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Sinais de Estresse

E-book escrito por Bianca Zério


Sinais de Estresse

INTRODUÇÃO

Os equinos são excelentes comunicadores e fazem uso


de diversos recursos como as expressões faciais e
corporais, posturas e comportamentos que são capazes
de transmitir seus estados mentais para interagir com o
ambiente, outros equinos e animais de outras espécies. É
fundamental que nós saibamos como reconhecer e
interpretar seus sinais de comunicação, para melhor
atender suas necessidades, compreender seu estado
mental e traçar estratégias de manejo e treinamento.

Todo o processo de aprendizado do equino tem como


base seu estado mental, já que seus comportamentos e
respostas são regidos por emoções evocadas pelo
ambiente, companhia e situação. Conhecer os diferentes
sistemas emocionais e suas influências no
comportamento animal é essencial para todos que
desejam interagir com esses animais.

Estresse e aprendizagem
O estresse é um fator intrínseco a aprendizagem, afinal
sem estimulações que nos desafiam e alteram a forma
como interagimos com o ambiente seria impossível obter
respostas, informações e conhecimento. Portanto é
natural que o estresse quando aliado a estados mentais
positivos impulsione a cognição e crie resiliência além de
aprendizado. Porém, quando os níveis de estresse
aumentam ele passa a ativar os sistemas emocionais
negativos como os de FEAR, RAGE e GRIEF sua
aprendizagem habitual é interrompida pela priorização
da sobrevivência.
Sinais de Estresse

O grande problema em incitar o medo e os estados de


luta e fuga em nossas interações com os equinos é limitar
sua capacidade cognitiva de compreender nossa
comunicação e objetivos. Um animal com medo não
responde por cooperação e sim por coerção.

Desenvolvimento da aprendizagem:

TRAUMA

normal

cognição social/emocional regulação sobrevivência


Sinais de Estresse

ESCALA DE TENSÃO

Para melhor interpretar a comunicação dos equinos é


preciso conhecer e classificar seus comportamentos e sua
relação com o estado mental do animal. É possível se
criar uma distinção geral do nível de tensão avaliando a
frequência e o contexto em que certos comportamentos
são expressados e então elaborar uma “escala de tensão”.

- estresse +

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1: Sinais de Apaziguamento
2: Comportamento Deslocado
3: Sinais de Afastamento
4: Fuga ou Luta
5: Congelar

A tensão pode variar de acordo com a situação, fazendo


com que os animais não necessariamente sigam
progressivamente na escala.

Exemplo: uma égua durante o passeio está insegura com


a aproximação de um cão e expressa sinais de
apaziguamento e afastamento, porém ele se aproxima e
late e como resposta ela congela por medo do ataque.
Sinais de Estresse

Sinais de Apaziguamento
Estes costumam ser os primeiros sinais a indicar o
aumento da tensão. São comuns nas interações e podem
agir como bons parâmetros para nós avaliarmos nossas
ações, posturas e medidas.

Quanto mais frequentes (maior número de expressão em


um determinado período de tempo) e em maiores
quantidades, maior é a tensão envolvida. Além de indicar
o aumento, eles também estão envolvidos com o
relaxamento.

Um equino pode expressa-los na tentativa de reduzir seu


próprio estresse, apaziguar a linguagem e interação com
um outro objeto ou animal (incluindo nós humanos) ou
quando naturalmente o estímulo que originou a tensão
diminui sua intensidade ou deixa de existir.

Cada equino pode desenvolver uma preferência quanto


a quais sinais de apaziguamento e em que ordem irá
expressá-los. Eles podem ser tão sutis como o piscar dos
olhos e até mais fáceis de identificar como gestos e
posições. O contexto e a frequência definitivamente são
fatores muito importantes ao fazermos a interpretação
desses sinais e tentarmos identificar seu estado mental.

Muitos deles também podem beneficiar nossa


comunicação, já que são comuns a varias espécies.
Transmitir esses sinais durante uma aproximação ou ao
longo das sessões de manejo e treinamento pode ajudar
os equinos a relaxar e estabelecer cooperação e
confiança.
Sinais de Estresse

Nós humanos também utilizamos sinais de


apaziguamento em nossas interações. Quem nunca
abaixou a cabeça brevemente ao cumprimentar um
estranho, desviou o olhar durante uma conversa ou deu
as costas para alguém? Esses são apenas alguns exemplos
de comportamentos muitas vezes despercebidos que nos
ajudam a manter a interação com os outros e o ambiente
mais confortável.

Piscar
Olhar para o lado
Olhos semicerrados
Mascar
Mascar com a língua para fora
Virar a cabeça
Virar o pescoço
Chacoalhar pescoço
Chacoalhar corpo
Abaixar e levantar a cabeça
Manter a cabeça baixa
Sinais de Estresse

Mostrar a garupa
Mostrar o flanco
Splitting
Os equinos podem se posicionar entre a fonte de
tensão e outros animais, como uma forma de
apaziguar e proteger. Assim como uma égua se coloca
a frente de seu potro para averiguar se um objeto ou
outro animal é seguro para interagir com ele. Nós
também podemos utilizar esse comportamento em
nosso cotidiano e treinamento, em sessões de
dessensibilização ou na condução.
Curving
Equinos costumam evitar uma aproximação direta e
retilínea, pois isso pode ser interpretado como uma
afronta. Sua forma de apaziguar suas abordagens é se
aproximar em um trajeto de meio circulo, o que
também os permite mais agilidade caso desejem fugir.
Aproximar-se dos animais dessa forma também é
recomendado para nós humanos, já que indica uma
interação mais amigável, segura e facilita nossa visão
dos sinais de estresse e expressões faciais.
Rushing
Pastejar é uma atividade relacionada a momentos
de descontração e induz o relaxamento, porém,
quando o fazem como maneira de aliviar sua
tensão os animais irão fazer movimentos mais
bruscos e rápidos, alguns animais podem inclusive
deixar de engolir aquilo que morderam. Eles
passam a capturar o alimento de forma
compulsiva.
Podemos observar este comportamento em
animais que estão sendo trabalhados ou montados
que interrompem seu movimento para pastejar e
até mesmo durante a condução de alguns animais.
Imobilidade e diminuir a velocidade
Sinais de Estresse

Comportamento Deslocado
São comportamentos naturais e comuns aos equinos,
porém podem nos indicar estresse quando são
expressados em contextos incompatíveis.

Comportamentos como rolar, cavar, coçar, bocejar e


lamber são perfeitamente normais em animais relaxados
e tranquilos quando soltos em seus pastos e piquetes,
mas em situações onde eles estão sendo trabalhados,
montados, manejados e estimulados de diversas
maneiras pelo ambientes indicam a elevação de seu
estresse. Exemplos:

1. Mesmo selado e montado o animal deseja deitar e rolar


no chão, isto pode indicar não somente o estresse,
problemas no ajuste da sela podem estar causando dor e
lesões.

2. Durante uma comemoração os proprietários de um


rancho decidem soltar fogos de artifício, eles observam
que os cavalos do piquete mais próximo ficam
extremamente agitados galopando e alguns animais
interrompem sua fuga para rolar na areia.

3. Após o treino um cavalo é banhado e amarrado para se


secar ao sol, conforme o tempo passa ele começa a bater
com seu casco no chão fazendo um movimento como se
cavasse o chão.

4. Durante o momento do manejo em que é ofertada a


ração alguns animais do pavilhão começam a bater nas
portas das baias com os anteriores.
Sinais de Estresse

5. Uma égua esta participando de uma aula de equitação


e o aluno tenta a manter parada enquanto recebe
instruções. Ela passa então a cavar.

6. Enquanto montado, um equino “toma” as rédeas e usa


seus dentes para coçar intensamente seus anteriores.

7. Ao ser conduzido do pasto para o pavilhão de baias,


um potro tenta coçar seu rosto no condutor ou em
objetos próximos com frequência.

8. Ao esperar sua entrada após o aquecimento o animal


começa a bocejar, mesmo estando em um ambiente
com várias estimulações como outros cavalos galopando,
sons, cheiros diferentes e a presença do cavaleiro.

9. Após um treino intenso o cavaleiro desmonta e conduz


seu cavalo até o local onde irá retirar os equipamentos,
durante o trajeto e/ou quando sua cabeçada será retirada
o animal lambe o cavaleiro algumas vezes.

10. Durante o treino, em certos momentos o treinador


observa que sua égua lambe os lábios repetidamente
mesmo não tendo consumido nenhum alimento.

11. Durante o casqueamento o cavalo boceja


repetidamente, indicando seu desconforto e tensão.
Sinais de Estresse

Sinais de Afastamento
Estes sinais atuam não só com o intuito de reduzir a
tensão do animal que os expressam, mas também com o
intuito de afastar a fonte de seu estresse e sessar sua
aproximação ou manipulação. Mesmo que pareçam
agressivos seu objetivo é servir como um aviso e proteção.

Os sinais de afastamento estão relacionados a níveis mais


elevados de estresse e precedem os estados de luta ou
fuga. Se observados o animal deve ser tratado com
atenção, procure reduzir a estimulação imediatamente.

São eles: perseguir, ameaçar (coices, mordidas e


manoteadas), corcovear, arquear o pescoço e a indicação
de fuga. A perseguição e a indicação de fuga podem
ocorrer de maneiras mais sutis, de forma que muitos não
as percebem.

Um exemplo de perseguição comumente despercebida


é quando os animais trabalhados em redondéis ou guias
passam a reduzir o espaço entre eles e o treinador,
avançando em sua direção. Já o segundo ocorre em
discretas alterações na distribuição de seu peso entre os
membros.
Sinais de Estresse

Luta e Fuga
Ao atingirem estes estados, os animais já passaram o
limiar do medo e estão focados em sua sobrevivência. A
expressão desses comportamentos nos indicam que seus
sistemas emocionais de RAGE (raiva) ou FEAR (medo) são
os que prevalecem no momento, descartando a
possibilidade de um aprendizado saudável e livre de
traumas.

Os equinos costumam ativar mais facilmente o estado de


fuga, por serem herbívoros e presas, porém são muitas as
situações em ambientes domésticos em que esses
animais são coagidos a lutar. Isso ocorre principalmente
durante interações em que o equino se vê encurralado,
preso, contido e impossibilitado de escapar da
estimulação que lhe causa desconforto e tensão. Não se
deve punir um animal por demonstrar seu medo e seu
estresse, afinal a falha não é dele.

Profissionais ou não, todos somos responsáveis pelas


experiências e estados mentais que os equinos vivenciam.
Não devemos tolerar formas de manejo e treinamento
que estimulam o medo.
Sinais de Estresse

Congelamento
Em ultima instância, quando não conseguem mais
encontrar soluções e seu estresse é tão elevado que ativa
seu sistema emocional PANIC (pânico), os animais
passam a se desassociar do ambiente e das estimulações
que os cercam. Se tornam menos sensíveis a dor e
estímulos físicos, deixam de captar tantas informações e
se retraem em desamparo.

Infelizmente, ainda é comum que equinos sejam


manipulados de maneiras tão aversivas que os fazem
deixar de apresentar reação. É preciso compreender que
a perspectiva e critério analisado sempre deve ser a do
animal. O que é muito estressante para ele pode ser
comum para você, mas nunca deve ser irrelevante.
Permaneça atento e solidário, pois as consequências de
um manejo e treinamento aversivo não são positivas.

Expressões faciais
Também pode-se notar a tensão através das expressões
faciais dos equinos. Poderá nota-la através dos olhos
semicerrados, amplamente abertos com suas pálpebras
projetadas. Através dos lábios e mandíbula quando
comprimidos o que consequentemente irá alongar as
comissuras e quando há tensão nas musculaturas da face.
Estes são apenas alguns dos sinais mais comuns.
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