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Também devemos ao Professor Bernardo Xavier a oportunidade, que muito nos
honrou, de colaborar no mestrado em Direito do Trabalho da Faculdade de Direito
da Escola de Lisboa da Universidade Católica Portuguesa. Curso que também acolhe
discentes não juristas e que se centra na temática do Direito do Trabalho na empresa.
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Temos o cuidado de acompanhar a publicação de anúncios de emprego que pedem
licenciados em GRH. Geralmente exige-se conhecimentos básicos de legislação laboral.
Ultimamente constatámos dois anúncios em que se pedia “disponibilidade para desen-
volver conhecimentos de direito do trabalho”, o que se nos afigura uma formulação
particularmente adequada.
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Os responsáveis da DRH não estavam preocupados em saber se a interpretação
era mais favorável ao empregador ou aos trabalhadores. O que pretendiam era dispor de
um critério de conduta, ou seja, uma resposta estabilizada, legitimada por uma opinião
fundamentada e que por isso fosse aceite por todos, empregador, trabalhadores e estruturas
de representação coletivas. É bom vincar um facto evidente: nas empresas, nem quem
decide nem quem está em posição subordinada são, em regra, juristas. A consultoria
preventiva tem, por isso, uma função legitimadora.
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Recorde-se esta passagem de José Lamego: “à sentença judicial, especialmente à
jurisprudência constante, cabe o papel de funcionar como “transformador” dos “princí-
pios prepositivos” em proposições jurídicas e instituições jurídicas positivas” (Lamego,
1985:113). Assinalamos, em particular, a ênfase dado à jurisprudência constante.
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Aquele autor reforça aquele entendimento deste modo: “É suposto os membros da
sociedade que são definidos pela regra como seus destinatários […] realizarem concre-
tamente na sua conduta a ordem da sociedade como encarada pela regra” (Voegelin,
1998:95).
336 JOSÉ MOURA JACINTO
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Neves, 1976:40 e 41.
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A função primeira do Direito é a de oferecer critérios de conduta e não a de evitar
conflitos. Os critérios de conduta têm uma função mais vasta: fornecem a todos os desti-
natários orientações para o seu comportamento e a expectativa de que, sendo cumpridas
as orientações, serão atingidos outros objetivos, entre os quais evitar conflitos.
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A multiplicação de ambientes normativos supraestatais e infraestatais atinge dimen-
sões normalmente pouco reconhecidas pelo legislador, pela jurisprudência e pela doutrina
e, não obstante, incorporadas na decisão dos gestores. Dois exemplos apenas: o caso do
acordo entre a empresa multinacional B.S.N. e as federações sindicais internacionais do
setor agroindustrial para o respeito dos direitos sindicais, relatado em BIT, 1994:414;
as normas da International Organization for Standardization, como a ISO 26000, ou da
Social Accountability International, a SA8000, sobre direitos laborais. Pode-se discutir
a sua natureza jurídica. Mas existem e produzem efeitos.
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V. o nosso relatório de concurso para Professor Associado, dedicado a essa dis-
ciplina (Jacinto, 2004).
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Ver Jacinto, 2004:114. Noutros domínios científicos, mas com pouco acolhimento
entre os juristas, é importante o contributo da multi-level governance.
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Seguimos o autor que reabilitou a retórica, Chaïm Perelman, que reforça este
entendimento referindo-se especialmente ao Direito para firmar o entendimento de que
é inevitável o uso, nomeadamente pelo legislador, de noções confusas (v. Perelman,
1996:673 e seguintes).
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em que a vontade de cada membro da minoria, uma vez mais, para nada
conta. O que, neste caso, é tanto mais estranho se tivermos em conta
que o trabalhador que não esteja filiado em sindicato pode escolher a
aplicação de qualquer convenção em vigor na empresa (art. 497.º CT). Ou
seja, enquanto o filiado se submete à vontade da maioria, o trabalhador
não filiado pode escolher a convenção que lhe aplicável. Pela mesma
lógica deveria poder escolher apenas a convenção mais representativa.
A solução do artigo 497.º do Código do Trabalho também suscita
muitas dificuldades teóricas, na justa medida em que a vontade das
entidades que celebraram a convenção a que adere não são ouvidas, ao
contrário do que acontece nos acordos de adesão (art. 504.º CT)17. Por
isso, hoje a questão teórica vai muito além da perspetiva tradicional de
contrapor teorias contratualistas ou normativistas para tentar explicar
a força vinculativa das cláusulas convencionadas na esfera jurídica
individual dos trabalhadores filiados nos sindicatos. O problema hoje
seria o de encontrar justificação no plano dos princípios jurídicos para
a aplicação das normas negociadas pelos sindicatos a trabalhadores que
eles não representam. Aliás, o caminho para a atribuição às comissões
de trabalhadores de competência para celebrar convenções coletivas de
trabalho encontra-se aqui e não no número 3 do artigo 491.º do Código
do Trabalho. Com efeito, se se dispensa o vínculo de representação para
determinar a quem se aplica a convenção coletiva está aberto o caminho
para as comissões de trabalhadores disporem desse direito.
A verdade é que a própria complexidade intrínseca do fenómeno que
se está a regular torna inevitáveis certas inconsistências. Por exemplo, o
legislador é muito pressuroso a defender o efeito salutar do cumprimento
dos períodos normais de trabalho. Recordamos a importância que o
extraordinário primeiro dirigente do BIT, Albert Thomas, dava à defesa
da tripartição do dia do trabalhador: 8 horas para trabalhar, 8 horas para
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Para além da fundamentação teórica, há questões práticas colocadas pelo artigo
497.º que devem ser abordadas. Na vida das empresas, ouvidos ou não os trabalhadores,
muitos gestores aplicam as soluções da negociação coletiva a todos os trabalhadores e a
toda a organização. Já houve inclusive decisões judiciais que, apelando curiosamente ao
princípio da igualdade, determinaram que os empregadores assim podem proceder. Ora,
a contrario sensu, se o art. 497.º permite agora aos trabalhadores escolher a aplicação
de uma convenção, dir-se-ia que, na ausência de escolha, nenhuma solução constante de
uma convenção lhes poderá ser aplicada. Mas a lógica neste domínio conta pouco e as
soluções práticas continuarão a ser aplicadas. Como diz, a este propósito e com inteira
justeza, Bernardo Xavier, “o princípio da filiação não pode ser entendido rigorosamente,
sob pena de inaplicabilidade” (Xavier, 2014:271).
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Expressão que, como já vimos, o legislador acolhe e assim juridifica, embora com
escassa conceptualização.
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Seguindo a lição antiga mas ainda atual de Gino Giugni (Giugni, 1989:123).
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Xavier, 2014: 471 a 473.
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Sugerimos que um estudo empírico extremamente interessante consistiria em
analisar uma relação de trabalho que tivesse perdurado por, por exemplo, vinte anos.
Verificar qual o seu conteúdo, ou seja, os direitos e deveres das partes, ponto por ponto,
definidos originalmente e qual a evolução passadas duas décadas. Perceber, se possível
fosse, como teriam surgido todas as alterações, pela lei, por convenção coletiva, por
portaria de extensão, por acordo individual, por decisão do empregador. E apurar se as
partes, ambas as partes, teriam tido consciência do modo como se tinham produzido as
alterações, ainda se entendiam que, no último caso, deveria ou não ter havido acordo.
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Sobre o conceito de descentramento normativo v. Jacinto, 2002:408 e seguintes.
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Publicado no BTE n.º 23, de 22 de junho de 2012.
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Isto para além, claro está, de esta convenção coletiva, na esteira, aliás, de
muitas outras convenções, estabelecer tabelas salariais e outros direitos
diferentes para trabalhadores admitidos até determinada data e para os
admitidos posteriormente, violando de forma gritante, pela mão também
ela imperturbável dos sindicatos, o sacrossanto princípio da igualdade
A final, sob o anódino título que o identifica – “O ensino do Direito
do Trabalho no curso de Gestão de Recursos Humanos” – acolheu-se o
que pode ser entendido como um ensaio sobre os limites da Ciência do
Direito confrontada com as singularidades do Direito do Trabalho. Não
é esse, aqui, o nosso propósito. Por ora importa terminar, cumprindo
a promessa do nosso título, com alguns contributos para o ensino da
disciplina num curso de Gestão de Recursos Humanos.
Do ponto de vista da gestão estratégica de recursos humanos o Direito
do Trabalho é um Direito de encruzilhada e de negociação. Já o deixámos
explicitado. Importa que essas caraterísticas informem e conformem o
que se transmite aos alunos de GRH. Temos, por isso, de transmitir aos
futuros gestores a noção fundamental de que podem diminuir o risco de
várias formas.
Este ponto é singularmente interessante. Corresponde a uma tendência
do Direito que não pode ser ignorada, em particular por quem decide na
área de GRH. A imprevisibilidade que o Direito do Trabalho não conse-
gue suprir24, associada à ineficácia do sistema de sanções muito própria
deste ramo do Direito, conduzem os agentes a procurar aquelas soluções
alternativas. Por outras palavras, seguindo Günther Teubner, “as ine-
vitáveis falhas de eficácia induzem as partes envolvidas a transformar
os sistemas de coação em sistemas de negociação” de tal modo que “o
potencial coativo das sanções jurídicas não é usado, sobrevivendo tão-só
como um poder de negociação juridicamente garantido no contexto de
um sistema auto-regulado de negociação”25. Este resultado não é nega-
tivo, em nosso entender até em bem-vindo. Deve é ser bem entendido.
Preferência, desde logo, pela negociação de empresa, aproveitando o
novo quadro de desbloqueamento da negociação coletiva proporcionado
pelo novo regime de denúncia, sobrevigência e caducidade das convenções
24
O caso mais gritante entre nós tem sido o da diversidade de soluções, seguramente
contraditórios e, sobretudo, completamente imprevisíveis, que os tribunais arbitrais têm
determinado ultimamente em matéria de serviços mínimos obrigatórios [aplicando o
art. 538.º-4, b), CT].
25
Teubner, 1988:77.
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coletivas (arts. 500.º, 501.º e 502.º CT). É indispensável, claro está, que
os interlocutores sindicais estejam disponíveis para negociar a esse nível.
Neste ponto assinalamos um facto curioso, num dos últimos números
do Boletim do Trabalho e Emprego: dois casos de acordos de adesão
em que sindicatos aderem a um acordo de empresa26. Pode ser um sinal
de uma tendência para o reforço da negociação de empresa potenciado
pelo novo enquadramento legal.
Mas é conveniente ir mais longe, recorrendo a mecanismos diferentes ou
inovadores. No seio da empresa podem surgir mecanismos de negociação
informal permanentes. A questão do interlocutor é, obviamente, decisiva.
Obedecer-se-ia ao princípio político de que a negociação sucedida é uma
fonte de legitimidade, o que basta em princípio para produzir a ordem
desejada. O essencial seria tomar a iniciativa, sabendo que quem dá o
primeiro passo assume a liderança do processo27.
Seriam requeridos, porventura, novos sindicatos, ou poderiam ser
convocadas comissões de trabalhadores, sem violar a natureza destas, ou
seja, sem lhes conferir capacidade jurídica para representar os trabalha-
dores. Importa, de facto, que o interlocutor obedeça a lógicas diferentes
das tradicionais, mais viradas para a operacionalidade e viabilidade
empresariais. Um interlocutor conhecido, informado, participativo e
compreensivo. Necessariamente ligado à empresa, preferencialmente a ela
limitado. Nada exemplifica melhor o que se pretende do que o processo
de negociação coletiva seguido numa empresa como a AutoEuropa e
pormenorizadamente descrito, na sua fase inicial em artigo cuja leitura se
aconselha vivamente28. Mas também podem ser desenvolvidas fórmulas
informais de negociação com grupos de trabalhadores e com equipas de
trabalho, seguindo passos que o próprio legislador sugere.
Podem surgir, daí, novas fórmulas. Por exemplo, manuais de acolhi-
mento que cumprem, ao menos parcialmente, a obrigação da entidade
26
No BTE n.º 40, de 29 de outubro de 2014, foi publicado o acordo de adesão do
STTAMP, Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes da Área Metropolitana do Porto
ao acordo de empresa em vigor na SPdH, Sociedade Portuguesa de Handling, SA, e o
acordo de adesão do SINDEL, Sindicato Nacional da Indústria e da Energia ao acordo
de empresa em vigor no CEFOSAP, Centro de Formação Sindical e Aperfeiçoamento
Profissional.
27
Note-se que tomar a iniciativa também pode significar, entre outros, evitar a apli-
cação da lei negociada, da portaria de extensão estrategicamente estendida, das decisões
de arbitragem obrigatórias ou necessárias.
28
V. Correia, 2000.
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patronal prestar informação ao trabalhador (art. 106.º CT), mas vão além
disso. Outras possibilidades serão constituídas pelos códigos de conduta
laboral, pelas auditorias sociais tornadas publicas29. Ou pelos já referidos
manuais de normas laborais distribuídos a todos os trabalhadores.
O que interessa à empresa e ao gestor é o facto de todos estes meca-
nismos promovem com transparência aquilo que lhes interessa: um sis-
tema de expectativas garantidas. Se a lei e as instituições judiciais, se a
autoridade inspetiva, se o complexo tradicional de normas não descem
adequadamente o grau de incerteza, há inúmeras formas de o conseguir
por meio de fórmulas descentradas de produção normativa, verdadeiros
fenómenos ordinatórios caraterizados pela autorregulação. Por que não
estabelecer o princípio, mesmo quando tal não seja exigido, de negociar
as regras? Uma boa gestão estratégica de recursos humanos aconselhá-
-lo-ia. E algumas empresas já o praticam.
Mesmo na fase crítica, ou seja, no momento do conflito podem adotar
modos ajurisdicionais de solução. Não apenas as fórmulas de conciliação,
mediação e arbitragem previstas no Código do Trabalho, e formatadas
para os conflitos coletivos. Mas outras, como a mediação laboral com
fórmulas mais leves, adequadas à solução de conflitos individuais, ou
a pura e simples transação, o acordo que põe fim ao conflito antes do
recurso ao tribunal ou durante o processo judicial, pondo-lhe fim com
procedimentos previamente estabelecidos entre as partes. A grande men-
sagem, na verdade, é que preferencialmente haverá que prevenir, criando
regras negociadas, por exemplo, em matéria de serviços mínimos.
Eis o que procuramos transmitir aos futuros gestores de recursos
humanos. Na verdade, do ponto de vista estritamente pedagógico os
limites da Ciência do Direito não nos causam preocupação particular,
desde que consigamos explicar aos futuros gestores de recursos humanos
que a empresa bem gerida será o principal criador do ambiente normativo
juslaboral em que vai desenvolver a sua atividade. Este é o ponto-chave.
Em tudo isto, como é óbvio, os profissionais do Direito, os juslabora-
listas são chamados a intervir. É, aliás, sempre transmitida aos estudantes
de GRH a ideia de que, por estudarem a disciplina, não se vão transfor-
mar em especialistas de Direito do Trabalho e de que será aconselhável
recorrer à assistência dos profissionais de Direito, dando-se ênfase às
fases preventivas em que, demasiadas vezes, o gestor se julga autorizado
a decidir sem ouvir. O departamento de recursos humanos que tiver
29
V. Jacinto, 2001.
346 JOSÉ MOURA JACINTO
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