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"Quarto de Despejo" é uma obra única que nos leva a mergulhar nas duras realidades da vida

nos barracos de uma favela em São Paulo, através da perspectiva de Carolina Maria de Jesus.
Publicado em 1960, o livro é um poderoso testemunho autobiográfico que expõe as
adversidades e a pobreza extrema enfrentada pela autora e seus vizinhos. Carolina descreve
com uma escrita íntima e crua as condições desumanas, a fome constante e a luta diária pela
sobrevivência.

Ao longo da obra, Carolina utiliza uma linguagem direta e autêntica, transmitindo as emoções
e a angústia de sua realidade. Suas palavras têm o poder de nos transportar para o cenário
precário e opressivo em que vive nos fazendo sentir a desolação e a injustiça que permeiam
sua vida. Um trecho marcante revela essa carga emocional: "As coisas estão caras. A minha
filha pede roupa. Eu estou muito aflita, sem saber o que fazer para dar roupa a ela. (...) Pobre
não pode criar filhos.”.

O desfecho da obra é um momento de impacto profundo. Carolina, apesar de todas as


dificuldades, nutre um sentimento de esperança e um desejo ardente de escapar daquela
realidade sufocante. Ao encontrar seu manuscrito jogado fora, ela percebe que suas palavras
têm o poder de transformar sua vida. Esse momento é uma virada crucial na narrativa,
simbolizando a força e a resiliência da autora em meio ao caos. Sua última anotação, não foge
de toda a respectiva sofrida, sendo ela, dia primeiro de Janeiro de 1960, com apenas uma
frase: “fui buscar água”.

Tal frase e encerramento, deixa ao leitor uma imensidão de perguntas, afinal, o que aconteceu
após? E seus filhos? As eleições, os pedaços de pão e restos ganhados no dia a dia. Carolina
nos faz mergulhar tanto nas profundezas de sua aguerrida luta que no fim, não sabemos mais
diferenciar o que é nossa experiência e o que é a dela.

"Quarto de Despejo" é um testemunho essencial da história social do Brasil, uma obra que nos
desafia a confrontar as desigualdades e a refletir sobre a importância da empatia e da
solidariedade. Carolina Maria de Jesus nos deu não apenas um relato doloroso, mas também
um grito de resistência e um pedido à dignidade humana. Sua escrita, ao mesmo tempo brutal
e bela, continua a ecoar como um lembrete urgente de que, mesmo nas situações mais
adversas, a voz humana e a busca pela justiça prevalecem. E de que um lugar, uma vivência,
uma raça... Nunca serão determinantes no caráter e capacidade de um individuo. Afinal,
Carolina nos mostrou que por trás de toda precariedade, havia um dom na escrita que o
dinheiro nem sempre pode comprar.

Thallys- Ludmar

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