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Faculdade de Letras

Departamento de Letras Clássicas


Língua e Literatura Latinas: Narrativa (Genérico IV)
2020.1
Prof. Pedro Schmidt – pedro.schmidt@letras.ufrj.br

Discente: ​Maria Eduarda Mendes Cordeiro


DRE: ​119033613
Curso: ​Língua e Literatura Latinas: Narrativa
Episódio analisado:​ Faetonte

Faetonte e tudo o que há para saber

Em “As Metamorfoses”, Ovídio conta a história de Faetonte, filho do Deus Hélio, o Sol. O
episódio conta que Faetonte nasceu, junto das ninfas Helíades (Mérope, Hélie, Febe, Etéria, Dioxipe ou
Lapécia), da união de Hélio com a mortal Clímene. Ele foi criado por sua mãe sem nenhum
conhecimento de sua origem, tornando-se um rapaz forte, determinado e ambicioso. Então, depois de
crescido, sua mãe abre o jogo sobre sua progênie, porém seus amigos zombam da história por achar que
era mentira, deixando-o desolado e atormentado. Após o ocorrido, Faetonte, decide que quer conhecer
seu pai e o palácio em uma mortal aventura em busca de validação, onde tragicamente morre após
perder o controle ao dirigir a carruagem de seu pai.
Hélio, seu pai, era descrito como um jovem de formosura inigualável, tinha a cabeça cercada de
raios e rasgava os céus pilotando um veloz carro flamejante conduzido por quatro cavalos: Pírois, Eóo,
Éton e Flégon, também conhecidos como fogo, luz, chama e brilho. Eles percorriam um caminho
descrito pelo deus exatamente desta maneira:

"A estrada aérea é tão árdua e íngreme, que os próprios


cavalos, frescos, da noite, com grande dificuldade a escalam. A meio
do percurso, a altitude é tanta, que o mar e as terras, quando de lá
os contemplo, me assustam e o coração se me aperta no peito. E a
descida é tão precipitada, e é preciso tão grande firmeza, que lá
embaixo, nas ondas, a tremer, Tétis me espera” (Ovídio, p.65).

A história de Faetonte é precedida do episódio de Pã e Siringe, na qual a ninfa foi transformada


em bambu por Ládon após suplicar em desespero ao deus do rio que a salvasse de Pã. É possível notar
certas semelhanças na narrativa de ambas histórias, como por exemplo, a interferência direta de um
deus “salvando” tanto a ninfa quanto o filho do sol. Faetonte foi morto por Zeus com um raio,
impedindo-o de destruir o equilíbrio e parando sua metamorfose: o fogo o consumiu de uma tal forma
que o próprio se tornou fogo, esbravejando “eis meu cabelo em chama e brasas sobre o meu rosto e
também nos olhos!”. Dessa mesma maneira, Siringe teve seu terror interrompido ao se transformar em
bambu. A súplica pela morte, de uma forma tragicamente irônica, foi a salvação de ambos.
A modalidade narrativa do episódio conta com a mescla do discurso direto e indireto, onde
percebe-se algumas falas de Hélio para seu filho ao questioná-lo sobre sua vinda, como também a
intermediação do diálogo entre ambos por parte de um narrador. O contador da história não participa
dos eventos descritos, endereçando-os ao leitor, visto que, durante a leitura, percebe-se que o narrador
está repassando o que sabe sobre o assunto, como em “se aceitarmos o que diz a lenda, houve um dia
sem sol [...]” (Ovídio, p.330). Dessa maneira, pode-se deduzir que a razão disso tudo é para que a
memória de Faetonte seja mantida através da replicagem de sua trágica história, onde ele nunca
morrerá por completo.
O nível narrativo está constituído em volta do narrador (3º pessoa). Ele estabelece o
desenvolvimento da diegese conforme conta a lenda de Faetonte como um participante do processo,
ainda que sob efeito de uma certa subjetividade, como foi visto no trecho citado anteriormente, onde
ele se inclui no discurso utilizando a primeira pessoa do plural (nós). O percurso diegético é
completamente realizado por ele, destinando a performance de Faetonte e seu objeto de valor (o
reconhecimento) a um ouvinte externo (leitor) seu relato.
Além disso, é possível perceber o uso exacerbado da écfrase nos diálogos e descrições
extremamente dramáticos, assim como a verossimilhança, visto que, ao ler, é provável que um pouco
de fé na história realmente se desenvolva; a ​mise en abyme,​ pois existem diversas histórias paralelas
acontecendo dentro da de Faetonte, como a de suas irmãs e seu amigo que choram em seu túmulo; e,
finalmente, a mais marcante, a ironia trágica de seu destino. Também há uso de analepse, por tratar o
poema através de uma distribuição linear de eventos narrativos tratados como ​flashbacks ​de
caracterização da lenda pelo narrador.
Por fim, a história de Faetonte se relaciona diretamente, de maneira cronológica, com o
episódio seguinte. A história continua contando a história de suas irmãs após sua morte. Tamanha foi
tristeza sentida pelas ninfas que, de tanto chorar no local da morte do irmão, os deuses
metamorfosearam-nas em choupos-negros e suas lágrimas em gotas de âmbar que, quando
solidificadas, tornam-se uma jóia dourada semelhante ao brilho do Sol.
Bibliografia:

CARVALHO, Raimundo. ​Metamorfoses em Tradução.​ 2010. USP, São Paulo. Disponível em:
Metamorfoses.pdf

ROCHA, Arnobio. ​Faetonte - O Brilho Fugaz. ​2012. Disponível em: ​Faetonte – O Brilho Fugaz

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