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Instituto Cultural Lux et Sapientia

Curso de Cosmologia e Astrologia Medieval

Prof. Luiz Gonzaga de Carvalho

Aula 01

Tópicos da aula:

Como entender o simbolismo astrológico. Saber usar uma palavra como um indicador concreto não é
indicação de uma compreensão do sentido da palavra. Existem – para a finalidade desse curso – dois usos
das palavras: como indicador concreto dos fenômenos que você testemunha e o uso dialético (Exemplo: o
que é a Lua?). Educação real vs. recrutamento profissional nas escolas; Exposição do método de ensino
do curso; Comentários sobre vocação intelectual e depuração dialética. Problemas enfrentados no ensino
da astrologia nos dias de hoje. Simbolismo das três cores primárias. Teoria geral do simbolismo. O
universo como discurso de uma mente ilimitada. Relação entre os signos cardinais, fixos e mutáveis e o
simbolismo das cores primárias. Relação dos signos com as estações do ano e seus períodos. Diferença
das estações entre os Hemisférios Norte e Sul. Diferença entre Essência e Substância. A importância de
perceber e entender as qualidades dos símbolos nas coisas. A liberdade do homem. A importância da
prática de uma religião tradicional para manter mente sã.

Transcrição da aula:

Gugu: Bom, gente, vamos lá. Vocês provavelmente já tiveram uma introdução geral sobre esse assunto no
mês passado. Hoje vamos começar primeiro explicando o método do curso e como ele funciona. Ensinar
astrologia, hoje, é uma das tarefas mais complicadas que se pode imaginar - com exceção, talvez, da
teologia, que estávamos comentando agora há pouco antes da aula. Isso porque, para você entender o
simbolismo astrológico, você tem que entender de que objeto está falando quando diz que eles possuem
um simbolismo. Vocês dizem assim: “O signo de leão, o signo de peixes, o signo de virgem...” Há vários
animais representando esses símbolos. Falam também da influência de Júpiter, da influência da Lua...
Mas o que é um leão? O que é um peixe? O que é Júpiter? O que é Lua? O fato de sabermos utilizar uma
palavra como um indicador concreto de algo, não é indicação da compreensão do sentido da palavra. É
claro que, se eu perguntar o que é um peixe, você me apontará um peixe e não um alface - com Júpiter
talvez isso não ocorra, pois, provavelmente, vocês não sabem olhar para o céu e apontar Júpiter; mas o
Sol e a Lua vocês não apontarão errado. E se eu perguntar: O que é a Lua? Agora me expliquem o que é a
Lua.

Aluno: Satélite que orbita o planeta Terra.

Gugu: Essa explicação tem duas partes – “satélite que orbita a Terra”: 1) “satélite” é o gênero da coisa; 2)
e “orbita a Terra” é a diferença específica desse satélite. O que é um satélite?

Aluno: Aquilo que orbita alguma coisa.

Gugu: Quando falamos cidade satélite, essa cidade gira em torno das outras?

Aluno: [Inaudível] influência de um determinado centro.

Gugu: Mas isso que vocês queriam dizer quando disseram “satélite que orbita a Terra” - se referindo à
Lua... Vocês queriam dizer que a Lua estava sobre influência da Terra ou subordinada à Terra? Não.
Quando vocês usaram satélite da primeira vez, foi no sentido astronômico - um corpo que gira em torno
de outro. Quando falaram em cidade, já não falavam mais de girar; estavam falando de dependência
econômica e/ou política. Deu para perceber? A palavra satélite foi usada em ambos os casos como o
indicador concreto de um fenômeno. A Lua é um satélite da Terra, é verdade - todas as palavras estão
sendo usadas de maneira perfeitamente adequada. Diz aí uma cidade satélite de São Paulo...
Aluno: Campinas.

Gugu: Campinas é uma cidade satélite de São Paulo. A palavra satélite também foi usada de maneira
adequada aí, só que satélite com sentido diferente. Deu para perceber? A palavra foi aplicada
corretamente, só que ela não é suficiente para indicar a compreensão do fenômeno ao qual se refere. Ela é
uma indicação suficiente, uma indicação concreta. É como dizer que “quem disse tal coisa foi John
Lennon” - a palavra John Lennon tem um significado concreto e prático, você dificilmente o confundiria
com a rainha da Inglaterra; você não o confundiria com o Saddam Hussein; isso não quer dizer que você
não conheça a pessoa, desde que você saiba quem ele é como pessoa. Quando eu falo que “a Lua é o
satélite da Terra”, essa é uma indicação concreta e correta de algo. Mas essas palavras não te ajudaram a
compreender o fenômeno, apenas o indicou concretamente.

Aluno: Indica para quem já sabe

Gugu: Exatamente, a primeira coisa que devemos aprender nesse curso é que existem dois usos das
palavras - existe um terceiro, mas é irrelevante para esse curso. 1) Primeiro, a palavra como indicação
concreta dos fenômenos que você testemunha. Por exemplo: “A sala tem uma parede branca.” Não estou
falando da filosofia da brancura, sobre o que é o fenômeno da brancura. Quando digo “parede branca”,
indiquei apenas um fenômeno concreto. Não ajudei vocês a compreenderem o que é isso. Só indiquei a
existência do fenômeno. 2) O outro uso é o uso dialético das palavras como um instrumento de
compreensão dos objetos. Por exemplo, quando o sujeito fala: “O homem é um animal racional.” Isso não
dá nenhuma indicação concreta de onde está o homem. Percebeu?

Aluno: É a essência do homem

Gugu: Exatamente. As palavras animal e racional servem para indicar não uma percepção bruta, mas o
resultado de uma análise interna do objeto.

Aluno: No primeiro caso é um indicativo.

Gugu: Isso, exatamente. Falar em idéia não é muito adequado, porque todas as palavras se referem a
idéias. Mas em um caso nos referimos ao fato imediato da experiência; no outro, àquilo que discernimos
no fato depois de investigá-lo. Se eu falo que “a Lua é o satélite natural da Terra”, isso é o suficiente para
eu olhar no céu e identificar qual dos pontinhos é a Lua. Mas não explica o que é a Lua, apenas me deu
uma definição concreta. Se eu fizer um esforço para fazer uma definição aproximada de algo, sem dizer o
que ele é, fica complicado dizer o seu simbolismo. Dizer o que um objeto simboliza é dizer com o que ele
se parece. Simbolismo é um tipo de semelhança entre duas coisas. Antes de dizer com o que essa coisa se
parece, é preciso dizer o que ela é. Depois eu posso pegar essas duas coisas – “o que é isso aqui, o que
isto aqui indica” - e usar esses dois tipos de conhecimento para constituir uma técnica de interpretação.
No mapa, a Lua significa isso, numa questão horária a Lua significa tal coisa e assim por diante. Na
astrologia significa isso. É simples, o significado astrológico da Lua é uma parte do seu simbolismo. E o
seu simbolismo é derivado do que ela é. Vamos um pouco além. A Lua é um satélite da Terra. O que eu
quero dizer com a palavra satélite nesse caso?

Aluno: Nesse caso é a realidade astronômica.

Gugu: E o Sol, ele é o satélite da Terra? Mas ele não gira em volta da Terra todo dia?

Aluno: Ela [a Lua] tem fases.

Gugu: Então satélite é algo que tem fases?

Aluno: Não teria sido melhor evitar a palavra satélite e dizer “um corpo luminoso que veio do céu”?

Gugu: Exatamente! Qual foi o problema aí? Quando usei a palavra satélite, ela já indica uma teoria
astronômica subjacente - já é parte de um discurso astronômico subjacente -, não é o que você sabe da
Lua. O que você sabe sobre a Lua?

Aluno: É um ponto celeste que é possível ver da Terra. Possui várias fases. E quando a sombra dela se
muda você percebe que ela está ocupando diferentes posições.
Gugu: Celeste... Concordo. Não vemos a Lua daqui do chão - ela nunca está no chão, está no máximo no
horizonte. Como você sabe que a Lua é um corpo sem fazer referência a uma teoria astronômica?

Aluno: A sombra da Terra pode ser projetada nela. Ela reflete luz, então tem que ter um corpo físico.

Gugu: Como você sabe que é a sombra da Terra que se projeta nela?

Aluno: Se eu vejo, é um indício.

Gugu: Uai, você pode ver uma coisa que não está lá?

Aluno: Você vê uma imagem, um disco luminoso no céu.

Gugu: Vamos começar, primeiramente, a listar a experiência da Lua. É uma imagem, é um objeto visível,
objeto da visão – isso é a primeira coisa. Eu percebo a Lua com a visão. Não a percebo com a audição,
nem com o paladar, nem com a inteligência. Os animais também vêem a Lua - os cachorros também a
vêem; os lobos também, e até possuem sentimentos específicos por ela que não entendemos.

Aluno: Mas e as marés?

Gugu: Calma, isso aí vem depois. Alguém primeiro teve que olhar a Lua para dizer que ela influenciava
nas marés. Alguém primeiro tem que perceber que existe a Lua antes de relacioná-la ao mar. Tem Lua. O
que é a Lua? Um disco branco no céu do mesmo tamanho que o Sol e que aparece à noite.

Aluno: Se mexe, cresce e diminui.

Gugu: Exatamente. Primeiro você deve listar as primeiras notícias, pois todas as outras dependem dessa.
Não pode haver uma teoria astronômica, uma teoria metafísica ou uma teoria filosófica que diga para
você que a Lua não é um disco branco no céu que aparece à noite. Isso aí vai desqualificar a teoria
imediatamente. O conjunto de notas sobre a Lua será: seu tamanho, sua forma, sua figura; sua cor, a luz
que emite e que enxergamos; como ela varia de tamanho ciclicamente, a variação mensal, o tempo de
demora entre uma Lua cheia e outra; etc. Sem especulação e sem teoria, a Lua é isso. A Lua é este
conjunto de dados e fatos da experiência.

Aluno: [Inaudível].

Gugu: Exatamente, as noticias a partir das quais você vai verificar toda e qualquer teoria. Nem todos os
astrólogos acreditavam que a Lua era um corpo, nem todos sabiam que ela causava as marés. Isso quer
dizer que esses elementos do conhecimento a respeito da Lua são irrelevantes do ponto de vista
astrológico - você não precisa dessas informações para derivar da Lua um conhecimento astrológico. É
igual ao número de informações que você pode adquirir a respeito de uma pessoa... Sua esposa possui
várias informações ao seu respeito que ninguém mais tem. Porém, você usa o testemunho dela quando
procura emprego? Ela possui um conhecimento sobre você maior do que o conhecimento de qualquer
patrão, mas o testemunho da sua esposa é descartado por ser irrelevante para esse problema.

Aluno: Com relação às marés, até se relaciona. Mas não pode substituir aqueles dados iniciais.

Gugu: Não pode substituir aqueles dados iniciais. Para saber se a Lua influencia as marés, preciso
conhecer a Lua - e sua posição - e as marés independentemente uma da outra. Se eu ver apenas as marés
subindo e descendo, independentemente da Lua, não poderei fazer uma relação entre as duas coisas. Eu
não identifico a Lua por meio das marés. O primeiro passo a se fazer é reduzir o objeto ao conjunto de
notas pelas quais você o identifica.

Aluno: Isso então é uma contemplação?

Gugu: Não, isso é uma lista, uma análise da percepção do objeto percebido.

Aluno: Uma fenomenologia...


Gugu: Sim, já é uma fenomenologia, já é um processo fenomenológico. Antes de formar qualquer
conjectura, preciso saber a respeito do que estou conjecturando e especulando. Se você pegar só esses
dados da Lua – seu brilho; ser um disco que cresce e diminui num ciclo de mais ou menos vinte e nove
dias e meio; e, como todas as estrelas, nasce no leste e se põe no oeste todos os dias -, apenas com essas
informações não dá para dizer que ela é um corpo.

Aluno: Essas coisas são quantitativas.

Gugu: Não é apenas quantitativo, pois ela tem um cor que causa um certo efeito em vocês. Você
reconheceu a Lua com sua percepção, sabe que ela não é o Sol – pode até ter dúvidas quanto a isso, mas
em alguns dias o Sol e a Lua estão visíveis no céu ao mesmo tempo e você conclui que não são os
mesmos. “A Lua é um corpo que reflete luz”... De onde você tirou essa conclusão com o tamanho dela,
com a cor dela e o ciclo dela? Como chegou a conclusão que ela reflete sombra? Devagar, isso vem
depois. Agora você vai listar o que realmente você apreende do objeto. O fato de o sujeito fazer uma
descrição da Lua que é baseada na descrição que ele aprendeu na escola, ou viu em algum vídeo, ou site...
Se você realmente fosse um astrofísico, aí saberia alguma coisa a respeito da Lua do ponto de vista dessas
teorias astronômicas. Mas você não sabe realmente isso.

Aluno: As pessoas têm quase uma fé religiosa nessas coisas.

Gugu: Isso não quer dizer que eles [os astrofísicos] estão mentindo. Mas é um voto de confiança, porque
acreditamos que as pessoas não são mentirosas - principalmente em relação à profissão delas. Agora, se
eu quero entender algo, tenho que partir do que sei desse algo; e não partir do que creio dele. O que você
sabe? No máximo sabe os dados sensíveis. É isso que deve ser listado: os dados sensíveis. E desses dados
teremos que montar um conceito de Lua. Esse conceito de Lua será o conceito astrológico básico. A
astrologia foi desenvolvida antes de saber se a Lua é um corpo ou não, se era um ser vivo ou não. Por
isso, esses dados teórico-astronômicos são irrelevantes para a ciência astrológica.

Aluno: Esses dados [sensíveis] são mais constantes.

Gugu: Eles são mais constantes porque são a base da astronomia.

Aluno: [Inaudível].

Gugu: Explicarei o porquê. Não existe educação na escola; existe apenas um processo de recrutamento
profissional. Por exemplo, há cem pessoas na sua sala de aula. Se você falar para alguém que a Lua gira
em torno da Terra por causa da força gravitacional, então alguém vai gostar e vai querer estudar isso aí.
Desse modo, haverá um número suficiente de astrônomos e físicos na sociedade. Você não falou que a
Lua gira em torno da Terra por causa da força gravitacional para ensinar uma coisa para ela, mas sim para
dar uma amostra grátis da profissão de astrônomo e de físico. Isso é recrutamento profissional. Você
aprende biologia não para entender os seres orgânicos, mas, para, talvez, despertar sua vontade de estudar
e trabalhar nisso.

Resumindo: uma sociedade moderna precisa de um certo número proporcional de profissionais de


diversos tipos para que a sociedade não colapse. Por exemplo, um advogado a cada mil e novecentos e
cinqüenta pessoas. Você não pode esperar as pessoas ficarem adultas para pensar no que vão trabalhar,
pois aí já é tarde demais para se estudar medicina ou física. Por que a primeira coisa que você aprende é
matemática? Simples, porque sua inteligência matemática caduca aos trinta anos de idade. Todas as
grandes obras da matemática foram escritas antes dos trinta anos de idade. Quando o cara tem inteligência
matemática? Entre os quinze e trinta anos, depois ela fixa e o cara dá apenas contribuições menores.

Na nossa teoria educacional, a universidade - ao menos em tese – é que educa. O primeiro e o segundo
grau são apenas recrutamento profissional - é para dar vontade de trabalhar em alguma coisa. Não é
brincadeira e não é um interesse oculto, é a teoria educacional moderna. Todos recebem na escola
informações básica de química, física, astronomia e biologia. Só que eles não deram isso daí com a
finalidade de te educar, não se iluda. Você não saiu sabendo mais que um analfabeto que não freqüentou a
escola. Se você estudou direito, há três coisas que você sabe melhor do que ele: ler escrever e fazer conta.
O que você aprendeu de química, física, biologia, astronomia, política e história, na verdade, você não
aprendeu nada. Você recebeu amostras para ver se alguma coisa interessava a você. Muitas pessoas
terminam o colegial com a impressão de que entenderam alguma coisa. Pura impressão, pois ele pensa
que estava na escola para compreender melhor as coisas. Isso é mentira, pura ilusão subjetiva.

Aluno: Na escola ele aprendeu muitas coisas também fora da aula, quer dizer [inaudível]...

Gugu: Exatamente, talvez também tenha aprendido a conviver com pessoas, tirar informações e
comunicá-las a elas.

Aluno: Apenas porque a escola está no mundo e não porque é escola.

Gugu: Exatamente, se todos estivessem no campo trabalhando, teriam aprendido essa parte do mesmo
jeito. Procure o dilema dos bons professores: por um lado tem que preencher um currículo dizendo o que
o sujeito aprendeu; mas, na verdade, a grande luta é achar dois alunos que se interessaram por esse
assunto. Porque esse é o propósito da escola. Quando um aluno tem aulas com um professor bom, eles
cursarão, na universidade, a mesma matéria que o professor ensina - ele usou os alunos, todas as aulas
foram uma perda de tempo. É ou não é?

Aluno: É, ele vai sair dali repetindo elementos do crédulo.

Gugu: Exatamente. O aluno acredita ter saído com conhecimento, mas isso é uma piada. Se o mundo
estivesse tão cheio de sábios assim, seria um lugar maravilhoso - todo mundo entenderia os seres vivos,
os elementos... Poxa vida! Um dos maiores prejuízos, uma das primeiras reclamações que os pais faziam
sobre a escola - quando esta passou a ser obrigatória - era que os filhos começaram a ficar metidos e a
pensar que sabiam mais do que os pais sobre a vida, a humanidade e etc. Antes, ninguém se arrogava o
direito de chegar e dizer para um advogado que sabia mais do que ele. Se ele havia estudado dez anos e
trabalhado na área por mais vinte, ele sabia mais que você naquilo. Isso não era arrogância, mas um fato.
Agora, o sujeito que passa em uma prova de química não tem razão de ser metido.

Quem duvida, pegue algo em que é bom. A matemática, por exemplo. Coloque uma placa na porta da sua
casa com o escrito: “Dou aulas de matemática para o segundo grau”. Comece a dar aulas para você ver.
Tive alunos assim... Um deles veio com o seguinte problema: “Dado cinco pontos num plano cartesiano,
calcule a área do pentágono inscrito.” Ele dizia não entender como o cálculo deveria ser feito. Perguntei:
“Quais são as coordenadas dos pontos? O que é um plano cartesiano? O que é um pentágono?”
“Pentágono é um triângulo de cinco lados!” “Só que é o seguinte: como é que você chegou ao grau em
que está, como você está estudando o cálculo de áreas a partir de coordenadas de um plano cartesiano se
você não sabe essas coisas?” Essa era uma formulação para se ter no primeiro ano de geometria. Ou seja,
ele não havia aprendido nada. E mesmo o cara que estudou direitinho ainda não sabe nada. No máximo
foi despertado um interesse em estudar aquela ciência ou arte. Os dados todos que vocês aprenderam na
escola não valem nada, não devem ser levados em conta, pois não serão úteis para você aqui.

Na segunda vez que demos o curso de astrologia, um dos alunos havia participado de um clube amador de
astronomia - tinha estudado bastante astronomia até. Em certo momento eu estava explicando e comentei
sobre a variação do dia e da noite. Então ele disse: “Mas o dia mesmo não varia.” Perguntei: “Como
assim? De que dia você está falando? O dia varia sim.” Então ele disse que os dias tinham sempre vinte e
quatro horas. Eu: “Não. O que é vinte e quatro horas? O dia de vinte e quatro horas é uma abstração
mental que nós inventamos, não existe dia de vinte e quatro horas.”

Aluno: Na Noruega os dias duram menos.

Gugu: Isso aí ele entendia – que a relação entre noite e dia é variável, podendo a duração da noite, por
exemplo, ser maior ou menor do que a do dia. Então continuei: “Mas, cara, você não é do clube de
astronomia? Você não conhece a equação do centro? A equação do tempo?” Ele: “Não, o que é isso?” Eu:
“Caramba, que diabo de astronomia você estudou? A equação do tempo! Ela é assim... Todo dia o Sol
passa pelo meridiano, que é uma linha imaginária que vai do norte ao sul. Isso ai é o meio dia local. Qual
a diferença entre o meio dia local e o meio dia médio? Se o Sol fosse uma bolinha que girasse em torno
da terra e fizesse um círculo pelo equador regularmente...” Daí ele: “O do relógio?” Eu: “Não, o relógio é
feito para reproduzir o mais próximo possível o dia médio - que é essa abstração matemática. Mas você
não precisa usar um relógio, porque ele não mede exatamente o dia médio.” Tudo isso são dados da
astronomia.
Aluno: O que essa variação tem a ver com ano bissexto?

Gugu: Não tem nada nessa variação a ver com ano bissexto. Por que tem ano bissexto? O Sol gira em
torno da Terra e por isso há o ciclo das estações - falarei do Sol porque o que estou a fim de girar é o Sol;
se o sujeito ficar escandalizado comigo por isso eu direi para não me amolar. Se você observar o Sol
quando ele passa no meridiano todo dia, de um dia para o outro há uma variação na altura dele. No
inverno ele está bem baixo e no verão ele está bem alto. Se você observar quando o Sol passa no
meridiano e ele está no ponto mais baixo, ele só voltará a passar no meridiano, nesse ponto mais baixo,
daqui a quatro anos. Por quê? É simples, a órbita da Terra não se dá em um numero inteiro de dias. Para o
calendário bater com as estações... Para que tem calendário? Para saber quando plantar... Esse
conhecimento [saber como plantar] é determinado pelas estações e não pelo número de dias. Então para o
calendário bater com as estações, você precisaria de um calendário de quatro anos, porque o ciclo da
Terra é perto de trezentos e sessenta e cinco dias e um quarto (365,25). Não é exatamente isso. Então, a
cada quatrocentos anos esse calendário tem que ser corrigido. E o calendário que é corrigido a cada
quatrocentos anos deve ser corrigido de novo a cada três mil e trezentos anos. E esse tem que ser
corrigido a cada sessenta e quatro mil anos. Mas, na prática, como há nenhuma civilização que dure
sessenta e quatro mil anos, não é necessário um calendário tão preciso.

Todos esses dados de astronomia derivam de alguém ter olhado um ponto [no caso, o Sol] e ter dito:
“Quando esse ponto aparece, vemos tudo. Isso chamamos de Sol. Ele nasce todo dia mais ou menos no
leste e se põe no oeste.” Então passaram a observá-lo com mais cuidado: como ele se move, quais são as
características, qual a sua cor, qual a intensidade da luz que emite, etc. Depois de todas essas observações,
passaram a desenvolver um modelo de como ele se move geometricamente - com círculos, depois elipses,
etc. Desenvolveram instrumentos matemáticos para descrever o fenômeno. Isso se deu há mais ou menos
três mil anos atrás. Já a primeira teoria explicativa que dizia que essas coisas são corpos que se atraem se
deu há apenas trezentos anos atrás.

Entre você saber exatamente onde o Sol estará a cada momento e poder levantar uma teoria sobre o que
está acontecendo fisicamente demorou dois mil e setecentos anos. Por quê? Simples, os dados sensíveis
não indicam o que está acontecendo de maneira clara em termos físicos. Os dados sensíveis nem mesmo
indicam que o que está acontecendo é de fato um fenômeno físico – isso, para começar, já é uma hipótese.
Metade do trabalho é fazer essa limpeza. Quando comecei a fazer esse curso, eu tinha um projeto ideal
para ele: um ano de depuração dialética, um ano de simbolismo (teoria simbólica), um ano de técnica
astrológica. Acontecia que depois de seis meses de depuração dialética restavam três alunos. Se as aulas
fossem na minha casa, tudo bem; eu não teria que viajar e não gastaria com ônibus. Mas não dá para
viajar para outro estado para dar aula para três alunos. Não é por maldade, é que o sujeito que foi para a
escola não está acostumado com o que é o trabalho intelectual - ele não tem idéia do que é isso.

Primeiro, vamos resumir o fenômeno àquilo que é observado. Ele [o aluno] nunca fez um processo de
depuração dialética na escola. Isso é normal, pois é trabalho para adulto e não para criança; para uma
criança esse é um fardo muito pesado e pode traumatizá-la. Não se pode forçá-la a fazer isso. A primeira
coisa que vocês têm que saber aqui é que o trabalho será árduo. Segundo, com relação ao simbolismo: ele
não será árduo no mesmo sentido [do que a depuração dialética], mas exigirá auto-domínio para o sujeito
não viajar. Se vocês fizerem essas duas coisas, tudo estará resolvido, porque aí será possível aplicar a
técnica astrológica corretamente. O trabalho será árduo e exigirá auto-domínio. Tentaremos nessa edição
[do curso] uma nova experiência: vamos dando um pouquinho do esforço conceitual, um pouquinho do
simbolismo e um pouquinho da técnica astrológica para ver se o pessoal persevera. Qual o risco? O risco
eu já sei. O pessoal grudará no simbolismo e achará que está entendendo; e, por isso, pensarão que não
precisam mais fazer o trabalho árduo [da depuração dialética]. Esse é o risco, mas pelo menos há uma
chance maior de mais alunos ficarem por mais tempo para que eu possa, pelo menos, cobrir os custos das
viagens.

Aluno: Podemos imaginar que esse risco aumenta quando a pessoa já pratica a astrologia?

Gugu: Aumenta, porque, geralmente, o astrólogo não está nem um pouco acostumado com esse trabalho
de depuração conceitual. O astrólogo profissional aprendeu uma técnica. É como pegar um mecânico e
ensinar para ele engenharia mecânica; ele não quer aprender, ele já sabe consertar carros. Com o astrólogo
profissional é a mesma coisa: ele acredita que já sabe - o que é difícil.

Aluno: A Lua para ele é um desenho, assim como Mercúrio. Só muda o cálculo. “A Lua é a mãe...”
Gugu: Exatamente. Ele viaja no simbolismo. Então, corremos muito esse risco [de nos apegarmos ao
simbolismo]. Se eu perceber isso, vocês voltarão para o trabalho de quebrar pedra. Por que é quebrar
pedra? Porque a mente humana não gosta de fazer [a depuração dialética], não é uma atividade
espontânea da mente humana; é uma habilidade que deve ser treinada.

Aluno: Isso porque a tendência do sujeito é ficar preso nesse conceito que o sujeito aprendeu na escola e
carrega com ele a vida inteira, não é?

Gugu: É lógico! A escola é autoridade; é a igreja que existia há quinhentos anos. “Eu tinha senso crítico
com seis anos de idade, ouvia os professores...” Você não tinha senso crítico, era pura lavagem cerebral.
Ou você acreditava que eles eram uma autoridade, ou não estava nem aí [para eles]. “O negócio é que na
hora do recreio dá para a gente jogar bola...” Se você alguma vez prestou um pouco de atenção naquilo
[que o professor dizia] não foi por senso crítico, foi porque pensava: “Espera aí, vamos confiar, porque
esse cara pode saber algo que eu não sei, ele falou algo e parece mesmo que ele sabe.” A escola virou, na
infância, uma espécie de autoridade parecida com a autoridade dos pais. “Meu pai falou que só posso
brincar na rua até as oito e que eu tenho que ir para a escola; e o professor falou que a Terra gira em torno
do Sol.” Está tudo dentro da mesma categoria. Se a criança se interessa por alguma matéria, ela pode vir a
ter um interesse de pesquisa. Mas até chegar nesse ponto, toda informação que ela recebe é na base da
autoridade. Quando você pergunta: “O que é a Lua?” A sua mente não quer quebrar a casca da autoridade
[escolar] consolidada. Você pensa: “Eu já estudei isso. Encheu o meu saco por tantos anos... Já aprendi
essa lição. Não venha perturbar essa zona da minha mente que já está pacificada. Tive que aturar isso tudo
e a minha recompensa é que eu sei o que é a Lua, sei o que é química...” Perceba que você tinha a
mentalidade infantil naquela época. E você não tinha a mentalidade infantil por um defeito; é que você
era criança, você era infantil. Depois disso você cresceu e adquiriu algum senso crítico, senso de juízo,
alguma autonomia interior - somente depois dos vinte anos (ou mais) você adquiriu essa autonomia. Mas
quando você a adquiri [a autonomia interior], pensa que ela se aplica retroativamente a todas as
informações que você recebeu antes de maneira automática. Porém, não é o que acontece. “Acho que os
políticos e os professores são gente como eu, eles não estão entendendo é nada.” Antes de entender isso,
você recebeu muitas de informações que não receberam esse filtro e que foram aceitas. Essa é a pedra que
terá que ser quebrada; e a mente não quer fazê-la. “Fiquei onze anos na escola obedecendo alguém só
para escolher uma profissão?” Sim!

Aluno: Pense pelo lado positivo: a culpa não foi sua.

Gugu: Aceite esse fato agora, pode chorar em casa depois. Esse é um fato real da vida, aceite.

Aluno: Você não terá como fingir que está quebrando aquilo para, ao mesmo tempo, conviver com essas
duas concepções diferentes. Você terá que sinceramente saber... “Realmente, isso não tem nada a ver...
Mas não jogarei isso aqui fora, deixarei guardado na gaveta; e se um dia eu achar que estou ficando louco
volto para lá.”

Gugu: Realmente, o sujeito pode fazer isso; mas o professor saberá que é isso que ele está fazendo. Ele [o
professor] saberá porque, supondo que explique uma coisa hoje - como isso daqui se trata de um processo
de educação a cerca de um assunto -, daqui a seis meses ele levantará um tema que dependerá do sujeito
ter feito esse trabalho nos seis meses anteriores. Aí o indivíduo fará a mesma pergunta que havia feito há
seis meses atrás. E o professor saberá que ele não está fazendo esse trabalho corretamente. Conhecimento
é algo que você ganha pelo que você faz.

Aluno: [Inaudível].

Gugu: Todo ano meus pais tinham que ir à escola para dizer o seguinte: “Você não vai reprovar o meu
filho por faltas.” Pois nós sempre estourávamos o número de faltas.

Aluno: Naquela época, estourar de faltas era ter cem faltas no ano.

Gugu: Nos primeiros oito meses do ano não havia um dia em que pedíamos à nossa mãe para faltar à aula
que ela dizia “não”. No fim do ano eles diziam: “Não, agora é bom começar a freqüentar um pouco mais
para termos um argumento pelo menos.” Tínhamos faltado metade do ano. Quanto às notas, se havia
alguma matéria que gostássemos, ela saía alta naturalmente. Não éramos forçados a estudar para provas.
O professor perguntava: “Você não tem ambição?” “Não, não tenho.” A escola não é nada mais do que
isso. “Poxa vida, isso desmoraliza todas as discussões sobre educação.” É, desmoraliza, mas a verdade é
essa, não se iluda. Quem é bom e honesto, hoje, no meio educacional, diz: “Como podemos fazer os
alunos aprenderem a ler, escrever e fazer contas; e, junto com isso, dar uma boa amostra das profissões
necessárias?”

Aluno: Hoje em dia os alunos não aprendem nem a ler e escrever.

Gugu: Exatamente! Ficam tentando fingir que a escola tem um propósito superior e não cumprem nem o
propósito real da coisa.

Aluno: O sujeito que sai sabendo ler, sabe ler a conta de luz, ler uma placa e etc.; mas, dê um parágrafo de
um livro para ele ler...

Gugu: É por aí. “Você está achando que eu sou doutor?” Esse sistema é uma questão de sobrevivência
para as nações modernas. E por quê? Porque deve haver um certo número de engenheiros, um certo
número de químicos, de médicos e etc. E qual o efeito dele? O grande malefício dele é que ele é muito
prejudicial para a educação superior no sentido estrito da palavra. “Ah não, as pessoas vão se perguntar
sobre as questões de profunda importância para a humanidade: O que é o homem? O que é o universo?
Existe vida após a morte? O que é certo e errado? O que é bem e mal? O que é conhecimento e
ignorância?” Para as pessoas que tem a possibilidade de levantar essas questões seriamente, este processo
educacional é extremamente prejudicial. Ele praticamente esteriliza essas vocações - se o cara tinha essa
possibilidade aos oito anos, aos nove ela diminuiu pela metade e aos doze acabou. Às vezes ela [a
vocação] volta lá pelos trinta e o cara começa a se perguntar sobre essas coisas, porém ele não tem mais
aquela energia da juventude para estudar. É prejudicial porque é um ambiente de falsidade. Ninguém
chega para a criança e diz: “Aquilo está lá para você saber o que quer ser quando você crescer; para você
ver várias coisas e escolher o que quer ser quando você crescer.” Um museu das profissões seria mais
eficaz do que a escola. Sei lá, faz um laboratório de física com um negócio que dá choque, um corredor
por onde a criança passa e tem coisas de química, um planetário e etc... Ia funcionar muito melhor. “Todo
mundo aqui tem que fazer o primário. Quatro anos para aprender a ler, escrever e fazer contas; e agora
tem que fazer visitas mensais ao museu das profissões.” Ia funcionar melhor. Parece desmoralizante, mas
a verdade é que funcionaria melhor. As pessoas pensam: “Escolas que têm laboratórios são melhores
porque as crianças aprendem mais...” Não, é melhor porque ela vê os equipamentos e diz: “Quero ser
químico.” A criança olha o microscópio e diz: “Quero ver células e tecidos, quero entender esse negócio.”
É só por causa disso. O indivíduo que serve para estudar aquilo, descobre que quer estudar aquilo antes de
emburrecer, antes daquele processo massacrante emburrecê-lo. Como não dá para dar amostras na
infância do que é filosofia, o que é ciência ética - disso não dá para dar amostras, isso não é uma coisa
para a juventude -, essas vocações são sufocadas por esse ambiente.

Aluno: [Inaudível].

Aluno 2: Logo depois que comecei a fazer esses cursos eu não agüentava mais a faculdade. A repulsa foi
tão grande... Eu fiz isso para me sustentar financeiramente. Joguei tudo para o alto. Hoje eu sei quem sou
quando olho no espelho. Em contrapartida, financeiramente eu vejo que...

Gugu: Isso aí é assim mesmo, esse negócio nunca deu lucro [aulas e cursos de filosofia, ética e etc.],
sempre foi prejudicial à vida financeira.

Aluno: Hoje está até mais fácil do que há dez anos atrás, hoje você consegue repercutir em mais pessoas;
antes era mais limitado.

Gugu: Essa parte não vou poder ajudar muito porque é uma escolha que o sujeito deve fazer. O que deve
ser questionado é o seguinte: “Eu quero saber isso aí? Quero. Então dane-se.” Se os pais reclamarem,
diga: “Eu dou duas escolhas para vocês: é isso ou heroína. Escolha!”

Aluno: Talvez uma coisa que possa ajudar, tomando como exemplo aquele assunto da Lua... A visão de
que “a Lua é um disco luminoso no céu” é que é a real - a visão virtual é aquela do corpo celeste -; essa é
a real porque continua válida ainda hoje, assim como era válida há dois mil anos atrás. Se você pensar
nisso, estará no mesmo plano do pescador caiçara...
Aluno 2: Sobre a parte econômica, é só hoje em dia que a intelectualidade pode dar lucro – e com muita
dificuldade. Se você quer ser um estudioso, ou você já deve ter algum dinheiro da família, ou você tem
uma padaria além do seu trabalho intelectual, ou então você é pobre. Ser intelectual não dá dinheiro, a não
ser que você crie uma ONG e receba uma grana do governo.

Gugu: A não ser que você seja Aristóteles e exista um imperador que precise ser educado... Aí você cobra
um valor que dá para te sustentar a vida toda. Sócrates? Pobretão miserável. E Platão? Platão já tinha o
dinheiro da família e só ficou gastando para estudar. Temos o exemplo de Spinoza também: “Aprenda um
trabalho simples que não vai exigir muito da sua mente.” Ele era ótico, fazia lentes.

Aluno: Isso era um hábito judeu, não é? O sujeito ter uma profissão... Já treinavam o cara para isso. Tinha
um filósofo na França que tinha uma papelaria.

Gugu: “Ah, então eu vou poder viver de dar aulas.” Não, não sonhe poder viver disso.

Aluno: Entra muito naquele negócio da respeitabilidade: o cara passa vinte anos estudando filosofia e
espera que todo mundo o respeite por isso e não por ser dono de uma papelaria; ele espera dar entrevistas
ao Jô Soares...

Gugu: Exatamente! “Não, mas e o respeito que me é devido?” Não, nenhum respeito lhe é devido! Foi
você que aprendeu, você que saiu ganhando, não os outros; não foi um bem para a humanidade, foi um
bem para você.

Então, o trabalho de depuração dialética é pesado, nós não estamos acostumados com ele e parece ser
inútil em relação aos resultados. A depuração dialética é parecida com a prática da religião: o cara reza e
não tem nenhum efeito; mas aí o cara morre e vai para o céu. Não existe continuidade entre o esforço e o
resultado. O esforço e o resultado estão em ordens diferentes, porque os dois são trabalhos de limpeza. É
como você limpar um objeto e descobrir que ele é de ouro - o valor do ouro não veio da sua limpeza,
porque já havia ouro embaixo; porém, você nunca veria o ouro se não tivesse limpado. Há algumas
décadas atrás, era possível ensinar cosmologia e dar mais ênfase no simbolismo, porque a imaginação das
pessoas era mais limpa. Há trinta anos, na aula de astrologia: “O Sol e a Lua, princípio masculino e
feminino...” Na mente de ninguém aparecia: “Mas e o casamento gay?”

Aluno: “Achava que o princípio masculino e feminino fosse você quem escolhia...”

Gugu: “O que você quer dizer com princípio masculino e feminino?” “Esquece, vamos começar por outro
ponto de vista.” Há umas décadas atrás a imaginação era mais limpa, então fazia menos mal enfatizar o
simbolismo. O pessoal até entendia alguma coisa, hoje em dia entende muito pouco.

Aluno: Engraçado, eu estudei astrologia nos anos oitenta e lembro-me de estar completamente perdido
naquele “modo de pensar da Vila Madalena”, esse modo já automático de ser... Mas, como você
mencionou o casamento gay, lembro que mesmo naquele tempo, quando você falava para alguém: “Olha,
o princípio feminino é isso, isso e isso.” Se alguma pessoa levantasse uma objeção feminista... “Não, mas
é a sociedade que impõe esse papel.” Aí já começava uma briga, e a outra [pessoa] ia explicar que algo
tem um princípio masculino ou feminino. Aliás, eu aprendi o yin yang errado - com seu pai eu aprendi o
correto -, porque, quando aprendi, o yang era o masculino, portanto era extrovertido e forte; e o yin era o
feminino, portanto recatado e terno. E não o contrário, que seria a manifestação...

Gugu: O yin é o exterior... Ainda tem o seguinte: todo mundo assistiu filmes, todo mundo já leu jornais,
todo mundo ouve músicas, todo mundo já viu discussões na TV... O que as pessoas não sabem é que todo
discurso, todo imaginário, toda narrativa e etc., subentendem vários pensamentos anteriores àquele
discurso, àquela narrativa, àquela imagem ética. Se você começa a explicar assim: “Vamos começar pelo
simbolismo das cores.” Aí alguém pergunta: “Como você sabe que não está projetando isso na cor?”
“Primeira coisa, você reparou que está usando a palavra ‘projetar’ no sentido metafórico? Você não está
jogando nada ali. O que quer dizer com ‘projetar’?” “Não, isso aí é subjetivo...” “Mas o que você quer
dizer com subjetivo?” “Pare, pare, pare e pare! Não me venha com termos abstratos, porque você não tem
essa ciência aí. Se quando eu te pergunto o que é Lua você não sabe responder, quando eu perguntar o que
é ‘subjetivo’ você vai enlouquecer. Porque, quanto à Lua, eu posso virar sua cabeça e mostrar; mas
‘subjetivo’, como eu faço? Preciso te bater, porque isso aí não tem correção.”
Então vamos fazer uma pausa e começar com o simbolismo. Olha só, vocês sabem quais são as três cores
primárias? Azul, vermelho e amarelo. Todos sabem a diferença entre essas três cores, certo? Não terei
uma objeção do tipo: “Como você sabe que o vermelho é vermelho e não apenas uma coisa do seu
cérebro?” Ninguém levantará essa objeção, não é? Não precisarei enfrentá-la pela enésima vez na vida,
certo?

Aluno: Se tem algo no cérebro de alguém, então tem no [cérebro] de todo mundo.

Gugu: Exatamente... Vermelho, amarelo e azul. Todo mundo já sabe o significado concreto da palavra.
Mas, agora, não faremos a depuração dialética dos conceitos de vermelho, amarelo e azul; falaremos do
simbolismo dessas cores. O que você faz para falar do simbolismo das cores? É simples, o que o
vermelho tem que o azul e o amarelo não têm?

Aluno: É mais forte.

Gugu: Vocês concordam? Se vocês tivessem que escolher uma dessas três cores para significar força, qual
delas seria? O azul? Não é o azul, ele é calmo. Mas estamos no vermelho; o que o vermelho tem? Ele é
quente, tem calor, força, intensidade, desejo, sangue.

Aluno: Não são apenas atributos...

Gugu: Exatamente. Há algumas coisas concretas que podem ser vermelhas ou não, mas que podem ser
lembradas, trazidas à mente.

Aluno: Paixão, intensidade e desejo.

Gugu: Exatamente, paixão, intensidade, desejo... Vamos colocar aqui porque é um pouco mais claro do
que só desejo - na verdade, o desejo [isolado] parece mais fraco do que o vermelho.

Aluno: Raiva, nobreza.

Gugu: As cores da dignidade, da pompa, da realeza e etc., são sempre tons de carmins avermelhados.

Aluno: A força da realeza é representada pelo vermelho.

Aluno 2: Não sei, não me parece exclusivo.

Gugu: Não é exclusivo, mas existe um elemento de nobreza, então vamos deixar por enquanto. Agora, já
temos uma lista até que suficiente. Digam-me uma coisa: tudo isso aqui é fácil de ver no vermelho; agora,
na escala da vermelhidão, do poder do vermelho, do sangue, da raiva, da força, quem está mais perto do
vermelho? O amarelo ou o azul?

Aluno: O amarelo.

Gugu: Exatamente. Vamos colocar aqui o vermelho, o amarelo e o azul. Do ponto de vista do vermelho...
Já sabemos que o azul está longe do vermelho na escala das qualidades e que o amarelo está mais perto. É
sempre isso aí. Todos estão aqui imaginando o vermelho. Mas, se eu perguntar para vocês, agora, o que o
amarelo tem, isso não será muito favorável. Isso porque ainda está na memória imaginativa de vocês o
registro do vermelho. E o amarelo é um pouco parecido. Primeira nota sobre simbolismo que vocês terão
que aprender: quando vocês estão estudando o simbolismo de uma coisa, não podem passar a analisar o
simbolismo de uma coisa parecida, tem que passar a analisar o simbolismo de uma coisa contrária, uma
coisa mais diferente. Dos fatos que listamos do vermelho, o azul está mais distante. O que o azul tem que
o vermelho e o amarelo não têm? Deu para perceber? Por que se não, no seu imaginário, o vermelho e o
amarelo vão se confundir, vão se mesclar; o amarelo vai virar um tipo de sub-vermelho, um quase-
vermelho. Vamos lá, o que o azul tem?

Aluno: Calma, serenidade, profundidade...


Gugu: Calma, serenidade, profundidade... Quero que vocês prestem atenção nisso aí. Quando alguém
falou calma se referindo ao azul, era para todos se lembrarem. Todos têm que se lembrar, para que não
tenhamos que refazer o trabalho depois.

Aluno: Céu, água, frio, limpeza... Há muitos produtos de limpeza que são azuis.

Aluno 2: O começo e o fim do dia?

Gugu: O começo e o fim do dia?

Aluno: Talvez pouca luz?

Gugu: Ah, então não é o começo e o fim do dia! É ter pouca luz, ser um ambiente pouco luminoso. Na
verdade, dessas três cores, ela parece ser a menos luminosa. Escuridão, trevas, ausência de luz... Não
necessariamente num sentido negativo.

Aluno: Se você só tivesse esses três lápis de cores, escolheria o azul para representar a noite.

Gugu: Exatamente. Você não irá escolher nem o vermelho e nem o amarelo. Então, noite...

Aluno: Confiança, segurança...?

Gugu: Sim, claro. Noite, confiança, segurança... Acho que deu, já é suficiente. Mas, agora, na escala do
azul, quem está mais perto dele? Veja que não é tão evidente como quando você começou na escala do
vermelho. A resposta disso é: depende. Para alguns aspectos do azul, pode ser o amarelo; para outros,
pode ser o vermelho. A relação não é simétrica.

Aluno: É como se o amarelo estivesse no meio...

Gugu: Sim. Percebe? Não dá para dizer simplesmente: “A escala do azul é ao contrário dessa aqui.” Às
vezes é, às vezes não é. Essa é uma nota importante. Por quê? Pois estamos lidando com um ternário real.
Não estamos lidando com o número um, o número dois e, no meio destes, com o um e meio. Por
exemplo, se falarmos sobre pai, mãe e filho; isso não é um ternário real. O filho é um termo entre o pai e
a mãe - você não pode falar que esse terceiro termo é um termo pleno como os outros dois. Aqui [no caso
das cores], você está tratando de três termos que são realmente independentes.

Aluno: E essas três cores podem representar a totalidade das outras cores?

Gugu: Podem. Se fizéssemos uma escala... Vamos pegar aqui, o um, o dois e o três: “Qual a qualidade do
um?” “Não sei, não dá para adivinhar.” “Ah, qual está mais perto do um? E qual está mais longe?” A
escala será simétrica sempre. Se as coisas forem medidas em unidade, o dois estará mais perto do um e o
três virá depois do dois. E do três, quem está mais perto? O dois e depois o um. A relação é reversível. Por
quê? Pois esse termo está realmente entre dois.

Então, do ponto de vista do vermelho, o amarelo está entre ele [e que compartilha de algumas de suas
qualidades] e o azul [que não compartilha de nada dele].

Do ponto de vista do azul, o amarelo está de um lado e o vermelho está de outro; o amarelo possui
algumas das qualidades dele, assim como o vermelho também. Eles não estão em posições reversíveis; a
diferença é qualitativa. Pois veja só, o amarelo não é tão tenso quanto o vermelho; e nisso ele é mais
semelhante ao azul. Mas o vermelho também tem uma certa interioridade como o azul e que o amarelo
não tem. O amarelo parece um branco, parece ser só para fora, uma expansão. Então, quanto ao azul: o
amarelo parece ter algo da sua paz; e o vermelho algo da sua profundidade.

Do ponto de vista do vermelho, não haverá a participação simultânea, nele, do amarelo e do azul; pelo
contrário, uma delas participa de suas qualidades e a outra é a ausência delas, é a distância delas. Dá para
sentir isso? Não é realmente reversível como uma relação quantitativa.

E o amarelo? O que ele tem que o azul e o vermelho não têm? Brilho (como o Sol e o ouro), riqueza,
alegria, alerta... Ele é o mais irradiante, o mais luminoso e o mais brilhante dessas três cores. Então, se
você pintar essa sala inteirinha de azul – ainda que seja um azul bem clarinho, que é quase igual ao
branco -, aquela sala inteirinha de vermelho e aquela outra sala inteirinha de amarelo, qual será a sala
mais clara? De longe a amarela. O amarelo se expande, se irradia. Agora, do ponto de vista do amarelo,
como fica a escala? Quem está mais perto dele: o vermelho ou o azul? Depende um pouco do critério que
se usa. Por exemplo, vocês repararam que apenas do ponto de vista do vermelho que não há discussão
quanto à escala? Só se você cavar muito irá achar alguma coisa em que o azul parece mais com o
vermelho do que com o amarelo.

Aluno: Talvez pelo fato da cor amarela ser uma cor quente como o vermelho, e não uma cor fria como o
azul...

Gugu: Sim, pode ser por isso; talvez seja porque o vermelho é quente e o amarelo seja meio morno. Mas
o que importa é o seguinte: essa escala de distanciamento só acontece quando você toma como ponto de
partida a cor vermelha. Se você toma como ponto de partida o amarelo, isso não fica tão evidente.

Aluno: Você pode ir tanto para o azul, quanto para o vermelho; se eu pensar em calor, vou para o
vermelho; mas se eu pensar em uma coisa mais fraquinha, vou para o azul...

Gugu: Exatamente. Se eu pensar em alegria, vou para o azul. Por quê? Porque a serenidade do azul é mais
semelhante à alegria do amarelo; ela é mais pacífica, é mais calma – coisas que o amarelo também
transmite e que tem que ser o pano de fundo da alegria.

Alunos: Mas às vezes o amarelo pode ser o desespero...

Gugu: Sim, às vezes é uma coisa que indica desespero, que está fugindo de si pela sua excessiva
fugacidade.

Aluno: Com relação ao amarelo, eu tenho a sensação física de que ele tem uma coisa meio invasiva.

Gugu: Ele também pode ser invasivo, irradiante, pertubador (no sentido de que você precisa sair de uma
determinada posição; que você tem que ir para outro lugar).

Aluno: Nas placas de rua ele [o amarelo] é usado como sinal de cautela. Também lembra a morte – não no
sentido do ato de matar -, mas de coisa morta. O vermelho lembra a morte no sentido de matar algo
violentamente. Quando pensamos no amarelo, pensamos em algo muito brilhante, mas ele também pode
ser algo opaco, doentio...

Gugu: Isso mesmo. Os significados não são unívocos. Mas todas as qualidades do amarelo implicam uma
certa espécie de deslocamento por causa de um elemento perturbador. Por exemplo, a alegria irradiando...
Tem um movimento aqui. Deu para perceber?

Aluno: Professor, então vamos voltar um pouquinho na depuração dialética. Essas associações que
estamos fazendo estão presentes na natureza, correto? De onde estamos tirando isso?

Gugu: Olha só, em primeiro lugar, no estágio atual que nos encontramos, não dá para saber de onde
estamos tirando isso. O que podemos saber é que não foi a mesma pessoa que disse todas essas palavras;
quando você disse algo sobre o vermelho, os outros olharam e perceberam que o vermelho tinha algo do
que você disse, eles não perceberam isso tão imediatamente como você. Mas eles conseguiram entender
do quê você estava falando. Daí outra pessoa disse outra coisa e vocês seguiram o mesmo caminho...
Então, o processo com que isso está vindo na sua mente pouco importa. O que importa é que, em primeiro
lugar, a base disso é uma certa concentração da percepção sensorial. Quando você olhou o vermelho
captou algo de força; o outro, só de olhar o vermelho, não conseguiu perceber isso, mas com um esforço
de concentração também conseguiu captar essa qualidade; e assim por diante. Agora, se ele olhar para
mim e disser: “Explica aí, por que o vermelho tem força?” Ele não vai ver nada de força no vermelho;
para isso, ele precisa olhar para a cor. E isso indica que, de algum modo, essas coisas estão enraizadas nas
próprias cores como fenômenos perceptivos. A tomada de consciência delas [dessas qualidades] não
deriva apenas da cor; tanto que um toma consciência primeiro da força, outro da tensão, outro da raiva,
outro do amor... Conseguem perceber? Aquilo que vem à consciência imediatamente não deriva apenas da
cor; deriva de conteúdos prévios da sua consciência. Isso é lógico. Mas, quando o outro olha fazendo uma
comparação, ou ele verifica que essa qualidade está realmente lá, ou ele não verifica. Esse é o ponto.
Vocês perceberam que quando o Gui disse ‘força’, vocês olharam e concordaram? Sim ou não?

Aluno: Tem força no sentido de ser intenso...

Gugu: E por que vocês não falaram ‘força’ primeiro? Porque quando vocês olharam, sentiram
intensidade, outro sentiu desejo ou paixão, outro sentiu raiva... Destacou-se na consciência de cada um de
vocês, em primeiro lugar, um conteúdo diferente. Mas, agora, pegue cada um desses conteúdos e olhe o
vermelho para verificar se ele os possui ou não. Raiva? Tem. Sangue? Tem. Intensidade? Tem. E mais
ainda, além de poder ver todas essas qualidades no vermelho, verifique se você consegue enxergar uma
certa serenidade e profundidade nele...

Aluno: Profundidade, sim; serenidade, não.

Gugu: Ah... Repare que o tom da palavra ‘profundidade’ mudou; se tornou algo mais próximo de
‘profundeza’ do que ‘profundidade’ em si. É uma certa densidade... Deu para perceber?

Agora eu vou explicar para vocês como funciona esse negócio de simbolismo, a teoria do simbolismo. O
universo é o discurso de uma inteligência suprema. Deus fala o universo. E, como todo discurso, por
definição, tem um significado que é auto-evidente para a mente divina. Significado esse que todos os
seres dotados de mente são capazes de captar algo. Você tem uma mente - mesmo ela não sendo a mente
divina -, então você é capaz de captar algo do significado desse discurso. No universo existe cor? Existe.
Então a cor é um elemento desse discurso, e, portanto, ela tem um significado para a mente divina. Como
a sua mente não é a mente divina, você olha a cor e capta um pedaço desse significado. Qual pedaço?
Aquele pedaço que, na sua mente, é menos diferente da mente divina naquele momento. Como a mente
do outro é diferente, e o espaço - naquele momento - que está aberto é outro, ele vê outra coisa. Quando
você começa a comparar os resultados das mentes normais, sãs, você vê que todas essas características
têm algo em comum. Você vê que força e calor se parecem, porque o calor força a algo. Força, calor,
densidade, intensidade e paixão também se parecem. Tudo isso aqui são expressões fragmentárias do
significado que o vermelho tem na mente divina – são pequenos fragmentos desse significado. Essa é a
teoria geral do simbolismo. Ele funciona e existe porque o universo é o discurso de uma mente; porque
tudo o que existe é um discurso de uma mente; e outra mente pode captar algo desse significado. Isso
quer dizer que para você entender o simbolismo do vermelho são necessários dois fatores: 1) prestar
bastante atenção no vermelho em várias instâncias da sua vida; 2) criar condições que favoreçam sua
mente a ser receptiva a um significado que é concebido por uma mente divina.

Então, eu digo para vocês que, o que o vermelho efetivamente significa, só Deus o sabe; porque o
vermelho em si mesmo, enquanto ente único e exclusivo, só existe diante da mente de Deus. Só ele sabe
exaustivamente e exatamente o que é o vermelho. O que você pode fazer? Uma aproximação simbólica.
“O vermelho é força, calor, paixão, raiva, intensidade, morte, sangue, violência, nobreza, majestade,
centralidade, concentração e etc.” E aí, se você olhar para o vermelho, perceberá que todas essas palavras
estão na direção do vermelho; não na direção do amarelo e nem na do azul. E mais: nenhuma delas esgota
realmente o significado ou é tão exata diante da qual as outras qualidades se diminuem; elas apontam para
algo que está no meio.

Aluno: Seria certo dizer que só Deus pode conhecer o vermelho perfeito?

Gugu: Não é que só Deus pode conhecer o vermelho perfeito; nós também podemos. Mas só Deus pode
conhecer o vermelho perfeitamente. Nós podemos conhecer o vermelho perfeito, é claro que podemos;
porém eu não saberei plenamente o que é esse vermelho. “Eu sei o que é perfeitamente vermelho, mas
não sei perfeitamente o que é vermelho.”

Aluno: A palavra vermelho já indica essa relação de saber o que é, mas não saber perfeitamente?

Gugu: Olha só, isso não é válido somente para o vermelho. Isso é válido para tudo que existe. É disso que
os santos falavam quando eles diziam o seguinte: “Se você entender a essência de um grão de areia,
atingirá a realização suprema, terá o conhecimento supremo.” Era disso que eles estavam falando. Porque
um grão de areia é uma palavra de um discurso de uma mente ilimitada, então, em cada palavra, todo o
conteúdo daquela mente está contido. Se aquela palavra fosse compreendida, aquela mente também seria
– a partir daquela palavra. É como quando você entende uma personalidade a partir de um ato
característico. Você precisa ver tudo o que uma pessoa faz para conhecer o caráter dela? Não, você não
precisa ter a lista exaustiva dos atos que ele praticou. Mas você pode dizer que conhece perfeitamente o
caráter do outro? Não, porque em todo fenômeno há algo de inesgotável. Vocês tem que saber isso aqui.
Vejam lá na Suma Teológica: “A essência da menor mosca é intelectual e inteligivelmente inesgotável.”
Isso pois a mosca é uma palavra de um discurso divino. E o cara que pensa: “Não, a mosca é uma coleção
de elementos químicos que formaram moléculas que são capazes de se reproduzir e que permitem a vida.”
Cara, você é um idiota. Você não consegue explicar o fenômeno do amarelo desse modo. “Não, o amarelo
é uma freqüência que tem um pigmento que bate no olho e que gera uma vibração...” É mesmo?! Por que
ele é luminoso, brilha e lembra riqueza e alegria? Me diz aí. “Ah, isso é porque no seu cérebro tem uma
mesa de sinuca tridimensional, e a vibração do amarelo bate e acaba caindo no mesmo lugar da alegria.”
Tá bom, cada um tem a sua teoria sobre o universo. E mesmo que existisse literalmente esse mecanismo
[o da mesa de sinuca], ele não esgotaria e não explicaria o fenômeno.Então, em primeiro lugar, temos
essa observação comum a todos os povos: o universo é um discurso de uma mente ilimitada. Isso é fato.
Todos os povos em todas as épocas defenderam essa tese.

A teoria astrológica é possível por isso. “Ah, então Júpiter é uma pedra voando no céu.” Não, meu filho.
Júpiter é uma palavra de um discurso divino. “É por isso que a astrologia funciona?” Olha, ninguém sabe
por que as coisas funcionam... Ninguém sabe até mesmo porque a anestesia funciona! Procure lá no
Google: como a anestesia funciona. Procure também: como a cola funciona. “Não, mas como a astrologia
funciona?” Meu filho, sei lá! Por que eu tenho que saber?! Ninguém sabe e acabou. Como o cérebro
funciona? Também ninguém sabe. Como o coração funciona? Também ninguém sabe. Ninguém sabe
essas coisas. Esse negócio do ‘como funciona’ tem apenas trezentos anos de história. Agora, o negócio de
saber ‘o que são as coisas’ já existe há milhares de anos e, nesses milhares de anos, o esforço para
conhecer isso foi realizado por pessoas que tinham capacidades incalculavelmente maiores do que as
nossas. A pergunta do ‘como as coisas funcionam’ surgiu há pouco tempo, e ainda não apareceu ninguém
com o talento do Buda para responder – e provavelmente nem vai aparecer. Deu para perceber esse
princípio? Não é que espontaneamente vem à mente de cada um a mesma lista, mas como a sua mente
não é doente – você não morde os outros na rua, não sai lambendo o chão, não baba; você é normal,
trabalha, dá para conversar com você, têm pessoas que gostam de você e outras que não gostam – fale
sério: o que o vermelho tem que o amarelo não tem? Você irá dizer algo na linha do que foi dito aqui.
Todo mundo irá falar isso. E aí quando outra pessoa falar outra coisa, você terá que pensar um pouco e
olhar o vermelho mais ativamente, com um pouco mais de atenção; e aí você irá perceber que essa coisa
realmente se encontra no vermelho. Isso se a outra pessoa não tiver viajado muito; porque aí você
pergunta para ela: “Mas por que tem isso?” “Ah, tem isso porque tem aquilo.” “Espera aí, então o que tem
é aquilo.” Às vezes a pessoa não se expressou bem – nem todo mundo é dialético. Porém, repare que tudo
está na mesma direção; e se tudo está na mesma direção é porque essas coisas estão realmente lá. Não é
projeção.

Aluno: Eu não discordo disso, porque eu sei imaginar um fundo azul com lírios amarelos e dourados em
cima. Mas eu sei que a idéia da nobreza está ligada com a idéia de centro ou concentração, e que o
vermelho representa outros tipos de adorno.

Gugu: Exatamente.

Alunos: O vermelho também não poderia ser poder?

Gugu: Claro, já falamos sobre força. É tudo isso aí.

Aluno: Para todas essas coisas eu vejo que há um fundo narrativo que não é uma coisa tão estática quanto
o conceito da cor em si.

Gugu: Veja só, não há nenhum fundo narrativo. Eu perguntei para você: “O que o vermelho tem?”
“Força.” Você deu apenas uma nota sobre o vermelho, não fez uma narração completa. Aí outra pessoa
deu outra nota, e para que você veja a nobreza no vermelho terá que fazer uma narrativa entre a ligação
do vermelho com a nobreza; isso porque a nobreza não foi o primeiro conteúdo que você captou. Por quê?
Porque as mentes têm disposições diferentes.

Olha só, não é para perceber o vermelho, é para perceber o que ele significa intencionalmente na mente
divina. Nós temos um aparato cognitivo imediatamente proporcional à captação sensível – por exemplo, o
aparato ótico – e à captação conceitual – por exemplo, o que é uma cor em princípio. E essas duas coisas
criam uma disposição passiva, permitem que eu vislumbre o conteúdo intencional da mente divina, mas
não me dão esse conteúdo imediatamente. É por isso que a primeira coisa que vem na mente de cada um é
diferente da do outro; pois ninguém tem esse poder. Se você tivesse, seria Deus. Aí, para entender o que o
outro enxergou, tenho que fazer uma narrativa, pois é o que o outro viu. Num certo sentido, você terá que
usar a palavra humana como um suporte para entender o significado da palavra divina. Mas isso fica para
depois do intervalo.

[Intervalo.]

Gugu: Bom, deu para entender mais ou menos como esse negócio de simbolismo funciona? Do jeito que
eu expliquei aqui, é evidente que, para vocês, a idéia de que o vermelho, o amarelo, as mocas, a água, ou
todo e qualquer objeto e fenômeno, seja parte de um discurso de uma mente ilimitada; é claro que isso,
para vocês, é somente uma hipótese. Mas também a existência da força da gravidade e de leis biológicas
também são só hipóteses – e coisas desse tipo são, realmente, apenas hipóteses mesmo. Agora, o universo
ser um discurso de uma mente ilimitada, já foi arqui-demonstrado; isso é indiscutível. Se você falar:
“Não, não sei se é assim.” Você não entende as coisas, não sabe o que são elas. E, é evidente, que a mente
humana não capta imediatamente em qualquer objeto todo o seu simbolismo, todo o seu significado na
mente divina – uma mente humana não é uma mente divina. Todos os sistemas simbólicos têm, no seu
pano de fundo, essa idéia subjacente: “Ah, as coisas estão todas ligadas como as palavras de um discurso
também estão ligadas. O universo é um cosmos, é uma ordem, porque um discurso é uma ordem, é um
cosmos.” Quer dizer, um discurso não é só uma seqüência arbitrária de palavras ou de significados. Não,
ele é um conjunto de significados onde um vai clareando o outro, o outro vai complementando aquele
outro, e assim sucessivamente.

Então, só para dar mais um exemplo do simbolismo astrológico... Não quis entrar muito na depuração
dialética hoje, pois já sabia que se eu fizesse isso, na próxima aula não viriam um ou dois alunos. Alguém
aqui já estudou alguma coisa de astrologia? Alguém aqui é capaz listar os doze signos e me dizer quais
são os cardinais fixos e mutáveis? Então vamos fazer aqui um alfabeto astrológico, e isso vocês terão de
decorar assim como decoraram as letras do alfabeto.

Planetas:

Bem o meu símbolo de Marte é um pouco diferente [nota do transcritor: os símbolos acima foram
encontrados no Google e estão de acordo com os símbolos que vieram junto com o download desta aula].
Também, esqueçam essa coisa de Urano, Netuno e Plutão. Isso é coisa de doentes mentais. São planetas
que ninguém vê. Como você vai procurar o simbolismo de algo que ninguém vê, ninguém ouve e
ninguém cheira?

Agora temos os meses das estações no Hemisfério Norte e os signos respectivos:


Signos da primavera: Áries, Touro e Gêmeos.

Signos do verão: Câncer, Leão e Virgem.

Signos do outono: Libra, Escorpião e Sagitário.

Signos do inverno: Capricórnio, Aquário e Peixes.

Vocês já notaram que existem diferenças entre as quatro estações, certo? Sei que vocês não notaram as
diferenças astrológicas, mesmo porque elas não são tão evidentes aqui no Brasil, além d’elas serem
invertidas em relação ao Hemisfério Norte. Porém, se vocês notarem, cada uma das estações tem três
meses e três signos. Então, olha só, quais as diferenças entre esses três signos [se referindo aos signos da
primavera]? Todos eles estão ligados ao simbolismo da primavera. Esses aqui são os signos do verão e
estão ligados ao simbolismo do verão. Do mesmo modo que as cores têm um simbolismo, que os
intervalos musicais têm um simbolismo; dessa mesma forma, se você observar as características das
estações, também irá perceber um simbolismo próprio de cada uma. Então, esses três outros signos têm
um significado relacionado ao outono. E esses três últimos, ao inverno.

Olha só, cada estação tem três meses. Áries, Câncer, Libra e Capricórnio correspondem ao primeiro mês
de cada uma das estações. Se você observar as estações verá que, no primeiro mês delas, é quando você
nota uma qualidade distinta, diferente à da estação anterior. Nos dias em que o Sol entrou em Câncer,
você começa a sentir tudo mais quente - por exemplo -, porque é o primeiro mês do verão. Na primavera,
as coisas começam a renascer, a vegetação volta a se expandir, e assim por diante. No segundo mês, você
percebe uma certa intensificação das qualidades do mês anterior. As qualidades e características distintas
que surgiram no primeiro mês da estação se tornam marcantes no segundo mês. O terceiro mês é
marcado, geralmente, pela dissolução dessas qualidades e antecipação, às vezes, das qualidades da
estação seguinte. Então, os signos que começam as estações são chamados de signos cardinais – depois
veremos a parte astronômica do porque eles serem chamados de cardinais; os do meio são signos fixos,
pois as qualidades das estações se fixaram, estão mais firmes; e os últimos são os mutáveis, justamente
porque a estação começa a mudar para outra.

Olha só, mas os termos ‘cardinais’, ‘fixos’ e ‘mutáveis’ não significam nada para quem não é astrólogo.
Se você quiser entender os signos, também poderia dizer que os cardinais são signos amarelos (pois aqui
houve a irradiação de uma qualidade, houve o surgimento dela), os fixos são signos vermelhos (aqui
houve a intensificação da qualidade surgida anteriormente) e os mutáveis são signos azuis (pois a
qualidade diminui, repousa e termina). Se quisesse, você poderia dizer: “Áries é um signo cardinal de
fogo.” Mas se você quer realmente entender Áries, é mais fácil dizer o seguinte: “Áries é o signo amarelo
de primavera.” Se você captar qual é a qualidade da primavera, irá dizer: “Bem, Áries representa aquilo
que faz nascer essa qualidade [da primavera].” Se você captar qual é a característica do verão, irá dizer:
“Câncer é o signo que faz surgir essa característica [do verão].” Quanto à primavera: “Touro é quando
essa característica [da primavera] se intensifica. E Gêmeos seria onde ela [a característica da primavera]
termina.” Toda a astrologia funciona nessa base. Conseguiram entender por que o primeiro é o amarelo, o
segundo é o vermelho e o terceiro é o azul? Lembram da primeira parte da aula em que falamos do
amarelo, do vermelho e do azul? Reparem que, quanto às estações, uma hora elas começam. “Puts,
começou o verão.” Apareceu uma qualidade que não tinha antes. “Ah, começou a primavera.” Apareceu
uma qualidade que não tinha nos meses anteriores, que depois se intensifica [no segundo mês] e alcança o
seu término [no terceiro mês].

Será que dá tempo da gente descrever um pouco as quatro estações?

Aluno: Como a gente resolve a questão das diferenças entre Hemisfério Sul e Hemisfério Norte?

Gugu: Esqueça o Hemisfério Sul por enquanto. Por quê? O que o sujeito tem que fazer na prática?
Primeiro ele tem que entender claramente as características distintivas das estações no Hemisfério Norte.
“Ah, eu sei o que é o ar de Áries, sei o que é a vegetação de Áries... Já identifico todas essas coisas!” Tá,
então agora você passa a observar a natureza aqui [no Hemisfério Sul] quando o Sol estiver em Áries para
tentar ver as diferenças. A questão entre Hemisfério Norte e Hemisfério Sul é muito complicada e sutil. E
por que nós não invertemos? Porque um não é exatamente o inverso do outro. O primeiro mês de outono
aqui não é igual ao primeiro mês de outono do Hemisfério Norte, as qualidades são diferentes. Primeiro
conceitue a coisa muito bem, depois pense na questão problemática. É claro que eu posso explicar aqui:
“Veja bem, isso aí é porque o Pólo norte representa o Pólo essencial da manifestação, e o Pólo Sul
representa o pólo substancial. Então, no Hemisfério Norte, os signos se apresentam como qualidades
formalmente distintas, e no Hemisfério Sul, como tons de uma substância.” Essa é a teoria. Mas o cara
que não sabe astrologia não vai entender nada!

Aluno: Ele vai falar: “Tá, e como é que eu faço para ficar rico?”

Gugu: Exatamente! Resumindo: então, dá para saber e dá para o sujeito observar. Se o sujeito entendeu os
signos tal como eles foram definidos no hemisfério norte e depois ele olhar aqui... Lembro que estava
esse ano, quando o Sol entrou em Áries, em Joinville, em um sítio, com um grupo de amigos. No dia que
[o Sol] entrou em Áries, falei: “Ah, está vendo esse ar assim? O que está te dando vontade de fazer? Está
vendo? Isso aí é o Sol em Áries. O Sol acabou de entrar em Áries. Deve ter entrado há umas duas ou três
horas atrás. Entendeu? Preste bem atenção em como há poucas horas atrás você só tinha vontade de ficar
recolhido em casa. E agora começou a surgir uma energia que te move - assim, de andar.” Dava para
perceber nitidamente. Mas eu estava lá, os alunos estavam lá também; e eles são alunos que já sabem as
distinções entre os signos. Aí dá para mostrar. Naturalmente que não vai dar para eu estar lá na entrada do
Sol em cada signo. Não vai dar. É algo que vocês terão que fazer durante muito tempo - e, idealmente,
teriam que ver a entrada desses meses no hemisfério norte, porque aí a qualidade se apresenta de maneira
distinta e não como um tom.

Já repararam que existem coisas valiosas e coisas sem valor? Ou nunca repararam? Se não repararam,
passem já todo o dinheiro que têm aí, já! Porque se não tem valor, não tem diferença entre o que tem
valor e o que não tem. Já repararam nisso? Já repararam no seguinte: que as coisas valiosas são valiosas
por duas causas, certo? 1) Uma, porque elas são feitas de materiais valiosos. Por exemplo, eu tenho um
carro de ouro, um fusca de ouro. Ele é valioso, não é? Concorda comigo que um fusca de ouro vale
alguma coisa? Ele vale mais do que um fusca comum? Veja, um triciclo de ouro vale mais ou menos do
que um triciclo comum? 2) E agora o seguinte: uma Ferrari comum – não é de ouro. Ela vale mais, menos
ou tem o mesmo valor que o fusca [comum]? Vale mais. Mas isso não se dá exatamente - nem
principalmente - pelo material de que ela é feita – pois, quando é assim, você olha o material e dá vontade
de tê-lo. Isso [o valor da Ferrari] se dá pela boa execução de um projeto excepcional. Não é assim? O
material melhorou um pouquinho em relação a outro carro [no caso de não ser um carro de ouro], mas
isso não justifica o preço. O que justifica é a diferença efetiva [entre um carro bem projetado e outro não
tão bem projetado assim]. Uma coisa pode ser preciosa ou porque ela tem uma função, uma capacidade,
ou qualidades dadas por um projeto bem executado; ou ela tem qualidades dadas por um material
precioso. Claro que dá para juntar as duas também. Pode haver uma Ferrari de ouro. Aí você estaria no
topo da escala...

Aluno: Daí você não precisa aprender astrologia mais!

Gugu: Exatamente! Deu para perceber? Olha, uma pepita de ouro vale alguma coisa, mas uma escultura
do Rodin de ouro vale mais do que essa pepita - do que esse mesmo peso em ouro. Mesmo se você fizer
uma jóia... Um colar mais ou menos bem feito vale mais do que o seu peso em ouro. Essa é a diferença
entre essência e substância. Essência é o que dá a forma para a coisa, o que dá as suas características
essenciais, o que dá aquilo que ela é capaz de realizar; substância é o princípio material dela, aquilo que
dá consistência.

Todo fenômeno natural é composto de forma e matéria. Tem um lado substancial e um lado essencial. A
forma (ou as qualidades) dos meses das estações no Hemisfério Norte corresponde diretamente aos
signos. “Ah, e no Hemisfério Sul?” No Hemisfério Sul não é a forma das qualidades, é o sabor, o tom, o
material de que elas são feitas. O verão, aqui – quando é inverno lá e verão aqui -, é feito de um calor
diferente do verão lá. Eu sei que é difícil notar, pois vocês nunca prestaram atenção nisso procurando
essas coisas. Assim como vocês não são desenhistas, ou pintores, ou decoradores e nunca se perguntaram:
“Espera aí, o que o vermelho significa?” Mas está lá o significado.

Aluno: Realmente, é completamente diferente.

Gugu: É completamente diferente. Está claro isso aí? Quando a gente for estudar os signos, o que nós
iremos estudar primeiro? O que são as qualidades das estações?

Aluno: A qualidade das estações corresponde à forma do signo, é isso?

Gugu: Olha só... A qualidade das estações corresponde ao signo, é uma indicação do signo, é uma das
notas que definem o signo. Por exemplo, nos meses que o Sol está em Áries, Touro e Gêmeos, a natureza
toda indica uma certa qualidade. Quando está em Áries, indica essa qualidade combinada com a qualidade
do amarelo. Quando está em Touro, essa qualidade é combinada com o vermelho. Quando está em
Gêmeos, essa qualidade é combinada com o azul. Quando fizermos o simbolismo dos signos, será natural
que eu pegarei os dados astrológicos de todos vocês e iremos saber o ascendente de todo mundo. E
iremos dizer: “Olha, a pessoa que tem ascendente em tal lugar, tem isso, isso e isso.” A pessoa vai olhar e
falar: “Ah, agora estou começando a entender o que é esse signo.” Claro que isso exigirá um pouco de
sofisticação da percepção do signo. Vocês terão que fazer esforço para entender. Mas perceba que o
esforço vai se dar nesse sentido: “Tá, tudo bem. Quais são as qualidades que eu percebo nas estações?
Quais são as qualidades que eu percebo nos planetas? Quais são as qualidades que eu percebo nas horas
do dia?” Isso também será muito importante para a astrologia, pois define o sistema de casas. “O que é
ascendente? O que é casa dez?” Isso tudo se dá pelas horas do dia.

Então, o estudo de todo o simbolismo será para aprendermos a fazer esse trabalho. “O que você pensa
quando vê o vermelho?” “Penso em tal coisa.” “Não, isso aí é bobagem, não tem nada a ver com
simbolismo...” “Por quê?” “Porque eu estou mandando, certo? Não tem nada a ver. Esquece isso aí. Diz
outra coisa. Ah, Isso aí é! Lembre-se disso, preste atenção.” Com o tempo, o sujeito começa a se habituar
a prestar atenção nas notas das coisas assim e vai adquirindo um senso simbólico. O sujeito vai fazendo
isso e dali a seis meses – mas aí ele tem que ficar lembrando das coisas, não adianta fazer a listinha hoje,
esquecer, depois chegar na aula e se perguntar o que tinha naquela lista; não vai aprender nada desse jeito,
tem que continuar olhando as coisas -, depois que eu tiver dito para ele anotar que tal coisa que ele disse
era bobagem, o sujeito vai olhar para aquela coisa e dizer: “Cara, como eu era pirado! Não tinha nada
disso no vermelho.” Ele vai olhar o vermelho e perceberá que não tinha nada disso, que era tudo coisa da
cabeça dele, era projeção. Não é muito difícil aprender a fazer essa distinção, mas é uma questão de
prática. Vai precisar da prática, por um lado, e complementar isso com o seguinte: “Espera aí, o que é uma
cor? O que é cor? Ah, tá, depuração dialética do conceito de cor. O que é um som? O que é um intervalo
musical?” Entendeu? Por exemplo, você vai ensinar a astrologia: “Aqui estão os aspectos do trígono que
são aspectos bons; depois os aspectos ruins...” Olha só, como eu posso explicar isso para você? Primeiro,
se eu for ensinar apenas a técnica astrológica – isso é um fato -, não terá um mapa que você irá olhar e vai
dizer: “Puts, que bom que tem essa oposição! Como isso beneficia o sujeito!” Não acontecerá isso aí. Mas
para você entender isso, por exemplo, que os aspectos astrológicos são como intervalos musicais... Daí o
cara vai ter que ouvir os intervalos musicais, o que é uma quinta, o que é uma quarta. Alguém terá que
trazer o violão para que ele ouça as notas.

Se o sujeito não prestar atenção e não perceber aquela qualidade nas coisas, acontece o seguinte: “Você
leia um manual de técnica, leia o manual do William Lilly... Você quer aprender astrologia? Leia o
Christian Astrology do William Lilly. Leia, releia e tente responder pelo menos vinte questões horárias
por dia. É assim que aprende.” Você irá aprender a técnica. Mas o porquê esse planeta significa aquilo, o
porquê aquele planeta significa aquilo outro, o sujeito não vai saber. Ele não vai saber nada. Ele vai ter
uma coisa que, na prática, funciona.
E isso ficará na cabeça dele – se ele aprender a técnica e ela funcionar – e ele irá pirar. Vai ter uma parte
da mente dele que vai descolar da outra e não vai conseguir colar de novo. E aí ele pensará que não existe
livre-arbítrio e se tornará pagão. Tudo bem que todo mundo hoje em dia é pagão, que todo mundo pensa
que somos amebas ou átomos, mas aí teremos um outro tipo de paganismo. Ele terá mais uma justificativa
para o seu paganismo interior. “O homem não tem liberdade. Deixa eu ver aqui no mapa astrológico se o
cara é gay.” Dá para ver. “Deixa eu ver se o cara traiu a mulher ontem.” Dá para ver. E o sujeito vai
aprender que dá para ver essas coisas. Se ele não tiver aprendido muito bem a ver assim: “Não, espera aí,
o vermelho não é só um raio que bate aqui e vem aqui. O vermelho tem uma dimensão interna, uma
dimensão de inteligência que é o conteúdo dessa inteligência divina.” E se ele estudar astrologia e ver que
a técnica funciona, é o seguinte: com noventa e nove por cento de chances – pois não vivemos num
mundo tradicional que dá alguma proteção – ele irá perder o senso, mesmo, do que são as coisas, do que é
o homem, do que é a vida, do que é a inteligência. Tudo bem que ele não vai perder muito, porque ele já
não tinha muito esse senso. A maior parte das pessoas, hoje, na maior parte do tempo diz: “Eu acho que a
gente não tem liberdade mesmo, é tudo condicionado. É a educação, é o sistema, é a TV...” O cara já está
convencido e já usa isso para justificativa de oitenta por cento das ações dele. Ou é: “Porque o outro me
bateu...” Então ela já está persuadido de que o homem não é livre. Com a técnica astrológica ele corre o
risco de sofrer o golpe de misericórdia na capacidade de aceitar que ele é livre, que é ele que está ferrando
com a vida dele.

Olha só, se o vermelho possui uma dimensão profunda, uma dimensão de inteligibilidade onde ele não é
mais apenas vermelho, uma dimensão que se for percorrida ele é divindade... O homem também é um
fenômeno. E ele é um fenômeno muito mais amplo do que o vermelho. Isso quer dizer que ele também
possui uma dimensão de inteligibilidade que vai até o divino. E a liberdade do homem existe no encontro
consciente entre o homem como fenômeno e esse eixo de retorno à divindade. Como esse eixo está ali,
então o sujeito tem liberdade. Muitas vezes ele pode não ter a percepção dessa liberdade, porque isso
implicaria nele fazer um esforço para observar ele mesmo como símbolo. Do mesmo jeito que ele está
observando o vermelho para estudar astrologia - ou a primavera -, se ele quer entender o que é a liberdade
ou o destino, ele também tem que aprender a olhar para ele mesmo como um símbolo. Se ele não olhar
para ele mesmo como um símbolo, ele só se perceberá como fenômeno. Não é só olhar a doutrina de que
o homem é também um símbolo e querer crer nela. É preciso olhar e achar o simbolismo do homem,
depois o meu próprio simbolismo. Qualquer pessoa religiosa já crê que é uma imagem e semelhança de
Deus. E se ela pratica a religião livremente e sistematicamente, se ela reza todos os dias, se ela dá esmolas
todos os dias - ou pelo menos uma vez por semana -, ela não vai cair nessa de que o homem é sempre
determinado e não é livre. Ele não vai cair porque tem proteções práticas contra isso.

Aluno: Mesmo que ele não se entenda como um símbolo, ele se sente como símbolo.

Gugu: Exatamente. Não somente ele se sente como ele está efetivando certas características desse
símbolo. Ele está ativando, fazendo esse símbolo reverberar simbolicamente.

Aluno: Mas nesse aspecto que o senhor falou do uso da técnica como uma ferramenta qualquer, sobre
como ele nasceu naquela tal data, sob tal planeta, sob tal signo, se ele está predestinado...

Gugu: Ele seria só mais um mecanismo. Exatamente... Se um sujeito aprender a técnica astrológica
efetivamente e ver o quanto ela funciona sem ter feito, por um lado, a depuração dialética dos conceitos,
por outro, perceber o homem como um símbolo real, ele vai sair pensando que está tudo escrito e pronto.
“Posso cair na gandaia. No máximo faço uma questão horária para saber se vão me pegar.” Ele vai sair
com essa impressão. E isso aí, eu vou dizer, não é responsabilidade de quem ensinou. Porque se hoje em
dia eu levar em conta o mau uso que as pessoas podem fazer de qualquer ciência, então não posso ensinar
nada - é proibido ensinar, deixa todo mundo morrer na ignorância. Isso de qualquer ciência tradicional.
Então não levarei isso em conta. Vou levar em conta isso: rezem todos os dias a oração tradicional da
religião mesmo se estiver cansando e achar que ela não será válida, porque, quem decide se será, é Deus.

O estudo da astrologia desvinculado da prática religiosa deixa o sujeito doido. Se você tem dúvida,
procura na lista telefônica uma escola de astrologia e veja os sujeitos que estão lá. Veja os professores... O
sujeito fica doido mesmo. Por quê? Porque isso aqui é um tipo de ciência que foi criada num ambiente em
que havia a consciência de que existe uma mente ilimitada e de que o homem é o representante ativo e
efetivo dessa consciência neste mundo, e que ele tem que exercer esse papel no mínimo simbolicamente.
Se o sujeito esqueceu o que ele é e aprender isso aí, então acabou, ele cavou o próprio buraco. Eu sei que
hoje em dia todo mundo quer explicação para tudo. “Mas por que eu tenho que rezar?” Minha Santa Mãe
de Deus... É o seguinte, se o sujeito quiser uma explicação do porquê ele tem que rezar, do porquê ele tem
que jejuar, do porquê ele tem dar esmola, ele que escute minhas aulas passadas, porque eu já dei essa
explicação. E explicação também não ajuda muito, sabe por quê? Porque na hora de fazer, a explicação
não estará clara – um dia estará e no outro não. “Ah, por que tem que fazer isso?” Porque, pessoas muito
melhores do que você, falaram que tinha que fazer. Todos os santos falaram que tinha que fazer, todos os
profetas falaram que tinha que fazer, então tem que fazer.

Lembrem que durante onze anos vocês confiaram nos professores da escola. Agora passem mais onze
anos confiando em Moisés, São Francisco, Jesus... Passem uns onze anos confiando nesses aí. Passem um
ano que vocês já vão lucrar. Tem que rezar todos os dias. Tem que dar esmolas todas as vezes que te
pedirem... “Ah, puts, eu não tenho dinheiro.” Então dá o seu sapato. “Puts, eu só tenho o dinheiro do
ônibus para voltar para casa.” Acontece, dá o seu sapato. “Ah não, mas vai complicar tanto a minha vida.”
Então tá bom, então não me enche. Fala sério, não estamos na idade média. Não é tão difícil assim obter
um sapato. Antes era herdado - o sujeito herdava as botas do pai dele. “Ah não, mas isso aqui custou
quatrocentos reais.” Mas por que você está usando um sapato de quatrocentos reais? O que você quer da
vida? Desculpa, gente. Eu estou ficando velho, estou com quarenta e dois anos, e estou perdendo a
paciência. Não vou ficar explicando. É o seguinte, São Francisco, que era um mendigo, dividia os bens
dele com quem pedia. E todo mundo que é normal reza todos os dias as orações tradicionais. “Não, mas
eu sou normal.” Não, você não é normal, você pensa que é. Você não é doido, você não tem demência
mental. O homem é composto de corpo, alma e espírito, e existem três tipos de doença: do corpo, da alma
e do espírito. Então você não é doido, não tem uma doença da mente, não come giz, certo? Mas se você
não reza as orações tradicionais todos os dias, você tem uma doença espiritual. E na hora em que você for
confrontado com um tipo de conhecimento que foi desenvolvido e discutido por pessoas que rezavam
todos os dias, essas doenças irão começar a te afetar. É evidente. Claro, elas te afetarão postumamente.
Isso aí acontecerá. Se você não reza todos os dias, então eu não te garanto. Se você começa a entrar em
contato com a verdade do universo, que a cor não é apenas uma cor, não é apenas uma vibração, não é
apenas um fenômeno sensorial, mas é uma palavra, é uma entidade espiritual e intelectual ilimitada - esse
é um fato sobre as coisas, um fato real sobre o mundo em que vivemos -; se sua mente se confrontar com
isso e você não faz o mínimo, então o seu destino é sua responsabilidade.

Existe uma coisa escrita, pré-determinada. Mas se você está aqui no chão, os caminhos do mundo são
curvos e você não vê para onde eles levam. Então você pensa: “Ah, eu acho que esse aqui é melhor.” Aí
você vai e ele curva para lá; e você cai no pior. A ascensão espiritual é assim chamada, pois é como se a
pessoa estivesse vendo a coisa mais de cima. Daí, dos vários caminhos do mundo, ela enxerga melhor
para onde cada um leva, ampliando a liberdade do sujeito. Se amplia a liberdade real dele e amplia o
conhecimento dele de como as coisas são determinadas, as coisas tem que crescer juntas, entendeu?

“Ah não, eu não acredito, eu quero provas disso aí.” Não. Olha, eu não provo mais. Sério, estou a dois
passos de desistir de dar aulas no Brasil, porque começo a ensinar e os caras ficam quatro meses e daí a
turma diminui pela metade; com cinco meses você tem que voltar a falar do primeiro mês. “Mas por que
isso?” “Bem, você rezou durante esse tempo para Deus facilitar o seu entendimento?” “Mas tem alguma
coisa a ver com a outra?” “Tem.” Então se alguém acha que a atitude correta é o ceticismo e não combina
comigo, não tem problema. Mas o esforço para explicar coisas que são princípios básicos do
comportamento humano, eu não tenho mais força para fazer: o porquê do cara ter que rezar todos os dias
ou ter que dar esmolas... Então eu não farei mais isso daqui a dois meses para vocês. Ou vocês fazem isso
na confiança de que deve ser feito... E eu não estou falando nada estranho para ninguém, não estou
falando para ninguém fazer três horas de yoga no gelo; estou falando para rezar o rosário todos os dias e
dar esmolas quando te pedirem. Dar dinheiro e não um sanduíche; ou você só compra sanduíche para
você? Você dê lá uns dois reais, não cinqüenta reais de esmola. O cara não terá muito o que fazer com
dois reais, ele não terá uma liberdade muito grande do quê fazer com esse dinheiro. O ser humano tem
que ter vergonha na cara de perceber que ele e o mendigo são da mesma natureza. “Não, mas eu sou
melhor, Deus me deu...” Cara, cala a boca! Quando você morrer, os vermes que comerão seu corpo não
são de uma espécie mais nobre do que os vermes que vão comer o corpo do outro, lembre-se disso. Você e
ele serão reduzidos à mesma condição. E depois disso, todos nós enfrentaremos o mesmo juiz que não
será mais leniente comigo porque eu ganhei mais ou tive mais nesse mundo. E se alguém virar para mim
e disser que: “Não, mas eu tenho mais porque eu batalhei.” Pior para você! A sua batalha será uma batalha
para você cair no inferno, seu desgraçado! Não perguntei se os seus bens vieram da herança, da sorte, do
roubo ou da batalha. Estou falando que eles têm pouco valor, porque você vai morrer. E por eles terem
pouco valor, dê um pouco para o outro. Lembre-se de que você tem mais valor do que os seus dois reais.
A sua alma tem mais valor. A alma dele tem mais valor. Sério, quando meu irmão disse: “Cara, dá o curso
lá em São Paulo.” “Eu não quero mais dar aula.” Não quero porque o conhecimento é um negócio tão
bom, tem tanta coisa para ganhar aqui... E por tão pouco você está claramente comprometendo o destino
de sua alma. Vou dizer uma coisa para vocês: quem não reza todos os dias uma oração tradicional vai para
o inferno, com raríssimas exceções; na mesma proporção de que quem joga na loteria perde – e alguns
ganham com raríssimas exceções. Se você acha que é uma exceção, tudo bem, pode achar.

Eu sei que podem existir, nos seres humanos, dúvidas legítimas. “Mas por que o homem reza se Deus
sabe tudo? Por que você tem que falar com Ele se Ele sabe tudo?” Eu sei que existem dúvidas sobre essas
coisas. Mas é o seguinte, primeiro comece a fazer o que é bom, e quando isso virar um hábito eu explico
novamente o motivo dessas coisas. Porque se você esperar a explicação para começar a fazer, três meses
depois você irá parar. Pegue o Willian Lilly - o melhor tratado de astrologia horária que existe e o terceiro
melhor de astrologia natal, um dos maiores clássicos da astrologia ocidental. Na primeira página ele diz
que a primeira coisa que o estudante de astrologia deve fazer é rezar muito, ter muita devoção... Essa é a
primeira coisa, porque a verdade sobre essas coisas, a verdade sobre o mundo é essa: o mundo é um
discurso divino para que eu possa entendê-lo e possa me assimilar à esse divino. “Ah não, mas eu não
sei...” Olha, se você não sabe, paciência. Se você não sabe, vá estudar. Eu realmente não tenho mais
disposição para explicar essas coisas. “Não, mas, por favor, Gugu, me explica.” É o seguinte, então não
pratique isso, não tenha religião, para mim não tem mais problema. Se ele quiser aprender astrologia, eu
ensino. Mas o que vai acontecer com ele é isso, isso e isso; ou faz do jeito que estou falando, ou vai
acontecer tudo isso com ele. Se você fizer o mínimo do que estou falando para fazer – e isso é o mínimo...
“Não, agora estou fazendo o que o Gugu mandou eu fazer, então eu sou um Cristão!” Não me faça rir!
Isso daí é uma gota apenas, mas faça ela e estude. Sabe o que vai acontecer? Você terá mais paz na sua
vida, você irá entender as pessoas da sua família, você irá entender você mesmo... Um monte de coisa irá
melhorar na sua vida. “Ah, mas eu não sei se irá melhorar...” Não, faça e veja se não irá melhorar.

Eu faço essa advertência porque o tema exige. “Não, eu quero aprender astrologia. Eu quero olhar o mapa
aqui e saber que o cara é assim ou assado, pensa assim ou assado, sente assim ou assado. Eu quero saber
isso aí.” Se você quer saber isso aí, há um preço. Não saber também tem um preço. Se você não sabe
ciências tradicionais e vive na sociedade moderna, a sua vida é uma droga. “Não, mas acho que minha
vida está boa...” Não, a sua vida não vale nada. Sabe por quê? Porque a chance de você ir para o inferno é
incalculavelmente grande. Tanto a vida não vale nada que, se você perde um emprego, você começa a se
desesperar; você perde um relacionamento, você começa a se desesperar; você vale muito pouco. Quer
melhorar isso aí? “Claro. Quero aprender ciências tradicionais, cosmologia cristã...” Se você aprender
isso aí e estiver dentro da religião cristã - dentro desse mínimo que eu disse, na periferia da religião; não
se iluda também de achar que praticando esse mínimo você estará no centro dela -, aí você começa a ver
como o universo e o homem funcionam dentro de uma perspectiva tradicional - que é realmente como
Deus criou essas coisas. Aí a sua vida melhora e muito. Outras coisas que eram difíceis de entender se
tornam fáceis. Por quê? Porque elas também são fenômenos, e eles não são senão feixes de simbolismos.
“E se o cara não tiver religião?” Bom... “E se o cara tiver a religião e não aprender a cosmologia?” Aí
também já foi bom. A vida desse indivíduo neste mundo já melhorou bastante e a chance dele ir para o
inferno já diminuiu também. “Ah, mas eu não quero fazer esse negócio de religião.” Tudo bem, mas saiba
que você será apenas mais um que irá contribuir para que eu não tenha mais vontade de dar aula nesse
país. Vocês querem o curso, querem aprender astrologia? Eu quero ver resultado, eu quero ver que vocês
estão aprendendo e fazendo esforço para isso. E se vocês não estiverem endoidando, sei que pelo menos
rezando e dando esmolas estão.

Quando um sujeito que não está acostumado a fazer isso chega na primeira aula e eu digo: “O que é a
Lua?” Ele tenta, tenta e não consegue fazer a depuração dialética. Então eu tenho que dar pistas. Aí, se ele
não fez o que eu disse para fazer, chega na quarta aula e ele está viciado em pistas - e eu estou ficando
cansado -, daí tenho que dar mais pistas. E o cara já não faz tanto esforço porque ele sabe que mais pistas
virão. Isso acontece porque ele não reza todos os dias pedindo o entendimento dessas coisas para Deus.
Ele não reza! Ele não faz um terço para que a inteligência se esclareça acerca dessas coisas. Ele não faz
isso! “Ah, mas eu não faço isso porque eu não sei...” Cara, pelo amor de Deus... Então é difícil para ele.
No primeiro dia ele tem uma dificuldade, no segundo dia a dificuldade é a mesma, no terceiro também e
assim por diante. Você acha que você entende as coisas porque você quer? Que você tem alguma
capacidade de entender as coisas? Você entende porque Deus deixa. É assim que funciona a inteligência.
Aí o cara te pede dois reais e você fala: “Não, é melhor não, porque ele vai beber.” Aí Deus olha para
você: “Ah, o cara quer entender astrologia? É melhor não porque ele vai abusar. Para quê eu vou deixar
esse cara mais inteligente? Ele não tem compaixão com o cara que está sofrendo e morando na rua. É esse
cara que eu quero deixar inteligente? Para depois ele sair falando como ele é possuidor da sabedoria
tradicional, a filosofia e o discernimento para meio mundo? Para quê? Não.” Deus vai emburrecendo a
pessoa, porque Ele não quer que ela fique mais inteligente, porque ela não teve o mínimo de boa vontade.
E daí quando você fala para o cara rezar o rosário, dar esmolas; e o cara começa a fazer isso, a ir na
igreja, a falar com o padre... Mas eu não falei isso. Daí o cara faz isso também para emburrecer. “Não, eu
vou lá, pois o padre vai injetar graça em mim.” Não, cara, tem muito mais valor você sentar todos os dias
na sua casa – isso é tecnicamente dos santos -; todos os dias você sentar e orar solitariamente; isso tem
mais valor do que você ir para o templo uma vez por semana. Esses são dados técnicos da religião. Mas
ele não quer fazer isso e vai para a igreja para o padre injetar [a Graça] no passivo. Eu sei que o cara vai
se sentir estranho rezando o rosário pela primeira vez, mas vá lá e faça isso. “Ah, mas me dá uma
sensação estranha, eu não me sinto bem.” Eu não falei para você se sentir bem e entender qual o sentido.
Faça, pois é bom. Persevere nisso e daqui a dois anos volte e me diga o que aconteceu.

Transcrição: Antonio Carlos Bosseli, Danilo Roberto Fernandes


Revisão: Danilo Roberto Fernandes

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