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Cálculo de pilares de sobrados ou casas térreas considerando a ação do vento?

Qual a menor
dimensão a se utilizar?

Aluno do curso de Florianópolis formulou a seguinte pergunta:

Calculei, usando o programa EBERICK, uma estrutura de um sobrado e considerando todos


parâmetros do vento. Em alguns pilares a armadura resultou em 6Φde 16 mm. Não
considerando a ação do vento a armadura resultou em mínima 4Φde 10 mm. É preciso
considerar a ação do vento para estruturas deste tipo?

Acrescentado a esta pergunta outro aluno se manifestou perguntando se é necessário o uso


do pilar de dimensão mínima com 14 cm? Citou inclusive a NBR15575:2013.

Vamos discutir o caso inclusive em que o pavimento é composto por lajes treliçadas.

Alguns aspectos a serem verificados:

• A norma NBR15575:2013 (parte 2) estruturas é clara

Assim, em princípio, a ação do vento deve ser considerada

• TCC da turma de ECF da aluna Lídici Pomin De Simas “Influência Da Ação Do


Vento No Projeto De Pilares De Concreto Armado Em Edificações De Pequeno Porte”
aprovado em 20/10/2017 conclui que há pouca influência nas armaduras dos
pilares. Cita um manual de boas práticas do IBRACON (que não consegui
encontrar) que sugere que o vento possa ser desprezado para edificações até
6 m de altura com laje etc.... Usou o TQS para elaborar os cálculos mas ao
fazer a comparação com um cálculo manual usou o procedimento da norma
NBR6118:2004. Também usou laje maciça garantindo assim o efeito diafragma
quando da atuação do vento. A conferir os resultados...
• Analisar a estrutura submetida a ação com e sem vento pode ser importante,
para se entender o quanto a estrutura tem rigidez lateral, se a que existe é
suficiente ou não (estruturas de nós fixos ou não).
• Partindo que não há erro de lançamento que os cálculos estão corretos o
resultado mostra que o pilar quando solicitado com a ação do vento passa a
necessitar de uma armadura grande, nem sempre comum neste tipo de
projeto.

Em relações a possíveis enganos numéricos no cálculo da ação do vento algumas coisas


precisam ser verificadas:

• O ideal é considerar no cálculo da ação do vento o valor do coeficiente de arrasto


relativo ao regime de alta turbulência (é o menor dos valores) pois a estrutura é baixa,
exceção se estiver localizada a beira de um penhasco ou algo assim.
• Para edificações de pequena altura o valor de h/L1 (ver gráfico 3.13), em geral, não é
encontrado na ordenada vertical. O valor precisa ser extrapolado. O programa que
está sendo usando faz isto de forma adequada? Verifique fazendo um cálculo manual.

Figura 3.13 – - Coeficiente de arrasto, C a, para edificações com planta retangular,


situadas em região considerada com vento de alta turbulência

• Casas germinadas ou com pouca distância entre elas, não precisam ser verificadas para
a ação do vento na direção perpendicular a maior parede como é o caso da foto 1. É
uma questão de bom senso.

Foto 1 Casas germinadas


Consideração de pavimentos com lajes treliçadas

• Normalmente os programas comerciais consideram as nervuras das lajes treliçadas


trabalhando como isoladas. Como indica a figura 7 (Cada linha tracejada é uma
nervura)

LAJE UNIDIRECIONAL

As nervuras, para efeito de cálculo, podem consideradas isoladas (sem a distribuição que a
capa confere)
corte AA

80
50

25
800

10

5
800

A A

800 800

corte AA

Figura 7 Esquema da laje nervurada unidirecional.


A pergunta a ser respondida: A laje quando submetida a ação do vento, perpendicular às
nervuras, trabalha como diafragma rígido? Dependerá como o programa processa a estrutura.
No trabalho de HENRIQUE RAYMUNDO, “ANÁLISE DE PAVIMENTOS DE EDIFÍCIOS EM
CONCRETO PRÉ-FABRICADO CONSIDERANDO O EFEITO DIAFRAGMA”, dissertação de mestrado
da UFSCar, na página 37 tem um exemplo (ver figura 2.20) que pode ser usado no seu
programa e conforme o resultado você saberá se, mesmo que as nervuras estejam em uma só
direção, o programa está considerando a laje como diagrama rígido. Teste.

(a) (b)

Figura 2. 1 - Estrutura composta de pavimento rígido e pórticos com vigas e pilares: (a) Esquema em
perspectiva volumétrica; (b) Esquema estrutural em barras.
• O ideal é que os programas fizessem uma modelagem como feita no livro 1 (a partir da
página 79) em que a capa da laje unidirecional é considerada funcionando na direção
transversal. Leia, é uma visão muito interessante e foi feita antes do ano 2000. A
versão 21 em diante do pré-fabricado do TQS faz isso com a capa da laje alveolar.
• Seguindo ainda a dissertação de Raymundo acredito (não fiz as contas) que os 4 cm de
capa de uma laje treliçada já são suficientes, para que este tipo de edificação, tenha a
laje trabalhando como diafragma.

Dimensão mínima de pilar

• Na norma NBR6118 na versão de 2004 permitia dimensão mínima de 12 cm.


• Na versão de 2014 a dimensão mínima do Pilar passou para 14 cm
• Alguns se arvoram no texto da NBR15575-1 que se segue para continuar a usar pilares
com 12 cm

Não concordo e acho que o artigo de Diego Rojas


https://www.linkedin.com/pulse/voc%C3%AA-sabe-qual-dimens%C3%A3o-m%C3%ADnima-
de-um-pilar-diego-rojas muito bem escrito, de tal forma, que prefiro que o leiam no original.

• Em conversa informal o professor titular de UFRJ Dr. Sérgio Hampshire de Carvalho


Santos confidenciou-me que foi ele que pediu a mudança dos 12 para 14 cm (segundo
ele melhor seria 15) pois, usou estudo com a teoria da confiabilidade e chegou a este
resultado. Não consegui achar artigo ou trabalho com esta revelação, mas é uma
informação
• A menor dimensão de um pilar segundo a NBR6118:2014 é de 14 cm, porem com área
superior a 360 cm2 o que nos leva, usando uma dimensão com 14 cm, a outra com
360
b= = 26 cm. Assim, a sugestão é usar 14x27,5 ou 14x30 cm, nunca, por exemplo, 14x14
14

cm !
• Já vi trabalhos de TCC indicarem que os pilares de 12 (com a desculpa da
NBR15575:2013) e de 14 são mais baratos do que similares com 19 cm. Exercícios
feitos com alunos em aulas de graduação na UFSCar chegamos à conclusão inversa
(contabilizamos só material). O pilar com pequena espessura mesmo para residências
tem taxa de armadura bem maior. Bom é claro que o fato de embutir o pilar em uma
parede não tem preço.
• O Raciocínio é simples: A diferença de um pilar e uma viga, é que no pilar tem-se uma
forte compressão. Mas em um “pilar” quando o valor do momento começa a ser
significativo (por causa do vento, por exemplo) não há como resistir senão usando
grande quantidade de armadura. Alguém projetaria uma viga com 12 ou 14 cm de
altura? Acho que não.
• Caso o momento decorrente da ação do vento seja realmente grande, na ligação viga-
pilar, porque não rotular ou plastificar o nó? Nesta situação o nó pilar-fundação deve
ser contínuo (engastado) e, portanto, o momento máximo se dará neste ponto sem
efeito de segunda ordem.
• No livro 2, mesmo na edição 1 (norma 2004) o pilar com 12 cm de largura (que não
pode mais), sem momento de vento precisava de 6 Φ 10mm contra de 4 Φ 10 para o
com 20 cm.
• Para entender um pouco mais usa-se o programa Obliqua considerando algumas ações
(qua acho razoáveis- use as que o programa calculou). Considerando uma ação de
vento com M=0,4x22+200x(0,02+0.02)=8,2 kN.m
Onde N=200 kN – ação vertical
0,4x22 – Momento na parte intermediária do pilar sendo a ação do vento 22 KN.m
0,02 m excentricidade de 2ª ordem e 0,021 m excentricidade de primeira ordem
Estes valores foram tirados dos exercícios do Livro 2 e são, sendo razoáveis. Faz-se
uma verificação usando o programa OBLIQUA. (Bom d´=3 cm, fck=20 Mpa, CA50)

Neste caso usando o pilar de 14x20 cm resultou em 4 Φ 12,5mm

Porem com a seção com 14x30 só precisa de 4 Φ 10mm


O ideal seria usar o PCALC mas ele não calcula pilar com seção de menos de 19x19 cm!

Com a ferramenta obliqua podemos ver que na situação anterior com pouco menos que a
metade do normal e o mesmo momento a armadura começa a não ser suficiente mesmo
usando 14x30 e o 30 cm combatendo o momento (COMPORTAMENTO DE VIGA)
Em resumo:

Verifiquem se ações de vento e a laje como diafragma rígido estão funcionando através de
cálculos simples feitas manualmente.

Usem o pilar com pelo menos 14x26 cm, rotulem nós se preciso, crie um núcleo (pilar com
grande inércia) na escada se necessário, verifiquem com programas mais simples o cálculo da
flexão (obliqua em geral). É bom ver como ficam esforços e deslocamentos, com e sem vento,
para tomar decisões de mudança de estrutura.

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