIER:
Foi o que levou nossa Cosette!

VALJEAN:
É o que? O senhor seria quem? Está entorpecido?

THÉNARDIER:
Socorro! Tem um ladrão aqui! Alguém chama a polícia!

ÉPONINE:
A polícia está vindo, e o inspetor Javert também!

[Entra Javert e guardas]


JAVERT:
Mas confusão outra vez? Por conta de um zé ninguém? Você, me conte já o que se passa
aqui! Tudo que eu vejo é um bando de urubus… mas aquele ali é diferente…aquele eu
sei quem é. O senhor, me ajude a encontrá-lo já!

[Sai Cosette e Valjean]

THÉNARDIER:
Bem… eu não sei de nada, eu estava apenas passando quando aquele marginal me
atacou. Mas eu vi, eu vi a marca no peito.

JAVERT:
Mas será que é possível? Um bandido que foge ao ouvir meu nome…e a garota junto
dele… será que é Jean Valjean outra vez?

THÉNARDIER:
Não querendo atrapalhar… eu já to indo, ok? Boa sorte e se você pegá-lo, lembra que
fui eu quem te ajudou.

JAVERT:
Deixa ele correr! Deixa ele fugir! Eu vou atrás desse desgraçado pra sempre até o
inferno! O resto, sumam daqui!

[Sai mendigos, Gavroche, M. & Madame Thénardier, guardas e Enjolras]

Estrelas

[cantado]

JAVERT:
Lá dentro das trevas
Um homem que foge
Órfão da graça
Órfão de Deus

Deus que me escute


Não hei de cansar
A buscá-lo nos breus
A buscá-lo nos breus

Na escuridão ele vai


Enquanto eu sigo o senhor
Quem caminha do lado dos justos
Terá o seu valor

E quem cair
O inferno verá
Terá, o horror!

Ah! As estrelas são


São incontáveis
Enchem as trevas
De ordem e luz

E sentinelas são
Mudas e sós
Céu que a todos conduz
Deus que a todos conduz

E não se soltam do céu


E nunca vão se soltar
Girando e girando
E voltando outra vez
Para o mesmo lugar!

Pois quem cair


O inferno verá
Terá, o horror!

E assim há de ser
Assim foi escrito
Nas estrelas e páginas
Que quem for fraco
E sair da luz
Irá pagar

Deus me dê forças
Hei de buscá-lo
Como um troféu!
Eu não vou ceder
Eu juro, na lei
Das estrelas no céu!

[Sai Javert]

[Entra Gavroche]

GAVROCHE:
O inspetor se acha muito
Mas quem manda aqui sou eu
Meu teatro nunca fecha
Se a cortina não desceu
Sou Gavroche! Creia em mim!
Tudo fica bem no fim…

[Sai Gavroche]

[Entra ÉPONINE]

Tarefa de Éponine

[Falado]

ÉPONINE:
Cosette! Cosette! É claro, a gente cresceu juntas, eu me lembro dela!

[Entra Marius]

ÉPONINE:
Meu Deus! Que mundo pequeno…
MARIUS:
Pelo amor de Deus, Éponine, quem é ela?

ÉPONINE:
Javert maldito, ele nunca vai conseguir!

MARIUS:
Éponine! Quem ela é?

ÉPONINE:
Ah, uma tonta aí! Mas pra que quer saber?

MARIUS:
Éponine, encontre ela!

ÉPONINE:
E eu ganho o que com isso?

MARIUS:
O que você quiser, Éponine! Só pedir!.

ÉPONINE:
Que aconteceu que você mudou do nada? Eu não quero nada não!

MARIUS:
Éponine, faz por mim, por favor! Descubra onde ela mora, mas não conte ao seu pai! Eu
preciso saber!

[Saem Marius e Éponine]

[Entram estudantes]

Vermelho e Negro

ESTUDANTE 1:
Já começaram os preparativos em Notre Dame.
ESTUDANTE 2:
Na Rue de Bac, a pressão já é forte.

ESTUDANTE 3:
É isso! Todos prontos pra lutar! Nossa mensagem espalhada por toda Paris.

ENJOLRAS:
Também já sinto o sangue ferver, mas precisamos de foco. Existe uma grande luta que
espera por nós e não vai ser fácil. Os guardas não vão ter dó. Vão tentar destruir nossos
sonhos. Mas unidos conseguiremos, camaradas!

[Entra Marius]

ENJOLRAS:
Marius chegou!

JOLY:
Que cara é essa? Parece que viu assombração…

ESTUDANTE 1:
Um vinho vai resolver…

MARIUS:
Talvez foi assombração…ela veio, iluminou minha vida, e depois sumiu…

ESTUDANTE 2:
Por Deus! Marius encontrou o amor! Seus olhos só dizem “ooh” e “ahh”. Vamos deixar
tudo para amanhã, porque o garanhão aqui precisa de uma bebida!

[cantado]

ENJOLRAS:
Já é tempo de ser cada qual o que é

Encontrar seu lugar e lutar! Não é ópera, não!

Já pensaram talvez que há um preço a pagar?

Já pensou que é mais que um jogo pra brincar?


As cores já não são as mesmas pra se olhar...

Há vermelho pra lutar! Não à antiga escuridão!

Há vermelho amanhecer! Não à eterna escuridão!

Você deve entender essa tal sensação

Essa coisa que dentro nos toca com tanto prazer

Você deve entender esse novo sentir

Pode o mundo mudar e tudo se inverter

O certo errado ser, errado é não viver!

Há vermelho em meu olhar! Não a ter é escuridão!

Há vermelho a desejar! Escuridão é não poder!

Marius, é preciso crescer

Eu sei que é forte o que sentiu

Mas não há tempo pra sonhar

Não dá pra contemplar o amor

Ao som e à fúria do tambor

A vida agora é só lutar

Há vermelho no rancor! Não à antiga escuridão!

Há vermelho amanhecer! Não à eterna escuridão!

MARIUS:
Você deve entender
essa tal sensação
Esse frio e calor que
Nos toma e nos leva a tremer
Você deve entender
Esse novo sentir
Pode o mundo mudar
e tudo se inverter
A treva encher de luz
A luz escurecer!

Há vermelho em meu olhar!


Não, não tê-la é escuridão!
Há vermelho a desejar!
Não, não tê-la é escuridão!

ENJOLRAS:
Marius, é preciso crescer
Eu sei que é forte o que sentiu
Mas não há tempo pra sonhar
Não dá pra contemplar o amor
Ao som e à fúria do tambor
A vida agora é só lutar

CORO:
Há vermelho no rancor!
Não, à negra escuridão!
Há vermelho amanhecer!
Não, a negra noite, não!

[falado]

ENJOLRAS:
Revisem as armas e avisem todos: a hora chegou!
Ei, chega de beber, todos prontos pra luta?

ESTUDANTE:
Só um conhaque para coragem!
[Entra Gavroche]

GAVROCHE:
Ouçam, ouçam aqui! O general Lamarque morreu!

ENJOLRAS:
Lamarque… morreu? Lamarque morreu por nós!Sua morte agora é um sinal! Vamos,
companheiros, todos na rua!

Ouçam Todos a Cantar

[cantado]

ENJOLRAS:
Ouçam todos a cantar
Eis nossa fúria na canção
Eis os acordes de um povo
Contra toda escravidão!

Corações a disparar
Como os tambores em furor
Há uma vida a despertar
Em um novo amor!

ESTUDANTE 1:
Cada vez aumenta mais
A multidão atrás de nós
Ninguém aguenta mais,
Seremos todos uma voz!

ESTUDANTE 2:
Cantemos então
A canção de uma luta feroz!

[Entra coro]
CORO:
Ouçam todos a cantar
Eis nossa fúria na canção
Eis os acordes de um povo
Contra toda escravidão

Corações a disparar
Como os tambores em furor
Há uma vida a despertar
Em um novo amor!

ESTUDANTE 3:
Nossas mãos num gesto só
Vão a bandeira costurar
Quanto sangue e quanto pó
Quando a bandeira desfraldar
O sangue dos bravos
Regando os canteiros e o mar!

CORO:
Ouçam todos a cantar
Eis nossa fúria na canção
Eis os acordes de um povo
Contra toda escravidão

Corações a disparar
Como os tambores em furor
Há uma vida a despertar
Em um novo amor!

[Saem todos]
[Entra Cosette]

Eu Vivi

[Falado]

COSETTE:
O que tá acontecendo contigo, Cosette? Sempre vivi em mim e por mim…será que é
isso que é o amor?

[cantado]

Eu vivi
Entre tantas perguntas
Respostas de sim e de não
Eu vivi
Em silêncio ouvindo ao longe
O som de uma certa canção

De um lugar
Que um dia eu sonhei pra mim
Um lugar
Que é tão longe daqui
Longe de mim

Ele sabe de mim?


Nada dele eu sei.
Saberá que eu vivi?
Sonhará o que eu sonhei?

Eu vivi
Pela vida esperando vencer
Pra chegar só aqui
Vem pra mim
Eis-me aqui
[Entra Valjean]

VALJEAN:
Oh, Cosette
Que tanta solidão
Eu sinto tão triste que é você
Mas creia, faria o que eu pudesse
Que tudo acontecesse
Pra nada mais doer em você
Mas já não sei o que fazer

COSETTE:
É tão pouco o que eu sei
É tão mais que eu não sei
Da criança que eu fui
Tanto tempo lá atrás

Você nada diz


Nada pode dizer
Que segredo cruel
Eu não devo saber?
Cruel como a como a prisão
Viver na escuridão

Eu vivi
Tendo tudo o que eu quero
Carinho, calor e um lar
Mas papai, oh papai
Em teus olhos sou sempre
A criança perdida a vagar

VALJEAN:
Por favor!
Por favor, eu não quero falar
Por favor
Há palavras que a dor
Deve calar

COSETTE:
Eu vivi
E agora eu preciso saber
A verdade que há sobre mim
Quem sou eu… De onde eu vim!

VALJEAN:
Saberás
Quando Deus entender
Que tu deves saber
Tu verás!

[Sai Cosette e Valjean]

[Entra Marius e Éponine]

MARIUS:
Eu vivi
Pra chegar esse dia em que ela
Entrou como um sol
Eu a vi
Tudo em volta deixou de existir
Ela agora é meu norte e farol!

ÉPONINE, nada paga


Esse seu favor
Foi você que me deu afinal
A chave do amor
E eu me sinto voar, eu me sinto feliz!

ÉPONINE:
São facadas em mim
Tudo mais que ele diz!
Eu vivi
Uma vida inteira e nunca
Senti nada assim
Ele está… Todo em mim!

MARIUS & ÉPONINE:


Eu vivi
Pra chegar só aqui
Eu vivi

MARIUS:
Esperei

ÉPONINE:
Eu sonhei!

[Sai Éponine]

No Meu Coração

[falado]

[Entra Cosette]

MARIUS:
Meu deus! É você! Não sei qual o seu nome! Sou Marius

COSETTE:
Eu sou Cosette

MARIUS:
Cosette…eu não sei o que dizer

COSETTE:
Então não diga nada!
[Entra Éponine]

MARIUS:
No meu coração

(ÉPONINE), COSETTE & MARIUS:


(Ele nunca vai sonhar)
Só cabe você

(ÉPONINE) & MARIUS:


(Já nem há porquê sonhar)
Um só olhar eu compreendi

COSETTE & (ÉPONINE):


E eu também
(As palavras que ele diz)

(ÉPONINE) & MARIUS:


(Não pra mim)
Hoje eu sei
(Não pra mim)
(Não por mim)

COSETTE:
Como eu sei

(ÉPONINE), MARIUS & COSETTE:


(No seu coração)
Não é sonho, não mais
(Pra ele nada sou)
Não é mais, é real!

[Sai Éponine, Marius e Cosette]


[Entram Thénardier e bêbados]

Ataque à Rue Plumet

[falado]

BÊBADO 1:
É aqui! É essa casa!

BÊBADO 2:
É aqui que ele se esconde!

THÉNARDIER:
Senhores! Esse tem dinheiro! Ele comprou Cosette de mim, mas foi muito barato.
Agora, viemos cobrar o juros!

BÊBADO 3:
Tanto faz, só quero que sobre para mim!

[Entra Éponine]

THÉNARDIER:
Seu puto! Vai ter para todos nós!

BÊBADO 1:
Mas olha lá!

THÉNARDIER:
Quem é essa?

BÊBADO 2:
É a sua filha, Éponine!

BÊBADO 1:
Sim! É ela mesma!

THÉNARDIER:
Éponine, sai daqui, vaza, some!
ÉPONINE:
Eu já vim aqui, e juro aos senhores, não tem nada. Só um homem velho e sua filha. Não
há dinheiro ou bens de valor.

THÉNARDIER:
Tá, tá, tá… agora vê se desaparece da nossa frente.

BÊBADO 1:
Vai embora!

BÊBADO 3:
Tá tarde para uma garotinha!

BÊBADO 2:
Obedece ao seu pai, hein!

ÉPONINE:
Se vocês invadirem… eu vou gritar!

THÉNARDIER:
Grita, meu anjo, grita, e eu faço você se arrepender!

ÉPONINE:
Ahhhhhhhhh!!!

THÉNARDIER:
Puta merda! Corram! Fujam!

[Saem bêbados]

THÉNARDIER:
Quanto a você, nem volte para casa se não quiser apanhar!

[Sai Thénardier]

[Entram Marius e Cosette]


MARIUS:
Cosette, Éponine nos salvou! Ela gritou e os espantou! Psiu, toma cuidado, acho que
ainda tem gente aqui.

[Sai Marius e Éponine]

[Entra Valjean]

VALJEAN:
Por Deus, Cosette! Que gritos são esses? Pulei da cama de susto, parecia uma algazarra!

COSETTE:
Fui eu, papai!! Quando gritei, espantei os homens que arrombaram aqui, contei 3!

VALJEAN:
Será Javert? Finalmente conseguiu nos alcançar? Maldito destino que não se escapa!
Cosette, minha filha, pegue suas coisas! Corre! Precisamos ir pra onde estejamos
seguros!

[Sai Cosette]

[Entra Marius, espiona pela grade e sai]

Só Mais Um Dia

[Cantado]

VALJEAN:
Só mais um!
Um outro dia, um destino a mais
A estrada torta onde eu não sigo em paz
Pois hão de vir atrás de mim
Atrás da marca de Caim
Só mais um

[Entra Marius]
MARIUS:
Como eu cheguei até aqui?
Como eu irei sem teus abraços?

VAJEAN:
Só mais um

[Entra Cosette]

MARIUS & COSETTE:


Eu já não sei viver sem ti
Eu só respiro entre os teus braços

[Sai Valjean]

[Entra Éponine]

ÉPONINE:
Mais um dia e eu tão só

MARIUS & COSETTE:


Vou te ver mais uma vez?

ÉPONINE:
Mais um dia e eu sem ele

MARIUS & COSETTE:


Eu nasci pra te encontrar

ÉPONINE:
Minha vida é como um nó

MARIUS & COSETTE:


Eu prometo te esperar

ÉPONINE:
E ele nunca vai saber
[Entra Enjolras]

ENJOLRAS:
Mais um dia pra vencer

MARIUS:
Vou atrás do meu amor?

ENJOLRAS:
Pelo sol da liberdade

MARIUS:
Ou irei com meus irmãos?

ENJOLRAS:
Nossas tropas vão crescer

MARIUS:
Meu destino em minhas mãos

ENJOLRAS:
É preciso decidir

[Entra coro]

CORO:
Lutar por nós
Gritar, vencer

[Entra Valjean]

VALJEAN:
Só mais um…

JAVERT:
Mais um dia de revoltas
E vão todos se queimar
Estudantes e os seus livros
Vão com sangue se molhar

VALJEAN:
Só mais um…

[Entra M. & Madame THÉNARDIER]

THÉNARDIERS:
Olha aquele ali
Pega aquele lá
Tira a sorte grande
Quem souber jogar
Puxa por aqui
Tira pra levar
Lá pr’onde eles vão
Ninguém vai precisar

ESTUDANTES REBELDES:
Mais um dia, um novo tempo
(As bandeiras desfraldar)
Todo homem vai ser rei
(Todo homem vai ser rei)
Há um novo firmamento
(Há um mundo a conquistar)
Ouçam todos a cantar

MARIUS:
Eu vou seguir
Eu vou lutar!

VALJEAN:
Só mais um…

MARIUS & COSETTE, (JAVERT) & [ÉPONINE]:


Como eu cheguei até aqui?
(Eu irei bem, bem junto a eles, eu irei onde eles vão)
[Mais um dia tão, tão só]
Como eu irei sem teus abraços?
(Pra saber os seus segredos e os planos que farão)

VALJEAN:
Só mais um…

MARIUS & COSETTE, (JAVERT) & [THÉNARDIERS]:


Eu já não sei viver sem ti
(Mais um dia, revolta)
[Olha aquele ali, pega aquele lá]
(E vão todos se queimar)
[Tira a sorte grande, quem souber jogar]
Eu só respiro entre os teus braços
(Estudantes e os seus livros)

VALJEAN:
Só mais um dia pra viver
Só mais um dia pra perder

TODOS:
Só mais um dia pra saber
Da nossa guerra ou nossa paz
Mais um sol
Só mais um
Só um mais!

FIM DO 1º ATO
2º ATO

[Entra Enjolras, Marius, Éponine e estudantes]

Para as Barricadas

ENJOLRAS:
Nesse ponto aqui
Barricadas vão se erguer
A cidade nos guarda
No seu coração
Que venham com tudo
E logo verão, não!
Eu preciso saber
Qual a força que têm

[Entra Javert]

JAVERT:
É bem fácil pra mim
Conheço-os bem
Pois já fui
Um dos seus
Já lutei,
Vai por mim

ESTUDANTE 1:
Todos hão de lutar

[Sai Javert]

ESTUDANTE 2:
E se empenhar
Eles vão
É se estrepar
ESTUDANTE 3:
Todos tem que lutar!

[Falado]

MARIUS:
Éponine, o que faz aqui?

ÉPONINE:
Sei que eu não posso ficar aqui, vim só para te ver.

MARIUS:
Sai daqui, é perigoso demais!

ÉPONINE:
Está tão preocupado comigo, isso significa que me ama?

MARIUS:
Se quer me ajudar, aqui! Leve esta carta a Cosette, por favor.

ÉPONINE:
Mal olha para mim, e nem quer saber…

[Sai Enjolras, Marius, Éponine e estudantes]

[Entra Éponine e Valjean]

ÉPONINE:
Senhor, trago essa carta para Cosette, vem de um rapaz das barricadas.

VALJEAN:
Pode entregar pra mim, deixa que eu entrego.

ÉPONINE:
Mas é uma carta pra Cosette!

VALJEAN:
Eu te asseguro que ela vai receber. Pode ir.
[Sai Éponine]

VALJEAN [Lendo a carta]:

“Cara Cosette, tens o meu coração


E agora vais partir
você coloriu meu mundo com tua luz
E teu olhar sobre o meu
E se eu morrer na batalha,
Que isso seja um adeus
Pois, tu me amas, e eu sinto o mesmo
Que Deus me traga salvo e são
De volta a você
De seu sempre

Marius”

[Sai Valjean]

[Entra Éponine]

Só Pra Mim

[Cantado]

ÉPONINE:
E eis então mais uma vez
Que eu estou aqui sozinha
Nem um amigo pra falar
Nenhuma voz além da minha
Já vai anoitecer
E ele vai aparecer

À noite eu ando por aí


Quando a cidade está dormindo
Eu penso nele e sou feliz
E de repente estou sorrindo
O mundo vai dormir
Eu vou sonhar, eu vou sentir

Só pra mim
Eu finjo que ele chega
São pra mim
As flores que ele trouxe
Invento que estou entre os seus braços
E se eu fechar os olhos
Ele vem guiar meus passos

Já choveu, e as ruas refletindo


Vão se encher
De estrelas, como rios
Faz escuro
Mas tudo brilha tanto
Que eu vejo nosso amor
Em cada curva do caminho

Mas eu sei que é tudo só em mim


Só pra mim é que eu confesso esse amor
Só eu sei como é amar assim
Pois sonhei e amei por nós

Eu amo até nascer o dia


Vem o sol
E ele vai embora
Sem ele, o mundo é só o mundo
As árvores e as ruas envelhecem num segundo

Eu amo e vão passando os dias


Aprendi a só viver fingindo
Em volta, o mundo vai girando
E eu giro em volta dele
Nesse amor que não tem fim!
Eu amo, o amo, eu amo
Mas sei que é só pra mim…

[Sai ÉPONINE]

[Entra Enjolras, Marius, Grantaire, Prouvaire e rebeldes]

Nas Barricadas

[Falado]

ENJOLRAS:
Liberdade enfim!

MARIUS:
Os guardas vão chegar! Mantenham-se firmes, rapazes!

ENJOLRAS:
Não percam a fé! Não deixem cair!

REBELDE:
Se eu devo morrer para ser finalmente livre, quero para mim a mais dura batalha!

ENJOLRAS:
Se eles ousam nos atacar, vamos revidar com tudo!

OFICIAL DO EXÉRCITO:
Rendam-se agora ou será tarde demais! Os guardas já os cercaram!

ENJOLRAS:
Ah, mas eles vão nos ouvir! Não vamos nos render!

TODOS:
Ah, mas eles vão nos ouvir! Não vamos nos render!

Chegada de Javert + Pequeninos


ESTUDANTE:
Ele voltou

[Entra Javert]

JAVERT:
Me ouçam, senhores! Eu sei como eles são, como pensam, como agem. Precisamos nos
planejar bem ou a derrota é certa!

ENJOLRAS:
Muito bem! Se conhece os planos deles, nos diga.

JAVERT:
Eles não vão atacar essa noite. Querem esperar até ficarmos sem comida. Aí é quando
eles enfrentam.

[Entra Gavroche]

GAVROCHE:
Mentiroso! Boa tarde, seu polícia, como vai, tudo bem? Esse cara é o famoso inspetor
Javert! Um farsante! Eu sou pequeno, mas sou esperto e dou muito pro gasto! Vamos
acabar com ele!

ESTUDANTE 1:
Bravo, garotinho, bravo.

ESTUDANTE 2:
E então? O que faremos com esse rato imundo?

ENJOLRAS:
Vamos amarrá-lo e deixar o povo decidir o que fazer com ele.

JAVERT:
Me matem logo! Não vão tirar nada de mim! Vamos, acabem logo com isso!

ENJOLRAS:
Levem ele lá pros fundos, decidimos depois!
[Sai Enjolras, Javert, Grantaire, Prouvaire e Gavroche]

REBELDE:
Eles estão atirando!

[Sons de tiros]

[Entra Éponine]

A Chuva Fina Cai

MARIUS:
Éponine! O que você está fazendo aqui? Perdeu a cabeça?

ÉPONINE:
Fiz o que você pediu, entreguei a carta ao pai. E agora eu já não aguento mais…

MARIUS:
Éponine, que foi? Há algo estranho em você…

[Cantado]

ÉPONINE:
Tudo bem, Marius
Agora nada dói
A chuva fina cai
E não machuca mais
Você chegou pra não doer
Chegou pra me cuidar
Chegou pra me aquecer
E eu sei que as flores vão crescer

MARIUS:
Você não vai morrer
Oh, por favor
Eu vou curar você
Com meu amor
ÉPONINE:
Me abraça então
E fique aqui
Junto aqui
Dentro aqui

MARIUS:
Vai nascer um novo sol
E outros muitos mais
E eu não te deixo mais…

ÉPONINE:
Eu já não sinto mais
A dor, a chuva vai levar
Só vai ficar você
Só vou lembrar você
E vou dormindo assim te amar

Abençoada a chuva
Que te traz
O céu se abre e eu vou
Seguindo em paz
Um pouco mais
E eu vou partir
Bem longe, eu vou dormir

ÉPONINE & (MARIUS):


(Por favor)
Tá tudo bem, M’sier
Marius (Oh Épon)
Agora nada dói
A chuva fina cai
E não machuca mais
(Sou eu!)
[Entra Enjolras, Marius, Combeferre, Poruvaire, Lesgles, Gavroche, Joly e
rebeldes]

ÉPONINE & (MARIUS):

É só o que eu pedi
(Vou ficar aqui)
(Bem do seu lado)
Chegou pra me cuidar
Chegou pra me aquecer
E assim (E eu sei)
As flores vão…
(Que as flores vão crescer)

[Falado]

ENJOLRAS:
A primeira a morrer, a primeira a derramar sangue…

MARIUS:
Seu nome é Éponine. Teve uma vida triste, mas nunca teve medo.

ESTUDANTE 1:
Lutemos em nome dela!

ESTUDANTE 2:
Do seu heróico amor!

[Sai Éponine]

Primeiro Ataque

ESTUDANTE 3:
E esse homem de uniforme aqui? O que a gente faz com ele?

[Entra Valjean]
VALJEAN:
Sou voluntário pra luta!

ESTUDANTE 2:
Com essa idade? Acha que aguenta o tranco? Tem idade para ser avô!

ESTUDANTE 3:
E vem em um uniforme oficial! Muito suspeito!

VALJEAN:
Sim, posso ajudar! E o uniforme foi para eu conseguir chegar até aqui!

ENJOLRAS:
Então pega essa, vai nos ajudar! E se ousar de nos trair, vai pagar com sangue!

ESTUDANTE 1:
Tem um pelotão avançando contra nós!

ESTUDANTE 2:
Várias tropas, homens aos montões!

ENJOLRAS:
Fogo!

[Sons de tiros]

ESTUDANTE 3:
Atiradores!

ESTUDANTE 1:
Estão recuando!

ESTUDANTE 2:
Vencemos dessa vez!

ENJOLRAS:
Mas eles vão voltar! E a você, devo agradecer, nos ajudou bastante. Realmente é um
homem habilidoso!
VALJEAN:
Não há o que agradecer! Mas poderia pedir um favor?

ENJOLRAS:
Se estiver ao meu alcance…

VALJEAN:
Me dê o tal do Javert. Eu cuido dele!

[Entra Javert]

JAVERT:
Está tudo uma bagunça, a lei não existe mais!

ENJOLRAS:
Faça o que bem quiser, agora Javert é seu!

VALJEAN:
E agora nós

JAVERT:
É, Valjean…agora é nós! Tanto corri atrás de ti que acabei encurralado! Faça de mim o
que quiser, Valjean, tenha sua vingança! Mata-me

VALJEAN:
Não vim aqui atrás de vingança, muito menos o que matar!

JAVERT:
Como assim?

VALJEAN:
Some daqui, Javert, vai!

JAVERT:
Pense bem, Valjean.

VALJEAN:
Só fuja…
JAVERT:
Uma vez ladrão, sempre ladrão. Se me deixar vivo vou atrás de você para sempre. Isso
só acaba quando um de nós morrer!

VALJEAN:
Não é possível, homem! Só enxerga o próprio umbigo! Não vê um palmo além do
próprio nariz! Cabeça dura igual pedra! E se eu sair dessa aqui vivo, a própria vida vai
dar um jeito de me botar no teu caminho de novo…vou estar no velho endereço da Rue
Plumet.

[Sai Javert]

[Som de tiro]

ENJOLRAS:
Fique a postos, todos. Essa noite não vamos dormir! Podem atacar a qualquer momento!

Vem Beber

[Cantado]

ESTUDANTE 1:
Vem beber ao que passou
Vem cantar o que eu cantei

ESTUDANTE 2:
Faço um brinde aos lábios
Que eu já beijei

ESTUDANTE 3:
Mais um gole aos seios
Que eu afaguei

ESTUDANTES:
Vem beber então a nós
ESTUDANTE 1:
Vem beber ao que passou
E apagar o que marcou
Vai o mundo se esquecer de você?
Quando a morte se abraçar com você?
Quem dá mais por quem ficou?

HOMENS & (MULHERES):


Vem beber (Vem beber)
Ao que (Ao que)
Passou (Passou)

Ao que foi (Ao que foi)


E já (E já)
Não é (Não é)

MULHERES:
Amizade é um sol que
Nunca morreu

HOMENS & MULHERES:


Companheiro é quem
Jamais se esqueceu

HOMENS & (MULHERES):


Vem beber (Vem beber)
A mim (A mim)
A nós (A nós)

MARIUS:
Pouco importa eu morrer
Se ela vai além no mar
Sem Cosette, a vida
É nada pra mim
Se eu morrer, Cosette
Não chore por mim
Vai chorar
Por mim, Cosette?

A viver

VALJEAN:
Deus do céu
Vais-me ouvir?
Vais olhar
Este jovem por mim?

Dai-lhe o sol
Dai-lhe a luz
E mostrai
Ensinai
A viver
A viver
A viver

Ele é o filho que eu sonhei


Que Deus jamais me concedeu
Os dias vão
Um por um
Mais um verão
Passou por mim
E velho estou
Estou no fim

Dai a paz
Que ele quer
Ele é bom
Ele pode aprender
Sois o sol
Sois o mar
Onde eu vou
Descansar

Se eu morrer, vou morrer


Dai-lhe o sol pra viver
Pra viver
Pra viver

Noite de Angústia

[Falado]

ENJOLRAS:
Os outros não virão, os que não morreram por tiro, morreram de fome, mas não vamos
desistir, ficaremos juntos! Sempre!

[Sons de tiros]

Segundo Ataque

[falado]

ENJOLRAS:
O que aconteceu?

ESTUDANTE 1:
A gente tá quase sem munição!

MARIUS:
Vou sair na rua pra revistar os corpos e ver consigo algo!

ENJOLRAS:
Não posso deixar você morrer!

MARIUS:
Mas alguém tem que fazer alguma coisa!
VALJEAN:
Eu vou! Na minha idade já não faz diferença!

GAVROCHE:
Mas é preciso de alguém rápido!

ESTUDANTE 1:
Você não, garoto!

ESTUDANTE 2:
O garoto vai se estrepar

GAVROCHE:
Olha só! Tô quase lá!

[Gavroche canta de trás da barricada]

[Cantada]

Eu sou pequeno, sou


Mas sei como fazer
Meus dentes são pequenos
Mais eu sei morder

[Som de tiro]

Não chute um pobre cão


Se grande ele não é
Os dentes do filhote
Vão rasgar seu pé

[Gavroche sobe a barricada]

E ele cresce e não esquece


Nunca o seu chu…

[Som de tiro]
[Gavroche morre]

A Batalha Final

[falado]

OFICIAL DO EXÉRCITO:
Aténção pro que vamos dizer: rendam-se agora ou vamos investir com tudo!

ENJOLRAS:
A gente morre, mas mata também!

ESTUDANTE 1:
Eles vão sofrer!

ESTUDANTE 2:
Vamo entregar pra eles o inferno!

ENJOLRAS:
Podem vir!

[Sons de tiros]

[Morrem Enjolras e Estudantes]

[Entra Javert]

[Soldados tiram os corpos]

[Todos saem]
Cão Come Cão

[Entra Thénardier arrastando um corpo]

THÉNARDIER:
Oh, mil perdões M’sieur, só vou pegar um dente aqui! E outro anel ali! Não é como se
você fosse usar ainda, não é mesmo? Ah, não me olhe com essa cara, tem muitos corpos
por Paris, alguém precisa fazer essa faxina. E por que não eu? Agora você fique aqui
com os ratos e eu vou no varejão vender tudo isso.

[Sai Thénardier]

[Entra Valjean carregando Marius]

[Valjean cai]

[Entra Thénardier roubando Marius]

THÉNARDIER:
Mas que belo anel! Lindo camafeu! Mas seria um crime penhorar tal beleza! Muito
obrigado, meu senhor! E no garotinho aqui, o coração já parou, mas consigo escutar o
tic-tac do relógio! Tantas frutas boas nesse pomar!

[Thenadier tenta roubar Valjean, que acorda]

THÉNARDIER:
Valjean? Esse mundo é pequeno demais!

[Sai Thénardier]

[Entra Javert]

[falado]

VALJEAN:
Mas não podia ter melhor hora pra um reencontro, ein, Javert! O rapaz é um bom
homem, tá pelo fim e precisa de um médico urgente!
JAVERT:
Eu te avisei que não ia te deixar em paz!

VALJEAN:
E promessa é dívida! Só mais uma hora, até eu encaminhar o rapaz pra alguém que o
salve…depois sou todo seu e vai poder finalmente me botar dentro da sua lei!

JAVERT:
Do que sai da sua boca eu já tô farto! Vou te botar dentro da minha lei é agora!

VALJEAN:
O menino tá no fim, Javert! Olha pra ele e se ainda te restou um pingo de humanidade e
senso de justiça me deixa salvar ele!

JAVERT:
Vai, Valjean…leva seu rapaz, salva a vida dele! Vou te esperar pra acertar as contas,
23612

[Sai Valjean carregando Marius]

O Suicídio de Javert

[Cantado]

JAVERT:
Mais uma vez
Esse demônio que vem
Me perseguir outra vez
E dar-me o troco também
Quando ele pôde vingar
E decretar o meu fim
Pra se livrar
Do seu passado e de mim
Um gesto só
Só um golpe fatal
Mas ele quis que eu vivesse afinal
Não vou viver pela mão de um ladrão
Não vou dever minha vida ao mal
Eu sou a lei e a lei não tem dó
Eu vou cuspir a palavra final
Sobre toda a piedade que houver
Pois vai ser Valjean ou Javert!

Como é possível conceber


O seu domínio sobre mim
Um homem que eu vivi caçando
A vida me dá, me deixa vivo
A minha morte em suas mãos
Por que não fez?
A minha hora já chegou
Mais vivo estou… No inferno estou!

É preciso pensar
Se a verdade ele diz
Deve ser perdoado
Seu destino infeliz?

E hoje eu ando a duvidar


Logo eu que nunca duvidei
Meu duro coração balança
Meu mundo caiu, e tudo é sombra

Ele é o mal ou é o bem?


O sim ou o não?
Se hoje a vida me salvou
Desatinou-me o coração

Eu me afundo em confusão
Céu de chumbo sobre mim
No vazio, olhos meus
Os princípios não têm fim
Desse mundo vou sair
É o mundo Jean Valjean
Já não há lugar pra mim
Já não há um amanhã…

[Morre Javert]

Nada

[Cantado]

[Entra mulheres]

CORO DE MULHERES:
Fim da luta
Diga quem sobrou
Jovens das trincheiras
Nenhum deles retornou

Não sabiam
Nem como atirar
Só queriam ver
Um mundo novo despertar

Morrem todos, nada vai mudar…

Nada muda
Nada vai mudar
Todo ano é mais
Uma outra boca pra criar

Velha história,
E pra que sofrer?
E pra que rezar
Se nada vai acontecer?
Nada nada nada nada nada
Pra fazer!

Nada, nada, nada outra vez


Horas viram dias e os dias viram mês
Nada muda, nunca vai mudar
Tudo sempre volta ao ponto
De recomeçar

Tudo volta e vai recomeçar…

[Sai mulheres]

[Entra Marius]

Mesas e Cadeiras

[Cantado]

MARIUS:
Há uma dor que segue muda
Gosto amargo que não sai
Tantas mesas e cadeiras
E ninguém se senta mais

Era aqui que se encontravam


Foi aqui que começou
O amanhã que procuravam
E o amanhã jamais chegou

Dessa mesa lá no canto


Viram o mundo renascer
Tantas vozes levantaram
E ainda posso ouvir
Seus gritos bravos e as canções
Seus últimos momentos
Nas trincheiras quando o sol nasceu
[Entram rebeldes ao fundo como fantasmas]

Meus amigos, me perdoem


Todos mortos, e eu aqui
Há uma dor que segue muda
Gosto amargo que eu bebi

São fantasmas na janela


Mais fantasmas pelo chão
Tantas mesas e cadeiras
E ninguém se senta, não

Meus amigos, não se apaga


Essa dor nos olhos seus

[Sai rebelde]

MARIUS:
Nessas mesas e cadeiras
Já não há amigos meus

[Entra Cosette]

Cada Dia

COSETTE:
Cada dia
É um passo a mais
Um novo passo a mais
No seu caminho

MARIUS:
Cada dia
Eu para pra pensar
Quem foi que me salvou
E me trouxe aqui
COSETTE:
Não pense nisso, Marius!
De agora em diante somos nós
Nunca mais eu vou partir
E nós iremos juntos
Sempre mais

Sempre mais
Você não se lembra
Daquilo que me falou?

[Entra Valjean]

Confissão de Valjean

[falado]

MARIUS:
Senhor, nunca vou poder agradecer o suficiente por me permitir casar com Cosette! Me
deu o maior presente da minha vida, me acolhendo em sua família e confiando a mim o
nosso amor!

[Sai Cosette]

VALJEAN:
Preciso que se cale agora e me escute, rapaz, tenho algo sério pra dizer! Minha filha
sempre soube que eu escondia algo e eu engoli esse segredo a seco por muito tempo e
tempo é algo que já não tenho mais. Houve uma vez um homem, Jean Valjean. Roubou
um pão pra ajudar a irmã e passou boa parte, muito, encarcerado sem perdão nenhum
até ser solto em condicional. Mudou de vida, foi pra longe, arrumou profissão, cresceu,
se fez na vida…até que um dia precisou fugir, forjar um novo nome…ele fez tudo por
amor e cuidado com uma filha que a lhe deu, pra que ela crescesse bem e segura e
concluído sua missão é preciso que ele vá e a deixe viver bem e feliz!

MARIUS:
Foi pela Cosette, o senhor é Jean Valjean! Mas…pra que ir agora? Não há nada que
possamos fazer? Cosette, coitada, vai sofrer demais com a sua ausência, ela te ama
muito!

VALJEAN:
Fala pra ela que eu tive que viajar, tinha coisas pra resolver, dívidas de muito
antes…não quis me despedir, seria triste ruim demais pra mim e não poderia ir em paz!
Só me prometa que ela nunca saberá da verdade!

MARIUS:
Sei o quanto a ama e que faria tudo pelo seu bem. Se acha que assim ela será mais feliz
e segura, pode contar comigo e ir em paz!

Coral Nupcial + Mendigos na Festa

[Entra Marius, Cosette e convidados do casamento]

[Cantado]

CORO:
Bate o sino
Pois o dia chegou
Que os anjos todos
Venham se juntar

Para cantar
Pelo amor que vingou
E a paz assim
Pra sempre abençoar

[Falado]

MAJOR DOMO:
O barão e a baronesa de Thenard
Desejam cumprimentar o noivo

[Entra M. e Madame THÉNARDIER]


THÉNARDIER:
Ora pois, meu bom gajo! Onde foi que nos conhecemos? Será que foi em um jantar com
o rei?

MARIUS:
Não, Barão de Thenard, jamais frequentei um lugar tão nobre. Espera…Sai daqui,
Thénardier. Não sei o que está tramando, mas não vai funcionar!

MADAME THÉNARDIER:
Eu falei, não vai dar! Mostra logo pra ele!

THÉNARDIER:
Enfim, viemos cobrar nossos quinhentos francos, por favor!

MARIUS:
E por que eu daria toda essa grana a vocês?

MADAME THÉNARDIER:
Mas vai pagar!

THÉNARDIER:
Se me lembro bem… vi Valjean carregando um corpo morto, um cadáver. E ele usava
um anel muito lindo, um anel igual a esse!

MARIUS:
Como assim? Isso é meu!

THÉNARDIER:
E tem mais, lembro bem que foi na noite de tiros.

MARIUS:
Então foi isso, Valjean me salvou aquela noite… e você Thénardier, tome aqui seus
quinhentos francos!

[Soca Thénardier]

MARIUS:
Vem Cosette, meu amor!

[Sai Marius e Cosette]

[Cantado]

THÉNARDIER:
Isso é demais
Isso é que é
Nós dois ali
Além da ralé

Conde pra lá
Duque pra cá
Olha essa aí
Que bicha vulgar!

Dá pra acreditar
Que hoje eu tô aqui?
Comendo canapé
Com a melhor “Paree”!

Olha só pra mim


Seu anfitrião
Nessa contradança
Eu vou passando a mão

MADAME THÉNARDIER:
Entre os figurões
Gente tão gentil
Todos falam baixo
E olham de perfil

THÉNARDIER:
Todo mundo vai à igreja
Pra rezar ao Salvador
MADAME & THÉNARDIER:
E a gente aqui vai recolhendo
Cada benção de valor

[Sai convidados]

MADAME & THÉNARDIER:


Todos no salão
Dança até cansar
Todos vão parando
E a gente vai ficar
Vamos resistir
Sempre somos nós
Morre todo mundo
E continua nós

Nós é quem conhece o truque


E o truque é continuar
No fim a gente vai pro inferno
E lá no inferno vai dançar!

[Sai M. & Madame Thénardier]

[Entra Valjean]

Morte de Valjean + Finale

VALJEAN:
Na sombra só eu espero
E conto as horas pra dormir
Sonhei um sonho em que Cosette
Se faz chorar porque eu morri

Sozinho eu fico a rezar


Que Deus os possa iluminar
São meus filhos, oh, Deus,
Em vossas mãos, convosco estão

Deus do céu, vem buscar


Esse seu servidor
Onde estás?
Eu irei te encontrar
Pra viver
Junto a ti
Junto a ti

[Entra Fantine como fantasma]

FANTINE & (VALJEAN):


M’sieur, cansado estás
(Estou pronto, Fantine)
M’sieur, deixai teus fardos
(É a hora do fim)
Criaste o meu bebê
(Ela é tudo pra mim)
E vais estar com Deus

[Entra Cosette e Marius]

[falado]

COSETTE:
Papai!! Meu pai, o que aconteceu? Você foi embora logo no casamento sem falar nada,
o que tá acontecendo com você?

VALJEAN:
Minha filha, meu coração fica muito feliz em poder te ver mais uma vez…Me perdoem,
os dois.

MARIUS:
Eu que devo pedir desculpas, por não te agradecer o suficiente! Cosette, seu pai me
salvou, naquele tempo da barricada, quando todos morreram, ele me carregou igual um
filho e conseguiu salvar minha vida.

VALJEAN:
Já agradecem demais por estarem aqui comigo, meu filho! Agora sim, eu posso ir em
paz!

COSETTE:
Ir como, papai? Não! Vai ficar aqui com a gente!!

VALJEAN:
Meu último segredo, filha, aqui, toma! Quando eu descansar você lê! Tua mãe morreu
buscando uma vida melhor pra vocês duas. No leito de morte dela eu prometi que eu
cuidaria sempre de você e honrei minha promessa com todo o amor e prazer do mundo!

[cantado]

FANTINE:
Vem pra mim, pois nada mais importa
Toda dor ficou atrás da porta
Deus do céu, olhai-o com piedade

VALJEAN:
Perdoa meus pecados
E me leva em tua glória

[Entra Éponine como fantasma]

VALJEAN, FANTINE & ÉPONINE:


Pela mão, levai-me aos teus domínios
Por amor, o amor que nunca morre
A verdade que paira sobre tudo
Amar o semelhante
É como estar bem junto a Deus

[Entra coro]
CORO:
Ouça o povo a cantar
Dentro da noite o seu refrão
Eis a canção de todo um povo
Que atravessa a escuridão

Como a chama que acendeu


E que jamais vai se apagar
Sombras da noite vão sumir
Quando o sol raiar

Vão viver em liberdade


Pelos pátios do senhor
Caminhar por entre as flores
Sem as facas do terror
Correntes quebradas
E todos terão seu valor

Todos juntos numa voz


Em nossa marcha nesse chão
E bem pra lá de todos nós
Um novo mundo em construção

Ouça o povo a cantar


Junto aos tambores em furor
Há uma vida a despertar
E um novo amor!

Todos juntos numa voz


Em nossa marcha nesse chão
E bem pra lá de todos nós
Um novo mundo em construção

Ouça o povo a cantar


Junto aos tambores em furor
Há uma vida a despertar
E um novo amor
Ah, um novo amor!

FIM

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