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Belo Horizonte
2007
FABIOLA MARIA SILVA LEAL
Orientadora:
Profª. Drª. Ev’Ângela Batista Rodrigues
de Barros
2
FABÍOLA MARIA SILVA LEAL
3
AGRADECIMENTOS
4
A certeza
De que estamos sempre
começando,
a certeza
de que é preciso continuar,
e a certeza
de que podemos ser interrompidos
antes de continuarmos.
Fazer da interrupção
um caminho novo,
da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte,
da procura um encontro.
Fernando Sabino
5
RESUMO
Este trabalho busca respostas para a identificação das práticas avaliativas em Educação
Física e de que forma os alunos da escola pública em geral e, da região de abrangência
da pesquisa, especificamente, podem participar deste processo com naturalidade.
Entende-se que o aluno que passe por uma avaliação condizente com sua própria
condição psicomotora, cognitiva e sócio-afetiva tende a melhorar e a participar mais das
mudanças que ocorrem em seu corpo e em sua área sócio-afetiva, se tornando no futuro
um ser humano que sabe lutar por si mesmo. Assim, a Educação Física, isto é, o esporte
escolar, pode contribuir para a formação de cidadãos.
De acordo com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação do Brasil – LDB n.º
9.394/96 – a avaliação permanente e qualitativa deve ser contemplada na Educação
Básica, nos níveis Fundamental e Médio, de modo contínuo e cumulativo, retratando o
desenvolvimento do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre as eventuais provas finais.
6
SUMÁRIO
1. Introdução..................................................................................................................08
1.1 Objetivo Geral........................................................................................................09
1.2 Objetivos Específicos.............................................................................................09
1.3 Justificativa.............................................................................................................09
1.4 Delimitação.............................................................................................................09
1.5 Hipóteses................................................................................................................09
2. Revisão de literatura.................................................................................................10
2.1 A educação Física como disciplina........................................................................10
2.2 Avaliação................................................................................................................13
2.3 A Avaliação e a Educação Física...........................................................................19
2.4 A Avaliação e a LDB..............................................................................................25
2.5 A avaliação na Educação Física e os PCNs............................................................26
2.6 A Educação Física e a diversidade cultural............................................................29
2.7 Desafios de propostas multiculturais na Educação Física......................................31
3. Metodologia................................................................................................................34
3.1 Amostra..................................................................................................................34
3.2 Instrumentos...........................................................................................................34
3.3 Procedimentos........................................................................................................34
3.4 Cuidados éticos.......................................................................................................35
3.5 Tratamento dos dados.............................................................................................35
4. Resultados e discussão...............................................................................................36
5. Conclusão...................................................................................................................52
6. Referências bibliográficas.........................................................................................54
7. Apêndice ....................................................................................................................57
7
AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
1. INTRODUÇÃO
A Educação Física escolar tem dificuldade em criar um sistema de avaliação único, pois
é uma disciplina completamente diferente das demais, que utilizam de avaliações
teóricas para mensurar o conhecimento do aluno. Na Educação Física escolar, o
conhecimento é construído pela apropriação de técnicas corporais e pela criação de
movimentos, o que dificulta muito a avaliação por parte do professor (cf. BETTI, 1995).
No caso da Educação Física, nenhuma prática pode ser destituída de uma teoria
explicativa, pois, caso contrário, a aula simplesmente se transformaria em um recreio
prolongado. Por mais lúdica que seja a prática de Educação Física, ela sempre deve ter
seus objetivos, mesmo que estes sejam imperceptíveis aos alunos e a quem observa a
aula.
8
Apresento, a seguir, os objetivos e demais aspectos norteadores deste trabalho de
pesquisa que ora se apresenta:
1.3 Justificativa
O presente trabalho justifica-se pela necessidade de uma prática avaliativa que atenda às
necessidades do professor e à realidade dos alunos e, que possa contribuir para a
formação global dos estudantes, uma vez que a Educação Física, apesar de ser
vislumbrada pela boa perspectiva da cultura corporal de movimento, pode também ser
de grande valia na construção do ser humano como um todo, na formação de pessoas
com melhor auto-estima. Para atender a tal propósito, a avaliação deve ser criteriosa em
todo o seu processo.
1.4 Delimitação
1.5 Hipóteses
2. REVISÃO DE LITERATURA
10
De acordo com Betti (1995), desde a década de 60, os profissionais do ramo vêm
reivindicando o status de ciências através dos laboratórios de fisiologia do exercício:
Hoje, contudo, ainda sofremos atos autoritários das estruturas governamentais sobre
nossa prática junto ao sistema educacional, que supervaloriza a competição, além da
prática inescrupulosa de profissionais que se sujeitam a estruturas inadequadas e fora
das normas legais das escolas do sistema privado. De acordo com FERREIRA (2000,
p.97), “esta estrutura desorganizada é imprópria para o ambiente escolar, pois utiliza as
mesmas regras do desporto oficial, valorizam a vitória e, muitas vezes, descamba para a
violência”.
11
De acordo com Betti (1995, p.25), o principal erro cometido pelos professores de
Educação Física está antes de tudo na formação que ainda se oferece dentro das escolas.
O que estamos vendo acontecer com freqüência é a redução do número de aulas de
Educação Física na grade curricular, sobretudo da área no ensino de segundo grau das
escolas e, quando estas existem, apenas algumas modalidades esportivas são difundidas,
como o futebol, basquetebol e voleibol.
Por outro lado, quando se visualiza uma Educação Física preocupada com a criança e
com o jovem que tem que ser competente no mundo atual, e mais ainda, tem que se
saber cidadão, então começa a se falar de conquistar um espaço sólido na sociedade
escolar. O esporte passou a ser o conteúdo hegemônico da Educação Física. Sentidos
tais como o expressivo, o criativo e o comunicativo, que se manifestam em outras
atividades de movimento, não são explorados quando o conteúdo é apenas o esportivo
(cf. BETTI, op.cit)
12
A distinção entre os três tipos de conteúdos e a sua inclusão nas propostas curriculares
encerra, assim, uma mensagem pedagógica importante. Entre outras coisas, supõe uma
tentativa de romper com a prática habitual, justificadamente denunciada em inúmeras
ocasiões, de um ensino centrado excessivamente na memorização mais ou menos
repetitiva de fatos e na assimilação mais ou menos compreensível de conceitos e
sistemas conceituais. Mas supõe também, conforme Coll (op.cit, p.15), o que poderia
ser ainda mais importante, uma tentativa de acabar com uma certa tradição pedagógica
que, de forma totalmente injustificada, exclui do ensino sistemático um certo tipo de
formas e conhecimentos culturais, cuja importância está fora de qualquer dúvida e cuja
assimilação é deixada inteiramente a única e exclusiva responsabilidade dos alunos.
2.2 Avaliação
Assim, observa-se que a avaliação não é um fim, mas um meio. Para Piletti, ela é um
meio que permite verificar até que ponto os objetivos estão sendo alcançados,
identificando os alunos que necessitam de atenção individual e reformulando o trabalho
13
com a adoção de procedimentos que possibilitem sanar as deficiências identificadas.
Sendo um processo contínuo, não é algo que termine num determinado momento,
embora possa ser estabelecido um tempo para realizá-la.
Segundo ESTEVES (1972, p.15),
Vejamos a definição de avaliação de Wrighstone, citado por Esteves (1972, p.16) que,
além de sintetizar o assunto, centraliza o problema da avaliação em torno da criança:
Para que a avaliação adquira a importância que realmente tem no processo ensino-
aprendizagem, é necessário seguir alguns princípios básicos: O primeiro passo consiste
em estabelecer se vai avaliar o aproveitamento, a inteligência, o desenvolvimento sócio-
emocional, etc. Em seguida, selecionar técnicas adequadas para avaliar o que se
14
pretende avaliar, uma vez que nem todas as técnicas e instrumentos são adequados aos
mesmos fins. Faz-se necessário utilizar, na avaliação, uma variedade de técnicas. Para
se ter um quadro mais completo do desenvolvimento do aluno, é preciso utilizar uma
série de técnicas, as que sirvam para avaliar aspectos quantitativos e as que sirvam para
avaliar aspectos qualitativos. É fundamental ter consciência das possibilidades e
limitações das técnicas de avaliação. Segundo TURRA (1982, p.188),
Para este autor, também a avaliação é um meio para alcançar fins e não um fim em si
mesma:
A tarefa de avaliação deve começar no primeiro dia de aula. Logo que os alunos chegam
à escola, o professor deve começar a avaliá-los. Só assim poderá adquirir informações
diretas, imprescindíveis e valiosas para planejar o seu trabalho. O trabalho do professor
será tanto mais eficiente quanto mais estiver calcado em dados reais, em informações
acumuladas sobre os alunos. O professor deve procurar conseguir essas informações
através de todos os meios que estejam ao seu alcance: entrevistas com os alunos,
15
observação do comportamento, entrevistas com pessoas que conheçam o aluno, leitura
de fichas informativas sobre o aluno, etc.
O processo avaliativo passa por etapas. É fundamental que se tenha o objetivo claro do
que se irá avaliar. Saber o que vai se avaliar é básico para que se possam desenvolver as
16
etapas posteriores. Assim, devem ser estabelecidos os critérios e as condições para a
avaliação.
17
d) “análise — refere-se à habilidade de desdobrar uma comunicação em seus elementos
ou partes constituintes”. Para alcançar esse objetivo o aluno deve usar habilidades
citadas nas categorias anteriores. Deve saber o que procurar e compreender os conceitos
envolvidos e aplicar os princípios;
18
Os resultados da avaliação somativa deverão ser utilizados, conforme Bloom, com as
seguintes finalidades:
• verificar até que ponto os objetivos foram alcançados, para eventualmente fazer um
replanejamento,
• promover os alunos, se eles tiverem alcançado os objetivos propostos,
• iniciar novo planejamento e estabelecer novos objetivos,
•retomar todo o planejamento, se os objetivos não tiverem sido atingidos
satisfatoriamente.
19
reprovação, tem contribuído para que os professores dessa área não avaliem o processo
ensino-aprendizagem de forma sistemática.
Segundo Soares (1992), surge, então, uma outra questão: para que avaliar? Avalia-se
ensino - para detectar, ao longo do processo limites /dificuldades que precisam ser
superadas pelos professores, alunos, escola, pais, bem como os avanços já conquistados.
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coletivo. Nessa lógica de avaliação, as dificuldades passam a ser ponto de partida para a
culturais e esportivos. Neste sentido, ela serve para selecionar ou excluir, aprovar ou
reprovar.
todos aqueles que estão comprometidos com a melhoria do ensino da Educação Física.
É importante ressaltar que a escola possui instâncias e momentos específicos para que
21
Avalia-se coletando dados e informações acerca do processo ensino-aprendizagem,
utilizando diversos instrumentos: observações sistemáticas (registros, relatórios, fichas
avaliativas), entrevistas escritas e orais (aulas dialogadas com registro), questionários,
vídeos, fotos, testes, provas escritas e orais, auto-avaliação, pesquisas, debates,
seminários, interpretação de desenhos, dentre outros. Cada um desses instrumentos
possui especificidades quanto à sua utilização. (Uma vez coletados, os dados precisam
ser organizados, categorizados e analisados, de forma tal que professores, alunos,
escola, família, possam fazer uma leitura crítica dos seus significados).
A análise dos dados deve ser feita à luz de referenciais, isto é, de critérios (padrões de
desempenho, conduta, atitude) previamente estabelecidos em coerência com os
objetivos e princípios norteadores. Esses critérios é que permitirão fazer um julgamento
de valor (ótimo, bom, regular, ruim, baixo ou alto, aprovado ou reprovado, rápido ou
lento, apto ou inapto) acerca do nível de aprendizagem e desempenho do aluno e
também do professor. Esse conjunto de informações subsidiará a tomada de decisão do
professor acerca da aprendizagem do aluno e do redimensionamento, ou não, de suas
ações pedagógicas.
Assim, teremos respostas para perguntas como: O que o aluno aprendeu? Em que
nível? O que ele ainda precisa aprender? O que se conseguiu ensinar? O que é preciso
fazer para melhorar a prática pedagógica? O que precisa ser modificado no processo
ensino-aprendizagem?
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Os resultados da avaliação precisam ser compartilhados com todos os envolvidos, para
que os limites, necessidades e avanços no processo educativo como um todo, sejam
identificados na perspectiva de redimensionamento e melhoria do ensino.
Ainda, segundo o autor citado, depois do modelo tecnicista, nunca houve um consenso
quanto à avaliação. Alguns professores exigem trabalhos teóricos em que são cobradas,
na maioria dos casos, progressões pedagógicas, sistemas técnico-táticos e,
principalmente, a história das modalidades esportivas. Mas esse tipo de avaliação é
falho porque, com a série de recursos disponíveis na Internet, os alunos podem
facilmente produzir um trabalho sem sequer ler o conteúdo que foi solicitado. Além
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disso, esse método leva ao mesmo erro do modelo tecnicista: centrar as aulas de
Educação Física — que têm um amplo repertório de atividades ao seu dispor — em um
único conteúdo: os esportes.
Muitos dos modelos citados e criticados anteriormente podem ser usados, contanto que
não o sejam como padrão único e tampouco sem passar por uma reflexão prévia. Para
Resende (op.cit), as avaliações teóricas podem seguir a mesma linha: por meio de
questões dissertativas, pode-se exigir que o estudante reflita sobre a importância do
movimento na sua vida. E, se muitas vezes é inviável acompanhar o desenvolvimento
individual dos alunos, pode-se acompanhar o desenvolvimento geral, ou seja, da turma,
até mesmo reforçando o senso de colaboração, já que uma parcela da nota será coletiva.
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De qualquer forma, o mais importante é não negligenciar a importância da avaliação,
pois é por meio dela que o educando tem um controle do seu desenvolvimento e, assim,
sabe quanto ainda pode evoluir com relação aos movimentos e ao domínio e consciência
do corpo — quebrando os paradigmas de beleza pregados pela mídia e que envolvem,
muitas vezes, sofrimento e privações.
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VI – O controle da freqüência fica a cargo da escola, conforme o disposto em seu
regimento e nas normas dos respectivos sistemas de ensino, exigida a freqüência
mínima de 75% do total de horas letivas para aprovação; (BRASIL, 1996)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais consideram que a avaliação deve ser algo útil,
tanto para o aluno como para o professor, para que ambos possam dimensionar os
avanços e as dificuldades dentro do processo de ensino e aprendizagem e torná-lo cada
vez mais produtivo (BRASIL, 1997).
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Tradicionalmente, as avaliações dentro desta área se resumem a alguns testes de força,
resistência e flexibilidade, medindo apenas a aptidão física do aluno. O campo de
conhecimento contemplado por esta proposta vai além dos aspectos biofisiológicos.
Embora a aptidão possa ser um dos aspectos a serem avaliados, deve estar
contextualizada dentro dos conteúdos e objetivos, deve considerar que cada indivíduo é
diferente, que tem motivações e possibilidades pessoais. Não se trata mais daquela
avaliação padronizada que espera o mesmo resultado de todos. Isso significa dizer que,
por exemplo, se um dos objetivos é que o aluno conheça alguns dos seus limites e
possibilidades, a avaliação dos aspectos físicos estará relacionada a isso, de forma que o
aluno possa compreender sua função imediata, o contexto a que ela se refere e, de posse
dessa informação, traçar metas e melhorar o seu desempenho.
Além disso, os PCN de Educação Física preconizam que a aptidão física é um dos
aspectos a serem considerados para que esse objetivo seja alcançado: o conhecimento de
jogos, brincadeiras e outras atividades corporais, suas respectivas regras, estratégias e
habilidades envolvidas, o grau de independência para cuidar de si mesmo ou para
organizar brincadeiras, a forma de se relacionar com os colegas, entre outros, são
aspectos que permitem uma avaliação abrangente do processo de ensino e
aprendizagem.
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c) relação da Educação Física com saúde e qualidade de vida — é necessário verificar
como crianças e jovens relacionam elementos da cultura corporal aprendidos em
atividades físicas com um conceito mais amplo, de qualidade de vida.
Segundo os PCN, os critérios explicitados para cada um dos ciclos de escolaridade têm
por objetivo auxiliar o professor a avaliar seus alunos dentro desse processo, abarcando
suas múltiplas dimensões. Também buscam explicitar os conteúdos fundamentais para
que os alunos possam seguir aprendendo.
• interagir com seus colegas sem estigmatizar ou discriminar por razões físicas, sociais,
culturais ou de gênero: Pretende-se avaliar se o aluno reconhece e respeita as diferenças
individuais e se participa de atividades com seus colegas, auxiliando aqueles que têm
mais dificuldade e aceitando ajuda dos que têm mais competência.
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• estabelecer algumas relações entre a prática de atividades corporais e a melhora da
saúde individual e coletiva: Pretende-se avaliar se o aluno reconhece que os benefícios
para a saúde decorrem da realização de atividades corporais regulares, se tem critérios
para avaliar seu próprio avanço e se nota que esse avanço decore da perseverança,
O fracasso escolar tem sido, segundo Semprini (1999), uma das principais temáticas
para a origem da discussão em torno de uma maior aproximação entre educação e
cultura. Em várias partes do mundo, tem se constatado que crianças oriundas de grupos
minoritários, ou seja, crianças social, cultural ou etnicamente marginalizadas, têm um
rendimento escolar inferior a média das crianças de grupos culturalmente dominantes
em uma sociedade.
29
Diferença que até bem pouco tempo ficou ocultada pela força do discurso sobre a
igualdade. Com exceção da diferença de classe social, as demais questões são
relativamente novas, emergiram mais recentemente, tanto no campo das ciências sociais
quanto na reflexão educacional. A diferença é o nó central do multiculturalismo.
30
deles é o tema do respeito à diferença, e sua necessária articulação com o direito à
igualdade, que remete, essencialmente, a uma questão ética. Trata-se de como
considerar e relacionar com o outro, o diferente. Só é possível compreender quem se é
na medida em que se compreende o outro e se percebe compreendido por ele. O tema da
ética se articula com a identidade. Faz-se necessário articular igualdade e diferença a
fim de garantir a tolerância, o respeito e necessária articulação dessas temáticas,
principalmente na educação escolar. Igualdade e diferença afirmam a inclusão e a
abertura ao outro. Desigualdade e indiferença negam o outro, excluem-no,
desqualificam-no.
A Educação Física, salienta esse autor, é a porta que se abre para o multiculturalismo,
uma vez que abarca as mais diversas manifestações como ginásticas, exercícios físicos,
desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas
e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento
corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras
práticas corporais. Tem como propósito prestar serviços que favoreçam o
desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou
restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal
dos seus beneficiários, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da
consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de
acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais,
contribuindo ainda, para consecução da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da
solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a preservação do meio
ambiente, observado os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e
ética no atendimento individual e coletivo.
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A realidade nos impõe a necessidade de mudanças nos modelos metodológicos
existentes. É interessante proporcionar aos alunos oportunidades para desenvolver
competências estratégicas indispensáveis às novas realidades. Competências que
desenvolvam a capacidade de abstração e do pensamento sistêmico, ao contrário da
compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da
capacidade de pensar múltiplas alternativas para solução de um problema, ou seja, do
desenvolvimento do pensamento divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da
disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do
desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de
buscar conhecimento (cf. BRASIL, PCN, 1997).
32
importância de uma leitura adequada da realidade que possa se articular com um projeto
alternativo realizável. Maior desafio ainda é o de avaliar em uma proposta
multicultural., uma vez que tal proposta implica em lidar com a interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade, respeitando as práticas individuais, mas buscando integrar os
saberes construídos. Isso, ainda, não tem sido fácil na prática cotidiana da escola.
Tais princípios, que devem ser o foco de qualquer projeto pedagógico e curricular
de EDF, deverão ser cruciais ao estabelecimento de projetos interdisciplinares e da
construção de instrumentos adequados de avaliação.
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3. MÉTODO
3.1 Amostra:
A amostra foi composta por vinte professores da Rede Municipal de Ensino da regional
noroeste da cidade de Belo Horizonte.
3.2 Instrumentos:
3.3 Procedimentos:
Inicialmente, foram realizadas visitas nas escolas, (uma em cada uma das três escolas e
duas em uma outra), para os primeiros contatos com os professores de Educação Física,
solicitando-lhes a sua participação na pesquisa. Num segundo momento, foi levado o
questionário (anexo 1) para que cada um respondesse individualmente.Estas entrevistas
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foram realizadas no decorrer do 2º semestre de 2006, de acordo com a disponibilidade
do professor entrevistado. Foram entrevistados cinco professores de cada escola. O
professor entrevistado ficou em uma sala calma e silenciosa. A pesquisadora ficou ao
lado, para esclarecer qualquer dúvida, sem interferir nas respostas dos professores. Foi
necessária apenas uma sessão com cada entrevistado.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nunca 16 80%
Sempre 2 10%
80%
70%
60%
50% nunca
40% algumas vezes
30% sempre
20%
10%
0%
1ª Questão
A maioria dos professores não realiza avaliação diagnóstica (80%). Somente 10%
realizam algumas vezes e outros 10% realizam sempre. Este é um dado muito
significativo, pois aponta, então, um desconhecimento dos alunos, pelo professor, ao
fazer um planejamento das aulas.
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Como sabemos, a tarefa de avaliação deve começar no primeiro dia de aula. Logo que
os alunos chegam à escola, o professor deve começar a avaliá-los. Só assim poderá
adquirir informações diretas, imprescindíveis e valiosas para planejar o seu trabalho.
Nunca 0 0%
Sempre 15 75%
80%
70%
60%
50%
Nunca
40%
Algumas vezes
30%
Sempre
20%
10%
0%
2ª Questão
sempre. A maioria respondeu que realiza sempre devido às exigências escolares para
atitude pelo fato de que nem sempre se promove um aluno somente pelas suas notas.
37
Segundo LIBÂNEO (1999), o entendimento correto da avaliação consiste em considerar
Nunca 7 35%
Sempre 0 0%
70%
60%
50%
40% Nunca
30% Algumas vezes
Sempre
20%
10%
0%
3ª Questão
A avaliação formativa foi apontada como realizada algumas vezes por 65% dos
entrevistados e nunca por 35% dos mesmos. Nenhum afirmou realizá-la sempre. Os
formativa.
38
Segundo LIBÂNEO (1991, p.199), trata-se de grande equívoco tomar a avaliação
Nunca 0 0%
Algumas vezes 0 0%
Sempre 20 100%
100%
80%
60% Nunca
Algumas vezes
40%
Sempre
20%
0%
4ª Questão
aulas para avaliá-los. Este dado reflete a importância dada à observação pelos
39
Um programa de avaliação inclui a utilização dos instrumentos quantitativos e se
Rendimentos 0 0%
técnicos
Testes e provas 0 0%
Trabalhos, testes e 0 0%
provas
Atividades
continuadas durante 15 75%
o curso
Trabalhos, testes e
provas, juntamente
com atividades 5 25%
continuadas
durante o curso
Em relação aos procedimentos avaliativos: 75% afirmaram avaliar seus alunos através
40
correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões
60%
50%
Ao final do
40%
bimestre
30%
Ao final de cada
20% etapa do
processo
10%
0%
6ª Questão
A periodicidade da avaliação apurada foi que 45% a realizam ao final de cada bimestre
e 55% realizam ao final de cada etapa do processo. Estes dados indicam que ocorre uma
divisão de conceitos. A minoria colocou que avalia ao final de cada bimestre devido aos
41
procedimentos burocráticos escolares, o que indica uma avaliação somativa e que vai de
Comente.
O motor 1 5%
O cognitivo 1 5%
O sócio-afetivo 0 0%
O motor e o 2 10%
cognitivo
O cognitivo e o 3 15%
sócio-afetivo
O motor, o
cognitivo e o sócio- 10 50%
afetivo
aspecto motor apenas; 5% apenas para o aspecto cognitivo; 10% consideraram como
42
consideraram que os aspectos cognitivos e sócio-afetivos são igualmente importantes. Já
Verifica-se aqui que a opinião dos entrevistados se faz presente de forma bem próxima à
cognitivo.
O esporte passou a ser o conteúdo hegemônico da Educação Física. Sentidos tais como
movimento, não são explorados quando o conteúdo é apenas o esportivo. (cf. BETTI,
1995, p.26).
Comente.
Nunca 0 0%
Sempre 16 80%
43
TABELA 8: Outros elementos do processo educativo
80%
70%
60%
50%
Nunca
40%
Algumas vezes
30%
Sempre
20%
10%
0%
8ª Questão
educativo (espaço físico, material didático e contexto sócio-cultural), foi apontado por
80% que sempre e por 20% que algumas vezes. Segundo a maioria dos professores, é
notório que o envolvimento dos alunos com a aula aumenta quando se tem bolas novas
ou ele está calçando um tênis novo. Porém os outros professores que às vezes levam em
consideração estes outros elementos, só consideram quando percebem que o aluno está
mal alimentado, pois quanto à motivação eles justificaram que isto independe das
Nunca 0 0%
Sempre 16 80%
44
TABELA 9: Resultados e nível de conhecimento dos alunos
80%
70%
60%
50%
Nunca
40%
Algumas vezes
30%
Sempre
20%
10%
0%
9ª Questão
Nos aspectos relativos aos resultados das avaliações, os professores apontaram que: a
maioria, 80%, os analisa sempre para saber o nível de conhecimento dos alunos e só
saber como está o nível de conhecimentos dos alunos, mas 20% da amostra consideram
o processo avaliativo falho e por isso nem sempre utiliza dos resultados.
Segundo Turra (1982), a avaliação é um meio para alcançar fins e não um fim em si
que a escola, os professores e os alunos retomem com mais clareza e atenção esse
princípio. Isso implica atribuir à avaliação seu verdadeiro papel, ou seja, de que deve
45
O entendimento errôneo e a desobediência a esse princípio tem sido, em grande parte,
sobretudo, da falta de motivação para aprender, por parte de alunos. Tal entendimento
Nunca 0 0%
Sempre 17 85%
90%
80%
70%
60%
50% Nunca
40% Algumas vezes
30% Sempre
20%
10%
0%
10ª Questão
46
Da amostra em questão, 85% dos professores sempre utilizam os resultados com a
Nas questões 9 e 10, como são similares, pode-se observar uma grande preocupação
Sabemos que a avaliação é um meio que permite verificar até que ponto os objetivos
deficiências identificadas – isso não pode ser perdido de vista no dia-a-dia escolar.
QUESTÃO 11: Você analisa os resultados da avaliação para saber como os alunos
Comente.
Nunca 14 70%
Sempre 2 10%
47
70%
60%
50%
40% Nunca
30% Algumas vezes
Sempre
20%
10%
0%
11ª Questão
aprenderam para inserir o conhecimento na sua realidade de vida, 70% afirmaram que
nunca o fazem. Outros 20% disseram que realizam às vezes e somente 10% afirmaram
ou voleibol.
Estes são dados preocupantes, que retratam um limite de preocupação ou até mesmo de
atuação dos professores, que não estão pensando na importância da Educação Física
mas a permitir que o indivíduo se aproprie dela criticamente, para poder efetivamente
48
QUESTÃO 12: Você analisa os resultados da avaliação para verificar o
Nunca 0 0%
Sempre 9 45%
60%
50%
40%
Nunca
30% Algumas vezes
20% Sempre
10%
0%
12ª Questão
Pode-se observar nesta questão que 45% dos entrevistados sempre ajustam suas aulas de
acordo com os resultados avaliativos e que os demais 55% o fazem algumas vezes. Os
professores que sempre adaptam suas aulas disseram que esse ajuste é importante para
que os objetivos sejam alcançados. Já os demais 55% comentaram que nem sempre é
possível redirecionar uma proposta de trabalho, pois além de terem que cumprir o
QUESTÃO 13: Você procura realizar avaliações do seu trabalho como professor
49
Respostas Quantidade Percentual
Nunca 0 0%
Algumas vezes 0 0%
Sempre 20 100%
100%
80%
60% Nunca
Algumas vezes
40%
Sempre
20%
0%
13ª Questão
QUESTAO 14: Descreva outras formas avaliativas e também outros aspectos que
você realiza ou considera importantes e que não foram abordados nas questões
anteriores:
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criatividade para apresentações livres, uso adequado do uniforme, “responsabilidade
De acordo com Minas Gerais (2004), no aspecto resultados do processo avaliativo, fica
marcada uma grande questão: o que avaliar, como avaliar, quando avaliar e para que
avaliar. Há múltiplas formas e objetivos que algumas vezes são conflitantes. como
vimos no capítulo dois, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) indicam três focos
vista.
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5. CONCLUSÃO
Assim, a avaliação merece uma atenção especial, uma vez que desempenha diversas
funções e serve a vários objetivos, não só para os alunos, como para os professores, para
a instituição escolar, a família e o sistema social. Possibilita a criação de uma cultura de
responsabilidade pelos resultados, utilizando-os em ações de realimentação e
ressignificação das práticas educativas escolares e políticas educacionais.
Tendo como referencial esta pesquisa realizada na Rede Pública de Ensino da cidade de
Belo Horizonte, pode-se concluir que a avaliação em Educação Física precisa ser
discutida de maneira mais crítica, assim como os novos referencias teóricos precisam
perpassar o cotidiano dos professores. Através da pesquisa, verificou-se que existe a
avaliação, mas esta vem sendo realizada arbitrariamente, de acordo com as próprias
idéias dos professores, atribuindo notas e conceitos de forma diversificada e com caráter
classificatório, levando em conta sua formação e experiência estudantil, além do que é
cobrado pela escola como uma prática que, muitas vezes, não passa pela reflexão,
apenas se torna recorrente no cotidiano escolar.
Observou-se também que a maioria dos professores tem consciência de que o processo
avaliativo deve ser voltado para a valorização do corpo como um todo, sempre tentando
responder às questões: o quê, como, quando e para quê avaliar, mas que infelizmente
eles não estão colocando em prática. A pesquisa está em consonância com o que se
analisa de modo geral na avaliação em Educação Física e, infelizmente, não foram
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apuradas práticas avaliativas com métodos alternativos que contribuíssem para a
valorização da Educação Física dentro do contexto educacional.
Não se pode dizer que exista um modelo ideal de avaliação em Educação Física. O
importante é reconhecer que, qualquer que seja a prática e a avaliação feita, existem por
de trás objetivos e uma intenção pedagógica. Além disso, não se pode perder de vista os
princípios metodológicos subjacentes à prática do esporte escolar, bem como a
contribuição de projetos governamentais (como o Programa Segundo Tempo), que
trazem ânimo novo às práticas escolares, propiciando oportunidades de ação / reflexão /
ação qualitativa para obtenção dos objetivos a que se propôs a equipe da escola. Todo
esse processo deve ser a linha mestra para um processo avaliativo coerente com a
prática adotada na escola em questão (considerando que cada realidade é multifacetada,
prenhe de questões culturais, sócio-políticas e econômicas específicas).
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BETTI, Mauro. A educação Física não é mais aquela. Artigo. Motriz- v. 1. n. 1, 1995.
BETTI, Irene Conceição Rangel. Esporte na escola: mas é só isso, professor? Artigo.
Motriz- Volume 1. número 1, junho de 1995.
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LIBÂNEO, José Carlos. O Essencial e a Didática e o Trabalho de Professor: Em Busca
de Novos Caminhos. Goiânia: UCG, s/d, 1994.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Série Idéias .São Paulo: FDE, 1992. n. 15, p. 115-125.
PILETTI, Claudino. Didática Geral. São Paulo: Ática, 23ª Ed., 2004.
SOARES, Carmem Lúcia S. et. al. Metodologia do ensino de Educação Física. São
Paulo: Cortez, 1992.
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SOUZA, Eustáquia S. de e VAGO, Tarcísio M. O ensino da educação física em face da
nova LDB. In: CBCE (Org.) Educação física frente à LDB e aos PCNs: profissionais
analisam renovações e modismos e interesses. Ijuí: Serigraf, 1997. In: NASCIMENTO,
E. Uma visão da avaliação qualitativa no processo de ensino e aprendizagem da
Educação Física Escola no Ensino Fundamental. Anais do Congresso da Universidade
de Itaúna/MG, 2003.
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APÊNDICE
QUESTIONARIO
Questionário de pesquisa
4) Durante suas aulas você observa e anota o comportamento de seus alunos para avaliá-
los? Comente.
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5) Como você avalia seus alunos:
( ) o motor
( ) o cognitivo
( ) o sócio-afetivo
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10) Através dos resultados da avaliação você verifica se os objetivos propostos foram
alcançados? Comente.
11) Você analisa os resultados da avaliação para saber como os alunos estão utilizando
o que aprenderam para se inserirem na sua realidade de vida? Comente.
12) Você analisa os resultados da avaliação para verificar o desenvolvimento dos alunos
e ajustar as aulas às suas necessidades? Comente.
13) Você procura realizar avaliações do seu trabalho como professor além das
avaliações que faz dos alunos? Comente.
14) Descreva outras formas avaliativas e também outros aspectos que você realiza ou
considera importantes e que não foram abordados nas questões anteriores:
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