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CIÊNCIA POLÍTICA, JORNALISMO, POLÍTICA, SOCIOLOGIA

O VANDALISMO E O QUASE
GOLPE DE MESTRE.

Terreo do Pal.do Planalto destruido apos invasão dos apoiadores do ex-presidente Jair
Bolsonaro, no domingo (08/01)| Sérgio Lima/Poder360 09.jan.2023

Data: 01/14/2023Autor: Questões Relevantes20 Comentários


O governo Bolsonaro foi uma tragédia em áreas fundamentais como Saúde,
Meio-Ambiente, Educação, Pesquisa, Cultura etc. Foi uma tragédia também
porque deu voz e potência a uma parcela da população brasileira que, como o
próprio Bolsonaro e sua prole, se ressente da cultura & civilização, conceitos que
constituem a espinha dorsal das maiores conquistas da humanidade em termos de
liberdade, direitos sociais e qualidade de vida. São pessoas que não entendem e
por isso não alcançam o valor da arte, da filosofia e do conhecimento em
sentindo amplo. Pior: não é por falta de recursos econômicos, de oportunidades.
Exibem um certo orgulho da própria ignorância. À essa elite bronca junta-se o
Lumpembolsonarinato, uma massa de manobra igualmente ignorante que
acampou na porta de quartéis e foi mobilizada (com tudo pago) para a
concentração seguida de vandalismo que ocorreu em Brasília, quando tal horda
de bárbaros invadiu e depredou o STF, Congresso Nacional e Palácio do
Planalto.

São atos indefensáveis em si. Ponto. Que os envolvidos sejam investigados,


processados e presos. Mas há considerações fundamentais a serem feitas,
inclusive sobre quem deve ser investigado.

Comecemos pela soma de dois fatos já conhecidos:


1. Houve convocação por parte de apoiadores de Bolsonaro para a
manifestação em Brasília, com tudo pago. Os manipuladores
financiaram os manipulados, o que facilitou engordar de forma visível
e sistêmica a multidão, o que evidentemente potencializava os riscos
do que de fato aconteceu.

2. Apesar do aumento progressivo da multidão bolsonarista, o Gabinete


de Segurança Institucional do Presidente Lula, que tem como atual
ministro-chefe Marco Edson Gonçalves Dias, ao invés de solicitar o
aumento dos efetivos de segurança para garantir a proteção contra
manifestantes que chegavam em diversos ônibus, fez o contrário: 20
horas antes da invasão do Palácio do Planalto, dispensou por escrito o
pelotão de 36 homens do Batalhão da Guarda Presidencial e não
articulou nenhuma estratégia de defesa ou contenção contra os
manifestantes. Flávio Dino, atual Ministro da Justiça e Segurança
Pública do Brasil, também fez cara de paisagem e ignorou o
crescimento da multidão.

Terreo do Pal.do Planalto destruido apos invasão dos apoiadores do ex-presidente


Jair Bolsonaro, no domingo (08/01)| Sérgio Lima/Poder360 09.jan.2023
Há quem diga que foi incompetência. Há quem diga que foi coincidência. Eu,
desconfiado que sou, lembro de uma História que vi se repetir como farsa nesse 8
de janeiro:

Na noite de 27 de fevereiro de 1933 milhares de manifestantes queimaram o


Parlamento Alemão. Naquela data, os nazistas ainda não haviam se consolidado
no poder. Hitler, que estava há apenas 23 dias no cargo e temia uma insurreição
dos comunistas, reconheceu no incêndio a oportunidade que precisava. Com a
população insegura, a oportunidade de marchar sobre a democracia em nome da
ordem estava à distância de um decreto, de um gesto de força.

Assim, três dias depois, em 28 de fevereiro de 1933, Von Hindenburg assinaria o


Decreto do Presidente do Reich para a proteção do povo e do Estado. Esse
decreto eliminava a liberdade de expressão, de imprensa e de reunião.

O fim das liberdades democráticas era aceito em silêncio e Hitler se estabeleceu


como o salvador da Alemanha, pavimentando o caminho para que a ditadura
nazista se instalasse de vez.

Pense bem. Faz algum sentido acreditar que foi apenas incompetência? Seria
menosprezar a inteligência do PT e suas experientes lideranças.

Para reforçar esse ponto, sigamos com um pouco de memória.

Em 24 de maio de 2017, protesto contra as reformas trabalhista e da previdência


reuniu em Brasília manifestantes transportados por aproximadamente 500 ônibus
fretados pala CUT e Força Sindical. Os manifestantes invadiram ministérios e
vandalizaram diversos prédios públicos na Esplanada dos Ministérios. Focos de
incêndio precisaram ser controlados no Ministério da Cultura e da Fazenda, com
o trabalho dos bombeiros propositalmente atrapalhado por manifestantes.
No dia seguinte aos protestos de 2017, o Estadão publicou editorial em que se
pode ler o seguinte parágrafo:

“O surpreendente é que esse tipo de vandalismo – basta ver as imagens para se


dar conta de que não havia qualquer intenção de manifestação pacífica – é visto,
por alguns grupos, como demonstração de força política. Ora, trata-se
justamente do oposto. Além de ferir os princípios democráticos – o que por si só
já assegura o caráter da ilegitimidade desse tipo de atuação –, atos de
vandalismo não têm apoio na população. São pura e simples manifestação de
um autoritarismo que tenta impor pela violência suas posições. É por isso que
devem receber uma resposta policial condizente. Isso não é política, e sim caso
de polícia.”
Percebe que o enunciado vale tanto para o vandalismo de 2017 quanto o de
2023? Percebe que há uma simetria demente entre a massa de manobra
mobilizada agora pelos Bolsonaristas e aquela mobilizada pela CUT e Força
Sindical em 2017?

Aliás, com as caravanas de 2017 já em Brasília, o mesmo Flávio Dino citado


acima publicou em seu Twitter: “Hoje em Brasília a voz do povo se fará ouvir.
Ator político essencial e às vezes ignorado por analistas. Que tudo corra em paz.”

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