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DIFUSÃO EM ESTADO ESTACIONÁRIO

DIFUSÃO ATRAVÉS DE UM GÁS ESTAGNADO


Muitas aplicações da engenharia, tais como tubulações de aquecimento e
resfriamento, envolvem condensação, evaporação, transpiração na presença de um gás
não condensável, ou seja, difusão de um vapor através de um gás estagnado.
A difusividade pode ser medida usando uma célula de Arnold (Figura 1). Um
tubo de ensaio parcialmente preenchido com um líquido volátil puro A, e mantido a
temperatura e pressão constantes. Um gás B, que é quimicamente inerte e insolúvel em
A, escoa através do tubo aberto. O composto A vaporiza e se difunde através do gás no
tubo.

Figura 1. Célula de Arnold

Trata-se de um problema simples de evaporação de um líquido A em um gás B.


O próprio título do problema fornece a informação de que o gás B deve ser considerado
um filme de gás estacionário (parado).
Pela proposta do problema, haverá um gradiente de concentração do gás A ao
longo do tubo e, portanto, deverá haver transporte de A na direção de z (sentido
positivo), ou seja, em direção a saída do tubo.
A natureza física do problema indica que não deve haver fluxos de massa nas
direções x e y, não representadas na Figura acima, pois não há gradiente de
concentração de A nestas direções. Isso significa que a concentração de A é uniforme
numa dada seção transversal do tubo.
Além disso, a transferência de massa é considerada no estado estacionário
(dρA/dt=0), e não há reação química (rA = 0), pois o gás B é quimicamente inerte em A.
Com as considerações feitas acima, a equação diferencial da transferência de
massa se torna:
∂N A
=0 (1)
∂z
Essa relação estabelece que NA = constante através do tubo. Contudo, no plano
z = z1 (superfície do líquido) o fluxo de B deve ser zero, pois B não pode ser absorvido
por A e, consequentemente, como o fluxo de B é constante através da coluna, logo
NB = 0.
O fluxo molar de A que transfere à fase gasosa é dado por:
∂wA
N A, z = − ρDAB + wA ( N A , z + N B , z ) (2)
∂z
Considerando NB = 0, esta equação se reduz a:
ρDAB dwA
N A, z = −
(1 − wA ) dz
(3)

A equação (3) pode ser entre duas condições de contorno:


Para z = z1 ⇒ wA = wa1
Para z = z2 ⇒ wA = wa2
z2 wA2 1
N A, z ∫ dz = − ρDAB ∫ dwA (4)
z1 w A1 1 − wA
ρDAB  1 − wA 2 
N A, z = − ln 
(z2 − z1 )  1 − wA1  (5)

Muito embora o conhecimento do perfil de concentração concentração seja


importante para o entendimento de processos difusivos, para efeito de cálculo, em
engenharia, utiliza-se concentrações concentrações médias.
ρDAB  wA1 − wA2 
N A, z =  
(z2 − z1 )  (wB )ML 

(6)

onde:

(wB )ML = wB 2 − wB1 (7)


w 
ln B 2 
 wB1 
A eq. (6) pode também ser escrita em termos das pressões para gás ideal:
p pA
ρ= wA =
RT p
obtendo-se:
pDAB  p A1 − p A2 
N A, z =  
RT ( z2 − z1 )  ( pB )ML 
(8)

Ex. 1: Uma célula de Arnold é usada para determinar a difusividade do benzeno


no ar a 308 K e 1 atm. Um tubo de 20 cm de comprimento, com um diâmetro interno de
1 cm, é inicialmente preenchido com benzeno até uma altura de 1 cm do tubo. O tubo e
o benzeno são mantidos a 308 K. Nesta temperatura, o benzeno exerce uma pressão de
vapor de 0,195 atm. O ar é soprado no topo do tubo, removendo qualquer benzeno
vaporizado. O espaço de gás dentro do tubo é essencialmente estagnado. A 308 K, a
densidade do benzeno é 0,85 g/cm3. Foi determinado que um tempo de 72 horas foi
necessário para evaporar completamente o benzeno do tubo. Estime o coeficiente de
difusão para o benzeno-ar.
Ex. 2. Água evapora de uma superfície plana de uma folha de vegetal, e difunde-
se através de uma camada de ar estagnada. A pressão total é 101325 Pa, e a temperatura,
24°C. Calcule a taxa de evaporação (g/s) sob as seguintes condições: pressão de vapor
da água na superfície da folha é 2617 Pa, pressão parcial da água a 5mm da superfície
da folha é 2100 Pa, área da superfície da folha é 50cm2. O coeficiente de difusão do
vapor d’água para o ar é 2,6.10-5 cm2/s.

CONTRA DIFUSÃO EQUIMOLAR


Quando as taxas de transferência de massa de dois componentes são iguais e
opostas, o processo é chamado de contradifusão equimolar.
Tal processo ocorre no caso de uma caixa com uma partição removível. Também
ocorre em colunas de destilação quando os calores latentes molares dos dois
componentes são os mesmos. Este fenômeno ocorre na simultaneidade da condensação
e evaporação de espécies químicas distintas, mas de características físico-químicas
semelhantes, como por exemplo benzeno e tolueno. Para cada mol de tolueno
condensado, um mol de benzeno evapora.
Em qualquer ponto na coluna de destilação, uma corrente descendente de líquido
é colocada em contato com uma corrente ascendente de vapor, no qual estão em
equilíbrio. O componente menos volátil é transferido do vapor para o líquido, e o mais
volátil é transferido na direção oposta. Se os calores latentes molares dos componentes
são iguais, a condensação de uma dada quantidade do componente menos volátil libera
exatamente a quantidade de calor latente requerida para volatilizar a mesma quantidade
molar do componente mais volátil. Assim, na interface e, consequentemente, através das
fases líquido e vapor, a contradifusão equimolar ocorre.
Considere reservatórios interligados por um tubo (Figura 2). Nesses
reservatórios estão contidas misturas binárias de A e B. No reservatório 1, yA >>yB ;
situação inversa para o reservatório 2.
Ao provocarmos o contato entre os reservatórios, teremos para cada mol de A
que migra de (1) para (2), um mol de B virá de (2) para (1).

Figura 2. Exemplo de contra difusão equimolar

O fluxo absoluto molar é dado por:


dC A
N A* , z = − DAB + y A ( N *A, z + N B* , z ) (9)
dz
como N A* , z = − N B* , z , a equação (9) se torna:
dC A
N A* , z = − DAB
dz
ou:

N A* , z =
DAB
(C − C )
(z2 − z1 ) A1 A2 (10)

Quando a lei dos gases ideais é obedecida, a concentração molar de A está


relacionada com a pressão parcial de A, por:

N A* , z =
DAB
( p A1 − p A2 )
RT (z2 − z1 )
(11)

Ex. 3: a pressão em uma tubulação, que transporta gás hélio a uma taxa de 2
kg/s, é mantida a 1 atm, onde o hélio sopra para a atmosfera através de um tubo de 5
mm de diâmetro, que se estende por 15 m no ar, como mostra a figura abaixo.
Assumindo que o hélio e o ar estão a 25°C, determine a taxa de hélio perdida para a
atmosfera pelo tubo. Dados: DAB = 7,20.10-5 m2/s. Resolva este exercício para a difusão
de dióxido de carbono, ao invés de gás hélio (DAB = 16 mm2/s)

DIFUSÃO ATRAVÉS DE UMA ÁREA DE SEÇÃO TRANSVERSAL VARIÁVEL


(PARTÍCULAS, GOTAS E BOLHAS)
A transferência de massa em esferas, ou corpos que se aproximam a uma esfera,
tem importante implicação no processamento de alimentos. Exemplo: evaporação de
água de gotas atomizadas em spray dryer, extração por solvente de gotas de óleo
dispersas, dissolução de partículas ou grânulos, transferência de O2 das bolhas de ar
para um crescimento fermentativo.
Considere uma esfera de um material volátil A, que é colocada em um meio
estagnado de fluido B, onde não há transferência de massa convectiva (evaporação de
uma gota de líquido). A difusão ocorre radialmente para fora.
Fazendo uso da eq. (9), e considerando NB = 0, tem=se:
CDAB dC A
N *A, z = −
(C − C A ) dz (12)
O fluxo molar de A de uma esfera é dado
pela taxa de evaporação, dividida pela área de
superfície da esfera e é, portanto, uma função do
raio.
m& *A m& *A
N *
= = (13) (13)
A 4πr 2
A, z

Substituindo a eq. (13) na eq. (12):

m& *A = −
CDAB
(C − C A )
(4πr 2 )
dC A
dr
r2 1 C A2 C
m& *A ∫ dr = − D AB ∫ dC A
r1 (4πr )
2 C A1 C − C
A

m& *A 1 1   C − C A1 
 −  = −CDAB ln  (14)
4π r r
 1 2  C − C A2 

como r2 >> r1 (o componente A se difunde de uma esfera para um meio infinito), 1/r2 ≈
0, e a eq. (14) fica da forma:

m& *A = 4πr1CDAB
(C A1 − C A2 )
(CB )ML (15)

Para uma fase gasosa diluída: (CB)ML = C


m& *A = 4πr1CDAB (C A1 − C A 2 ) (16)

ou:

N *A =
DAB
(C A1 − C A2 ) (17)
r1
p A1
para um gás ideal: C A1 = , e a eq. (17) se torna:
RT
pDAB ( p A1 − p A 2 )
N *A =
r1RT ( pB )ML
(18)

Se a esfera está evaporando, o raio da esfera diminui lentamente com o tempo. O


tempo para que a esfera evapore completamente pode ser dado por:

t=
ρ Ar12 RT ( pB )ML
2 pM A DAB ( p A1 − p A2 )
(19)

ou:

t=
p Ar12 ( pB )ML
2 pDAB ( p A1 − p A 2 )
(20)
ρ A RT
sendo: p A =
MA

Ex. 4: Gotas, de 2 cm de raio, de benzeno, tolueno, etanol e metanol, são colocadas em


contato com ar seco, a 25°C e 1 atm. Estabeleça uma ordem crescente de tempo, para
que as esferas evaporem completamente.
Composto DAB (cm2/s) pv (atm)
Benzeno-ar 0,0962 0,0698
Tolueno-ar 0,0844 0,0374
Metanol-ar 0,162 0,1669
Etanol-ar 0,132 0,2115

DIFUSÃO ATRAVÉS DE UMA MEMBRANA


Uma exigência importante na seleção de sistemas de embalagens de alimentos é
a propriedade de barreira do material da embalagem. Para manter um alimento fresco e
seco, a embalagem deve fornecer uma barreira à umidade; a rancidez de um alimento
pode ser minimizada protegendo-o da luz; para reduzir a oxidação de alguns
constituintes de um alimento, a embalagem deve ter uma boa barreira ao oxigênio. As
propriedades de barreira de uma embalagem podem ser expressas em termos de
PERMEABILIDADE.
A permeabilidade de uma embalagem fornece uma medida de como um certo
gás (ou vapor) pode penetrar numa embalagem. Em termos quantitativos, a
permeabilidade é a massa do gás (ou vapor) transferida por unidade de tempo, área e
uma força motriz. No caso da transferência de massa difusional, a força motriz é a
diferença de concentração ou pressão parcial.
Uma membrana polimérica pode ser imaginada como um agregado de parafusos
torcidos. Os parafusos representam longas cadeias de polímeros. O espaço entre os
parafusos é do tipo intersticial, através do qual passam espécies.
A propriedade de barreira de uma estrutura plástica é a resistência física que se
opõe à passagem de qualquer molécula (ou composto) capaz de se difundir através do
polímero (oxigênio, CO2, água, odores do ar, aromas dos alimentos).
O processo de permeação envolve 3 passos (Figura 4):
1. A molécula permeante da fase fluida, a uma concentração C1, penetra na
superfície do polímero (adsorção)
2. A molécula se difunde dentro do filme de polímero da região de alta
concentração (C1) para a região de baixa concentração (C2), de acordo com a
lei de Fick
3. A molécula deixa a face oposta do polímero para se difundir em uma fase
contínua adjacente (fase líquida ou gasosa), a uma concentração C2
Figura 4. Processo de permeação

Da lei de Fick:
dC A
J A* , z = − DAB (21)
dz
ou

J A* , z = DAB
(C A1 − C A 2 )
(z2 − z1 ) (22)

Esta eq. (22) seria suficiente para determinar o fluxo, mas a concentração de um
gás na superfície de um filme é mais difícil de medir que a pressão parcial. As
concentrações podem ser convertidas em pressões parciais, usando a lei de Henry:
C = Sp (23)
onde S é o coeficiente de solubilidade (moles/volume.pressão), e p é a pressão parcial
do gás
Substituindo a eq. (23) na eq. (22):

J A* , z = DAB S
( p A1 − p A2 )
(z2 − z1 ) (24)

onde DABS = PM (coeficiente de permeabilidade)


 
 m3 
PM =  2 
 m .s.atm 
 m 

ou:

J *A, z =
VA ( p − p A2 )
= PM A1 (m3/m2.s) (25)
A.t L

L = espessura do filme
Ex. 5: O INMETRO está questionando o tempo de validade de refrigerantes. Para eles,
com uma determinada margem de segurança, o tempo de validade deveria ser de 80
dias, e hoje está em torno de 100 dias. Sabendo que os refrigerantes “ficam chocos”
quando perdem cerca de 40% da massa inicial de CO2 presente, responda se o prazo de
validade proposto pelo INMETRO é ou não mais adequado que o atual. Dicas e dados:
Considere uma garrafa de refrigerante um recipiente cilíndrico (D = 8 cm e L = 30 cm),
feito de polietileno tereftalato (PET) e, contendo completamente uma bebida gaseificada
com CO2 (7000 g CO2/m3); as paredes da garrafa possuem espessura de 0,27 mm; a
permeabilidade do CO2 no PET é 6,67.10-15 g/m2.s.Pa/m, a 25°C; a pressão de vapor do
CO2 a 25°C: 3.105 Pa.

Ex. 6: Um fornecer de hambúrgueres congelados está pensando em embalá-los em


filmes de polipropileno de 0,1 mm de espessura. A permeabilidade do polipropileno
para o oxigênio é 1.10-8 cm3/(s.cm2.atm/cm) e do polipropileno para a água é 8.10-15
cm3/(s.cm2.atm/cm). A pressão parcial do oxigênio dentro da embalagem é 0 atm, e a
pressão de vapor da água dentro da embalagem é 0,12 Pa. Fora da embalagem, a pressão
parcial do oxigênio é 0,21 atm, e do vapor de água é 0,04 Pa. Calcule quanto de
oxigênio e quanto de vapor de água passará através do filme de polipropileno de 600
cm2 de área de superfície em uma semana.

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