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O Simbolismo de Terra e Mar

O Simbolismo de Terra e Mar1


Sensus Catholicus

Título original: On the Symbolism of 'Land and Sea'


Autor: Sensus Catholicus
Editoração: San
Revisão: San
Tradução: André Protoclito
Capa/Diagramção: San
Ano: 2023

1 Texto original disponível em: https://sensuscatholicus.jimdofree.com/2020/09/17/on-the-symbolism-of-land-and-


sea/

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Sensus Catholicus

O Simbolismo de “Terra e Mar”


“Se retiver as águas, tudo se secará; e se as
largar, alagarão a Terra” — Jó 12:15.

Em diversas situações, tivemos a oportunidade de explorar alguns


aspectos do simbolismo da água. No entanto, seria proveitoso aprofundar a
análise da relação entre o símbolo da água (ou do “mar") e o da “terra", uma vez
que essa dualidade fundamental pode oferecer insights valiosos sobre a estrutura
simbólica subjacente à realidade em si.
Primeiro, notemos que (de acordo com a cosmologia tradicional) a terra
vem da água como seu princípio, assim como o Ser emerge do Não-Ser, o atual
do virtual, a ordem do caos etc. Pois Deus disse: “As águas, que estão debaixo do
Céu, ajuntem-se n’um mesmo lugar, e o elemento árido apareça” (Gênesis 1:9).
A terra aparece, assim, como água “coagulada” (uma noção já presente no
Veda e em muitos outros textos antigos), ela é trazida das “águas” (como o Ser
é trazido do Nada, ou como a alma santificada emerge das águas da morte 2) e
está, assim, em constante perigos de se “dissolver” de volta ao Caos Primordial.
Mesmo no Paraíso, Adão tinha que “cuidar do jardim” (o símbolo arquetípico
da ordem estabelecida sobre o caos natural), significando que ele tinha que
conter as cheias, preservar a terra, estabelecer o espaço, etc.
De acordo com o simbolismo geométrico, a água (primordial) pode ser
conceitualizada como um círculo que se “cristaliza” em um quadrado (ou cubo)
de terra, uma cristalização também espelhada no eixo temporal, que começa
com o Paraíso “circular” e termina na Jerusalém Celeste “cúbica”,
representando a “atualização” de todas as virtualidades edênicas (cf. Guénon,
Reino da Quantidade 20–23). Poderia, desse modo, ser dito que a tarefa do
Primeiro Adão era nenhuma outra que “quadrar o círculo” do Paraíso, isto é,
atualizar o estado edênico, enquanto a Queda poderia ser vista como uma exata
inversão desta operação. Pois, em vez de cultivar o solo ( ʿăḏāmāh) virgem do
Paraíso Terrestre e elevá-lo à “terra abençoada” do Paraíso Celestial, Adão,
abrindo os portões do pecado, transformou-o em “terra maldita” (Gênesis 3:17),
2 Assim São Gregório vê na figura de Moisés (“Mōše” = “Aquele Tirado das Águas”) uma figura da alma que deixa “as
correntes turbulentas das paixões” (também chamada “a forma feminina da vida”) para entrar no “nascimento
masculino” de ascese e mortificação (cf. De Vita Moyses 2:1). Similarmente, Santo Agostinho lê a aparição da
“terra” das Águas Primordiais (Gênesis 1:9) como a alma santificada emergindo do Batismo, que então traz adiante
muitos bons frutos (cf. Confissões 13).

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O Simbolismo de Terra e Mar

hac Lacrimarum Valle. Em vez de uma “atualização” benéfica das


possibilidades (“Come de todos os frutos das árvores do Paraíso”, Gênesis 2:16),
em vez de tornar o Éden na Civitas Dei e estabelecer a “ordem” (retangular), ele
sucumbe ao desejo de conhecer o bem e o mal, e desenvolver possibilidades que
haviam sido proibidas a ele (“Mas não coma da árvore do conhecimento do bem
e do mal”, Gênesis 2:17), o que resulta em uma petrificação (ou “solidificação”)
maléfica da existência universal, uma “seca” perpétua que faz com que os
exilados filhos de Eva vaguem pelos desertos deste mundo em busca do doce
refresco das águas celestiais (dulce refrigerium).
O simbolismo de “quadrar o círculo” tem, de fato, muitas aplicações (uma
delas sendo a arquitetura tradicional, que estava bem ciente de sua significância)
que não podemos esperar desenvolver inteiramente aqui; basta dizer que o
círculo pode designar tanto as “águas superiores”, isto é, os “polos do Céu” (Jó
22:14) enquanto opostos aos “quatro ângulos da Terra” (Apocalipse 7:1), assim
como as “inferiores” (caóticas), de modo que a relação simbólica entre
“quadrado e círculo” sempre depende da perspectiva sob a qual é vista.
A dualidade de círculo e quadrado está similarmente relacionada com
aquela do compasso e da régua, os emblemas do “Grande Arquiteto do
Universo” que aparecem proeminentemente no simbolismo franco-maçom,
mas que remetem aos tempos mais primevos (“Aéi ò Theòs Geometreí”, como já
conhecia Platão). Como tal, a imagem de Deus criando com a ajuda destes dois
instrumentos é também comumente encontrada em muitas iluminuras
medievais, o compasso sendo aquilo com que Ele “encerrava os abismos
[horizontais]” (Provérbios 8:27) e a régua aquilo com que Ele desenha o eixo
vertical de estabilidade (Axis Mundi3) entre as duas “águas”, o “eixo” que
conecta as “rodas” (superior e inferior).
O círculo do Não-Ser (ou Indeterminação Infinita) é o Uróboro, ou
“Dragão do Caos” (Leviatã, Tiamat, Píton, etc.), a Serpente Infinda de Vi ṣṇu
(Ananta-Śeṣa) representando as “águas” (horizontais), o herói solar (M ərōda ḵ,
Apolo, Indra etc.) que “[…] virá […] sobre […] essa serpente […] e matará a baleia,
que está no mar” (Isaías 27:1) representa o Fiat Criativo, ou o Lógos, o “raio
(vertical) da manifestação” assim estabelecendo o Ser (a “Terra”) no “corpo” do
Não-Ser (todavia, como Kumāraswāmī nos recorda: “Matador e dragão,
sacrifício e vítima, são de uma só mente por detrás dos panos, onde não há
polaridade de contrários”; cf. Hinduísmo e Buddhismo 1:2).
3 Eixo do mundo. [N.R.]

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Mas, é claro, a água não denota meramente este aspecto “caótico” e


dissolvente, mas também um aspecto benéfico4, isto é, aquele das “águas vivas”,
as águas da “graça” e das “bênçãos”, e, assim, também é a missão de Adão (como
mediador entre “Céu e Terra”) “fazer chover” (significando as influências
celestiais), pois, como lemos em Gênesis (2:5), antes da criação do homem o
“Senhor Deus não tinha feito chover sobre a Terra”.
Este é o maná, ou Panis Angelicus, o “suprassubstancial” (“épioúsion”,
como o Pai Nosso diz) “pão, que desceu do Céu” (João 6:50), e aquela que
eventualmente invocará esta água viva é, é claro, Maria, a Virgem com “a Lua
debaixo de seus pés” (Apocalipse 12:1), isto é, a “porta” (Ianua Cæli) entre os
“Céus” e o “Mundo Sublunar” (esta posição intermediária e “mediadora” entre
o Céu e a Terra, ou ordem imanifestada e ordem manifestada, sendo também
um aspecto da Prima Materia) através da qual desce o “orvalho celestial”
(rorate Cæli desuper)5. Ela é a “taça” passiva (a Lua Crescente, Vas Spirituale,
Madonna Orante) e o perfeito receptáculo (gratia plena) que recebe as águas
vivas, e isto é também porque a Virgem Maria é, verdadeiramente, a Mediatriz
de Todas as Graças e “o canal, ou aqueduto, através do qual as águas celestiais
chegam a nós” (São Bernardo), um espelho sem mácula (Speculum Iustitiæ)
refletindo a luz de seu Filho (Solis Iustitiæ) para nós.6
Ela é o “Eterno Feminino” (das Ewig-Weibliche), simplesmente a
“Mulher” (João 2:4; 19:26), pois a mulher é a guardiã das águas, a mulher do
poço, — Rebeca, Raquel, Zípora, a Samaritana (cf. João 4) etc. — tanto as águas
superiores quanto inferiores: Eva-Ave.
A ideia de uma função regenerativa e cultivante de Adão (seu chamado a
“regar o Éden”) é especialmente pronunciado no mito teosófico. Através da
4 Todos os “símbolos verdadeiros” existem este caráter ambíguo de “benéfico” e “maléfico”, as “águas superiores e
inferiores” (que Orígenes interpreta como os anjos e demônios, respectivamente). Pois todas as coisas são símbolos e
todo símbolo tem duas faces, uma voltada para Deus e uma voltada para o Diabo.
5 Sobre o simbolismo da Lua, ou “esfera lunar”, como Ianua Cæli, cf. também Guénon, Homem e seu Devir 21. O
conceito de “orvalho lunar” da Materia Prima (que é colhido no mês mariano de maio) é similarmente corrente na
alquimia; podemos apontar para a lenda de Empédocles, que se diz ter sido carregado a Lua por uma erupção do
Monte Etna, onde ele subsiste a partir deste orvalho até hoje. De acordo com o Zōhar, o derramar deste orvalho
celestial (que está também ligado ao éter primordial) e sua “fertilização” da Terra (este “Campo de Ossos Secos”; cf.
Ezequiel 37) também efetuará a Ressurreição dos Mortos.
6 Em razão desta “transparência metafísica”, a Virgem com “a Lua debaixo de seus pés” (Apocalipse 12:1) está
também “vestida do Sol” (Apocalipse 12:1), isto é, trata-se de um perfeito receptáculo e espelho da Luz Divina. A
“mulher vestida do Sol, que tinha a Lua debaixo de seus pés” (Apocalipse 12:1) é também uma imagem da
coincidentia oppositorum, a reconciliação do princípio “solar” sulfúrico (ou ativo) com o princípio “lunar” mercurial
(passivo), isto é, a restauração da androginia primordial e a realização espiritual da “Pedra Filosofal”; é por isto que
Angelus Silesius nos diz que sua própria alma se tornou como a Virgem do Apocalipse (“ Was sinnest du so tief? das
Weib im Sonnenschein / Das auf dem Monden steht, muß deine Seele sein”).

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O Simbolismo de Terra e Mar

Queda de Lúcifer, a Criação (que estava, até então, em um estado


completamente espiritual e harmonioso) é atirada novamente ao Caos Primal (o
“Tōhū we-Bōhū” de que lemos no Gênesis) e “cai na turba” da Ira Divina. O
Mundo Material (como “determinação” ou “delimitação”) é então criado para
d’algum modo “parar” esta descida ou dissolução em caos indeterminado, de
que vemos que a maléfica “petrificação” da existência tem também um aspecto
benéfico, sendo tanto “maldição” (pois significa limitação e finitude) quanto
bênção (pois sacia o “fogo irado” aceso).7
Ao homem é dada a tarefa de restaurar a Criação e reatá-la a Deus, assim a
redimindo. Adão aparece aqui não apenas como mediador e rei da Criação, mas
também “reparador” (Saint-Martin), o “carcereiro” mesmo de Lúcifer, pois a
matéria coagulada age como uma cadeia que contém “os portões do Inferno”.
Este aspecto dual da materialidade grosseira também se alinha com o
simbolismo das “túnicas de pele” (Gênesis 3:21) com que Adão é vestido depois
da Queda, e que, de acordo com alguns dos Santos Padres, representam o corpo
(material) ou nossa “natureza decaída” em geral. Estas túnicas são também não
apenas uma maldição ou “punição”, mas também uma bênção, uma cobertura
protetiva que é muito necessária, pois a Terra agora tem “espinhos e abrolhos”
(Gênesis 3:18). Assim, sem as “túnicas” para vestir sua “nudez”, o homem não
poderia sobreviver neste Vale de Lágrimas (e assim também é com a “Marca de
Caim”, que tanto amaldiçoa o fratricida quanto o protege de ser morto). 8
Para o santo, este “corpo desta morte” (Romanos 7:24) deve de fato ser
uma prisão (sо̄ ma — sema), mas, para o pecador (e nós, exsules filii Hevæ, somos
todos nascidos pecadores), é uma suprema misericórdia, uma graça salvífica, em
verdade (sо̄ ma — sotér), pois a “corporificação” ou “solidificação” da terra
(matéria), indica pelas túnicas de pele, põe fim à dispersão centrífuga das águas
psíquicas, instigada pela “perda do centro” (intelecto).

7 “Por detrás desta natureza externa há sempre um abismo, mas ele é selado pela luz. É por isto que se diz que maus
espíritos são atados às trevas deste mundo, esperando seu julgamento. Aqui a necessidade de abençoar e exorcizar a
matéria se torna óbvia. Ao homem foi dado o terrível poder de invocar espíritos e desencadeá-los. O Diabo é como
um vilão louco que deseja se libertar de sua prisão para se lançar ao mundo. Mas, ainda, esta prisão (a matéria) é a
única coisa que sacia o fogo consumidor. Assim que a materialidade desaparece, o Inferno se revela para o ímpio
[assim como o Céu para o santo]. Não abusai da matéria então, homem, pois jaz nela tanto uma maldição quanto
uma bênção” (Baader, Privatvorlesungen über Böhme’s Lehre 18).
8 Não é isto também mais eminentemente verdadeiro acerca de nossa “mente decaída”, a ratio analítica (dualística)
(representando uma dispersão do raio intelectual sobre as águas psíquicas), que, com suas habilidades de solucionar
problemas ímpares, permitiu ao homem subjugar toda a Terra, mas que também é uma das primeiras “cascas” que
nos separa de Deus.

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“O corpo é o modo terminal do psíquico; ele para, ou melhor


estabiliza (relativamente) seu processo espontâneo de expansão […]. Na
mesma medida em que é um psiquismo ‘liberto’ da atração unificante do
homem interno, o corpo ‘salva’ a alma de uma dispersão no indefinido; ele
põe um fim (relativamente) a seu vagar potencial” (Borella, Amour et
Vérité 17:2:3).

É por isto que Baader diz que a palavra “terra” (em hebraico, “ ʾāreṣ”) está
etimologicamente relacionada com a palavra “arrêt” (“parar”, “restringir”),
pois é a “terra” que contém o “caos” aquoso (a turba que dorme no coração
mesmo da matéria em si, d’onde toda matéria requer “bênção”). O Mundo
Material é como um “cobertor” ou “cobertura” (Decke) que foi jogado sobre o
Fogo Divino, diz Böhme, e isto é porque não apenas a materialidade grosseira,
mas também o tempo (como a condição definidora deste Mundo Corpóreo), é a
“misericórdia da eternidade” (Blake), pois apenas através desta “contenção”
temporária da Presença Divina temos a chance de nos “retificar”, de transmutar
o “chumbo” caído no ouro alquímico que pode suportar o crisol do Amor
Divino. Pois, uma vez que o “cobertor” deste mundo se “recolheu como um
livro, que se enrola” (Apocalipse 6:14), nós todos somos testados no fogo (“Mas
Ele sabe o meu caminho, e Ele me prova como ouro, que passa pelo fogo”, Jó
23:10).
Todavia, para cada um de nós este encontro com as chamas do
julgamento já começará depois da morte, quando as “vestes” protetivas que nos
pesam neste mundo estiverem finalmente rasgadas. E aqui finalmente vemos
que mesmo a morte, a maldição primeira da transgressão adâmica (“morrerás de
morte”, cf. Gênesis 2:17) é, em última análise, uma bênção, pois nos salva da
indefinidade (“O Diabo não tem morte nele”, diz Böhme, “e é por isto que ele
não pode morrer para o mal”, significando que, porque as hierarquias caídas são
imortais, elas também estão barradas da Salvação).
De acordo com a mais alta perspectiva, todavia, “água” e “terra” podem
ser vistas como a manifestação inferior da biunidade da Divindade mesma
(como o “Infinito” e o “Absoluto”)9, significando Sua Toda-Possibilidade (Seu
9 “O Infinito é, por assim dizer, a dimensão intrínseca do Absoluto; dizer ‘Absoluto’ é dizer ‘Infinito’, um sendo
inconcebível sem o outro. A distinção entre o Absoluto e o Infinito expressa os dois aspectos fundamentais do Real,
aquele da essencialidade e aquele da potencialidade; esta é a mais alta prefiguração principal dos polos masculino e
feminino. A radiação universal, e, portanto, māyā, tanto divina quanto cósmica, surge deste segundo aspecto, o
Infinito, que coincide com a Toda-Possibilidade” (Schuon, Survey of Metaphysics 1).

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O Simbolismo de Terra e Mar

lado “passivo”, “feminino”, isto é, a água) e Seu ato irrestrito de “Ser” (Deus
sob Seu aspecto “ativo”, “masculino”, isto é, a terra), Sua receptividade
maternal e Seu raio de manifestação paternal, Essência e Ser (similarmente a
seus dois atributos primários de “misericórdia” e “severidade”) que, em Deus,
são absolutamente unos.10

“Todas as tradições falam, em última análise, de Deus como uma


identidade inconumerável e perfeita, mas também desta Suprema
Identidade como uma identidade entre dois princípios contrastados,
distinguíveis em todas as coisas compostas, mas coincidentes sem
composição no Uno que não é coisa alguma. A identidade é entre essência
e natureza, Ser e Não-Ser, Deus e Divindade — como entre masculino e
feminino. Natura Naturans, Creatrix Universalis est Deus […]. Os
princípios conjuntos in divinis são aqueles de uma essência estática
(bhūtatā) e poder dinâmico (śakti) […] Quando estes estão de fato
divididos, estático e dinâmico se tornam ativo e passivo” (Ānanda
Kumāraswāmī, Biunidade Divina).

Esta biunidade entre o aspecto dinâmico e o estático (“Sua virtude


sempiterna, e a Sua divindade”, cf. Romanos 1:20) é também espelhada em
nível cosmológico como os dois polos de existência, ou a “espiral dupla” da
força cósmica, Yin e Yang, ativo e passivo, centrífugo e centrípeto, “o ritmo
alternante da evolução e da involução, nascimento e morte, — em resumo: a
manifestação em seu aspecto dual” (cf. Guénon, A Grande Tríade 5).
No nível da cosmologia, a água representa também o eixo horizontal, o
fluxo do tempo (o “destruidor de mundos”, como o Gītā diz) e sua influência
dissolvente11, enquanto a terra representa o eixo vertical do “espaço”, o polo
imóvel “at the still point of the turning world” (T. S. Eliot), a serpente se
10 É claro, em geral, as transposições mais precisas deste simbolismo elemental à Divindade seria dizer que é o “fogo”
que representa o “Raio Divino”, enquanto a “terra” (também: o “mundo”, o cosmos) poderia ser dita como a
“prole” (manifestação) de “água” e “fogo”. Todavia, a terra “cúbica” (como o cubo do Ser sendo erigido do círculo
do Não-Ser) pode também simbolizar a Estabilidade / Imutabilidade Divina (d’onde o cubo é também a “Casa de
Deus”: a Kaʿbah, a Jerusalém Celeste etc.) ou o aspecto “estático” da Essência, d’onde a aplicação presente deste
simbolismo ainda parece justificada.
11 Novamente, o simbolismo do “tempo” exibe um aspecto dual, tanto (maléfico) como “tempo destruidor” quanto
(benéfico) como agente de transformação. Isto é perfeitamente exemplificado na deusa hindu Kali, que é tanto deusa
da morte e da destruição (kala: “tempo”) quanto da transformação (espiritual), a “noite escura” (kali: “preto”), que
“transforma a amada em seu amante” (São João da Cruz), isto é, a “morte iniciatória” que precede toda
Ressurreição.

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Sensus Catholicus

enrolando na Árvore do Mundo, ou a “montanha” axial envolta pelo “mar”


como sua periferia (similarmente, no Taoismo, a imagem da água descendo por
uma montanha pode ser contemplada como um símbolo da biunidade entre Yin
e Yang).
Esta dualidade corresponde também aos dois aspectos da “cobra”, como
“horizontalmente” se esgueirando através do pó (na forma de uma “onda”) e a
“Serpente de Bronze”, isto é, “coagulada” (ou “retificada”) no eixo da
estabilidade: o tempo transformado em espaço, a ordem estabelecida a partir do
caos (d’onde lemos na Escritura que a Serpente de Bronze é usada para assustar
as “serpentes horizontais”; novamente é a “terra” que contém as “águas”; cf.
Números 21).12 Mais, Moisés, que era “amado por Deus”, tem o poder de
transmutar seu cajado (vertical) em uma cobra (horizontal) e vice-versa a bel-
prazer, significando seu domínio sobre todas as condições da manifestação (ele
“anda sobre as águas”).
No simbolismo numérico, o “espaço” poderia ser designado pelo 1 (o
“ponto central”, ou “eixo”) e o “tempo”, ou “água”, pelo 4 (a “periferia”, ou
“expansão”), como é também denotado pela gematria da palavra “água” (māyim:
40-10-40), que também é espelhado no nome da Santíssima Virgem Mariam
(que São Jerônimo traduz como “Stilla Maris”, a “Gota do Mar”). De fato,
poderíamos dizer que a letra hebraica “Mēm” (cujo valor gemátrico é 40)
representa uma verdadeira Urworti, um dos primeiros ideogramas sendo
simplesmente uma linha ondulada (assim como era o hieróglifo para a palavra
egípcia para “água”, “moú”), que se mantém na nossa letra “M” latina.
A letra correspondente ao valor “400” é “Tav” (que é também a cruz), a
última letra do alfabeto hebraico, assim simbolizando o “limite último” da
manifestação, a periferia mais exterior; uma ideia similarmente presente na
numerologia dos pitagóricos, para quem a Tétrade marcava o número supremo
(1 + 2 + 3 + 4 = 10).13 O número 4 (na base da Tetraktýs) é o número da
12 É claro, a “Serpente de Bronze” é também um símbolo para o Cristo (cf. João 3:14–15), a cruz sendo o “eixo
central” par excellence, a nova Árvore da Vida (que está plantada sobre a “montanha” paradisíaca). Ele é a “serpente
que é elevada acima”, derrotando a “serpente que more o calcanhar abaixo” (cf. Gênesis 3:15): “por nós Ele se tornou
uma serpente, para que pudesse devorar e consumir as serpentes dos egípcios” (São Gregório de Nissa).
13 A razão 4:3:2:1 também foi tradicionalmente usada para medir as quatro “eras”, ou “yugas”, de um ciclo temporal
(cf. também a estátua de ouro, prata, e latão descrita em Daniel 2), mostrando que, com maior progressão, a “Roda
do Tempo” (Kālacakra) começa a girar cada vez mais rapidamente conforme o tempo começa a devorar o espaço em
ritmo cada vez mais rápido. Isto também é claramente mostrado na Escritura Sagrada, por exemplo nas sempre
decrescentes idades dos patriarcas, dos novecentos anos de Adão aos cento e vinte anos (simbolicamente, 60 + 60) de
longevidade do homem pós-diluviano (Gênesis 6:3). Alguns autores também ligaram as quatro eras a eras bíblicas de
1) Adão a Noé, 2) Noé a Abraão, 3) Abraão a Moisés, e 4) Moisés a Cristo (que o Messias apareça no “quarto

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O Simbolismo de Terra e Mar

manifestação, o Kósmos Aisthetos com seus “quatro cantos”, “quatro ventos”,


“quatro anjos” etc. (Apocalipse 7:1), as quatro direções cardeais traçando a cruz
primordial do cosmos como os quatro “rios” (4) correndo a partir da única
“fonte” central (1) no Gênesis, ou os quatro elementos emergindo da quinta
essentia (assim, não é coincidência que a “Boa Nova” da Revelação do
Cristianismo se estenda por toda a Terra por Quatro Evangelhos e que a Santa
Tradição nos tenha providenciado quatro “sentidos da Escritura” para explicar
estes Textos Sagrados).
A dissolução (ou “inundação”) da “Terra” (isto é, o tempo devorando o
espaço, a ordem degenerando em caos etc.) corresponde, assim, a uma
verdadeira “perda do centro” (uma perda do 1) que resulta em um vagar
indeterminado pela periferia (quarenta dias de Dilúvio, quarenta anos no
deserto, quatrocentos anos no Egito, quarenta dias de Quaresma etc.) 14 — “Tu
andarás de rastos sobre o teu peito” (Gênesis 3:14), diz Deus à serpente que se
enrolava na Árvore Axial depois da Queda (a arquetípica “perda do centro”
como tal), designando a morte da verticalidade e uma “inundação” da dimensão
horizontal (e, assim, uma divisão de Céu e Terra traçada pela barreira
horizontal).
Assim, o 4 precisa sempre ser “religado” ao 1, e este “religar” (religio) —
que, em um nível superior, é também aquele da manifestação (4) ao seu
Princípio (1), māyā e Ātmā — é a missão de Adão (assim, ʾĀḏām: 1-4-40). O
homem é a criatura central e vertical, o vice-regente (khalifaḥ) e “tenente” de
Deus; ele, assim, representa o 1 no plano terrestre, já que a “terra” (4) é a
totalidade da expansão horizontal.
Esta religio já está prefigurada nos sacrifícios da Velha Aliança, em que o
sacerdote “amarra” (ou “concentra”) as quatro pernas do animal sacrificial em
uma (1) antes de oferecê-lo ao Senhor (o “pilar de fumaça” ascendendo a Deus
traçando o Axis Mundi). Nisto também vemos a profunda significância
simbólica do fato de que a maioria dos animais terrestre é quadrúpede, enquanto
a postura vertical do homem é (de acordo com São Boaventura) “um símbolo
do destino final da humanidade: união amorosa com Deus”, ainda mais
evidenciando que a queda de Adão do centro (1) e seu exílio para a periferia (4) é
também uma queda à natureza animal.
milênio” também foi previsto por uma profecia de Elias registrada no Talmūḏ).
14 Ademais, o período temporal da concepção ao nascimento costuma levar em torno de quarenta semanas, indicando
que a descida às águas (que é também o “útero”, o “ventre da fera”, ou o “Submundo” etc.) é sempre seguida por um
(re-)nascimento.

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Sensus Catholicus

De acordo com uma tradição, o nome “ʾĀḏām” significa as quatro


direções cardeais: Anatolè (Leste), Dusis (Oeste), Arktos (Norte), e Mésèmbria
(Sul), que também foram relacionadas com os quatro elementos pelos antigos.
Adão, assim, é chamado a unificar os quatro “rios” da extensão horizontal e atá-
las de volta a sua fonte central que surge de sob a Árvore da Vida, uma tarefa
que, é claro, é realizada supremamente apenas pelo Novo Adão, que faz as águas
da vida mais uma vez correrem da Árvore da Cruz.
Em vez de um “ligar”, o Primeiro Adão efetuou um “afrouxar”, e como
tal Santo Agostinho interpreta o “[ajuntar] os Seus escolhidos des’dos quatro
ventos, do mais remontado dos céus até às extremidades deles” (Mateus 24:31)
também como uma reunificação do nome de Adão, cujas “letras” foram
dispersadas pela Queda (Expositio Sancti Evangelii secundum Iohannem 9:13).
Removido do 1 (ʾĀlef), ʾĀḏām se torna “ḏām” (4-40), significando
“sangue”, assim como “verdade”, “ʾĕmeṯ” (1-4-40-400), torna-se “meṯ” (4-
40-400), “morte”, como conhecemos da famosa história do golem (que
também é “tirado da terra” e, ao ser separado de seu princípio, o Uno, “retorna
ao pó”, — “o salário do pecado é a morte”).
O número 5 (ou melhor, 4 + 1) é, assim, o sinal do homem par excellence
(4 + 1 extremidades, sentidos, dedos15 etc.), que sob seu aspecto benéfico designa
o homem em sua função como “mediador” (ou o “retificador”, “restaurador”
etc., o Sumo Sacerdote da Criação) e sob seu aspecto maléfico também pode
simbolizar o exercício “fáustico” da vontade humana sobre a natureza, que
constitui um abuso da sua vocação pastoral (como mostrado no pentagrama
como um símbolo de “magia”, o poder de “amarrar espíritos” etc., que está
similarmente ligado ao significado simbólico da ciência moderna e da
tecnologia).16
15 Já foi notado que os dedos em cada uma das mãos são feitos de quatorze (1 + 4) juntas no total — “rodas dentro de
rodas”. Todavia este padrão não está, de maneira alguma, limitado apenas ao homem, pois o microcosmo reflete o
macrocosmo e vice-versa (e, assim como respiramos uma vez a cada quatro batidas de coração, também o ar que
respiramos é feito de uma parte de oxigênio e quatro partes de nitrogênio); todas as coisas que aparecem no lado
lunar do Saṃsāra são definidas por 1-4, pois todas as coisas contêm tanto Yin quanto Yang, forma e substância,
“terra” e “água” (há mesmo “māyā em Ātmā”, como dizem). Todas as coisas, do menor dos átomos à mais vasta
galáxia, são estruturalmente feitas de centro e periferia, um lado interno (masculino) e um lado eterno (feminino), e
( já que o interior não pode existir sem o exterior) disto nós taAsmbém vemos como o 1 e o 4, masculino e feminino,
vertical e horizontal, precisam um do outro: uma mão com apenas um polegar é um tanto inútil, e, se Jacó não
tivesse quatro esposas, ele não teria sido o pai de uma grande nação. O objetivo da Criação não é o Uno em
isolamento, mas, em vez, a união do 1 e do 4, isto é, o 5.
16 O pentagrama benéfico par excellence sendo, é claro, revelado nas Cinco Sagradas Chagas de Cristo, que
transformam a maldição em bênção ao crucificar o “Homem Velho” (o 5 maléfico) e vestir nossa nudez com o
“Novo Adão” (o 5 benéfico), de cujo “centro” (coração) fluem mais uma vez as correntes de água viva, vidi aquam.

11
O Simbolismo de Terra e Mar

O homem tem que conter o Dilúvio, ele tem que “estabelecer o espaço”.
Todavia, há não apenas o perigo do tempo devorar o espaço, mas também o da
“terra secar o mar”, isto é, um excesso de “ordem”. É a “cidade” (a primeira das
quais foi estabelecida por nenhum outro que Caim, que matou seu irmão Abel,
o pastor), Sodoma, Gomorra, Babilônia, a “Grande Prostituta” e “Mãe de
Todos os Pecados”.
A cidade é o símbolo último da vaidade humana (“Look on my works, ye
Mighty, and despair!”) e sua ilusão de asseidade (d’onde o ego é também uma
cidade cujos muros foram derrubados). Em algumas tradições, mesmo o
Inferno (como uma “inversão” do Jardim Éden) é concebido como uma cidade
(a Dis de Dante, ou o Pandemonium de Milton), a “reversão” desta cidade
infernal sendo a Jerusalém Celeste, Civitas Dei (como a “realização” final de
todas as possibilidades edênicas e a restauração da perfeição terrestre), em que
“não [há] templo. Porque o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro é o seu
templo” (Apocalipse 21:22), significando que é privada de todas as “cascas” 17 (em
hebraico, “qəlīppōṯ”), ou “coberturas”, suplementares, de toda Ersatz (d’onde a
“Cidade do Homem” é feita de pedra, mas a Nova Jerusalém é coberta de
“joias”, isto é, perfeitamente transparente à Luz Divina). Vemos, assim, que a
cidade (a Civitas Humana cainita) é a “veste de pele” (ou a “casca”) par
excellence, protetiva em um aspecto, mas também instrumental em satisfazer o
desejo cainita de “se murar” de Deus.
O extremo oposto da “cidade” (como ordem excessiva) é o “caçador”
(Nimrod e Esaú, que “Deus odiava”), que circula a periferia (4) eternamente,
perseguindo “animais” (isto é, bens mundanos) — “[…] andarei vagabundo e
fugitivo na Terra”, disse o amaldiçoado Caim (Gênesis 4:14).
O “meio dourado” entre os dois pode ser dito como representado pelo
(bom) pastor, que vive em “tendas” (tabernaculum) não feitas de pedra, que guia
suas ovelhas (controla a natureza animal), e “constrói altares”, isto é, estabelece
o “espaço”, ou dispõe “pedras” axiais como a pedra em Betel (marcando o Axis
Mundi da Escada de Jacó). Pois todo cultus requer algum enraizamento ou
conexão à terra, um “aqui” (hic) que o define “existencialmente” e que marca o
ponto concreto em que o vertical o horizontal se intersectam (“Terribilis est
locus iste non est hic aliud nisi Domus Dei”, Gênesis 28:17).
17 Estas “cascas” em que o homem se envolve depois da Queda (começando no Paraíso e continuando com a descida
dos cainitas; cf. Gênesis 4:17–22) poderia ser dita como representando a inversão do “Véu” Divino: o último revela
o Esplendor Divino, o primeiro nega e escurece; é a venda que o homem caído coloca para evitar enfrentar a Lei (ou
Nómos) Divina.

12
Sensus Catholicus

Poderíamos dizer que a cidade prometeica representa um excesso de ratio


e o “caçador” um excesso dos sentidos, enquanto o pastor (que não constrói sua
casa “neste mundo”) é o “peregrino” guiado pelo “pilar de fumaça e fogo” (ao
contrário do “vagante incansável”, Esaú, que persegue as coisas deste mundo, e
o “agricultor”, Caim, que se ata à terra) e que segue o Espírito onde quer que
sopre (“ele se move desapegado, como o vento”, Ātma-Bodha 53)18. Como a
Sagrada Escritura (Gênesis 25:27) nos diz, Esaú “saiu perfeito caçador”,
enquanto Jacó “habitava em tendas”, isto é, no centro (espiritual), ambos
irmãos representando o “Homem Exterior” e o “Homem Interior”
respectivamente.
Há, assim, uma necessidade de um equilíbrio entre a tendência
“dissolvente” e a “coagulante”, a masculina e a feminina, e a centrípeta (d’onde
Baader diz que o “feminino” tem que “envolver” o masculino como sua
periferia).19
Para prevenir esta ordem ou “coagulação do espírito” (“geronnener Geist”,
para emprestar uma expressão de Max Weber), há nas culturas tradicionais
certos “mecanismos de dilúvio”, como o Yōḇēl do Judaísmo (o “chifre do
Yōḇēl” ou šōp̄ ār tendo também uma “forma ondulada” ou “serpentina”) que
ocorre a cada 7 x 7 anos 20 (por conseguinte no começo de cada novo ciclo) e no
qual (similarmente à Saturnalia dos romanos) a ordem social é conscientemente
subvertida (“água” sendo permitida nela) por um tempo limitado antes de ser
restaurada (ou “retificada”) de volta à ordem (imitando uma “Nova Criação”,
isto é, “terra” tirada das “águas” como in principio).

“Contarás também sete semanas d’anos, isto é, sete vezes sete, que
fazem, ao todo, quarenta e nove anos; e ao sétimo mês, em o dia décimo
do mês, no tempo da expiação tocarás a buzina em toda a vossa terra; e
santificarás o ano quinquagésimo, e anunciarás remissão a todos os
18 Guénon diz que a progressiva “solidificação” da existência junto com os ciclos temporais se manifesta como um
movimento para longe da vida nomádica (Abel) rumo à sedentária (Caim), todavia tenhamos hoje completado o
ciclo, chegando a uma inversão da vida nomádica que carrega todo o pior aspecto da civilização cainita. Esta é a era
do Globalismo desarraigado em que o homem se torna “quantificado” ao puro “capital humano” e desligado de
todas as noções de espaço (não à toa isto ser acompanhado pela “Revolução Digital”, isto é, o movimento ao virtual,
o “reino sub-corpóreo” par excellence).
19 Isto também se apresenta a nós de maneira bastante bela em muitas Madonnas renascentistas, onde vemos Maria se
voltando (centripetamente) para o centro (isto é, a Deus Menino) e o Cristo se voltando para fora (centrifugamente)
rumo à periferia em moção de agarrar.
20 Este padrão também é encontrado numerosas vezes no calendário litúrgico, por exemplo nos quarenta e nove (7 x 7)
dias separando a Páscoa do Pentecostes (o “Quinquagésimo Dia”).

13
O Simbolismo de Terra e Mar

habitantes da tua terra; porque este é o ano do Jubileu. Voltará o homem à


sua possessão, e cada um tornará para a sua própria família” (Levítico
25:8–10).

O “pilar” erige a ordem e o “chifre” a chama abaixo 21 (cf. as trombetas


angelicais anunciando o Apocalipse, a destruição e a recriação do mundo; o
“som da trombeta” sendo também o som primordial pelo qual a manifestação é
tanto atualizada, e, eventualmente, reabsorvida). Josué circula os muros da
cidade de Jericó e, tocando a trombeta, “dissolve-as” (também prefigurando a
“dissolução” da manifestação no “fim do ciclo”, que é chamada “Grande
Yōḇēl”22 pelos məqūbbālīm).
Para ir do Egito (“Kemet”, significando literalmente a “Terra Negra”, isto
é, a “terra” em seu aspecto maléfico, o “chumbo” saturnino ou o “Submundo”,
d’onde também o nome hebraico para o Egito, “Miṣrayim”, está também
profundamente conectado a “māyim”, “água”) à Terra Santa (a “terra
abençoada”) é preciso passar pelo “mar”; ao fazer uma jornada para o Céu,
Dante passa pelo nadir mesmo do Inferno. Similarmente, na “Grande Obra”
alquímica o solve precede o coagula, pois primeiro a “matéria caótica” (ou “terra
maléfica”) tem que ser transformada nas águas mercuriais antes de poder se
tornar “ouro alquímico”, as “gemas” brilhantes que adornam a “Nova Terra”
da Jerusalém Celeste (a “Pedra Filosofal” sendo também a conjunção de duas
qualidade arquetípicas, súlfur e mercúrio, Yin e Yang: as duas “cobras” se
enrolando em volta do caduceu hermético).
Na Idade Média encontramos este “mecanismo” não apenas no Carnaval
(que tradicionalmente tinha lugar à época do Solstício de Primavera, também
marcando um “novo ciclo”) que era então seguido por períodos de penitência
como a Quaresma (em que as “influência maléficas” soltas são “exorcizadas”
novamente), mas também as gárgulas fora (isto é, na periferia) das catedrais,
assim como os monstros e o “caos” geral às margens das iluminuras podem ser
21 A dualidade de linha “reta” e “ondulada” corresponde também ao caminho “reto” e ao “torto” da literatura de
sabedoria bíblica, assim como à noção do “homem reto” ( ṣaddīq) — “Eu irei diante de ti; e humilharei os
jactanciosos da Terra; arrombarei as portas de bronze, e quebrarei as trancas de ferro” (Isaías 45:2).
22 O termo “Grande Yōḇēl” ou “Grande Jubileu” (o quinquagésimo ano) é também usado para se referir ao estado final
de Realização Espiritual, já que marca uma “libertação” de todas as condições da manifestação (4). E, de maneira
similar, dizem os rabinos que o Céu e a Terra estão a uma distância de quinhentos anos, ou que a Árvore da Vida
mede quinhentos cúbitos. O 5 é o que transcende a manifestação (4), o que jaz além do espaço e do tempo. Em
Gênesis (14:9), lemos que Abrão sobrepujou os reis hostis em uma batalha de “cinco contra quarto”, que prefigura a
vitória do Cristo que sobrepujou o mundo e a cruz (Taw: 400) e restaurou a Árvore da Vida (500). E assim também
poderíamos dizer que a missão unitiva de Adão (como atar o 1 de volta ao 4) poderia ser descrita como “a obra do 5”.

14
Sensus Catholicus

entendidos desta maneira, como um “dilúvio controlado” (o “caos” se dá uma


vez que estas influências avançam ao “centro”, que é o que podemos ver
acontecendo hoje em muitas manifestações). As águas exteriores têm sempre
que ser “integradas”, ou a “terra” não dará nenhum fruto, a “pedra de tropeço”
deve ser incluída no fundamento do “espaço”, o caos na ordem etc. (que é
também por que o Templo não é construído de “pedras lavradas”; cf. Êxodo
20:25). Como a Lei de Moisés diz:

“Quando vós, porém, segardes a seara do vosso campo, não a


cortareis rente do chão, nem enfeixareis as espigas que ficarem; mas deixá-
las-eis para os pobres, e para os forasteiros. Eu sou o Senhor vosso Deus”
(Levítico 23:22).

O desejo de suprimir completamente o mal (secar as águas caóticas) e


erradicá-lo (assim ceifando completamente toda a colheita) é o Pecado Original
de todo racionalismo (que pode ser descrito como um excesso de “terra” ou da
“tintura masculina”)23 e leva às quimeras de todos os tipos de ideologias
“iluminadas” (prometeicas) que querem estabelecer o Paraíso na Terra, que,
cedo ou tarde, precisam, por necessidade, sempre invocar um “dilúvio” do alto
(a revolução seguida pelo “reinado do terror”). Similarmente, o desejo de
dissolver toda “ordem” espacial (como a que encontramos na contracultura da
década de 1960 e desconstrutivismo moderno) leva à desintegração ao caos
primordial.
Em verdade, podemos dizer que toda a cultura moderna, com o abandono
dos modos tradicionais de vida (ou com a “perda do intelecto” em geral, que
caracteriza toda a Modernidade) está em constante desbalanço entre as duas
tendências; assim, o “caos” de Weimar é seguido pelo excesso de “ordem” do
Nazismo, que é então seguido pelo “caos” da década de 1960. Similarmente, na
arquitetura vemos uma constante alternância entre excesso de “espaço”

23 A psicologia nos fala de duas esferas do cérebro, o “cérebro direito”, sendo a faculdade lógica analítica (masculina), e
o “cérebro esquerdo”, sendo a esfera criativa e passional (feminina) (esta dualidade também é espelhada na Árvore
Səp̄ īróṯica da Qabbālā, o “cérebro esquerdo” de ʾĀḏām hā-Qaḏmōn sendo Ḥoḵmah, o “influxo” criativo, enquanto o
“cérebro direito” é Ḇīnāh, isto é, o “Discernimento”, que é também o princípio de separação de dualidade). Aqui
também o equilíbrio é necessário, a dominância do “direito” (como racionalismo luminista) se degenera a
coagulações mecanísticas (os demônios são ditos como preferindo máquinas sobre natureza, afinal, d’onde o Satanás
de Milton aparece como o primeiro engenheiro), enquanto o “dilúvio” do esquerdo não raramente se manifesta
como um psiquismo “instável” (o “reino de Dionísio”), de modo que ambas estas tendências (simbolizando também
psychē e ratio) têm que ser “retificadas” pelo “eixo do espírito”, ou intelecto.

15
O Simbolismo de Terra e Mar

(Classicismo, e, especialmente, o Brutalismo, Bauhaus etc., que opera quase


exclusivamente com “cubos”24 — símbolos arquétipos da “terra” — e se desfaz
de todo “ornamento”, isto é, formas “onduladas” ou “serpentinas”) e uma
descida às “águas” (Barroco, Rococó etc., com sua excessiva ornamentação e
sensualismo “feminino”).25 Estas correspondências podem ser, similarmente,
mostradas na filosofia (o racionalismo “masculino” em contraste com o
romanticismo “feminino” etc.) e em todos os tipos de outras áreas; já que essas
duas “tinturas” ou “atributos” estão manifestadas em literalmente (pois “todas
as coisas são duplas”, omnia duplicia, como o Eclesiaste diz), poderíamos, de
fato, expandir este simbolismo indefinidamente, no entanto simplesmente
gostaríamos de concluir apontando outro aspecto desta “integração da
periferia”, que nos aponta para mais um simbolismo numérico relacionado,
aquele do 6 e do 7.
De acordo com os antigos, o 6 é o primeiro número “perfeito” ou
“harmônico” (6 = 1 + 2 + 3, 1 x 2 x 3), é o número da “completude”, e pode ser
geometricamente ilustrado pelo “círculo fechado” (dividido em seis secções
iguais). No entanto, esta “perfeição” pode frequentemente se manifestar sob
um aspecto maléfico, como o “circular em torno de si mesmo”, um “fechar a si
mesmo” à influência da Graça Divina etc., d’onde 666 é também a “Marca da
Besta” (cf. Apocalipse 13:18).
6 é, ademais, o número do mediador (sendo pertinente ao macrocosmo
em oposição ao 5 microcósmico), o “Selo de Salomão” (a conjunção de dois
triângulos inversos). Assim, enquanto o Anticristo representa o 6 em seu
aspecto maléfico, o Cristo é o 6 benéfico conectando os dois “triângulos” do
“Céu e da Terra” (o 6 como um símbolo do Cristo também é encontrado em
muitos autores eclesiásticos; precisamos apenas nos lembrar da visão de São
Francisco, que contemplou o Cristo como um serafim de seis asas).
Em hebraico, a letra com o valor gemátrico de 6 é Waw, que pode
significar literalmente um “gancho”, isto é, aquilo que “engancha” (ou ata) o
24 Similarmente, não é coincidência que a Revolução Francesa nos tenha dado os primeiros planos de uma arquitetura
esférica (cf. Cimetière de Chaux, de Ledoux). O edifício esférico representa não apenas o supremo déracinement ou
“desenraizamento”, isto é, uma perda de terra / solo (“utopia”, literalmente: “nenhum lugar”), mas também
significa a “imanentização do éskhaton” que é tão típica de todas as ideologias revolucionárias, dos jacobinos aos
(neo)marxistas os nossos dias (a esfera sendo, tradicionalmente, um corpo “celeste”, denotando eternidade e
perfeição).
25 Em um certo sentido, tudo que está “disjuntado” no Mundo Moderno pode ser retraçado a esta perda de equilíbrio;
pois, uma vez que o centro é perdido, a dualidade complementar (que é por ele integrada em uma unidade superior)
se degenera em contenda e oposição, isto é, de masculino e feminino, racionalismo e irracionalismo, apolonismo e
dionisismo etc.

16
Sensus Catholicus

acima ao abaixo, como a Opus Sex Dierum conectando o “Primeiro” Dia ao


“Sétimo” Dia da Criação, Álpha e Oméga. Como tal, o Waw no Nome Divino
YHWH é dito pelos məqūbbālīm como representando o “eixo do mundo”,
conectando as Águas Superiores às Águas Inferiores (os dois Hēhs do
Tetragrammaton).
Cortar o 6 do 7 significa cortá-lo de seu télos final (assim como de seu
princípio) isto é, tomar o meio (os “meios”) como um fim em si mesmo. Ver
apenas o mundo dos “seis dias” (como faz todo naturalismo) significa vê-lo
divorciado de Deus, o que também corresponde ao ponto de vista da
indefinidade (o desenrolar de dia após dia), blindado ao infinito do “Sétimo
Dia”, em que o fim encontra o começo.
O homem é criado no Sexto Dia como a “marca da perfeição” (finit
coronat opus), completando a obra criativa de Deus, todavia é no Sétimo Dia, o
“Dia do Senhor”, que ele tem que realizar sua missão divinamente apontada.
Ele é criado como o homem do Sexto Dia chamado a se tornar o homem do
Sétimo Dia, conduzindo toda a Criação à completude sabática. Parar no Sexto
Dia também significa querer possuir a Criação para si mesmo, separado de
Deus; divorciá-la de seu Princípio, assim a fechando para a Graça Divina.
Assim, o “padrão do 6” está inscrito em todas as tentações prometeicas, em
todas as tentativas de estabelecer completude / perfeição apenas no plano
horizontal e, assim, é uma insígnia do “reino do Anticristo” (666). 26
Se se procura na Bíblia o número 6, encontra-se rapidamente associado
com o Egito: seis mil israelitas (Êxodo 12:37), seiscentas carruagens (Êxodo
14:7), sessenta mil cavaleiros (2 Crônicas 12:3) etc., a palavra hebraica para
“cavalo” — o animal mais proximamente relacionado com o Egito através de
todo o Velho Testamento (cf. Isaías 31:1, e Deuteronômio 17:16) — “sus”, tendo
o valor de 60-6-60.27 Os egípcios “[esperam] nos cavalos, e [têm] confiança nas
quadrigas”, diz o profeta, “porque são muitas” (Isaías 31:1), significando que eles
adoram os prazeres da carne, o Mundo Material da transitoriedade e
multiplicidade (“Legião é o meu nome”, Marcos 5:9), enquanto o Messias
26 O simbolismo do 6 se relaciona também com o “fechamento epistêmico do conceito”, um racionalismo puramente
horizontal que elimina toda “abertura gnóstica” ao Divino, que, de acordo com Borella, caracteriza muito da
filosofia moderna (isto, é claro, sendo mais eminentemente verdadeiro das grandes filosofias sistematizantes, como
a de Hegel). No entanto, a realidade como tal está sempre “aberta” ao Espírito e assim não é exaurível por qualquer
sistema horizontal que seja (como o teorema de Gödel prova) e só pode ser “compreendida” — e redimida — por
esta abertura vertical.
27 Um midraš diz que as mulheres israelitas no Egito sempre davam à luz sêxtuplos; estar em escravidão no Egito
significa literalmente “reproduzir o padrão do 6”.

17
O Simbolismo de Terra e Mar

monta um jumento, “ḥamor” (cf. Zacarias 9:9, Marcos 11), que é equivalente a
“ḥamer” (“matéria”, ou “substância”), significando que Ele domina as paixões;
n’Ele o intelecto domou completamente a psique inferior, Ele “anda sobre as
águas”.28
Mas uma das manifestações mais puras deste “padrão prometeico do 6” é
descrito no Livro de Daniel (3:1), em que lemos que “fez o Rei Nabucodonosor
uma estátua de ouro, que tinha sessenta côvados de alto, e seis côvados de largo”
como um ídolo para que o povo adorasse; um “tipo” claro de Anticristo.
Os seis planetas (tradicionais) precisam receber sua luz do sétimo, isto é, o
Sol (synthema primordial de Deus), e separados de sua luz eles permanecem frios
e “saturninos” (o Sol sendo também o “intelecto”, enquanto Saturno denota a
“razão”, de acordo com a astrologia microcósmica de Ibn ʿArabī. 29
Similarmente, São Boaventura nos diz que as seis “artes” (representando a
totalidade das disciplinas acadêmicas) sempre precisam da “iluminação” do “Sol
da teologia” (cf. De Reductione Artium), e, de fato, não precisamos procurar
muito para ver esta separação do 6 do 7 (que leva a uma dispersão maléfica, uma
queda da unidade mais alta, e uma contração “autocentrada” na particularidade)
manifestando de muitas maneiras diferentes nestes “Últimos Dias”.
O 7 e o 6, assim, poderiam ser ditos como se relacionando um ao outro
como centro e periferia, pois (de acordo com o simbolismo geométrico), o 6
marca a perfeição terminal do círculo, enquanto o 7 denota seu princípio (o
ponto central). As seis direções da extensão universal sempre precisam ser
“reatadas” a seu princípio, o “santo palácio” do centro, que é seu fundamento. 30

28 Quando Abraão faz a jornada para sacrificar Isaque, ele é acompanhado por um jumento (cf. Gênesis 22:3), mas,
quando ele desce novamente após ter ascendido à “Montanha da Theognosía”, o jumento não é mais mencionado (cf.
Gênesis 22:19), significando que ele superou o Mundo Material após receber a Iluminação do Senhor. Também
poderíamos apontar que “cavaleiro” (rāḵaḇ) em hebraico vale 200-20-2, então o “cavaleiro” (222) sobre o “cavalo”
(666) é 888, o número do Cristo Jesus.
29 Este princípio também é mostrado na gematria hebraica pertinente à “tigela dourada” ( ḡullāh) vista pelo profeta
acima da mənōrā de sete braços (cf. Zacarias 4:1–14, assim como Acapolipse 11:4). Ora, “ ḡullāh” vem da raiz “G-L”
(3-30), que é também o “corpo” (gal), “cativeiro”, ou “exílio” (gōlāh), golem (“massa não-formada”, ou “corpo sem
vida”), e “Gólgota” (Ḡāluṯ), isto é, todas as coisas que pertencem à “maldição” do mundo caído. Mas quando o 1
(ʾĀlef) é introduzido no meio de “gul”, torna-se “Gōʾēl”, o “Redentor” (ou “Gəʾūllāh”, “Redenção”), isto é, 3-1-30
(o padrão da mənōrā, o 3-3 atado à unidade pelo 1 “central”) que é também o Sol no meio dos sies planetas, assim
como o Cristo, o Redentor, pregado ao eixo central da cruz (1) sobre o Monte Gólgota em seu trigésimo terceiro
ano.
30 “São Clemente de Alexandria diz que de Deus, o ‘Coração do Universo’, se espalham as vastas direções, uma para
cima, uma para baixo, uma para a direita, uma para a esquerda, uma para frente, e a outra para trás; direcionando
Seu olhar para essas seis direções como rumo a um número sempre igual, Ele completa o mundo; Ele é o princípio e
o fim (Alfa e Ômega), n’Ele as seis fases do tempo se completam, e é d’Ele que recebem sua indefinita extensão; este
é o segredo do número 7” (Vulliaud, Kabbale Juive 6:2).

18
Sensus Catholicus

Do mesmo modo, não há círculo possível dividido em sete partes iguais (assim
como o 7 é o único número até 10 que não é divisível por, nem para, qualquer
outro; “não é gerado, nem gera”, como Fílon diz), significando que, enquanto o
6 “fecha”, o 7 deixa sempre um “vão” para a Graça Divina fluir; ele salva o 6 de
ser “selado” e o abre à verticalidade. 31 O Sétimo Dia faz um buraco no edifício
do cosmos e também na ilusão de nossa existência fechada; é o sábado em que
cessamos nossos afazeres mundanos e nos voltamos para o Senhor em adoração.
Agora, como dissemos, a natureza do amor jaz no dom de si mesmo, isto é, em
sua abertura ontológica. A dialética de amor entre Pai e Filho engendra (ou
melhor, “espira”) o Espírito Santo como Seu “beijo” comunal, a “caridade”
profana da justiça social que se fecha para Deus ao deificar o “próximo” é estéril
(o equivalente social da contracepção ou “sodomia”) e nada além de um egoísmo
externalizado (“ama teu próximo como a ti mesmo”); e, como tal, “não vale
nada” (nihil mihi prodest), como o Apóstolo diz. O amor a Deus e o amor ao
próximo mutuamente supõem um ao outro, amar a Deus significa odiar minha
própria alma e apenas através dessa “pobreza de espírito” abnegada em que “eu”
e “você” desaparecem eu posso verdadeiramente amar meu próximo (através de
Deus) e Deus através do meu próximo (“Lā anā wa lā anta: Huwa”). Assim, o
verdadeiro amor (sendo uma participação no “Amor Essencial” da Santíssima
Trindade, que é o único digno desse nome) é “extático” e “fecundo”; deixa
espaço para a graça (7), para Deus estar “em seu meio” (cf. Mateus 18:20) e se
abre à verticalidade, enquanto o “amor” horizontal do Progressismo /
Marxismo conhece apenas a “Cidade dos Homens” e permanece fechado em si
mesmo (6).
Podemos concluir dizendo que, para estabelecer uma “ordem espacial”
duradoura, é necessário não apenas integrar a “pedra de tropeço” (o “caos”
aquoso, ou as “margens”), mas esta ordem também precisa ser construída sobre
a “pedra fundacional” de Deus, deve ser “ordenada” para Deus, pois “se o
Senhor não edificar a casa, em vão se tem posto ao trabalho os que a edificam”
(Salmos 127).
Que possamos, assim, “edificar o Templo de Deus” (cf. 1 Coríntios 14:12),
ajudai-nos o Supremo Arquiteto, agora e para sempre. Amém.

31 Este “vão” também simboliza o “período irracional” entre dois ciclos (6) quando o fim encontra um novo começo,
d’aí que nenhum ciclo esteja verdadeiramente “completo” até passar pelo 7 (cf. Pageau, Language of Creation 44).

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