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Nº 1.

002
06ABR2020

Adm: VM Fábio Ferreira da Rosa Neto


Comissão de Ritualística e Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas Maçônicas
GOB-SP – Oriente de Sorocaba – ARLS Cavaleiros da Luz, 4048

O PAVIMENTO MOSAICO E ALGUMAS QUESTÕES ENVOLVENDO A


ETERNA DUALIDADE: O BEM E O MAL

José Ronaldo Viega Alves - 16 de jul. 2015

“Mas eu continuava sob a maldição da minha dualidade de propósitos


e logo que se desfez o primeiro impulso e penitência,
a minha parte inferior começou a grunhir, exigindo sua satisfação.”
(“O Médico e o Monstro: o estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde”.
Robert Louis Stevenson)
Introdução

Assis Carvalho disse certa vez que há símbolos que marcam a sua pre-
sença entre os demais com uma força tal, que não há como descrevê-los em
poucas linhas. O Pavimento Mosaico ou Quadriculado, no Rito Escocês Antigo
e Aceito (REAA), é um desses símbolos, que vem suscitando ao longo do tempo
inúmeras discussões.

Algumas giram em torno da sua nomenclatura correta, outras se referem


às suas origens, e outras, ainda, so-
bre o seu posicionamento e dispo-
sição na Loja: em diagonal ou tabu-
leiro de xadrez. No entanto, eu
acho que a grande discussão
mesmo, envolve as ligações todas que esse símbolo consegue sugerir, princi-
palmente sobre a questão dos opostos, e dizendo isso, correndo riscos, ao levar
em conta, as sábias considerações do saudoso Irmão Theobaldo Varoli quando
assim se referiu aos símbolos maçônicos:
“A Maçonaria autêntica jamais admitiu a interpretação licenci-
osa ou puramente subjetiva de qualquer símbolo por ela ado-
tado. Diante de um símbolo, o maçom não deve portar-se como
um doente num consultório de psicanálise, como também não
deve arrastar suas interpretações ao sabor de suas crenças pes-
soais.”

Entre uma gama de significados que são atribuídos a esse, que é um dos
ornamentos da Loja, o Pavimento Mosaico tem na representatividade exposta
dos seus ladrilhos pretos e brancos, a dualidade, a “Lei dos Contrastes” que são
inerentes à nossa própria existência, o bem e o mal que irão permear os cami-
nhos que escolhermos na vida, a luz e as trevas que sempre se farão presentes,
as alegrias e as dores, mas, que também de forma paradoxal, digamos, podem
encerrar a ideia de um delicado equilíbrio onde estão sustentadas as energias
positivas e as negativas, as mesmas que conduzem a uma coesão das forças que
regem o Universo.

Com o propósito de entender um pouco mais dessa dualidade, da sua


atuação, das suas influências em nosso meio, ou dos variados conceitos filosó-
ficos ou religiosos que estão atrelados a ela, a exemplo do maniqueísmo e do
livre-arbítrio, é que será desenvolvido o presente trabalho. Afinal, a presença
de opostos e de contrastes, fazem parte da nossa vida, sendo que em algumas
das etapas, são fundamentais para o nosso crescimento psíquico.

Sobre as Origens do Pavimento Mosaico

Parece não haver dúvidas, que a origem do Pavimento Mosaico é a Su-


méria, região da Mesopotâmia onde a religião um dia acabou adquirindo ex-
trema importância, a ponto de tornar-se a base para toda religiosidade cósmica
do mundo da Antiguidade e da mitologia Greco-Romana.

De acordo com Castellani, o Pavimento Quadriculado, o mesmo que co-


nhecemos por Pavimento Mosaico, e proveniente da Suméria, como é con-
senso, era composto de quadrados brancos e pretos intercalados, para exata-
mente representar os opostos, onde, a ideia principal envolvia o dia e a noite,
já que o culto era solar, e outras representações envolvendo dualidades como
o bem e o mal, a virtude e o vício, o espírito e a matéria.

Na Mesopotâmia, o pavimento era considerado terreno sagrado, sendo


uma antecâmara dos santuários, portanto, somente percorrido pelo Sacerdote
em dias importantes de cumprimento do calendário religioso.

Importante salientar que nem todos os demais povos adotaram o pavi-


mento, sendo que os hebreus não o utilizavam e ele não existia no Templo de
Jerusalém. Houve autores que chegaram sim, a confundir o Pavimento Mosaico
com o Santo dos Santos do Templo de Salomão.

Na Ilha de Creta, Sir Arthur Evans, durante escavações arqueológicas, de-


parou-se com muitos fragmentos de pavimentos quadriculados usados nos pa-
lácios, que através das pesquisas revelaram-se elementos decorativos.

Mosaicos estavam presentes na arte e na arquitetura romanas, em dese-


nho e esculturas da China, Índia, Babilônia, Egito, etc. Além do mais, vários des-
ses povos adotaram esse pavimento comprovadamente como elemento de de-
coração, sem qualquer conotação religiosa.

A verdade é que, como disse Varoli, o simbolismo contido no contraste


do preto e branco é peculiar à Maçonaria Especulativa, e é a partir daí que ele
começa a ganhar sua importância dentro da nossa Simbologia.

O Pavimento Quadriculado recebeu o nome de Pavimento Mosaico, em


virtude da lenda existente, onde Moisés durante o Êxodo, em determinada oca-
sião, teria assentado no chão do Tabernáculo (que era o Templo portátil dos
hebreus durante a sua peregrinação pelo deserto em direção à Palestina), pe-
quenas pedras coloridas.

Castellani falou também da etimologia da palavra, dizendo o seguinte:


“... o vocábulo mosaico, quando usado como substantivo, signi-
fica pavimento feito de pequenas pedras, ou de outras peças,
que, pela disposição de suas cores, dão aparência de desenho;
por outro lado, quando usado como adjetivo, ele é alusivo a
Moisés e, por extensão ao Judaísmo e ao Hebraísmo.
Na expressão Pavimento Mosaico, para ‘mosaico’ é o adjetivo
referente ao substantivo ‘pavimento’, sendo, portanto, alusiva
a Moisés, realmente. O resto é invenção.
Para evitar essas confusões e considerando-se que a origem do
pavimento é sumeriana e não hebraica, é que é preferível deno-
minar-se Pavimento Quadriculado a esse adorno do Templo Ma-
çônico, inclusive porque o termo já teve referências na literatura
maçônica mundial (Checkered flooring).”

O Pavimento Mosaico na Maçonaria

Na Maçonaria o Pavimento Mosaico, ou Quadriculado, não possui exata-


mente o significado de sagrado, a ponto de que seja proibido pisá-lo. E é bom
que se diga aqui, que ele está na Loja, pelo fato de que a Loja é a representação
do Universo, Universo onde nós pisamos e onde ao final das contas os contras-
tes existentes se harmonizam. Portanto, é para ser pisado, com respeito, é
claro, e para ser lembrado também, que o homem muda parcialmente do
branco para o preto e vice-versa, mas, que no fundo somos todos iguais. A
questão é buscar uma harmonia, tal como a que existe no Universo.

Com relação ao espaço que ele ocupa no Templo Maçônico, Castellani


diz que ele recobre todo
o solo do Templo e não
somente a passagem en-
tre as Colunas. Neste caso, a Orla Denteada é colocada bem junto ao rodapé
para efeito de guarnição do pavimento.

É dito também que este pavimento não possui a importância que alguns
autores místicos quiseram atribuir-lhe, já que antigos rituais escoceses nem se-
quer o mencionam, o que vem demonstrar também uma finalidade decorativa,
não tão essencial à Ritualística e à Simbologia Maçônica.
O Pavimento deve ser formado por quadrados brancos e pretos em dia-
gonal e não como é comumente usado, imitando um tabuleiro de xadrez. Aliás,
neste presente trabalho, não me deterei nas incursões de Jules Boucher sobre
o Pavimento Mosaico, até pelo fato de que ele faz comentários na sua obra
clássica “A Simbólica Maçônica”, do ponto de vista, no meu entender, de um
tabuleiro de xadrez, além de que essa configuração atende em princípio, e mais
especificamente, ao Rito Moderno ou Francês.

Kennyo Ismail, faz o seguinte comentário:

“Convencionou-se imaginar
que o “Santo dos Santos” do
Templo de Salomão”, por
também ser um local de ju-
ízo, possuía um Pavimento
Mosaico. Essa teoria não tem
fundamento na Bíblia, onde,
consta que todo o piso do
templo era de madeira de ce-
dro, mas, é baseada em uma
breve passagem do Talmud,
que permite uma interpreta-
ção de que os lugares mais
sagrados dos templos tinham
o Pavimento Mosaico.”

Importante, é também destacar, baseado nas considerações de Ismail,


que até o final da Idade Média não se tinha conhecimento das cores dos antigos
Pavimentos Mosaicos, e somente a partir do século XVI, quando o rei Henrique
VIII determinou a confecção de uma bíblia em inglês, surgiu aquela que ficou
conhecida como a “Bíblia de Genebra”, pelo fato de nessa cidade ter sido con-
feccionada.

Essa versão trouxe muitas novidades em termos de ilustrações, e entre


elas a do Templo de Salomão, onde o Pavimento Mosaico era composto de
quadrados intercalados em preto e branco. Com certeza, o tipo de impressão
na época era em preto e branco, mas, com o tempo essa visão do Pavimento
acabou firmando-se.
Quando surgiram os Templos Maçônicos, já inspirados no Templo de Sa-
lomão, esse foi o modelo adotado. No REAA, houve o entendimento de que
todo o piso pertencente ao Templo
de Salomão era um Pavimento Mo-
saico, isso baseado nas ilustrações
medievais, mas, ainda assim, há al-
gumas variações, pois, a perda do co-
nhecimento da origem de tais símbo-
los no Tempo, e mais a influência de outros Ritos, fizeram com que seja possível
encontrar em alguns Templos do REAA no Brasil, Pavimentos Mosaicos restritos
ao retângulo central e constituído também de Orla Dentada.

Sem dúvida, devemos sempre levar em consideração que na Maçonaria,


o Templo de Salomão, é apenas um grande símbolo e não a reprodução exata
da obra do Rei Salomão.

Na interpretação de Nicola Aslan, o Pavimento Mosaico tem um simbo-


lismo muito extenso na Maçonaria, sendo o lugar onde ele vem representar “as
classes, as opiniões e os sistemas religiosos que se confundem na Maçonaria,
sendo o emblema da estreita união que deve existir entre todos os maçons,
apesar das diferenças”.

Como já foi possível avaliar até aqui, há uma variedade de interpretações


e discussões girando em torno desse símbolo que é o Pavimento Mosaico na
Maçonaria. Mas, será que ainda há outras interpretações? E assim sendo, o
verdadeiro aprendizado não se dá quando podemos comparar os contrastes e
as diferenças?

O Pavimento Mosaico e a Dualidade

Definamos dualidade: “é a propriedade ou caráter do que é duplo ou que


contém em si duas naturezas, duas substâncias ou dois princípios. Por sua vez,
dualismo é: um conceito da filosofia e teologia, que se baseia em dois princípios
ou duas realidades opostas e que são irredutíveis entre si.

De acordo com Raimundo D‟Elia Junior é:

“A batalha do preto com o branco, cientes que nenhum predo-


mina no Mosaico Maçônico, está ligada à Iniciação, quando se
permanece um período vendado e depois sem venda, fazendo
com que a Luz recebida na Iniciação revele, pela retina, todas as
magníficas cores contidas no arco-íris, desvendando assim o
mistério da dualidade existente no ser humano, que o conduz
para o bem ou para o mal. Portanto, simplesmente não existe
meio termo entre o que é, e o que não é.”

Com relação aos preceitos do homem, e que podem ser positivos ou ne-
gativos, a ligação com o Pavimento Mosaico se dará assim: as pedras brancas
são os preceitos positivos e as pedras pretas serão os negativos. Complemen-
tando, e conforme o que dispôs Joaquim de Figueiredo em seu Dicionário de
Maçonaria: “Reflete a polaridade positiva e negativa da natureza, e a dualidade
do bem e do mal, por cujo labirinto deve o iniciado encaminhar-se oscilante ou
decidido, mas sempre perigosamente, para a perfeição.”

Devemos entender, ainda, que a disposição das cores preto e branco no


Pavimento Mosaico, fazem lembrar-nos que os seres humanos mesmo sendo
diferentes em raça, credo ou cor, são todos iguais perante o Grande Arquiteto
do Universo (GADU).

E ainda arrematando com o próprio Raimundo D‟Elia Junior: “Para a Hu-


manidade, lado a lado caminham o bem e o mal, a humildade e a vaidade, a
busca por uma vida melhor e a ganância desenfreada, infelizmente, com base
no custe o que custar, e de salve-se quem puder!”

O Pavimento Mosaico e o Livre-Arbítrio

Vejamos algumas posições filosóficas sobre a questão envolvendo o livre-


arbítrio. Para Espinosa e Nietzsche, o livre-arbítrio não existe, é uma ficção. Não
dá para alguém pensar de modo isento, isento da própria maneira de ver o
mundo e da própria história de vida.

Erasmo de Roterdã escreveu uma obra chamada “Sobre o Livre-Arbítrio”,


onde defendeu que se erramos, o fazemos por nossa própria opção. Martinho
Lutero escreveu o “Servo-Arbítrio”, onde afirma que “ELE” tampouco é respon-
sável pelo mal, e o mal deve ser imputado somente ao homem. Basicamente,
retoma a questão da predestinação, que já havia sido exposta por Santo Agos-
tinho, ou seja, “Deus tudo sabe e tudo previu”.

A verdade mesmo, é que não lidamos com verdades absolutas. Como


disse o teólogo Walter Chantry:

“Apesar do grande louvor que é dado ao “livre-arbítrio”, temos


visto que a vontade do homem não é livre para escolher um
curso contrário aos propósitos de Deus, nem é livre para agir em
contrário à sua própria natureza moral. A sua vontade não de-
termina os acontecimentos de sua vida, nem as circunstâncias
dela. Escolhas éticas não são formadas por uma mente neutra,
são sempre ditadas pelo que constitui a sua personalidade.”

Eu quero crer que a escolha certa efetuada pelo maçom, a opção do ma-
çom, será o produto da sua transformação advinda da Iniciação, da sua reno-
vação, do novo homem gestado a partir dali. Para o homem dominado pelas
paixões, por seus instintos e vícios, não existe o livre-arbítrio, da forma, pelo
menos, como existe para homem que é virtuoso.

O Pavimento Mosaico e o Maniqueísmo

O que é o Maniqueísmo? É interpretado geralmente como sendo uma


filosofia dualística que divide o mundo entre o Bem e o Mal. De um lado está a
matéria, que é considerada má, do outro, o espírito que é considerado bom.

Pelo fato de possuir uma natureza igualitária, o Maniqueísmo atraiu mui-


tos seguidores. Aqueles pertencentes às populações oprimidas estavam entre
os seus seguidores. Entre os ensinamentos de Mani, o profeta persa que criou
essa antiga religião, não existia prática discriminatória, não havia distinções en-
tre etnias, pobres e ricos, ou entre educados e analfabetos. Com base em ensi-
namentos simples, que não requeriam aprendizados difíceis, o sábio utilizou-se
de conceitos como a personificação “da luz e da escuridão”, assim como, “de
bem e do mal”.

Então, fundamentalmente, considera-se o Maniqueísmo como uma filo-


sofia dualística, pelo fato, de fazer uma divisão do mundo entre dois princípios
opostos que são o Bem e o Mal.

Novamente, temos uma proximidade com a simbologia exposta no sím-


bolo maçônico que é o Pavimento Mosaico.

Ainda, o Zoroastrismo ou Masdeísmo, religião nascida na Pérsia, meados


do século VII a.C., também diferenciou-se pelo mono-
teísmo e pelo dualismo cosmológico, ou o que pode ser
entendido como uma batalha sendo travada no mundo
entre as forças benignas e as malignas.

O papel do bem, ensinava Zaratustra, o profeta


persa fundador do Masdeísmo, não é apenas opor-se
ao mal, mas também transformar o mal em bem. O ho-

Zaratustra ou Zoroastro
mem é o único responsável pelas suas escolhas.

Também ensinava que cabia a cada um lutar contra os maus pensamen-


tos e as más ações, trabalho que jamais estaria concluído, pois, estaria sempre
na dependência de um esforço diário e constante.

Vejo aqui, uma semelhança com o desbastar da Pedra Bruta, que analo-
gamente é um trabalho que exige o mesmo tipo de comprometimento.

Essas definições acabam ainda, encontrando consonância na Cabala,


pois, de maneira semelhante podemos encontrar ecos nas palavras do Rav. Mi-
chael Laitman, quando se pronunciando sobre uma série de passos a serem
cumpridos para chegarmos ao que ele chamou de “admirável mundo novo”, e
que eu acrescento aqui, o “mundo melhor” que a Maçonaria e o maçom de
maneira similar almejam: “Em síntese, a crise não está realmente ocorrendo no
exterior. Mesmo que certamente pareça ocupar um espaço físico, ela está
acontecendo dentro de nós. A crise é luta titânica entre o bem (o altruísmo) e
o mal (o egoísmo).”

O maniqueísmo clássico, remanescente, talvez, já não se sustente sozi-


nho nos tempos em que vivemos, pois, muitos dogmas religiosos têm sido ques-
tionados com rigor, mas, e a luta maior hoje parece que é travada no íntimo de
cada um dualisticamente entre “o ter e o ser”.

O Aprendiz, a Pedra Bruta e a Questão do Bem e do Mal

A questão da edificação e do aprimoramento do ser humano, ou do “Ho-


mem-Maçom”, no trabalho do Aprendiz desbastando a Pedra Bruta, deixa per-
ceber de um ângulo iniciático, o que o pesquisador e maçom Carlos Raposo
chama de outro entendimento: “Malho e Cinzel” atuando em conformidade
com o Princípio Hermético da Polaridade que diz que “tudo é duplo”.

Se uma forma de assimilação do Grau de Aprendiz o mostra trabalhando


a Pedra Bruta, outro entendimento, de ordem ainda
superior, nos fala que o Aprendiz, sendo a própria
Pedra a ser desbastada, “sofrerá” ação do “Grande
Escultor”, que fará uso dos elementos necessários à
realização da Obra final.

No trabalho de lapidação da Pedra Bruta duas


vontades parecem agir de modo concomitante: a
primeira vontade seguirá os desígnios do Criador, que é soberana; a vontade
secundária partiria da própria Pedra, ou do indivíduo a ser trabalhado, no caso,
o Aprendiz.
Em ambas possibilidades, intenta-se obter o produto final na forma de
uma “Pedra Justa e Perfeita”. Ela é Justa, pois está adequada à “Sua Obra”, e é
Perfeita, pois também está em conformidade com a “Perfeição de Seu Plano
Maior”.

O livre-arbítrio que, em princípio, parece dirigir a vontade do Aprendiz,


nada mais é do que a faculdade que lhe dá a chance de estar em harmonia com
a “Vontade Maior” que o criou. Nesse caso, as duas vontades, sendo harmôni-
cas, passam a ser uma única Vontade.

Então, poderíamos entender o “Bem” como sendo a capacidade do


Aprendiz de pôr a própria vontade em sintonia com a “Vontade Superior” en-
quanto o Mal simplesmente representaria a opção contrária a esta.”

Conclusões

O pano de fundo para os conceitos aqui abordados são evidentemente a


dualidade evidenciada no símbolo Maçônico que é o “Pavimento Mosaico”, a
mesma dualidade que nos acompanha durante as nossas vidas, ainda como
profanos e depois como maçons, sobre as escolhas que temos de fazer.

Não podemos esquecer em nenhum momento que ao fazermos as nos-


sas escolhas, estamos lidando com as nossas concepções de mundo, de como
vemos os outros seres humanos, de como nos relacionamos, e ainda conside-
rando os nossos costumes.

O irmão João Ivo Girardi em seu “Vade-Mécum maçônico”, no ver-


bete “Pavimento de Mosaico da Maçonaria”, reproduziu o que segue de uma
das suas fontes:

“5. Os Irmãos das Colunas observam frontalmente esse pavi-


mento para ter sempre presente o simbolismo do dualismo. O
dualismo impõe uma escolha; não se pode abarcar ao mesmo
tempo a presença e a ausência, o dia e a noite, enfim o dualismo
está em toda parte. Fixando-se o pavimento, descobre-se que
inexistem cores; o preto é a ausência absoluta de cor; o branco
é a sua polarização (concentração de todas as cores); isso ensina
que o maçom deve buscar o colorido além da fixação para o
piso, mas erguer os olhos para contemplar a natureza colorida.
O maçom atento, curioso e observador está sempre apren-
dendo, indo à sua Loja.”

Devemos atentar também para o fato de que os símbolos maçônicos


apontam para um objetivo que é comum a todos aos maçons, pois, fazem lem-
brá-los constantemente do quanto devem estar voltados para o polimento da
Pedra Bruta, e do quanto devem trabalhar dentro e fora das suas Lojas.

É dito a nós, maçons do REAA, que é pelos ladrilhos do Pavimento Mo-


saico que regulamos os nossos passos, e aí se justifica a disposição desses ladri-
lhos em diagonal. Ainda conforme Aslan: “As pedras brancas e pretas do mo-
saico são ligadas por um cimento, símbolo da união de todos os maçons do
mundo, e invisível para o profano, que só vê os ladrilhos, isto é, a “via larga”, a
“Via Exotérica”.

O Iniciado, ao contrário, segue uma “via estreita”, mais fina que o fio da
navalha, é a “Via Esotérica”, que passa entre o branco e o preto e, portanto,
não tem obstáculos em seu caminho.

Bem no início do trabalho, coloquei uma passagem do clássico do escritor


inglês R. L. Stevenson, popularmente
conhecido como “O Médico e o Mons-
tro”, e que veio a ser depois, tema re-
corrente também do Cinema.

A história é uma das minhas pre-


feridas desde que eu era um garoto. É
bem possível que as reverberações des-
sas leituras ou desses filmes tenham contribuído para a feitura deste trabalho,
pois, visualizei no símbolo maçônico ora analisado e aqui abordado, toda a sua
representação da dualidade, o dilema posto de escolher entre o certo e o er-
rado, ou a velha luta entre as forças do o bem e as forças do mal.
Mas, o tema é tão rico, tão metafísico, que mesmo fazendo a escolha que
julgamos certa, ainda haveria a possibilidade de revê-la, isso mesmo, de outro
ponto de vista, ou seja: quem me garante que a Natureza não tem um modo de
funcionar onde a minha opção, a minha decisão, a minha escolha não a tenha
contrariado? Ou que as grandes verdades do Universo muitas vezes são expres-
sas somente através dos paradoxos?

É deveras um tema muito provocante, e sem soluções cabais, por en-


quanto. Aliás, sobre as escolhas disse Sartre: “A escolha é possível num sentido,
mas o que não é possível é não escolher.”

Referências Bibliográficas

Internet

“O Mito do Livre-Arbítrio” – Walter Chantry – Tradução de Wellington


Ferreira – Editora Fiel.

“Significado de Dualidade” – Disponível em: www.significa-


dos.com.br/dualidade/ Livros: Cadernos de Pesquisas – 19 – Editora Maçônica
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CASTELLANI, José. “Dicionário de Termos Maçônicos” – Ed. Maçônica “A


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FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. “Dicionário de Maçonaria” Editora


Pensamento

D’ELIA JUNIOR, Raymundo. “Maçonaria 100 Instruções de Aprendiz” –


Madras Editora Ltda. 2010 .
LAITMAN, Michael. “A Revelação da Cabala” – Imago Editora – 2008.

ISMAIL, Kennyo. “Desmistificando a Maçonaria” – Ed. Universo dos Livros


– 2012.

STEVENSON, Robert Louis. “O Médico e o Monstro: o estranho caso do


Dr. Jekyll e Mr. Hyde” – Editora Clube o Livro Ltda. 1986.

VAROLI FILHO, Theobaldo. “Curso de Maçonaria Simbólica” 1° Tomo


(Aprendiz) - Editora “A Gazeta Maçônica” – (Não traz o ano da edição).

Revistas

“Discutindo Filosofia” n° 10 / “Filosofia” n° 57/Grandes Temas do Conhe-


cimento-Filosofia n° 4 e n° 16

“A Trolha” n° 20 e n° 155.

“Sexto Sentido” Especial-Maçonaria n° 14

* Loja Saldanha Marinho, “A Fraterna” Oriente de S. do Livramento – RS.

** As imagens não fazem parte do artigo original, foram inseridas para


facilitar seu estudo e compreensão.

Artigo disponível em: http://iblanchier3.blogspot.com/2015/07/o-pavi-


mento-mosaico.html

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