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Barroco: a arte

dos contrastes
Ecos barrocos na Literatura Moderna
Certas Coisas Não existiria som
Se não houvesse o silêncio
Lulu Santos Não haveria luz
Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim

Cada voz que canta o amor não diz


Tudo o que quer dizer
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração
Silenciosamente eu te falo com paixão

Eu te amo calado
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas que eu não sei dizer
“Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Hamlet
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Shakespeare
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer… dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil pelejas naturais-herança do homem:
Morrer para dormir… é uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir… Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:
Pois quando livres do tumulto da existência,
No repouso da morte o sonho que tenhamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita


Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.
NO SÉCULO XVII, O SER
HUMANO VIVE EM CONFLITO,
ATORMENTADO POR DÚVIDAS
EXISTENCIAIS, DIVIDIDO
ENTRE UMA POSTURA
RACIONAL E HUMANISTA E
UMA EXISTÊNCIA
ASSOMBRADA PELA CULPA
CRISTÃ.
RENASCIMENTO X BARROCO
O HOMEM RENASCENTISTA: O HOMEM BARROCO:

SATISFAÇÃO PESSOAL O HOMEM DIVIDIDO ENTRE ORGULHO E


FRAGILIDADE
CRENÇA NA SOLIDEZ DO MUNDO
DISSOLVE-SE NA ANGÚSTIA E NO CAOS
A HARMONIOSA IMAGEM DA VIDA
TENSÃO ENTRE ELEMENTOS CONTRÁRIOS =
PERDA DAS CERTEZAS

RENASCIMENTO: Recusa os BARROCO: Tenta inutilmente


valores religiosos e conciliar a visão medieval
artísticos da Idade Média. da vida e da arte com a
visão renascentista.
carpe diem
● APROVEITAR A VIDA?
● VIVER INTENSAMENTE?

● CULPA CRISTÃ = O HOMEM NÃO ALCANÇA A TRANQUILIDADE

● TENSÃO = ANGÚSTIA
CULPA & PECADO

TEMÁTICA DO DESENGANO:
DESVALORIZAÇÃO DA VIDA HUMANA
FRENTE À MORTE E À ETERNIDADE
“A VIDA É UM SONHO”
(Calderón de la Barca = artista barroco espanhol)

“Que é a vida? Um frenesi.


Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção.”
TEMÁTICA DO DESENGANO
➢ EXISTÊNCIA TERRENA =

○ CARÁTER ILUSÓRIO;
○ REALIDADE APARENTE;
○ A VIDA VERDADEIRA É A ETERNA;
○ ALEGRIA DA EXISTÊNCIA X PREPARAÇÃO PARA A
MORTE;
○ CONSCIÊNCIA TRÁGICA (PESSIMISTA) DA PASSAGEM DO
TEMPO, DA EFEMERIDADE DA VIDA.
Barroco no Brasil
Ecos barrocos na Literatura Moderna
GREGÓRIO DE MATOS GUERRA
● Oscilação da alma barroca entre o mundo terreno e a
perspectiva da salvação eterna;
● Licenciosidade moral x consciência da infâmia
(arrependimento);
● Postura = o homem ajoelhado diante de Deus;
● Forte sentimento de culpa por ter pecado = o poeta promete
redimir-se;
● Fugacidade da vida;
● IDEALIZAÇÃO DOS AFETOS EM LINGUAGEM ELEVADA;
● O AMOR OBSCENO-SATÍRICO NA POESIA DE GREGÓRIO =
Nos poemas mais vulgares, se torna engraçado (palavrões =
descrições desbocadas dos atos e orgãos sexuais).
● Poesia ferina e contundente que não perdoa nenhum grupo
social (ricos e pobres).
“A instabilidade das cousas do mundo”,
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, gREGÓRIO DE MATOS GUERRA
Depois da luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Mas no Sol e na luz falte a firmeza,
Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Na formosura não se dê constância,
Se é tão formosa a luz, por que não dura? E na alegria sinta-se a tristeza.
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia? Começa o mundo enfim pela ignorância
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
“A Jesus Cristo, Nosso Senhor”,
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, GREGÓRIO DE MATOS GUERRA
Da vossa alta clemência me despido;
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se uma ovelha perdida já cobrada,
Se basta a vos irar tanto pecado, Glória tal e prazer tão repentino
A abrandar-vos sobeja um só gemido: Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado. Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
“ANGELA”,
Anjo no nome, Angélica na cara! gREGÓRIO DE MATOS GUERRA
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente
Em quem, senão em vós, se uniformara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
Livrara eu de diabólicos azares.
De verde pé, da rama florescente?
A quem um Anjo vira tão luzente
Mas vejo que tão bela, e tão galharda,
Que por seu Deus o não idolatrara?
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
“ANGELA”,
Anjo no nome, Angélica na cara! gREGÓRIO DE MATOS GUERRA
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente
Em quem, senão em vós, se uniformara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
Livrara eu de diabólicos azares.
De verde pé, da rama florescente?
A quem um Anjo vira tão luzente
Mas vejo que tão bela, e tão galharda,
Que por seu Deus o não idolatrara?
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Se Pica-Flor me chamais,
“PICA-FLOR”,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
gREGÓRIO DE MATOS GUERRA
Se no nome que me dais,
Metei a flor que guardais
A uma freira que satirizando a delgada No passarinho melhor!
fisionomia do poeta lhe chamou "Pica-Flor". Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.
Padre Antônio Vieira
● Utilização da Bíblia para referir-se a temas do cotidiano.
● Combate aos hereges e defesa dos índios;
● Sonho com o “Grande Império” cristão, a ser localizado no
Brasil;
● Linguagem conceptista;
● O VIGOR DA ORATÓRIA: Pormenores da vida;
● Ataque aos vícios = corrupção + violência + pedantismo,
etc.;
● Elogio às virtudes = religiosidade + modéstia + caridade,
etc.;
“Sermão do Bom Ladrão”, “Não são só ladrões - diz o Santo - os que
cortam bolsas ou espreitam os que vão se
Pe. Antônio Vieira banhar, para lhe colher a roupa; os ladrões
que mais própria e dignamente merecem este
título são aqueles a quem os reis
encomendam os exércitos e legiões, ou o
governo das províncias, ou a administração
das cidades, os quais já com manha, já com
força, roubam e despojam os pobres. (...)”
“O Domingo das verdades. No Maranhão a corte da mentira. O galante apólogo
do diabo. O M de Maranhão. No Maranhão até o sol e os céus mentem.
“Sermão da
Quinta Dominga Si dixero quia non scio eum, ero similis vobis, mendax (9).
da Quaresma -
A este Evangelho do Domingo Quinto da Quaresma chamais comumente o
Domingo das domingo das verdades. Para mim todos os domingos têm este sobrenome,
Verdades”, porque em todos prego verdades, e muito claras, como tendes visto. Por me
não sair, contudo, do que hoje todos esperam, estive considerando comigo que
verdades vos diria, e, segundo as notícias que vou tendo desta nossa terra,
Pe. Antônio Vieira resolvi-me a vos dizer uma só verdade. Mas que verdade será esta? Não
gastemos tempo. A verdade que vos digo é que no Maranhão não há verdade.”
ESSENCIAIS 04
Análise de Questões
Sermão da Sexagésima
Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a
palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há
um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos
onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão
poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da palavra de
Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim. A mim
será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.
VIEIRA, A. Sermões Escolhidos, v. 2. São Paulo: Edameris, 1965

No Sermão da sexagésima, padre Antônio Vieira questiona a eficácia das pregações. Para tanto, apresenta como estratégia
discursiva sucessivas interrogações, as quais têm por objetivo principal

a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no sermão.
b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas pregações.
c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui respostas.
d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações
e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões.
PROPOSTAS 06

Quando Deus redimiu da tirania Pois mandado pela Alta Majestade


Da mão do Faraó endurecido Nos remiu de tão triste cativeiro,
O Povo Hebreu amado, e esclarecido, Nos livrou de tão vil calamidade.
Páscoa ficou da redenção o dia.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Páscoa de flores, dia de alegria Deus, que veio estirpar desta cidade
Àquele povo foi tão afligido o Faraó do povo brasileiro.
O dia, em que por Deus foi redimido;
(DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório de Matos.
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. São Paulo: 2006)

Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de
Gregório de Matos apresenta temática expressa por

A) visão cética sobre as relações sociais.


B) preocupação com a identidade brasileira.
C) crítica velada à forma de governo vigente.
D) reflexão sobre dogmas do Cristianismo.
E) questionamento das práticas pagãs na Bahia.
APROFUNDAMENTO 01

Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito semelhante o que o
mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em
um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo
para o cetro de escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de noite sem
dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos;
Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os
açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for acompanhada de
paciência, também terá merecimento de martírio.
VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado).

O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e

a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros.


b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.
PROPOSTAS 02

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,


Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?


Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,


Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

E tem qualquer dos bens por natureza


A firmeza somente na inconstância.
Começa o mundo enfim pela ignorância.
A deposição de Cristo, de Caravaggio
(Gregório de Matos Guerra)
Considerando o poema de Gregório de Matos, a tela de Caravaggio e as
características do movimento artístico em que as duas obras estão inseridas, analise
as afirmações abaixo

I. Ambas as obras fazem parte do Barroco, movimento artístico que se caracteriza pela tensão e pelo conflito entre
elementos opostos, por exemplo: o sagrado e o profano, o eterno e o efêmero.
II. Na tela de Caravaggio, pode-se perceber, entre outros elementos, a tensão entre luz e sombra, recurso que também
caracteriza a lírica de Gregório de Matos, sobretudo, seus poemas religiosos.
III. Gregório de Matos, em sua produção literária, nos deixou, entre outras formas poéticas, muitos sonetos, a exemplo
do poema apresentado.
IV. O texto E explora as metáforas do sol e da luz, que, no poema, apontam para o tema da efemeridade da vida.
V. As questões que aparecem na segunda estrofe tendem mais a reafirmar o tema da primeira estrofe do que,
propriamente, trazer novas indagações

A) I, II, III e V apenas.


B) I, II, III e IV apenas.
C) II, III, IV e V apenas.
D) I, III, IV e V apenas.
E) I, II, III, IV e V.

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