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São Carlos, v.9 n.

40 2007
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Reitora:
Profa. Dra. SUELY VILELA

Vice-Reitor:
Prof. Dr. FRANCO M. LAJOLO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

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MARIA NADIR MINATEL
MASAKI KAWABATA NETO
MELINA BENATTI OSTINI
RODRIGO RIBEIRO PACCOLA
TATIANE MALVESTIO SILVA
São Carlos, v.9 n. 40 2007
Departamento de Engenharia de Estruturas
Escola de Engenharia de São Carlos – USP
Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro
CEP: 13566-590 – São Carlos – SP
Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482
site: http://www.set.eesc.usp.br
SUMÁRIO

Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural


Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa 1

Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de


confinamento
Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo 33

Análise da interação estaca-solo via combinação do Método dos Elementos


Finitos com o Método dos Elementos de Contorno
Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva 59

Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e


repetidas
Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro 81

Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos


estruturais de madeira laminada colada
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr 101

Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio


Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite 133
ISSN 1809-5860

CONTRIBUIÇÕES À MODELAGEM NUMÉRICA DE


ALVENARIA ESTRUTURAL

Suzana Campana Peleteiro1 & Márcio Roberto Silva Corrêa2

Resumo
No presente trabalho apresentam-se as ferramentas computacionais mais adequadas
para a análise de alvenaria estrutural submetida à compressão, objetivando o suporte
teórico a pesquisas experimentais. Elabora-se um estudo comparativo sobre os vários
recursos de modelagem numérica, linear e não-linear, disponíveis em softwares
comerciais baseados no Método dos Elementos Finitos. São realizadas simulações de
casos específicos de paredes de alvenaria submetidas à compressão, assim como a
interação de paredes sujeitas a carregamentos verticais. Resultados experimentais são
comparados com os produzidos por modelos lineares e não-lineares, focando a análise
na sua representatividade e no seu grau de precisão.

Palavras-chave: alvenaria estrutural; modelagem numérica; análise não-linear.

1 INTRODUÇÃO

Umas das áreas da engenharia civil que tem apresentado maior potencial de
crescimento é, sem sombra de dúvida, a execução de edifícios em alvenaria estrutural.
Isso se deve principalmente à economia obtida por esse processo construtivo em
relação ao concreto convencional, por propiciar uma maior racionalização na execução
da obra, reduzindo-se o consumo e o desperdício dos materiais. Essa economia pode
chegar a 30% do valor da estrutura, em casos de edifícios em alvenaria não armada
de até oito pavimentos. Dessa forma, as edificações tornam-se mais baratas para o
comprador final, havendo uma melhor penetração no mercado, em especial junto às
classes média e baixa. Portanto, é evidente o grande benefício social que pode advir
do desenvolvimento desse processo construtivo.
Deve-se considerar, entretanto, o projeto de edifícios de alvenaria estrutural
ainda é feito de uma maneira quase empírica, não se tendo verificado para esse
campo o desenvolvimento que se observa para as estruturas convencionais em
concreto armado. A própria normalização nacional é pobre e um grande esforço
precisa ser feito nessa direção para que se possa projetar e executar edifícios mais
baratos e seguros. Esse esforço traduz-se em pesquisas voltadas para a realidade
brasileira, sem o que se tornará praticamente impossível desenvolver de forma
satisfatória os procedimentos normativos nessa área. É importante ressaltar que,
quanto às pesquisas mencionadas, uma dificuldade adicional deve ser considerada:
na Europa e nos Estados Unidos, nossos tradicionais “fornecedores” de pesquisas em
1
Doutora em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, suzanacampana@uol.com.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, correa@sc.usp.br

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2 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

engenharia civil, os sistemas construtivos adotados são ligeiramente diferentes do


ideal para o Brasil. Na Europa praticamente só se constrói com tijolos cerâmicos e nos
Estados Unidos, devido à ocorrência de sismos, predomina amplamente a alvenaria
armada. Já no caso brasileiro, o sistema mais utilizado é a alvenaria parcialmente
armada de blocos de concreto ou cerâmico.
O objetivo principal deste trabalho é apresentar as ferramentas
computacionais mais adequadas para a análise de alvenaria estrutural a serem
utilizadas no suporte teórico a pesquisas experimentais desenvolvidas, de maneira a
reduzir os custos e aumentar a eficiência nos ensaios.

2 AFERIÇÃO DOS MODELOS NÃO-LINEARES PARA ALVENARIA


SUBMETIDA À COMPRESSÃO

Com o objetivo de avaliar e calibrar os modelos não-lineares disponíveis


apresenta-se neste item alguns exemplos de estruturas em alvenaria analisadas com
estes modelos. Comparando-se os resultados entre os diferentes modelos e
confrontando-os com resultados experimentais, pretende-se avaliar até que ponto eles
são capazes de representar com precisão o comportamento da alvenaria. Nos
exemplos analisados a alvenaria é constituída por unidades maciças de concreto.

2.1 Exemplo

Este exemplo foi modelado e ensaiado por ALI & PAGE (1988). No estudo
realizado a alvenaria é considerada em estado plano de tensões, segundo o autor uma
hipótese razoável para a maioria dos casos de carregamento no plano. A tabela 2.1
apresenta as propriedades dos materiais obtidas em laboratório. A unidade e a
argamassa são consideradas separadamente no modelo, por isso são necessárias as
propriedades individuais dos componentes ao invés das propriedades médias da
alvenaria.

Tabela 2.1 - Propriedades dos componentes dos materiais.


Propriedades da Unidade
Resistência à compressão 15,3 Mpa
Resistência à tração 1,2 Mpa
Módulo de elasticidade 14.700 Mpa
Coeficiente de Poisson 0,16
Deformação última à compressão(εcu) 270 x 10-5
Propriedades da Argamassa
Resistência à compressão 7,3 Mpa
Resistência à tração 0,78 Mpa
Módulo de elasticidade 7.400 Mpa
Coeficiente de Poisson 0,21
Deformação última à compressão(εcu) 680 x 10-5

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17,5

Experimental
14,0 Idealizado

Tensão (MPa)
10,5

7,0

3,5

0 1000 2000 εcu 3000


Deformação (10-6 )

Figura 2.1 - Tensão x deformação do artefato bloco. Adaptada de ALI & PAGE (1988).

As características de deformação da unidade foram obtidas de testes de


compressão uniaxial. As unidades são consideradas isotrópicas e exibem
características de deformação não lineares, como apresentado na figura 2.1. A
alvenaria utilizada nessa pesquisa foi construída com unidades de concreto maciças.
A curva tensão-deformação da argamassa foi obtida indiretamente através de ensaios
de compressão de prismas, e está apresentada na figura 2.2. A resistência à
compressão da argamassa foi obtida através de ensaios com corpos-de-prova
cilíndricos. Por este motivo existe uma diferença entre os valores da tabela 2.1 e da
figura 2.2.

10,5
Tensão (MPa)

7,0

Experimental
3,5 Idealizado

0 2000 4000 6000


Deformação (10-6 )
Figura 2.2 - Tensão x deformação da argamassa. Adaptada de ALI & PAGE (1988).

De acordo com PAGE, tanto a unidade quanto a argamassa são materiais


frágeis com propriedades similares às do concreto. Assim, critérios de ruptura
convencionais do concreto são adotados para modelar a ruptura da alvenaria. Para
determinar a ruptura por fissuração ou esmagamento, o critério de von Mises foi
adotado com uma interrupção (“cutoff”) na tração (fig. 2.3). Apesar do uso desse tipo
de superfície ser conservadora no caso de altas compressões, seu uso foi justificado,
já que uma ruptura local por esmagamento na alvenaria submetida a forças
concentradas é incomum.

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Tração
σ2
f t'

Compressão σ1 Tração
f c' f t'

2
σ12 − σ1 σ2 + σ22 − f c' = 0

f c'

Compressão

Figura 2.3 - Superfície de ruptura. Adaptada de ALI & PAGE (1988).

O modelo utilizado na pesquisa usa o critério de resistência para verificar a


iniciação e a propagação da fissura, e o modelo de fissuras dispersas para reproduzir
os efeitos da fissuração.
Dois modelos diferentes de análise foram feitos. Um admitindo-se uma
imediata dissipação de tensões na região de fissuração (modelo de colapso frágil),
enquanto o outro permite uma dissipação mais gradual de tensões (um modelo de
amolecimento). No trabalho original foi adotada a representação do modelo de
amolecimento à tração apresentada na figura 2.4. A inclinação do ramo descendente
da curva tensão-deformação foi definida pelo parâmetro n, que foi calibrado no modelo
com o comportamento do prisma de alvenaria apresentado na figura 2.5. Adotou-se o
amolecimento apenas à tração, considerando-se que a maioria das rupturas com
análises de forças concentradas em alvenaria são relacionadas à tração.

f t'
Tensão

0 ε cr n ε cr

Deformação
Figura 2.4 - Representação do amolecimento à tração. Adaptada de ALI & PAGE (1988).

Com o objetivo de aferir os modelos disponíveis nos programas ANSYS e


ABAQUS foi feita a análise do prisma utilizando-se os modelos não-lineares do
concreto desses dois programas.

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Medidor de
F Deformações
Figura 2.5 - Prisma ensaiado. Adaptada de ALI & PAGE (1988).

Com o programa ANSYS utilizou-se o modelo denominado CONCRETE65,


com um elemento sólido com três graus de liberdade por nó (translações segundo as
direções x, y e z), pois esse software só possui o modelo específico para o concreto
com esse elemento. Esse modelo inclui a ruptura por fissuração, em zonas
tracionadas, e o esmagamento, em zonas comprimidas. O modelo considera que o
material rompe completamente assim que atinge a tensão de resistência máxima.
Com o ABAQUS foram feitas modelagens com um elemento plano
denominado CPS4, com dois graus de liberdade por nó (translações segundo as
direções x e y); e com um elemento sólido denominado C3D8, com três graus de
liberdade por nó (translações segundo as direções x, y e z). No modelo para o
concreto do ABAQUS a fissuração é definida como o aspecto mais importante do
comportamento do material. Uma superfície de ruptura é definida, adotando-se a
hipótese de que a fissuração acontece quando a tensão principal atinge essa
superfície. Verificado o aparecimento de uma fissura, um critério de dano elástico é
utilizado para descrever o comportamento pós-ruptura do material.
O carregamento foi aplicado em incrementos de carga, sendo que ambos os
programas apresentam uma estrutura interna que vai avaliando o passo de carga
anterior e, com base nisso, definindo qual o valor do próximo passo de carga a ser
aplicado. O usuário sugere o valor inicial do incremento e o número máximo de passos
de carga que o programa deve utilizar; dentro dessa variação o próprio programa vai
definindo os valores dos passos de carga a serem utilizados. Adotou-se um passo de
carga inicial de 1% do valor da carga total e definiu-se que o programa utilizasse um
máximo de quinhentos passos de carga.
Nas figuras 2.6 e 2.7 apresenta-se a curva força x deformação para o prisma
utilizando-se os programas descritos. A deformação foi medida ao longo dos
incrementos de carga através da junta vertical, considerando os dois pontos marcados
na figura 2.5. Observa-se que o valor da deformação máxima apresentada na figura
2.6 é bem menor que os valores de deformação última à compressão apresentados
para o bloco e a argamassa na tabela 2.1. Essa diferença pode ser explicada pelo fato
da deformação apresentada na figura 2.6 ser devido à tração do prisma, apresentando
assim um valor menor que a deformação dos componentes à compressão.

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Força x Deformação
50

40
Abaqus - Plano
Força (kN)

30 Abaqus - Sólido
Ansys - Sólido
20 Linear
Ruptura Exp.
10

0
0 100 200 300 400 500 600
-6
Deformação (x10 )
Figura 2.6 - Gráfico força x deformação.

Força x Deformação
55

45 Abaqus - Plano
Força (kN)

Abaqus - Sólido
35
Linear
25

15
30 50 70 90 110 130
-6
Deformação (x10 )
Figura 2.7 - Detalhe do gráfico força x deformação.

Nota-se que o programa ABAQUS conseguiu estimar a força de ruptura bem


próxima da carga experimental, tanto para o elemento plano quanto para o elemento
sólido. O elemento plano superestimou em 3% a carga de ruptura; com o elemento
sólido a carga foi praticamente a mesma, apresentando uma diferença de apenas
0,3%. Já o programa ANSYS, além de não atingir a carga última de ruptura
experimental, apresentou um gráfico bastante incoerente para o comportamento do
material, fornecendo deformações excessivas e irreais para a alvenaria em um nível
de carregamento muito baixo.
Nesse mesmo trabalho Ali & Page fizeram a análise e o ensaio de algumas
paredes de alvenaria, com unidades e argamassa com as mesmas propriedades dos
materiais do prisma. As paredes tinham dimensões de 102,5 cm de altura, 71 cm de
comprimento e 11 cm de espessura (figura 2.8). Nesse modelo foi feita uma variação
do carregamento, aumentando-se gradativamente a área de aplicação desse
carregamento na parede. Partindo-se de uma força distribuída numa área equivalente

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a 10% da área da seção transversal da parede até chegar a uma área de 50%. Na
figura 2.9 apresentam-se as cargas de ruptura obtidas por PAGE com seus dois
modelos, o frágil e o com amolecimento, e as obtidas com os programas ABAQUS e
ANSYS. No gráfico, β é a razão entre a área de aplicação da força e a área transversal
total da parede.

Figura 2.8 - Parede ensaiada.

Força de Ruptura

400

300 Abaqus - Plano


Ansys - Sólido
Força (kN)

Abaqus - Sólido
200 Page - Frágil
Page - Amolecimento

100 Experimental

0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6
β
Figura 2.9 - Gráfico força de ruptura x área carregada.

Analisando-se o gráfico da figura 2.9 percebe-se que os valores obtidos com


o elemento plano do ABAQUS são um pouco maiores que os obtidos com o modelo
frágil de PAGE. Já o modelo do ABAQUS utilizando elementos sólidos ficou mais
próximo dos resultados obtidos com o modelo com amolecimento de PAGE. Conclui-
se que o modelo do ABAQUS apresenta resultados satisfatórios tanto quando se
utiliza o elemento plano quanto o sólido. A principal vantagem de se utilizar elementos
planos, ao invés de sólidos, é a redução do número de graus de liberdade do modelo,
obtendo-se, assim, um tempo de processamento bem menor. Já o programa ANSYS,
como pode ser observado, fornece cargas de ruptura com valores bem menores que
os outros programas, não representando bem o comportamento da alvenaria. O
modelo é muito frágil, já que não considera nenhum tipo de amolecimento ou perda
gradativa de rigidez depois de atingida a superfície de ruptura, fornecendo resultados

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8 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

insatisfatórios para a análise de estruturas em alvenaria. Comparando-se com os


resultados experimentais verifica-se que todos os modelos ficaram, de um modo geral,
a favor da segurança. Destaca-se que o modelo sólido do ABAQUS e o modelo com
amolecimento do PAGE forneceram resultados mais próximos dos experimentais.
Conclui-se que o modelo do ABAQUS representa bem o comportamento não-
linear da alvenaria de unidades sólidas de concreto. Apesar de ser um modelo
específico para o concreto, é possível utilizá-lo para fazer uma análise satisfatória das
estruturas em alvenaria. A fissuração é um aspecto muito importante na análise
dessas estruturas e o modelo representa de forma bastante coerente esse fenômeno.

3 ESTUDO DE INTERAÇÃO DE PAREDES

Neste capítulo apresenta-se a análise de um painel de alvenaria em forma de


“H”, ensaiado por CAPUZZO NETO (2000) no laboratório do Departamento de
Engenharia de Estruturas da EESC. Esse painel foi construído utilizando-se blocos
cerâmicos vazados. A análise numérica foi realizada utilizando-se o software ABAQUS
e considerou-se o comportamento linear e não linear dos materiais.

3.1 Análise experimental e análise numérica

Foram ensaiados três painéis com uma cinta de amarração na última fiada. O
esquema de amarração é apresentado na figura 3.1 e as dimensões dos painéis são
apresentadas na figura 3.2. Os painéis possuem juntas verticais e horizontais de 1 cm.

Fiada ímpar Fiada par


Figura 3.1 - Esquema de amarração das paredes. Adaptada de CAPUZZO NETO (2000).

O esquema de instrumentação utilizado por CAPUZZO NETO (2000) está


apresentado na figura 3.3; os pontos que estão em faces opostas possuem a mesma
disposição. Foram utilizados transdutores com curso de 10 mm e base de 57 cm, com
a finalidade de medir os encurtamentos dos trechos superiores e inferiores das
paredes. O carregamento foi aplicado na alma, na região entre os flanges. Utilizou-se
uma viga metálica para que a força aplicada fosse distribuída uniformemente ao longo
da parede.

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m
9 c 91 cm
11

240 cm

74 cm

Figura 3.2 - Painel de alvenaria. Adaptada de CAPUZZO NETO (2000).

22

23

21 5
19
7 6
1 2 4

8 3 20

12
17
15 13
9 10 11 16 14
18

Face visível Face oposta


Figura 3.3 - Instrumentação dos painéis. Adaptada de CAPUZZO NETO (2000).

A análise numérica linear e não-linear foi feita utilizando-se o software


ABAQUS, já que foi mostrado no item anterior que o modelo do ANSYS não
representa de forma satisfatória o comportamento da alvenaria. As paredes foram
discretizadas com um elemento de casca denominado S4, que possui seis graus de
liberdade por nó. Na base dos painéis foram restringidas as translações dos nós.
A modelagem foi feita discretizando-se os blocos e a argamassa
separadamente. A rede utilizada encontra-se na figura 3.4. Foi aplicado um
carregamento, uniformemente distribuído, apenas na região entre os flanges. As
propriedades dos componentes foram obtidas experimentalmente e encontram-se na
tabela 3.1.

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Figura 3.4 - Discretização do painel.

Em relação ao bloco utilizou-se o módulo de elasticidade em relação à área


líquida (cerca de 50% da área bruta). Adotou-se este procedimento em razão do
módulo de elasticidade referente à área bruta ser um valor aparente, não
representando as características do material. As dimensões nominais do bloco em
centímetros são de 14x19x29 (largura x altura x comprimento) para o bloco comum,
14x19x14 para o meio bloco e 14x19x44 para o bloco de amarração. Na modelagem
numérica foi utilizada uma espessura de 7 cm, referente a 50% da largura bruta do
bloco, para ajustar a área líquida.
As resistências à tração da unidade e da argamassa foram consideradas
como sendo de 10% da resistência à compressão. O graute colocado na última fiada
foi considerado apenas em comportamento elástico linear. Tal elemento tem a função
apenas de amarrar o topo das paredes e redistribuir as forças aplicadas de maneira
mais uniforme.

Tabela 3.1 - Propriedades dos componentes.


Propriedades da Unidade
Resistência à compressão 25,8 MPa
Módulo de elasticidade 8026 MPa
Coeficiente de Poisson 0,25
Propriedades da Argamassa
Resistência à compressão 9,4 MPa
Módulo de elasticidade 10.900 MPa
Coeficiente de Poisson 0,20
Propriedades do Graute
Módulo de elasticidade 30.000,0 MPa
Coeficiente de Poisson 0,20

A força de ruptura média obtida para os três painéis ensaiados foi de 510 kN,
enquanto a força de ruptura da análise numérica foi de 425 kN, ou seja 83,3% da força
real. Ressalta-se que a força admitida como de ruptura na análise numérica é o valor

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Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 11

máximo para o qual é possível atingir a convergência com o programa. A partir desse
valor não é possível aumentar o nível de solicitação do modelo pois o programa não
consegue convergir para uma solução.
A força média correspondente ao aparecimento da primeira fissura no ensaio
foi de 387 kN. É importante ressaltar que a marcação das fissuras nos ensaios era
realizada nos intervalos dos estágios de carregamento, tratando-se portanto de um
valor aproximado. Na análise numérica esse valor foi 310 kN, o que corresponde a
80% da força do ensaio. Apesar da dificuldade na obtenção de dados precisos das
propriedades dos materiais, o fato da resistência máxima à tração dos materiais ter
sido estimada e a imprecisão na obtenção do valor exato da força de aparecimento da
primeira fissura no ensaio, os resultados numéricos apresentam-se consistentes
coerentes com o trabalho experimental.

3.2 Deslocamentos verticais

A principal medida realizada no ensaio foi o deslocamento relativo vertical,


sendo esse, portanto, um parâmetro importante de comparação. Nas tabelas 3.2, 3.3 e
3.4 apresentam-se os resultados obtidos numericamente, considerando-se a análise
linear e não-linear, e comparando-os com os respectivos valores médios obtidos
experimentalmente.
A força de ruptura esperada foi estimada considerando a relação entre a
resistência da parede (fcpa) e a resistência do bloco (fb) igual a fcpa/fb=0,33 , conforme
MACHADO Jr. et al. (1999).
Na tabela 3.2 apresentam-se os resultados numéricos e experimentais
obtidos para uma força de 280 kN. Esse valor corresponde a 60% da força de ruptura
esperada. Adotou-se esse valor baseado no trabalho de CAPUZZO NETO (2000), por
se tratar de um estágio de carregamento do ensaio e por se considerar que até essa
fase a alvenaria se encontra em comportamento linear. Segundo HENDRY et al.
(1981) a alvenaria cerâmica pode ser considerada em comportamento linear até 75%
da força de ruptura.
Analisando-se os resultados obtidos conclui-se que existe uma boa
correlação entre os resultados numéricos e experimentais. Verifica-se que no trecho
inferior o deslocamento na alma e no flange apresentam valores bem próximos um do
outro, o que indica que existe uma distribuição dos esforços bastante homogênea
nessa região, concluindo-se que há uma transferência de esforços bastante efetiva
entre a alma e o flange. Na tabela 3.2 apresentam-se, também, os valores dos
deslocamentos para a análise não-linear, que são iguais aos valores da análise linear,
confirmando a hipótese de que nesse nível de carregamento o comportamento da
alvenaria ainda se encontra no regime linear. Comparando-se os valores numéricos
com os experimentais verifica-se que os resultados estão próximos, sendo que no
trecho superior as diferenças são maiores.

Tabela 3.2 - Deslocamentos relativos verticais numéricos e experimentais (F=280 kN).


Trecho inferior Trecho superior
Flange Alma Flange/Al Flange Alma Flange/Al
(mm) (mm) ma (mm) (mm) ma
Ensaio 1-1 -0,090 -0,099 0,91 -0,065 -0,135 0,48
Ensaio 1-2 -0,089 -0,101 0,88 -0,057 -0,140 0,41
Ensaio 1-3 -0,089 -0,071 1,25 -0,070 -0,126 0,56
Média -0,089 -0,090 0,99 -0,064 -0,134 0,48
Abaqus Linear -0,108 -0,113 0,96 -0,089 -0,142 0,63
Abaqus Não-Linear -0,108 -0,113 0,96 -0,089 -0,142 0,63
Média/Abaqus 82,4% 79,6% 71,9% 94,4%
Média/Abaqus Não- 82,4% 79,6% 71,9% 94,4%
Linear

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12 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

Na tabela 3.3 apresentam-se os resultados numéricos e experimentais para


uma força aplicada de 400 kN, que corresponde a 87% da força de ruptura teórica.
Nesse nível de carregamento a alvenaria já se encontra fissurada. Analisando-se os
resultados da tabela 3.3, percebe-se que os valores de deslocamento para análise
linear e não-linear continuam sendo idênticos, o que indica que mesmo fissurada a
alvenaria não apresenta um comportamento não linear evidente no que se refere ao
deslocamento vertical relativo entre seus pontos. Comparando-se os valores de
deslocamento no trecho inferior do flange e da alma verifica-se que se confirma a
tendência de homogeneização dos deslocamentos no trecho inferior. Pode-se, então,
concluir que, mesmo depois de iniciada a fissuração da parede, a transferência de
tensões entre a alma e o flange continua acontecendo.

Tabela 3.3 - Deslocamentos relativos verticais numéricos e experimentais (F=400 kN).


Trecho inferior Trecho superior
Flange Alma Flange/ Flange Alma Flange/
(mm) (mm) Alma (mm) (mm) Alma
Ensaio 1-1 -0,121 -0,163 0,74 -0,049 -0,239 0,21
Ensaio 1-2 -0,134 -0,152 0,88 -0,081 -0,229 0,35
Ensaio 1-3 -0,123 -0,129 0,95 -0,055 -0,227 0,24
Média -0,126 -0,148 0,85 -0,062 -0,232 0,27
Abaqus Linear -0,155 -0,162 0,96 -0,128 -0,204 0,63
Abaqus Não-Linear -0,155 -0,162 0,96 -0,128 -0,204 0,63
Média/Abaqus 81,3% 91,4% 48,4% 113,7%
Média/Abaqus Não- 81,3% 91,4% 48,4% 113,7%
Linear

Tabela 3.4 - Deslocamentos relativos verticais numéricos e experimentais (F=425 kN).


Trecho inferior Trecho superior
Flange Alma Flange/ Flange Alma Flange/
(mm) (mm) Alma (mm) (mm) Alma
Ensaio 1-1 -0,124 -0,173 0,72 -0,048 -0,251 0,19
Ensaio 1-2 -0,126 - - -0,056 - -
Ensaio 1-3 -0,110 -0,166 0,66 -0,082 -0,261 0,31
Média -0,120 -0,170 0,71 -0,062 -0,256 0,24
Abaqus Linear -0,164 -0,172 0,97 -0,135 -0,216 0,63
Abaqus Não-Linear -0,163 -0,172 0,95 -0,135 -0,216 0,63
Média/Abaqus 73,2% 98,9% 45,9% 118,5%
Média/Abaqus Não- 73,6% 98,9% 45,9% 118,5%
Linear

Na tabela 3.4 apresentam-se os resultados numéricos e experimentais para


uma força aplicada de 425 kN, que é a força de ruptura teórica obtida com a análise
numérica. Verifica-se que nesse estágio de carregamento tem-se uma pequena
diferença entre o deslocamento da análise linear e da não linear. Apesar da diferença
ser muito pequena, pode-se concluir que, à medida que o carregamento aplicado vai
se aproximando da força de ruptura do painel, a transferência de tensões entre o
flange e a alma vai se tornando menor. O que se explica pelo fato da forma de ruína
corresponder exatamente à separação entre essas duas partes da estrutura. Nesse
estágio de carregamento alguns transdutores precisaram ser retirados no ensaio, por
isso alguns valores na tabela estão em branco. Com isso, não é possível fazer uma
comparação mais ampla entre os valores numéricos e experimentais. Um dos fatos
que pode ter prejudicado a comparação foi a dificuldade de obtenção das

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 13

propriedades dos materiais de maneira precisa, o que causou uma resposta numérica
um pouco diferente da real.
A figura 3.5 apresenta os resultados obtidos na modelagem numérica para os
deslocamentos na direção vertical, para uma força de 425 kN. Observando-se a figura,
nota-se que os deslocamentos dos pontos da parede central (próximo à aplicação do
carregamento) são bem maiores que os deslocamentos nos flanges, no trecho
superior da parede. Já no trecho inferior os deslocamentos na alma e nos flanges
tendem a se uniformizar.

Figura 3.5 - Deslocamentos verticais na direção 2 (cm).

Para melhor visualização dos resultados obtidos na análise numérica, nas


figuras 3.6, 3.7 e 3.8 apresentam-se os deslocamentos verticais ao longo da altura da
parede para as forças aplicadas de 280 kN, 400 kN e 425 kN, respectivamente. Estes
deslocamentos referem-se a mesma linha vertical onde se localizam os pontos
instrumentados nos ensaios (conforme figura 3.3).

Deslocamentos Verticais (F=280kN)


250
Altura da Parede (cm)

200
Alma - Linear
150
Alma - Não
100 Linear
Flange - Linear
50
Flange - Não
Linear
0
0 -0.01 -0.02 -0.03 -0.04 -0.05 -0.06

Deslocamento (cm)

Figura 3.6 - Deslocamentos verticais ao longo da altura da parede (F = 280kN).

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14 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

Deslocamentos Verticais (F=400kN)

Altura da Parede (cm) 250

200 Alm a - Li ne ar

150 Alm a - Não


Li ne ar
100 Flange - Li ne ar

50 Flange - Não
Li ne ar
0
0 -0.02 -0.04 -0.06 -0.08

Deslocamento (cm)

Figura 3.7 - Deslocamentos verticais ao longo da altura da parede (F = 400kN).

Conforme pode ser observado, no topo da parede os deslocamentos na alma


apresentam-se maiores que os deslocamentos no flange. À medida que se caminha
para a base da parede a tendência de uniformização dos mesmos é muito grande. Nos
três gráficos pode-se verificar essa uniformização, comprovando-se que o painel H
realmente trabalha como um conjunto intertravado, podendo-se considerar que a
tensão é distribuída pelo painel, não ficando concentrada na alma, onde é aplicado o
carregamento. Analisando-se os gráficos percebe-se, também, que não existe
diferença entre a análise linear e a não linear.

Deslocamentos Verticais (F=425kN)

250
Altura da Parede (cm)

Alm a - Li ne ar
200

150 Alm a - Não


Li ne ar
100 Flange - Li ne ar

50 Flange - Não
Li ne ar
0
-0.005 -0.025 -0.045 -0.065 -0.085

Deslocamento (cm)

Figura 3.8 - Deslocamentos verticais ao longo da altura da parede (F = 425kN).

3.3 Tensões normais verticais

A figura 3.9 apresenta a distribuição das tensões normais verticais (σ22) no


painel. Os valores referem-se a uma força de 425 kN, sendo as tensões em relação à
área líquida.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 15

Nota-se na figura 3.9 que o flange sofre flexão, estando a face interna mais
comprimida que a interna. Observa-se que na parede central, na região de aplicação
do carregamento, existe uma concentração de tensões. Nota-se, também, que nas
juntas verticais de argamassa, principalmente no trecho superior, existe uma
concentração de tensões localizadas. No trecho inferior as tensões já se apresentam
uniformizadas.

Figura 3.9 - Tensões normais verticais - σ22 (kN/cm2).

Nas figuras 3.10, 3.11 e 3.12 apresentam-se as tensões normais verticais ao


longo da altura da parede para uma força aplicada de 280 kN, 400 kN e 425 kN.
Verifica-se nos três gráficos que as tensões na base da parede convergem para um
mesmo valor, na alma e no flange. Comprovando-se dessa forma a homogeneização
das tensões ao longo da altura da parede e confirmando que a força aplicada é
transferida da alma para o flange através dos blocos intertravados de forma bastante
eficiente.

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16 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

Tensões normais verticais (F=280 kN)


300
Altura da parede (cm)

250 Alma - Linear


200
Alma - Não
150 linear
Flange - Linear
100

50 Flange - Não
linear
0
0 -0.1 -0.2 -0.3 -0.4
2
Tensão (kN/cm )

Figura 3.10 - Tensões normais verticais ao longo da altura da parede (F=280kN).

Tensões normais verticais (F=400kN)


300
Altura da parede (cm)

250
Alma - Linear
200
Alma - Não
150 linear
Flange - Linear
100
Flange - Não
50
linear
0
0 -0.1 -0.2 -0.3 -0.4 -0.5 -0.6
2
Tensão (kN/cm )
Figura 3.11 - Tensões normais verticais ao longo da altura da parede (F=400kN).

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Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 17

Tensões normais verticais (F=425 kN)


300
Altura da parede (cm)
250
Alma - Linear
200
Alma - Não
150 linear
Flange - Linear
100

50 Flange - Não
linear
0
0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8

Tensão (kN/cm2)

Figura 3.12 - Tensões normais verticais ao longo da altura da parede (F=425kN).

3.4 Deformação

Nas figuras 3.13, 3.14, 3.15 e 3.16 apresentam-se os valores de tensão no


grupo x deformação para os resultados numéricos e experimentais nos pontos
instrumentados da figura 3.3. Analisando-se os gráficos, verifica-se que os resultados
da análise numérica apresentam-se praticamente lineares até a ruptura. Comparando-
se com os resultados experimentais conclui-se que os resultados numéricos
apresentam uma média dos resultados experimentais. Na análise numérica a estrutura
é perfeitamente simétrica tanto em termos de geometria como de condições de
contorno. Na análise experimental essa simetria não pode ser totalmente garantida.
Conclui-se, portanto, que a análise numérica fornece uma aproximação razoável para
a análise experimental.
Analisando-se as figuras 3.13 e 3.14, referentes ao trecho inferior da parede,
percebe-se que nessa região o gráfico da análise numérica pode ser considerado
como uma média dos resultados experimentais. Nesse trecho a distribuição de
tensões é bastante uniforme, e as deformações obtidas no flange e na alma são
bastante próximas. Dessa forma está garantida a transferência de tensões da alma
para o flange através dos blocos intertravados. Este fato também justifica a
importância da realização de instrumentações simétricas durante a realização dos
ensaios experimentais, porque só dessa forma se pode verificar de forma adequada
esta transferência de tensões.

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18 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

Alma Inferior
-3,00
Tensão grupo (MPa)

-2,50
Numérico
-2,00
Ponto 11
-1,50 Ponto 12
Ponto 17
-1,00
Ponto 18
-0,50

0,00
0,0E+00 -1,0E-04 -2,0E-04 -3,0E-04 -4,0E-04
Deformação
Figura 3.13 - Comportamento típico do trecho inferior da alma.

Flange Inferior
-3,00
Tensão grupo (MPa)

-2,50
Numérico
-2,00 Ponto 9
Ponto 10
-1,50 Ponto 13
Ponto 14
-1,00
Ponto 15
-0,50 Ponto 16

0,00
0,0E+00 -1,0E-04 -2,0E-04 -3,0E-04 -4,0E-04

Deformação
Figura 3.14 - Comportamento típico do trecho inferior do flange.

Analisando-se a figura 3.15 verifica-se que nesse caso as deformações


obtidas experimentalmente estão bem próximas dos resultados numéricos,
principalmente para níveis mais baixos de tensão. À medida que os níveis de tensão
vão aumentado, nota-se uma tendência dos valores de deformação obtidos
numericamente irem se tornando menores que os valores experimentais.

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Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 19

Alma Superior
-3.00
Tensão grupo (MPa) -2.50

-2.00 Numérico
-1.50 Ponto 4

-1.00 Ponto 5
Ponto 19
-0.50
Ponto 20
0.00
0.00E+00 -1.00E-04 -2.00E-04 -3.00E-04 -4.00E-04 -5.00E-04

Deformação
Figura 3.15 - Comportamento típico do trecho superior da alma.

Na figura 3.16, ao contrário, as deformações numéricas vão se tornando


maiores que as experimentais à medida que os níveis de solicitação vão crescendo.
Isso pode ser explicado, em parte, pelo fato de que experimentalmente não existe uma
garantia da simetria (forças e geometria) da estrutura tão precisa como
numericamente. No modelo numérico a estrutura se deforma de maneira
perfeitamente simétrica. Não existe excentricidade de força nem problemas de
condições de contorno, como acontece no caso experimental. Outro fato importante é
a forma de ruptura do painel nos ensaios, que aconteceu por compressão na região
superior da parede central, geralmente nos blocos da cinta de amarração ou logo
abaixo. As fissuras iniciaram na parede central em regiões próximas à interseção e
abaixo da cinta de amarração da última fiada. Na modelagem numérica a interface
entre a alma e o flange foi simulada com comunhão de nós, não havendo a
possibilidade de descolamento ou deslizamento entre eles. Dessa forma o modelo
numérico não é capaz de representar a ruptura da parede na interface.

Flange Superior
-3.00
Numérico
Tensão grupo (MPa)

-2.50
Ponto 1
-2.00
Ponto 2
-1.50 Ponto 3

-1.00 Ponto 6

Ponto 7
-0.50
Ponto 8
0.00
2.00E-04 1.00E-04 0.00E+00 -1.00E-04 -2.00E-04 -3.00E-04
Deformação
Figura 3.16 - Comportamento típico do trecho superior do flange.

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20 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

Trecho Superior
-3

-2.5
Tensão grupo (MPa)

y = 8651.1x - 0.1178 y = 8260.2x - 2E-05


2
-2 R = 0.9909 2
R =1

-1.5
Experimental
-1
Numérico
-0.5 Linear (Experimental)
Linear (Numérico)
0
0.0E+00 -1.0E-04 -2.0E-04 -3.0E-04 -4.0E-04
Deformação

Figura 3.17 - Diagrama tensão x deformação típico do trecho superior.

Nas figuras 3.17 e 3.18 apresentam-se a curva tensão x deformação típica


para a região superior e inferior da parede. São mostrados os resultados
experimentais e numéricos. Nota-se que os valores dos módulos de elasticidade
médio, numérico e experimental encontram-se muito próximos. Verifica-se que em
ambos os casos o módulo de elasticidade experimental médio da alvenaria é maior
que o numérico. Isso pode ser explicado pelo fato do módulo de elasticidade do bloco,
obtido experimentalmente, ser um dado difícil de ser medido com precisão. Esperava-
se um valor maior do que o obtido. Supondo-se que o valor real desse módulo seja
maior que o utilizado no modelo, os resultados numéricos se aproximariam mais dos
experimentais.

Trecho Inferior
-3
Tensão grupo (MPa)

-2.5
y = 8884.3x - 0.0954
2
y = 8641x - 0.0001
-2 R = 0.9933 2
R =1

-1.5

-1 Experimental
Numérico
-0.5 Linear (Numérico)
Linear (Experimental)
0
0.0E+00 -1.0E-04 -2.0E-04 -3.0E-04 -4.0E-04

Deformação
Figura 3.18 - Diagrama tensão x deformação típico do trecho inferior.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 21

Conclui-se que o modelo CONCRETE do ABAQUS apresenta-se adequado


para análise de estruturas em alvenaria de blocos cerâmicos. Os resultados obtidos
para deslocamentos, deformações, tensões e força de ruptura apresentaram-se
coerentes com os resultados experimentais.

4 MODELAGEM DE PAREDINHAS COMPRIMIDAS

Neste item apresenta-se a análise de corpos-de-prova em alvenaria de blocos


vazados de concreto, com dimensões de 80 cm x 80 cm x 14 cm, ensaiados à
compressão por JUSTE (2001) no laboratório do Departamento de Engenharia de
Estruturas da EESC-USP. A análise numérica foi realizada com o software ABAQUS,
considerando-se o comportamento não linear dos materiais. Os corpos-de-prova
utilizados (vide figura 4.1) são aqui denominados "paredinhas". Esse termo foi
escolhido com o objetivo de diferenciá-los dos tradicionais prismas de dois e três
blocos superpostos e das paredes, que possuem dimensões bem maiores, tendo a
altura comparável à de um pé-direito usual, ou seja, no mínimo 2,40 m.

4.1 Trabalho experimental

Conforme JUSTE (2001) a empresa TATU PRÉMOLDADOS LTDA foi


fornecedora dos blocos utilizados nos ensaios. As dimensões reais dos blocos
empregados foram de 14x19x39 cm (largura x altura x comprimento) para o bloco
inteiro e 14x19x19 cm para o meio bloco. A relação obtida entre a área líquida e a área
bruta foi de 0,53.
Os valores das resistências médias à compressão dos blocos são
apresentados na tabela 4.1. Observe-se que a resistência medida em laboratório foi
muito maior que o especificado pelo fabricante.

Tabela 4.1 - Valores médios de resistência à compressão dos blocos.


Tipo de Bloco Classe de Área bruta Área líquida
Resistência (MPa) (546 cm2) (300 cm2)

fbm (MPa) fbm (MPa)


B1 4,5 10,80 20,38
B2 12,0 22,92 43,24

O módulo de elasticidade dos blocos foi obtido a partir da equação de uma


parábola quadrática ajustada à curva obtida experimentalmente no gráfico tensão-
deformação. O ajuste desta curva foi feito até níveis de tensão da ordem de 60% do
valor da carga de ruptura. Segundo JUSTE (2001) este valor foi estipulado por permitir
o cálculo do módulo de elasticidade secante entre níveis de tensões no intervalo de 5
e 33% da carga de ruptura e por apresentar ótimos coeficientes de ajustes para as
parábolas obtidas.
Os valores dos módulos de elasticidade para os blocos são apresentados na
tabela 4.2.
Para os blocos B1 a relação Eb/fbm obtida experimentalmente atendeu aos
limites especificados por DRYSDALE et al. (1994), entre 500 e 1000, e SAHLIN
(1971), entre 500 e 1500. Porém, para os blocos B2 este valor ficou abaixo do
esperado.

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22 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

Tabela 4.2 - Valores médios dos módulos de elasticidade dos blocos.


Tipo de Área bruta Área líquida
Bloco 2
(546 cm ) (300 cm2)
Ebm (MPa) Ebm (MPa)
B1 6228,0 11750,9
B2 7554,0 14252,8

Os valores da resistência média à compressão das argamassas são


apresentados na tabela 4.3.

Tabela 4.3 - Valores médios de resistência à compressão das argamassas.


Tipo de fam (MPa)
Argamassa

A1 10,24
A2 5,05

Os ensaios finais dos corpos-de-prova de argamassa foram feitos com o


objetivo de realizar o controle da resistência à compressão. Não foram determinados,
para estes ensaios, os valores dos módulos de elasticidade das argamassas. Utilizou-
se então a relação entre o módulo de elasticidade e resistência à compressão das
argamassas do ensaio preliminar realizado por Juste, para determinar o módulo de
elasticidade das argamassas do ensaio final. Conforme tabela 4.4.

Tabela 4.4 - Valores dos módulos de elasticidade das argamassas.


Tipo de Relação Eam/fam Eam (MPa)
Argamassa Ensaio Preliminar Estimado

A1 1517 15534,0
A2 1809 9113,5

O esquema de instrumentação utilizado durante os ensaios para as


paredinhas analisadas é apresentado na figura 4.1.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 23

(a) (b)
Figura 4.1 - (a) Vista frontal (b) Vista oposta. Posição de transdutores na paredinha (medidas
em mm). Adaptada de JUSTE (2001).

Na tabela 4.5 apresentam-se os valores médios de força de compressão de


ruptura obtidos nos ensaios, e a resistência média à compressão referida à área bruta
das paredinhas. São apresentados os valores para as paredinhas ensaiadas com
carregamento na direção y, ou seja, compressão perpendicular à junta de
assentamento. Foram utilizadas três paredinhas de cada tipo.

Tabela 4.5 - Resistência à compressão das paredinhas.


Série Frup, ensaio Resistência média à
Correspondente (kN) compressão (área bruta)
fpam (MPa)
PAB1A1EY (Bloco 1 e 550 4,97
Argamassa 1)
PAB2A1EY (Bloco 2 e 978 8,84
Argamassa 1)
PAB1A2EY (Bloco 1 e 456 4,12
Argamassa 2)
PAB2A2EY (Bloco 2 e 625* 5,65
Argamassa 2)
* Nesta série não foi possível obter valores médios devido à ruptura de duas paredinhas
durante o transporte

De acordo com JUSTE (2001), de um modo geral, as paredinhas ensaiadas


na direção Y apresentaram propagação de fissuras verticais, predominantemente
através das juntas verticais na região central das paredes, sendo algumas desviadas
pelas regiões dos blocos. Observou-se também a presença de fissuras verticais ao
longo dos septos laterais das paredinhas0. A ruptura ocorreu, na maioria das vezes,
por tração transversal dos blocos. Porém, para as paredinhas que utilizaram blocos
B2, as fissurações descritas acima ocorreram de maneira bem menos pronunciada,
prevalecendo a ruptura por esmagamento da argamassa.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


24 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

4.2 ANÁLISE NUMÉRICA

A análise numérica não-linear foi feita utilizando-se o software ABAQUS. As


paredes foram discretizadas com um elemento sólido denominado C3D8, que possui
oito nós e três graus de liberdade por nó (translações segundo os eixos x, y e z). Na
base das paredes foram restringidas as translações dos nós. Foi aplicado um
carregamento uniformemente distribuído no topo da parede. A rede utilizada encontra-
se na figura 4.2.
É importante ressaltar que foram realizadas modelagens numéricas
utilizando-se o elemento plano denominado S4, de quatro nós, com três graus de
liberdade por nó. Este elemento não apresentou um resultado satisfatório. Explica-se
este resultado analisando-se o tipo de ruptura apresentado nas paredinhas, em que os
septos laterais dos blocos se rompem. Com isso, o modelo tridimensional se torna
mais representativo. Embora ele não consiga representar de forma exata o que ocorre,
o comportamento melhora bastante quando comparado com o resultado obtido com o
elemento plano. Foi modelada uma parede equivalente, com a espessura adotada
referente à área líquida.

Figura 4.2 - Discretização da paredinha.

Foram utilizados dois modelos não lineares: o modelo elastoplástico clássico


(PLASTIC) e o elastoplástico para o concreto (CONCRETE). Optou-se pela utilização
dos dois modelos porque o modelo específico para o concreto (CONCRETE) não
representou da forma esperada o comportamento das paredes. Ao contrário do
exemplo apresentado no item 3, onde foi utilizado bloco cerâmico, e os resultados
numéricos obtidos com o modelo CONCRETE representaram de forma bastante
coerente o comportamento do ensaio. Outro fator importante para a utilização do
modelo PLASTIC foi a tentativa de modelar de forma mais precisa a variabilidade da
relação tensão x deformação para os blocos de concreto.
A modelagem foi feita discretizando-se os blocos e a argamassa
separadamente. As propriedades dos componentes (bloco e argamassa), utilizadas na
simulação foram obtidas experimentalmente e encontram-se na tabela 4.6. É
importante ressaltar que foi feita uma correção no módulo de elasticidade do bloco B2.
Como foi apresentando no item anterior, a relação Eb/fbm deste bloco ficou abaixo dos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 25

limites especificados por DRYSDALE et al. (1994), entre 500 e 1000, e SAHLIN
(1971), entre 500 e 1500. Nos primeiros modelos numéricos realizados verificou-se
que a rigidez inicial das paredinhas construídas com esse bloco estava menor que a
rigidez dos modelos experimentais. Optou-se, então, por utilizar um módulo de
elasticidade igual a 500.fbm, obtendo-se assim uma rigidez inicial mais próxima da
experimental. Em relação ao bloco utilizou-se o módulo de elasticidade e a resistência
à compressão em relação à área líquida (53% da área bruta). Adotou-se este
procedimento em razão do módulo de elasticidade referente à área bruta ser um valor
aparente, não representando adequadamente as características do material quanto às
necessidades de modelagem. As resistências à tração do bloco e da argamassa foram
consideradas convencionalmente como sendo de 10% da resistência à compressão.
Esse procedimento foi adotado devido à inexistência de testes para a determinação de
tais parâmetros, no trabalho de JUSTE (2001). Cabe ressaltar que a percentagem
adotada está dentro dos limites usuais para os materiais empregados.

Tabela 4.6 - Propriedades dos componentes.


Propriedades do Bloco B1
Resistência à compressão 20,38 MPa
Módulo de elasticidade 11.750,94 MPa
Coeficiente de Poisson 0,20
Propriedades do Bloco B2
Resistência à compressão 43,24 MPa
Módulo de elasticidade 21.620,0 MPa
Coeficiente de Poisson 0,20
Propriedades da Argamassa A1
Resistência à compressão 10,24 MPa
Módulo de elasticidade 15.534,0 MPa
Coeficiente de Poisson 0,20
Propriedades da Argamassa A2
Resistência à compressão 5,05 MPa
Módulo de elasticidade 9.135,5 MPa
Coeficiente de Poisson 0,20

Para o modelo elastoplástico clássico (PLASTIC), além do módulo de


elasticidade e do coeficiente de Poisson, é preciso fornecer os pontos da curva tensão
x deformação plástica para os dois componentes: bloco e argamassa. Para a obtenção
dos dados de entrada, a partir da curva tensão x deformação total, obtida
experimentalmente, subtraiu-se o valor da deformação elástica (εe=σ/E), para cada um
dos materiais.

4.3 COMPARAÇÃO ENTRE AS ANÁLISES NUMÉRICAS E


EXPERIMENTAIS

Apresenta-se neste trabalho o resultado obtido para um corpo-de-prova, o


PAB1A2, mas foram realizadas análises para todos os quatro ensaiados.

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26 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

4.3.1 Parede PAB1A2


Na tabela 4.7 apresentam-se os valores médios de resistência à compressão
alcançada nos ensaios para a paredinha PAB1A2, bem como os obtidos com os dois
modelos utilizados e as diferenças relativas aos resultados experimentais.

Tabela 4.7 - Resistência à compressão parede PAB1A2.


Série fpam (MPa) PLASTIC CONCRETE
Correspondente Ensaio
fpa (MPa) Diferença(%) fpa (MPa) Diferença(%)
PAB1A2EY 4,12 4,85 +18 3,49 -15

Analisando-se os valores obtidos nota-se que os dois modelos apresentam


bons resultados, sendo que o modelo PLASTIC superestima a tensão de ruptura, ao
contrário do CONCRETE, que a subestima.

Figura 4.3 - Forma de ruptura típica (PAB1A2).

Analisando-se a figura 4.3 verifica-se que a ruptura aconteceu devido ao


aparecimento de fissuras verticais, predominantemente através das juntas verticais,
sendo que algumas atravessam os blocos. Nota-se também a ruptura dos septos
laterais dos blocos. Nenhum dos modelos adotados é capaz de simular, de maneira
precisa, essa forma de ruptura dos blocos, o que pode levar a imprecisões nos
resultados obtidos numericamente quando comparados com os resultados dos
ensaios, quando esta forma de ruptura for determinante. A característica tridimensional
dos elementos empregados simula apenas aproximadamente essa forma de ruptura.
Implementações no modelo exigiriam a representação do formato do bloco, o que
seria inviável ao se trabalhar com elementos 3D.
As figuras 4.4, 4.5, 4.6, e 4.7 apresentam, respectivamente, a tensão
principal máxima, a tensão normal horizontal, a tensão normal vertical e a tensão de
von Mises, para os dois modelos numéricos adotados.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 27

(a) PLASTIC (b) CONCRETE


Figura 4.4 - Tensão principal máxima (PAB1A2).

Analisando-se a figura 4.4 verifica-se que as tensões máximas de tração


ocorrem nas juntas verticais na região central das paredes e nos blocos, o que
concorda com a forma de ruptura dos ensaios, por tração transversal dos blocos. É
possível visualizar, também, que as juntas horizontais de argamassa estão submetidas
a elevadas tensões de compressão, em ambos os modelos numéricos, o que indica
que nesses pontos pode ocorrer o esmagamento da argamassa.
As tensões normais horizontais na parede encontram-se na figura 4.5. Nota-
se, nos dois modelos, que as tensões de tração são maiores nas juntas verticais e se
espalham em direção aos blocos, submetendo-os a uma tração transversal, que vai
causar a sua fissuração. Nas juntas horizontais têm-se tensões de compressão.

(a) PLASTIC (b) CONCRETE


Figura 4.5 - Tensão normal horizontal σ11 (PAB1A2).

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28 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

(a) PLASTIC (b) CONCRETE


Figura 4.6 - Tensão normal vertical σ22 (PAB1A2).

Na figura 4.6 apresenta-se a distribuição das tensões normais verticais na


parede. Todas são de compressão, sendo que os valores mais altos encontram-se nos
blocos.

(a) PLASTIC (b) CONCRETE


Figura 4.7- Tensão equivalente de von Mises (PAB1A2).

Na figura 4.7 apresenta-se a tensão equivalente de von Mises para ambos os


modelos. Verifica-se que a distribuição destas tensões nos dois modelos têm aspecto
semelhante. Os maiores valores se encontram no centro da parede, onde aparecem
as fissuras mais visíveis no ensaio.
Analisando-se, de maneira geral, as figuras 4.4 a 4.7 conclui-se que os
modelos representam de forma bastante coerente o que acontece no ensaio. As
tensões de tração mais altas encontram-se nas juntas verticais, onde aparecem as
primeiras fissuras. E os blocos acabam sendo submetidos a tensões transversais de
tração, o que provoca a sua ruptura.
Para essa parede específica onde tem-se a argamassa bem menos
resistente que o bloco, portanto mais deformável, os dois modelos apresentaram bons
resultados. Sendo que o modelo CONCRETE apresentou uma força de ruptura a favor
da segurança e possui a vantagem de apresentar uma entrada de dados mais simples.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 29

Gráfico Tensão x Deformação PAB1A2Ey

5.0
4.5
4.0
3.5
Tensão (MPa)

3.0
2.5
2.0 Média Transdutores
1.5 Concrete
1.0 Plastic
0.5
0.0
0.0000 0.0004 0.0008 0.0012 0.0016

Deformação
Figura 4.8 - Gráfico tensão x deformação (PAB1A2).

Na figura 4.8 apresenta-se a curva tensão x deformação para a parede


PAB1A2, analisado-se as curvas conclui-se que os dois modelos representam de
forma aproximada o comportamento da parede. No trecho linear o comportamento é
basicamente o mesmo. No trecho não linear, o modelo PLASTIC representa de forma
mais adequada o que ocorre no ensaio, analisando a relação tensão x deformação.

5 CONCLUSÕES

Os programas utilizados na análise não-linear do presente trabalho foram o


ANSYS e o ABAQUS, disponíveis no Departamento de Engenharia de Estruturas da
EESC-USP. Foram escolhidos os modelos que incluem características de
comportamento típicas da alvenaria estrutural. O modelo do ANSYS inclui a ruptura
por fissuração, em zonas tracionadas, e o esmagamento, em zonas comprimidas. O
modelo considera que o material rompe completamente assim que atinge a tensão de
resistência máxima. No ABAQUS a fissuração é definida como o aspecto mais
importante do comportamento do material. Verificado o aparecimento de uma fissura
(atingida a superfície de ruptura), um critério de dano elástico é utilizado para
descrever o comportamento pós-ruptura do material.
Com o intuito de avaliar e calibrar esses dois modelos foi realizada a análise
de um prisma construído com unidades sólidas de concreto. Verificou-se que com o
ABAQUS foi possível estimar, com suficiente precisão, a força de ruptura experimental
tanto com elemento plano quanto com elemento sólido. Já com o software ANSYS não
se conseguiu atingir a força de ruptura experimental, obtendo-se um comportamento
global bastante incoerente, com deformações excessivas e irreais para a alvenaria,
mesmo em um nível baixo de carregamento.
Os programas foram também avaliados analisando-se o comportamento de
paredes de alvenaria em blocos sólidos de concreto. Da mesma forma que para o
prisma, os resultados do ABAQUS para a força de ruptura das paredes foram muito
bons, tanto na análise 2D como na 3D. A principal vantagem da utilização do elemento
plano foi a redução do número de graus de liberdade do modelo, diminuindo, assim, o
tempo de processamento. O modelo do ANSYS apresentou forças de ruptura muito

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


30 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

abaixo do esperado, gerando resultados insatisfatórios para a análise de estruturas em


alvenaria.
Conclui-se que o modelo para o concreto do ABAQUS representa bem o
comportamento não-linear de blocos sólidos de concreto. Apesar do modelo ser
específico para o concreto, é possível utilizá-lo na análise de estruturas em alvenaria.
A fissuração é um aspecto muito importante nessas estruturas e o modelo representa
de forma bastante coerente esse fenômeno.
Com os resultados obtidos na avaliação dos softwares disponíveis para a
pesquisa, optou-se por continuar as análises não-lineares apenas com o ABAQUS, em
virtude dos modelos com o ANSYS não terem representado bem o comportamento da
alvenaria.
O estudo da interação de paredes de alvenaria sujeitas a carregamentos
verticais foi realizado através da análise numérica e comparação com os resultados
experimentais de um painel H, de blocos cerâmicos de alvenaria, ensaiado no SET-
EESC-USP.
No trecho inferior do painel, as deformações na alma e no flange
apresentaram valores bem próximos, indicando a existência de uma distribuição de
esforços bastante homogênea nessa região. Conclui-se que há uma transferência de
esforços bastante efetiva entre alma e flange.
Para um nível de solicitação de 87% da força de ruptura, estágio em que a
alvenaria já se encontra fissurada, os resultados obtidos numericamente para as
análises linear e não-linear foram praticamente os mesmos. A alvenaria não
apresentou nos modelos realizados um comportamento não-linear evidente, no que se
refere ao deslocamento vertical relativo entre seus pontos, para esse nível de
solicitação.
Considerando-se a força de ruptura numérica de 425 kN, estágio em que o
programa não consegue atingir convergência, verificou-se uma pequena diferença
entre os deslocamentos da análise linear e da não-linear. Ressalte-se que a força de
ruptura teórica corresponde a 83% da média dos valores obtidos nos ensaios dos
painéis. Verificou-se, também, que à medida que se aproximou da ruptura do painel, a
transferência de esforços entre flange e alma tornou-se menos efetiva. A explicação
para esse fato está na forma de ruptura do painel que correspondeu exatamente à
separação entre as duas partes da estrutura.
Na análise dos gráficos tensão do grupo x deformação, verificou-se que os
resultados numéricos apresentaram-se praticamente lineares até a ruptura.
Comparando-se com os resultados experimentais verificou-se que os resultados
numéricos obtidos representam, aproximadamente, uma média dos resultados
experimentais, confirmando a eficiência do modelo para representar o comportamento
dessa estrutura.
Os valores de deformações obtidos numericamente ficaram bem próximos
dos valores obtidos nos ensaios, principalmente para níveis mais baixos de solicitação.
É importante ressaltar a forma de ruptura do painel nos ensaios, que
aconteceu por compressão da região superior da parede central e separação entre a
alma e o flange que se inicia no trecho superior, devido ao aparecimento de fissuras
na região de interseção. Na modelagem numérica essa interface foi simulada com
comunhão de nós, não havendo possibilidade de descolamento ou deslizamento entre
elas. Dessa forma o modelo numérico não foi capaz de representar a ruptura na
interface das paredes. Apesar dessa limitação, o modelo CONCRETE do ABAQUS
apresentou-se bastante eficiente para a análise de estruturas em alvenaria de blocos
cerâmicos. Os resultados obtidos para deslocamentos, deformações, tensões e força
de ruptura apresentaram-se bastante coerentes com os resultados experimentais.
Pode-se, então, indicar a utilização desse modelo para a análise de estruturas em
alvenaria cerâmica com segurança.
Para o estudo de casos específicos de paredes em alvenaria submetidas à
compressão, foram analisadas as paredinhas ensaiadas por JUSTE (2001) no

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


Contribuições à modelagem numérica de alvenaria estrutural 31

Laboratório do SET-EESC-USP. De acordo com JUSTE (2001), de um modo geral, as


paredinhas ensaiadas apresentaram propagação de fissuras verticais,
predominantemente através das juntas verticais na região central das paredes, sendo
algumas desviadas pelas regiões dos blocos. Observou-se, também, a presença de
fissuras verticais ao longo dos septos laterais das paredinhas. A ruptura ocorreu, na
maioria das vezes, por tração transversal dos blocos.
A análise numérica não-linear foi feita utilizando-se o software ABAQUS.
Estudos preliminares demonstraram que o modelo elastoplástico para o concreto
(CONCRETE), utilizado na análise de interação de paredes, não representou da forma
esperada o comportamento das paredinhas, no aspecto tensão x deformação. Com
isso, optou-se por adotar mais um modelo para a análise das paredinhas: o
elastoplástico clássico (PLASTIC), obtendo-se, dessa forma, mais resultados para
serem avaliados. Outro fator importante que influenciou nessa decisão foi a tentativa
de modelar de forma mais precisa a variabilidade da relação tensão x deformação
para os blocos de concreto.
Optou-se por um elemento tridimensional por ser mais representativo para o
tipo de ruptura indicado pelas paredinhas, ou seja, fissuras dos septos laterais.
Embora tal elemento não consiga representar de forma exata o que ocorre, fornece
uma boa aproximação.
Em relação à força de ruptura, o modelo CONCRETE apresentou valores a
favor da segurança, quando comparados com os valores de ruptura experimental.
Define-se, então, para o estudo da força de ruptura em paredes de alvenaria de blocos
de concreto, o modelo CONCRETE como mais adequado, por ter apresentando
resultados mais coerentes em todas as análises realizadas.
Analisando-se as curvas tensão x deformação para as paredinhas ensaidas
verifica-se que o modelo PLASTIC é mais eficiente na representação do
comportamento dos ensaios quanto à rigidez. Neste modelo os dados de entrada são
as curvas tensão x deformação dos materiais componentes da paredinha ensaiada. É
possível, então, simular de forma mais precisa a variabilidade da relação tensão x
deformação para os blocos de concreto, quando comparado com o modelo
CONCRETE.
Dessa forma conclui-se que para um estudo da relação tensão x deformação
para as paredinhas de alvenaria submetidas à compressão o modelo PLASTIC é o
mais indicado.
Considerando-se os resultados obtidos ressalta-se a importância de se
trabalhar com um módulo de elasticidade variável para os materiais. A utilização de
uma expressão não linear para a relação tensão x deformação dos materiais com
certeza tornaria os modelos numéricos mais representativos, tornando os resultados
mais próximos dos experimentais.
Em resumo, para a análise de estruturas em alvenaria cerâmica, submetidas
à compressão, indica-se a utilização do modelo CONCRETE do ABAQUS. Para a
análise de estruturas em alvenaria de blocos de concreto, indicam-se os dois modelos:
CONCRETE – quando o objetivo principal é analisar a força de ruptura e verificar a
distribuição de tensões de uma forma geral e PLASTIC – quando o objetivo principal é
fazer uma análise do comportamento tensão x deformação e verificar a distribuição de
tensões.
Uma opção para análise de estruturas em alvenaria seria um modelo
semelhante ao CONCRETE, mas com a inclusão de relações tensão x deformação
não-lineares para os materiais.

6 AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao CNPq pelo apoio financeiro.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


32 Suzana Campana Peleteiro & Márcio Roberto Silva Corrêa

7 REFERÊNCIAS

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Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
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and design. Englewood Cliffs, New Jersey, Prentice Hall.

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JUSTE, A.E. (2001). Estudo da resistência e da deformabilidade de paredes


comprimidas de alvenaria de blocos de concreto. São Carlos. 237 p. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

MACHADO JR., E.F.; TAKEYA, T.; VAREDA, L.V. (1999). Ensaios de compressão
simples em paredes de alvenaria de blocos cerâmicos. Relatório técnico: Cerâmica
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estrutural. São Carlos. 143 p. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo.

SAHLIN, S. (1971). Structural masonry. Englewood Cliffs, Prentice Hall.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 1-32, 2007


ISSN 1809-5860

ANÁLISE TEÓRICA E EXPERIMENTAL DE VIGAS


DE CONCRETO ARMADO COM ARMADURA DE
CONFINAMENTO
Rodrigo Gustavo Delalibera1 & José Samuel Giongo 2

Resumo
Este trabalho discute a utilização de armadura de confinamento em vigas
superarmadas de concreto armado. Essa armadura é constituída de estribos quadrados
colocados na região de compressão da seção transversal da viga, aumentando a
ductilidade. Para a análise numérica, utilizou-se um programa computacional baseado
no Método dos Elementos Finitos que considera o efeito do confinamento no concreto,
possibilitando estudar criteriosamente a influência da armadura de confinamento em
vigas superarmadas. Na etapa experimental foi investigada a influência da taxa
volumétrica da armadura transversal de confinamento, sendo realizados ensaios de
quatro vigas superarmadas - três detalhadas com estribos adicionais destinados ao
confinamento e uma projetada sem armadura de confinamento. Todas as vigas tiveram
deformações nas barras da armadura de tração próximas a εy e resistência média à
compressão do concreto de 25MPa. Os resultados experimentais mostraram que o
índice de ductilidade pós-pico é proporcional à taxa volumétrica da armadura
transversal de confinamento. Isso não aconteceu para o índice de ductilidade pré-pico,
que teve variação aleatória com a taxa volumétrica de armadura de confinamento.
Observou-se também que a resistência à compressão do concreto confinado no núcleo
de confinamento diminuiu na proximidade da linha neutra.

Palavras-chave: vigas; armadura de confinamento; ductilidade.

1 INTRODUÇÃO

A análise da ductilidade de vigas de concreto armado tem sido tema de vários


trabalhos desenvolvidos por diversos pesquisadores. Neste trabalho foram analisadas
teórica e experimentalmente vigas de concreto armado superarmadas, detalhadas
com armadura de confinamento e com resistência à compressão média do concreto
de 25MPa aos vinte e um dias de idade, visando observar a influência da armadura de
confinamento no comportamento das mesmas.
Para a análise teórica, utilizou-se programa computacional baseado no
Método dos Elementos Finitos, que leva em consideração a não linearidade física do
material e geométrica da estrutura, como também o efeito dos estribos de
confinamento. Esse programa computacional foi desenvolvido por KRÜGER (1990)

1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, della@sc.usp.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, jsgiongo@sc.usp.br

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34 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

enquanto que a implementação do modelo de confinamento foi desenvolvida por LIMA


JÚNIOR & GIONGO (2001), no qual o modelo de confinamento utilizado no programa
foi elaborado por SAATCIOGLU & RAZVI (1992).
Por meio da metodologia utilizada para a determinação de índices de
ductilidade de estruturas de concreto armado, também desenvolvida por LIMA
JÚNIOR & GIONGO (2001), foi possível calcular os índices de ductilidade das vigas
de concreto armado analisadas numérica e experimentalmente. Sendo assim,
elaborou-se um plano estatístico procurando determinar os índices de ductilidade
ideais para vigas de concreto armado. Para a determinação desses índices foram
analisadas numericamente vigas subarmadas com deformação longitudinal da
armadura de tração igual a 10‰ e deformação longitudinal do concreto igual a 3,5‰,
variando as alturas úteis e as larguras das seções transversais das vigas, como
também, a resistência à compressão do concreto. Também foram analisadas,
numericamente, vigas superarmadas projetadas com armadura de confinamento.
Com os valores dos índices de ductilidade de cada viga superarmada
projetada com armadura de confinamento, elaborou-se análise de variância, na qual
foi possível verificar quais foram as variáveis com maior relevância no estudo da
ductilidade. As variáveis envolvidas na análise de variância foram: a resistência à
compressão do concreto, a deformação na armadura tracionada, o espaçamento
entre estribos de confinamento e a forma geométrica dos estribos destinados ao
confinamento.
Considerando os resultados obtidos por meio da análise numérica associados
ao embasamento adquirido pela revisão bibliográfica, foi elaborado um programa
experimental visando analisar a ductilidade de vigas superarmadas projetadas com
armadura de confinamento. Nesse programa constam os ensaios de quatro vigas de
concreto armado, sendo três projetadas com armadura de confinamento e uma sem.
Todas as vigas ensaiadas foram projetadas entre os domínios 3 e 4 de deformações
considerando as deformações específicas no concreto relativas ao valor de 3,5‰.

2 VALIDAÇÃO DO MODELO COMPUTACIONAL

Com o objetivo de verificar se o modelo numérico usado oferece bons


resultados, uma análise comparativa baseada em resultados experimentais de
diversos autores foi realizada.
Em 1962, Base (1962) ensaiou duas vigas de concreto armado, sendo que
uma delas foi projetada de maneira convencional e a segunda projetada com
armadura de confinamento helicoidal colocada na região de compressão da seção
transversal da viga. Na Figura 1 é apresentada uma curva força vs. deslocamento no
meio do vão, na qual é possível verificar a eficiência do modelo numérico.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 35

100.00

75.00

Força (kN)
50.00

25.00
Modelo numérico
Modelo Experimental

0.00

0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00 14.00 16.00


Deslocamento (cm)

Figura 1 - Curva força vs. deslocamento, viga 2, Base (1962).

Observou-se uma boa aproximação entre os dois modelos existindo uma


diferença de 0,70% nas forças máximas encontradas. No modelo experimental, o
deslocamento medido no meio do vão no instante do escoamento da armadura
tracionada foi de 1,05cm, enquanto que, no modelo numérico foi de 1,89cm,
apresentando uma diferença de 56% entre os modelos.
Em 1965, Base & Read (1965) também conduziram uma análise
experimental com dezesseis vigas de concreto armado sendo que seis foram
projetadas com armadura de confinamento helicoidal também posicionadas nas
regiões de compressões das vigas. Nas Figuras 2 a 7, é possível observar curvas
momento fletor vs. curvatura das vigas citadas comparando-as com as curvas obtidas
por meio do modelo computacional. Dessas seis vigas confinadas, duas eram
subarmadas (vigas 1 e 2), duas normalmente armadas (vigas 4 e 5), e duas
superarmadas (vigas 9 e 16).

4000.00 4000.00

3000.00 3000.00
Momentos(kNcm)
Momentos (kNm)

2000.00 2000.00

1000.00 1000.00
Modelo Experimental
Modelo numérico

0.00 0.00

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35
Rotação (rad) Rotação (rad)

Figura 2 - Curva momento fletor vs. curvatura, Figura 3 - Curva momento fletor vs. curvatura,
viga 1, Base & Read (1965). viga 2, Base & Read (1965).
8000.00 8000.00

6000.00 6000.00
Momentos (kNcm)

Momentos (kNcm)

4000.00 4000.00

2000.00 2000.00

0.00 0.00
0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25
Rotação entre os apoios (rad) Rotação entre os apoios (rad)

Figura 4 - Curva momento fletor vs. curvatura, Figura 5 - Curva momento fletor vs. curvatura,
viga 4, Base & Read (1965). viga 5, Base & Read (1965).

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36 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

12000.00 15000.00

10000.00 12500.00

8000.00 10000.00

Momentos (kNcm)
Moment0s (kNcm)

6000.00 7500.00

4000.00 5000.00

2000.00 2500.00

0.00 0.00

0.00 0.03 0.05 0.08 0.10 0.13 0.00 0.03 0.05 0.08 0.10 0.13
Rotação (rad) Rotação (rad)

Figura 6 - Curva momento fletor vs. curvatura, Figura 7 - Curva momento fletor vs. curvatura,
viga 9, Base & Read (1965). viga 16, Base & Read (1965).

Observou-se que o modelo computacional apresentou comportamento


satisfatório. Na viga 16, nota-se que houve uma grande discrepância entre resultados
e os autores deste não conseguiram identificar as possíveis causas para o fato. A
Tabela 1 apresenta as diferenças encontradas nos resultados teóricos e
experimentais.

Tabela 1 - Diferença entre os modelos experimental e teórico.

Vigas Força máxima – Fmáx (kN) Diferença


Experimental Numérico (%)
1 58,80 51,13 15,0
2 56,06 52,45 6,45
4 112,32 108,58 3,33
5 112,12 104,89 6,45
9 149,75 165,04 9,26
16 226,36 171,47 24,25

Nawy et al. (1968) ensaiaram duas séries de vigas confinadas por meio de
armadura helicoidal retangular contínua para verificar a capacidade de rotação plástica
das mesmas. Os estribos de confinamento dessas vigas envolvem toda a seção
transversal, sendo descontado o cobrimento, portanto semelhante aos estribos
destinados à força cortante. Esse arranjo de estribos não é tão eficaz quanto aquele
que se confina apenas a região de compressão da seção transversal, pois parte dos
estribos estão localizados na região de tração da viga causando deficiência no
confinamento. Nas Figuras 8 a 17, são apresentadas curvas momento fletor vs.
rotação, onde é possível comparar os resultados experimentais com os obtidos
numericamente. Na Tabela 2, são apresentados os resultados obtidos por comparação
entre os modelos teóricos e experimentais. Observou-se que o modelo teórico não foi
tão eficaz quanto as análises feitas anteriormente. Um dos fatores pode ter sido a
presença de tensões de tração nos estribos destinados ao confinamento, pois estes
envolviam toda seção transversal da viga descontando o cobrimento. Porém,
observou-se, que os máximos momentos fletores obtidos numericamente tiveram uma
boa aproximação em relação aos obtidos nos experimentos.

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Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 37

30000.00 20000.00

25000.00
15000.00
20000.00
Momento (kNcm)

Moment (kNcm)
15000.00 10000.00

10000.00
5000.00
5000.00

0.00 0.00

0.00 0.03 0.05 0.08 0.10 0.13 0.15 0.18 0.00 0.03 0.05 0.08 0.10 0.13 0.15 0.18
Rotação total (rad) Rotação total (rad)

Figura 8 - Curva momento fletor vs. curvatura, Figura 9 - Curva momento fletor vs. curvatura,
viga P10G2, Nawy et al. (1968). viga P11G3, Nawy et al. (1968).
20000.00 30000.00

25000.00
15000.00
20000.00
Momentos (kNcm)

Momentos (kNcm)
10000.00 15000.00

10000.00
5000.00
5000.00

0.00 0.00

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30
Rotação total (rad) Rotação total (rad)

Figura 10 - Curva momento fletor vs. Figura 11 - Curva momento fletor vs.
curvatura, viga P10G2, Nawy et al. (1968). curvatura, viga P5G7, Nawy et al. (1968).
30000.00 5000.00
Momentos devido a carga vertical (kNcm)

25000.00
4000.00

20000.00
Momento (kNcm)

3000.00
15000.00
2000.00
10000.00

1000.00
5000.00

0.00 0.00

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10
Rotação total (rad) Rotação total (rad)

Figura 12 - Curva momento fletor vs. Figura 13 - Curva momento fletor vs.
curvatura, viga P6G8, Nawy et al. (1968). curvatura, viga B8B4, Nawy et al. (1968).
4000.00 4000.00
Momento devido a carga vertical (kNcm)

Momento devido a carga vertical (kNcm)

3500.00

3000.00 3000.00

2500.00

2000.00 2000.00

1500.00

1000.00 1000.00

500.00

0.00 0.00

0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12
Rotação total (rad) Rotação total (rad)

Figura 14 - Curva momento fletor vs. Figura 15 - Curva momento fletor vs.
curvatura, viga B12B6, Nawy et al. (1968). curvatura, viga B5B8, Nawy et al. (1968).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


38 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

6000.00 4000.00
Momento devido a carga vertical (kNcm)

Momento devido a carga vertical (kncm)


5000.00
3000.00
4000.00

3000.00 2000.00

2000.00
1000.00
1000.00

0.00 0.00

0.00 0.03 0.06 0.09 0.12 0.15 0.18 0.21 0.24 0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10
Rotação total (rad) Rotação total (kNcm)

Figura 16 - Curva momento fletor vs. Figura 17 - Curva momento fletor vs.
curvatura, viga B2B10, Nawy et al. (1962). curvatura, viga B11B12, Nawy et al. (1962).

Tabela 2 - Diferença entre os modelos experimental e teórico.

Vigas Momento Máximo – Mmáx (kNcm) Diferença


Experimental Numérico (%)
P10G2 21920,9 25657,1 14,56
P11G3 19550,9 18840,6 3,63
P14G6 19632,1 18985,1 3,23
P5G7 24913,1 25918,8 3,88
P6G8 21714,2 25871,2, 16,07
B8B4 4022,26 3536,58 9,53
B12B6 3722,4 3731,47 0,24
B5B8 3803,07 3748,08 1,45
B2B10 5106,91 4656,24 8,82
B11B12 3371,31 3801,1 11,31

Ziara et al. (1995) ensaiaram duas séries de vigas de concreto armado


confinadas por meio de estribos retangulares, sendo uma delas com vigas
subarmadas e a outra com vigas superarmadas. Para as vigas subarmadas, os
estribos destinados ao confinamento foram colocados apenas na região de
compressão da viga, enquanto que para as vigas superamadas, os estribos de
confinamento foram colocados em torno de toda a seção transversal, descontando o
cobrimento. O fato dos estribos de confinamento serem de forma semelhante àqueles
destinados à força cortante pode causar ineficiência no confinamento como já foi
mencionado anteriormente.
Nas Figuras 18 a 23 são apresentadas curvas força vs. deslocamento, onde
é possível verificar a eficiência do modelo computacional empregado neste trabalho.

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Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 39

600.00 600.00

500.00 500.00

400.00 400.00
Força (kN)

Força (kN)
300.00 300.00

200.00 200.00

100.00 100.00

0.00 0.00

0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00 0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00
Deslcomento (cm) Deslcamentos (cm)

Figura 18 - Curva força vs. deslocamento, viga Figura 19 - Curva força vs. deslocamento, viga
NA2-1, Ziara et al. (1995). NA3-1, Ziara et al. (1995).
300.00 350.00

250.00 300.00

250.00
200.00
Força (kN)

Força (kN)
200.00
150.00
150.00
100.00
100.00

50.00 50.00

0.00 0.00

0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00 14.00 16.00
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 20 - Curva força vs. deslocamento, viga Figura 21 - Curva força vs. deslocamento, viga
NB2-1, Ziara et al. (1995). NB3-1, Ziara et al. (1995).
500.00 250.00

400.00 200.00

300.00 150.00
Força (kN)

Load (kN)

200.00 100.00

100.00 50.00

0.00 0.00

0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00 14.00 0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00
Deslocamento (cm) Displicement (cm)

Figura 22 - Curva força vs. deslocamento, viga Figura 23 - Curva força vs. deslocamento, viga
C2, Ziara et al. (1995). C3.2, Ziara et al. (1995).

Na Tabela 3 é possível verificar as diferenças entre os modelos teórico e


experimental, onde pode-se observar que o modelo numérico apresenta boa
aproximação, existindo uma diferença exorbitante em apenas uma das vigas
analisadas provavelmente pelo fato dos estribos de confinamento envolverem toda a
seção transversal da viga.
Com as vinte e três vigas simuladas numericamente, foi possível observar
que o modelo numérico ofereceu bons resultados e que se mostrou coerente, apesar
de algumas vigas apresentarem grandes diferenças em relação aos modelos
experimentais.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


40 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

Tabela 3 - Diferença entre os modelos experimentais e teóricos.

Vigas Força máxima - Fmáx (kN) Diferença


Experimental Numérico (%)
NA2-1 435 496,7 12,42
NA3-1 430 510,34 15,74
NB2-1 255 266,58 4,34
NB3-1 251 280,73 10,59
C2 489,29 446,65 9,55
C3-2 216,07 149,51 30,80

3 DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE DUCTILIDADE IDEAL

Para se determinar um índice ideal para vigas superamadas foi realizado um


estudo estatístico com vinte e sete vigas subarmadas projetadas com deformação na
armadura de tração igual a 10‰ e deformação no concreto igual a 3,5‰, ou seja,
vigas com deformações relativas ao limite dos domínios 2 e 3, segundo o Projeto de
Revisão da NBR 6118:2001. As vigas foram consideradas apoiadas e com vão teórico
de 300cm. O motivo da escolha dessas vigas para determinar o índice de ductilidade
ideal, deu-se pelo fato de que o comportamento destas é regido pelo diagrama tensão
vs. deformação da armadura tracionada, pois o aço escoa até a deformação de 10‰
antes do concreto atingir a deformação limite para o Estado Limite Último. As vigas
foram analisadas numericamente utilizando o modelo numérico citado anteriormente.
Em função da não linearidade do problema foram escolhidos três parâmetros
de estudo para as variáveis envolvidas. Na Tabela 4, são apresentadas as
características gerais das vigas analisadas numericamente.
Utilizando os dados da Tabela 4 foi feito um estudo estatístico, no qual foram
encontrados o índice de ductilidade ideal pré-pico (IDpré,ideal) de 0,455 e o índice de
ductilidade ideal pós-pico (IDpós,ideal) 0,905. Esses valores foram obtidos por meio da
média dos índices de ductilidade das vigas analisadas, sendo que os desvios padrão
para o índice de ductilidade ideais pré-pico e pós-pico foram 0,092 e 0,0188
respectivamente.
Sendo, fck a resistência característica do concreto à compressão, bw a largura
da seção transversal da viga, h a altura da seção transversal da viga, d a altura útil da
viga, As a área de armadura tracionada, ø a bitola da armadura tracionada, δc0,fy o
deslocamento no instante do escoamento da armadura tracionada, Fmáx a máxima
carga suportada pela viga, IRc o índice de rigidez da viga, IDpré o índice de ductilidade
pré-pico, IDpós o índice de ductilidade pós-pico e IDelast. o índice de ductilidade elástico,
os índices de ductilidade foram calculados utilizando o método proposto por Lima
Júnior & Giongo (2000) e apresentados na Tabela 4. Foi utilizado aço CA-50, para
todas as vigas analisadas.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 41

Tabela 4 - Características gerais das vigas, com εc=3,5‰ e εs=10‰.

fck bw d h As,adotado δc0,fy Fmáx IRc


Vigas As ø Qtd. IDpré IDpós IDelást.
(MPa) (cm) (cm) (cm) (cm) (kN) (kN/cm)
(cm2) (mm) (un)
V201020 20 10 17 20 0,4 5,0 2 1,52 5,01 31,50 0,499 0,914 0,105
V201060 20 10 56 60 1,0 8,0 2 0,45 40,27 626,20 0,495 0,915 0,143
V201010 20 10 95 100 1,6 10,0 2 0,27 109,2 1795,81 0,477 0,894 0,255
V203020 20 30 17 20 1,0 8,0 2 1,40 11,0 96,27 0,609 0,915 0,082
12,5 2
V203060 20 30 56 60 3,0 0,45 120,93 1804,68 0,508 0,878 0,149
8,0 1
V203010 20 30 95 100 5,0 25,0 2 0,27 338,59 5344,55 0,411 0,91 0,235
V205020 20 50 17 20 1,6 10,0 2 1,56 19,93 155,73 0,572 0,863 0,082
16,0 2
V205060 20 50 56 60 4,8 0,47 192,52 3777,99 0,569 0,886 0,108
10,0 1
20,0 2
V205010 20 50 97 100 8,30 0,27 562,88 8669,95 0,413 0,902 0,240
16,0 1
V351020 35 10 17 20 0,50 8,0 2 1,54 6,33 38,17 0,517 0.879 0.108
V351060 35 10 56 60 1,50 8,0 3 0,46 60,56 963,91 0,495 0,881 0,137
V351010 35 10 95 100 2,50 12,5 2 0,27 170,90 2483,17 0,382 0,880 0.255
V353020 35 30 17 20 1,60 10,0 2 1,55 20,02 113,90 0,490 0,886 0,113
16,0 2
V353060 35 30 56 60 5,25 0,50 209,90 2871,08 0,473 0,915 0,146
12,5 1
V353010 35 30 95 100 10,0 25,0 2 0,29 679,19 8210,52 0,295 0,924 0,285
V355020 35 50 17 20 2,50 12,5 2 1,52 31,54 213,47 0,641 0,895 0,097
20,0 2
V355060 35 50 56 60 8,30 0,49 331,46 4899,90 0,471 0,905 0,138
16,0 1
V355010 35 50 95 100 15,0 25,0 3 0,29 1013,25 12914,3 0,327 0,912 0,271
V501020 50 10 17 20 0,80 10,0 2 1,64 9,94 43,31 0,43 0,913 0,140
V501060 50 10 56 60 2,50 12,5 2 0,50 100,23 1133,3 0,397 0,911 0,177
V501010 50 10 95 100 4,0 16,0 2 0,30 272,30 5502,05 0,499 0,922 0,167
V503020 50 30 17 20 2,5 12,5 2 1,61 30,55 113,88 0,413 0,943 0,167
20,0 2
V503060 50 30 56 60 7,10 0,50 283,35 3327,15 0,488 0,927 0.170
10,0 1
25,0 2
V503010 50 30 95 10 12,0 0,30 811,77 9016,50 0,285 0,916 0,303
16,0 1
V505020 50 50 17 20 4,0 16,0 2 1,67 48,76 215,96 0,439 0,915 0,135
25,0 2
V505060 50 50 56 60 12,0 0,50 476,73 5685,64 0,408 0,914 0,168
16,0 1
32,0 2
V505010 50 50 95 100 21,0 0,30 1413,04 16411,7 0,282 0,927 0,287
25,0 1

4 ANÁLISE NUMÉRICA

O objetivo desta análise é avaliar o comportamento de vigas de concreto


armado projetadas com armadura de confinamento, dimensionadas no domínio 4 de
deformações. Para isto foram analisadas 54 vigas sendo metade confinada por meio
de estribos circulares e as demais confinadas com estribos quadrados. Também são
apresentadas três vigas de referência projetadas de maneira convencional, sem
armadura de confinamento, com deformação na armadura de tração igual a εy. Os
detalhes das vigas são apresentados na Figura 24. Numa primeira etapa foi analisado
o comportamento das vigas confinadas por estribos com forma geométrica circular,
posteriormente, analisou-se o comportamento das vigas confinadas por meio de

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


42 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

estribos retangulares. O aço utilizado em ambas as etapas foi o CA-50, tanto para as
armaduras longitudinais, como para as armaduras transversais. O diâmetro dos
estribos destinados ao confinamento foi de 5mm. Todas as vigas tiveram seções
transversais de 10cm de largura por 30cm de altura.

Núcleo de Núcleo de
Força concreto Força concreto
b'

dc
d'

d'
h'
d

d
Armadura de confinamento Armadura de confinamento

h
A st Ast
b b
Seção Transversal Seção Transversal
90cm 60cm 90cm 60cm
150cm 150cm
Vista Longitudinal Vista Longitudinal

(a) (b)

Figura 24 - (a), viga confinada por meio de estribos retangulares;


(b) vigas confinadas por meio de estribos circulares.

4.1 Vigas confinadas por meio de estribos circulares

Neste item são analisadas as vigas confinadas por meio de estribos


circulares, que foram colocados na região de compressão da seção transversal. Na
Tabela 5 são apresentadas as propriedades gerais das vigas em questão, o seu
detalhamento é mostrado na Figura 24b. Nas Figuras 26 a 33 são apresentadas
curvas força vs. deslocamento, onde é possível observar o aumento da ductilidade
das vigas com o aumento da taxa de armadura transversal de confinamento. Também
é possível observar um pequeno aumento da capacidade resistente à flexão das
vigas. Na Figura 34 são apresentadas curvas força vs. deslocamento de vigas
projetadas de maneira convencional, ou seja, sem armadura de confinamento, onde é
possível observar o comportamento frágil destas.

100.00 140.00

120.00
80.00
100.00
60.00
Força (kN)

Força (kN)

80.00

40.00 60.00

40.00
20.00 Esp. 12,0 cm
Esp. 7,5 cm 20.00
Esp. 3,0 cm

0.00 0.00

0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 25 - Curva força vs. deslocamento para vigas Figura 26 - Curva força vs. deslocamento para vigas
com fck 20MPa e εs 1,5‰. com fck 20MPa e εs 1,0‰.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 43

250.00 150.00

125.00
200.00

100.00
150.00
Força (kN)

Força (kN)
75.00
100.00
50.00

50.00
25.00

0.00 0.00

0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 27 - Curva força vs. deslocamento para vigas Figura 28 - Curva força vs. deslocamento para vigas
com fck 20MPa e εs 0,5‰. com fck 35MPa e εs 1,5‰.
250.00 300.00

250.00
200.00

200.00
150.00
Força (kN)

Força (kN)
150.00
100.00
100.00

50.00
50.00

0.00 0.00

0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 29 - Curva força vs. deslocamento para vigas Figura 30 - Curva força vs. deslocamento para vigas
com fck 35MPa e εs 1,0‰. com fck 35MPa e εs 0,5‰.
250.00 300.00

250.00
200.00

200.00
150.00
Força (kN)

Força (kN)

150.00
100.00
100.00

50.00
50.00

0.00 0.00

0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 31 - Curva força vs. deslocamento para vigas Figura 32 - Curva força vs. deslocamento para vigas
com fck 50MPa e εs 1,5‰. com fck 50MPa e εs 1,0‰.
400.00 140.00

350.00 120.00
300.00
100.00
250.00
Força (kN)
Força (kN)

80.00
200.00
60.00
150.00
40.00
100.00 fck 20 MPa;
fck 35 MPa;
50.00 20.00 fck 50 MPa.

0.00 0.00

0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00 14.00 0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 33 - Curva força vs. deslocamento para vigas Figura 34 - Curva força vs. deslocamento para vigas
com fck 50MPa e εs 0,5‰. com εs 2,38‰.

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44 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

Tabela 5 - Propriedades gerais das vigas confinadas por meio de estribos circulares.

bw h d Asw,conf. fck εS Ast Confinamento


VIGAS dc s Ø fcc εc εc85
(cm) (cm) (cm) (MPa) (‰) (cm2)
(cm) (cm) (mm) (MPa) (‰) (‰)
VF201512C 10 30 27 7,5 12 5,00 20 1,5 6,53 32,80 8,341 13,26
VF201575C 10 30 27 7,5 7,5 5,00 20 1,5 6,53 38,91 11,37 24,44
VF201530C 10 30 27 7,5 3 5,00 20 1,5 6,53 60,46 22,07 103,9
VF201012C 10 30 27 7,5 12 5,00 20 1,0 10,88 32,80 8,341 13,26
VF201075C 10 30 27 7,5 7,5 5,00 20 1,0 10,88 38,91 11,37 24,44
VF201030C 10 30 27 7,5 3 5,00 20 1,0 10,88 60,46 22,07 103,9
VF200512C 10 30 27 7,5 12 5,00 20 0,5 24,48 32,80 8,341 13,26
VF200575C 10 30 27 7,5 7,5 5,00 20 0,5 24,48 38,91 11,37 24,44
VF200530C 10 30 27 7,5 3 5,00 20 0,5 24,48 60,46 22,07 103,9
VF351512C 10 30 27 7,5 12 5,00 35 1,5 11,42 47,80 6,223 10,86
VF351575C 10 30 27 7,5 7,5 5,00 35 1,5 11,42 53,91 8,143 18,58
VF351530C 10 30 27 7,5 3 5,00 35 1,5 11,42 75,46 14,92 71,48
VF351012C 10 30 27 7,5 12 5,00 35 1,0 19,04 47,80 6,223 10,86
VF351075C 10 30 27 7,5 7,5 5,00 35 1,0 19,04 53,91 8,143 18,58
VF351030C 10 30 27 7,5 3 5,00 35 1,0 19,04 75,46 14,92 71,48
VF350512C 10 30 27 7,5 12 5,00 35 0,5 42,40 47,80 6,223 10,86
VF350575C 10 30 27 7,5 7,5 5,00 35 0,5 42,40 53,91 8,143 18,58
VF350530C 10 30 27 7,5 3 5,00 35 0,5 42,40 75,46 14,92 71,48
VF501512C 10 30 27 7,5 12 5,00 50 1,5 16,32 62,80 5,505 10,04
VF501575C 10 30 27 7,5 7,5 5,00 50 1,5 16,32 68,91 6,979 16,47
VF501530C 10 30 27 7,5 3 5,00 50 1,5 16,32 90,46 12,18 59,08
VF501012C 10 30 27 7,5 12 5,00 50 1,0 27,20 62,80 5,505 10,04
VF501075C 10 30 27 7,5 7,5 5,00 50 1,0 27,20 68,91 6,979 16,47
VF501030C 10 30 27 7,5 3 5,00 50 1,0 27,20 90,46 12,18 59,08
VF500512C 10 30 27 7,5 12 5,00 50 0,5 61,20 62,80 5,505 10,04
VF500575C 10 30 27 7,5 7,5 5,00 50 0,5 61,20 68,91 6,979 16,47
VF500530C 10 30 27 7,5 3 5,00 50 0,5 61,20 90,46 12,18 59,08
VF20 10 30 27 - - - 20 2,38 4,37 - - -
VF35 10 30 27 - - - 35 2,38 8,08 - - -
VF50 10 30 27 - - - 50 2,38 11,54 - - -
Nota: bw, largura da seção transversal; h, altura da seção transversal; d, altura útil da seção
transversal; dc, diâmetro do núcleo de confinamento; fck, resistência característica do concreto
à compressão; εs, deformação na armadura tracionada; s, espaçamento da armadura de
confinamento; Ast, área da armadura longitudinal de tração; Asw,conf, armadura transversal de
confinamento; ø, bitola dos estribos de confinamento; fcc, resistência à compressão do
concreto confinado; εc, deformação do concreto confinado; εc85, deformação do concreto
confinado referente a oitenta e cinco por cento da máxima tensão.

Na Tabela 6 são apresentados os índices de ductilidade das vigas, como


também o aumento da resistência à flexão. Considerando os índices de ductilidade
apresentados nesta tabela, foi realizada uma análise de variância para saber quais
das variáveis envolvidas no problema são relevantes.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 45

Tabela 6 - Propriedades gerais das vigas confinadas por meio de estribos circulares.
Aumento
da
Fmáx εs fck S δc0
VIGAS Resist. IDpré IDpós IDelast
(kN) (‰) (MPa) (cm) (cm)
à Flexão
(%)
VF201512C 75,56* - 1,5 20 12 1,963 0,211 1,030 0,367
VF201575C 77,23 2,12 1,5 20 7,5 1,869 0,235 1,060 0,367
VF201530C 80,60 6,25 1,5 20 3 1,646 0,293 1,118 0,367
VF201012C 111,50* - 1,0 20 12 4,160 0,371 0,980 1,503
VF201075C 115,30 3,29 1,0 20 7,5 2,749 0,422 0,982 1,503
VF201030C 124,54 10,47 1,0 20 3 2,164 0,527 1,188 1,503
VF200512C 123,35* - 0,5 20 12 3,730 0,402 1,075 1,294
VF200575C 149,04 17,24 0,5 20 7,5 5,132 0,486 1,296 1,294
VF200530C 210,91 41,52 0,5 20 3 4,576 0,732 1,899 1,294
VF351512C 131,85* - 1,5 35 12 4,350 0,464 0,907 1,332
VF351575C 136,75 3,58 1,5 35 7,5 6,668 0,483 0,947 1,332
VF351530C 144,94 9,03 1,5 35 3 7,145 0,532 0,952 1,332
VF351012C 169,63* - 1,0 35 12 3,872 0,358 0,811 1,360
VF351075C 189,14 10,32 1,0 35 7,5 4,392 0,401 1,072 1,360
VF351030C 218,70 22,44 1,0 35 3 12,37 0,491 1,261 1,360
VF350512C 176,31* - 0,5 35 12 3,152 0,390 0,696 1,057
VF350575C 203,47 13,35 0,5 35 7,5 4,361 0,437 1,101 1,057
VF350530C 295,05 40,24 0,5 35 3 9,211 0,581 1,551 1,057
VF501512C 183,04* - 1,5 50 12 3,710 0,377 1,054 1,250
VF501575C 189,17 3,24 1,5 50 7,5 5,385 0,390 1,009 1,250
VF501530C 202,19 9,47 1,5 50 3 8,147 0,428 1,089 1,250
VF501012C 220,62* - 1,0 50 12 3,640 0,345 0,746 1,291
VF501075C 250,49 11,92 1,0 50 7,5 4,889 0,375 1,115 1,291
VF501030C 292,44 24,56 1,0 50 3 8,281 0,456 1,308 1,291
VF500512C 229,23* - 0,5 50 12 2,998 0,356 0,922 1,071
VF500575C 257,82 11,09 0,5 50 7,5 4,009 0,388 1,063 1,071
VF500530C 351,79 34,84 0,5 50 3 8,049 0,479 1,447 1,071
Nota: * Valores de referência para a determinação do aumento da resistência à flexão das
vigas com mesma resistência característica à compressão e mesma deformação na armadura
tracionada.

A Tabela 7 apresenta a análise de variância realizada. A avaliação da


influência de cada variável foi feita por meio da análise do fator de influência F0, com
índice de confiabilidade entre 95% a 99%. Com esta análise, foi possível observar que
o confinamento na ductilidade pré-pico tem pouca influência, sendo o fator primordial
a resistência característica do concreto à compressão (fck), seguido da deformação na
armadura tracionada (εs) e o espaçamento entre os estribos de confinamento.
Observa-se também que o acoplamento entre a resistência característica à
compressão do concreto com a deformação na armadura de tração, tem maior
influência que a variável espaçamento.
Para a ductilidade pós-pico, o fator primordial é o espaçamento da armadura
de confinamento, seguido da resistência característica do concreto à compressão.
Este comportamento já era esperado, uma vez que o efeito do confinamento só se
torna preponderante quando a tensão no concreto atinge sua resistência e,
conseqüentemente, o coeficiente de Poisson torna-se 0,5. Nota-se que o índice de
ductilidade ideal pós-pico foi alcançado praticamente em todas as vigas analisadas,

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


46 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

sendo que as vigas VF350512C e VF501012C não alcançaram o índice de ductilidade


ideal, o que salienta a fragilidade das mesmas.

Tabela 7 - Analise fatorial dos índices de ductilidade das vigas confinada por meio de estribos
circulares.
Índice de ductilidade pré-pico
Valores mínimos para
Soma dos Graus de Média dos
Variável F0 o fator F0 ser relevante
quadrados liberdade quadrados
F0,01;n:26 – F0,05;n;26
fck 0,161 2 0,081 16,377* 5,33 – 3,37
εs 0,09985 2 0,05 10,141* 5,33 – 3,37
s 0,061 2 0,031 6,239* 5,33 – 3,37
fck-εs 0,26 4 0,065 13,194 4,11 – 2,74
fck-s 0,013 4 0,00333 1,08 4,11 – 2,74
εs –s 0,021 4 0,00532 0,676 4,11 – 2,74
Erro 0,039 8 0,00492 - -
Total 0,655 26 - - -
Índice de ductilidade pós-pico
Valores mínimos para
Soma dos Graus de Média dos
Variável F0 o fator F0 ser relevante
quadrados liberdade quadrados
F0,01;n:26 – F0,05;n;26
fck 0,327 2 0,164 7,0307* 5,33 – 3,37
εs 0,0421 2 0,021 0,939 5,33 – 3,37
s 0,928 2 0,464 20,729* 5,33 – 3,37
fck-εs 0,159 4 0,04 1,77 4,11 – 2,74
fck-s 0,251 4 0,063 0,2 4,11 – 2,74
εs –s 0,018 4 0,0047 2,808 4,11 – 2,74
Erro 0,179 8 0,022 - -
Total 1,904 26 - - -

Com os dados da Tabela 7 e da Tabela 6, realizou-se uma regressão não-


linear obtendo-se as Eq. (1) e (2) que expressam os índices de ductilidade pré-pico e
pós-pico para vigas superarmadas confinadas com estribos de seção geométrica
circular.
ID pré = 0,95421296 + 0,0105944 ⋅ f ck − 0,660944 ⋅ ε s −
− 0,06746296 ⋅ s + 0,01568889 ⋅ f ck ⋅ ε s + 0,00032426 ⋅ f ck ⋅ s + (1)
+ 0,01714815 ⋅ ε s ⋅ s − 0,00038519 ⋅ f − 0,086 ⋅ ε + 0,00158848 ⋅ s
2
ck
2
s
2

ID pós = 2,048 − 0,029 ⋅ f ck + 3,309 ⋅10 −4 ⋅ s ⋅ f ck + 7,956 ⋅10 −4 ⋅ s 2 +


(2)
+ 3,309 ⋅10 −4 ⋅ f ck

Sendo, fck, s, e εs expressos em MPa, cm e ‰, respectivamente. Os


coeficientes de correlação R2, para as regressões dos índices de ductilidade pré-pico
e pós-pico foram de 78% e 58%, respectivamente.

4.2 Vigas confinadas por meio de estribos quadrados

Neste item foram analisadas as vigas confinadas por meio de estribos


quadrados que foram colocados na região de compressão da seção transversal da

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 47

viga. Na Tabela 8 são apresentadas as propriedades gerais das vigas em estudo. O


seu detalhamento é apresentado na Figura 24a. Nas Figuras 35 a 43 são
apresentadas curvas força vs. deslocamento, onde é possível observar o aumento da
ductilidade e o aumento da capacidade resistente à flexão das vigas, conseqüências
do o aumento da taxa de armadura transversal de confinamento. Na Figura 44 são
apresentadas curvas força vs. deslocamento de vigas projetadas de maneira
convencional, ou seja, sem armadura de confinamento, onde é possível observar o
comportamento frágil destas.

Tabela 8 - Propriedades gerais das vigas confinadas por meio de estribos retangulares.

bw h d Asw,conf. fck εS Ast Confinamento


VIGAS h =d s ø fcc εc εc85
(cm) (cm) (cm) c c (MPa) (‰) (cm2)
(cm) (cm) (mm) (Mpa) (‰) (‰)
VF201512R 10 30 27 7,5 12 5,00 20 1,5 6,53 22,56 3,258 7,496
VF201575R 10 30 27 7,5 7,5 5,00 20 1,5 6,53 23,79 3,865 10,82
VF201530R 10 30 27 7,5 3 5,00 20 1,5 6,53 25,30 4,617 16,37
VF201012R 10 30 27 7,5 12 5,00 20 1,0 10,88 22,56 3,258 7,496
VF201075R 10 30 27 7,5 7,5 5,00 20 1,0 10,88 23,79 3,865 10,82
VF201030R 10 30 27 7,5 3 5,00 20 1,0 10,88 25,30 4,617 16,37
VF200512R 10 30 27 7,5 12 5,00 20 0,5 24,48 22,56 3,258 7,496
VF200575R 10 30 27 7,5 7,5 5,00 20 0,5 24,48 23,79 3,865 10,82
VF200530R 10 30 27 7,5 3 5,00 20 0,5 24,48 25,30 4,617 16,37
VF351512R 10 30 27 7,5 12 5,00 35 1,5 11,42 37,56 3,005 7,209
VF351575R 10 30 27 7,5 7,5 5,00 35 1,5 11,42 38,79 3,980 9,953
VF351530R 10 30 27 7,5 3 5,00 35 1,5 11,42 43,10 4,746 25,34
VF351012R 10 30 27 7,5 12 5,00 35 1,0 19,04 37,56 3,005 7,209
VF351075R 10 30 27 7,5 7,5 5,00 35 1,0 19,04 38,79 3,980 9,953
VF351030R 10 30 27 7,5 3 5,00 35 1,0 19,04 43,10 4,746 25,34
VF350512R 10 30 27 7,5 12 5,00 35 0,5 42,40 37,56 3,005 7,209
VF350575R 10 30 27 7,5 7,5 5,00 35 0,5 42,40 38,79 3,980 9,953
VF350530R 10 30 27 7,5 3 5,00 35 0,5 42,40 43,10 4,746 25,34
VF501512R 10 30 27 7,5 12 5,00 50 1,5 16,32 52,56 3,033 7,241
VF501575R 10 30 27 7,5 7,5 5,00 50 1,5 16,32 53,78 3,328 9,842
VF501530R 10 30 27 7,5 3 5,00 50 1,5 16,32 58,10 4,371 23,63
VF501012R 10 30 27 7,5 12 5,00 50 1,0 27,20 52,56 3,033 7,241
VF501075R 10 30 27 7,5 7,5 5,00 50 1,0 27,20 53,78 3,328 9,842
VF501030R 10 30 27 7,5 3 5,00 50 1,0 27,20 58,10 4,371 23,63
VF500512R 10 30 27 7,5 12 5,00 50 0,5 61,20 52,56 3,033 7,241
VF500575R 10 30 27 7,5 7,5 5,00 50 0,5 61,20 53,78 3,328 9,842
VF500530R 10 30 27 7,5 3 5,00 50 0,5 61,20 58,10 4,371 23,63
VF20 10 30 27 - - - 20 2,38 4,37 - - -
VF35 10 30 27 - - - 35 2,38 8,08 - - -
VF50 10 30 27 - - - 50 2,38 11,54 - - -
Nota: bw, largura da seção transversal; h, altura da seção transversal; d, altura útil da seção
transversal; b’, largura do núcleo de confinamento; h’, altura do núcleo de confinamento; fck,
resistência característica do concreto à compressão; εs, deformação na armadura tracionada; s,
espaçamento da armadura de confinamento; Ast, área da armadura longitudinal de tração;
Asw,conf, armadura transversal de confinamento; ø, bitola dos estribos de confinamento; fcc,
resistência à compressão do concreto confinado; εc, deformação do concreto confinado; εc85,
deformação do concreto confinado referente a oitenta e cinco por cento da máxima tensão.

Na Tabela 9, são apresentados os índices de ductilidade pré-pico (IDpré) e


pós-pico (IDpós) das vigas.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


48 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

80.00 100.00

80.00
60.00

60.00
Força (kN)

Força (kN)
40.00
40.00

20.00 Esp. 12,0cm


Esp. 7,5cm 20.00
Esp. 3,0cm

0.00 0.00

0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 35 - Curva força vs. deslocamento para Figura 36 - Curva força vs. deslocamento para
vigas com fck 20MPa e εs 1,5‰. vigas com fck 20MPa e εs 1,0‰.
100.00 160.00

80.00
120.00

60.00
Força (kN)

Força (kN) 80.00


40.00

40.00
20.00

0.00 0.00

0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 37 - Curva força vs. deslocamento para Figura 38 - Curva força vs. deslocamento para
vigas com fck 20MPa e εs 0,5‰. vigas com fck 35MPa e εs 1,5‰.
250.00 200.00

200.00
150.00

150.00
Força (kN)
Força (kN)

100.00
100.00

50.00
50.00

0.00 0.00

0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 39 - Curva força vs. deslocamento para Figura 40 - Curva força vs. deslocamento para
vigas com fck 35MPa e εs 1,0‰. vigas com fck 35MPa e εs 0,5‰.
200.00 250.00

160.00 200.00

120.00 150.00
Força (kN)

Força (kN)

80.00 100.00

40.00 50.00

0.00 0.00

0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 41 - Curva força vs. deslocamento para Figura 42 - Curva força vs. deslocamento para
vigas com fck 50MPa e εs 1,5‰. vigas com fck 50MPa e εs 1,0‰.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 49

250.00 140.00

120.00
200.00
100.00
150.00
Força (kN)

Força (kN)
80.00

100.00 60.00

40.00
fck 20 MPa;
50.00 fck 35 MPa;
20.00 fck 50 MPa.

0.00 0.00

0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50
Deslocamento (cm) Deslocamento (cm)

Figura 43 - Curva força vs. deslocamento para Figura 44 - Curva força vs. deslocamento para vigas
vigas com fck 50MPa e εs 0,5‰. com εs 2,38‰.

Tabela 9 - Índice de ductilidade das vigas confinadas por meio de estribos circulares.
Aumento
da
Fmáx εs fck s δc0
VIGAS Resist. IDpré IDpós IDelast
(kN) (‰) (MPa) (cm) (cm)
à Flexão
(%)
VF201512R 70,65* - 1,5 20 12 2,304 0,231 0,903 0,908
VF201575R 72,21 2,16 1,5 20 7,5 2,926 0,237 1,007 0,908
VF201530R 73,89 4,39 1,5 20 3 3,805 0,246 1,023 0,908
VF201012R 78,97* - 1,0 20 12 2,749 0,445 0,700 0,757
VF201075R 85,53 8,18 1,0 20 7,5 3,388 0,468 0,978 0,757
VF201030R 93,13 15,21 1,0 20 3 4,228 0,474 1.151 0,757
VF200512R 82,65* - 0,5 20 12 2,121 0,434 0,943 0,640
VF200575R 88,76 6,88 0,5 20 7,5 2,592 0,455 1,033 0,640
VF200530R 95,94 13,85 0,5 20 3 3,246 0,476 1,149 0,640
VF351512R 120,48* - 1,5 35 12 2,539 0,259 0,946 0,953
VF351575R 122,69 1,80 1,5 35 7,5 2,592 0,263 0,982 0,953
VF351530R 128,22 6,03 1,5 35 3 4,565 0,273 1,069 0,953
VF351012R 130,15* - 1,0 35 12 2,732 0,375 0,860 0,914
VF351075R 138,01 5,69 1,0 35 7,5 3,249 0,389 0,940 0,914
VF351030R 208,59 37,61 1,0 35 3 8,301 0,417 1,373 0,914
VF350512R 129,13* - 0,5 35 12 2,096 0,364 0,943 0,751
VF350575R 143,08 9,75 0,5 35 7,5 2,524 0,404 1,089 0,751
VF350530R 165,01 21,74 0,5 35 3 4,005 0,430 1,257 0,751
VF501512R 169,92* - 1,5 50 12 2,713 0,222 0,961 1,130
VF501575R 172,89 1,72 1,5 50 7,5 2,640 0,226 0,971 1,130
VF501530R 179,33 5,25 1,5 50 3 4,083 0,230 1,046 1,130
VF501012R 181,20* - 1,0 50 12 2,770 0,318 0,705 1,063
VF501075R 190,46 4,86 1,0 50 7,5 3,256 0,327 0,923 1,063
VF501030R 219,81 17,57 1,0 50 3 4,981 0,338 0,954 1,063
VF500512R 189,03 - 0,5 50 12 2,189 0,296 0,875 0,901
VF500575R 197,30 4,19 0,5 50 7,5 2,564 0,302 1,023 0,901
VF500530R 221,48 14,65 0,5 50 3 3,898 0,316 1,157 0,901

Com os dados da Tabela 9 fez-se uma análise de variância sendo possível


verificar que, para o índice de ductilidade pré-pico, a variável mais relevante é a
resistência característica à compressão do concreto seguido da deformação na
armadura tracionada. Para o índice de ductilidade pós-pico, todas as variáveis

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


50 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

envolvidas tiveram influência relevante. Esses dados podem ser observados na Tabela
10, por meio do fator de influência F0.
Com os dados obtidos a partir da análise de variância e utilizando os índices
de ductilidade pré-pico e pós-pico dados na Tabela 10 fez-se uma regressão não
linear, no qual foram obtidas expressões que exprimem esses índices. Contudo é
possível afirmar que o índice de ductilidade pré-pico é função da resistência
característica do concreto à compressão e também da armadura de tração, enquanto
que o índice de ductilidade pós-pico, é função de todas as variáveis envolvidas. Os
índices de ductilidade pré-pico e pós-pico, para as vigas confinadas por meio de
estribos quadrados, podem ser expressão pelas Eq. (3) e (4).

Tabela 10 - Análise fatorial dos índices de ductilidade das vigas confinadas por meio de
estribos quadrados.
Índice de ductilidade pré-pico
Valores mínimos para
Soma dos Graus de Média dos
Variável F0 o fator F0 ser relevante
quadrados liberdade quadrados
F0,01;n:26 – F0,05;n;26
fck 0,131 2 0,065 1650* 5,33 – 3,37
εs 0,04585 2 0,023 578,615* 5,33 – 3,37
s 0,003641 2 0,00182 45,948* 5,33 – 3,37
fck-εs 0,018 4 0,004603 116,172* 4,11 – 2,74
fck-s 0,000705 4 0,0001761 2,996 4,11 – 2,74
εs –s 0,000475 4 0,000119 4,446* 4,11 – 2,74
Erro 0,000317 8 0,0003962 - -
Total 0,2007 26 - - -
Índice de ductilidade pós-pico
Valores mínimos para
Soma dos Graus de Média dos
Variável F0 o fator F0 ser relevante
quadrados liberdade quadrados
F0,01;n:26 – F0,05;n;26
fck 0,045 2 0,022 6,626* 5,33 – 3,37
εs 0,041241 2 0,021 5,208* 5,33 – 3,37
s 0,302 2 0,153 38,548* 5,33 – 3,37
fck-εs 0,028 4 0,00696 1,757 4,11 – 2,74
fck-s 0,065 4 0,016 1,369 4,11 – 2,74
εs –s 0,022 4 0,00542 4,13* 4,11 – 2,74
Erro 0,032 8 0,00396 - -
Total 0,538 26 - - -

ID pré = 0,315 + 1,188 ⋅10 −3 ⋅ f ck + 0,415 ⋅ ε s + 4,074 ⋅10 −3 ⋅ f ck ⋅ ε s −


(3)
− 0,349 ⋅ ε s2 − 1,213 ⋅10 −4 ⋅ f ck2
ID pós = 1,40412037 + 0,02069815 ⋅ f ck − 0,7760556 ⋅ ε s − 0,0585 ⋅ s +
+ 0,0012778 ⋅ f ck ⋅ ε s + 0,00019877 ⋅ f ck ⋅ s + 0,01755556 ⋅ ε s ⋅ s − (4)
− 0,00034963 ⋅ f + 0,26866667 ⋅ ε + 0,00033745 ⋅ s
2
ck
2
s
2

Sendo, fck, s, e εs expressos em MPa, cm e %, respectivamente. Os


coeficientes de correlação para as regressões dos índices de ductilidade pré-pico e

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 51

pós-pico foram de 95% e 77%, notando-se que, mesmo desprezando algumas


variáveis, os coeficientes de correlação apresentam valores satisfatórios.

5 ANÁLISE EXPERIMENTAL

A definição dos modelos de vigas de concreto armado dependeu de


parâmetros como a resistência à compressão do concreto, dimensões das vigas, a
categoria, diâmetro nominal e detalhamento das barras de aço das armaduras. Por
meio da revisão bibliográfica necessária para o desenvolvimento desta pesquisa,
constatou-se que armadura de confinamento somente torna-se interessante em vigas
superarmadas, onde existe risco de ruptura brusca do elemento estrutural por conta do
esmagamento do concreto na região de compressão da seção transversal da viga.
Utilizando-se, também, dados fornecidos pela análise numérica do item 4,
observou-se que o fator de maior relevância para o estudo de vigas de concreto
armado projetadas com armadura de confinamento é a taxa de armadura transversal
de confinamento. Dessa maneira, elaborou-se um programa experimental, no qual
foram ensaiadas quatro vigas superarmadas, estando estas com deformações
relativas ao limite dos domínios 3 e 4, tendo, como variável de estudo, o espaçamento
entre eixos dos estribos destinados ao confinamento das vigas. Umas das vigas
ensaiadas foi de referência, ou seja, projetada sem armadura de confinamento. As
vigas projetadas com armadura de confinamento são da série VC (Vigas Confinadas),
enquanto que a viga projetada de maneira convencional é da série VS (Viga Simples).
Todas as vigas possuíam seção transversal de 15 cm de largura por 30 cm
de altura, comprimento de 305 cm e vão efetivo de 285 cm.
Na Figura 34 apresenta-se a seção transversal e o esquema estático das
vigas ensaiadas. Optou-se pelo esquema estático de vigas apoiadas pela facilidade de
execução dos ensaios no laboratório, pois o esquema estático da viga não era fator
preponderante na análise da ductilidade, sendo necessários, para a análise, valores
de momentos fletores e deslocamentos verticais medidos no meio do vão.
30 cm

F/2 F/2

15 cm
78,75 cm

285,00 cm

Figura 35 - Esquema estático, ações e seção transversal das vigas ensaiadas.

As vigas ensaiadas foram projetadas com deformação do concreto


comprimido igual εc = 3,5‰, deformação na armadura de tração igual a εy = 3,87‰ e
resistência média à compressão do concreto de 25MPa. Para o dimensionamento das
vigas respeitou-se as hipóteses básicas recomendadas pela NBR 6118:2003.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


52 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

Contudo, as áreas das barras da armadura de tração calculadas para as


vigas foram de 8,80cm2 (2ø20,0mm e 2ø12,5mm), enquanto que a área das barras da
armadura de compressão foi de 0,63cm2 (2ø6,3mm), sendo as taxas de armadura de
tração e compressão iguais a ρ = 1,96% e ρ’ = 0,14%, respectivamente. Essas áreas
de armaduras respeitam o limite estipulado pela NBR 6118:2003, que é igual a 4% de
Ac, sendo, Ac a área bruta da seção transversal da viga.
As armaduras transversais foram dimensionadas seguindo as
recomendações da NBR 6118:2003, relativas ao modelo I, na qual se admite que as
diagonais de compressão sejam inclinadas de θ = 45º em relação ao eixo longitudinal
da viga, e Vc (que é a parcela da força cortante resistida por mecanismos
complementares ao modelo de treliça) é suposta de valor constante. Foram adotados
estribos fechados de dois ramos, com diâmetro de 8mm, espaçados a cada 7 cm.
Para os estribos destinados ao confinamento foi adotado diâmetro de 5 mm e
espaçamentos entre estribos de 5 cm, 10 cm e 15 cm que foram posicionados na
região de compressão da seção transversal (acima da linha neutra), onde existiam
apenas tensões de compressão. Isso foi feito para evitar que os estribos absorvessem
tensões de tração, aumentando, deste modo, a eficiência do confinamento.
A ancoragem dos estribos foi garantida por meio de ganchos com ângulo de
45º e com comprimento igual a 10φt.
Na Figura 36 são mostrados os detalhes das barras das armaduras das vigas
ensaiadas.
Para o ensaio das vigas foi utilizado um atuador hidráulico servo-controlado
e computadorizado (marca Instron, modelo: A1891Y-1001), que permitiu a realização
de ensaios estáticos com força nominal máxima de 639kN, tendo curso máximo do
pistão de 150mm. O sistema de aquisição dos valores de força, deformações e
deslocamentos que foram fornecidos, respectivamente, pelo atuador servo-controlado,
transdutores e extensômetros, foi o SYSTEM 5000, da Measurements Group.
Um dos objetivos dos ensaios era analisar a ductilidade das vigas. Para isso,
fez-se necessário conhecer o comportamento do trecho descendente da curva força
vs. deslocamento. Isso só foi possível com a utilização do atuador servo-controlado,
onde, no pistão, foram aplicados deslocamentos ao invés de força. A velocidade de
carregamento para todas as vigas ensaiadas foi de 0,010 mm/s até o surgimento da
primeira fissura. Depois da sua ocorrência, a velocidade aumentou para 0,020mm/s,
seguindo com essa velocidade até o final do ensaio.
Fez-se necessária a utilização de uma viga metálica colocada sobre as vigas,
para que se obtivessem dois pontos de aplicação de força (Figura 37). A viga metálica
era constituída por dois perfis I laminados de 10”, com espessura da alma de 7,9mm,
podendo suportar uma força de 300kN aplicada no meio do vão. O aço do perfil é o A-
36, com resistência ao escoamento de 250MPa. A viga metálica era apoiada sobre
placas de aço de 150mm x 100 x 15mm, tendo vão teórico de 127,5cm.
As dimensões em planta do aparelho de apoio eram de 150mm x 100mm.
Essas dimensões foram escolhidas para evitar esmagamento do concreto na região de
contato do aparelho de apoio com a viga. Esse mesmo procedimento foi adotado para
as placas de aço utilizadas nos dois pontos de aplicação de força. Para uma melhor
distribuição de tensões na viga junto aos dois pontos de aplicação de força, colocou-se
areia úmida embaixo de cada placa, com espessura média da areia de 5mm.
Na Tabela 11 são apresentadas as propriedades gerais das vigas.

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Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 53

Tabela 11 - Propriedades gerais das vigas ensaiadas.

bw h d Asw,conf. fc εS Ec Confinamento
VIGAS hc s ø fcc εc εc85
(cm) (cm) (cm) (MPa) (‰) (GPa)
(cm) (cm) (mm) (MPa) (‰) (‰)
VC-01 15 30 27 10,5 15 5 23,47 3,87 26,7 25,23 3,258 7,496
VC-02 15 30 27 10,5 10 5 26,01 3,87 27,2 28,45 3,865 10,82
VC-03 15 30 27 10,5 5 5 26,96 3,87 28,2 30,36 4,617 16,37
VS-01 15 30 27 - - - 31,32 3,87 32,3 - - -

N4 - 2 ø6,3mm (299)

11

N5 - 2 ø6,3mm (184)
N4

26
30
N6
N2 - 11 ø5,0mm c/15cm

2
A B
N3
2
N1 - 32 ø 8,0mm

2
15
c/ 7cm (84cm)

A B Seção A-A

N1 - 16 ø8,0mm c/7cm N1 - 16 ø8,0mm c/7cm

N4

N6 - 2 ø12,5mm (296) N5

10,50
5
30
N6
10,50
N3
N3 - 2 ø20,0mm (341) N2 - 11 ø 5,0mm
15
c/ 15cm (52cm)

Seção B-B

Vista Longitudinal

Viga VC- 03.

N4 - 2 ø6,3mm (299)

11

N5 - 2 ø6,3mm (184)
N4
2

26
30

N6
N2 - 17 ø5,0mm c/10cm
2

A B
N3
2
N1 - 32 ø 8,0mm
2

15
c/ 7cm (84cm)

Seção A-A
A B

N1 - 16 ø8,0mm c/7cm N1 - 16 ø8,0mm c/7cm


N6 - 2 ø12,5mm (296) N4

N5
10,50
5
30

N6
N3 - 2 ø20,0mm (341) 10,50
N3
N2 - 17 ø 5,0mm
15
c/ 10cm (52cm)

Seção B-B

Vista Longitudinal

Viga VC-02

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54 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

N4 - 2 ø6,3mm (299)

11
N5 - 5 ø6,3mm (184)
N4

5
30

26
N6
N2 - 31 ø5,0mm c/5,0cm

2
A B
N3
2
N1 - 36 ø 8,0mm

2
15
c/ 7cm (84cm)

Seção A-A
A B

N1 - 16 ø8,0mm c/7cm N1 - 16 ø8,0mm c/7cm


N6 - 2 ø12,5mm (296) N4

N5

10,50
5
30
N6
N3 - 2 ø20,0mm (341) 10,50
N3
N2 - 31 ø 5,0mm
15
c/ 5,0cm (52cm)

Seção B-B

Vista Longitudinal

Viga VC-03
11

N4 - 2 ø6,3mm (299) N4
2

26
30

N6
2

A B
N3
2
N1 - 36 ø 8,0mm
2

15
c/ 7cm (84cm)

Seção A-A
A B

N1 - 16 ø8,0mm c/7cm N1 - 16 ø8,0mm c/7cm


N6 - 2 ø12,5mm (296) N4
30

N6

N3 - 2 ø20,0mm (341)
N3
15

Seção B-B

Vista Longitudinal

Viga VS-01

Figura 36 - Detalhamento das armaduras das vigas ensaiadas.

Atuador
Servo-Controlado

Atuador
Perfil Metálico Servo-controlado Pórtico Metálico Pórtico Metálico Pórtico Metálico
F
Viga
Perfil Metálico

F/2 F/2
Viga

R1 R2 R3 R4 R5

Figura 37 - Esquema de ensaio das vigas.

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Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 55

Nas Figuras 38 e 39, pode-se observar o aumento da ductilidade com o


aumento da taxa volumétrica de armadura transversal de confinamento, ou seja, o
índice de ductilidade aumenta com a diminuição do espaçamento entre estribos, pois,
a taxa volumétrica de armadura transversal de confinamento é inversamente
proporcional ao espaçamento entre estribos destinados ao confinamento. Para a viga
não confinada, viga VS-01, a taxa volumétrica da armadura de confinamento é igual a
zero, o que leva o espaçamento entre estribos tender ao infinito. O aumento do índice
de ductilidade pós-pico, com o aumento da taxa de armadura transversal de
confinamento, pode ser constato na Tabela 12 na qual são apresentados os índices de
ductilidade de cada viga ensaiada.
Nas Figuras 39 e 40 também é possível verificar que não houve aumento da
capacidade resistente à flexão das vigas confinadas em relação à viga não confinada,
ou seja, não foi observado aumento significativo da capacidade à flexão das vigas com
o aumento da taxa volumétrica de armadura de confinamento.

Tabela 12 - Índice de ductilidade das vigas ensaiadas.

Fmáx fc s ρsw,conf δc0


Vigas IDpré IDpós IDelast.
(kN) (MPa) (cm) (%) (cm)

VS-01 266,75 31,32 ∞ 0 2,869 0,285 0 0,371

VC-01 259,01 23,47 15 1,057 2,974 0,312 0,651 0,347

VC-02 252,36 26,01 10 1,585 2,757 0,24 0,721 0,365

VC-03 267,61 26,96 5 3,17 2,858 0,235 0,878 0,396

300.00 150.00

250.00 125.00

200.00 100.00
Força total (kN)

F/2 (kN)

150.00 75.00

100.00 50.00
Viga VC-01
Viga VC-02
50.00 Viga VC-03 25.00
Viga VS-01
0.00 0.00
0.00 15.00 30.00 45.00 60.00 75.00 90.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00 50.00 60.00
Deslocamento no meio do vão (mm) Deslocamento no ponto de aplicação de carga (mm)

Figura 38 - Curva força total vs. deslocamento Figura 39 - Curva força no ponto de aplicação
no meio do vão. de carga vs. deslocamento no ponto de
aplicação de carga.

As Figuras 40 e 41 ilustram as variações das relações IDpós vs. ρsw,conf e IDpós


vs. s das vigas VC-01, VC-02, VC-03 e VS-01. A primeira relação foi obtida mediante
regressão não linear dos valores experimentais, enquanto que a segunda relação foi
obtida por meio de regressão linear dos mesmos valores.
Nas curvas das Figuras 40 e 41 verifica-se, com mais clareza, o aumento do
índice de ductilidade pós-pico com o aumento da taxa volumétrica da armadura
transversal de confinamento e com a diminuição dos espaçamentos entre estribos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


56 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

destinados ao confinamento. Utilizando os valores da Tabela 12, fez-se uma regressão


não linear obtendo-se uma equação que exprime o índice de ductilidade pós-pico. O
coeficiente de correlação R2 obtido a partir da regressão não linear foi de 98,61%. A
equação 5 mostra o índice de ductilidade pós-pico obtido com os valores
experimentais.
ID pós = 0,0128129 + 0,689329 ⋅ ρ sw,conf − 0,132591 ⋅ ρ sw
2
,conf (5)

sendo que, ρsw,conf é a taxa volumétrica de armadura transversal de


confinamento, expressa em %.
Todos os valores dos índices de ductilidade das vigas ensaiadas, não
atingiram o índice de ductilidade ideal dado no item 4, sendo o índice de ductilidade
ideal pós-pico igual a 0,905 (IDpós,ideal = 0,905), porém, a viga VC-03 com maior taxa
volumétrica de armadura de confinamento teve índice de ductilidade pós-pico igual a
0,878, muito próximo ao índice de ductilidade ideal, podendo ser considerada dúctil.
Da análise do índice de ductilidade pré-pico, IDpré, conclui-se que os
resultados variaram de forma aleatória não dependendo da taxa volumétrica da
armadura transversal de confinamento. Isso já era esperado, pois, segundo a análise
numérica desenvolvida no item 4, o fator preponderante do índice de ductilidade pré-
pico, para vigas confinadas por meio de estribos quadrados, é a resistência à
compressão do concreto, seguida da deformação da armadura de tração e, por último,
o espaçamento entre estribos de confinamento.
Segundo a metodologia de LIMA JÚNIOR & GIONGO (2001), para uma viga
hipotética com comportamento elasto-plástico perfeito, o índice de ductilidade pré-pico
seria igual a 0,5, enquanto que o índice de ductilidade pós-pico seria igual a 1.
Observando a Figura 40, nota-se que o índice de ductilidade pós-pico tende ao valor
da unidade atendendo, dessa forma, a metodologia desenvolvida pelos pesquisadores
citados.

1.00 1.00
0.95
Valores experimentais
0.80
Índice de ductilidade pós-pico

0.90
Índice de ductilidade pós-pico

Regressão linear
0.85
0.60 0.80
0.75
0.40 0.70
0.65
Valores experimentais
0.20 0.60
Polinômio do 2º grau
0.55
0.00 0.50

0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 0.00 2.50 5.00 7.50 10.00 12.50 15.00 17.50 20.00
Taxa volumétrica da armadura transversal - (%) Espaçamento entre estribos (cm)

Figura 40 - Relação IDpós vs. ρsw,conf das vigas Figura 41 - Relação IDpós vs. s das vigas
ensaiadas. ensaiadas.

Além da influência que a taxa volumétrica da armadura transversal de


confinamento exerce na ductilidade do elemento estrutural, como foi mostrado
anteriormente, essa também tem influência direta na resistência à compressão do
concreto confinado, ou seja, quanto maior a taxa volumétrica da armadura transversal
de confinamento, maior é a resistência à compressão do concreto confinado.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


Análise teórica e experimental de vigas de concreto armado com armadura de confinamento 57

Por meio dos ensaios das vigas VC-01, VC-02, VC-03 e VS-01, foi possível
observar esse comportamento. Na Figura 42 pôde-se verificar a influência da taxa
volumétrica da armadura transversal de confinamento na resistência à compressão do
concreto confinado. Realizando uma regressão não linear da curva da Figura 42,
obteve-se uma expressão que representa a resistência à compressão do concreto
confinado em função da resistência do concreto não confinado e da taxa volumétrica
da armadura transversal de confinamento. As relações entre as resistências do
concreto confinado e a resistência do concreto não confinado utilizadas para descrever
a curva da Figura 42, foram obtidas por meio da média aritmética das resistências à
compressão do concreto confinado de cada camada do núcleo de confinamento em
relação à resistência à compressão do concreto não confinado.

1.14

1.12

1.10

1.08
fcc/fc

1.06 ⎛1 + 0,773743 ⋅ ρ sw,conf − ⎞


f cc = f c ⋅ ⎜ ⎟ (6)
1.04
Valores experimentais ⎜ − 0,0116403 ⋅ ρ 2 ⎟
1.02 Polinômio do 2º grau ⎝ sw,conf ⎠
1.00

0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50


Taxa volumétrica da armadura transversal de confinamento (%)

Figura 42 - Curva fcc/fc vs. ρsw,conf.

O coeficiente de correlação R2 da equação 6 vale 99%, e as resistências à


compressão do concreto confinado e não confinando são expressos em megapascals.

6 CONCLUSÕES

Os resultados do modelo numérico mostraram-se coerentes quando


comparados com os resultados dos modelos experimentais, apresentando boa
aproximação.
Em relação à ductilidade das vigas, observou-se que, com o aumento da taxa
volumétrica da armadura transversal de confinamento, houve aumento do índice de
ductilidade pós-pico. O critério de avaliação da ductilidade proposto por LIMA JÚNIOR
& GIONGO (2001), deu uma idéia razoável a respeito da ductilidade, apresentada
pelas vigas. Assim demonstrou que no pós-pico, o comportamento dos elementos
estruturais tendeu para o modelo plástico-perfeito.
A análise do índice de ductilidade pré-pico, IDpré, mostrou que os resultados
desses índices variaram de forma aleatória, não dependendo, portanto, da taxa
volumétrica da armadura transversal de confinamento. Isso já era esperado, pois, com
base nos resultados da análise numérica desenvolvida no item 4, nota-se que para
vigas confinadas por meio de estribos quadrados, os fatores que influem neste índice
são: a resistência à compressão do concreto seguido da deformação na armadura de
tração e, por último, a taxa volumétrica de armadura transversal de confinamento,
podendo essa variável ser desprezada.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 33-58, 2007


58 Rodrigo Gustavo Delalibera & José Samuel Giongo

A armadura de confinamento, além de aumentar a ductilidade dos elementos


estruturais, também aumenta a resistência à compressão do concreto do interior do
núcleo de confinamento, sendo este aumento, proporcional ao aumento da taxa
volumétrica de armadura de confinamento.
O aumento da resistência à compressão do concreto do núcleo de
confinamento foi em média de 13%. Esse aumento não foi suficiente para aumentar à
capacidade resistente à flexão das vigas.
A resistência à compressão do concreto do núcleo de confinamento diminui
com a proximidade da linha neutra. Isso acontece, pois, as pressões laterais efetivas
de confinamento, também diminuem com a proximidade da linha neutra.

7 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2004). NBR 6118:2003 –


Projeto de Estruturas de Concreto. Rio de Janeiro, ABNT.

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DELALIBERA, R. G. (2002). Análise teórica e experimental de vigas de concreto


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ISSN 1809-5860

ANÁLISE DA INTERAÇÃO ESTACA-SOLO VIA


COMBINAÇÃO DO MÉTODO DOS ELEMENTOS
FINITOS COM O MÉTODO DOS ELEMENTOS DE
CONTORNO
Rubens Fernandes de Matos Filho1 & João Batista de Paiva2

Resumo
Neste trabalho apresenta-se uma combinação de formulações numéricas para a análise
da interação estaca-solo com ou sem blocos de capeamento rígido, sujeita à carga
horizontal e vertical. Nestas formulações as estacas são representadas pelo método das
diferenças finitas (MDF) ou pelo método dos elementos finitos (MEF) e o solo é
representado pelo método dos elementos de contorno (MEC). Na utilização do MEF,
para a análise das estacas, os deslocamentos e as forças de interação foram
representados por várias funções polinomiais chegando-se a um elemento finito final
considerado eficiente e constituído por quatro pontos nodais, 14 parâmetros nodais,
sendo quatro para deslocamentos lineares em cada uma das direções (X1, X2 e X3) e
mais dois parâmetros referentes as rotações do topo da estaca em torno dos eixos X1 e
X2. Os deslocamentos transversais ao longo da estaca foram representados por uma
função polinomial do 4o grau e os deslocamentos axiais foram representados por uma
função cúbica. Para as forças da interface nas direções X1 e X2 são utilizados funções
polinomiais cúbicas. As forças de superfície cisalhantes que ocorrem ao longo do fuste
da estaca são representadas por um polinômio quadrático e a tensão normal à seção da
extremidade inferior da estaca é suposta constante. O maciço de solos é modelado pelo
MEC como um meio contínuo, elástico-linear, semi-infinito, isótropo e homogêneo.
Combinando-se estes métodos de análise, obtém-se um sistema de equações lineares
representando o problema de interação estaca-solo. Após a resolução deste sistema,
são obtidos os deslocamentos e rotações nos nós do elemento e as tensões de contato
estaca-solo. Vários exemplos envolvendo as formulações propostas são analisados e os
resultados obtidos são concordantes com os de outros autores.

Palavras-chave: método dos elementos de contorno; método dos elementos finitos;


método das diferenças finitas; interação estaca-solo; estacas flexíveis.

1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP
2
Professor Associado do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, paiva@sc.usp.br

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60 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

1 INTRODUÇÃO

A interação solo-estrutura é atualmente um dos problemas que tem recebido


especial atenção de pesquisadores nos mais diversos centros de pesquisa,
principalmente por suas aplicações de caráter prático.
Em um sistema de fundação composto por estacas, o critério para projeto na
maioria dos casos não determina a capacidade de carga última da estaca, mas sim o
máximo deslocamento da mesma. O projeto exige a verificação do estado limite último,
mas o critério determinante do dimensionamento é a verificação do estado limite de
utilização.
As estacas de um sistema de fundação são freqüentemente submetidas a altas
forças horizontais, como por exemplo, em estacas-pranchas, de fundações de pontes, de
edifícios altos, de estruturas “off-shore”, de torres de transmissão de energia, de muros
de arrimo entre outras.
Forças essas, que podem ser causadas pelo vento, ondas marítimas, empuxo de
terra e em alguns casos, atuam simultaneamente, como nos pilares de pontes que são
solicitados, pela ação do vento, pelo fluxo da água e pela frenagem dos veículos sobre o
tabuleiro (Cintra, 1983).
Em regiões sujeitas a sismos, segundo Broms (1964a), as estacas devem ter a
capacidade de resistir a uma força lateral equivalente a 10% da carga axial aplicada.
A estaca tem a função de suportar carregamentos transversais como:
• Elemento ativo quando as cargas são provenientes de ações que agem sobre
a estrutura chegando a fundação através da ligação superestrutura-fundação (esforços
solicitantes na seção de ligação);
• Elemento passivo quando as cargas são aplicadas sobre o maciço de solos ou
sejam transmitidas através do maciço de solos (sobrecargas verticais, sismo ou estacas
de reforço de taludes).
Portanto são muitos os problemas que necessitam do cálculo de estacas
submetidas a esforços horizontais.
O maciço de solos tem sido alvo de inúmeras pesquisas, já que cumpre um papel
importante na concepção e na definição final em projetos de engenharia civil e áreas
correlatas.
Um dos parâmetros relevantes do solo a ser determinado é o recalque devido ao
carregamento da estrutura.
Dentre os vários modelos existentes na literatura para a idealização do maciço de
solos, podem-se aludir a três clássicos: modelo de Winkler, modelo de dois parâmetros
e modelo de meio contínuo. Vários trabalhos foram publicados em que o modelo de
Winkler foi usado para modelar a interação solo-estrutura: BOLTON (1972),
CHILTON & WEKEVER (1990), CALDERÓN (1991), MANZOLI (1992), YUAN &
WANG (1991).
BADIE & SALMON (1996) apresentam um estudo em que o solo é
representado pelo modelo de dois parâmetros, assim como é levado em conta a fricção
entre a base da estrutura e o solo.
Com relação ao estudo da interação solo-estrutura em que o maciço de solos é
representado por um meio contínuo tridimensional, vários autores apresentaram
trabalhos, tais como CHEUNG & NAG (1968), CHAKRATORTY & GOSH (1975),
POULOS (1980), FATEMI-ARDAKANI (1987), ZAMAN et al. (1988), HEMSLEY
(1990-a,b), MESSAFER & COATES (1990), PAIVA (1993), FERRO (1993),
CALDERÓN (1996), MENDONÇA (1997).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.59-80, 2007


Análise da interação estaca-solo via combinação do método dos elementos finitos... 61

Neste trabalho apresenta-se uma formulação para a análise da interação estaca-


solo, onde as estacas são modeladas pelo MEF através da utilização de um elemento
finito considerado eficiente e constituído por 14 parâmetros nodais e o maciço de solos
é representado pelo MEC, sendo que os coeficientes de influência do solo são obtidos
através das soluções fundamentais de MINDLIN (1936). São analisados vários
exemplos e os resultados são comparados com os de outras formulações.

2 SISTEMA DE EQUAÇÕES PARA O SOLO

A representação integral desse problema incorpora a solução fundamental de


MINDLIN (1936) e para o caso em que as forças de volume são desprezadas, esta
representação pode ser escrita como:

u i = ∫ u *ij (p,s)p j (s)dΓ (s) , (i,j = 1,2,3) (1)


Γ

Onde:
u *ij (p,s) é a solução fundamental de deslocamentos devido a uma carga unitária
aplicada no ponto “p” na direção “i” e com resposta no ponto “s” na direção “j”;
p j é a força de interação na direção “j”.
Implementando-se a discretização da Eq. (1), obtém-se:
Ne
u i = ∑ ∫ u *ij (p,s)p j (s)dΓ (s) , (i,j = 1,2,3) (2)
Γe
1

Onde:
Γe é o contorno do elemento de contorno;
Ne é o número de linhas de carga (estacas) imersas no meio contínuo.
As funções aproximadoras para as forças de interação são cúbicas para as
direções X1 e X2, quadráticas ao longo do fuste e uniformemente distribuídas na base da
estaca para a direção X3. Sendo assim as funções de forma (cúbicas e quadráticas)
podem ser escritas como:

⎧φ1 ⎫ ⎧− 4.5ξ 3 + 9ξ 2 − 55 . ξ + 1⎫
⎪φ ⎪ ⎪ ⎪
⎪ 2 ⎪ ⎪ 135 . ξ − 22.5ξ + 9ξ ⎪
3 2

{φ} = ⎨φ ⎬ = ⎨ − 135. ξ 3 + 18ξ 2 − 4.5ξ ⎬ (funções de forma cúbicas)


⎪ 3⎪ ⎪ ⎪
⎪⎩φ4 ⎪⎭ ⎪⎩ 4.5ξ 3 − 4.5ξ 2 + ξ ⎪⎭
(3)

⎧1 ⎫
⎧ϕ p1 ⎫ ⎪ ( 9ξ 2 − 9ξ + 2) ⎪
⎪ ⎪ 2
{ϕ} = ⎨ϕ p2 ⎬ = ⎪⎨ − 9ξ 2 + 6ξ ⎪⎬ (funções de forma quadráticas) (4)
⎪ϕ ⎪ ⎪ 1 ⎪
⎩ p3 ⎭ ⎪
⎩ 2
( 9ξ 2 − 3ξ ) ⎪

Sabendo-se que:

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62 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

z
ξ= (5)
L
Onde:
ξ é a cota adimensional;
“z” é a cota do ponto em questão;
“L” o comprimento total da estaca.
Após efetuar o cálculo das integrais indicadas na Eq. (2) para todos os elementos,
obtém-se a representação algébrica do maciço de solos, também chamada de equação geral de
deslocamentos do solo, dada por:

{u } = [ G]{P }
s s (6)

Onde:
{u } é o vetor que contêm todos os deslocamentos que ocorrem no solo;
s

{P } é o vetor que contêm todas as forças de interação que ocorrem no solo;


s

[ G ] é a matriz que contém todos os coeficientes de influência do solo.

3 SISTEMA DE EQUAÇÕES PARA A ESTACA

A estaca é analisada pelo método dos elementos finitos utilizando um elemento


com 14 parâmetros nodais, onde 4 parâmetros são de deslocamentos laterais na direção
X1, 4 são de deslocamentos laterais na direção X2 e 4 são de deslocamentos verticais na
direção X3. Existindo ainda mais um para a rotação em torno do eixo X1 e outro para a
rotação em torno de X2, como mostra a Fig. 1:

wi P5
V vi
F2 ui P1
F1 X1 i τp1
v’i u’i
X2 M2 P6
M1 j wj vj P2
uj τp2
wk vk P7
k P3
uk τp3
wl vl P8
l ul P4
(a) (b) (c) (d) (e)
X3

Figura 1 - Discretização do problema; a) Forças no topo da estaca; b) Pontos de


colocação na estaca; c) Parâmetros nodais de deslocamentos; d) forças de interação
variando cubicamente nas direções X1 e X2; e) forças de interação variando
quadraticamente na direção X3.

Portanto, para a direção X1:


u ap (z) = A 1 z 4 + B1 z 3 + C 1 z 2 + D 1 z + E 1 (7)

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Análise da interação estaca-solo via combinação do método dos elementos finitos... 63

e
Px (z) = A 2 z 3 + B 2 z 2 + C 2 z + D 2 (8)
1
Para a direção X2:
v ap (z) = A 3 z 4 + B 3 z 3 + C 3 z 2 + D 3 z + E 3 (9)
e
Px (z) = A 4 z 3 + B 4 z 2 + C 4 z + D 4 (10)
2
E para a direção X3:
w ap (z) = A 5 z 3 + B5 z 2 + C 5 z + D 5 , (11)
τ p (z) = A 6 z 2 + B 6 z + C 6 (12)
e
σb = 1
(13)
Sabendo-se que:

Π = U+Π (14)

Tem-se que:

E pIp L 2 E pIp L 2 EpAp L 2


Π ap =
2
∫0 u ′ap′ (z)dz +
2
∫0 v′ap′ (z)dz +
2
∫0 w ′ap (z)dz −
L
− F1u i − M1u ′i − F2 v i − M 2 v′i − Vw i + ∫0 Px1 (z)u ap (z)dz +
L L
+ ∫0 Px2 (z)v ap (z)dz + ∫0 τ p (z)w ap (z)dz + ∫A σ b w l dA p
p

(15)
Onde:
Ep é o módulo de elasticidade longitudinal da estaca;
Ip é o momento de inércia da estaca;
Ap é a área da seção transversal da estaca.
Minimizando o funcional de energia potencial total, ou seja, derivando-se a Eq.
(15) em função dos parâmetros nodais e igualando-se a zero, obtém-se, matricialmente,
o seguinte sistema de equações:

[ K ]{u } = { F} − [Q]{P }
c p p (16)

Onde:
[ ]
K c é a matriz de rigidez da estaca;
{u } é o vetor de deslocamentos da estaca contendo tanto os provenientes da
p

rotação, quanto os da translação;


{ F} é o vetor das forças nodais equivalentes proveniente dos carregamentos
externos;
[Q] é a matriz de transformação das componentes de forças nodais em forças
nodais equivalentes;

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64 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

{P } é o vetor das forças da interface estaca-solo.


p

4 ACOPLAMENTO MEC/MEF

Com base nas deduções anteriores, pode ser feita agora a interação MEC/MEF.
Para que haja compatibilidade entre as matrizes e vetores dos dois métodos é
necessário que seja feita a expansão dos que possuírem menor ordem. Este
procedimento será descrito a seguir.
Da equação geral de deslocamentos do MEC, Eq. (6), tem-se que a equação do
solo é:

{u } = [ G]{P }
s s (17)

Onde os seus vetores e matrizes já foram determinados anteriormente.


Sabe-se também que a equação da estaca é a seguinte:

[ K ]{u } = { F} − [Q]{P }
c p p (18)

Onde os seus vetores e matrizes também já foram determinados anteriormente.

Colocando a equação do solo em função das forças de interação, obtém-se:


{Ps } = [ G] −1 {u s } (19)
Levando-se em consideração as condições de compatibilidade de deslocamentos
e de equilíbrio ao longo da interface estaca-meio contínuo, isto é:

{u } = {u }
s p (20)
e
{P } + {P } = 0
s p (21)

Pode-se substituir na equação proveniente do MEF, ou seja:

[K ]{u } = {F} − [Q][G ] { u }


c p
−1
s (22)

Onde:

[Q][ G ] −1
= [ M] (23)

Existe agora a necessidade de se expandir a matriz [M] para se obter a mesma


ordem da matriz [Kc]. Para isso são colocadas duas colunas de zeros na matriz [M]
referentes a não consideração da rotações em torno dos eixos X1 e X2 pelo solo. Esta
matriz passa agora ser denominada por uma barra, [ M ] , indicando assim a sua
expansão.
Conseqüentemente, aumenta-se também o vetor de deslocamentos da equação
do solo, isto é:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.59-80, 2007


Análise da interação estaca-solo via combinação do método dos elementos finitos... 65

{u } = {u
s i vi wi u ′i v ′i u j vj wj uk vk wk ul vl wl } (24)

Da compatibilidade de deslocamentos, tem-se agora que:

{u } = {u } = {U}
s p (25)

Portanto:

[[ K ] + [M]]{U} = { F}
c (26)

Finalizando:
[ K]{U} = { F} (27)
Sendo que:
[ K] é a matriz final do sistema de interação (MEC/MEF);
{U} é o vetor que engloba todos os deslocamentos considerados no sistema,
inclusive as rotações;
{ F} : o vetor de cargas externas aplicadas no topo da estaca (forças horizontais e
Momentos fletores).

5 BLOCOS DE CAPEAMENTO RÍGIDO EM GRUPOS DE ESTACAS

A utilização destes blocos permite a idealização de uma estrutura formada por


um radier espesso e estaqueado num solo elástico-linear, homogêneo, isótropo e semi-
infinito. Neste trabalho admite-se que não existe contato entre o bloco e o solo.
Para a análise numérica esta implementação é feita através da colocação de
condições de contorno no topo das estacas, tal que a cabeça da estaca agora é fixa e
todos os elementos do grupo deslocam-se igualmente.
Sabendo-se que a equação final do sistema (MEC/MEF) para o cálculo de
deslocamentos é dada pela Eq. (27), pode-se a partir da colocação de uma matriz
identidade multiplicando o vetor de forças desenvolver-se um novo sistema de equações
o qual possui as condições de contorno.
Para a apresentação desta teoria admiti-se que somente haverão cargas e
deslocamentos transversais na direção X1, atuando sobre uma única estaca (apenas com
intuito de simplificação desta formulação), ou seja:

⎡ k 11 k 12 k 13 k 14 k 15 ⎤ ⎧ u i ⎫ ⎡1 0 0 0 0⎤ ⎧ F1 ⎫
⎢k k 22 k 23 k 24 k 25 ⎥ ⎪ u ′i ⎪ ⎢0 1 0 0 0⎥ ⎪M 2 ⎪
⎢ 21 ⎥ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎢ ⎥ ⎪⎪ ⎪⎪
⎢ k 31 k 32 k 33 k 34 k 35 ⎥ ⎨ u j ⎬ = ⎢0 0 1 0 0⎥ ⎨ 0 ⎬ (28)
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ k 41 k 42 k 43 k 44 k 45 ⎥ ⎪u k ⎪ ⎢0 0 0 1 0⎥ ⎪ 0 ⎪
⎪ ⎪ ⎪ ⎪
⎢⎣ k 51 k 52 k 53 k 54 k 55 ⎥⎦ ⎪⎩ u l ⎪⎭ ⎢⎣0 0 0 0 1⎥⎦ ⎩⎪ 0 ⎪⎭

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66 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

Supondo-se agora que foram prescritos o deslocamento e a rotação na cabeça da


estaca (ui e u’i), neste caso faz-se a troca de colunas de coeficientes de rigidez
multiplicáveis pelos valores prescritos no primeiro termo por coeficientes da matriz
identidade multiplicáveis pelas respectivas forças externas do segundo termo, trocando-
se também os sinais.
Fazendo-se as substituições para o caso suposto, obtém-se que:

⎡− 1 0 k 13 k 14 k 15 ⎤ ⎧ F1 ⎫ ⎡ − k 11 − k 12 0 0 0⎤ ⎧u i ⎫
⎢ 0 −1 k k 24 k 25 ⎥ ⎪M 2 ⎪ ⎢− k − k 22 0 0 0⎥ ⎪u ′i ⎪
⎢ 23 ⎥ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎢ 21 ⎥ ⎪⎪ ⎪⎪
⎢0 0 k 33 k 34 k 35 ⎥ ⎨ u j ⎬ = ⎢− k 31 − k 32 1 0 0⎥ ⎨ 0 ⎬
⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎪ ⎪
⎢0 0 k 43 k 44 k 45 ⎥ ⎪ u k ⎪ ⎢− k 41 − k 42 0 1 0⎥ ⎪ 0 ⎪
⎪ ⎪
⎢⎣ 0 0 k 53 k 54 k 55 ⎥⎦ ⎪⎩ u l ⎪⎭ ⎢⎣ − k 51 − k 52 0 0 1⎥⎦ ⎪⎩ 0 ⎪⎭
14444 4244444 3 123 14444244443 {
[ K ′] {U ′} [ I ′] {F′}
(29)
Onde todos os coeficientes do segundo termo da Eq. (29) são conhecidos, visto
que:
[ K ′] e [ I ′] são matrizes que possuem coeficientes de rigidez e coeficientes
oriundos a matriz identidade, respectivamente, sendo todos conhecidos;
{ U ′} é o vetor de forças e deslocamentos incógnitos;
{ F′} é o vetor de forças e deslocamentos prescritos.
Pode-se multiplicar a matriz [ I ′] pelo vetor { F′} chegando-se agora ao seguinte
sistema:
[ K ′]{ U ′} = { W} (30)

Onde:

{ W} = [ I ′]{ F′} (31)

Resolvendo-se a Eq. (31) obtém-se os valores incógnitos tanto de forças quanto


de deslocamentos.
Este processo é normalmente utilizado para, através da prescrição de um
deslocamento qualquer para um grupo de estacas, descobrir a carga que nela deverá ser
aplicada para que este grupo desloque igualmente no caso de estacas sob blocos de
capeamento rígido.

6 ESTACAS INCLINADAS

Para o tratamento de estacas inclinadas serão adotadas todas as hipóteses básicas


e a formulação considerada para as estacas verticais (isoladas e em grupos) constituídas
por um único elemento contendo 14 parâmetros nodais (MODELO_14PAR) e
solicitadas por cargas horizontais e verticais, bastando agora multiplicar corretamente as
matriz de rigidez do sistema pela sua correspondente matriz de rotação e por sua
transposta, sendo esta matriz também utilizada para a determinação dos pontos “campo”
e “fonte” necessários para o desenvolvimento do MEC.
FERRO (1999), apresenta uma formulação, onde a determinação dos pontos
“campo” é feita admitindo-se uma posição qualquer para a estaca imersa em um meio

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.59-80, 2007


Análise da interação estaca-solo via combinação do método dos elementos finitos... 67

contínuo. O seu eixo central, em relação a um sistema de coordenadas globais, forma os


ângulos α, β e γ, respectivamente em relação aos eixos X1, X2 e X3.
De uma forma semelhante, as coordenadas de um ponto “p” (ponto campo) na
superfície lateral da estaca serão escritas em função das coordenadas de um ponto “s”
(ponto fonte) no centro da seção para o presente caso (fig. 2).

x2

p = ( x1p , x 2p )

λ
x1
s = (x , x
s
1
s
2 )

Figura 2 - Sistema de coordenadas locais para uma seção da estaca.

Pela qual fica definido um sistema de coordenadas locais da seguinte maneira:

x1p = x1s + rf cos λ


x 2p = x 2s + rf senλ ....(32)
x 3p = x 3s

Colocando estas equações na forma matricial, tem-se:

{x p } = {x s } + { M} rf (33)

Onde o vetor { M} é dado por:

⎧cos λ ⎫
⎪ ⎪
{ M} = ⎨sen λ ⎬ (34)
⎪ 0 ⎪
⎩ ⎭

As coordenadas do ponto “p” no sistema global podem ser expressas, como:

{x p } = [ R ] T { x p } (35)

Onde:
{x p } : coordenadas no ponto “p” no sistema global;

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68 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

[ R] T : matriz de rotação transposta que relaciona os sistemas de coordenadas


local e global.
Esta matriz transposta é dada da seguinte maneira:
⎡ − CXCY − CXCZ ⎤
⎢ CY + CZ
2 2

⎢ CY + CZ
2 2
CY 2 + CZ 2 ⎥
CZ − CY
[ R] T = ⎢ 0 ⎥ (36)
⎢ CY + CZ
2 2
CY + CZ
2 2 ⎥
⎢ CX CY CZ ⎥
⎢ ⎥
⎣ ⎦
Sendo:
xk − x j yk − y j zk − z j
CX = ; CY = ; CZ =
Lp Lp Lp
e os índices “k” e “j”, das coordenadas x, y, z, referentes aos nós final e inicial
dos elementos, respectivamente.
Substituindo o vetor de coordenadas locais do ponto “p” (eq. 6.34) na equação
6.36, tem-se que:

{ x } = [ R ] ({ x } + [ M ] r )
p T s
f (37)

As coordenadas do ponto “s”, escritas no sistema global, ficam da seguinte


maneira:

{x } = [ R] ([ R]{x } + { M} r )
p
T
s f (38)

e finalizando:

{x } = ({x } + { N} r )
p s
f (39)
Onde:

⎧ CY 2 cos λ + CZ 2 cos λ − CXCY sen λ ⎫


⎪ ⎪
⎪ CY 2 + CZ 2 ⎪
⎪ CZ ⎪
{ N} = ⎨ sen λ ⎬ (40)
⎪ CY 2 + CZ 2 ⎪
⎪ CX cos λ + CY sen λ ⎪
⎪ ⎪
⎩ ⎭

Desta maneira qualquer ponto “campo” na superfície lateral de lateral de uma


esta cilíndrica, tem sua posição definida em relação a um ponto “fonte” no eixo da
estaca.
Para o caso do MEF, o tratamento das estacas inclinadas será feito de tal forma
que a matriz de rigidez da cada uma delas será obtida inicialmente em relação ao
sistema de coordenadas local e posteriormente as variáveis locais serão transformadas
em variáveis globais através da matriz de rotação entre os sitemas de coordenadas, ou
seja:

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Análise da interação estaca-solo via combinação do método dos elementos finitos... 69

[ K ] = [ R][ K ][ R]
g
c c
T
(41)

A matriz do MEC é obtida no sistema global, ou seja:

{u } = [ G]{P }
s s (42)
Desta forma o sistema final para estacas inclinadas será:
[[ R][ K ][ R]
c
T
]
+ [ M ] {U} = { F} (43)

7 AVALIAÇÃO NUMÉRICA

Exemplo 1

Kérisel & Adam (1967), realizaram um ensaio numa estaca isolada cravada em
solo argiloso, com comprimento de 4,65 m e diâmetro equivalente de 0,3573 m,
submetida a uma carga horizontal F1 = 60 kN e a um momento M2 = -69 kN.m. O
módulo de elasticidade longitudinal da estaca é igual a 2,0e+7 kN/m², o do solo
(determinado experimentalmente, com base na média dos três primeiros metros) é igual
a 9233 kN/m² e o coeficiente de Poisson do solo é igual a 0,3.
A Fig. 3 apresenta os deslocamentos laterais ao longo da estaca constatando-se
uma concordância entre os valores medidos e os calculados.

0
-2 -0.5 0 2 4 6 8 10 12
Profundidade da Estaca - Cotas (m)

-1
-1.5
-2
-2.5
-3 KÉRISEL & ADAM (1967)
-3.5
FERRO (1993)
-4
ESTE TRABALHO
-4.5
-5
Deslocamento Lateral (mm)
Figura 3 - Deslocamento horizontal na direção X1 ao longo da estaca.

Exemplo 2

Para este exemplo serão admitidas as mesmas características do problema citado


no exemplo 1 e que as forças externas aplicadas na direção X1 e em torno do eixo X2,
serão agora também aplicadas em X2 e em torno de X1.
Os resultados obtidos são apresentados na tabela 1, podendo-se observar uma
coerência entre os valores, além de que a formulação em questão é exeqüível.

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70 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

Tabela 1 - Deslocamentos laterais e rotações em uma e em duas direções.


Exemplo Exemplo 1 Exemplo 2
s
Uma Direção* Duas Direções*
Cotas X1 rot. em X2 X1 X2 rot. X2 rot. X1
0 10,1662 - 0,9491.10-2 10,1662 10,1662 -0,9491.10-2 0,9491.10-2
1,55 m 1,2596 1,2596 1,2596
3,10 m -0,4945 -0,4945 -0,4945
4,65 m -0,0816 -0,0816 -0,0816
* Os deslocamentos horizontais estão em milímetros e as rotações em radianos. As rotações
só foram calculadas para o topo da estaca.

Exemplo 3

A Fig. 4 apresenta um exemplo citado em FERRO (1993), onde uma estaca de


6,096 m de comprimento, com diâmetro igual a 0,6096 m solicitada por uma carga
vertical de 726,40 kN. O módulo de Young da estaca é admitido como sendo 21111000
⎛ E ⎞
kN/m² e a relação entre os módulos do solo e da estaca igual a 100 ⎜ K = estaca ⎟ . O
⎝ E solo ⎠
coeficiente de Poisson do solo é igual a 0,2 .

V = 726,40 kN
X1

X2
X3

6,096 m

Figura 4 - Figura adaptada de FERRO (1993) - Estaca em meio semi-infinito sujeita a


uma carga vertical.

Os recalques ocorridos neste problema pela formulação em questão, são


apresentados na Fig. 5 e demostram uma boa concordância, quando comparados com os
modelos de FERRO (1993) e VALLABHAN & SIVAKUMAR (1986).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.59-80, 2007


Análise da interação estaca-solo via combinação do método dos elementos finitos... 71

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
-1 FERRO (1993)
VALLABHAN & SIVAKUMAR (1986)

Profundidade da Estaca (m)


-2 ESTE TRABALHO

-3

-4

-5

-6

-7
Deslocamento Vertical (mm)

Figura 5 - Comparação entre os modelos - Deslocamentos verticais ao longo da estaca.

Exemplo 4

WHITAKER & COOKE (1966), ensaiaram uma estaca com 12,2m de


comprimento e diâmetro de 0,61m, solicitada por uma carga vertical de intensidade
igual a 1100 kN. O módulo de elasticidade longitudinal da estaca é de 2,067.107 kN/m²,
o do solo é igual a 72400 kN/m² e seu coeficiente de Poisson é 0,5.
Neste ensaio, WHITAKER & COOKE (1966), obtiveram um deslocamento
vertical, medido na cabeça da estaca, de 0,284 cm. O deslocamento no topo da estaca
para o modelo proposto neste trabalho é de 0,2867 cm, o que leva a erro percentual de
apenas 0,952%.
A Fig. 6 apresenta um gráfico comparativo dos recalques obtidos através do
modelo proposto por FERRO (1993) e do modelo em questão, onde se observa
novamente uma boa convergência entre os modelos.

0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3
-2

-4
Profundidade da Estaca (m)

-6
FERRO (1993)

-8 ESTE TRABALHO

-10

-12

-14
Deslocamento Vertical (mm)

Figura 6 - Comparação entre os modelos - Deslocamentos verticais ao longo da estaca.

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72 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

Exemplo 5

Para um grupo quadrado de 9 estacas com comprimento de 15 m, diâmetro igual


a 0,35 m e espaçamento “s” = 1,5 m, será aplicada uma carga de 20 kN em cada uma
delas na direção X1. Da simetria de posicionamento divide-se as estacas em subgrupos
como mostra a Fig. 7.

1 2 1
1,5 m

L = 15 m
d = 0,35 m
Ep = 107 kN/m² 3 4 3
1,5 m
Es = 103 kN/m²
νs = 0,2 1 2 1

1,5 m 1,5 m

Figura 7 - Divisão das Estacas em quatro subgrupos.

A tabela 2 apresenta os deslocamentos laterais obtidos através da formulação em


questão:

Tabela 2 - Deslocamentos laterais para os quatros subgrupos de estacas.


Estacas Sub-Grupo 1 Sub-Grupo 2 Sub-Grupo 3 Sub-Grupo 4
Cotas Deslocamento Horizontal na Direção X1 (mm)
0. 32,9463 35,2837 35,8423 38,6322
5m 8,3425 8,4658 8,7340 8,8908
10 m 4,0663 4,0416 3,9527 3,8155
15 m 2,4740 2,3857 2,5233 2,4177

Podendo-se concluir com este exemplo que as estacas mais distantes do centro
geométrico têm os menores deslocamentos no topo, enquanto que os maiores
deslocamentos ficam por conta das mais próximas, como mostra a Fig. 8:

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Análise da interação estaca-solo via combinação do método dos elementos finitos... 73

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
-2
Profundidade da Estaca - Cotas (m)
-4

-6

-8

Sub-Grupo 1 (estacas: 1,3,5 e 7)


-10
Sub-Grupo 2 (estacas: 2 e 6)

-12 Sub-Grupo 3 (estacas: 4 e 8)


Sub-Grupo 4 (estaca: 9)
-14

-16
Deslocamento Lateral (mm)
Figura 8 - Deslocamentos laterais ao longo das estacas e seus respectivos
subgrupos.

Exemplo 6

Neste exemplo são apresentadas 4 estacas submetidas à carregamentos


horizontais e verticais simétricos, como mostra a Fig. 9:

H H
7 H H
Ep = 2,1.10 kN/m²
νs = 0,5
Es = 21000 kN/m²
s
D = 0,40 m
H = 150 kN H H
V = 200 kN
Lp = 15 m H H
s = 1,0 m
s
Figura 9 - Grupo de estacas submetidas à cargas horizontais e verticais
simultaneamente.

Dada a simetria de carregamentos, conseqüentemente os deslocamentos também


serão simétricos. A tabela 3 apresenta os deslocamentos e rotações no topo das estacas:

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74 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

Tabela 3 - Deslocamentos laterais, verticais e rotações no topo do grupo de estacas.


Estaca 1 Estaca 2 Estaca 3 Estaca 4
Carga (Dir. X1) 150 kN - 150 kN - 150 kN 150 kN
Carga (Dir. X2) 150 kN 150 kN - 150 kN - 150 kN
Carga (Dir. X3) 200 kN 200 kN 200 kN 200 kN
Desl. X1 (mm) 2,3975 -2,3975 - 2,3975 2,3975
Rot. em X2 (rad.) - 0,5045.10-2 0,5045.10-2 0,5045.10-2 - 0,5045.10-2
Desl. X2 (mm) 2,3975 2,3975 - 2,3975 -2,3975
Rot. em X1 (rad.) 0,5045.10-2 0,5045.10-2 - 0,5045.10-2 - 0,5045.10-2
Desl. X3 (mm) 3.4394 3.4394 3.4394 3.4394

Exemplo 7

No problema mostrado na Fig. 10 (POULOS & DAVIS, 1980), pede-se para


calcular o deslocamento lateral de um grupo de estacas, todas com diâmetro igual a
0,3048 m, sob um bloco de capeamento rígido, devido a uma carga de 444,8 kN (HG) na
E pI p
direção X1. Adotou-se um coeficiente de Poisson igual a 0,5 e K R = = 10 − 3 .
E s L4
Onde KR é coeficiente de flexibilidade do sistema.

1 2 3 0,9144 m

HG

4 5 6

0,9144 m 0,9144 m

Bloco de Capeamento Rígido


HG = 444,8 kN
Superfície
do
Terreno

Es = 3447,21 kN/m²
7,62 m

Figura 10 - Figura adaptada de POULOS & DAVIS, 1980.

Utilizando-se o método em questão pode-se assumir que todas as estacas


deslocam igualmente e que sua rotação é restringida.

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Análise da interação estaca-solo via combinação do método dos elementos finitos... 75

Prescrevendo-se agora deslocamento unitário, obtém-se os esforços necessários


para que este deslocamento ocorra.
Devido a simetria, existem apenas duas forças distintas aplicadas na estaca (H1 e
H2), que são mostradas na tabela 4.

Tabela 4 - Forças causadas pelos deslocamentos horizontais unitários nos respectivos


subgrupos.
Coef. de Mola
K1 K2
Estacas
1, 3, 4 e 6 2,7287 (kN/mm) -
2e5 - 1,8127 (kN/mm)

Da equação de equilíbrio tem-se que:


4H 1 + 2H 2 = 444,8 (44)
E como:
K1 = 2,7287 kN/mm (coeficientes de mola do sistema).
K2 = 1,8127 kN/mm
e
Hn = Kn.un (45)
Onde pode-se dizer que u1 = u2 (sendo valores unitários).
Então:
H1 ≅ 1,505 H2 (46)
Substituindo na equação de equilíbrio, obtém-se:
H2 = 55,4522 kN e portanto
H1 = 83,4739 kN
Colocando estes valores nas suas respectivas estacas, ou seja:

Figura 11 - Distribuição das forças sobre a cabeça das estacas.

Liberando-se os deslocamentos e executando novamente o modelo


(prescrevendo-se agora as forças H1 e H2) chega-se assim ao mesmo deslocamento para
todas as estacas, como é visto a seguir:
u = 30,5910 mm (no topo das estacas)
Os valores obtido por Poulos foram:
uPOULOS = 30,862 mm
H1POULOS = 89,4048 kN
H2POULOS = 43,5904 kN

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76 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

Comparando-se os resultados percebe-se uma certa discrepância provavelmente


decorrente do fato de que Poulos estendeu o uso do seu modelo desenvolvido para duas
estacas, para a análise de grupos genéricos onde todos os espaçamentos deveriam ser
idênticos. Como isso não ocorre no exemplo apresentado, vários coeficientes de
interação foram obtidos através da superposição desses fatores, considerando as estacas
duas a duas, divergindo assim do modelo descrito neste trabalho onde todos os efeitos
da interação estaca-solo são obtidos através de uma combinação entre o MEC e o MEF,
ou seja, de uma forma mais refinada.
Observa-se novamente que as estacas mais distantes para ambos os casos são
mais carregadas do que as mais próximas do centro geométrico, concluindo-se que para
cargas idênticas as estacas internas (mais próximas) deslocarão mais.

Exemplo 8

A figura 12 apresenta um bloco de capeamento rígido sobre um grupo de 6


estacas com comprimentos e diâmetros idênticos iguais a 7,62 m e 0,3048 m,
respectivamente, solicitadas por uma carga vertical de 1334,4 kN. O coeficiente de
⎛ Ep ⎞
comprexibilidade entre a estaca e o solo ⎜ K = ⎟ é igual a 2000. Será admitido um
⎝ Es ⎠
módulo de elasticidade do solo de 3830,23 kN/m² (POULOS & DAVIS, 1980).
A resolução deste problema implica na obtenção dos recalques (idênticos) que
ocorrem no topo de cada estaca. Os resultados são comparados com os apresentados por
POULOS (1980).

1 2 3

1,524 m

4 5 6

1,524 m 1,524 m

V = 1334,4 kN

Argila
Média 7,62 m

Figura 12 - Figura adaptada de POULOS & DAVIS, 1980.

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Análise da interação estaca-solo via combinação do método dos elementos finitos... 77

Começando-se este problema, prescreve-se um valor unitário para todas as


estacas, referente a ocorrência de um deslocamento vertical no topo destas. Obtém-se
assim os esforços necessários para que estes deslocamentos idênticos ocorram.
Devido a simetria geométrica do sistema, pode-se notar que existem dois sub-
grupos de estacas, sendo o primeiro formado pelas estacas 1, 3, 4 e 6 (V1) e o segundo
formado pelas estacas 2 e 5 (V2).
Os resultados destes esforços (coeficientes de mola K1 e K2) necessários para a
ocorrência do deslocamento unitário, são apresentados na tabela 5.

Tabela 5 - Forças causadas pelos deslocamentos verticais unitários nos respectivos


subgrupos.
Coef. de Mola
K1 K2
Estacas
1, 3, 4 e 6 6,0914 (kN/mm) -
2e5 - 4,0603 (kN/mm)

Da equação de equilíbrio, tem-se:

4V1 + 2V2 = 1334,4 kN (47)

E como:
K1 = 6,0914 (kN/mm)
K2 = 4,0603 (kN/mm)
e
Vn = Kn.wn (48)

Onde pode-se dizer que w1 = w2 (valores de deslocamentos unitários).


Então:

V1 = 1,5002V2
(49)

Substituindo na equação de equilíbrio, obtém-se:


V2 = 166,7822 kN e conseqüentemente,
V1 = 250,2089 kN
Recalculando novamente o sistema agora com as forças, V1 e V2 prescritas,
chega-se a um recalque comum para todas as estacas, sendo este:
w = 41,0769 mm
Os valores obtidos por Poulos foram os seguintes:
V1 = 255,3152 kN
V2 = 156,5696 kN
e
wPOULOS = 42,1640 pol.
As diferenças ocorridas com relação aos deslocamentos e forças aconteceram
provavelmente devido ao um melhor refinamento utilizado pelo modelo proposto para
discretizar o maciço de solos (MEC) e também devido ao modelo de Poulos ter sido

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78 Rubens Fernandes de Matos Filho & João Batista de Paiva

desenvolvido para duas estacas e estendido posteriormente para grupos genéricos de


espaçamentos idênticos, o que não ocorre no exemplo em questão.

8 CONCLUSÕES

Neste trabalho foi apresentada uma formulação numérica utilizando o método


dos elementos de contorno e o método dos elementos finitos para a análise da interação
estaca-solo. A estaca é modelada pelo MEF utilizando um elemento com 14 parâmetros
nodais, sendo 4 parâmetros para deslocamentos lineares em cada direção (X1, X2 e X3) e
mais 2 parâmetros relativos as rotações em torno dos eixos X1 e X2 no topo das estacas.
O maciço de solos é modelado pelo MEC como um meio elástico contínuo, isótropo,
homogêneo, semi-infinito e ideal. Admite-se que as tensões de contato desenvolvidas na
interface estaca–solo variem cubicamente no contorno de cada linha de carga para as
direções X1 e X2, as tensões cisalhantes que ocorrem ao longo do fuste da estaca são
representadas por um polinômio quadrático e a tensão normal à seção da extremidade
inferior da estaca é suposta constante. As tensões de contato são eliminadas nos dois
sistemas de equações, obtidos com o MEC e com o MEF, com o objetivo de escrever
um sistema final de equações governantes do problema. Após a resolução deste sistema
são obtidos os deslocamentos nos nós, a partir dos quais, as tensões de contato estaca-
solo e a carga absorvida por cada estaca são determinadas. Para as simulações
numéricas foram apresentados vários exemplos. Comprovou-se através da boa
concordância de resultados obtidos, quando da comparação deste modelo com outros
modelos teóricos (FERRO, 1993; VALLABHAN & SIVAKUMAR, 1986; POULOS,
1980) e até mesmo com ensaios experimentais (KÉRISEL & ADAM, 1967;
WHITAKER & COOKE, 1966), que o modelo em questão se adequa ao tratamento
proposto neste trabalho.
Pode-se concluir com este trabalho que os deslocamentos (verticais e
horizontais) nas estacas são diretamente influenciados seu comprimento, pela rigidez do
sistema e pelo espaçamento entre elas. Ainda podendo-se afirmar que para o caso de
haverem blocos de capeamento rígido, as estacas mais distantes do centro geométrico
do sistema são as que absorvem mais cargas e as mais próximas do centro são as que
absorvem menos. As distribuições de cargas tornam-se mais uniformes conforme
aumentam os espaçamentos.

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ISSN 1809-5860

PAVIMENTOS DE CONCRETO ESTRUTURALMENTE


ARMADOS SOB FORÇAS ESTÁTICAS E REPETIDAS
Patrícia Lizi de Oliveira Maggi 1 & Libânio Miranda Pinheiro 2

Resumo
Apresenta-se um trabalho experimenta, com o objetivo de estudar o comportamento dos
pavimentos de concreto estruturalmente armados, quando submetidos a forças verticais
estáticas e repetidas. Os resultados mostram uma significativa contribuição da
armadura positiva na resistência de placas isoladas sob forças verticais centradas.
Verificou-se que as forças repetidas provocam fadiga do aço e que o número de ciclos
depende da deformação na armadura. A partir dos resultados, são traçadas diretrizes
para o dimensionamento, no qual devem ser considerados os momentos positivos e os
negativos, e deve ser feita a verificação da fadiga do concreto e da armadura.

Palavras-chave pavimentação; pavimento de concreto armado; fadiga; carregamento


repetido.

1 INTRODUÇÃO

No projeto de um pavimento de concreto pode-se considerar placa não


fissurada ou fissurada. Na primeira opção as tensões de tração devem ser limitadas à
resistência do concreto. Na segunda, a placa deve ser armada para limitar a abertura
das fissuras (Walker & Holland, 2001).
Os pavimentos de concreto que possuem armadura próxima à face inferior,
com o objetivo de resistir às tensões provenientes do momento fletor, são chamados
de Pavimentos de Concreto Estruturalmente Armados. Esse tipo de pavimento pode
ser construído com espessuras inferiores às dos pavimentos de concreto simples,
pois a força última não depende exclusivamente da resistência à tração do concreto.

2 FADIGA DO CONCRETO ARMADO

Lloyd et al. (1968) definiram a fadiga como um dano estrutural progressivo e


permanente no material submetido a tensões e deformações flutuantes no tempo.
Este dano estrutural pode culminar em microfissuras ou na fratura completa, após
certo número de ciclos.

1
Doutora em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, plomaggi@unicenp.edu.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, libanio@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


82 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

O ACI 215R: 1992 diferencia carregamento dinâmico de estático da seguinte


forma: o carregamento dinâmico varia no tempo de maneira arbitrária. A fadiga e o
impacto são casos específicos de carregamento dinâmico. A fadiga consiste numa
seqüência de carregamentos cíclicos que pode causar ruptura com mais de 100
ciclos. Forças cíclicas, provenientes de catástrofes como terremotos, são chamadas
de low-cycle fatigue, e têm tratamento distinto da fadiga (high-cycle fatigue).
O capítulo referente à fadiga na NBR 6118:2003 limita-se a solicitações entre
20.000 e 2.000.000 de ciclos.
Neste trabalho, será chamado de carregamento cíclico aquele que é aplicado
várias vezes numa estrutura, podendo haver inversão de sinal. O carregamento
repetido fica definido como um caso particular do carregamento cíclico onde não há
inversão do sinal da força.
Os métodos de dimensionamento de pavimentos de concreto simples adotam
diferentes modelos de fadiga, com base em ensaios de laboratório ou em pistas
experimentais. Porém, segundo Vandenbossche (1995), os pavimentos de concreto
armado atingem a ruína prematuramente por causa da desconsideração da fadiga no
dimensionamento da armadura. Mesmo os pavimentos que possuem armadura
suficiente para resistir aos limites de tensão determinados para carregamentos
estáticos vêm apresentando aberturas de fissuras excessivas, defeitos e perda da
capacidade de suporte da fundação.
Quanto ao comportamento do concreto à fadiga, é importante saber que:
• Como a fadiga é um processo progressivo de microfissuração e de propagação,
no concreto, pode iniciar nos microdefeitos do material, que podem crescer e
provocar aumento nas tensões, até ocasionar a ruína;
• O concreto, quando submetido a ações cíclicas, sofre um processo gradual de
dano por fadiga. Este processo provoca uma redução da resistência, do módulo
de elasticidade e do coeficiente de Poisson do material, conforme aumenta o
número de solicitações;
• Não foi encontrado um limite de fadiga para o concreto, ou seja, não foi
estabelecida uma intensidade de tensão abaixo da qual possa ser aplicado um
número infinito de repetições sem que o concreto sofra fadiga. Sabe-se que
com intensidade de tensão de 55% da resistência estática, chega-se a 10
milhões de ciclos;
• O carregamento cíclico provoca deformações maiores que o estático;
• Quanto maior o intervalo entre a tensão mínima e a tensão máxima, menor a
resistência à fadiga;
• As tensões alternadas provocam maior dano por fadiga que as tensões
repetidas (de um único sinal).
Quanto ao comportamento da armadura para concreto armado sabe-se que:
• Na fadiga, a variação de tensão nas barras de aço é mais importante que a
tensão máxima;
• Os microdefeitos, as nervuras, as soldas, a corrosão, a curvatura e as emendas
reduzem a resistência à fadiga;
• Os ensaios de fadiga por tração direta fornecem resultados mais conservativos
que os ensaios de flexão.
O comportamento do concreto armado quando submetido à ação cíclica
depende da interação do aço com o concreto. Em peças subarmadas sob flexão, a
fadiga é relativa às barras de aço. Em peças superarmadas, o mecanismo de ruptura
por flexão ou por cisalhamento é mais complexo.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 83

O concreto normalmente é projetado para resistir à compressão, mas em


zonas tracionadas ele é submetido a várias intensidades de tensão acima da sua
resistência à tração, onde ocorrem fissuras e redistribuição das tensões para a
armadura. Como o processo de fadiga depende da propagação de fissuras, a
distribuição de tensões é alterada e a ruína por fadiga não tem necessariamente o
mesmo mecanismo da ruína estática. As tensões reais na armadura raramente
coincidem com as tensões calculadas usando modelos simplificados. Isto, associado
à variabilidade dos materiais e dos carregamentos, acarreta na característica
dispersiva dos resultados dos ensaios de fadiga.
Balbo (1999) define dois tipos de modelos de fadiga para os pavimentos de
concreto: experimentais e semi-empíricos. Os modelos experimentais foram
construídos a partir de ensaios de laboratório. Esses ensaios geralmente são
realizados com freqüência elevada e sem períodos de folga. Não são levadas em
conta as flutuações na tensão por causa da variação da posição da carga que ocorre
nos pavimentos. Conclui-se que, de uma maneira geral, os modelos experimentais
são conservativos. Os modelos semi-empíricos são definidos a partir de dados de
pistas experimentais ou de pistas em funcionamento. Possuem limitações do campo
de validade relativas às condições ambientais e de tráfego da região estudada.
Normalmente, as resistências dos materiais à fadiga são representadas por
curvas que relacionam a intensidade de tensão (S – stress) com o número de ciclos
(N), chamadas de diagramas de Wöhler, traçados com base em dados experimentais.
Os principais parâmetros de fadiga para o aço são: a variação da tensão e o
número de ciclos. Na figura 1 são mostradas curvas S-N relativas ao aço para
concreto armado traçadas a partir de valores apresentados pela NBR 6118:2003.

2.8

Barras retas
2.6
d < 20 mm
d = 20 mm
2.4 d = 22 mm
d = 25 mm
2.2 d = 32 mm
fsd,fad

d = 40 mm
2.0 Barras curvas
d < 22 mm
log

1.8 d = 22 mm
d = 25 mm
1.6 d = 32 mm
d = 40 mm
1.4 Amb. marinho
Barras soldadas
1.2
4 5 6 7 8
log N

Figura 1 - Diagramas S-N traçado a partir da NBR 6118:2003.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


84 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

Para o concreto são importantes as relações entre tensões mínima e máxima


com a resistência estática (Rt), para um determinado número de ciclos. A NBR
6118:2003 não apresenta valores para curva tensão-deformação para o concreto.
Segundo esta Norma, a verificação do concreto à fadiga está satisfeita se:

a) Na compressão

η c ⋅ γ f ⋅ σ c,max ≤ fcd,fad (1)

• γf: coeficiente de segurança à fadiga igual a 1,0;


• fcd,fad = 0,45 ⋅ fcd ;
• ηc : dado pela equação (2).

1 (2)
ηc =
⎛ σ c1 ⎞
1,5 − 0,5 ⋅ ⎜ ⎟
⎜ σ c2 ⎟
⎝ ⎠

• σc1: o menor valor de tensão de compressão a uma distância inferior a


300mm da face;
• σc2: o maior valor de tensão de compressão a uma distância inferior a
300mm da face.
De acordo com a NBR 6118:2003, γ c = 1,4 .

b) Na tração,

γ f ⋅ σ ct,max ≤ fctd,fad (3)

• fctd,fad = 0,3 ⋅ fctd,inf


• fctd,inf é determinado por:
fctk,inf (4)
fctd,inf =
γc

( 23
fctk,inf = 0,7 ⋅ 0,3 ⋅ fck ) (5)

• fctk,inf e fck: valores de resistência, em MPa.

A verificação do aço, segundo NBR 6118:2003, é feita por:

γ f ⋅ Δσ Ss ≤ Δfsd,fad (6)

• Δσ Ss : variação de tensão no aço, proveniente da combinação freqüente do


carregamento;
• Δfsd,fad : de tensão admissível para 2.106 ciclos, dada pela tabela 1.

Os valores da tabela 1 admitem ensaios de tração, ao ar, com tensão máxima


de 80% da tensão nominal de escoamento e freqüência de 5 a 10 Hz.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 85

Tabela 1 - Variação de tensão admissível, segundo NBR 6118:2003.


6
Δfsd,fad , para 2.10 ciclos, para armadura passiva, aço CA-50 (MPa)

φ (mm) 10 12,5 16 20 22 25 32 40

Barras retas 190 190 190 185 180 175 165 150
ou dobradas
com r ≥ 25φ

Barras retas 105 105 105 105 100 95 90 85


ou dobradas
com r < 25φ
Estribos 85 85 85 - - - - -

Δfsd,fad , para 2.106 ciclos, para armadura ativa

Pré-tração, fio ou cordoalha reto 150

Pós-tração, cabos curvos 110

Cabos retos 150

Conectores mecânicos e ancoragens 70

Δfsd,fad , para 2.107 ciclos, para armadura passiva, aço CA-50 (MPa)

Ambiente 65 65 65 65 65 65 65 65
marinho
Barras 85 85 85 85 85 85 85 85
soldadas

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

Para o estudo foram analisados modelos de placas de concreto simples e de


concreto armado. A geometria dos modelos está resumida na tabela 2.

3.1 Preparação dos modelos

Foram ensaiadas sete placas, sendo seis de concreto armado e uma de


concreto simples.
Os modelos PCS1 (de concreto simples), PCA1 e PCA2 (de concreto armado)
foram moldados no segundo dia de concretagem.
Os modelos PCA3, PCA4, PCA5 e PCA6 foram construídos no primeiro dia de
concretagem.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


86 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

Tabela 2 - Geometria dos modelos da terceira etapa.


Parâmetro Placa CS Placa Q138

Comprimento (cm) 200 200

Vão (cm) u.a.* u.a.*

Largura (cm) 200 200

Altura (cm) 8 8

Cobrimento (cm) - 1,5

Altura útil (cm) - 6,29

φ (mm) - 4,2

Taxa de armadura (%) - 0,17


*uniformemente apoiada

3.2 Esquema geral do ensaio

As placas foram apoiadas sobre blocos de isopor, posicionados sob o pórtico


de reação conforme indicado na figura 2. Foi utilizado atuador servo-controlado, que
possibilita o ensaio com controle de deslocamento. Entre os blocos da base e as
placas de concreto era espalhada uma camada fina de areia, na tentativa de obter um
apoio uniforme da placa.

Pórtico de reação

Atuador

Placa metálica Transdutor

Placa de concreto
8

Camada de areia
50
EPS

Laje de reação

Figura 2 - Vista frontal do esquema geral do ensaio de placas; unidade: cm.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 87

Os blocos de isopor tinham dois formatos diferentes. O primeiro com


comprimento de 150 cm, largura e altura de 50 cm, o segundo com comprimento e
largura de 100 cm e altura de 50 cm. Eles eram encaixados sob a placa de concreto.
Foram posicionados seis transdutores de deslocamento na placa, conforme a
figura 3. A área de aplicação da força é quadrada com 20 cm de lado.

Placa metálica
20

C E
20 5 200
F
10

Transdutor de deslocamento

B A

200

Figura 3 - Posicionamento dos extensômetros nos ensaios de placas da


terceira etapa; unidade: cm.

3.3 Resultados

Os corpos-de-prova da primeira e da segunda concretagem foram ensaiados


aos 87 e 73 dias respectivamente. Os resultados dos ensaios de resistência à
compressão e à tração na flexão estão apresentados na tabela 3.

Tabela 3 - Resultados dos ensaios de caracterização da terceira etapa.


Concretagem Idade (dias) fct (kN/cm2) fc (MPa) Etangente (MPa)

1 87 3,71 38,68 27387

2 73 3,06 31,09 29121

Para caracterização do isopor foram ensaiados à compressão cinco blocos de


base quadrada de 30 cm de lado e altura de 50 cm. Na figura 4 é mostrado o
diagrama força – deslocamento obtido a partir desse ensaio.
O isopor não apresenta comportamento linear. Um modelo possível para
aproximar o seu módulo de elasticidade é uma reta secante à curva, unindo o ponto
inicial ao final de ensaio, dessa forma o módulo de elasticidade é de

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


88 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

2,5 MPa. Dividindo esse valor pela altura do corpo-de-prova, obtém-se um módulo de
reação de 5 MPa/m.

0.12

0.10
Tensão (MPa)

0.08

0.06
CP1
0.04 CP2
CP3
CP4
0.02 CP5
0.00
0 10000 20000 30000 40000

Deformação (με)

Figura 4 - Ensaio de caracterização do isopor.

Quatro placas foram submetidas a ensaio com carregamento monotônico:


PCA1, PCA2, PCA3 e PCS1. Por causa de problemas na montagem do ensaio o
modelo PCA1 não ficou uniformemente apoiado sobre a base, portanto seus
resultados foram descartados. Nos gráficos das figuras 5 a 7 são apresentados os
deslocamentos nas placas ensaiadas com carregamento monotônico.
A placa de concreto simples, como não poderia deixar de acontecer, rompe
logo após o aparecimento da primeira fissura. As placas de concreto armado perdem
rigidez após a fissuração do concreto, mas continuam absorvendo esforços até o
aparecimento da fissura na superfície que ocorre com uma força aproximadamente
60% maior que a da placa de concreto simples.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 89

PCS1

120

100

80
Força (kN)

60

D 40
C E
F 20
B A
0
-30 -20 -10 0 10 20 30 40

Deslocamento (mm)

Figura 5 - Força - deslocamento na placa de concreto simples - ensaio estático com


deformação controlada.

PCA2

120

100

80
Força (kN)

60

D 40
C E
F 20
B A
0
-30 -20 -10 0 10 20 30 40

Deslocamento (mm)

Figura 6 - Força - deslocamento na placa de concreto armado PCA2 - ensaio estático com
deformação controlada.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


90 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

PCA3

120

100

80
Força (kN)

60

D
40
C E
F 20
B A
0
-30 -20 -10 0 10 20 30 40

Deslocamento (mm)

Figura 7 - Força - deslocamento na placa de concreto armado PCA3 - ensaio estático com
deformação controlada.

Nos gráficos das figuras 8 e 9 são mostradas as deformações na armadura


dos modelos PCA2 e PCA3.
Um dos extensômetros do modelo PCA3 apresentou defeito e não foi possível
efetuar as leituras.
Ao se propagarem as fissuras do modelo PCS1, a placa se dividiu em quatro
partes, conforme é mostrado nas figuras 10 e 11. A ruptura ocorreu por flexão, nas
duas direções.

PCA2
120

100

80
Força (kN)

60

40
D
20 A C

0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000

Deformação (με)

Figura 8 - Deformações na armadura do modelo PCA2.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 91

PCA3
120

100

80
Força (kN)

60

40

20 A C
B
0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000

Deformação (με)

Figura 9 - Deformações na armadura do modelo PCA3.

No modelo PCA2 as primeiras fissuras apareceram na face lateral, com a


força de 68 kN, conforme é mostrado na figura 12. Quando a força atingiu 108 kN,
houve a formação de uma fissura circunferencial mostrada na figura 13, a
aproximadamente 40 cm da face da área de aplicação da força, mas ainda se
observava um acréscimo na força. Com a força de 118 kN houve o afundamento da
placa metálica, mostrado na figura 14. A partir desse instante, o modelo parou de
receber acréscimo de força. A figura 15 mostra a configuração das fissuras na face
inferior da placa.

Figura 10 - Ruína do modelo PCS1. Figura 11 - Detalhe da ruína do PCS1.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


92 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

Figura 12 - Fissuração inicial do PCA2. Figura 13 - Fissura circunferencial a 40 cm da


face da força, modelo PCA2.

Figura 14 - Fissura circunferencial adjacente à Figura 15 - Configuração das fissuras na face


face da força, modelo PCA2. inferior, modelo PCA2.

No modelo PCA3 o aparecimento das fissuras nas laterais ocorreu nas forças
marcadas na figura 16.
Quando a força atingiu 108 kN, apareceu na superfície a fissura
circunferencial, a 40 cm da face da força – figura 17.
A placa deixou de absorver acréscimo de força quando a placa se dividiu em
duas devido à fissura de flexão – figura 18.
A configuração das fissuras na face inferior da placa encontra-se na figura 19.

Figura 16 - Fissuração do modelo PCA3. Figura 17 - Fissura circunferencial a 40 cm da


face da força, modelo PCA3.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 93

Figura 18 - Ruína do modelo PCA3 – face Figura 19 - Configuração das fissuras na face
superior. inferior, modelo PCA3.

Foram ensaiadas três placas de concreto armado à fadiga: PCA4, PCA5 e


PCA6. O histórico de carregamento do modelo PCA4 está representado na figura 20.

100

80
Força (kN)

60

40

20

0
10 1000 2970 10070 27970
Número acumulado de ciclos

Figura 20 - Histórico de carregamento do modelo PCA4.

A primeira barra de aço rompeu aos 20070 ciclos, mas até que ocorresse a
ruína do modelo, com o aparecimento de uma fissura radial na superfície, mostrada
na figura 21, ainda decorreram mais 7900 ciclos.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


94 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

Figura 21 - Fissuração do modelo PCA4.

Nas figuras 22, 23 e 24 são traçados os deslocamentos medidos nos cantos,


nas bordas e próximos ao centro do modelo PCA4.

100

80
Força (kN)

60

40

20
B A
0
-10 -5 0 5 10 15 20
Deslocamento (mm)
Figura 22 - Diagrama força - deslocamentos nos cantos da placa PCA4.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 95

100
D
C
80

Força (kN)
60

40

20

0
-10 -5 0 5 10 15 20
Deslocamento (mm)
Figura 23 - Diagrama força - deslocamentos nas bordas da placa PCA4.

100
E
80 F
Força (kN)

60

40

20

0
0 5 10 15 20 25 30
Deslocamento (mm)
Figura 24 - Diagrama força - deslocamentos próximos ao centro da placa PCA4.

O histórico de carregamento do modelo PCA5 está representado na figura 25.


Assim como o modelo PCA4, o modelo PCA5 atingiu a ruína com o
aparecimento de uma fissura radial na superfície. O primeiro fio da armadura rompeu
aos 40000 ciclos.
Nas figuras 26, 27 e 28 são traçados os deslocamentos medidos nos cantos,
nas bordas e próximos ao centro do modelo PCA5.
O histórico de carregamento do modelo PCA6 está representado na figura 29.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


96 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

100

80

Força (kN) 60

40

20

0
10 100 500 10000 20000 34000 56175
Número acumulado de ciclos

Figura 25 - Histórico de carregamento do modelo PCA5.

100

80
B A
Força (kN)

60

40

20

0
-10 -5 0 5 10 15 20
Deslocamento (mm)
Figura 26 - Diagrama força - deslocamentos nos cantos da placa PCA5.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 97

100
D
C
80

Força (kN)
60

40

20

0
-10 -5 0 5 10 15 20
Deslocamento (mm)
Figura 27 - Diagrama força - deslocamentos nas bordas da placa PCA5.

100

80
E
F
Força (kN)

60

40

20

0
0 5 10 15 20 25 30
Deslocamento (mm)
Figura 28 - Diagrama força - deslocamentos próximos ao centro da placa PCA5.

100

80
Força (kN)

60

40

20

0
23 200 500 2500 20662 21500
Número acumulado de ciclos

Figura 29 - Histórico de carregamento do modelo PCA6.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


98 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

Figura 30 - Aparecimento do círculo a Figura 31 - Fissuração na face inferior do


40 cm da face da placa metálica. modelo PCA6.

Na figura 31 pode-se ver a formação de fissuras no ensaio do modelo PCA6.


A primeira barra de aço rompeu aos 19700 ciclos.

B A

Figura 32 - Diagrama força – deslocamentos nos cantos da placa PCA6.

Nas figuras 32, 33 e 34 são mostrados os deslocamentos medidos no modelo PCA6.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 99

100

D
80 C

Força (kN)
60

40

20

0
-10 -5 0 5 10 15 20
Deslocamento (mm)
Figura 33 - Diagrama força – deslocamentos nas bordas da placa PCA6.

100

80
Força (kN)

60

40

20 E
F

0
0 5 10 15 20 25 30
Deslocamento (mm)
Figura 34 - Diagrama força – deslocamentos próximos ao centro da placa PCA6.

4 CONCLUSÕES

Os resultados dos ensaios estáticos mostraram que a presença de armadura


próxima à face inferior proporciona um aumento significativo na resistência do
pavimento, quando solicitado por forças verticais que provocam momento fletor
positivo. Nos modelos apresentados, nos quais foi aplicada uma única força centrada,
distribuída em área quadrada de 20 cm de lado, esse ganho foi da ordem de 60%.
A placa de concreto simples, ao ser solicitada por carregamento centrado,
atinge a ruína com uma força igual à força que provoca a fissuração do concreto. O

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


100 Patrícia Lizi de Oliveira Maggi & Libânio Miranda Pinheiro

modelo estudado se dividiu em quatro partes, por fissuras que se estendiam do centro
às laterais da placa, caracterizando a ruína por flexão nas duas direções.
A configuração das fissuras nas placas de concreto armado, ensaiadas sob
carregamento estático, mostra que ocorreu a ruína por flexão. As primeiras fissuras,
observadas nas laterais das placas, são radiais. Essas fissuras se desenvolvem na
face inferior. Numa força próxima à força última, aparece uma fissura circunferencial a
uma distância de aproximadamente 40 cm do centro da placa. Nesse estágio a placa
ainda absorve pequenos incrementos de força, seguido da ruína por afundamento do
volume de concreto sob a área de aplicação da força.
Quando uma força é aplicada repetidas vezes sobre uma placa de concreto
armado, as deformações vão aumentando até um instante em que se observa a ruína,
sem que a força máxima, para um carregamento estático, tenha sido atingida. Nos
ensaios dinâmicos em placas de concreto armado, observou-se a fadiga do aço. O
número de ciclos depende da deformação aplicada na armadura. Portanto, métodos
de dimensionamento que desconsiderem a fadiga da armadura estão contra a
segurança. Verificou-se que a ruptura do primeiro fio não representa a ruína da peça,
pois ocorre redistribuição das tensões e há um incremento no número de ciclos, até
que novos fios se rompam.

5 AGRADECIMENTOS

À FAPESP, pela Bolsa de Doutorado e pelo Auxílio, e ao CNPq, pela Bolsa de


Pesquisador.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (1992). ACI 251R-74 – Considerations for


design of concrete structures subjected to fatigue loading. Detroit, ACI.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6118:2003 –


Projeto de estruturas de concreto.

BALBO, José Tadeu (1999). Contribuição à análise estrutural de reforços com


camadas ultradelgadas de concreto de cimento portland sobre pavimentos
asfálticos (Whitetopping ultradelgado). São Paulo. 195p. Tese (Livre Docência) –
Escola Politécnica – Universidade de São Paulo.

LLOYD, L. P.; LOTT, J. L.; KESLER, C. E. (1968). Fatigue of concrete – Engineering


experiment station bulletin, n. 499. University of Illinois, Urbana – Champaign.

MAGGI, P. L. O. (2004). Comportamento de pavimentos de concreto


estruturalmente armados sob carregamentos estáticos e dinâmicos. São Carlos.
200p. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São
Paulo.

VANDENBOSSCHE, Julie Marie (1995). An analysis of the longitudinal


reinforcement in a jointed reinforced concrete pavement. East Lansing. 105p.
Thesis (PhD) – Michigan State University.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


Pavimentos de concreto estruturalmente armados sob forças estáticas e repetidas 101

WALKER, Wayne W.; HOLLAND, Jerry A. (2001). Design of unreinforced slabs-on-


ground made easy. Concrete International, v.23, n.5, p.37 – 42, May.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 81-101, 2007


102
ISSN 1809-5860

EMPREGO DE ESPÉCIES TROPICAIS


ALTERNATIVAS NA PRODUÇÃO DE ELEMENTOS
ESTRUTURAIS DE MADEIRA LAMINADA COLADA
André Luiz Zangiácomo1 & Francisco Antonio Rocco Lahr2

Resumo
Apesar da versatilidade da madeira, seu emprego fica, às vezes, dificultado por não
serem totalmente conhecidas as suas propriedades e seu desempenho em diferentes
condições de serviço. Neste trabalho, procura-se contribuir para um melhor
aproveitamento das espécies tropicais alternativas, em especial no emprego para
produção de elementos estruturais de madeira laminada colada, uma vez que o Brasil
possui grande potencial dessas espécies, mas ainda sub-utilizadas. Neste contexto,
realiza-se a determinação das propriedades físicas, de resistência e de rigidez de
algumas espécies e determinam-se também as rigidezes de elementos estruturais
obtidos da espécie cujos corpos-de-prova apresentam os melhores resultados. Ensaiam-
se vigas montadas com dois tipos de adesivos, duas intensidades de pressão e duas
distribuições de lâminas. Adota-se a metodologia experimental recomendada no
ANEXO B da NBR 7190:1997 - Projeto de Estruturas de Madeira, da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Analisam-se os resultados obtidos a partir de
conceitos estatísticos. A espécie Cedrinho (Erisma sp) apresenta as melhores respostas,
das quais pode-se concluir que os adesivos Cascophen e à base de mamona não
influenciaram as propriedades de rigidez das vigas, o mesmo acontecendo para as duas
intensidades de pressão, 0,8 MPa e 1,2 MPa. As propriedades de rigidez das vigas de
MLC podem ser influenciadas pela distribuição das lâminas ao longo da altura da
seção transversal.

Palavras-chave: madeira; estruturas de madeira; madeira laminada colada.

1 INTRODUÇÃO

O emprego da madeira na construção de estruturas, no Brasil, nem sempre


ocorre em condições satisfatórias no tocante à tecnologia agregada ao material,
apesar de sua versatilidade e de sua disponibilidade. Mesmo considerando estes
aspectos favoráveis, seu emprego fica, às vezes, dificultado por não serem totalmente
conhecidas suas propriedades físico-mecânicas e seu desempenho em diferentes
condições de serviço.
Para o adequado aproveitamento da madeira como material estrutural, é
indispensável o conhecimento das suas características de resistência e de rigidez.
1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, alzusp@hotmail.com
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas - EESC-USP, frocco@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 103-131, 2007


104
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Isto deve ocorrer com todas as espécies, inclusive as alternativas, cujo potencial seja
mais promissor, consideradas as múltiplas possibilidades de uso. Entre estes usos,
vem ganhando cada vez mais espaço no mercado internacional, com reflexos
imediatos na construção civil brasileira, o emprego de elementos estruturais de
madeira laminada colada (MLC), solução compatível para uma vasta gama de
problemas estruturais.
Paralelamente, vem sendo observada a conscientização da necessidade de
um melhor aproveitamento dos recursos naturais provenientes das Florestas
Tropicais, em particular no que concerne à Floresta Amazônica, com a disseminação
dos conceitos de manejo sustentado e comercialização de material certificado. Cada
vez menos se compactua com a exploração seletiva e predatória, que conduziu à
exaustão diversas espécies, de uso consagrado.
Informações publicadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
(1998) mostram um significativo decréscimo na taxa de desmatamento na Floresta
Amazônica. No período compreendido entre 1978 e 1987, 21.130 km2 foram
consumidos por ano. Nos dez anos seguintes, este número caiu para 16.777 km2, e
as perspectivas são de que se reduza ainda mais esta taxa nos próximos anos. Assim
sendo, passa a crescer a disponibilidade de espécies de menor densidade,
evidenciando a urgência para o desenvolvimento de trabalhos de pesquisa, seja de
cunho teórico, seja de abordagem teórico-experimental, que permitam o adequado
conhecimento de sua aplicabilidade às mais diversificadas situações práticas,
incluindo-se entre elas a MLC.

1.1 Objetivo

O trabalho aqui proposto tem como objetivo gerar subsídios que contribuam
para o emprego de espécies tropicais, com densidade até 0,75 g/cm³, a 12% de
umidade, valor de referência da NBR 7190:1997, na produção de peças estruturais de
MLC.

1.2 Metodologia

Esta pesquisa foi dividida em duas fases. Na primeira, são realizados ensaios
em corpos-de-prova colados obtidos de quatro espécies de madeira: são
determinadas a resistência à tração das emendas dentadas, a resistência da lâmina
de cola à tração normal e a resistência ao cisalhamento da lâmina de cola. Para efeito
de comparação, são realizados também ensaios para a determinação da resistência à
tração paralela às fibras, resistência à tração normal às fibras e resistência ao
cisalhamento em corpos-de-prova de madeira maciça. Na segunda fase, determinam-
se por meio de ensaios de flexão estática, de vibração transversal e de ultra-som, as
rigidezes de elementos estruturais obtidos da espécie cujos corpos-de-prova
apresentam os melhores resultados. São ensaiadas vigas montadas com dois tipos de
adesivos, duas intensidades de pressão e duas distribuições de lâminas. Os
experimentos são conduzidos de acordo com a metodologia recomendada no ANEXO
B da NBR 7190:1997 - Projeto de Estruturas de Madeira, da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), e os resultados obtidos são analisados a partir de
conceitos estatísticos (análises de variância das médias, correlações e análise
fatorial).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 101-131, 2007


Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 105

2 SOBRE A MADEIRA LAMINADA COLADA

Elementos estruturais de madeira laminada colada (MLC) são formados por


peças de madeira obtidas com lâminas de determinada seção, solidarizadas entre si
sob pressão, com o emprego de adesivos (figura 1).
A MLC tem seus usos mais freqüentes em estruturas de cobertura, elementos
estruturais principais para pontes, torres de transmissão, edifícios, embarcações,
banzos de escadas e corrimão, equipamentos decorativos planos ou em relevos,
esquadrias e móveis. Isto se deve ao fato da MLC adaptar-se a uma significativa
variedade de formas e apresentar alta resistência a solicitações mecânicas em função
de seu peso próprio relativamente baixo.

Lâminas

Adesivo

Figura 1 - Esquema de uma viga de MLC.

Uma das características da MLC é a versatilidade na obtenção das mais


variadas formas geométricas para elementos estruturais. As possibilidades
arquitetônicas daí resultantes são inúmeras e dependem principalmente da
indispensável colaboração entre arquitetos e engenheiros (NATTERER, 1991). Têm-
se como principais vantagens:
Facilidade na construção de grandes estruturas a partir de peças de
dimensões comerciais;
Redução de rachaduras e outros defeitos típicos de peças maciças de
madeira, com grandes dimensões;
Possibilidade de emprego de peças de qualidade inferior em zonas menos
solicitadas, e de peças de melhor qualidade em zonas mais solicitadas, podendo-se
combinar, assim, espécies distintas;
Possibilidade de aplicação de contra-flechas durante o processo de
fabricação;
Baixa relação peso/ resistência, não exigindo equipamentos possantes para
içamento, bem como conduzindo a fundações com ações de menores intensidades;
Bom desempenho sob a ação do fogo, em razão de seções transversais
avantajadas, e elevada resistência aos agentes corrosivos.
Como aspecto restritivo, pode ser citado que a MLC tem custo superior ao da
madeira maciça, e requer técnicas especiais, equipamentos e mão-de-obra
especializada no processo de fabricação.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 103-131, 2007


106
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

3 ENSAIOS PRELIMINARES

A realização dos ensaios preliminares teve como objetivo avaliar o


desempenho de algumas espécies nativas, por meio de ensaios com corpos-de-
prova, seguindo as diretrizes previstas na NBR 7190:1997, Anexo B. A espécie que
apresentou os melhores resultados foi então a escolhida para dar seqüência à
próxima fase da pesquisa.

3.1 Materiais

Para o desenvolvimento dos ensaios preliminares foram utilizadas espécies


nativas de madeira, com densidades de até 0,75 g/cm3, a 12% de umidade, valor de
referência de acordo com as prescrições da NBR 7190:1997 – Projeto de Estruturas
de Madeira, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Foi feita uma
pesquisa bibliográfica com o objetivo de listar as espécies cujas densidades fossem
inferiores ou, no máximo, iguais ao valor citado acima. Deste levantamento, foram
escolhidas aquelas que estavam disponíveis no mercado madeireiro da região de São
Carlos, num total de quatro espécies, a saber:
Envira Branca (Xylopia sp) – densidade 0,72 g/cm3;
Cambará (Moquinia polymorpha) – densidade 0,63 g/cm3;
Castanheira (Bertholetia excelsa) – densidade 0,70 g/cm3;
Cedrinho (Erisma sp) – densidade 0,62 g/cm3.
Foram adquiridas no mercado madeireiro da região seis vigas para cada
espécie, com dimensões 6 cm x 12 cm x 300 cm, das quais foram extraídos os
corpos-de-prova para a realização dos ensaios.
Foram utilizados dois tipos de adesivos na colagem dos corpos-de-prova. O
primeiro, à base de resina resorcinol, conhecido pelo nome comercial de Cascophen,
usual na produção de elementos estruturais de MLC pela indústria brasileira. O
segundo, à base de resina extraída da mamona, é um adesivo poliuretânico
bicomponente, desenvolvido e produzido por pesquisadores do Instituto de Química
de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC – USP). Para a confecção dos
corpos-de-prova foram utilizados os equipamentos elétricos da oficina do LaMEM, tais
como serra circular, furadeira e cortador tipo “asa” para emendas dentadas. Para a
obtenção das dimensões dos corpos-de-prova foi empregado um paquímetro digital
com sensibilidade de 0,01 mm. Um dispositivo de reação, com anel dinamométrico, foi
montado para fornecer a intensidade de pressão desejada. Para o preparo dos
adesivos foram utilizados pequenos recipientes, com capacidade de
aproximadamente 1 litro, onde as partes foram misturadas. Na determinação das
massas das partes foi utilizada uma balança digital, e pincéis foram empregados para
a distribuição dos adesivos nos corpos-de-prova. Na condução dos ensaios foram
utilizadas duas máquinas universais de ensaio: uma AMSLER, com capacidade de
carregamento de 250 kN, e uma DARTEC M1000/RC, com capacidade de 100 kN.

3.2 Métodos

3.2.1 Ensaios
Nesta etapa do trabalho foram realizados ensaios de resistência à tração
paralela às fibras, resistência à tração normal às fibras e resistência ao cisalhamento
em corpos-de-prova de madeira maciça. Esses foram adotados como controle para a
comparação com os corpos-de-prova colados, nos quais foram realizados ensaios
para a determinação da resistência das emendas dentadas, resistência da lâmina de
cola à tração normal e resistência ao cisalhamento na lâmina de cola.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 101-131, 2007


Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 107

Para a confecção dos corpos-de-prova a serem ensaiados, foram adquiridas


seis peças de madeira (vigas) de cada espécie, com dimensões nominais de 6 cm x
12 cm x 300 cm, escolhidas aleatoriamente no estabelecimento comercial que efetuou
a venda do material.
Para a espécie Envira Branca, foram extraídos nove corpos-de-prova de cada
viga: três para ensaios de tração paralela às fibras (um para madeira maciça e dois
para os adesivos Cascophen e resina de mamona), três para ensaios de tração
normal às fibras e três para ensaios de resistência ao cisalhamento. Após a realização
dos ensaios com essa espécie, os resultados apontaram a necessidade de que mais
corpos-de-prova fossem confeccionados para se obter intensidades diferentes de
pressão de colagem. Assim, para as outras três espécies foram extraídos onze
corpos-de-prova de cada viga: cinco para ensaios de tração paralela às fibras (um
para madeira maciça e quatro para os ensaios com os adesivos), três para ensaios de
tração normal às fibras e três para ensaios de resistência ao cisalhamento. Sendo
previstas seis vigas por espécies, chegou-se, portanto, a um total de cinqüenta e
quatro corpos-de-prova preparados para a espécie Envira Branca e de sessenta e
seis para as demais, totalizando duzentos e cinqüenta e dois ensaios realizados.
O adesivo à base fenólica (Cascophen) foi preparado de acordo com as
instruções do fabricante, ou seja, uma parte em massa de catalisador para cada cinco
partes em massa de adesivo. O adesivo poliuretânico obtido do processamento da
mamona foi preparado de acordo com instruções dos pesquisadores do IQSC - USP,
isto é, uma parte em massa de catalisador para cada parte em massa de adesivo. O
consumo de adesivo foi de 350 g/cm3 e o tempo de aplicação de pressão foi de 10
horas para ambos os adesivos. O tempo de cura das peças coladas foi de, no mínimo,
dez horas para o Cascophen e de noventa e seis horas (4 dias) para o adesivo de
mamona. A pressão de colagem foi de 0,8 MPa para todos os ensaios.
Em virtude dos primeiros resultados obtidos com a espécie Envira Branca,
optou-se por adotar mais um valor de pressão de colagem para os ensaios de
resistência das emendas dentadas à tração paralela às fibras para as demais
espécies. Esse novo valor adotado corresponde ao dobro do valor adotado até então,
ou seja, 1,6 MPa.

3.3 Planejamento estatístico

Os ensaios em madeira maciça foram realizados de modo a servirem de


controle para uma análise estatística. Os resultados obtidos nos corpos-de-prova
colados com os adesivos Cascophen e à base de mamona foram comparados com os
resultados obtidos nos corpos-de-prova em madeira natural. Para esta comparação,
foi utilizado o programa estatístico MINITAB, por meio de análise de variância das
médias. Para a verificação das hipóteses, utilizou-se o programa MINITAB, sub-rotina
ANOVA - Dunnett’s, com um nível de significância igual a 0,05, ou seja, a
possibilidade de se considerar a hipótese H0 como sendo verdadeira e esta ser falsa é
de 5%.

3.4 Resultados

As tabelas seguintes apresentam as tensões obtidas para as espécies Envira


Branca (Xylopia sp), Cambará (Moquinia polymorpha), Castanheira (Bertholetia
excelsa) e Cedrinho (Erisma sp). Os resultados apresentados em MPa, são referentes
a madeira maciça, ao adesivo Cascophen e ao adesivo à base de resina de mamona.
A coluna onde lê-se “Pressão” corresponde aos valores adotados na colagem dos
corpos-de-prova, também em MPa.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 103-131, 2007


108
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Tabela 1 - Tensões médias obtidas para a Envira branca (em MPa).


Pressão Maciça Cascophen Mamona
Tração paralela 0,8 63,12 54,04 40,09
Cisalhamento 0,8 12,53 12,00 11,45
Tração normal 0,8 2,78 1,76 1,66

Tabela 2 - Tensões médias obtidas para o Cambará (em MPa).


Pressão Maciça Cascophen Mamona
0,8 45,18 25,66
Tração paralela 52,17
1,6 47,31 43,61
Cisalhamento 0,8 14,02 13,37 10,05
Tração normal 0,8 2,48 2,47 1,15

Tabela 3 - Tensões médias obtidas para a Castanheira (em MPa).


Pressão Maciça Cascophen Mamona
0,8 38,41 28,05
Tração paralela 64,35
1,6 36,50 19,38
Cisalhamento 0,8 10,44 7,76 6,37
Tração normal 0,8 4,84 2,86 2,84

Tabela 4 - Tensões médias obtidas para o Cedrinho (em MPa).


Pressão Maciça Cascophen Mamona
0,8 33,47 37,48
Tração paralela 40,60
1,6 34,28 40,44
Cisalhamento 0,8 8,37 8,13 8,13
Tração normal 0,8 2,57 2,21 2,15

3.5 Análise dos resultados

Para a discussão dos resultados das quatro espécies pesquisadas foram


utilizados os valores calculados na análise de variância do programa MINITAB. As
tabelas seguintes apresentam esses valores para cada ensaio, de cada espécie, bem
como as respectivas pressões de colagem. Foram analisadas as médias dos
resultados dos corpos-de-prova de madeira maciça, adotadas como controle, versus
as médias dos resultados dos corpos-de-prova colados com o adesivo Cascophen e
com o adesivo de mamona.

a. Envira Branca
A tabela seguinte apresenta os valores obtidos na análise de variância da
espécie Envira Branca.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 101-131, 2007


Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 109

Tabela 5 - Análise de variância da Envira Branca.


Maciça x Cascophen Maciça x Mamona
Pressão Fobservado fc p Fobservado fc p
Tração paralela 0,8 0,95 5,117 0,356 12,50 4,965 0,005
Cisalhamento 0,8 0,41 5,117 0,540 2,67 5,318 0,141
Tração normal 0,8 7,27 4,965 0,022 12,72 4,965 0,005

No que se refere à resistência ao cisalhamento, é possível observar que as


resistências médias estão próximas. A análise de variância das médias vem
comprovar essa observação. Para os dois adesivos estudados, fica demonstrado seu
bom desempenho para esta solicitação.
No que se refere à tração paralela em emendas dentadas, a resistência da
madeira natural foi a maior das três determinadas. Provavelmente isto se deve à
pressão aplicada na confecção dos corpos-de-prova (0,8 MPa), que pode não ter sido
suficiente para promover a adequada penetração do adesivo na madeira. Esta
constatação conduziu à adoção de pressão superior a 0,8 MPa na confecção dos
corpos-de-prova para ensaio de tração paralela das demais espécies.
Também no caso da tração normal na lâmina de cola, a resistência da
madeira natural foi a maior das três determinadas. Estatisticamente ficou comprovado
o desempenho indesejável de ambos os adesivos.

b. Cambará
A tabela 6 apresenta os resultados obtidos na análise de variância do
Cambará.

Tabela 6 - Análise de variância do Cambará.


Maciça x Cascophen Maciça x Mamona
Pressão Fobservado fc p Fobservado fc p
0,8 1,43 5,117 0,262 21,72 5,117 0,001
Tração paralela
1,6 0,56 5,117 0,473 1,63 5,117 0,233
Cisalhamento 0,8 0,18 4,965 0,678 13,76 4,965 0,004
Tração normal 0,8 0,00 4,965 0,979 8,99 4,965 0,013

Relativamente aos resultados desta espécie, pode-se concluir, de início, pela


conveniência de se utilizar pressão de colagem 1,6 MPa na confecção dos corpos-
de-prova para determinação da resistência das emendas à tração. Para esta pressão
foram obtidos os melhores resultados.. Quando adotada a pressão de 0,8 MPa, os
resultados foram bem inferiores para o adesivo à base de mamona e ligeiramente
menores para o Cascophen. Para a resina de mamona, evidencia-se um mau
desempenho desse adesivo para essa intensidade de pressão. O contrário acontece
para o Cascophen, sugerindo um bom desempenho deste mesmo com uma pressão
de colagem de 0,8 MPa.
No caso de resistência ao cisalhamento, o Cascophen proporcionou resultado
muito próximo ao obtido para a madeira maciça. Valor inferior foi alcançado com o
adesivo à base de mamona. Começa a se evidenciar um aspecto de relevante
significado na definição das espécies nativas e dos adesivos a empregar na
confecção de elementos estruturais de madeira laminada colada. Não é suficiente,

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 103-131, 2007


110
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

conforme registrava MACÊDO (1997), que a densidade da espécie esteja contida no


intervalo de 0,5 a 0,75 g/cm3. É preciso considerar a compatibilização entre a madeira
e o adesivo, condicionada pela permeabilidade da espécie aos adesivos. E, por sua
vez, a permeabilidade está associada não somente às particularidades anatômicas da
espécie como também às características de viscosidade do adesivo. Observa-se que,
para o Cambará, bons resultados foram obtidos com o Cascophen, enquanto que os
apresentados pelo adesivo a base de mamona não foram satisfatórios. Assim, a
compatibilização da espécie com o Cascophen se mostrou mais favorável. Deve ser
registrado que, segundo MAINIERI et al. (1983), o Cambará apresenta “poros visíveis
somente sob lente, muito pequenos, múltiplos e solitários, obstruídos por óleo resina e
tilas.” Estas peculiaridades influem na permeabilidade da espécie, tornando-a menos
compatível ao adesivo à base de mamona em comparação com o Cascophen.
Por outro lado, conclui-se pela conveniência de descartar a pressão de 0,8
MPa na produção de corpos-de-prova para a avaliação da resistência à tração das
emendas. Com isto, é possível reduzir o trabalho experimental sem perda da
qualidade das informações.

c. Castanheira
A seguir são apresentados na tabela 7 os números obtidos na análise de
variância da espécie Castanheira.

Tabela 7 - Análise de variância da Castanheira.


Maciça x Cascophen Maciça x Mamona
Pressão Fobservado fc p Fobservado fc p
0,8 22,90 4,965 0,001 29,33 4,965 0,000
Tração paralela
1,6 21,04 4,965 0,001 85,82 4,965 0,000
Cisalhamento 0,8 8,22 4,965 0,017 14,54 4,965 0,003
Tração normal 0,8 8,41 4,965 0,016 6,89 5,117 0,028

Com relação a esta espécie, comentários diferentes dos apresentados para a


Envira Branca e para o Cambará são pertinentes.
Percebe-se que, para todas as resistências e para as duas pressões de
colagem utilizadas, não foi possível alcançar, com os dois adesivos considerados,
valores próximos aos da madeira maciça, demonstrando assim um mau desempenho,
fato confirmado pela análise estatística.
Mais uma vez fica evidenciada a necessidade de ser buscada a
compatibilização entre espécies e adesivos (e não apenas o intervalo de densidade)
para a definição das espécies mais convenientes com vistas à produção de madeira
laminada colada. Destaca-se que esta espécie apresenta, segundo MAINIEIRI et al.
(1983), “poros médios a grandes, poucos, solitários e múltiplos, quase sempre
obstruídos por tilas”. O número pequeno de poros e a obstrução praticamente
sistemática provocada pelas tilas prejudicam a permeabilidade da espécie e, em
linhas gerais, limitam grandemente seu emprego para a confecção de elementos
estruturais de madeira laminada colada, com os adesivos estudados.

d. Cedrinho
A tabela 8 mostra os resultados obtidos na análise de variância da espécie
Cedrinho.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 101-131, 2007


Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 111

Tabela 8 - Análise de variância do Cedrinho.


Maciça x Cascophen Maciça x Mamona
Pressão Fobservado fc p Fobservado fc p
0,8 1,17 4,965 0,305 0,31 4,965 0,592
Tração paralela
1,6 1,24 4,965 0,292 0,00 4,965 0,984
Cisalhamento 0,8 0,07 4,965 0,798 0,06 4,965 0,809
Tração normal 0,8 0,99 4,965 0,343 1,62 4,965 0,232

Relativamente aos resultados desta espécie, pode-se concluir pela


conveniência de se utilizar pressão de colagem 1,6 MPa na confecção dos corpos-
de-prova para determinação da resistência das emendas à tração. Para esta pressão
foram obtidos os melhores resultados. Observa-se que os dois adesivos conduziram a
resultados de resistência bastante próximos ao da madeira maciça, com vantagem
para o adesivo à base de mamona. Quando adotada a pressão de 0,8 MPa os
resultados foram inferiores.
No caso de resistência ao cisalhamento e a tração normal, o Cascophen e o
adesivo à base de mamona levaram a resultados muito próximos ao obtido para a
madeira maciça
Mais uma vez fica evidenciada a necessidade de ser buscada a
compatibilização entre espécies e adesivos (e não apenas o intervalo de densidade)
para a definição das madeiras mais convenientes com vistas à produção de madeira
laminada colada. Destaca-se que esta espécie apresenta, segundo MAINIEIRI et al.
(1983), “poros grandes, visíveis a olho nu, poucos, solitários e múltiplos, tilas de
paredes finas”. O número pequeno de poros é compensado pela pequena obstrução
provocada pelas tilas de paredes finas. Isto confere, à espécie, permeabilidade
suficiente para viabilizar seu emprego na confecção de elementos estruturais de
madeira laminada colada, com os adesivos estudados.

4 ENSAIOS PRINCIPAIS

4.1 Materiais

4.1.1 Espécie
A partir dos ensaios preliminares foi escolhida a espécie Cedrinho para o
desenvolvimento dessa fase da pesquisa. Além de apresentar densidade de 0,62
g/cm3, situada numa faixa indicada para a produção de elementos estruturais de MLC,
apresentou compatibilidade para os dois tipos de adesivos utilizados nos ensaios
prescritos pela NBR 7190:1997 – Projeto de Estruturas de Madeira, em seu Anexo B,
confirmada pelo seu desempenho às solicitações mecânicas apresentado no capítulo
anterior.

4.1.2 Adesivos
Os adesivos utilizados na colagem dos elementos estruturais foram dois. O
primeiro, à base de resorcinol, é conhecido pelo nome comercial de Cascophen, muito
utilizado na produção de elementos estruturais de MLC pela indústria brasileira. É
misturado com o preparado endurecedor em pó FM. O segundo é uma resina
poliuretana à base de mamona, desenvolvido e produzido por pesquisadores do
Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo (IQSC – USP).
Derivado do óleo da mamona, esse adesivo é do tipo bicomponente e de cura a frio,
composto do prepolímero A249 e do poliol B16030. Uma vez misturados, o tempo de

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utilização é em torno de 20 minutos, com sua viscosidade aumentando após esse


período.

4.1.3 Equipamentos
Para a obtenção das lâminas componentes das vigas, foi utilizada a serra
circular da oficina do LaMEM. Suas dimensões nominais foram medidas com o auxílio
de uma trena de 5 metros. Para os ensaios de flexão estática das lâminas, foram
utilizados massas padronizados de 1 kg e relógio comparador com sensibilidade de
0,01 mm. Para a mistura dos adesivos, foram empregados recipientes com
capacidades de aproximadamente 1 litro, balança digital para mensurar as partes a
serem misturadas e pincel para distribuição nas lâminas. Um dispositivo para
prensagem constituído de guias com roscas foi montado para fornecer a pressão às
vigas. A pressão foi feita por porcas, giradas com torquímetro, este calibrado numa
célula de carga. Para o ensaio de flexão estática de quatro pontos, usou-se um
dispositivo montado com pistão acionado hidraulicamente, com anel dinamométrico
de capacidade 20 kN. Nos métodos não-destrutivos foi utilizado o aparelho Sylvatest,
ensaios de ultra-som, e o Metriguard 340-E, ensaios de vibração transversal, tanto
para as vigas como também para as lâminas.

4.2 Métodos

Foram adquiridas tábuas de dimensões nominais 2 cm x 30 cm, comprimentos


que variaram entre 400 e 600 cm, no comércio madeireiro da região, e estas foram
serradas de modo a se obterem lâminas de dimensões nominais 2 cm x 6 cm x 300
cm, totalizando assim 116 lâminas.

4.2.2 Ensaios das lâminas


Foram realizados ensaios de flexão estática nas lâminas, seguindo-se as
diretrizes da NBR 7190:1997, com o objetivo de se obter seus módulos de
elasticidade. Cada vez mais difundidos, os ensaios não destrutivos foram inseridos
nessa pesquisa com o intuito de serem, os resultados, comparados com aqueles
obtidos nos tradicionais ensaios de flexão estática normatizados. Assim, foram feitos
ensaios para a determinação do módulo de elasticidade por vibração transversal e
também ensaios de ultra-som para a determinação da constante dinâmica CLL, e os
resultados foram correlacionados com os ensaios de flexão estática.

4.2.1.1 Flexão estática nas lâminas

No ensaio para a determinação do módulo de elasticidade, por flexão estática


das lâminas, foram utilizados dois apoios que permitiam rotação, massas
padronizadas e um relógio comparador. O carregamento foi aplicado no meio do vão,
e o deslocamento foi medido no relógio comparador na face oposta à superfície de
aplicação da força.
O deslocamento é dado pela expressão:

F l3
a= (1)
48 E I

Onde:
a = deslocamento medido em l/2;
F = força aplicada;

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Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 113

l = distância entre os apoios;


E = módulo de elasticidade da lâmina;
I = momento de inércia da lâmina.

4.2.1.2 Vibração transversal

Nos ensaios para determinação dos módulos de elasticidade por vibração


transversal, foi utilizado o aparelho Metriguard Modelo 340-E. O equipamento é
composto por dois tripés metálicos, uma unidade de interface, uma célula de carga,
uma unidade de controle manual e cabos, sendo o sistema completado por um
programa computacional. A unidade de interface recebe os sinais provenientes da
célula de carga localizada sobre um dos tripés e o transmite para o computador, onde
um programa calcula e transmite dados como o módulo de elasticidade, a densidade,
a freqüência de vibração, e outros. Após os ajustes iniciais, a peça a ser ensaiada é
apoiada sobre os tripés metálicos e uma liberação é feita no programa, indicando que
uma vibração pode ser produzida. Durante a vibração, é feita uma leitura (ou quantas
se desejarem), e o programa realiza os cálculos, com os valores expressos
diretamente na tela do computador, não sendo necessárias considerações
posteriores.

4.2.1.3 Ultra-som

A madeira é considerada um material ortotrópico, possuindo três eixos de


simetria elástica. Para estes materiais, os módulos de elasticidade de Young são
proporcionais às constantes dinâmicas corrigidas dos coeficientes de Poisson. De
acordo com Oliveira (2001), os termos da matriz de rigidez [C] podem ser
determinados pelas medições com ultra-som. Assim, foi utilizado o aparelho Sylvatest
para a determinação do termo CLL da matriz de rigidez. O equipamento é composto
por dois transdutores de 22 kHz e o aparelho propriamente dito. Os transdutores são
posicionados nas extremidades da peça a ser ensaiada e, então, um deles emite
ondas ultra-sônicas que percorrem o elemento, sendo recebidas pelo outro transdutor
na extremidade oposta. É medida a velocidade com que a onda se propaga e então é
feito o cálculo para determinação da constante dinâmica CLL. Fatores como defeitos
na peça, presença de nós, teor de umidade, e outros que possam influenciar a
propagação da onda contribuem para que possam ocorrer problemas de leitura ou
uma leitura com alguns desvios.
O cálculo da constante dinâmica é feito a partir da expressão:

CLL = ρ . v2 . 10-6 (2)

Onde:
CLL = constante dinâmica, em MPa;
ρ = densidade aparente, em kg/m3;
v = velocidade de propagação da onda, em m/s.

4.2.3 Critérios para a montagem dos elementos estruturais


Após a determinação dos módulos de elasticidade das lâminas, por ensaios
de flexão estática, estas foram classificadas em ordem decrescente e separadas em
dois lotes: um para montagem de vigas com distribuição não-aleatória de lâminas, e
outro com distribuição aleatória, sendo cada elemento estrutural formado por um
conjunto de seis lâminas sobrepostas. No total, foram formados dezesseis conjuntos
(que deram origem a dezesseis vigas): oito a partir do lote de lâminas não aleatórias e
oito a partir do lote de lâminas aleatórias.

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Na montagem das vigas com distribuições não-aleatórias (NA), as lâminas


com módulos de elasticidade mais elevados foram dispostas nas regiões mais
solicitadas da peça, enquanto que as de módulos mais baixos foram colocadas nas
regiões de menor solicitação. O mesmo já não ocorre na montagem dos elementos
estruturais com distribuições aleatórias (A). Nestas, as lâminas de cada conjunto
foram dispostas sem que critério algum de distribuição fosse seguido, garantindo
assim a aleatoriedade desejada.
Para uma estimativa dos valores dos módulos de intensidade das vigas, antes
que estas fossem ensaiadas foram realizados cálculos a partir da média aritmética
dos valores dos módulos das lâminas que compõem a peça, de acordo com a
equação:
n

∑E i
E médio = i =1
(3)
n

Onde Emédio é o módulo médio aritmético estimado para a peça estrutural, Ei é


o módulo da lâmina i (com i variando de 1 até n), e n é o número de lâminas que
formam a viga, ou seja, igual a 6.
Com o intuito de se levar em consideração a contribuição dos módulos de
elasticidade das lâminas em função de suas posições na seção da viga, calculou-se
também um módulo de elasticidade médio ponderado, Ep, a partir da seguinte
equação:
n

∑E i . Ii
Ep = i =1
n
(4)
∑I i =1
i

Onde Ei e Ii são, respectivamente, o módulo de elasticidade e momento de


inércia da lâmina i na seção (i = 1, 2,...,n), com n = 6.
Para este último cálculo, foi feita a homogeneização da seção em função do
módulo de elasticidade da primeira lâmina posicionada no elemento estrutural no
sentido de baixo para cima (apenas como critério) e, a partir disso, foi determinada a
posição do novo centro de gravidade para a seção. Em seguida, foram calculados os
momentos de inércia das seções de cada lâmina que constituem a viga e procedeu-
se, então, ao cálculo da estimativa do módulo de elasticidade médio ponderado.

4.2.4 Colagem das vigas


O preparo dos adesivos seguiu as recomendações dos fabricantes, ou seja,
uma parte em massa de catalisador para cada cinco partes em massa de adesivo
para o Cascophen, e uma parte em massa de catalisador para cada parte em massa
de adesivo para a mamona. Uma vez preparados, os adesivos foram distribuídos nas
superfícies das lâminas com a utilização de pincéis. O consumo de adesivo foi de
quatrocentos gramas de Cascophen para cada viga colada, e de trezentos e
cinqüenta gramas para o adesivo à base de mamona. Em seguida, as peças foram
colocadas num dispositivo montado com eixos contendo roscas e porcas para
transmitirem pressão ao elemento estrutural. Para a aplicação da força necessária em
cada eixo, foi empregado um torquímetro, previamente calibrado em uma célula de
carga. Na união das lâminas, oito vigas foram coladas com Cascophen: quatro com
intensidade de pressão 0,8 MPa e quatro com intensidade de pressão 1,2 MPa, e

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Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 115

outras oito coladas com adesivo à base de mamona, com as mesmas intensidades de
pressão. O tempo de aplicação de pressão foi de 10 horas para ambos os adesivos. O
tempo de cura das peças coladas foi de, no mínimo, dez horas para o Cascophen e
de noventa e seis horas (4 dias) para o adesivo de mamona. Após a cura as vigas
foram aparelhadas e então estavam prontas para serem ensaiadas.

4.2.5 Ensaios das vigas


4.2.1.4 Flexão estática

Para o ensaio de flexão estática das vigas foram utilizados dois apoios que
permitem rotação, um relógio comparador e, neste caso, um dispositivo montado para
aplicação de forças nos terços do vão do elemento estrutural. O carregamento foi feito
por um pistão hidráulico, e a força medida por um anel dinamométrico com
capacidade de 20 kN, com constante K=1,828 daN/divisão.
Foram aplicados três ciclos de carregamento, com registro de medidas no
último ciclo. Foram feitas seis leituras, correspondentes a 10%, 20%, 30%, 40%, 50%
e 100% de uma força que promoveria um deslocamento de aproximadamente l/200, e
o módulo de elasticidade foi calculado a partir da média aritmética das leituras.
O deslocamento na metade do vão (l/2) é dado pela expressão:

F l3 ⎛ l1 l ⎞
3

a= ⎜ 3 − 4 13 ⎟ (5)
24 E I ⎜ l l ⎟⎠

Onde:
a = deslocamento no ponto médio da viga;
F = força aplicada num dos terços da viga;
l = distância entre os apoios da viga;
E = módulo de elasticidade da viga;
I = momento de inércia;
l1 = distância entre o apoio e o ponto de aplicação da força.

4.2.1.5 Vibração transversal

O procedimento adotado neste ensaio foi análogo ao do ensaio das lâminas.


As vigas foram dispostas sobre os cavaletes e golpes de martelo foram aplicados para
produzirem vibrações. O programa forneceu, então, os resultados solicitados.

4.2.1.6 Ultra-som

No ensaio de ultra-som, os transdutores foram posicionados nas extremidades


das vigas e, então, foram efetuadas três leituras dos valores do tempo que as ondas
demoraram pra percorrer toda a extensão das peças. Considerando a expressão (2)
foram calculadas as constantes dinâmicas das vigas, utilizando uma média de três
leituras de tempo de propagação.

4.2.6 Planejamento estatístico


Neste trabalho desejou-se determinar a influência das variáveis (adesivo,
pressão de colagem e distribuição das lâminas) no comportamento da peça. Para
isso, foi feito um planejamento fatorial 23, com dois adesivos (Cascophen e à base de
mamona), duas intensidades de pressão de colagem (0,8 e 1,2 MPa) e dois tipos de
distribuições de lâminas (aleatória e não aleatória).

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Adotou-se representar os fatores por letras maiúsculas (D, A e P para


distribuição, adesivo e pressão, respectivamente) e seus níveis por números (-1 e 1),
como normalmente são representados. Para uma viga com distribuição não aleatória,
colada com adesivo de mamona sob uma pressão de 0,8 MPa, tem-se, por exemplo,
as seguintes representações: D = -1 A = 1 P = -1.
A análise da influência dos efeitos, isolados e também interagindo entre si,
sobre a variável resposta (módulo de elasticidade) da peça foi feita com o emprego do
programa estatístico MINITAB, e a sub-rotina DOE/fatorial. Com a finalidade de
comparar os valores obtidos nos ensaios com os valores calculados, também foi feita
uma análise de variância das médias, usando o programa citado e a sub-rotina
ANOVA.

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 Valores obtidos nos ensaios com as lâminas

5.1.1 Flexão estática


A tabela 9 apresenta o números de identificação (L) das lâminas e seus
respectivos módulos de elasticidade (em daN/cm2), calculados pela expressão (1).
Apresenta também a média (M) dos valores, o desvio padrão (DP) e o coeficiente de
variação (CV).

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Tabela 9 - Módulos de elasticidade das lâminas obtidos por flexão estática.


L E L E L E L E
1 118062 30 108885 59 139692 88 160616
2 125161 31 93656 60 140909 89 93366
3 99876 32 102758 61 97737 90 83825
4 129251 33 139201 62 81737 91 108340
5 96465 34 94132 63 80874 92 113704
6 130531 35 98154 64 102536 93 100298
7 153298 36 114841 65 88001 94 100298
8 111548 37 106334 66 91143 95 91873
9 90928 38 96912 67 106334 96 92988
10 153298 39 108340 68 76560 97 104877
11 129608 40 92242 69 98154 98 117785
12 126348 41 102996 70 96912 99 86023
13 96315 42 96912 71 96505 100 78928
14 113002 43 93748 72 97737 101 93748
15 111298 44 85067 73 146294 102 113144
16 87155 45 100298 74 126896 103 82619
17 116798 46 82619 75 114841 104 82323
18 95934 47 107832 76 92988 105 91143
19 115456 48 84753 77 105358 106 105844
20 111298 49 82619 78 91507 107 80590
21 122076 50 82029 79 103928 108 83825
22 84353 51 106334 80 80874 109 89719
23 105535 52 106334 81 119626 110 140909
24 120789 53 92242 82 118392 111 69812
25 101828 54 90783 83 100737 112 91873
26 148810 55 98154 84 121525 113 76053
27 156327 56 85633 85 90783
28 125952 57 96212 86 83521 M 103966
29 111548 58 104817 87 77858 DP 19346
CV 0,19

5.1.2 Vibração transversal


A tabela 10 apresenta o número de identificação (L) das lâminas e seus
respectivos módulos de elasticidade (em daN/cm2), obtidos nos ensaios de vibração
transversal, pela leitura direta da saída dos dados. Apresenta, também, a média (M)
dos valores, o desvio padrão (DP) e o coeficiente de variação (CV).

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Tabela 10 - Módulos de elasticidade das lâminas, obtidos por meio de vibração transversal.
L Evt L Evt L Evt L Evt
33 132700 55 92000 77 93000 99 82000
34 94300 56 72900 78 85000 100 70900
35 94200 57 90300 79 90600 101 85000
36 106300 58 98700 80 72400 102 102000
37 99900 59 123400 81 103300 103 74700
38 96900 60 131400 82 105800 104 75800
39 96500 61 92400 83 88800 105 90900
40 89500 62 86200 84 108000 106 95500
41 93900 63 80200 85 84800 107 73600
42 95300 64 91500 86 75000 108 73700
43 78200 65 84700 87 73100 109 82000
44 80000 66 86400 88 141200 110 132600
45 95400 67 98100 89 82600 111 73900
46 83200 68 77600 90 76700 112 85000
47 105900 69 89000 91 94500 113 83700
48 77600 70 87700 92 103700
49 81900 71 82900 93 101700
50 83600 72 87700 94 90000
51 103300 73 134400 95 81700
52 95300 74 117700 96 88400 M 92286
53 86000 75 106400 97 99700 DP 15248
54 84600 76 86500 98 101300 CV 0,17

5.1.3 Ultra-som
A tabela 11 apresenta o números de identificação (L) das lâminas e suas
respectivas constantes dinâmicas CLL (em daN/cm2), calculadas através da expressão
(2). Apresenta também a média (M) dos valores, o desvio padrão (DP) e o coeficiente
de variação (CV).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 101-131, 2007


Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 119

Tabela 11 - Constantes dinâmicas das lâminas obtidas por meio de ultra-som.


L CLL L CLL L CLL L CLL
33 169094 55 130570 77 114342 99 108456
34 117506 56 89865 78 107384 100 98354
35 120517 57 112053 79 112619 101 112858
36 128890 58 163183 80 109181 102 130329
37 128447 59 151936 81 126439 103 96204
38 126202 60 157963 82 131872 104 103293
39 123440 61 121611 83 118256 105 114951
40 106062 62 111979 84 135739 106 124396
41 113927 63 100062 85 112299 107 101224
42 126853 64 116138 86 93588 108 94573
43 101707 65 115318 87 95216 109 111131
44 99262 66 117222 88 176934 110 165191
45 118597 67 122557 89 108556 111 90283
46 107053 68 113617 90 101037 112 117184
47 127935 69 112265 91 126136 113 110400
48 99942 70 112463 92 129582
49 109843 71 104988 93 124370
50 111676 72 116834 94 115326
51 131993 73 163133 95 110377
52 122362 74 141944 96 117518 M 118830
53 109760 75 129812 97 125232 DP 17862
54 108826 76 113041 98 125938 CV 0,15

5.1.4 Análises dos resultados obtidos para as lâminas


Neste subitem são feitas as correlações para os resultados encontrados nos
ensaios. Os valores obtidos nos ensaios de flexão estática são correlacionados com
os valores obtidos nos ensaios não-destrutivos. Para esta avaliação, foram estudadas
81 lâminas com identificação a partir do número 33, uma vez que as 32 primeiras
lâminas não foram ensaiadas por vibração transversal e nem por ultra-som, conforme
já mencionado. A média dos valores das 81 lâminas foi de 99432 daN/cm2, com
desvio padrão de 17541 daN/cm2 e coeficiente de variação de 0,18.
Na seqüência, são apresentados o gráfico comparativo das médias (figura 2) e
as correlações feitas para flexão estática versus vibração transversal, flexão estática
versus ultra-som e vibração transversal versus ultra-som.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 103-131, 2007


120
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Médias dos ensaios

140000
118830
120000
Tensão (daN/cm ) 99432
2

100000 92286
80000
60000
40000
20000
0
Médias de 81 corpos-de-prova

Flexão estática Vibração transversal Ultra-som


Figura 2 - Médias dos ensaios.

Correlação entre módulos de elasticidade das


lâminas utilizando ensaios de flexão estática e
vibração transversal

y = 0,8345x + 9285,1
200000
R2 = 0,9226
transversal
(daN/cm2)
Vibração

150000

100000
50000

0
0 50000 100000 150000 200000

Flexão estática (daN/cm 2)

Figura 3 - Correlação para as lâminas: flexão x vibração.

Nesta avaliação obteve-se o valor de 0,9226 para R2, muito próximo de 1,


indicando uma forte correlação entre os valores de módulos de elasticidade obtidos
nos ensaios de flexão estática e de vibração transversal.

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Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 121

Correlação entre módulos de elasticidade das


lâminas utilizando ensaios de flexão estática
e ultra-som

200000 y = 0,9075x + 28105


R2 = 0,8604
150000
Ultra-som
(daN/cm2) 100000

50000

0
0 50000 100000 150000 200000

Flexão estática (daN/cm2)

Figura 4 - Correlação para as lâminas: flexão x ultra-som.

Para esta correlação, o valor encontrado para R2 foi de 0,8604, indicando uma
boa correlação para os valores obtidos nos ensaios de flexão estática das lâminas e
de ultra-som.

Correlação entre módulos das lâminas determinados


por ultra-som e vibração transversal

200000
Vibração transversal

y = 0,8601x - 9516,8
150000 R2 = 0,9379
(daN/cm2)

100000

50000

0
0 50000 100000 150000 200000
2
Ultra-som (daN/cm )

Figura 5 - Correlação para as lâminas: ultra-som x vibração.

Neste caso obteve-se o maior valor para o parâmetro R2, ou seja, 0,9379. Tal
resultado, muito próximo de 1, indica uma forte correlação entre os valores obtidos
nos ensaios de ultra-som e de vibração transversal.

5.2 Resultados obtidos para as vigas

A partir dos valores dos módulos de elasticidade das lâminas (tabela 09),
procedeu-se à distribuição dessas para a construção das vigas. Como já citado
anteriormente, as peças estruturais foram moldadas com dois tipos de distribuição de
lâminas, dois tipos de adesivos e duas intensidades de pressão de colagem. Foi
adotada uma simbologia para a identificação das vigas:
NA – montadas com distribuição não-aleatória de lâminas;

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122
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

A – montadas com distribuição aleatórias de lâminas;


1 – réplica número 1;
2 – réplica número 2;
C – coladas com adesivo Cascophen;
M – coladas com adesivo à base de mamona;
0,8 – viga colada com intensidade de pressão de 0,8 MPa;
1,2 – viga colada com intensidade de pressão de 1,2 MPa.
Assim, por exemplo, uma peça montada com distribuição não-aleatória de
lâminas, sendo a primeira de duas réplicas colada com Cascophen, e unida com
pressão de 0,8 MPa, tem a seguinte identificação: NA 1 C 0,8.
As médias calculadas foram obtidas de acordo com as equações (3) para
média aritmética simples e (4) para média ponderada.

5.2.1 Disposição das lâminas nas vigas


As distribuições das lâminas nas seções das vigas são mostradas nos
esquemas seguintes. Destacado em laranja, tem-se o número da lâmina e, ao lado, o
valor do módulo de elasticidade obtido por meio de ensaio de flexão estática da
mesma, em daN/cm2.

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Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 123

NA 1 C 0,8 NA 2 C 0,8 NA 1 M 0,8 NA 2 M 0,8


28 125952 4 129251 12 126348 11 129608
15 111298 8 111548 29 111548 14 113002
31 93656 13 96315 18 95934 3 99876
25 101828 23 105535 32 102758 30 108885
1 118062 21 122076 24 120789 2 125161
27 156327 10 153298 26 148810 7 153298
06-a) 06 b) 06 c) 06 d)

NA 1 C 1,2 NA 2 C 1,2 NA 1 M 1,2 NA 2 M 1,2


106 105844 41 102996 58 104817 93 100298
57 96212 96 92988 101 93748 53 92242
65 88001 44 85067 99 86023 22 84353
112 91873 9 90928 66 91143 85 90783
55 98154 38 96912 61 97737 70 96912
33 139201 20 111298 102 113144 52 106334
06 e) 06 f) 06 g) 06 h)

A 1 C 0,8 A 2 C 0,8 A 1 M 0,8 A 2 M 0,8


76 92988 97 104877 83 100737 92 113704
73 146294 88 160616 43 93748 49 82619
37 106334 84 121525 60 140909 110 140909
82 118392 91 108340 108 83825 74 126896
45 100298 34 94132 39 108340 51 106334
36 114841 17 116798 81 119626 35 98154
06 i) 06 j) 06 k) 06 l)

A 1 C 1,2 A 2 C 1,2 A 1 M 1,2 A 2 M 1,2


78 91507 90 83825 72 97737 95 91873
69 98154 40 92242 48 84753 109 89719
56 85633 64 102536 75 114841 86 83521
77 105358 42 96912 105 91143 71 96505
5 96465 54 90783 79 103928 67 106334
59 139692 47 107832 89 93366 94 100298
06 m) 06 n) 06 o) 06 p)
Figura 6 - Distribuição das lâminas nas vigas.

5.2.2 Valores calculados


A tabela 12 apresenta a identificação da viga, sua média aritmética simples
para o módulo de elasticidade (Emédio), o desvio padrão da mesma (DP) e seu
coeficiente de variação (CV), mostrando também a média ponderada (Ep) e a
diferença, em porcentagem, da relação entre a média ponderada e a média simples.
Vale ressaltar que Emédio e Ep (expressos em daN/cm2) são valores calculados para
estimação dos números a serem obtidos nos ensaios.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 103-131, 2007


124
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Tabela 12 - Resultados calculados obtidos para as vigas.


Viga
Emédio DP CV Ep Diferença*
NA 1 C 0,8 117854 22051 0.19 133592 13,35%
NA 2 C 0,8 119671 20197 0.17 134209 12,15%
NA 1 C 1,2 103214 18637 0.18 115724 12,12%
NA 2 C 1,2 96698 9330 0.10 103420 6,95%
NA 1 M 0,8 117698 18905 0.16 131264 11,53%
NA 2 M 0,8 121638 18916 0.16 135090 11,06%
NA 1 M 1,2 97769 9840 0.10 104932 7,33%
NA 2 M 1,2 95154 7730 0.08 100580 5,70%
A 1 C 0,8 113191 18692 0.17 109237 -3,49%
A 2 C 0,8 117715 23086 0.20 116037 -1,42%
A 1 C 1,2 102802 19243 0.19 112452 9,39%
A 2 C 1,2 95688 8632 0.09 95445 -0,25%
A 1 M 0,8 107864 20290 0.19 108181 0,29%
A 2 M 0,8 111436 20716 0.19 103992 -6,68%
A 1 M 1,2 97628 10602 0.11 95523 -2,16%
A 2 M 1,2 94708 8096 0.09 96880 2,29%
* Diferença, em porcentagem, de Ep/ Emédio

Estudando os dados calculados mostrados, percebe-se que todas as vigas


montadas com distribuição não-aleatória de lâminas (NA) apresentam os valores da
média ponderada maiores que os valores da média aritmética simples. A diferença
variou de 5,70% a 13,35%. Tal fato se explica pelas distribuições de lâminas com
maiores módulos de elasticidade nas regiões mais solicitadas da peça, sendo que
estas últimas têm maior contribuição no momento de inércia final do elemento
estrutural. Para as vigas com distribuição aleatória pode-se dizer que não existe um
padrão: três tiveram os valores dos módulos de elasticidade ponderados acima dos
valores obtidos com a média simples, e as demais apresentaram valores de Ep abaixo
dos valores de Emédio.

5.2.3 Valores obtidos nos ensaios


5.2.1.1 Flexão estática

Foram realizados ensaios de quatro pontos nas peças estruturais seguindo-se


os parâmetros genéricos da NBR 7190:1997 e ASTM D198:1984. Os valores dos
módulos (em daN/cm2) são apresentados na tabela 13 e foram calculados pela
expressão (5).

5.2.1.2 Vibração transversal

No ensaio de vibração transversal, os valores dos módulos de elasticidade das


peças foram obtidos diretamente, ou seja, o programa computacional que compõe o
aparelho fornece os números já calculados. Na tabela 13 são apresentados os valores
de módulo de elasticidade para cada viga, obtidos na saída de dados.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 101-131, 2007


Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 125

5.2.1.3 Ultra-som

As respostas de CLL apresentadas na tabela 13 foram calculadas pela equação


(2). O aparelho forneceu o tempo utilizado pela onda para percorrer as dimensões
longitudinais das peças, medido em micro-segundos.

Tabela 13 - Valores de E obtidos nos ensaios de flexão estática e vibração transversal e de CLL
obtidos nos ensaios de ultra-som.
Flexão estática Vibração transversal Ultra-som
NA 1 C 0,8 115435 109300 112950
NA 2 C 0,8 119658 108500 116583
NA 1 C 1,2 116615 110900 119731
NA 2 C 1,2 100174 104300 107552
NA 1 M 0,8 108349 100200 105815
NA 2 M 0,8 112474 98300 111753
NA 1 M 1,2 123071 114300 123333
NA 2 M 1,2 108364 98900 110902
A 1 C 0,8 106119 108700 126856
A 2 C 0,8 117518 117600 130978
A 1 C 1,2 113120 115800 113506
A 2 C 1,2 98689 99900 107986
A 1 M 0,8 102557 107900 117472
A 2 M 0,8 105055 102100 132385
A 1 M 1,2 87134 92300 110104
A 2 M 1,2 97574 105400 106346

Médias 108244 105900 115891


DP 9531 7015 8593
CV 0,09 0,07 0,07
2
Valores em daN/cm

5.2.4 Análise dos resultados


Para verificação da influência das variáveis (distribuição, adesivo e pressão)
nas respostas (módulos de elasticidade) das vigas, foi feita uma análise estatística
fatorial. As respostas adotadas foram as obtidas nos ensaios de flexão estática de
quatro pontos. Para comparação dos métodos de ensaios e também destes em
relação aos valores calculados, foram feitas correlações dos valores e análises de
variância das médias dos módulos das dezesseis vigas. Tanto a análise fatorial como
a análise de variância foram feitas no programa MINITAB.

5.2.1.4 Análise fatorial

Com uso da sub-rotina DOE/fatorial, fez-se a verificação das influências dos


efeitos principais, avulsos e também relacionados, sobre as respostas. A tabela 14

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 103-131, 2007


126
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

traz, na coluna resposta, os resultados obtidos nos ensaios de flexão estática, as


colunas distribuição, adesivo e pressão compõem a matriz planejamento fatorial, e
nas três últimas colunas são mostrados os valores estimados, os resíduos e os
escores normais.

Tabela 14 - Resultados obtidos nos ensaios de flexão estática, matriz planejamento, valores
estimados, resíduos e escores normais.
Resposta Distribuição Adesivo Pressão Estimados Resíduos E. normais
115435 -1 -1 -1 117547 -2111,36 -0,39573
119658 -1 -1 -1 117547 2111,36 0,39573
106119 1 -1 -1 111819 -5699,39 -0,76184
117518 1 -1 -1 111819 5699,39 0,76184
108349 -1 1 -1 110411 -2062,69 -0,23349
112474 -1 1 -1 110411 2062,69 0,23349
102557 1 1 -1 103806 -1248,86 -0,0772
105055 1 1 -1 103806 1248,86 0,0772
116615 -1 -1 1 108395 8220,12 1,76883
100174 -1 -1 1 108395 -8220,12 -1,76883
113120 1 -1 1 105905 7215,17 0,98815
98689 1 -1 1 105905 -7215,17 -0,98815
123071 -1 1 1 115718 7353,84 1,28155
108364 -1 1 1 115718 -7353,84 -1,28155
87134 1 1 1 92354 -5220,08 -0,56918
97574 1 1 1 92354 5220,08 0,56918

A seguir são apresentados os resultados obtidos na análise fatorial. O


programa computacional fornece os valores de efeito e p-valor para os termos
distribuição, adesivo e pressão, e também para as combinações destas variáveis.

Resposta versus distribuição, adesivo, pressão

Termo Efeito p-valor

Distribuição -9547 0,040


Adesivo -5344 0,208
Pressão -5303 0,211
Distribuição * adesivo -5438 0,201
Distribuição * pressão -3380 0,412
Adesivo * pressão 2230 0,583
Distribuição * adesivo * pressão -4999 0,236

Figura 7- Dados obtidos na análise fatorial.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 101-131, 2007


Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 127

A partir da figura 07, pode-se afirmar que somente o efeito principal


“distribuição” influenciou na resposta, uma vez que seu p-valor é o único menor que
0,05. Os demais (adesivo, pressão e suas combinações, inclusive com a distribuição)
não se enquadraram nessa condição, sendo seus efeitos não-significativos nas
respostas. Isso permite concluir que ambos os adesivos (Cascophen e mamona) e
ambas as pressões de colagem (0,8 e 1,2 MPa) tiveram um comportamento tal que
não influenciaram nas respostas finais dos módulos de elasticidade. Quanto à
distribuição, seu efeito negativo (-9547) indica que ao passar o ensaio do nível baixo
(-1) para o nível alto (1), o valor da resposta diminui. É possível afirmar que as
distribuições não-aleatórias (NA) levaram uma certa vantagem em relação às
distribuições aleatórias (A), observando os valores estimados. Tal situação pode ser
explicada pelo fato da média dos módulos de elasticidade das vigas com distribuição
NA ter sido maior que a média das vigas com distribuição tipo A, o que após os
ensaios resultou numa diferença de aproximadamente 9% em favor das não-
aleatórias.

5.2.1.5 Correlações e análises de variância

Aqui são feitas as correlações dos valores dos módulos obtidos nos ensaios
destrutivos e não-destrutivos e as análises de variância das médias obtidas nos
ensaios e calculadas. A tabela 13 mostra os resultados determinados a partir dos três
tipos de ensaios realizados. São apresentados, na seqüência, os resultados das
correlações dos números dos ensaios de flexão estática versus vibração transversal,
flexão estática versus ultra-som e vibração transversal versus ultra-som.

Correlação entre módulos de elasticidade das vigas


utilizando ensaios de flexão estática e de vibração
transversal

120000
115000
transversal
(daN/cm2)
Vibração

110000
105000
100000
95000
90000
y = 0,5146x + 50196
85000 R2 = 0,4889
80000
80000 90000 100000 110000 120000 130000

Flexão estática (daN/cm 2)

Figura 8 - Correlação para as vigas: flexão x vibração.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 103-131, 2007


128
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

Correlação entre módulos das vigas utilizando


ensaio de flexão estática e ultra-som

Ultra-som (daN/cm 2)
140000
130000
120000
110000
100000 y = 0,3819x + 74556
90000 R2 = 0,1794
80000
80000 90000 100000 110000 120000 130000
2
Flexão estática (daN/cm )

Figura 9 - Correlação para as vigas: flexão x ultra-som.

Correlação entre módulos das vigas utilizando


ensaios de ultra-som e vibração transversal

120000 y = 0,4205x + 57173


Vibração transversal

R2 = 0,2653
110000
(daN/cm2)

100000

90000

80000
80000 90000 100000 110000 120000 130000 140000
2
Ultra-som (daN/cm )

Figura 10 - Correlação para as vigas: ultra-som x vibração.

Os resultados das correlações apresentadas nas figuras anteriores apontam


para valores baixos se comparados com os valores obtidos nas correlações das
lâminas. Para flexão estática versus vibração transversal obteve-se R2 igual a 0,4889,
para flexão estática versus ultra-som o R2 foi de 0,1794 e para vibração transversal
versus ultra-som obteve-se o valor de 0,2653 para R2. Percebe-se que os menores
valores são oriundos de correlações com ensaios de ultra-som. Uma possível
explicação para este fato é o de os transdutores do aparelho Sylvatest terem sido
posicionados nas vigas de uma maneira não alinhada, ocorrendo desvios de leitura.
Uma verificação da estimativa do módulo de elasticidade final a partir de
valores calculados também foi feita pela análise de variância das médias. Neste caso,
o grupo de controle foi o dos valores obtidos nos ensaios estáticos, que foram, então,
comparados com os valores calculados. Foram feitas as comparações da média dos
ensaios de flexão estática versus valores da média aritmética, e flexão estática versus
média ponderada. Também foram feitas as comparações: vibração transversal versus
médias aritmética e ponderada, e ultra-som versus médias aritmética e ponderada. Os
resultados são mostrados na tabela 15.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 101-131, 2007


Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais... 129

Tabela 15 - Análises de variância das médias dos ensaios versus calculados.


Média 1 Média 2 Fobservado fc p Diferença
Flexão1 x aritmética2 108244 106921 0,15 4,171 0,705 -1,2%
Flexão1 x ponderada2 108244 112285 0,90 4,171 0,351 3,7%
Vibração1 x aritmética2 105900 106921 0,11 4,171 0,741 1,0%
Vibração1 x ponderada2 105900 112285 2,61 4,171 0,117 6,0%
Ultra-som1 x aritmética2 115891 106921 7,37 4,171 0,011 -7,7%
1 2
Ultra-som x ponderada 115891 112285 0,76 4,171 0,391 -3,1%

Em todas as análises feitas com as médias aritméticas e ponderadas, e com


os ensaios de flexão estática e vibração transversal os resultados apontaram estas
como sendo semelhantes, pois seus Fobservado foram menores que o fcrítico. Estudando o
p-valor, afirma-se que as que mais se aproximam são as médias dos ensaios de
vibração transversal e aritmética simples. Quando se observa ultra-som versus
ponderada, percebe-se que estas também apresentam uma semelhança significativa
(p-valor=0,391), o mesmo não ocorrendo com ultra-som versus aritmética, que
apresenta p-valor menor que 0,05, apesar da diferença percentual ser de 7,7%. No
entanto, cabe ressaltar que os valores de ultra-som que estão sendo comparados são
os valores das constantes dinâmicas, e não os módulos de elasticidade das vigas,
uma vez que estes dependem do coeficiente de Poisson.

6 CONCLUSÕES

A partir da discussão dos resultados apresentados anteriormente, conclui-se que:


• Para a produção de elementos estruturais de madeira laminada colada não
basta que a espécie apresente densidade entre 0,5 a 0,75 g/cm3. Tão
importante quanto a densidade é a permeabilidade da espécie em relação aos
adesivos disponíveis para a produção de MLC.
• Existem espécies tropicais, de densidade entre 0,5 e 0,75 g/cm3, com
permeabilidade adequada para a produção de elementos estruturais de
madeira laminada colada, utilizando-se os adesivos Cascophen e à base de
mamona. Neste trabalho merece destaque o potencial da espécie Cedrinho,
entre as estudadas.
• É possível efetuar uma adequada estimativa das propriedades de rigidez de
vigas de MLC utilizando-se as expressões (3) e (4).
• As propriedades de rigidez de vigas de MLC, obtidas nos ensaios de flexão
estática, não são influenciadas pela pressão de colagem variando entre 0,8 e
1,2 MPa.
• As propriedades de rigidez de vigas de MLC, obtidas nos ensaios de flexão
estática, não são influenciadas pelos dois adesivos estudados, o Cascophen e
o à base de mamona.
• As propriedades de rigidez de vigas de MLC, obtidas nos ensaios de flexão
estática, podem ser influenciadas pela disposição das lâminas ao longo da
altura da seção transversal. Vigas com distribuição não aleatória de lâminas

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p. 103-131, 2007


130
André Luiz Zangiácomo & Francisco Antonio Rocco Lahr

podem apresentar propriedades de rigidez superiores às de vigas montadas


com distribuição aleatória de lâminas.
• É possível obter elementos compatíveis para emprego estrutural, de MLC,
utilizando-se, como matéria prima, tábuas de espécies tropicais alternativas,
empregadas com os adesivos estudados no presente trabalho.

7 AGRADECIMENTOS

Os nossos agradecimentos à CAPES pelo apoio financeiro e à todas as


pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta pesquisa.

8 REFERÊNCIAS

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132
ISSN 1809-5860

LIGAÇÕES PARAFUSADAS EM CHAPAS FINAS E


PERFIS DE AÇO FORMADOS A FRIO

Carlos Henrique Maiola1 & Maximiliano Malite2

Resumo

O presente trabalho aborda o estudo de ligações parafusadas em chapas e perfis de aço


com pequena espessura, avaliando as expressões propostas pela norma brasileira de
‘Dimensionamento de Estruturas de Aço Constituídas por Perfis Formados a Frio’
NBR 14762:2001. Foi estudado o comportamento estrutural de ligações parafusadas
em chapas e perfis formados a frio, mediante análise teórica e experimental de corpos-
de-prova, os quais foram definidos de maneira a se obter os diversos modos de falha,
em especial a ruptura da seção líquida. Com os resultados experimentais pôde-se
sugerir modificações nas expressões do coeficiente redutor da área líquida Ct, aplicado
na avaliação da resistência ao estado limite último de ruptura da seção líquida efetiva.

Palavras chaves: ligações parafusadas; chapas finas de aço; perfis formados a frio;
ruptura da seção líquida.

1 INTRODUÇÃO

Perfis formados a frio são aqueles obtidos pelo dobramento a frio de


chapas de aço. Os processos de conformação permitem uma grande
flexibilidade na fabricação destes perfis, conferindo uma grande liberdade de
escolha ao projetista, seja no formato da seção transversal, bem como nas
suas dimensões, resultando em perfis de elevada relação inércia/peso. Existe
também a padronização de algumas seções, a qual segue as prescrições da
norma brasileira NBR 6355:2003 “Perfis estruturais de aço formados a frio –
Padronização”.

A utilização dos perfis de aço formados a frio vem crescendo de forma


significativa na construção metálica brasileira, tendo alcançado lugar de
destaque, principalmente em obras de menor porte onde são utilizados como
estrutura principal, ou como estrutura secundária em edifícios mais elevados.

1
Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, maiola@uel.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, mamalite@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


134 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

É evidente que os perfis formados a frio não substituem por completo os


perfis laminados e soldados, entretanto, devido ao menor custo, hoje
representam economia quando se trata de construção metálica (MALITE
1993b).

Diante desta realidade, foi publicada a norma brasileira NBR14762:2001


“Dimensionamento de Estruturas de Aço Constituídas por Perfis Formados a
Frio”. Na elaboração dessa norma tomou-se como base a especificação do
AISI:1996 em estados limites e seu suplemento no1 publicado em 1999, norma
esta amplamente utilizada no Brasil e em vários países.

Atrelado ao desenvolvimento da norma brasileira houve uma


intensificação das pesquisas com este tipo de estrutura, visando calibrar ou
mesmo propor novas prescrições para futuras edições. Dentre os diversos itens
dessa norma, o dimensionamento de barras segue de maneira mais fiel às
prescrições das normas estrangeiras, requerendo menores cuidados que o
dimensionamento das ligações, que, por conveniência, passaram por maiores
alterações.

2 OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo principal promover uma investigação


criteriosa das prescrições da norma brasileira de “Dimensionamento de
Estruturas de Aço Constituídas por Perfis Formados a Frio” NBR14762:2001,
quanto ao tema das ligações parafusadas, focalizando a avaliação
experimental do coeficiente redutor da área líquida (Ct), apresentado por
esta, tanto para chapas como para perfis formados a frio, quando da
avaliação da força normal resistente à ruptura da seção líquida efetiva.
Buscando deste modo subsídios para propor modificações das expressões
apresentadas, as quais poderão ser incorporadas em futuras revisões.

3 LIGAÇÕES PARAFUSADAS EM CHAPAS FINAS E PERFIS FORMADOS A


FRIO

No Brasil, o tema ligações parafusadas é bastante difundido quando se


trata de estruturas constituídas por perfis laminados e soldados, mas é pouco
divulgado no caso de estruturas constituídas por perfis formados a frio. A
recente publicação da norma brasileira NBR14762:2001 veio preencher esta
lacuna nas especificações dos perfis formados a frio.

Em particular, um item que gerou dificuldade foi a verificação do


estado limite último de ruptura na seção líquida para ligações parafusadas em
chapas finas de aço e, principalmente, em perfis formados a frio, por ser esse
um estado limite último vinculado à ocorrência de efeitos localizados, que em

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 135

geral governam o projeto de ligações em elementos finos, principalmente


quando da concentração de tensões junto aos furos. Portanto merecendo
uma investigação mais detalhada das suas prescrições.

A norma brasileira para o dimensionamento de estruturas de aço


constituídas por perfis formados a frio NBR 14762:2001, para levar em conta no
dimensionamento estes efeitos localizados, adota um coeficiente de redução
da área líquida, denominado de Ct na avaliação da força normal de tração
resistente para esse estado limite. Com a adoção desse coeficiente procurou-
se dar um tratamento similar ao da norma brasileira de perfis “pesados” NBR
8800. Entretanto, é importante frisar que o coeficiente Ct proposto pela norma
de perfis formados a frio é mais abrangente, pois não considera a influência
da concentração de tensões somente para situações e perfis pré-
determinados, mas sim em chapas finas e perfis com as mais diversas
configurações de ligações, inclusive quando todos os elementos estão
conectados.

Por outro lado o AISI:1996, até a publicação do seu Suplemento no 1,


em 1999, e outras normas estrangeiras consideram a influência da
concentração de tensão junto aos furos, para o caso do estado limite de
ruptura da seção líquida apenas em chapas finas. Pesquisas recentes estão
voltadas para as ligações parafusadas em perfis formados a frio (YU e LaBOUBE
(1997)).

Com a publicação do Suplemento n° 1 do AISI:1996 em 1999, esta


passou a adotar para o cálculo da ruptura da seção líquida de perfis
formados a frio, procedimento similar ao do AISC:1993, ou seja, adotou
coeficientes redutores da área líquida em função da relação x / L
(excentricidade pelo comprimento da ligação).

3.1 Ruptura da seção líquida

A ruptura da seção líquida nas ligações parafusadas é identificada pela


estricção da seção, seguida da fratura do material iniciada junto às bordas
dos furos, propagando-se para as extremidades da chapa.

Segundo as normas citadas anteriormente, a determinação da força


normal resistente de tração de uma ligação parafusada, considerando a
ruptura da seção líquida, é influenciada pela resistência do material (fu), pela
área líquida da seção transversal (An) e também pela concentração de
tensões junto aos furos, provocada por forças localizadas, transmitidas às
chapas pelos parafusos quando estes são solicitados ao corte (WINTER, 1956).

A influência da concentração de tensões na resistência da ligação é


considerada nas expressões de cálculo, ou por meio de uma tensão associada
à área líquida (conforme o AISI e o EUROCODE), ou por meio de um
coeficiente redutor da área líquida (conforme a NBR), como apresentado a
seguir.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


136 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

3.2 Procedimentos normativos

3.2.1 Ligações parafusadas em chapas finas de aço


Procedimento do AISI

Logo no início dos estudos das ligações em chapas finas, WINTER (1956)
propôs, com base em resultados de ensaios, uma expressão para a tensão
nominal associada à área líquida (σn), consistindo na resistência à ruptura do
material modificada por um coeficiente de redução em função da relação
d/g (sendo d o diâmetro do parafuso e g o espaçamento entre furos na
direção perpendicular a solicitação), como representado a seguir:

⎛ d⎞
σ n = ⎜⎜ 0 ,10 + 3,0 ⎟⎟ f u (1)
⎝ g ⎠
A expressão original de Winter foi adotada pelo AISI em suas primeiras
edições, sendo aplicável exclusivamente às ligações que utilizassem duas
arruelas (junto à cabeça do parafuso e à porca). Estudos posteriores a 1975,
realizados por CHONG & MATLOCK (1975) e GILCHRIST & CHONG (1979),
apresentaram uma nova expressão para tensão associada à área líquida
aplicável às ligações parafusadas quando da utilização de somente uma
arruela junto ao parafuso ou nenhuma (eq. 2).

⎛ d⎞
σ n = ⎜⎜ 0,6 − 0,66r + 2,92 ⎟⎟ f u (2)
⎝ g ⎠
Em 1982, novos estudos enfocando os efeitos da relação entre o
diâmetro do parafuso e o espaçamento entre furos (d/g) na resistência à
tração de ligações parafusadas em chapas, demonstraram que a
concentração de tensões é menos acentuada quando mais de uma seção
de parafusos é utilizada YU (2000). Baseado em resultados desses ensaios,
foram adotadas pelo AISI:1980 novas expressões para o cálculo da tensão
associada à área líquida, como apresentado a seguir:

- quando são previstas a utilização de arruelas junto à cabeça do


parafuso e à porca;

⎡ d⎤
σ n = ⎢1 − 0,9r + 3r ⎥ f u (3)
⎣ g ⎦
- quando não são previstas a utilização de arruelas ou só uma arruela
é prevista;

⎡ d⎤
σ n = ⎢1 − r + 2,5r ⎥ f u (4)
⎣ g ⎦
Onde:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 137

-r é a razão da força transmitida pelo parafuso ou parafusos contidos na seção em


análise pela força de tração no elemento;

-d é o diâmetro do parafuso;

-g é o espaçamento dos parafusos perpendicular à linha da força, ou para um único


parafuso é a largura da chapa.

Na edição de 2001 do AISI, o coeficiente de redução associado à área


líquida, agora denominado ft, aplicava-se somente para as ligações
parafusadas com apenas uma seção de parafusos perpendicular à
solicitação, suprimindo com isso o parâmetro r, como apresentado a seguir:

⇒ Ligações que utilizam arruelas junto a cabeça do parafuso e a porca.

- para ligações com um parafuso, ou uma seção de parafusos


perpendicular a direção da solicitação:
ft = (0,1 + 3d/s)fu≤fu (6)

- para mais de uma seção de parafusos perpendicular a direção da


solicitação:
ft = fu (7)

⇒ Ligações que não utilizam arruelas, ou utilização somente uma arruela junto
a cabeça do parafuso ou a porca.

- para ligações com um parafuso, ou uma seção de parafusos


perpendicular a direção da solicitação:
ft = (2,5d/s)fu≤fu (8)

- para mais de uma seção de parafusos perpendicular a direção da


solicitação:
ft = fu (7)

Portanto segundo o AISI:2001 para as ligações com apenas um parafuso


ou uma única seção de parafusos perpendicular à solicitação, a resistência à
tração para o estado limite último de ruptura da seção líquida efetiva será
reduzida por um coeficiente que é função da relação d/s, onde s é tomado
como a largura da chapa conectada dividida pelo número de furos na seção
transversal analisada, ou seja, não importando os seus espaçamentos, no caso
de mais de um furo.

Essa nova formulação adotada pelo AISI esta fundamentada na análise


de resultados experimentais (CARRIL, LaBOUBE e YU, 1994 apud draft do AISI),
os quais demonstraram que para ligações em chapas finas utilizando apenas
um parafuso ou uma única seção de parafusos perpendicular a solicitação, a
rotação da ligação, a deformação fora do plano desta e a concentração de
tensões junto aos furos, são excessivas.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


138 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

Já para as ligações que utilizam mais de uma seção de parafusos esta


rotação e a deformação fora do plano da ligação são menos acentuadas e a
concentração de tensões é amenizada pela redistribuição plástica das
tensões, não se fazendo necessária a redução da resistência (ROGERS E
HANCOCK, 1998)

Procedimento do EUROCODE

O EUROCODE 3 part 1.3:1996, é similar a do AISI:1996 quando da


utilização de arruelas, como pode ser visto a seguir.
σn = [1 + 3r(d0/u – 0,3)] fu (9)

As diferenças nas expressões destas duas normas encontra-se na


avaliação da variável d0 , definida como o diâmetro nominal do furo e não do
parafuso como apresentado pelo AISI. E sendo o parâmetro u, tomado como:
u = (e1 + e2) mas u≤g

conforme figura 1.

Ou seja, u será tomado como a soma das distâncias entre os centros


dos furos de extremidade às respectivas bordas, na direção perpendicular à
solicitação, com este valor não sendo maior do que o espaçamento entre
furos.

Procedimento da NBR

A NBR14762:2001 adota um coeficiente de redução da área líquida


denominado Ct, cuja origem esta na expressão do coeficiente redutor
apresentada pelo AISI:1996 para o caso de ligações sem arruelas ou com
apenas uma arruela junto ao parafuso, situação mais desfavorável.

Para se obter as expressões apresentadas pela NBR14762:2001 das


expressões originais, deve-se substituir o parâmetro r pelos valores
correspondentes a uma, duas, três e quatro linhas de parafusos (valores 1, 1/2,
1/3 e 1/4, respectivamente), estabelecendo deste modo quatro expressões de
cálculo, como segue:

-quando todos os parafusos da ligação estão contidos em uma única


seção transversal:
Ct = 2,5(d/g) ≤ 1,0 (10)

-quando existem duas seções de parafusos perpendiculares à direção


da solicitação, alinhados ou em zig-zag:
Ct = 0,5 + 1,25(d/g) ≤ 1,0 (11)

-quando existem três seções de parafusos perpendiculares à direção da


solicitação, alinhados ou em zig-zag:
Ct = 0,67 + 0,83(d/g) ≤ 1,0 (12)

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 139

-quando existem quatro ou mais seções de parafusos perpendiculares à


direção da solicitação, alinhados ou em zig-zag:
Ct = 0,75 + 0,625(d/g) ≤ 1,0 (2.13)

Nas expressões anteriores, o coeficiente Ct é função apenas da relação


d/g, que avalia a “intensidade da concentração de tensão”. Quando são
comparadas ligações com a mesma quantidade de parafusos na direção da
solicitação, conclui-se que, para valores menores da relação d/g, isto é,
parafusos mais espaçados, há maior concentração de tensão e,
conseqüentemente, resulta um valor menor de Ct.

O valor adequado de Ct depende de uma avaliação racional da


grandeza g, o que implica cuidados ao se estabelecer esse valor. Nas ligações
projetadas de maneira que os parafusos sejam dispostos uniformemente na
região da ligação, o que é desejável tendo em vista amenizar a
concentração de tensão, o espaçamento entre os parafusos assume valor
constante e é da ordem do dobro do espaçamento entre furo e borda,
portanto g será o próprio espaçamento entre parafusos, conforme a definição
da nova norma.

Nos casos em que o espaçamento entre furos g for inferior à soma das
distâncias entre os centros dos furos de extremidade às respectivas bordas, na
direção perpendicular à solicitação (e1 + e2), Ct deve ser calculado
substituindo g por (e1 + e2 ). Procedimento contrário ao sugerido pelo
EUROCODE 3 part 1.3:1996.

Havendo um único parafuso na seção analisada, Ct deve ser calculado


tomando-se g como a própria largura bruta da chapa.

Os parâmetros: espaçamento entre furos (g) e espaçamentos entre furo


e borda na direção perpendicular a solicitação (e1 e e2), são apresentados na
figura 1 a seguir.

1 2

e1

e2

1 2

s s

Figura 1 - Distâncias entre furo e borda e entre furos (NBR14762:2001).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


140 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

3.2.1 Ligações parafusadas em perfis formados a frio


Procedimento do AISC

O coeficiente redutor utilizado no cálculo de uma área líquida efetiva


(Ae), consta nas especificações AISC:1993, sob a denominação de coeficiente
U , apresentado a seguir.
U = 1 − x/L ≤ 0 ,9 (14)

onde: U = coeficiente de redução da área líquida (efeito “shear lag”);

x = excentricidade da ligação;

L = comprimento da ligação.

A excentricidade da ligação é definida como a distância do centro de


gravidade da seção transversal ao plano de cisalhamento dos parafusos (fig.
2). Para as ligações em perfis U conectados pelas mesas, o AISC:1993 sugere
que o mesmo seja tratado como duas cantoneiras e a excentricidade seja
determinada em relação a uma delas (fig. 2c).

(a) (b) (c)


Figura 2 - Determinação de x e L para ligações parafusadas sugerido pelo AISC:1993.

Procedimento do AISI

Ajustes na expressão do coeficiente U apresentado por HOLCOMB et al


(1995) foram sugeridos por LaBOUBE & YU (1996) e mais tarde incorporadas as
especificações do AISI:1996 em seu Suplemento no1, publicado em 1999, e
mantidos em sua edição de 2001. Sendo estas apresentadas a seguir:

U = 1,0 para seções onde todos os elementos são conectados;

Caso contrário, o coeficiente U deve ser determinado do seguinte modo:

- para cantoneiras com duas ou mais seções de parafusos na direção


da solicitação:
U = 1,0 − 1,20 ⋅ x / L < 0 ,9 (porém não menor que 0,4) (15)

- para perfis U com duas ou mais seções de parafusos na direção da


solicitação:
U = 1,0 − 0 ,36 ⋅ x / L < 0 ,9 (porém não menor que 0,5) (16)

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 141

Para as ligações parafusadas em cantoneiras, quando apenas uma


aba é conectada, ou em perfis U conectados pela alma, a determinação do
valor da variável x é feita como demonstrado na figura 2.

Quando a ligação é feita pelas mesas de um perfil U, o AISI:2001 não


traz claramente o modo de se avaliar esta variável. Comparações de
resultados de ensaios publicados por LaBoube & Yu (1996), conduzem para
que seja tomado como valor de x a metade da altura do perfil U, como
apresentado a seguir na figura 3.

Figura 3 - Determinação de x para perfis U formados a frio conectados pelas mesas.

Procedimento da NBR

A norma brasileira adota um coeficiente de redução da área líquida


denominado Ct, embora tenha recebido a mesma denominação do utilizado
para os casos de chapa fina, este coeficiente para os perfis é o próprio
coeficiente U do AISI:2001, portanto leva em consideração o efeito da
concentração de tensão nos elementos conectados do perfil.

Para os casos onde todos os parafusos estão contidos em uma única


seção transversal, situação não prevista pela norma americana, a NBR prevê
que o perfil deva ser tratado como chapa equivalente (figura 4), sendo:
Ct = 2,5(d/g) ≤ 1,0 (mesma expressão adotada para as chapas – eq. 10)

e1
e1

g g g

e2 e2

Figura 4 - Perfis tratados como chapa equivalente.

É importante registrar que o procedimento da versão inicial da norma


brasileira nada mais é que uma extrapolação das expressões de Ct
desenvolvidas para chapas, aplicadas também ao caso dos perfis. Não há
portanto um embasamento teórico-experimental que confira confiabilidade a
esse procedimento.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


142 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

4 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

A investigação experimental realizada consistiu no ensaio de ligações


parafusadas em chapas finas de aço e perfis formados a frio, submetidas ao
cisalhamento simples, por meio da aplicação de esforço normal de tração nos
elementos de ligação.

Os corpos-de-prova foram calculados com base nas especificações da


NBR14762:2001 para apresentarem como modo de falha principal a ruptura da
seção líquida. Suas configurações se diferenciavam nos seguintes parâmetros:

- espessura do material,

- largura da chapa ou variação da seção transversal do perfil,

- posicionamento dos parafusos na seção transversal,

- quantidade de seções de parafusos normal à solicitação,


apresentando uma, duas, três ou quatro seções, distinguindo
as séries A,B,C e D respectivamente.

Para o caso das chapas o posicionamento dos furos na seção


transversal, com o objetivo de obter valores diferentes para relação d/g, gerou
10 tipologias diferentes de furação, conforme apresentado na tabela 1.

TABELA 1 - Características geométricas dos corpos-de-prova de ligações parafusadas


em chapa fina.
Quantidade
Tipo da e1 = e2 e Largura g*** d/g
de parafusos
ligação total
por seção
1* 1 1,5d --- 3d 3d 0,333
2 1 3d --- 6d 6d 0,167
3 ** 2 d 2d 4d 2d 0,500
4* 2 1,5d 3d 6d 3d 0,333
5 2 3d 3d 9d 6d 0,167
6* 4 1,5d 3d 12d 3d 0,333
7 1 2d --- 4d 4d 0,250
8 2 2d 3d 7d 4d 0,250
9 2 4,5d 3d 12d 9d 0,111
10 2 1,5d 9d 12d 9d 0,111
* Distâncias mínimas estabelecidas no projeto de norma brasileira.
** Não atende às disposições construtivas estabelecidas no projeto de norma
brasileira.
*** Avaliado segundo recomendações da NBR14762:2001

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Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 143

Para a fabricação dos corpos-de-prova foram adquiridas chapas de


aço nas espessuras de 1,55mm, 2,00mm, 2,65mm, 3,75mm, 4,75mm e 6,30mm.
Estas foram cortadas em guilhotina e a dobra dos perfis foi feita em prensa
dobradeira, os furos foram feitos por puncionamento, com folga de 1,5mm
quando da utilização de parafusos de 12,5mm e de 2,00mm quando os
parafusos eram de 16,0mm.
Os corpos-de-prova foram fabricados em duplicata para cada
configuração de ligação, perfazendo um total de 232 corpos-de-prova para
ensaio de ligações parafusadas em chapas finas de aço e 164 corpos–de-
prova para ensaio de ligações parafusadas em perfis formados a frio.

Para a dupla de c.p. de chapa fina de mesma configuração, um foi


ensaiado sem arruelas, enquanto o outro foi empregada arruelas junto à
cabeça do parafuso e à porca. Para as ligações parafusadas em perfis
formados a frio todos os corpos-de-prova foram ensaiados sem a utilização de
arruelas

Em todos os ensaios foram utilizados parafusos de alta resistência ISO


7411 – grau 8.8, com 12,5mm de diâmetro (M12) para os materiais de 1.55mm,
2,00mm e 2,65mm de espessura; e 16,0mm de diâmetro (M16) para os
materiais de 3,75, 4,75mm e 6,30mm de espessura, evitando deste modo a
falha por cisalhamento do parafuso.

Para a fixação dos corpos-de-prova de chapa fina na máquina de


ensaio, devido a sua pequena espessura, foram fabricadas placas especiais
em aço SAE4340 (alta resistência), providos de ranhuras em uma de suas faces
de modo a melhorar as condições de atrito (fig. 5b), estas eram acopladas às
garras hidráulicas da máquina de ensaio. Para o ensaio de ligação em chapa
fina, submetida ao corte simples, esta era parafusada a uma outra de igual
dimensão, e assim, o conjunto era fixado a máquina de ensaio (fig. 5a).

Já para os corpos-de-prova de perfis formados a frio, estes não


puderam ser fixados diretamente nas garras da máquina de ensaio, portanto
dispositivos especiais foram fabricados para a fixação das cantoneiras (fig. 6b)
e perfis U (fig. 7b). Estes dispositivos compostos por chapas de aço carbono
ASTM A36 com 10mm de espessura, eram fixados nas garras da máquina de
ensaio, enquanto os corpos-de-prova de perfis formados a frio eram
parafusados internamente a estes (fig. 6a e 7a).

4.1 Execução dos ensaios

Os corpos-de-prova foram ensaiados na máquina servo-hidráulica


INSTRON, pertencente ao Laboratório de Estruturas da EESC-USP. A força de
tração foi aplicada com controle de deslocamento do pistão numa taxa de
2,0mm/min. As leituras de força e deslocamento relativo foram feitas em
períodos de 1seg. usando o sistema automático de aquisição de dados da
máquina.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


144 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

Os deslocamentos relativos na região da ligação, na direção


longitudinal dos corpos-de-prova, foram medidos utilizando transdutores de
deslocamento, com uma base de medida igual à 375mm.

Para o caso de chapa fina, foram posicionados dois transdutores


simétricos à direção do comprimento (fig. 5c).

Já para o caso dos perfis formados a frio foi posicionado um transdutor


apenas, fixado em uma das abas das cantoneiras (na aba maior no caso das
cantoneiras de abas desiguais) ou na alma do perfil U (fig. 6a e 7c). Em ambos
casos, os transdutores se encontravam na altura do centro de gravidade
destas peças.

A força aplicada foi medida pela célula de carga constante da


máquina de ensaio.

As forças últimas (Fu) registradas ao final de cada ensaio foram obtidas


sem a preocupação em se estabelecer um deslocamento máximo, uma vez
que a acomodação inicial e a deformação localizada junto aos furos
ocasionaram deslocamentos relativos elevados (entre 4,0mm e 23,0mm no
caso de chapas finas), portanto muito acima do deslocamento limite de
6,35mm especificado pelo American Institute of Steel Construction (1993), valor
este que se respeitado não levaria os corpos-de-prova à ruína (ROGERS &
HANCOCK 1998). Portanto o modo de falha foi caracterizado visualmente.

b) Placa de fixação.

a) Vista do ensaio. c) Posicionamento do transdutor


de deslocamento.

Figura 5 - Vista do ensaio de ligação parafusada em chapa fina, chapas de fixação e


posicionamento dos transdutores de deslocamento.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 145

b) Dispositivo de fixação
para cantoneiras.

a) Posicionamento do transdutor
de deslocamento.

Figura 6 - Ensaio de ligação parafusada em cantoneiras, posicionamento do


transdutor de deslocamento e dispositivos de fixação.

b) Dispositivo
de fixação
para perfis U.

a) Vista do ensaio. c) Posicionamento do transdutor


de deslocamento.

Figura 7 - Vista do ensaio de ligação parafusada em perfis U, dispositivos de fixação e


posicionamento dos transdutores de deslocamento.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


146 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

5 RESULTADOS

5.1 Ligações parafusadas em chapas finas de aço

A falha por ruptura da seção líquida (fig. 8) não ocorreu de maneira


isolada, sendo que, nos casos onde houve a ruptura da seção líquida, pôde-se
observar um avançado esmagamento na parede dos furos, tanto maior
quanto menor a quantidade de seções com parafusos (maior concentração
de tensões). Exceção é feita para as ligações do tipo 3, onde as distâncias
transversais entre furos (2d) e entre furo e borda (d) eram inferiores às mínimas
recomendadas pela norma brasileira (3d e 1,5d, respectivamente), nesse caso,
observou-se a falha prematura da ligação por ruptura da seção líquida.

Figura 8 - Evolução da falha por ruptura da seção líquida.

Os valores experimentais do coeficiente redutor da área líquida Ct,


representados como sendo a relação da força última obtida nos ensaios pela
força teórica resistente da seção líquida (Fu/Anfu), juntamente com suas curvas
teóricas apresentadas pela NBR 14762:2001, e as curvas do coeficiente redutor
das tensões (U) apresentadas pelo AISI:1996, quando da utilização de arruelas
junto aos parafusos, são mostrados nos gráficos das figuras 9, 10, 11 e 12 para
os corpos-de-prova que apresentaram como modo de falha a ruptura da
seção líquida das séries A, B, C e D, com duas, três e quatro seções de
parafusos perpendiculares à solicitação, respectivamente. Nestes gráficos, o
coeficiente Ct varia em função da relação do diâmetro do parafuso com o
espaçamento entre furos (d/g).

Vale ressaltar que as expressões da NBR 14762:2001 coincidem com a


do AISI:1996 para o caso de ligações sem arruelas ou com apenas uma
arruela. No entanto, observando os gráficos das figuras 10, 11 e 12 em cujos
são apresentados os resultados experimentais dos corpos-de-prova das séries
B, C e D, pode-se concluir que a utilização de arruelas junto à cabeça do
parafuso e a porca não ocasionou grandes variações de resultado na

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 147

avaliação do coeficiente Ct. Para a série A (figura 9), os dados foram


insuficientes para se fazer uma análise conclusiva a este respeito.

Numa visão geral, observa-se nestes gráficos que na maioria dos casos
os valores experimentais de Ct resultaram superiores aos valores teóricos
obtidos segundo a NBR 14762:2001. Exceto para as ligações do tipo 3 (d/g =
0,5), principalmente quando estas não utilizavam arruelas, ficando os valores
experimentais até15% abaixo do valor teórico (fig. 10 para as chapas de
2,0mm). Entretanto é importante lembrar que nesse caso o gabarito de
furação não respeitou as recomendações de norma, portanto estas
configurações não são recomendadas para utilização na prática, o que foi
confirmado nos ensaios. E também, que os valores experimentais de Ct se
aproximaram dos teórico a medida em que se aumentaram o número de
seções de parafusos perpendicular à solicitação tendendo a um valor unitário.

Estes resultados são analisados a seguir para cada série ensaiada e


sugestões para a calibração do coeficiente Ct são apresentadas.

¾ Ligações da Série A (fig. 9);

Como demonstrado anteriormente, para as ligações parafusadas em


chapa fina com apenas uma seção de parafusos perpendicular a solicitação
(série A) a falha por esmagamento foi predominante. Destas, além das
ligações do tipo 3 comentadas anteriormente, apenas as ligações do tipo 2
para chapa de 2mm e tipo 1 e 4 para chapa de 4,75mm, utilizando arruelas,
tiveram a falha caracterizada pelo esmagamento da parede do furo (ou
furos), seguida ruptura da seção líquida.

Os resultados experimentais do coeficiente Ct ficaram, respectivamente,


(descartando as ligações tipo 3), 8%, 11% e 15% acima da curva teórica
apresentada pela NBR14762:2001. Comparando estes valores com a curva do
AISI:1996, prevendo a utilização de arruelas, eles ficaram 26%, 8% e 4% abaixo
desta, respectivamente.

Para comparar estes resultados com os valores de cálculo apresentados


pela AISI:2001, temos que definir os valores de d/s, sendo s a largura da chapa
dividida pelo número de furos, assim para ligações tipo 1, 2, 3 e 4, os valores de
d/s são, respectivamente, 0,333 , 0,167 , 0,25 e 0,167, o que conduzem a
valores teóricos de Ct iguais à 0,625 para o caso da ligação tipo 3 sem arruela,
e 1,0 , 0,6 , 0,85 e 0,6 para os casos de ligações 1, 2, 3 e 4 com arruelas,
respectivamente.

Deste modo os resultados experimentais do coeficiente Ct ficaram, em


relação a curva teórica apresentada pelo AISI:2001, 7% abaixo para a ligação
tipo 1, 25% abaixo para a ligação do tipo 2, 32% e 11,6% acima para as
ligações do tipo 3 sem e com a utilização de arruelas, respectivamente, e
37,5% acima para a ligação tipo 4.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


148 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

Apesar do número reduzido de corpos-de-prova a apresentar este


modo de falha para esta série, observa-se, na análise dos resultados, uma
melhor concordância dos valores experimentais de Ct com os teóricos
apresentados pela NBR14762:2001, portanto sugere-se que estes sejam
mantidos, ou seja:

- para todos os parafusos da ligação contidos em uma única seção


transversal:

Ct = 2,5(d/g) ≤ 1,0 (17)

1,0

0,8
Ct=Fu/Anfu

0,6

NBR14762:2001
0,4
AISI:1996 (c/ arruela)
Ensaio (s/ arruela)
0,2
Ensaio (c/ arruela)

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
d/g

Figura 9 - Resultados experimentais para os ensaios da Série A (c.p. que apresentaram


ruptura da seção líquida).

¾ Ligações da Série B (fig. 10);

Nesta série as ligações cuja relação d/g estavam acima de 0.25


apresentaram em média valores experimentais de Ct bem próximos a unidade,
exceto a ligação tipo 3 (d/g = 0,5) para chapa de 2,0mm sem arruela que
ficou 10,6% abaixo e as ligações com d/g igual a 0,333 para chapa de 2,0mm
sem arruela que ficaram na média 5% abaixo.

Para relações d/g abaixo de 0,25, notou-se uma tendência de queda


no valor experimental de Ct , estando este, em sua maioria, acima da curva
teórica apresentada pelo AISI:1996 quando da não utilização de arruelas,
exceto para as ligações com d/g igual a 0,111 para chapa de 2,0mm sem
arruela cuja média dos valores experimentais de Ct ficou 8,3% abaixo do
apresentado pelo AISI:1996 e 2,8% acima do apresentado pela NBR14762:2001.

Portanto, de acordo com os resultados analisados acima e mais os


apresentados nos gráficos da figura 10, sugere-se a manutenção da expressão
apresentada pela NBR14762:2001, para a avaliação do coeficiente Ct, uma
vez que esta não faz distinção quanto da utilização de arruelas ou não junto
ao parafuso, ou seja:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 149

- para dois parafusos na direção da solicitação, alinhados ou em zig-zag:


Ct = 0,5 + 1,25(d/g) ≤ 1,0 (18)

Observa-se que para as ligações tipo 5 (com d/g igual à 0,167), o valor
experimental de Ct foi de 0,97 e 0,95 para as chapas de 2,00mm e 4,75mm,
respectivamente, utilizando arruelas, enquanto que para as ligações tipo 9 e
10 (com d/g igual à 0,111), os valores experimentais de Ct ficaram em média
iguais à 0,68 e 0,70, para as chapas de 2,00mm e 4,75mm, respectivamente.

Estes resultados são suficientes para invalidar a nova formulação


adotada pelo AISI:2001, onde considera para essa situação a adoção de um
valor unitário para Ct , agora não mais dependente da relação d/s.

Para uma visualização global destes resultados, estes foram agrupados


no gráfico da figura 10, juntamente com as curvas teóricas apresentadas pela
NBR14762:2001 e pelo AISI:1996 quando da não utilização de arruelas.

Realizada análise de dispersão, são apresentadas na tabela 2 , os


valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação desses resultados
experimentais (Ct(exp.)).com relação a curva do coeficiente Ct apresentada
pela NBR14762:2001(Ct(NBR)).

1,0

0,8
Ct=Fu/Anfu

0,6
NBR14762:2001
AISI:1996 (c/ arruela)
0,4
Ensaio (s/ arruela)
Ensaio (c/ arruela)
0,2

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

d/g
Figura 10 - Resultados experimentais globais para os ensaios da Série B.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


150 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

Tabela 2 - Análise de dispersão para dados da séria B.


C t (exp .) C t (exp .)
C t (NBR ) C t (prop.)

média 1,138 ---

desvio padrão 0,102617 ---

coeficiente de variação 9% ---

¾ Ligações da Série C (fig. 11);

Nesta série a variação dos valores experimentais de Ct foram similares a


da série B, ou seja, para valores de d/g acima de 0,25, estes ficaram em média
próximos à unidade, quando abaixo de 0,25 houve uma tendência de queda
destes valores experimentais. Ou seja, para as ligações que apresentavam d/g
igual à 0,167 os valores experimentais de Ct ficaram em média iguais à 0,93 e
0,95, para as chapas de 2,00mm e 4,75mm, respectivamente, enquanto que
para as ligações com d/g igual à 0,111, os valores experimentais de Ct ficaram
em média iguais à 0,90 e 0,95, para as chapas de 2,00mm e 4,75mm,
respectivamente. Valores estes acima das curvas de Ct apresentadas pela
NBR14762:2001 e pelo AISI:1996 utilizando arruelas, mas ainda estando abaixo
da unidade, contrariando mais uma vez a nova formulação de AISI:2001.

Deste modo sugere-se um ajuste na curva de Ct, partindo-se de d/g


igual a zero adota-se para Ct o valor 0,7, esta variaria linearmente até o ponto
de d/g igual a 0,25 a partir do qual Ct passaria a ter valor constante igual a
unidade. Esta nova expressão seria portanto:

- para três parafusos na direção da solicitação, alinhados ou em zig-zag:


Ct = 0,7 + 1,2(d/g) ≤ 1,0 (19)

Para uma visualização global destes resultados, estes foram agrupados


no gráfico da figura 11, juntamente com as curvas teóricas apresentadas pela
NBR14762:2001 e pelo AISI:1996 quando da não utilização de arruelas e a
curva proposta neste trabalho.

Realizada análise de dispersão, são apresentadas na tabela 3, os


valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação desses resultados
experimentais (Ct(exp.)) com relação a curva do coeficiente Ct apresentada
pela NBR14762:2001 (Ct(NBR))e a curva proposta (Ct(prop.)).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 151

3 linhas de parafusos todos os modelos ensaiados

1,0

0,8

NBR14762:2001
Ct=Fu/Anfu 0,6
AISI:1996 (c/ arruela)
0,4 proposto
Ensaio (s/ arruela)
Ensaio (c/ arruela)
0,2

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

d/g
Figura 11 - Resultados experimentais globais para os ensaios da Série C.

Tabela 3 - Análise de dispersão para dados da séria C.


C t (exp .) C t (exp .)
C t (NBR ) C t (prop.)

média 1,127 1,028

desvio padrão 0,071666 0,054652

coeficiente de variação 6,4% 5,3%

¾ Ligações da Série D (fig. 12);

Conforme observado nos gráficos das figuras 10 e 11, realmente há uma


tendência de convergência para um valor unitário do coeficiente Ct,
conforme aumento-se o número de seções de parafusos perpendicular à
solicitação. No entanto, observa-se na figura 12 que a partir de quatro seções
de parafusos a adoção deste valor para Ct, ainda não é a melhor solução.

Pois conforme resultados experimentais, a maior dispersão do valor


médio de Ct nesta série, com relação a unidade, ocorreu para as ligações
com d/g = 0,167, apresentando valores experimentais médios de Ct iguais a
0,92 e 0,95, para as chapas de 2,0mm e 4,75mm, respectivamente, estando
estes 7,7% e 11,2% acima da curva teórica de Ct apresentada pela
NBR14762:2001 e 1,5% abaixo e 1,8% acima da curva proposta neste trabalho,
respectivamente, como pode ser observado nos gráficos da figura 12.

Para as outras configurações os resultados do coeficiente Ct,ficaram em


média próximos a unidade tendo uma boa concordância com a curva
proposta, quando não ficaram acima desta.

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152 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

Deste modo, sugere-se como nova expressão para avaliação do


coeficiente Ct , a seguinte:

- para quatro ou mais parafusos na direção da solicitação, alinhados ou


em zig-zag:
Ct = 0,8 + 0,8(d/g) ≤ 1,0 (20)

Para uma visualização global destes resultados, estes foram agrupados


no gráfico da figura 12, juntamente com as curvas teóricas apresentadas pela
NBR14762:2001 e pelo AISI:1996 quando da não utilização de arruelas e a
curva proposta neste trabalho.

Realizada análise de dispersão, são apresentadas na tabela 4, os


valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação desses resultados
experimentais (Ct(exp.)) com relação a curva do coeficiente Ct apresentada
pela NBR14762:2001 (Ct(NBR))e a curva proposta (Ct(prop.)).

1,0

0,8
Ct=Fu/Anfu

NBR14762:2001
0,6
AISI:1996 (c/ arruela)
proposto
0,4
Ensaio (s/ arruela)
Ensaio (c/ arruela)
0,2

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

d/g
Figura 12 - Resultados experimentais globais para os ensaios da Série D.

Tabela 4 - Análise de dispersão para dados da séria D.


C t (exp .) C t (exp .)
C t (NBR ) C t (prop.)

média 1,086 1,009

desvio padrão 0,058138 0,044165

coeficiente de variação 5,4% 4,4%

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 153

5.2 Ligações parafusadas em perfis de aço formados a frio

Para os corpos-de-prova que apresentavam duas ou mais seções com


parafusos na direção perpendicular à solicitação, o modo de falha
predominante foi a ruptura da seção líquida conforme representado na figura
13, muitas vezes associada ao esmagamento, ou seja, a ruptura da seção
líquida ocorreu sob deformação excessiva da parede do furo (ou furos).

Figura 13 - Ruptura da seção líquida.

Neste item, os resultados obtidos nos ensaios são comparados com as


curvas teóricas do coeficiente de redução da área líquida (Ct) apresentadas
pela NBR14762:2001 e pelo AISI:2001. Os valores experimentais do coeficiente
Ct foram obtidos a partir da força última de ensaio, dividida pela força
resistente da seção líquida (Ct=Fu/Anfu), e são apresentados nos gráficos a
seguir em função da variação da relação x /L.

5.2.1 Ligações onde nem todos os elementos estavam conectados

Nos gráficos das figuras a seguir são apresentados apenas os resultados


para os corpos-de-prova que não possuíam todos os elementos conectados.

¾ cantoneiras

Para as cantoneiras, os valores experimentais do coeficiente Ct


resultaram em média de 15% abaixo dos valores teóricos, exceto para as
cantoneiras de abas desiguais com espessura de 3,75mm ligada pela aba
maior (ligação do tipo 2 para configuração LD3) as quais apresentaram boa
concordância com estes. Observa-se a diminuição desta diferença para
valores acima de 0,4 da relação x /L, conforme gráficos da figura 14.
De acordo com estes resultados experimentais, sugere-se o seguinte
ajuste da curva de Ct aplicada as cantoneiras:

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154 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

- abaixar o limite superior para o valor de Ct , para 0,8;

- adotar para limite inferior o valor de 0,5;

- manter a mesma inclinação para o trecho com variação linear,


porém com valores 15% inferiores.

Obtém-se, portanto, a seguinte expressão para o coeficiente de


redução da área líquida no caso de cantoneiras:

- para cantoneiras com duas ou mais seções de parafusos na direção


perpendicular a solicitação:
C t = 0 ,85 − 1,2 ⋅ x / L < 0 ,8 (porém não menor que 0,5) (21)

Esta expressão está representada na figura 14, com a denominação da


curva como ‘proposto’, onde pode-se observar a boa concordância desta
com os resultados experimentais.

NBR e AISI
proposto
1,0 TIPO 1 TIPO 2
LI1 LD1
0,8 LI3 LD3
LD1
0,6 LD3
Ct

0,4

0,2

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

x/L
Figura 14 - Resultados experimentais de Ct para as ligações parafusadas em
cantoneiras com duas ou mais seções com parafusos.

Realizada análise de dispersão, são apresentadas na tabela 5, os


valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação desses resultados
experimentais (Ct(exp.)) com relação a curva do coeficiente Ct apresentada
pela NBR14762:2001 (Ct(NBR))e a curva proposta (Ct(prop.)).

O coeficiente de variação para a curva proposta considerando todos


os c.p. ensaiados (caso a da tabela 5), apresentou valor menor do que o
apresentado pela curva da norma. Nesta mesma tabela, retirando da análise
os dados das cantoneiras de abas desiguais com 3,75mm de espessura,
conectadas pela aba maior (caso b), os quais apresentaram valores
experimentais de Ct maiores do que os demais c.p., mas a favor da segurança,
observa-se melhora deste coeficiente, de 10,8% para 5,5%.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 155

Tabela 5 - Análise de dispersão para dados do ensaio de cantoneiras.


(a) (b)
C t (exp .) C t (exp .) C t (exp .)
C t (NBR ) C t (prop.) C t (prop.)

média 0,915 1,057 1,015

desvio padrão 0,151592 0,114311 0,056053

coeficiente de variação 16,6% 10,8% 5,5%

(a) considerando todos os c.p. ensaiados;


(b) desconsiderando os c.p. LD3 (tipo 2)

No entanto, o procedimento da NBR14762:2001, ou seja, apresentando


uma expressão única de Ct para o caso de cantoneiras, satisfaz os casos
analisados, uma vez que esta dispersão se encontra a favor da segurança.
Evitando desta forma a criação de várias curvas.

¾ perfis U

Para os perfis U, quando as ligações foram feitas pelas mesas (tipo 2), e
a variável x foi avaliada como sendo a metade da altura do perfil,
procedimento demonstrado na figura 4. Os valores experimentais de Ct
demonstraram uma boa concordância com os teóricos, conforme pode ser
visto na figura 15.

Quando esta ligação era feita pela alma, a falha predominante foi o
esmagamento da parede dos furos. Entretanto, para as ligações
representadas na figura 15 pela sigla U1 nas ligações tipo 1b e 1c,
respectivamente, apresentando duas seções de parafusos dispostos na alma
em duas linhas, para os perfis U100x60x1,55mm e U100x75x1,55mm,
respectivamente, o modo de falha foi a ruptura da seção líquida. Analisando
os resultados experimentais de Ct para estes corpos-de-prova, observa-se que
estes ficaram em média 50% abaixo dos valores teóricos, portanto pode-se
concluir que a atual curva da norma não é adequada para avaliar o Ct nesses
casos.

Diante destes resultados, uma solução razoável para avaliação do


coeficiente Ct para perfis U formados a frio, seria a criação de duas curvas,
uma para ligação feita pelas mesas do perfil, já apresentada em norma e a
outra quando a ligação se desse pela alma.

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156 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

NBR e AISI
tipo 1b tipo 2
1,0
U1 U1
U3
tipo 1c
0,8
U1

0,6
Ct

0,4

perfis ligados
0,2 pela alma

0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6
x/L
Figura 15 - Resultados experimentais de Ct para as ligações parafusadas em perfis U
com duas ou mais seções com parafusos – procedimento 01.

Outra solução seria avaliar a variável x ,no caso das ligações se darem
pelas mesas do perfil, do modo sugerido pelo AISC:1993, ou seja, dividir o perfil
ao meio, considerando duas cantoneiras e, conseqüentemente, tomando a
excentricidade da ligação em relação a uma destas cantoneiras (ver fig. 3).
Assim, conforme demonstrado no gráfico da figura 16, os perfis U com ligações
do tipo 2 (pelas mesas) cujo valor de x foi avaliado deste modo, e as ligações
tipo 1b e 1c (ligações pela alma), apresentaram valores experimentais do
coeficiente Ct próximos à curva teórica para cantoneiras dada pela
NBR14762:2001, a qual está indicada neste gráfico, ou seja:
- para perfis U com duas ou mais seções de parafusos na direção
perpendicular a solicitação:
C t = 1,0 −1,20 ⋅ x / L < 0 ,9 (porém não menor que 0,4) (22)

1,0 proposto
tipo 1b tipo 2
0,8 U1 U1 x
U3
0,6 tipo 1c
U1
Ct

0,4
x

0,2

0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6

x/L
Figura 16 - Resultados experimentais de Ct para as ligações parafusadas em perfis U
com duas ou mais seções com parafusos – procedimento 02.

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Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 157

Realizada análise de dispersão, são apresentadas na tabela 6 , os


valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação desses resultados
experimentais (Ct(exp.)) com relação a curva do coeficiente Ct apresentada
pela NBR14762:2001 (Ct(NBR))e a curva proposta (Ct(prop.)).

Tabela 6 - Análise de dispersão para dados do ensaio de perfis U.


(a)
C t (exp .) C t (exp .) C t (exp .)
C t (NBR ) C t (NBR ) C t (prop.)
média 0,891 1,049 1,033

desvio padrão 0,245317 0,077765 0,091974

coeficiente de variação 27,5% 7,4% 8,9%

(a) dados da figura 15 excluindo os c.p. tipo 1b e 1c

Observa-se na tabela 6, que excluindo os valores experimentais de Ct


para os perfis U conectados pela alma com dois parafusos por linha, tipos 1a e
1b (caso a), há uma melhora no coeficiente de variação, comparando com
as expressões da NBR, mas deste modo, não ficaram cobertos todos possíveis
tipos de ligação, necessitando de mais de uma expressão de Ct .

5.2.2 Ligações com todos os elementos conectados

Na figura 17 são apresentados os resultados experimentais das ligações


com duas ou mais seções de parafusos onde todos os elementos se
encontravam conectados. Pode-se observar que o valor do coeficiente Ct na
maioria dos casos resultou inferior ao valor teórico recomendado pela NBR
14762:2001 (Ct = 1,0), que também é o adotado no projeto de perfis laminados.

Para as cantoneiras de maior espessura ensaiada (4,75mm) realmente


se observou uma tendência para que o coeficiente Ct se aproxima da
unidade, ficando acima deste no caso do perfil U de 4,75mm.

De acordo com os resultados apresentados na tabela 7, observa-se que


a média geral dos valores experimentais de Ct foi igual a 0,935, sugere-se que
este coeficiente para o caso de perfis formados a frio quando todos os
elementos estejam ligados seja considerado igual à 0,95.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


158 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

1,2 espessuras
1,55mm
1,1 3,75mm
4,75mm
1,0

0,9
Ct

0,8

perfis:
0,7 LI = cantoneira de abas iguais
LD = cantoneira de abas desiguais
0,6 U = perfis U

0,5
LI LI LI LD LD LD U U U

Perfis
Figura 17 - Resultados experimentais de Ct para as ligações parafusadas com todos os
elementos conectados.

Tabela 7 - Análise de dispersão para todos os elementos conectados.


Ct

média 0,935

desvio padrão 0,053087

coeficiente de variação 5,7%

6 CONCLUSÕES

Apesar da grande aceitação dos perfis formados a frio no mercado


brasileiro, as pesquisas com nesse campo somente receberam um impulso
com o desenvolvimento da norma brasileira NBR14762:2001 “Dimensionamento
de Estruturas de Aço Constituídas por Perfis Formados a Frio”. Portanto, são
poucos os trabalhos desenvolvidos neste campo da engenharia estrutural em
nosso país. Internacionalmente vê-se a contínua pesquisa sobre este assunto,
mas, especificamente com relação às ligações parafusadas observou-se que
a maioria dos estudos ocorreu entre as décadas de 50 e 70, onde foram
desenvolvidas as primeiras expressões para cálculo das ligações parafusadas
em chapas finas e no final da década de 90 e início deste século onde se
iniciaram os estudos sobre ligações parafusadas em perfis formados a frio.

Inseridas neste contexto, as análises experimentais de ligações


parafusadas em chapas finas de aço e perfis formados a frio, desenvolvidas
neste trabalho, permitiram algumas conclusões quanto aos procedimentos de
cálculo adotados.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 159

A primeira delas, diz respeito ao fato de que estas ligações são


singulares e afetadas por uma série de variáveis e, como não existe a
possibilidade de se recomendar procedimentos específicos para cada
configuração estudada, foram propostas expressões gerais de modo que
atendessem casos os mais abrangentes possíveis, respeitando os níveis de
segurança, como segue.

- Ligações parafusadas em chapas finas de aço


¾ Ruptura da seção líquida efetiva

Esse modo de falha não ocorreu de maneira isolada, sendo que, nos
casos onde houve a ruptura da seção líquida pôde-se observar um avançado
esmagamento na parede dos furos, tanto maior quanto menor a quantidade
de seções com parafusos (maior concentração de tensões). Exceção é feita
para as ligações do tipo 3, nas quais observou-se a falha prematura da
ligação por ruptura da seção líquida, nestas o gabarito de furação não
respeitava as recomendações mínimas de norma, confirmando deste modo
que tais configurações não devem ser empregadas na prática.

De acordo com os resultados experimentais, observou-se para a maioria


dos casos que os valores médios experimentais de Ct resultaram superiores aos
valores teóricos obtidos segundo a NBR 14762:2001 (exceto as ligações do tipo
3). Para ligações com mais de duas seções de parafusos cujas configurações
apresentavam relação d/g acima de 0,25 os valores de Ct mostraram boa
concordância com a unidade, para as relações abaixo de 0,25 estes ficaram
abaixo da unidade, o que vêm a invalidar a nova recomendação adotada
pelo AISI:2001, onde considera para essa situação a adoção de um valor
unitário para Ct . Assim com base nestes resultados são propostos ajustes nas
curvas de Ct para o caso de ligações parafusadas em chapas finas, como
segue:

NBR14762:2001 proposto

- quando todos os parafusos da ligação estão contidos em uma única seção


transversal:

Ct = 2,5(d/g) ≤ 1,0 Ct = 2,5(d/g) ≤ 1,0

- quando existem duas seções de parafusos perpendiculares à direção da solicitação,


alinhados ou em zig-zag:

Ct = 0,5 + 1,25(d/g) ≤ 1,0 Ct = 0,5 + 1,25(d/g) ≤ 1,0

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


160 Carlos Henrique Maiola & Maximiliano Malite

- quando existem três seções de parafusos perpendiculares à direção da solicitação,


alinhados ou em zig-zag:

Ct = 0,67 + 0,83(d/g) ≤ 1,0 Ct = 0,7 + 1,2(d/g) ≤ 1,0

- quando existem quatro ou mais seções de parafusos perpendiculares à direção da


solicitação, alinhados ou em zig-zag:

Ct = 0,75 + 0,625(d/g) ≤ 1,0 Ct = 0,8 + 0,8(d/g) ≤ 1,0

- Ligações parafusadas em perfis formados a frio


¾ Ruptura da seção líquida efetiva

Para as ligações parafusadas em perfis formados a frio apresentando


duas ou mais seções com parafusos na direção perpendicular à solicitação, o
modo de falha predominante foi a ruptura da seção líquida, muitas vezes
associada ao esmagamento, ou seja, a ruptura da seção líquida ocorreu sob
deformação excessiva da parede do furo (ou furos). Este ocorreu muitas vezes
para valores experimentais de Ct abaixo dos estimados teoricamente, portanto
de acordo com estes resultados experimentais, sugere-se os seguintes ajustes
da curva de Ct aplicada as cantoneiras e perfis U formados a frio.

NBR14762:2001 proposto

-para cantoneiras com duas ou mais seções de parafusos na direção perpendicular a


solicitação:
C t = 1,0 − 1,20 ⋅ x / L < 0 ,9 C t = 0 ,85 −1,2 ⋅ x / L < 0 ,8

(porém não menor que 0,4) (porém não menor que 0,5)

- para perfis U com duas ou mais seções de parafusos na direção perpendicular a


solicitação:
C t = 1,0 − 0 ,36 ⋅ x / L < 0 ,9
* C t = 1,0 −1,20 ⋅ x / L < 0 ,9
(porém não menor que 0,5)
(porém não menor que 0,4)

- para cantoneiras e perfis U com duas ou mais seções de parafusos na direção


perpendicular a solicitação, quando todos os elementos estão conectados:
Ct = 1,0 Ct = 0,95
* Avaliando a variável x , no caso das ligações se darem pelas mesas do perfil, do
modo sugerido pelo AISC:1996, ou seja, dividindo o perfil ao meio, criando duas
cantoneiras e avaliando a excentricidade da ligação em relação a uma destas
cantoneiras (fig. 2.c).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 9, n. 40, p.133-162, 2007


Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a frio 161

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