Você está na página 1de 14

PROJETO DE PESQUISA (2019-2023)

Proponente: Wellington Damasceno de Almeida (FAFIL/UFG)


Email: wellington.damasceno@gmail.com

Título do projeto de pesquisa:


Conhecimento Científico e Causalidade na Filosofia da Ciência de Aristóteles

Resumo:
Trata-se de investigar o papel da causalidade na demarcação do contraste entre
conhecimento científico (epistêmê) e conhecimento não-científico (ou pré-científico) na
epistemologia e filosofia da ciência de Aristóteles. Mais precisamente, trata-se de
investigar quais efeitos a descoberta da causa tem sobre definienda, explananda e
demonstranda na epistemologia e filosofia da ciência de Aristóteles.

Palavras-chave: causalidade, explicação, entendimento, assimetria explanatória.

Abstract:
My aim is to investigate the role of causality in the demarcation of the contrast between
scientific knowledge (episteme) and non-scientific (or prescientific) knowledge in the
Aristotelian epistemology and philosophy of science. More precisely, my aim is to
investigate what effect the discovery of the cause has on definienda, explananda and
demonstranda in the Aristotelian epistemology and philosophy of science.

Keywords: causality, explanation, understanding, explanatory asymmetry.

ÍNDICE
1. Introdução e Justificativa (1)
2. Objetivos, definição e delimitação do objeto de estudo (5)
3. Metodologia (11)
4. Referências bibliográficas (11)

1. Introdução e Justificativa
É bem conhecida (e, à primeira vista, não problemática) a distinção em que insiste
Aristóteles (especialmente nos Segundos Analíticos, mas também em outras obras) entre
saber que (to hoti) e saber por que (to dioti)1: de fato, aos olhos de Aristóteles, uma coisa
é saber, por exemplo, que a água congela; outra coisa (e, para o autor dos Segundos
Analíticos, bem diferente) é saber por que a água congela. Embora essa distinção seja
amplamente reconhecida entre intérpretes da filosofia aristotélica e nenhuma dúvida paire
de que Aristóteles de fato tenha se comprometido com ela, é um equívoco supor que tal
distinção já tenha sido explorada exaustivamente e que não mais envolva material de

1
Cf. Segundos Analíticos I 13 ou II 1–2.

1
interesse filosófico a ser aproveitado em discussões (inclusive contemporâneas) sobre
causalidade, explicação (científica), filosofia da ciência e epistemologia2.
A fim de tornar mais nítida a pertinência desse cenário, basta considerar que há um
problema filosófico em relação ao qual a reconstituição precisa e detalhada da distinção
aristotélica entre saber que e saber por que pode ser concebida já como uma (tentativa de)
solução: o chamado ‘problema do valor do conhecimento’. Muito embora a primeira
formulação desse problema filosófico remonte, ao que tudo indica, ao Mênon de Platão,
se julga que uma solução definitiva ainda não lhe tenha sido oferecida até os dias atuais3.
Em tal diálogo, Sócrates propõe uma (tentativa de) solução para o problema do valor do
conhecimento que consiste basicamente em evocar certo procedimento de natureza causal
e/ou explanatória (aitia logismos) que, ao incidir sobre determinado conjunto de crenças
verdadeiras, o eleva do status de (mera) lista de sentenças verdadeiras para o valioso
patamar de conhecimento científico (epistêmê), caso em que tais crenças se tornam
estáveis4. Aristóteles não adota inteiramente os contornos que dão rumo à resposta de
Sócrates, mas certamente se compromete com os pressupostos da pergunta de Mênon (a
saber: por que a ciência (epistêmê) é mais valiosa que a crença verdadeira?5) que inaugura
o problema do valor do conhecimento (científico), quais sejam:
(i) há diferença entre conjuntos de crenças ou proposições verdadeiras que
ainda não exibem articulações causais e explanatórias e conjuntos de crenças
ou proposições verdadeiras que exibem articulações causais e explanatórias;
(ii) os conjuntos de crenças ou proposições verdadeiras que exibem
articulações causais e explanatórias são preferíveis em detrimento dos
conjuntos de crenças ou proposições verdadeiras que ainda não exibem
articulações causais e explanatórias.
De fato, Aristóteles não apenas insiste na diferença entre saber que (a água congela)
e saber por que (a água congela), mas o faz com vistas a instituir um desnível de valor
cognitivo entre essas duas modalidades de saber, desnível que o leva a reservar o status
de conhecimento científico (epistêmê) apenas à segunda modalidade, o saber por que. Na
opinião de Aristóteles, tal modalidade de saber se conecta de maneira incontornável com
a descoberta da causa, opinião com a qual o Sócrates do Mênon também parece concordar,

2
Ver, por exemplo, Van Fraassenn (1980).
3
É o que se supõe, por exemplo, no emblemático livro de Jonathan L. Kvanvig (2003).
4
Mênon 96d–98c.
5
Nas palavras de Mênon e sob a tradução de Maura Iglésias (2012): ‘[...] por que afinal a ciência (epistêmê)
é mais valorizada do que a opinião correta e em que uma é diferente da outra?’ (97c-d).

2
quando evoca certo ‘enunciado causal’ (aitia logismos) como marca distintiva de
cientificidade, como se a condição fundamental, capaz elevar determinado conjunto de
sentenças verdadeiras, por exemplo, ‘P’ e ‘R’, ao patamar de ciência ou conhecimento
científico se manifestasse, por exemplo, na formulação de enunciados de tipo ‘P porque
R’, ‘A é causa de B’, ‘S é P devido a Q’ etc., na exata medida em que enunciados dessa
natureza pressupõem a descoberta da causa6, a partir da qual o efeito, do qual se tem,
antes da descoberta da causa, conhecimento não-científico, com a descoberta da causa,
passa a ser conhecido novamente, desta vez, porém, a partir da causa, ou seja, passa a ser
cientificamente conhecido.
Assim, desde já é importante deixar claro que, apesar de verdadeira, não é uma
descrição precisa da distinção aristotélica entre saber que (a água congela) e saber por
que (a água congela) aquela que supõe que se trata de distinguir (a) conhecimento do fato
e (b) conhecimento da causa, embora esse último contraste, entre a e b, também opere
como pressuposto da distinção aristotélica. A meu ver, uma descrição mais precisa do
contraste que Aristóteles endossa consiste em dizer que se trata de destacar dois modos
diferentes de conhecer o mesmo tornador de verdade: um modo de conhecê-lo que se dá
por meio da causa (to dioti), que ganha expressão nas demonstrações científicas e ao qual
unicamente Aristóteles reserva o título de epistêmê; e um modo de conhecê-lo que não
envolve recurso à causa (to hoti) e que apesar de poder ganhar expressão silogística, não
pode ganhar expressão científico-demonstrativa, modo que, mesmo quando se revela
alicerçado em crenças ou proposições verdadeiras, não constitui, para Aristóteles,
conhecimento científico (epistêmê)7.
Aristóteles está longe de ter se pronunciado claramente a respeito do que torna esse
conhecimento que se adquire através da causa (o saber por que, to dioti) um modo
privilegiado e vantajoso de conhecer algo. Apesar disso, é certo que Aristóteles opera
com a distinção entre saber que e saber por que como quem supõe ter vislumbrado alguma
vantagem importante, capaz de justificar o desnível de valor epistêmico que, ao menos
sob os efeitos de uma primeira olhadela, parece separar os (meros) conjuntos de crenças
verdadeiras das teorias científicas, razão pela qual Aristóteles se vale do contraste entre

6
Enunciados de tipo ‘P porque R’ não são os únicos que pressupõem a descoberta da causa. Outras
formulações que podem desempenhar função equivalente são as seguintes: ‘A é causa de B’, ‘C é A devido
a B’ e assim por diante.
7
Para Aristóteles, só há conhecimento científico de que, por exemplo, a Lua tem a face brilhante voltada
para o Sol, se se sabe por que isso acontece. Assim, ainda que se tenha robustas evidências de que a Lua
tem a face brilhante voltada para o Sol, se não se souber qual é a causa, não se tem conhecimento científico
(epistêmê).

3
saber que é verdade e ter conhecimento científico sem jamais flertar com o ceticismo de
alguém que está disposto a equivaler o valor informacional da explicação ‘a Lua tem a
face brilhante voltada para o Sol porque a Lua é iluminada pelo Sol’ àquele da conjunção
‘a Lua tem a face brilhante voltada para o Sol e a Lua é iluminada pelo Sol’8.
A dependência incontornável que Aristóteles supõe haver entre conhecimento
científico e causalidade não demarca apenas a distinção entre saber que (to hoti) e saber
por que (to dioti), mas também a distinção entre saber que algo existe (ei estin) e saber o
que esse algo é (ti estin). A fim de alcançar conhecimento científico, assume Aristóteles,
assim como não basta saber que (a água congela), mas é preciso saber também por que
(a água congela), igualmente, não basta saber que gelo existe (ou que ‘gelo’ denota), mas
é preciso saber o que é gelo (ou qual é o definiens de ‘gelo’), razão pela qual as definições
científicas (que aparecem no Livro II dos Segundos Analíticos) devem expressar no
definiens a causa que produz o definiendum, como ocorre, por exemplo, nos casos
paradigmáticos do eclipse lunar e do trovão9.
O motivo que leva Aristóteles a estender o contraste entre conhecimento científico
(epistêmê) e conhecimento não-científico (ou pré-científico10) também à diferença entre
saber que algo existe (ei estin) e saber o que é algo (ti estin) está no pressuposto de acordo
com o qual sentenças predicativas podem ser vertidas em expressões nominais11. Assim,
considere-se, por exemplo, o caso do trovão: a sentença predicativa que o expressa é a
seguinte: ‘a nuvem estronda’ (ou ‘troveja’). Para Aristóteles, essa sentença pode ser
vertida em uma expressão nominal, qual seja: ‘estrondo na nuvem’ (ou ‘trovão’)12. Se a
sentença ‘a nuvem estronda’ (ou ‘troveja’) é verdadeira, a expressão nominal ‘estrondo

8
De fato, no parágrafo inaugural do capítulo 2 do Livro I dos Segundos Analíticos, Aristóteles aponta entre
as condições que nos colocam na situação de quem tem conhecimento científico (epistasthai) de X a
exigência de não apenas conhecer a causa de X, mas a de reconhecê-la como sendo a causa de X, a fim de
negar, presume-se, que tenha conhecimento científico (epistêmê) alguém que, embora conheça X e conheça
Y, ainda não se deu conta de que Y é a causa de X. Assim, para Aristóteles, não basta conhecer X, conhecer
Y e saber que X↔Y, pois assim ainda não se sabe que Y é a causa de X, o que descarta, para Aristóteles, a
possibilidade de se estar diante de conhecimento científico (epistêmê).
9
Eis as definições: ‘eclipse lunar’ =def. ‘privação de luz na Lua, causada pela interposição da Terra entre o
Sol e a Lua’; ‘trovão’ =def. ‘estrondo na nuvem, causado pela extinção do fogo’.
10
O adjetivo ‘pré-científico’ indica apenas a ausência de epistêmê demonstrativa. Assim, dizer que um
certo saber é pré-científico nada mais significa que dizer que a causa ainda não foi descoberta, e, portanto,
a demonstração científica não foi obtida.
11
Por ‘expressões nominais’ me refiro a nomes ou descrições que funcionam como nomes, por exemplo,
‘(a) privação de luz da Lua’, ‘(o) eclipse lunar’, ‘(o) estrondo na nuvem’, ‘(o) trovão’ etc.
12
Aristóteles está tão à vontade com a convertibilidade de sentenças predicativas em expressões nominais
e vice-versa que chega ao ponto de dizer que a expressão nominal ‘estrondo na nuvem’ é a conclusão da
demonstração do ‘o que é trovão?’ (Segundos Analíticos II 10, 94a 7ss.), o que não faz sentido (‘estrondo
na nuvem’ sequer é uma sentença predicativa, de modo que não poderia ser conclusão), a não ser sob o
pressuposto de que a expressão ‘estrondo na nuvem’ pode ser facilmente vertida na sentença predicativa ‘a
nuvem estronda’, de modo a poder então desempenhar a função de conclusão da demonstração.

4
na nuvem’ (ou ‘trovão’) denota e vice-versa; se não, não e vice-versa. Em suma, saber
que a nuvem estronda (ou que troveja) e saber que estrondo na nuvem (ou trovão) existe
são modos de conhecer o tornador de verdade da sentença ‘a nuvem estronda’ e o
denotatum da expressão nominal ‘estrondo na nuvem’ (‘trovão’) por um itinerário que
não envolve a causa, e, portanto, não constitui conhecimento científico. Por sua vez, saber
por que troveja e o que é o trovão são modos de conhecer o tornador de verdade da
sentença ‘troveja’ e o denotatum da expressão nominal ‘trovão’ por um itinerário que
passa pela causa, o que coloca aquele que conhece por uma tal via na condição de quem
tem conhecimento científico. Não fosse assim, não poderia Aristóteles se comprometer
com a interdependência de explicações e definições, como ocorre, por exemplo, no
capítulo 2 do Livro II dos Segundos Analíticos (90a 14ss.)13.
Tendo oferecido um panorama geral dos temas e problemas que perfazem os alvos
dessa pesquisa, cabe concluir esta seção enfatizando qual é a dificuldade fundamental e
recorrente que confere unidade à presente investigação e que se desdobra em várias
outras: a de determinar quais são as razões que levaram Aristóteles a conceder tão nítida
preferência pela modalidade de conhecer que envolve articulações causais, através das
quais, julga Aristóteles, unicamente se atinge o status de conhecimento científico
(epistêmê). Em outras palavras, trata-se de determinar que vantagem (se é que há alguma)
coloca o saber por que (to dioti), e, por conseguinte, o saber o que é (ti estin) em um
patamar privilegiado em relação aos demais saberes (to hoti e ei estin) aos quais se faz
alusão nos capítulos 1–2 do Livro II dos Segundos Analíticos.
A seguir, as temáticas, problemas e hipóteses que estão no escopo desta pesquisa
receberão formulação mais detalhada.

2. Objetivos, definição e delimitação do objeto de estudo


Aristóteles supõe que, nas demonstrações científicas (aquelas através das quais o
conhecimento científico ganha expressão máxima), os termos médio e maior são

13
Além disso, no capítulo 2 do Livro II dos Segundos Analíticos, Aristóteles identifica, por um lado, as
investigações de um fato (to hoti) e da existência de algo (ei estin), e, por outro lado, as investigações da
causa (to dioti) e da essência de algo (ti estin), alegando que, no primeiro caso (to hoti e ei estin), o que se
investiga é se há ou não há uma causa, ao passo que, no segundo caso, o que se investiga é qual é essa
causa. Ao identificar esses pares de investigação, Aristóteles supõe que as perguntas ‘Será que P?’ e ‘Existe
X?’ são, de algum modo, equivalentes, bem como as perguntas ‘Por que P?’ e ‘O que é X?’. Aristóteles
não pode se comprometer com isso, a não ser que suponha também que as respectivas respostas, em cada
par de perguntas, também são, de algum modo, equivalentes. Sob o pressuposto de que sentenças
predicativas tais quais ‘P’ podem ser vertidas em expressões nominais tais quais ‘X’ e vice-versa, a
identificação desses pares de investigações, perguntas e respostas, que Aristóteles assume no mencionado
capítulo pode ser facilmente explicada.

5
coextensivos. Assim, na medida em que o termo médio dos silogismos científicos
expressa a causa e o termo maior expressa o efeito, resulta que causa e efeito se
acompanham mutuamente14. O caso paradigmático do eclipse lunar corrobora essa
leitura: de fato, se a Lua sofre eclipse (efeito), a Terra se interpõe entre o Sol e a Lua
(causa); e, se a Terra se interpõe entre o Sol e a Lua (causa), a Lua sofre eclipse (efeito)15.
Embora reconheça essa simetria extensional entre os termos médio e maior das
demonstrações científicas, e, por conseguinte, entre causa e efeito, Aristóteles não reduz
enunciados de tipo ‘P porque R’ (ou equivalentes) a enunciados de tipo ‘P ↔ R’, em
virtude dos pressupostos causais que os enunciados com ‘porque’ acrescentam às
condições estabelecidas nos bicondicionais, pressupostos que impõem aos itens
articulados no enunciado de tipo ‘P porque R’ uma assimetria metafísica que não pode
ser traduzida e expressa através de um bicondicional16. Daí distinguir Aristóteles, no
capítulo 13 do Livro I dos Segundos Analíticos, dois tipos importantes de silogismos: os
silogismos descritivos (silogismos de tipo hoti ou silogismos do ‘que’) e os silogismos
explicativos (silogismos de tipo dioti ou silogismos do ‘porque’). As demonstrações
científicas (quer universais, quer particulares) são silogismos do segundo tipo.
Ao comentar o capítulo 13 do Livro I dos Segundos Analíticos, Barnes (2002) tece
considerações sobre os silogismos planetários apresentados no texto em questão, que não
deixam dúvidas acerca do caráter intrigantemente e absolutamente central da tomada de
posição que a proposta de Aristóteles carrega e que será alvo de críticas em filosofias
mais recentes (sobretudo as de inspiração humeana). Eis as palavras de Barnes:

It shoud be noted that both of Aristotle’s planetary syllogisms would count as


explanatory on the orthodox modern account of scientific explanation; both infer a
fact from a set of observationally significant general laws and boundary conditions.
Thus if Aristotle is correct to distinguish between the two syllogisms, and
to hold the one explanatory and the other not, then the orthodox account
of scientific explanation is wrong. Moreover, the Humean notion of
causation, which is a presupposition of that account, goes [sc. wrong]
too: as far as Hume is concerned, the major premises of both syllogisms are equally
causal. (p. 156).

14
Segundos Analíticos I 13 (78b 13ss.).
15
Situação equivalente se constata nos casos do trovão, do gelo e do ter a soma dos ângulos internos iguais
a dois ângulos retos (doravante, 2R).
16
Aristóteles tenta justificar essa assimetria em 98b 21ss.

6
Os silogismos aos quais Barnes faz alusão são aqueles nos quais Aristóteles reconhece
a assimetria explanatória entre as seguintes condições: (A) não cintilar; e (B) estar
próximo. O exemplo pode soar um pouco controverso, mas não para Aristóteles, que
declara convicto o seguinte: ‘[...] não é por não cintilar que <os planetas> estão próximos,
mas, antes, é por estarem próximos que <os planetas> não cintilam’ (78a 37–38), razão
pela qual o silogismo que conclui que planetas estão próximos não é um silogismo do
porquê, e, portanto, não tem credenciais para expressar conhecimento científico (dado
que o termo médio, isto é, a condição de (A) não cintilar, não é a causa da condição de
(B) estar próximo), ao passo que o silogismo que conclui que planetas não cintilam, este
sim!, é um silogismo científico (dado que a condição de (B) estar próximo, aos olhos de
Aristóteles, é a causa da condição de (A) não cintilar).
O segundo exemplo (78b 4ss.) introduzido por Aristóteles no capítulo talvez seja
menos controverso e assim mais adequado para ilustrar o ponto. A assimetria
explanatória, desta vez, se dá entre as seguintes condições: (A’) ter crescentes de certo
tipo (curvilíneos); e (B’) ser esférico. Assim, o silogismo que conclui que a Lua é esférica,
expressando no termo médio a condição de (A’) ter crescentes curvilíneos, não é um
silogismo do porquê, e, portanto, não é um silogismo que expressa conhecimento
científico (epistêmê), ao passo que o silogismo que conclui que a Lua tem crescentes
curvilíneos, expressando no termo médio a condição de (B’) ser esférica, este sim!, é um
silogismo científico, ou seja, um silogismo através do qual se atinge conhecimento
científico (epistêmê) acerca do fato relatado na conclusão. Para justificar a distinção entre
os dois tipos de silogismos, Aristóteles se limita a evocar a assimetria explanatória, como
já tinha feito no primeiro caso: ‘[...] não é devido aos crescentes que <a Lua> é esférica,
mas, antes, é por ser esférica que <a Lua> tem crescentes de tal tipo [...]’ (78b 4ss.).
O traço fundamental que vale a pena aqui enfatizar é o de que, muito embora
reconheça que, se a Lua tem crescentes curvilíneos, então, a Lua é esférica, bem como
que, se a Lua é esférica, então, a Lua tem crescentes curvilíneos (sob a hipótese, é claro,
de que (B’) ter crescentes curvilíneos e (A’) ser esférico perfazem condições que se
implicam mutuamente), ainda assim Aristóteles supõe que só se tem conhecimento
científico (epistêmê) ao conhecer por um itinerário (que não é o da investigação ou da
descoberta) que vai da causa para o efeito, razão pela qual o termo médio do silogismo
científico deve expressar a causa. Assim, mesmo que se saiba que a Lua tem crescentes
curvilíneos e se recorra a tal fato para mostrar (descobrir) que a Lua é esférica, ainda
assim, aos olhos de Aristóteles, não se tem conhecimento científico (epistêmê). De fato,

7
o conhecimento que se tem dos crescentes curvilíneos da Lua antes da descoberta da
causa, isto é, antes de descobrir que a esfericidade da Lua é o fator que produz e através
do qual os crescentes curvilíneos da Lua são explicados, consiste em saber que a Lua tem
crescentes curvilíneos e não em saber por que ela tem crescentes curvilíneos, isto é,
consiste em certo saber pré-demonstrativo ou pré-científico e não em conhecimento
científico-demonstrativo. Por isso, para leitores familiarizados com os Segundos
Analíticos, Aristóteles não surpreende ao endossar a assimetria explanatória.
No entanto, Aristóteles parece não dar conta de indicar quais são os efeitos que
incidem sobre a compreensão ou entendimento dos crescentes curvilíneos da Lua (ou do
que mais se conheça através de silogismos científicos) a partir da descoberta da causa, ou
seja, que efeitos o silogismo, cujo termo médio expressa a causa, tem sobre aquilo que se
relata na conclusão e que já se sabe ser verdade antes mesmo da descoberta da causa, o
que ressalta no comentário de Barnes citado acima a pertinência que lhe é devida. De fato,
se não se pode saber por que a Lua tem crescentes curvilíneos (e assim ter epistêmê) antes
de saber que a Lua tem crescentes curvilíneos (antes de saber que isso é verdade), então,
a pergunta que se coloca é a seguinte: por que afinal é preciso demonstrar?
É insatisfatório alegar que o papel da demonstração científica está em assegurar ou
descobrir que a conclusão é verdadeira, muito embora os procedimentos dedutivos
tenham entre as marcas que lhes são distintivas a propriedade de preservarem a verdade,
ou seja, de garantir certa transmissão da verdade das premissas para a conclusão. Pois, no
caso das demonstrações científicas aristotélicas, aquelas através das quais o
conhecimento científico (epistêmê) ganha expressão, a primeira verdade que se descobre
é aquela da sentença que ocupará a posição de conclusão ou demonstrandum, razão pela
qual a preservação da verdade não lhe é útil! Ora, se não é para saber que a conclusão é
verdadeira que as demonstrações científicas são mobilizadas, então, para quê? O que é
que as demonstrações científicas têm a oferecer à sentença predicativa que nelas figura
como demonstrandum que a sentença já não esteja de posse antes da demonstração? Em
outros termos, de que modo a descoberta da causa afeta a sentença explanandum e coloca
aquele que toma conhecimento do fato nela expresso na condição de quem tem
conhecimento científico (epistêmê)?17

17
Na tentativa de lidar com tais dificuldades, intérpretes de Aristóteles têm endossado o que podemos
denominar, tomando emprestada uma expressão de Ferejohn (1991, p. 49-50), modelo interrelacional, de
acordo com o qual a novidade produzida pela demonstração consiste, em linhas gerais, no reconhecimento
do papel desempenhado pelo demonstrandum na rede de proposições que perfazem juntas uma teoria
científica. Em outras palavras, a novidade que a demonstração teria a oferecer consistiria em sistematização

8
Não é tarefa fácil responder tais questões, sobretudo porque Aristóteles raramente se
atreve a dar explicações nesse sentido. Em um dos pouquíssimos textos em que
Aristóteles oferece alguma pista sobre como resolver essas dificuldades interpretativas
(que também carregam legítimos problemas filosóficos), o pronunciamento é curto e
incapaz de evitar uma verdadeira proliferação de questões:

‘[...] o eclipsar-se não é causa de a Terra estar no meio, mas é isto que é causa do
eclipsar-se; pois na definição de ‘eclipsar-se’ está presente ‘estar a Terra no meio’;
por conseguinte, é evidente que é através deste que aquele vem a ser conhecido, ao
passo que este não vem a ser conhecido através daquele’ (98b 21ss. Tradução de
Lucas Angioni com pequenas modificações de minha responsabilidade).

O ponto que Aristóteles quer assegurar nessa passagem parece ser o de que entre os
dois eventos em consideração (o eclipse lunar e a interposição da Terra entre o Sol e a
Lua) há certa assimetria causal, que determina que um seja cientificamente conhecido
através do outro, mas não vice-versa. Para Aristóteles, o eclipse lunar é cientificamente
conhecido através da interposição da Terra entre o Sol e a Lua, ao passo que a interposição
da Terra entre o Sol e a Lua não é cientificamente conhecida através do eclipse lunar.
Para justificar essa assimetria, Aristóteles alega que a definição do eclipse lunar menciona
a interposição da Terra entre o Sol e a Lua, o que revela certa dependência (no mínimo
conceitual ou definicional) do eclipse lunar em relação à interposição da Terra entre o Sol
e a Lua. Ao alegar que a interposição da Terra é mencionada na definição do eclipse lunar,
Aristóteles parece supor que, de algum modo, a descoberta da causa define o efeito! É
como se, para Aristóteles, não soubéssemos o que o efeito é até que a causa venha a ser
conhecida.
Ora, se se tem razão em atribuir ao Aristóteles do Livro II dos Segundos Analíticos o
pressuposto de acordo com o qual sentenças predicativas podem ser vertidas em
expressões nominais e se também no caso do eclipse lunar isso acontece (de fato,
Aristóteles parece supor que a sentença predicativa ‘a Lua sofre eclipse’ pode ser vertida
na expressão nominal ‘eclipse (lunar)’), então, também é razoável esperar que a definição

e apreensão de interrelações dedutivo-explanatórias entre as proposições (e correspondentes fatos) de um


domínio científico. Para mais detalhes, ver Burnyeat (1981), que julga encontrar essa concepção de
conhecimento demonstrativo nos Analíticos de Aristóteles; ver também, mais recentemente, Bronstein
(2016, p. 39): ‘[…] the scientist’s learning <sc. by demonstration> does not consist in deducing a new
conclusion from known premises. Rather, it consists in discovering a previously unknown explanatory
connection among facts of which the scientist already has knowledge but not demonstrative scientific
knowledge’.

9
do efeito promovida pela descoberta da causa (isto é, a definição do eclipse lunar)
reverbere também na sentença explanandum que lhe é correspondente e que será
cientificamente demonstrada por um silogismo cujo termo médio expressa a causa do fato
ou estado de coisas relatado na conclusão. Em outras palavras, se a causa, na medida em
que aparece no definiens de ‘eclipse lunar’, afeta o sentido dessa expressão nominal
(precisamente porque faz parte do definiens), é de se esperar que também a sentença
explanandum que lhe corresponde, qual seja, ‘a Lua sofre eclipse’, sentença que consiste
na conclusão da demonstração científica do eclipse lunar, também seja de algum modo
afetada pela descoberta da causa. É essa, sem rodeio, a hipótese principal com a qual a
pesquisa aqui apresentada pretende trabalhar, a fim de checar se de fato os efeitos
definicionais que a descoberta da causa têm sobre, por exemplo, a noção de eclipse lunar
afetam também a sentença demonstrandum (‘a Lua sofre eclipse’), na demonstração
científica através da qual tal fenômeno astronômico vem a ser conhecido18.
Uma importante dificuldade que emerge desse cenário se revela assim que se leva em
conta que a exigência de mencionar a causa no definiens de algo não é uma exigência
incontroversa entre as condições que uma definição deve satisfazer, mas um traço
decisivo e peculiar da filosofia da ciência de Aristóteles, razão pela qual deve ser posta
em questão. Afinal, se se estipula como condição indispensável de toda definição
científica que o definiens deve mencionar a causa, se estipula ao mesmo tempo que a
causa, de algum modo, define o definiendum, na exata medida em que dela depende o
definiens procurado, e, assim, a necessidade de conhecer o efeito através da causa (por
exemplo, o eclipse lunar através da interposição da Terra entre o Sol e a Lua), marca
distintiva do conhecimento científico (epistêmê), estaria fundada, em último caso, nessa
estipulação que, se não for devidamente justificada, parecerá arbitrária.
Ainda não há clareza, entre os intérpretes, acerca das razões que levam Aristóteles a
fazer tal exigência. Por julgar, no entanto, que o tema é da mais alta importância, o
proponho, ao lado dos demais tópicos aludidos até aqui, como objeto de investigação
neste projeto de pesquisa.

18
Como complemento das razões alegadas até aqui e em favor da hipótese de que as demonstrações
científicas, de algum modo, afetam o demonstrandum, vale a pena lembrar de Metafísica H 4 (1044b 9-15),
texto em que Aristóteles descreve o definiens de eclipse lunar (‘privação de luz <na Lua>’), quando
desacompanhado da causa (‘interposição da Terra entre o Sol e a Lua’), como sendo adêlos, presumindo,
ao que parece, que o caráter adêlos se dissipa assim que o efeito (privação de luz na Lua) passa a ser
compreendido a partir da causa. Reformulando essa descrição nos termos de uma demonstração científica,
é de se suspeitar que o demonstrandum (‘a Lua sofre privação de luz’), antes da descoberta da causa, é, de
algum modo, adêlos e só deixa de sê-lo quando se encontra o termo médio causal que o explica.

10
3. Metodologia
Como é natural em pesquisas na área de Filosofia e, em especial, de Filosofia Antiga,
a metodologia da investigação envolve (i) a leitura das obras de Aristóteles (no original
em grego clássico e em traduções, preferencialmente, comentadas) em busca de textos
em que Aristóteles se pronuncie sobre o papel da causa (aitia) na aquisição de
conhecimento científico (epistêmê); (ii) leitura da bibliografia secundária sobre
causalidade, explicação e conhecimento científico na filosofia da ciência e epistemologia
de Aristóteles (com cautelosa comparação com discussões contemporâneas sobre os
temas); (iii) discussão dos resultados provisórios da pesquisa em eventos da área; (iv)
redação dos resultados alcançados, na forma de artigos ou capítulos de livros.

4. Referências bibliográficas
Ackrill, J. L. (1981) ‘Aristotle’s Theory of Definition: Some Questions on Posterior Analytics II
8-10’ in Berti 1981, 359-384.
Angioni, L. (2004) ‘Relações Causais entre Eventos na Ciência Aristotélica: uma discussão crítica
de Ciência e Dialética em Aristóteles, de Oswaldo Porchat. Analytica (UFRJ): vol. 8, nº 1: 13-25.
______. (2014) ‘Aristotle on Necessary Principles and on Explaining X Through the Essence of
X’, Studia Philosophica Estonica 7.2: 88-112.
Aydede, M. (1998) ‘Aristotle on Episteme and Nous: the Posterior Analytics’, Southern Journal
of Philosophy 36: 15-46.
Barnes, J. (1975) ‘Aristotle’s Theory of Demonstration’ in Barnes, Schofield, Sorabji 1975, 65-
87.
______. (1984) The Complete Works of Aristotle (2 vol.). Princeton: Princeton University Press.
______. (1993) Aristotle: Posterior Analytics. Translated with a commentary. Second edition.
Oxford: Clarendon Press.
______. (2007) Truth, Etc.: Six Lectures on Anceint Logic. Oxford: Clarendon Press.
______. (2014a) Proof, Knowledge, and Scepticism: Essays in Ancient Philosophy, Vol. 3 (ed. M.
Bonelli). Oxford: Oxford University Press.
______. (2014b) ‘Aristotle on Knowledge and Proof’ in Barnes 2014a, 73-94.
Bayer, G. (1995) ‘Definition through Demonstration: The Two Types of Syllogisms in Posterior
Analytics II.8’, Phronesis 40: 241-264.
Berti, E. (ed.) (1981) Aristotle on Science: The Posterior Analytics. Proceedings of the Eighth
Symposium Aristotelicum. Padua: Antenore.
Bolton, R. (1976) ‘Essentialism and Semantic Theory in Aristotle: Posterior Analytics, II, 7-10’,
Philosophical Review 85: 514-544.
______. (1987) ‘Definition and Scientific Method in Aristotle in Natural Science: Physics I’ in
Judson 1991a, 1-29.
______. (2012) ‘Science and Scientific Inquiry in Aristotle: a Platonic Provenance’ in Shields
2012, 46-60.
Brody, B. A. (1972) ‘Towards na Aristotelian Theory of Scientific Explanation’, Philosophy of
Science 39: 20-31.
Bronstein, D. (2015) ‘Essence, Necessity, and Demonstration in Aristotle’, Philosophy and
Phenomenological Research 90: 724-732.
Burnyeat, M. (1981) ‘Aristotle on Understanding Knowledge’ in Berti 1981, 97-139.
______. (2011) ‘‘Episteme’ in Morison and Ierodiakonou 2011, 3-29.
Charles, D. ‘Aristotle on Substance, Essence, and Biological Kinds’ in Gerson 1999, 227-255.
______. (2000) Aristotle on Meaning and Essence. Oxford: Clarendon Press.

11
______. (ed.) (2010) Definition in Greek Philosophy. Oxford: Oxford University Press.
Chiba, K. (2012) ‘Aristotle on Heuristic Inquiry and Demonstration of What It Is’ in Shields 2012,
171-201.
Code, A. (2010) ‘An Aristotelian Puzzle about Definition: Metaphyscs Z.12’ in Lennox and
Bolton 2010, 78-96.
Crivelli, P. (2004) Aristotle on Truth. Cambridge: Cambridge University Press.
DeMoss, D. and D. Devereux (1988) ‘Essence, Existence, and Nominal Definition in Aristotle’s
Posterior Analytics II 8-10’, Phronesis 33: 133-154.
Deslauriers, M. (2007) Aristotle on Definition. Leiden: Brill.
Ferejohn, M. (1991) The Origins of the Aristotelian Science. New Haven: Yale University Press.
______. (2013) Formal Causes: Definition, Explanation, and Primacy in Socratic and
Aristotelian Thought. Oxford: Oxford University Press.
Fine, G. (1992) ‘Inquiry in the Meno’ in The Cambridge Companion to Plato (ed. R. Kraut).
Cambridge: Cambridge University Press.
______. (2007) ‘Enquiry and Discovery: A Discussion of Dominic Scott, Plato’s Meno’, Oxford
Studies in Ancient Philosophy 32: 331-367.
______. (2010) ‘Aristotle on Knowledge’, Elenchos 14: 121-156.
______. (2014) ‘The Possibility of Inquiry: Meno’s Paradox from Socrates to Sextus. Oxford:
Oxford University Press.
Frede, D. (1974) ‘Comment on Hintikka’s Paper “On the Ingredients of an Aristotelian Science”’,
Synthese 28: 79-89.
Goldin, O. (1996) Explaining an Eclipse: Aristotle’s Posterior Analytics 2.1-10. University of
Michigan Press.
______. (2004) ‘Atoms, Complexes, and Demonstration: Posterior Analytics 96b15-25’, Studies
in History and Philosophy of Science 35: 707-727.
______. (2009) Philoponus(?): On Aristotle Posterior Analytics 2. London: Duckworth.
______. (2013) ‘Circular Justification and Explanation in Aristotle’, Phronesis 58: 195-214.
Gómez-Lobo, A. (1980) ‘The So-Called Question of Existence in Aristotle, An. Post. 2.1-2’,
Review of Metaphysics 34: 71-91.
______. (1981) ‘Definitions in Aristotle’s Posterior Analytics’ in Studies in Aristotle (ed. D. J.
O’Meara). Washington DC: Catholic University of America Press, 25-46.
Gotthelf, A. and J. Lennox (eds.) (1987) Philosophical Issues in Aristotle’s Biology. Cambridge:
Cambridge University Press.
Gotthelf. A. (2012) Teleology, First Principles, and Scientific Method in Aristotle’s Biology.
Oxford: Oxford University Press.
Granger, H. (1981) ‘The Differentia and the Per Se Accident in Aristotle’, Archiv für Geschichte
der Philosophie 63: 118-129.
Harari, O. (2004) Knowledge and Demonstration: Aristotle’s Posterior Analytics. Dordrecht:
Kluwer.
Hasper, P. S. and J. Yurdin (2014) ‘Between Perception and Scientific Knowledge: Aristotle’s
Account of Experience’, Oxford Studies in Ancient Philosophy 47: 120-150.
Heath, T. (1949) Mathematics in Aristotle. Oxford: Clarendon Press.
Hintikka, J. (1972) ‘On the Ingredients of an Aristotelian Science’, Noûs 6: 55-69.
______. (1974) ‘Reply to Dorothea Frede’, Synthese 28: 91-6.
Irwin, T. (1988) Aristotle’s First Principles. Oxford: Clarendon Press.
Kahn, C. (1981) ‘The Role of Nous in the Cognition of First Principles in Posterior Analytics II
19’ in Berti 1981, 385-414.
Koslicki, K. (2012) ‘Essence, Necessity, and Explanation’ in Contemporary Aristotelian
Metaphysics (ed. T. E. Tahko). Cambridge: Cambridge University Press, 187-206.
Kosman, L. A. (1973) ‘Understanding, Explanation, and Insight in Aristotle’s Posterior
Analytics’ in Exegesis and Argument (ed. E. N. Lee, A. P. D. Mourelatos, and R. M. Rorty).
Assen: Van Gorcum, 374-392.
Kvanvig, J. (2003), The Value of Knowledge and the Pursuit of Understanding, Cambridge:
Cambridge University Press.

12
LaBarge, S. (2004) ‘Aristotle on “Simultaneous Learning” in Posterior Analytics 1. 1 and Prior
Analytics 2. 21’, Oxford Studies in Ancient Philosophy 27: 177-215.
______. (2006) ‘Aristotle on Empeiria’, Ancient Philosophy 26: 23-44.
Landor, B. (1981) ‘Definitions and Hypotheses in Posterior Analytics 72a19-25 and 76b35-77a4’,
Phronesis 26: 308-318.
______. (1985) ‘Aristotle on Demonstrating Essence’, Apeiron 19: 116-132.
LeBlond, J. M. (1975) ‘Aristotle on Definition’ in Barnes, Schofield, and Sorabji 1975, 63-79.
Lennox, J. (1991) ‘Between Data and Demonstration: The Analytics and the Historia Animalium’
in Science and Philosophy in Classical Greece (ed. A. Bowen). New York: Garland Publishing,
261-295.
______. (1994) ‘Aristotelian Problems’, Ancient Philosophy 14: 53-77.
______. (2001a) Aristotle: On the Parts of Animals I-IV. Translated with a commentary. Oxford:
Clarendon Press.
______. (2001b) Aristotle’s Philosophy of Biology. Cambridge: Cambridge University Press.
______. (2004) ‘Getting a Science Going: Aristotle on Entry Level Kinds’ in Homo Sapiens und
Homo Faber (Festschrift Mittelstrass) (ed. G. Wolters). Berlin: Walter De Gruyter, 87-100.
______. (2011) ‘Aristotle on Norms of Inquiry’, HOPOS: The Journal of the International Society
for the History of Philosophy of Science 1: 23-46.
Lesher, J. (1973) ‘The Meaning of Nous in the Posterior Analytics’, Phronesis 18: 44-68.
______. (2001) ‘On Aristotelian Episteme as “Understanding”’, Ancient Philosophy 21: 45-55.
______. (ed.) (2010a) From Inquiry to Demonstrative Knowledge: New Essays on Aristotle’s
Posterior Analytics (special issue of Apeiron). Kelowna, B. C.: Academic Printing and
Publishing.
______. (2010b) ‘Just as in Battle: the Simile of the Rout in Posterior Analytics II 19’, Ancient
Philosophy 30: 95-105.
Leunissen, M. (2007) ‘The Structure of Teleological Explanation in Aristotle: Theory and
Practice’, Oxford Studies in Ancient Philosophy 33: 145-178.
______. (2010) Explanation and Teleology in Aristotle’s Science of Nature. Cambridge:
Cambridge University Press.
Malink, M. (2013) Aristotle’s Modal Syllogistic. Cambridge MA: Harvard University Press.
McCabe, M. (2009) ‘Escaping One’s Own Notice Knowing: Meno’s Paradox Again’,
Proceedings of the Aristotelian Society 109: 233-256.
McKirahan, R. (1983) ‘Aristotelian Epagoge in Prior Analytics 2.21 and Posterior Analytics 1.1’,
Journal of the History of Philosophy 21: 1-13.
______. (1992) Principles and Proofs: Aristotle’s Theory of Demonstrative Science. Princeton:
Princeton University Press.
Mendell, H. (1998) ‘Making Sense of Aristotelian Demonstration’, Oxford Studies in Ancient
Philosophy 16: 161-225.
Modrak, D. (1987) Aristotle: The Power of Perception. Chicago: The University of Chicago
Press.
______. (2001) Aristotle’s Theory of Language and Meaning. Cambridge: Cambridge University
Press.
______. (2010) ‘Nominal Definition in Aristotle’ in Charles 2010a, 252-285.
Morison, B. and K. Ierodiakonou (eds.) (2011) Episteme, Etc.: Essays in Honour of Jonathan
Barnes. Oxford: Oxford University Press.
______. (2012) ‘An Aristotelian Disctintion between Two Types of Knowledge’, Proceedings of
the Boston Area Colloquium in Ancient Philosophy 37: 29-63.
Perelmuter, Zeev (2010) ‘Nous and Two Kinds of Epistêmê in Aristotle’s Posterior Analytics’,
Phronesis 55: 228-254.
Ross, W. D. (1924) Aristotle’s Metaphysics: A revised text with introduction and commentary. 2
vols. Oxford: Clarendon Press.
______. (1949) Aristotle’s Prior and Posterior Analytics: A revised text with introduction and
commentary. Oxford: Clarendon Press.
Salmieri, G. (2010) ‘Aisthêsis, Empeiria, and the Advent of Universals in Posterior Analytics II
19’, in Lesher 2010a, 155-185.

13
Schiaparelli, A. (2011) ‘Epistemological Problems in Aristotle’s Concept of Definition: Topics
vi 4’, Ancient Philosophy 31: 127-143.
Schwab, W. (2015) ‘Explanation in the Epistemology of the Meno’, Oxford Studies in Ancient
Philosophy 48: 1-36.
Taylor, C. C. W. (1990) ‘Aristotle’s Epistemology’ in Epistemology (Companions to Ancient
Thought 1) (ed. S. Everson). Cambridge: Cambridge University Press, 116-142.
Tierney, R. (2001) ‘Aristotle’s Scientific Demonstrations as Expositions of Essence’, Oxford
Studies in Ancient Philosophy 20: 149-170.
Tiles, J. E. (1983) ‘Why the Triagle has Two Right Angles Kath’ Hauto’, Phronesis 28: 1-16.
Tuominen, M. (2010) ‘Back to Posterior Analytics II 19: Aristotle on the Knowledge of
Principles’, in Lesher 2010a, 115-144.
Upton, T. (1991) ‘The If-It-Is Question in Aristotle’, Ancient Philosophy 11: 315-330.
Wedin, V. (1973) ‘A Remark on Per Se Accidents and Properties’, Archiv für Geschichte der
Philosophie 55: 30-35.
Wheeler, Mark (1999) ‘Concept Acquisition in Posterior Analytics II.19’, Hermathena 167: 13-
34.
Wians, W. (1989) ‘Aristotle, Demonstration, and Teaching’, Ancient Philosophy 9: 245-253.
Zingano, M. (2004) ‘Dialética, Indução e Inteligência na Aquisição dos Primeiros Princípios’.
Analytica (UFRJ), Rio de Janeiro, vol. 8, nº 1: 89-142.

14

Você também pode gostar