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AUSÊNCIA DE UNIFORMIDADE NA HIPERTROFIA MUSCULAR APÓS

TREINAMENTOS DE RESISTÊNCIA: uma revisão sistemática

LACK OF UNIFORMITY IN MUSCLE HYPERTROPHY AFTER RESISTANCE


TRAINING: a systematic review
Luis Eduardo Silva de Carvalho - Faculdade Ieducare FIED
l_edu_sdc@hotmail.com

Carla Katiane dos Santos Oliveira - Faculdade Ieducare FIED


Luana Rodrigues Portela - Faculdade Ieducare FIED
Lais Raiane Feitosa Melo Paulino - Faculdade Ieducare FIED

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo buscar informações sobre como a hipertrofia do músculo
esquelético, após treinamentos de força (TF), ocorre de maneira não uniforme. Os principais fatores
para essa não homogeneidade podem ser a arquitetura muscular, a ativação muscular, a escolha dos
exercícios e os tipos de fibra inter e intramuscular. Este estudo trata-se de uma revisão sistemática
com busca de artigos nas bases de dados PubMed e Biblioteca Virtual da Saúde, publicados a partir
nos últimos 10 anos, nas línguas portuguesa e inglesa, sendo aceitos apenas arquivos na modalidade
artigo científicos, não sendo aceitos relatos, resumos ou quaisquer outros tipos de arquivos. Todos
os estudos avaliaram a musculatura do quadríceps e relataram que a HME não é uniforme, seja
quando são comparadas porções musculares diferentes ou quando são comparadas regiões diferentes
da mesma porção.

Palavras-chave: Hipertrofia do músculo esquelético. Treinamento de força. Músculo Esquelético.


Hipertrofia.

ABSTRACT
This paper aims to seek information on how skeletal muscle hypertrophy after strength training
(TF) occurs in a non-uniform manner. The main factors for this inhomogeneity may be muscle
architecture, muscle activation, choice of exercises and types of inter and intramuscular fiber. This
study is a systematic review with search for articles in the PubMed and Virtual Health Library
databases, published over the last 10 years, in Portuguese and English, only files in the scientific
article modality being accepted, not being accepted reports, summaries or any other types of files.
All studies evaluated the quadriceps musculature and reported that the HME is not uniform, either
when comparing different muscle portions or when comparing the same portion in different regions.
Keywords: Skeletal muscle enlargement. Resistance training. Muscle, skeletal. Hypertrophy.

Sobral, ano 10, v.1, n. 18, jul – dez. de 2021, p 31-46. . ISSN: 217-2649
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TREINAMENTOS DE RESISTÊNCIA: uma revisão sistemática

INTRODUÇÃO

Em 2009, a American College of Sports Medicine (ACSM) apresentou um estudo de revisão


e atualização sobre os modelos de progressão do treinamento para adultos saudáveis. Nesta revisão,
os princípios mais importantes da progressão do treinamento de força (TF) consistem em sobrecarga
progressiva, especificidade e variação de treino, havendo ainda a possibilidade de manipulação
desses princípios. O TF, também conhecido como treinamento resistido ou musculação, é um dos
métodos mais eficazes para promover aumento de força e hipertrofia do músculo esquelético (HME),
gerando também aumento de potência, velocidade, equilíbrio, desempenho motor e resistência
muscular localizada (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Para Korta, Penã e Concejero (2020), uma
das adaptações mais importantes que o tecido muscular esquelético sofre após um TF é a HME.
Ressaltam também que a melhor forma de avaliar a HME é pelo aumento da área de seção
transversal (AST) do músculo, sendo feito, principalmente, através de ultrassom ou ressonância
magnética (RM), com a RM sendo considerada mais aconselhada pelo seu alto nível de precisão.
Seynnes, De Boer e Narici (2007) sugerem que o aumento da AST não é o único fator que
determina a HME, mas que a remodelação da arquitetura muscular (AM) também contribui nesse
processo. Essa remodelação da AM é analisada de acordo com a variação da porcentagem do ângulo
de penação, da espessura do músculo e do comprimento do fascículo, sendo que durante o período
do estudo em nenhum momento a porcentagem de aumento da AST foi maior do que as outras,
concluindo assim que a HME não é influenciada por apenas um fator (TIMMINS et al., 2016;
SEYNNES; DE BOER; NARICI, 2007). Yamada, Souza Júnior e Pereira (2010) relatam ainda o
papel da resposta inflamatória na potencialização da HME e citam que a especificidade do
treinamento, os hormônios, os neutrófilos, os macrófagos, as citocinas e os nutrientes podem
influenciá-la, mesmo que os mecanismos que envolvem cada um desses fatores possam ainda não
estar totalmente elucidados.
Porém, alguns estudos vêm demonstrando que a HME não ocorre de forma uniforme por
toda a extensão do músculo, sendo que os principais fatores para essa não homogeneidade podem ser
a AM, a ativação muscular (ATM), a escolha dos exercícios, a ordem dos exercícios e os tipos de fibra
inter e intramuscular (NEWMIRE; WILLOUGHBY, 2018; WAKAHARA et al., 2011; ANTONIO,
2000). A ATM também ocorre de maneira não uniforme ao longo da musculatura, havendo relação
direta entre as regiões onde ela ocorre durante o TF com as regiões onde há HME após o período de
TF, sendo provavelmente o principal fator para que a HME não seja uniforme (MACEDO et al.,
2020; NEWMIRE; WILLOUGHBY, 2018).

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Os estudos acima mostram que a HME ainda não é totalmente compreendida e que há
diversos fatores que podem alterar a forma como ela ocorre, por isso torna-se necessário que haja
novas pesquisas investigando essas irregularidades da HME ao longo das fibras musculares. Neste
estudo discorremos sobre as informações encontradas na literatura atual sobre a não uniformidade
da HME ao longo das porções musculares, além de identificar os possíveis fatores relacionados a
estas não uniformidades.
A HME é bastante estudada, porém não se sabe ainda quais os melhores métodos para se
chegar a ela. A teoria mais aceita para que ainda não haja uma padronização para treinos
hipertróficos é que há diferenças musculares em cada indivíduo, como o tamanho muscular e as
características da AM de cada músculo. Alguns estudos têm percebido que a HME ocorre de maneira
diferente de acordo com a prescrição e combinação de exercícios, e que no mesmo exercício também
há diferença na HME ao longo da extensão de cada porção muscular e dentro da mesma porção em
regiões diferentes.
Este estudo será útil principalmente para profissionais e estudantes de educação física,
também sendo útil para pesquisadores da área fitness, fisiculturistas e praticantes de musculação em
geral. Importante destacar o fisiculturismo neste momento, já que o objetivo dele, além de alcançar
corpos grandes e volumosos, é também buscar simetria entre os grupamentos musculares, e o
presente trabalho busca, justamente, o esclarecimento de como as técnicas de TF influenciam a
HME de forma geral.
Além disso, vale destacar a escassez de artigos na língua portuguesa sobre este tema e que
sendo esta revisão de literatura uma pioneira na língua portuguesa, possa também servir de
inspiração para que novas pesquisas possam ser feitas. O objetivo deste trabalho é sistematizar
informações sobre a não uniformidade do crescimento muscular ao longo da musculatura como um
todo e ainda nas diferentes porções de cada músculo após a aplicação de TF.

METODOLOGIA

Pesquisa

Este estudo define-se como um tipo de pesquisa baseado em uma revisão sistemática, que
assim como outros tipos de estudo de revisão é uma forma de pesquisa que utiliza como fonte de
dados a literatura sobre determinado tema. Esse tipo de investigação disponibiliza um resumo das
evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, mediante a aplicação de métodos
explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da informação selecionada. As
revisões sistemáticas são particularmente úteis para integrar as informações de um conjunto de

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estudos realizados separadamente sobre determinada terapêutica/intervenção, que podem


apresentar resultados conflitantes e/ou coincidentes, bem como identificar temas que necessitam de
evidência, auxiliando na orientação para investigações futuras (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO.
2008).
A revisão sistemática de literatura feita neste trabalho foi realizada nas bases de dados
PubMed e Biblioteca Virtual da Saúde, nas línguas portuguesa e inglesa, sendo considerados os
artigos publicados a partir nos últimos 10 anos. A pesquisa foi realizada entre os meses de setembro
e novembro de 2021.
Os descritores em português foram “hipertrofia”, “músculo” e "área de seção transversal"
e respectivamente em inglês “hypertrophy”, “muscle” e “cross-sectional area”. Para tornar a busca
mais precisa, os descritores acima foram combinados nos operadores boleanos dos bancos de dados
com AND, além do uso do NOT para o descritor “revisão”, em inglês “review”.

Critérios De Inclusão

Os estudos aceitos como parte da presente revisão tiveram os seguintes critérios de inclusão:
(I) estudos que tenham como objetivo alcançar HME; (II) estudos que avaliem o músculo alvo em
pelo menos 2 áreas distintas; (III) estudos que utilizem ressonância magnética ou qualquer outra
técnica que seja possível analisar as diferentes porções musculares.

Critérios de Exclusão

Os critérios de exclusão utilizados neste trabalho foram: (a) artigos duplicados; (b) artigos
feitos com animais. ; (c) artigos que não estejam relacionados com o presente trabalho; (d) artigos
datados antes dos últimos 10 anos.
Vale ressaltar que o critério de exclusão (d) teve três etapas, para que assim fosse possível
selecionar apenas os artigos que se encaixassem com os objetivos desta revisão, sendo estas três
etapas as seguintes: a primeira, a avaliação os títulos de cada artigo; a segunda, etapa a avaliação
do resumo; e na última, a leitura do artigo na íntegra.

AVALIAÇÃO DOS ESTUDOS

Os artigos selecionados tiveram o nível de qualidade avaliados com a escala PEDro. Neste
método de avaliação, estima-se a qualidade da evidência de acordo com pontuações: 1 (um) para

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cada vez que o artigo estiver de acordo com o critério relatado e 0 (zero) para quando não estiver. A
escala PEDro tem pontuação máxima de 11 pontos. Essa classificação permite saber o nível de
confiança de cada artigo de maneira rápida e prática, além de ajudar na identificação dos estudos
mais relevantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Seleção dos Estudos

Foram encontrados 141 artigos utilizando os descritores relatados na metodologia, dos


quais 30 tiveram o título avaliado como condizente com o presente trabalho. Após esta etapa foram
avaliados os resumos de cada artigo, onde 11 continuaram em acordo os critérios de inclusão e
avançaram para a próxima etapa. Por fim, apenas 5 artigos passaram da etapa anterior e foram
lidos na íntegra, estando 4 destes atendendo a todos os critérios de inclusão e exclusão citados acima.
A Figura 1 mostra o fluxograma do resultado de cada etapa da pesquisa.
O resultado da escala PEDro foi de 6,75 ± 0,5 (média ± desvio padrão) pontos para os
artigos selecionados nesta revisão. Sendo assim, a média de qualidade dos artigos é considerada alta,
de acordo com os critérios da PEDro. A pontuação que cada artigo atingiu encontra-se retratada no
Quadro 1.

Área de Seção Transversal

Os estudos selecionados nesta revisão avaliaram a HME através de ressonância magnética


ou ultrassonografia, metade dos estudos tendo utilizado um dos métodos e a outra metade o outro.
Em todos os estudo a musculatura estudada foi a do quadríceps, nos protocolos a posição dos
indivíduos também foi a mesma: deitados em decúbito dorsal com os joelhos estendidos. A diferença
maior entre os protocolos foi o local onde avaliado o músculo. Earp et al. (2015), obteve imagens de
ultrassom em três locais do quadríceps, sendo eles em 33% (proximal), em 50% (medial) e em 67%
(distal) do comprimento entre o trocanter maior e o epicôndilo lateral do fêmur. Matta et al. (2014),
também utilizou ultrassom, mas em dois locais 50% (proximal) e 30% (distal). Shiromaru et al.
(2018) e Wakahara et al. (2018), utilizaram a ressonância magnética, tendo o primeiro avaliado o
quadríceps em apenas um local, sendo a imagem obtida em 50% do comprimento do fêmur, e o
segundo avaliado em dois locais, um distal e um proximal, com os locais de imagens não
especificados.

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Hipertrofia Não Uniforme

Todos os estudos selecionados avaliaram a musculatura do quadríceps e os resultados


apontam que a HME não é uniforme, seja quando são comparadas as diferentes porções musculares
do quadríceps ou ainda quando são comparadas regiões diferentes da mesma porção. Em três destes
estudos foram analisadas cada uma das 4 porções do quadríceps – Reto Femoral (RF), Vasto
Intermédio (VI), Vasto Lateral (VL) e Vasto Medial (VM) – e apenas o estudo do Matta et al. (2014)
analisou apenas uma porção, que foi o RF.
O estudo de Earp et al. (2015) foi o único a avaliar a HME utilizando exercícios
multiarticulares, sendo utilizado o agachamento com profundidade até a coxa ficar paralela ao solo,
denominado HS-P, e agachamento com salto, denominado JS-P. Nesse estudo foram avaliadas as
quatro porções do quadríceps individualmente e ainda a área total do quadríceps como um todo,
estas porções foram avaliadas em 3 regiões diferentes, proximal, medial e distal. Os resultados
mostram uma HME semelhante em ambos os protocolos se avaliado o quadríceps como um todo,
porém na avaliação individual de cada porção muscular houve maior HME no grupo HS-P para as
porções VM e VI, e nos grupos JS-P a HME foi maior nas porções VL e RF. Cada uma das 4 porções
apresentou ainda grandes diferenças na HME ao longo de seus comprimentos, sempre apresentadas
diferenças entre as regiões distais, mediais e proximais para ambos os grupos de treinamento, o
detalhamento destas informações pode ser visto na Tabela 1.
Os outros três estudos avaliaram a HME do quadríceps no exercício de extensão unilateral
do joelho. Os estudos de Shiromaru et al. (2018) e Wakahara et al. (2018) também avaliaram as 4
porções do quadríceps, porém o primeiro avaliou apenas a diferença entre cada uma dessas porções
e o segundo avaliou-as em duas regiões diferentes, proximal e distal, assim sendo possível analisar
também a HME ao longo de cada porção. De acordo com Wakahara et al. (2018), a HME encontrada
não apresentou diferenças significativas entre as porções VM, VI e VL, mas sim para o RF. O RF
foi ainda a porção em que houve maior HME, tanto na comparação com as outras porções, como
sendo a única que teve diferença de crescimento não uniforme significativa entre as regiões proximal
e distal.
No estudo de Shiromaru et al. (2018), a HME foi avaliada em dois grupos, um grupo com
restrição de fluxo sanguíneo, denominado LL-BRF, e outro com treinamento convencional sem
restrição do fluxo sanguíneo, denominado HL-RT. Ambos os grupos foram avaliados nas 3 primeiras
semanas, mas apenas o grupo HL-RT foi avaliado também após 6 semanas. Após as 3 primeiras
semanas, o grupo LL-BRF teve maior HME no RF e no VL, já para o grupo HL-RT ela foi maior
no VI e no VM. Isso indica que em ambos os exercícios o crescimento muscular foi diferente entre as

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porções, portanto comprovando que a HME não é uniforme. O grupo HL-RT também foi avaliado
após 6 semanas de treinamento, mantendo maior HME para as porções VI e VM.
Matta et al. (2014) foi o único estudo a não analisar todas as porções do quadríceps, tendo
avaliado apenas o RF, nas regiões proximal e distal. Os grupos de treinamento foram o de
treinamento convencional e o de treinamento isocinético. O resultado desse trabalho também relata
HME não uniforme, pois mesmo não havendo comparação com as outras porções do quadríceps, em
ambos os protocolos de treinamento houve maior HME na região distal que na proximal do RF.
A partir dos resultados acima podemos perceber que os exercícios podem ser utilizados não
apenas para hipertrofia geral do músculo, mas que com a correta utilização desses exercícios pode-
se, por exemplo, valorizar a HME de determinada porção do mesmo músculo, que é uma necessidade
muito frequente de fisiculturistas, que necessitam muitas vezes dessa ênfase para que seu corpo
torne-se mais simétrico durante as competições das quais eles participarão. Mas não necessariamente
esses achados são importantes apenas para fisiculturista, os praticantes de TF em geral que tenham
como objetivo corrigir assimetrias também podem se utilizar desses resultados para alcançar seus
objetivos.
Percebe-se, por exemplo, que de acordo com os achados desta revisão a região distal do RF
é a que apresenta maior HME no exercício extensão de joelho unilateral na máquina e que, portanto,
esse exercício seria indicado caso fosse necessário valorizar a hipertrofia dessa área. Nota-se também
que a variação de treinamento pode levar a resultados hipertróficos diferentes, como nos achados de
Earp et al. (2015), onde houve variação do agachamento e nos de Shiromaru et al. (2018), onde houve
treinamentos com e sem restrição do fluxo sanguíneo. Em ambos os estudos se percebe HME
diferente entre os protocolos utilizados. Estes resultados encontram-se detalhados nos quadros 2 e
3.
Outro ponto a se discutir é que todos os artigos selecionados estudaram a musculatura do
quadríceps e que nestes artigos foram utilizados apenas o exercício de extensão unilateral de joelho
e o agachamento com e sem salto. Esses achados já comprovam que não há uniformidade na HME
ao longo do músculo e devem servir de base para que novas pesquisas sejam feitas com músculos
diferentes, pois assim ajudariam a criar protocolo de treinamentos que fossem específicos para HME
localizada, ou seja, focada em uma região especifica do músculo. Há também outros músculos no
corpo com mais de uma porção, como o tríceps braquial, tríceps sural, bíceps braquial e bíceps
femoral, e que estes poderiam ser utilizados para fazer comparação da HME entre porções. Além
disso, a HME se mostra não uniforme também ao longo da musculatura, sendo assim, mesmo
músculos com apenas uma porção ainda poderiam ser avaliados. O estudo de Matta et al. (2014) é
um exemplo de uma pesquisa feita em apenas uma porção, pois mesmo que o músculo alvo do

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trabalho tenha sido o quadríceps, ele avaliou apenas a porção do RF, o mesmo poderia ser feito em
outras pesquisas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que a HME não é uniforme ao longo da musculatura ou entre porções de um


mesmo músculo, e ainda que esta hipertrofia pode ser regionalizada dependendo da escolha dos
exercícios. Foi percebida uma limitação dos estudos encontrados quanto aos músculos escolhidos
para serem analisados e ainda no que se refere às variações de treinamento, sendo utilizados apenas
os exercícios de extensão unilateral de joelho e agachamento com e sem salto no grupamento
muscular do quadríceps. Portanto, tornam-se necessários novos estudos acerca deste tema para que
seja possível a identificação dos melhores protocolos de treinamento que contemplem regiões
especificas de cada músculo, sendo possível utilizar esses protocolos para fins estéticos ou mesmo
para correção de assimetrias musculares.

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REFERÊNCIAS

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ACSM American College of Sports Medicine

AM Arquitetura Muscular

AST Área de Secção Transversal

ATM Ativação Muscular

HME Hipertrofia do Músculo Esquelético

HL-RT Treinamento convencional sem restrição do fluxo sanguíneo

HS-P Agachamento com profundidade até a coxa ficar paralela ao solo

JS-P Agachamento com salto

LL-BRF Treinamento com restrição de fluxo sanguíneo

RF Reto Femoral

RM Ressonância Magnética

TF Treinamento de Força

VI Vasto Intermédio

VL Vasto Lateral

VM Vasto Medial

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fluxograma.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Pontuação escala PEDro.


Estudos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Total
EARP et al. (2015) 1 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 7
MATTA et al. (2014) 1 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 7
SHIROMARU et al. (2019) 1 1 0 1 0 0 0 0 1 1 1 6
WAKAHARA et al. (2018) 1 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 7

Quadro 2. Protocolos de treinamento utilizados nos artigos selecionados.


Exercício
Indivíduos / Descanso
Autor e Ano Período e Frequência Multiarticular / Movimento / Séries Carga
Condição Física entre as séries
Uniarticular Exercício
Grupo 1 –
Agachamento,
profundidade
paralela; Grupo 1 – Carga
Grupo 2 – entre 75% a 90%
36 homens /
EARP, et al. 3 vezes por semana, Agachamento com de 1 RM;
Fisicamente Multiarticular – –
(2015) durante 8 semanas salto, profundidade Grupo 2 e 3 –
ativos
paralela; Carga entre 0% a
Grupo 3 – 30% de 1 RM
Agachamento com
salto, profundidade
voluntária
Grupo 1 – 3 séries
Extensão de joelho de 9 a 11
MATTA, et al. 35 homens / 2 vezes por semana,
Uniarticular unilateral na repetições; – 60 segundos
(2014) Pouco treinados durante 14 semanas
máquina Grupo 2 – 3 séries
de 10 repetições

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AUSÊNCIA DE UNIFORMIDADE NA HIPERTROFIA MUSCULAR APÓS TREINAMENTOS DE RESISTÊNCIA: uma revisão sistemática

com velocidade
controlada.

Grupo 1 – 2 vezes Grupo 1 – 3 séries


por semana, durante de 10 repetições; Grupo 1 – Carga
Extensão de joelho
SHIROMARU, 15 homens / 6 semanas Grupo 2 – 3 séries 80% de 1 RM;
Uniarticular unilateral na 60 segundos
et al. (2018) Sedentários Grupo 2 – 4 vezes de 15 repetições Grupo 2 – Carga
máquina
por semana, durante com oclusão 30% de 1 RM
3 semanas vascular.
21 homens /
Extensão de joelho
WAKAHARA, Sedentários ou 3 vezes por semana, 5 séries de 8 Carga 80% de 1
Uniarticular unilateral na 90 segundos
et al. (2018) recreativamente durante 12 semanas repetições RM
máquina
ativos
Legenda: RM = repetição máxima

Quadro 3. Resultados.

Número de partes
Músculo Método de
Autor e Ano Porções estudadas estudadas de cada Resultados
estudado avaliação
porção

HS-P maior hipertrofia nas


porções VI e VM;
Vasto Lateral,
JS-P maior hipertrofia nas
EARP, et al. Vasto Intermédio,
Quadríceps 3 Ultrassonografia porções VL e RF;
(2015) Vasto Medial e Reto
Femoral *hipertrofia das regiões
especifica de cada porção do
quadríceps na tabela 1.
Maior hipertrofia do RF para a
MATTA, et al. região distal do que na proximal
Quadríceps Reto Femoral 2 Ultrassonografia
(2014) em ambos os protocolos de
treinamento.

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Vasto Lateral, Grupo HL-RT maior hipertrofia


SHIROMARU, Vasto Intermédio, Ressonância para as porções VI e VM;
Quadríceps 1
et al. (2018) Vasto Medial e Reto Magnética Grupo LL-BRF maior
Femoral hipertrofia para RF e VL.
Maior hipertrofia para o RF que
as outras porções;
Vasto Lateral,
O RF hipertrofiou mais na
WAKAHARA, Vasto Intermédio, Ressonância
Quadríceps 2 região distal que na proximal;
et al. (2018) Vasto Medial e Reto Magnética
Femoral VM, VL, VI não apresentaram
diferenças significativas entre as
regiões distais e proximais.
Legenda: HS-P= Agachamento com profundidade até a coxa ficar paralela ao solo. JS-P= Agachamento com salto. VI= Vasto Intermédio. VM= Vasto
Medial. VL= Vasto Lateral. RF= Reto Femoral. HL-RT= Treinamento convencional sem restrição do fluxo sanguíneo. LL-BRF= Treinamento com
restrição de fluxo sanguíneo.

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TREINAMENTOS DE RESISTÊNCIA: uma revisão sistemática

LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Mudança hipertrófica de cada região especifica do músculo do quadríceps e suas de
acordo com a variação da AST após 8 semanas de treinamento.
Variação da porcentagem (%) de HME após 8 semanas
Grupo HS-P Grupo JS-P
Vasto Lateral Distal 15,0 25,8*
Medial 10,4* 18,1*
Proximal 17,1* 12,8
Vasto Intermédio Distal 14,8 20,1*
Medial 17,0* 10,5*
Proximal 21,5* 10,6
Vasto Medial Distal 17,8* 13,15*
Medial 20,2* 14,0
Proximal 9,8 14,0
Reto Femoral Distal 0,0 26,3*
Medial -2,9 8,2
Proximal 3,3 8,3
Distal 15,4* 18,8*
Quadríceps Medial 13,3* 13,6*
Proximal 15,4* 11,5*
*Mudança significativa em relação ao grupo controle.
Tabela adaptada de Earp et al. (2015).

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