Curso de Psicologia Disciplina: Neurociências Aluno: Alexandre Volta Andrade Nascimento Júnior
Ficha Analítica Em Busca da Memória. Direção: Petra Seeger. FilmForm Koln. Áustria. Bundesarchiv/Transit Film GmbH, 2010. Online.
O documentário “Em Busca da Memória” discorre sobre a vida de Eric
Kandel, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina em 2000 por ter desenvolvido pesquisas que levaram a descobertas sobre os neurônios, a transmissão de sinais entre células nervosas no cérebro e de como a memória é armazenada. Eric,um dos maiores neurocientistas do mundo, possui ascendência judia, nasceu em Viena, Áustria às vésperas da 2 Guerra Mundial e aos 9 anos, junto com o irmão mais velho, é forçado a partir para os EUA em busca de abrigo para fugir do regime nazista que havia se instaurado na Alemanha. Uma das memórias mais marcantes de Eric talvez seja a do dia 7 de novembro de 1938, quando recebeu de presente dos pais um carrinho azul de controle remoto, com o qual brincou o dia todo. A noite desse mesmo dia ficou conhecida como Noite dos Cristais. Os membros da família de Eric que estavam em casa (ele, o irmão e a mãe) receberam a visita de dois policiais nazistas, que exigiam a imediata saída de todos do local e sua realocação em outro bairro, onde ficariam com outros judeus. O pai de Eric era polonês e, neste dia, encontrava-se em outro lugar, o que deixou a ocasião para Eric, o irmão e a mãe mais difícil. A família Kandel foi liberada para voltar para sua casa e, ao chegar, percebeu-se que roupas, dinheiro, joias e tudo de valoroso havia sido levado, até mesmo o carrinho azul de controle remoto. Neste documentário autobiográfico, o vencedor do prêmio Nobel, busca explicar sua teoria utilizando de sua vida como gatilho principal para que buscasse o campo da ciência, assim como as suas próprias memorias. Junto com sua família, Eric revisita lugares onde passou com sua esposa enquanto ainda estavam em Viena. Segundo, Eric Kandel (2010) “A memória é a cola que liga nossa vida mental. Torna possível que eu me lembre do que fiz nesta manhã do que fiz na semana passada, do que fiz há 6 anos. Ela nos permite dar continuidade à nossa vida. É a característica fundamental da nossa vida mental. Sem memória, não haveria nada.” A busca de Eric por essa “cola” é essencial na sua trajetória até o prêmio Nobel. A comunidade científica já sabia que determinada célula (neurônio), ao ser estimulada, poderia resultar em uma ação predeterminada. Eric escolheu trabalhar uma lesma marinha chamada de Aplisia, que possui um sistema nervoso de complexidade média, e descobriu que as experiências vividas fisicamente mudam o cérebro. E desvendou também como o ambiente interage com os genes e os neurônios para provocar aprendizados e comportamentos. Essas pesquisas permitiram que Kandel mapeasse a biologia molecular dos processos mentais mais simples. Logo no início do documentário, Eric coloca “Se as pessoas que assistirem esse filme, lembrarem dele no dia seguinte, houve uma alteração na expressão dos genes em seus cérebros capaz de produzir grandes mudanças no cérebro das pessoas.” Essa e outras teorias de Kandel ajudaram a revolucionar a ciência da memória, tanto que conceitos como memória de curto e longo prazo são reformulados a partir das descobertas do cientista, que comprovou que memórias carregadas de maior apego emocional e lembrança espacial são mais fáceis de serem lembradas por grandes períodos em razão de uma codificação de sinais. Com auxílio da memória é que as pessoas podem se lembrar de momentos únicos e pessoais de suas vidas, é também como cientistas podem lembrar de fórmulas e outros meios de continuarem suas pesquisas e revolucionarem o mundo como é hoje. De acordo com Eric Kandel (2010) “A memória é um dos aspectos mais marcantes do comportamento humano. A memória nos permite solucionar problemas que enfrentamos diariamente ao organizar vários de uma única vez, uma habilidade vital para a resolução de problemas. Em uma perspectiva maior a memória da continuidade a nossa vida”. Não à toa o documentário retrata o retorno do pesquisador às suas raízes para reviver as histórias do passado e criar um vínculo familiar com sua história. Forçar o cérebro a fazer essas novas conexões é essencial para um bom aprendizado, a memorização é um ato contínuo, dinâmico e repetitivo. Novas experiências de aprendizado auxiliam no processo de criação das novas ligações neurais. Esse processo de criação é um dos vários que Eric e sua equipe conseguem acompanhar no seu laboratório, mas estas descobertas só puderam ser feitas com o auxílio de novas tecnologias. É de se concluir que “Em busca da memória” é um retrato único da vida de um personagem importante para a história da humanidade, retratando seu lado pesquisador de forma humana, afetuosa e divertida, como forma de humanizar a ciência e trazer o conhecimento da população em geral para um campo que a cada dia se inova mais.