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Resumo:
O meio ambiente dispõe de diversos recursos naturais; assim sendo, entre os patrimônios
associadas à natureza, entende-se a diversidade biológica como a riqueza de vida encontrada
no planeta. Isso inclui a fauna, flora, microorganismos e até a herança genética de cada um
deles. Os componentes da biodiversidade constituem vínculo entre os complexos ecossistemas,
contribuindo para sua estabilidade. Concomitantemente, esses recursos são explorados desde
os primórdios da humanidade, ainda assim, anteriormente essa prática se dava de forma susten-
tável (Fernandes et al., 2014)
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só o comércio dos espécimes vivos, mas também suas partes e componentes extraídos dos mes-
mos (Marques, 2018).
No Brasil, o comércio ilegal de animais silvestres engloba diversos nichos, apesar disso,
o tráfico de fauna para criação como pet é a mais comum dentro da atividade (Marques, 2018).
A utilização da fauna silvestre como pet existe desde a época da colonização, pois, o encanta-
mento do homem por esses animais estimulou a captura para o comércio (Marques, 2018;
Aguiar, 2021). Até os dias de hoje, a captura e comércio ilegal da fauna silvestre brasileira
ocorre frequentemente e tal característica é associada à estrutura cultural e social dos envolvi-
dos nessa rede de tráfico (Aguiar, 2021).
Além disso, o acesso às redes sociais e globalização das informações pode ser um gati-
lho para crimes ambientais. Por exemplo, na internet são expostos diariamente milhares de ani-
mais silvestres em situação de “humanização” e domesticação, esse fato é um incentivo (direto
ou indireto) ao tráfico. Trata-se de uma prática que incentiva uma demanda da população por
esses animais, ao mesmo tempo em que transmite a falsa sensação de que o animal precisa ser
cuidado, o que está relacionado a retirada deste animal da natureza para cuidados domésticos
(Monteiro, 2022).
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Isto posto, este Mini-Review aborda a intersecção entre a internet e o tráfico de animais silves-
tres, com ênfase na influência da humanização da “fofofauna” em redes sociais.
Segundo Nascimento & Bertino (2022), o termo “fofofauna” pode ser usado como ne-
ologismo para caracterizar as espécies animais que são mais carismáticas ou que despertem
maior apelo sentimental por serem mais “fofos”. Diversos desses animais podem ser usados
como ferramenta de educação ambiental, especialmente com as crianças (Nascimento & Ber-
tino, 2022). No entanto, o uso equivocado da imagem desses animais pode gerar exposição
desnecessária, com a objetificação desses animais silvestres antropomorfizados. Tal prática é
letal para esses animais, pois, influencia o tráfico. Ainda, a população passa a de alguma forma
acreditar na necessidade de tê-los e, crendo também que não há adversidade nisso (Magalhaes
et al., 2021).
Figura 1. Impacto das redes sociais em indivíduos da “fofofauna”. Bicho-preguiça, animal con-
siderado da fauna silvestre pertencente à “fofofauna”, graças a imagem carismática e “fofa”.
Fonte: Google - domínio público.
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A antropomorfização das espécies silvestres é resultante da intervenção humana nos
animais da natureza. Esse costume data antes da chegada dos europeus em território brasileiro,
pois, os índígenas sempre coexistiram com a fauna e flora silvestres. Apesar disso, o convívio
era concordante, no sentido de que esse contato se dava pela subsistência e não com finalidade
predatória e exploratória (Marques, 2018; Aguiar, 2021). Todavia, com a chegada dos europeus
no Brasil no século XVI observou-se a coligação de hábitos (Marques, 2018; Abreu, 2019),
dentre eles o fascínio pela fauna silvestre, o que estimulou a captura desses animais para co-
mércio ilegal (Aguiar, 2021; Luz, 2021).
Figura 2. Impacto das redes sociais em indivíduos da “fofofauna”. Dois macacos vestidos com
roupas e utilizando aparelho eletrônico para se distraírem, ambas as atitutudes de cunho huma-
nizado. A imagem é disseminada em redes sociais, alcançando milhares de pessoas que desejam
e, por vezes, repetem a prática. Fonte: Google - domínio público.
O tráfico de animais silvestres para uso como animais de estimação é a categoria mais
frequente no Brasil. No entanto, o país regulamenta o uso de animais silvestres como pets atra-
vés do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
(Aguiar, 2021). Desde o século XX, mediante autorização, é possível ter um animal silvestre
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como pet de forma legalizada. Apesar disso, a oportunidade de criação e comércio legal desses
animais, atrelado a falta de penalização da prática ilícita, dispõem de comodidade para os trafi-
cantes e comerciantes ilegais de pets-silvestres (Borges, 2018; Marques, 2018; Aguiar, 2021).
Ademais, a internet funciona como uma vitrine para o comércio desses animais, de
forma que, os anúncios, negociações e vendas são feitos de forma explícita. Apesar disso, o
anonimato é praticamente garantido, o que dificulta o controle e fiscalização, ao mesmo tempo
em que imporssibilita o flagrante em praticamente todos os casos (Carrasco, 2012; Marques,
2018; Aguiar, 2021; Monteiro, 2022; Terumoto, 2022). Tal facilidade de acesso a compra ilícita,
associada a necessidade imaginária de obtenção de um animal da “fofofauna” para cuidados
domesticados, são potencializadores da venda desses animais pelas redes sociais e internet.
Ainda em 1999, quando a internet ainda não era amplamente utilizada, bem como as
redes sociais, o comércio ilegal de animais silvestres já acontecia (Renctas, 2001; Carrasco,
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2012; Marques, 2018). Atualmente, com a modernização da internet, ocorreu uma variação nas
redes de venda também, na qual há uma concentração desse comércio na forma virtual, sendo
essa a face atual do tráfico no Brasil e no mundo. A venda pela internet é ilegal e considerada
crime ambiental, apesar disso, é uma prática recorrente na atualidade. Quando há a tentativa de
amenizar essa prática via proibições impostas pelas plataformas, os componentes da rede bus-
cam uma nova maneira de realizarem esse comércio (Marques, 2018; Aguiar, 2021)
Segundo Aguiar (2021), que realizou estudo recente sobre o “Comércio de animais sil-
vestres em páginas da internet do Brasil” ao longo do período de dezembro de 2020 a junho de
2021, demonstra que no período de apenas seis meses, mais de 540 anúncios foram detectados.
Dentre os quais, apenas 77 eram legalizados, com quase 470 anúncios ilegais (Aguiar, 2021).
Ainda, houve concentração de dados na região sudeste, que é acertadamente onde o comércio
ocorre de forma intensiva (Marques, 2018; Aguiar, 2021; Braga Junior & Lima, 2021; Da Silva,
2022). Ainda, conforme dito por Braga Junior & Lima (2021), os dados coletados em 2020
demonstram que somente no Brasil “são mais de 149 milhões de usuários - aumento de 2.980 %
em relação ao ano de 2000-”.
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minadas espécies. Essa perda de biodiversidade tem efeitos em cascata nos ecossistemas, afe-
tando a interação entre espécies, a dinâmica da cadeia alimentar e a estabilidade dos habitats
naturais.
No Brasil, existem três modalidades de tráfico: (1) Animais para colecionadores parti-
culares e zoológicos; (2) Biopirataria e (3) Animais para pet, sendo o último enquadrado na
modalidade que mais incentiva o tráfico. Segundo o Renctas (2001), na ocasião do estudo,
listou-se algumas espécies comumente traficadas e seus valores, como: Boa constrictor (Jibóia),
Corallus caninus (Periquitambóia), Tupinambis spp. (Teiús), Pseudemys dorbygnyi (Tartaruga),
Ara macao (Arara-vermelha), Ramphastos toco (tucano-toco), Pteroglossus beauharnaesii
(Araçari), Gnorimopsar chopi (Melro), Tangara seledon (Saíra-sete-cores) e Callithrix geo-
ffroyi (Sagüi-da-cara-branca), cujos valores para aquisição de cada espécime variavam, nos
anos 2000, de R$ 350 a R$ 5.000 (Renctas, 2001).
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Ainda, sublinhando o animal traficado e domesticado, este é impedido de se relacionar
com seu ecossistema natural e todo o efeito benéfico do mesmo. Por exemplo, o indivíduo não
poderá se alimentar, reproduzir e se relacionar com outros indivíduos adequadamente. Ademais,
são impedidos de manifestarem seu comportamento natural, pois, a convivência com o homem
gera a humanização do anima (Carrasco, 2012; Rodrigues Junior, 2020; Duarte et al., 2021).
Para além disso, os prejuízos aos ecossistemas, como listado por Duarte et al. (2021), vão desde
aos impactos diretos ao habitat e nicho trófico que o indivíduo vivia, mas também quanto a
atividade deletéria para fauna no contexto de doenças.
Caso Filó: Uma opinião crítica sobre a capivara fofa que movimentou e dividiu a mídia
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Figura 3. Caso Filó, a capivara fofa que movimentou e dividiu a mídia. Manchete do BBC
NEWS BRASIL. Texto conta a história e explica o caso da capivara Filó e do suposto tutor
Agenor. 2023. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c887jy7ge99o.
Segundo a nota do Ibama, Agenor teria sido autor da captura de outros animais, como
papagaios, arara, bicho-preguiça, capivara, paca, jacaré, entre outros. Esses animais foram reti-
rados da natureza, ato que por si só já é criminoso, ao mesmo tempo em que mantinha irregu-
larmente e utilizava a imagem dos mesmos para se promover em redes sociais (Rajab, 2023). A
título de curiosidade, um dos vídeos postado por Agenor chegou a 83 milhões de visualizações
apenas no Tiktok. Após repercussão, o influenciador foi multado em R$ 17 mil por abuso, maus-
tratos e exploração animal encaminhados ao IBAMA formalizado como denúncia. Ainda, de-
terminou que Filó, a capivara, fosse devolvida e reintroduzida em seu ambiente natural (Barru-
cho, 2023).
Nas redes sociais a atitude dividiu opiniões, causando comoção nacional em defesa de
Agenor, alegando coisas do tipo “A capivara Filó vive livre no habitat dela, que é o mesmo
'habitat' do Agenor" ou "está sendo perseguido como se fosse um criminoso, sendo que todo
mundo sabe que aqui no Amazonas os animais convivem com as pessoas, principalmente no
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interior". No entanto, os especialistas também listaram suas opiniões, ressaltando que indepen-
dentemente da espécie ser abundante ou ameaçada de extinção, a criação em cativeiro e antro-
pomorfização de animais silvestres incentiva o tráfico deles em todos os âmbitos (Barrucho,
2023; Paulo, 2023). Ademais, a defaunação pode também provocar desequilíbrio ambiental e
significativa queda dos animais nos seus habitats, o que impacta no bem-estar da espécie em
questão e também de outras que coexistem (Gomes, 2023).
Figura 4. Caso Filó, a capivara fofa que movimentou e dividiu a mídia. Manchete do COR-
REIO BRAZILIENSE. Situação de Agenor, suposto tutor de Filó (a capivara), que manteve
outros animais silvestres em cativeiro, sendo que alguns vieram a óbito. 2023. Fonte:
https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2023/05/5092040-capivara-filo-agenor-manti-
nha-outros-animais-silvestres-aponta-ibama.html#google_vignette.
Outros animais já teriam morrido em cativeiro sob tutoria de Agenor que poderia, inclu-
sive, ter buscado o IBAMA para regulamentar a situação dos animais. Apesar disso, o influen-
ciador não o fez e ainda utilizava a imagem do animal para se promover na internet. Adicional-
mente, não se trata de um ribeirinho que mora no mato, como o mesmo dizia, mas sum de um
fazendeiro, influenciador digital e estudante de agronomia, conhecedor das leis e praticamente
de irregularidades. A criação de animais silvestres em cativeiro sem autorização do IBAMA é
crime ambiental, além de incentivar a retirada de animais da natureza para comércio e domes-
ticação (Paulo, 2023). Isso impacta principalmente animais da “fofofauna”, que são carismáti-
cos e causam comoção, como a Filó. Ainda, segundo as autoridades esclarecem, o caso não se
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restringe a capivara, mas sim ao contexto geral do tráfico de animais silvestres e superexplora-
ção animal.
Figura 5. Caso Filó, a capivara fofa que movimentou e dividiu a mídia. Manchete do BNCA-
MAZONAS. Esclarecimento sobre a ilicitude da criação de animais silvestres sem autorização
e legalização. 2023. Fonte: https://bncamazonas.com.br/municipios/capivara-filo-criar-animal-
silvestre-e-crime-diz-campanha-do-stf/ .
Considerações Finais
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mesmo ambiente e que o espaço antropizado se faz adequado para animais da floresta. Parale-
lamente, praticamente qualquer animal possui capacidade de domesticação, de fato, apesar
disso, isso não significa que os mesmos necessitem de cuidado ou aproximação humana. Ainda
que o animal seja encontrado em alguma situação de vulnerabilidade, os órgãos governamentais
responsáveis devem ser acionados.
Referências:
Abreu, A. O. “Se eu comprar um pássaro, também faço parte do tráfico?”: a educação ambiental
como ferramenta de redução do tráfico de aves silvestres em Fortaleza-CE. 2019.
Cardinale, B. J., Duffy, J. E., Gonzalez, A., Hooper, D. U., Perrings, C., Venail, P., ... & Srivas-
tava, D. S. (2021). Biodiversity Loss Reduces Multifunctionality in Global Forests. Nature
Communications, 12(1), 1-10. DOI: 10.1038/s41467-021-24092-2.
Ceballos, G., Ehrlich, P. R., & Dirzo, R. (2020). Biological annihilation via the ongoing sixth
mass extinction signaled by vertebrate population losses and declines. Proceedings of the Nati-
onal Academy of Sciences, 117(24), 13596-13602. DOI: 10.1073/pnas.1922686117.
Duarte, D. F. et al. Tráfico de animais silvestres e seus impactos no meio. Pubvet, v. 15, p. 180,
2021.
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Rodrigues-Junior, C. E. Tráfico da Vida Silvestre: O Crime Compensa. Direito Penal e Pro-
cesso Penal, v. 2, n. 1, p. 10-19, 2020.
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