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ITQ – INSTITUTO TEOLÓGICO QUADRANGULAR

PROFESSORA: Pastora Fernanda


ALUNO: Silvio César Oliveira Rocha

ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DO APÓSTULO PAULO DO PAPEL DA IGREJA


NA CIDADE

O texto destaca a estratégia de Paulo ao dirigir-se principalmente às grandes


cidades comerciais do Império Romano durante suas viagens missionárias. Estas
cidades, localizadas ao longo de vias terrestres e marítimas importantes, como
Éfeso, Corinto e Filipos, eram centros de intensa atividade econômica e cultural. A
narrativa descreve o contexto comercial dessas cidades, onde se comprava e vendia
uma variedade de produtos, desde ouro e prata até escravos e vidas humanas. A
citação de Apocalipse 18:11-13 oferece um resumo abrangente do tipo de comércio
realizado nesses centros urbanos. O sistema econômico do Império Romano,
baseado no modo de produção escravagista, livre comércio e uso intensivo da
moeda, criou uma classe comercial que podia enriquecer e adquirir poder,
independentemente de sua origem. Essa classe era vital para a manutenção do
sistema. O texto destaca ainda que o império investia em propaganda para
promover a ideia de paz (pax romana) e utilizava o culto às divindades greco-
romanas e ao imperador como instrumentos de controle social. Contudo, o modo de
produção escravagista gerava crescente insatisfação, manifestada em revoltas
reprimidas com violência, incluindo crucificações públicas.
No contexto desse ambiente social, Paulo desenvolvia sua estratégia evangelística,
aproveitando as oportunidades oferecidas pela diversidade cultural e mobilidade
populacional dessas cidades. Sua abordagem encontrava um público ávido por
alternativas diante das injustiças e insatisfações inerentes ao sistema econômico
vigente.
O texto também destaca a habilidade de Paulo em se movimentar no ambiente
comercial greco-romano, resultado de sua educação em Tarso e de sua vivência em
cidades influenciadas pela cultura grega e romana. A transformação pessoal de
Paulo, conhecida como sua "conversão", não apenas o levou de um judeu zeloso
para um cristão fervoroso, mas também resultou em uma mudança significativa em
sua posição social. De homem respeitado, educado e zeloso pela Lei, Paulo passou
a enfrentar desemprego, pobreza, perseguição e humilhação ao abraçar a fé cristã.
Essa mudança sociológica influenciou profundamente a estratégia pastoral de Paulo.
O texto destaca um episódio em Atenas, onde ele tenta persuadir os atenienses
usando argumentos filosóficos na ágora e no areópago, mas enfrenta resistência e
fracasso. Em contraste, em Corinto, aprendendo com sua experiência em Atenas,
Paulo adota uma abordagem mais direta, não baseada na sabedoria humana, mas
no poder de Deus. Ele se adapta à realidade local, tornando-se fabricante de tendas
para garantir seu sustento, e sua estratégia em Corinto obtém sucesso.
A mudança de perspectiva de Paulo é enfatizada, mostrando como ele deixa de
buscar a aceitação pelos padrões culturais e filosóficos de Atenas para se identificar
com os pobres e marginalizados em Corinto. Paulo reconhece que a linguagem da
cruz é compreendida pelos pobres, destacando a incompatibilidade entre a
sabedoria humana e a mensagem da cruz. Ele enfatiza que os pobres entendem a
linguagem da cruz sem a necessidade de sofisticadas filosofias. A estratégia
pastoral de Paulo, portanto, está enraizada em sua identificação com os sofredores,
sua capacidade de se adaptar ao contexto local e sua compreensão de que a
mensagem da cruz ressoa mais profundamente entre os marginalizados do que
entre os poderosos. A experiência de vida de Paulo, marcada por fome, humilhação
e perseguição, contribui para sua compreensão da fé e molda sua abordagem
pastoral.
Além disso, é destacado a mística da gratuidade que impulsionava e sustentava a
missão de Paulo. Apaixonado pelo evangelho, Paulo era movido por uma convicção
profunda em sua missão, demonstrando disposição para enfrentar privações,
dificuldades extremas e sofrimentos sem exigir pagamento ou remuneração. Ele
adaptava-se às necessidades, vivia modestamente e declarava sua capacidade de
superar desafios com a força que vinha de sua fé. O princípio da gratuidade na
pastoral contemporânea é ressaltado como algo cada vez mais escasso, com muitos
buscando remuneração pelo serviço no evangelho. O texto destaca que o anúncio
do evangelho deve ser essencialmente gratuito, e Paulo é apresentado como um
exemplo nesse aspecto. A comunidade de Filipos, à qual Paulo se refere, enfrentava
tensões internas relacionadas à competição por status social, influenciada pela
mentalidade da sociedade romana. Paulo utiliza o exemplo de Jesus, destacando o
hino em Filipenses 2:6-11, para ilustrar a atitude de esvaziamento e humildade que
os seguidores de Cristo deveriam adotar.
O texto enfatiza a importância de seguir o exemplo do Servo Sofredor do Segundo
Isaías, o gesto do lava-pés de Jesus (João 13:1-15) e o hino em Filipenses como
guias fundamentais para a prática pastoral. A atitude de tornar-se servo ou escravo
é apresentada como a forma mais leal de seguir Jesus, destacando a importância da
humildade e do serviço desinteressado na vida cristã.
É destacado também a vivência de Paulo na "mística do martírio", evidenciada na
carta aos Filipenses. Paulo expressa um dilema entre viver e morrer na prisão,
considerando o morrer como um encontro com Cristo. Ele se mostra disposto a
sacrificar-se pela causa do evangelho, destacando que seu sangue derramado seria
motivo de alegria se contribuísse para o serviço da fé da comunidade. O texto
também faz uma conexão entre essa postura e a marca histórica do martírio na
Igreja, especialmente na América Latina. No entanto, questiona a atual relevância do
martírio, sugerindo que, embora pareça fora de moda, a disposição para sacrificar-
se pela causa do evangelho ainda pode ser crucial.
Há seguindo nesse sentido, a importância da casa como local de origem da Igreja,
conforme evidenciado nas cartas de Paulo. Diante da dificuldade nas sinagogas,
Paulo mudou sua estratégia, dirigindo-se às casas para formar comunidades. Jesus
também frequentava casas, ensinando, curando e celebrando, inclusive a última
ceia. A casa proporciona uma atmosfera acolhedora e íntima, onde as relações se
baseiam na fraternidade e filiação, em contraste com o templo, associado ao poder.
Paulo utiliza a linguagem da casa ao se dirigir às comunidades, enfatizando relações
familiares. Na Igreja da casa, a autoridade, embora em última instância do pai,
muitas vezes é exercida cotidianamente pela mãe ou pelo casal. O texto conclui
ressaltando a necessidade contemporânea de resgatar a pastoral da casa para
preservar o caráter comunitário da Igreja, evitando que se torne apenas um templo
onde as relações se percam. A
É necessária também, a significativa participação de lideranças leigas nas primeiras
comunidades cristãs, ressaltando que o cristianismo nasceu essencialmente leigo,
como uma espécie de "seita" dentro do judaísmo. Os primeiros seguidores de Jesus
eram, em sua maioria, pescadores e não faziam parte do clero judaico. Quando a
estrutura da Igreja primitiva começou a se formar, os não pertencentes à hierarquia
desempenharam papéis cruciais na divulgação do evangelho. O livro dos Atos dos
Apóstolos relata um conflito entre as comunidades cristãs dos hebreus e helenistas
em Jerusalém, sendo escolhidos sete diáconos gregos para servir à mesa.
Curiosamente, esses diáconos, após seu serviço à mesa, dedicaram-se à Palavra,
com Estêvão tornando-se o primeiro mártir da Igreja. A dispersão dos cristãos
helenistas resultou na formação de comunidades cristãs fora de Jerusalém, dando
forma à Igreja. O texto destaca que o cristianismo não se desenvolveu de dentro
para fora, mas de fora para dentro, com os cristãos dispersos encontrando culturas
diversas e formando comunidades com base em suas experiências. Esse processo
gerou conflitos entre as comunidades recém-formadas e a comunidade mãe de
Jerusalém, liderada pelos apóstolos, exemplificado nos atritos de Paulo com as
"colunas da Igreja". O texto enfatiza a superação dos conflitos sem rompimentos
como um elemento importante no desenvolvimento da fé cristã.
O papel decisivo das lideranças leigas na formação da Igreja primitiva,
especialmente promovido por Paulo. Ele reconhece e valoriza a contribuição de
leigos e leigas em sua missão, compartilhando responsabilidades e andando sempre
com diversos companheiros de caminhada, como Silas, Barnabé, Timóteo, Lídia,
Dâmaris, Tabita, e o casal Priscila e Áquila. Nas cartas de Paulo, há saudações a
muitas lideranças, incluindo uma lista notável de 30 pessoas na carta aos Romanos,
das quais 11 são mulheres. Destaca-se a presença de Febe, uma diaconisa enviada
por Paulo para representá-lo na exposição da carta à comunidade. Também
menciona o casal de apóstolos Andrônico e Júnia, que foram companheiros de
prisão de Paulo. Na América Latina, os leigos e leigas desempenharam e continuam
desempenhando um papel determinante na Igreja, sendo considerados
fundamentais para sua existência. No entanto, o texto sugere que ainda há um
potencial a ser descoberto nesse aspecto. Destaca a necessidade de investir mais
na formação desses líderes leigos, permitindo que sua participação e influência nas
decisões eclesiásticas se expandam, especialmente no caso das mulheres.
Portanto, a ênfase de Paulo na construção de um projeto alternativo para a
comunidade cristã, contrastando-o com o modelo opressor do império. Enquanto a
sociedade imperial exclui, marginaliza e divide, a comunidade cristã deve incluir,
integrar, partilhar e promover a igualdade social, a fraternidade, a solidariedade e o
amor. Em 1Cor 6,1-8, Paulo exige uma ruptura com os tribunais corruptos da
sociedade, incentivando a comunidade a escolher seus próprios juízes. A Ceia do
Senhor também é apresentada como uma expressão desse projeto alternativo, onde
todos os membros, independentemente de sua posição social, participam
igualmente, desafiando as hierarquias da sociedade. Paulo critica a atitude de
alguns membros que, influenciados pela sociedade, recusam-se a se misturar e
compartilhar igualmente na Ceia. A Ceia do Senhor, para Paulo, representa a
plenitude da fraternidade e da solidariedade, contrastando com os banquetes aos
ídolos que simbolizam o sistema opressor. O autor destaca a importância de as
pastorais contemporâneas terem clareza sobre o projeto que buscam construir,
enfatizando relações sociais transformadoras e igualitárias como essenciais para a
vivência do evangelho.

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