Você está na página 1de 8

Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM

Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas – ICTE


Disciplina: Laboratório de Fundamentos de Fenômenos de Transporte

PRÁTICA 10 – DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE DIFUSÃO

1. INTRODUÇÃO

Considere um recipiente contendo um líquido (A), acima da coluna de líquido, uma


coluna de gás (B). Um esquema do sistema mencionado está na Figura 1.

Figura 1 – Esquema de transferência de massa através de uma coluna de gás.

Vapor de A fluirá na direção da coluna de gás, devido à diferença de concentração


de A entre as duas colunas. Experimentalmente, é possível verificar que o fluxo de A é
maior quando:

I) o gás B apresentar menor concentração do líquido A;


II) a distância L entre a interface líquido/gás e o ponto de análise for menor; pois
quanto mais próximo da interface, maior a concentração de A.
Assim, é possível constatar que o fluxo mássico difusivo de A é diretamente
proporcional à variação da concentração e inversamente proporcional à posição, como
mostra a Equação 1. O fluxo mássico difusivo de A e denominado jA, com unidades de
kg/m2s no sistema internacional de unidades; é chamado de fluxo mássico difusivo pois a
transferência de massa se dá a nível molecular (movimento aleatório das moléculas).

 A,L   A,0
jA  (1)
L

Observa-se que no sistema transiente, a densidade de A varia com a posição, quanto


mais próximo da interface líquido/gás, maior a densidade de A. Assim, em termos de
variação de densidade e posição, tem-se a Equação 2.

 A
jA  (2)
x

Evidentemente que há necessidade de uma grandeza física para que a


proporcionalidade da Equação 2 se converta numa igualdade, como mostra a Equação 3.

dw A
j A   D AB (3)
dx

Sendo ρ a densidade da mistura gasosa AB; DAB a Difusividade Mássica ou


Coeficiente de Difusão do líquido A na mistura AB; e wA a fração mássica de A, ou seja, a
relação entre a massa de A e massa total da mistura, em uma mistura binária wA +wB=1.
A Equação 3 é denominada de Primeira Lei da Difusão de Fick e descreve como
uma espécie A, em uma mistura binária, é transportada por meio de movimentação
molecular aleatória.
A Difusividade Mássica é uma grandeza que depende da natureza química e da
concentração das espécies envolvidas, da temperatura e pressão do sistema. Seu valor está
disponível na literatura para alguns casos e quando não disponível, pode ser estimado por
meio de correlações matemáticas apropriadas ou determinado experimentalmente. O sinal
negativo da Primeira Lei de Fick indica que à medida que a distância aumenta, a
concentração de A diminui. Na natureza, nem sempre a massa é difundida em apenas uma
direção, caracterizando, em muitos casos, um sistema tridimensional de difusão.
A Difusividade Mássica ou Coeficiente de Difusão é mensurada em m2/s no sistema
internacional de unidades e está associada à capacidade com que determinada espécie
química se difunde em determinado meio. A difusão de determinada espécie química é
maior em gases que em líquidos. Por sua vez, a difusão em líquidos é maior se comparada
àquela ocorrida em sólidos.
No processo de difusão do componente A, na mistura AB, a corrente gasosa de A se
movimenta através da coluna gasosa de B e a coluna de B se movimenta de forma a
comportar a massa de A que é vaporizada. Essa movimentação de correntes de massa no
sistema caracteriza a convecção de massa. A Segunda Lei de Fick representa o fluxo
mássico de uma determinada espécie decorrente de dois fenômenos de transferência,
difusão e convecção de massa. É representada pela Equação (4).

dw A
n Az  w A ( n Az  n Bz )  D AB (4)
dz

Sendo nAz o fluxo mássico do componente A e nBz o fluxo mássico do componente


B. A Segunda Lei de Fick é constituída por duas parcelas, a primeira (wA(nAz+nBz)) a
contribuição convectiva e a segunda (– ρDAB dwA/dz) a contribuição difusiva para a
transferência de massa.
Analisando o sistema da Figura 1, com o decorrer do tempo, a distância inicial,
L(t0), entre a extremidade superior do recipiente e o menisco da coluna de líquido A,
aumenta, na medida em que o tempo decorre, devido à evaporação desse componente; essa
distância, L(t), é, portanto variável e dependente do tempo, como mostra a Figura 2.
Na Figura 2 observa-se também a passagem de corrente gasosa de B na extremidade
superior do recipiente, nessa condição, garante-se que a concentração de A é nula nessa
posição do sistema, condição de contorno utilizada a seguir, para resolver a equação
referente à Segunda lei de Fick.
Esse sistema mencionado, com um recipiente contendo uma coluna de líquido A,
acima dessa coluna de A, uma coluna de gás B e uma corrente gasosa de B escoando na
extremidade superior do recipiente, é conhecido como Célula de Stefan.
Considerando a Segunda Lei de Fick (Equação 4) para o sistema apresentado na
Figura 2, considera-se as seguintes simplificações:

I) Sistema binário, constituído pelos componentes A e B;


II) Sistema não reativo: A e B não se decompõem nem formam produtos;
III) Propriedades uniformes: densidade do líquido A e DAB são constantes;
IV) Problema unidirecional: fluxo mássico apenas na direção z;
V) Regime pseudo-estacionário, regime quasi-permanente; os fluxos de A e B não
variam com a posição z, mas a posição do menisco de líquido é variável.

Figura 2 – Esquema do sistema para análise da evaporação do constituinte A no seio da


mistura gasosa AB.

Para sistema pseudo-estacionário, os fluxos mássicos de A e B não variam com a


posição z, conforme a Equação 5.

( n Az ) ( n Bz )
0 e 0 (5)
z z

Admitindo-se que o constituinte B é praticamente insolúvel no líquido puro A, o


fluxo de B, no caso de problema pseudo-estacionário, é constantemente nulo, e, assim
nBz=0.
Diante das considerações anteriores, simplifica-se a Equação 4 e obtém-se a
Equação 6.

d d   D AB dw A 
( n Az )    0 (6)
dz dz  ( 1  w A ) dz 
Admitindo-se que as concentrações mássicas em z=z1 (extremidade superior do
recipiente) e z=z2 (interface líquido-gás) são constantes e iguais a wA1 e wA2,
respectivamente, temos como solução da equação anterior a Equação 7, e nAz representado
pela Equação 8.

 z  z1   z  z1 
   
 1  w A   1  w A2   z2  z1   w   w   z2  z1  (7)
     B    B2 
 1  w A1   1  w A1   wB 1   wB 1 

 D AB  wB 2 
n Az  ln   (8)
( z 2  z 1 )  wB 1 

Considerando que na mistura gasosa AB, a densidade de A é bem mais significativa


que de B, o que é válido para compostos muito voláteis, chega-se à Equação 9.

M AP M B Py B
  A  e wB  para gás ideal (9)
RT RT

Sendo MA e MB as massas molares de A e B, respectivamente; P a pressão ambiente; R a


constante universal dos gases; T temperatura e yB a fração molar de B na mistura.
No problema quasi-estacionário a superfície do líquido move-se para baixo por
causa do fluxo de vapor e assim chega-se à Equação (10):

dL( t ) 1 1 M AP D AB P 
 n Az   ln  B 2  e PB  Py B (10)
dt  liq  liq RT [ 0  L( t )]  PB1 

Sendo ρliq a densidade do líquido constante na temperatura do sistema. A integração da


equação anterior conduz à Equação 11:

2 M AP P 
L( t )2  L( t0 )2   D AB ln  B 2  ( t - t0 ) (11)
 liq RT  PB1 
Supondo que o movimento do ar no topo da célula torna nula a concentração do
componente A neste local e que na interface líquido/gás há equilíbrio de fases regido pela
lei de Raoult, então temos finalmente a Equação 12:

2 M AP  P Sat 
L( t )2  L( t0 )2  D AB ln 1  A ( t - t0 ) (12)
 liq RT  P 

Sendo PASat a pressão de saturação do componente A na temperatura e pressão do sistema.


A pressão de saturação de um composto líquido é a pressão de equilíbrio entre a fase
líquida e a fase gasosa desse composto, a determinadas pressão e temperatura. Quanto
maior a pressão de saturação, mais volátil o líquido é.
Os vários pontos L(t) são normalmente tratados em termos da relação L(t)2 versus t,
que é linear, y=ax+b, como mostrado na Equação 13.

2 M AP  PASat  2 M AP  PASat 
L( t )  
2
D AB ln 1  t  L( t0 ) 
2
D AB ln 1  t 0 (13)
 liq RT  P   liq RT  P 

y = ax + b

O coeficiente angular (a) permite, então, a determinação do coeficiente de difusão,


conforme mostrado na Equação 14.

2 M AP  P Sat 
a D AB ln 1  A  (14)
 liq RT  P 

2. OBJETIVO
Determinar experimentalmente o Coeficiente de Difusão DAB, relativo à difusão do
componente A (procedente de uma substância líquida pura em evaporação) em mistura
gasosa AB, B sendo o ar, em condições de regime quasi-permanente.

3. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
 Proveta de vidro de volume 25 ml;
 Éter de petróleo;
 Ventilador;
 Cronômetro;
 Paquímetro.

4. METODOLOGIA
1) Preencher a proveta com éter de petróleo, até o volume total de 25 ml. O éter de
petróleo é o líquido cujo vapor é objeto de difusão na mistura éter de petróleo/ar;
2) Ligar o ventilador direcionado para a proveta;
3) Após um tempo de espera, para que o sistema atinja o regime quasi-permanente,
inicia-se a contagem do tempo anotando-se de 5 em 5 min a posição L(t), até 40
min.
4) Após cada período de 5 min marque a posição do menisco com caneta. Ao final
de 40 min, meça como o auxílio de um paquímetro as distâncias L(t).

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Sabe-se que o éter de petróleo e o ar atmosférico são compostos por várias espécies
químicas, porém consideraremos o éter de petróleo como um componente puro A e o ar
atmosférico como componente puro B. O éter de petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos
provenientes da destilação do petróleo, geralmente os principais componentes são hexano e
pentano; os constituintes do éter de petróleo apresentam características similares, como
pressão de saturação e massa molar.
Registre os dados experimentais segundo a Tabela 1.

Tabela 1 – Resultados experimentais para determinação do coeficiente de difusão de éter de


petróleo na mistura éter de petróleo/ar.
Tempo (min) L(t) (m)
5
10
15
20
25
30
35
40
1) Considere os seguintes parâmetros para estimativa de DAB: densidade do éter de
petróleo a 25°C (ρliq) 0,65 kg/m3; massa molar do éter de petróleo (MA) 88g/mol;
pressão ambiente (P) 0,91 atm; constante universal dos gases (R) 8,31 J/molK;
temperatura ambiente (T) 25°C; pressão de saturação do éter de petróleo (PAsat)
0,052 atm. Realize a regressão linear dos dados de L(t)2 versus t, conforme a
Equação 13. Determine o coeficiente angular da reta e encontre o valor da
difusividade mássica segundo a Equação 14. Atenção para o uso de unidades de
medida compatíveis na realização dos cálculos.

2) O que aconteceria se ao invés de realizarmos o experimento a temperatura


ambiente de 25°C, realizássemos o mesmo experimento a temperatura ambiente de
35°C? O valor de DAB encontrado seria diferente? Explique a variação de DAB com a
temperatura.

3) A difusividade mássica da água em mistura água/ar a 25°C e pressão ambiente


(0,91 atm) é de aproximadamente 0,26 cm2/s. Comente e explique a diferença entre
os valores de difusividade mássica da água e do éter de petróleo a 25°C e pressão
ambiente.

4) O fenômeno de difusão de massa é caracterizado pela movimentação molecular


aleatória. Explique porque no sistema analisado considera-se difusão e convecção
de massa simultaneamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENNETT, C. O.; MYERS, J. E. Fenômenos de transporte: quantidade de movimento,
calor e massa. São Paulo: McGraw-Hill, 1978. 812 p.

INCROPERA, F. P. et al. Fundamentos de transferência de calor e de massa. Rio de


Janeiro: LTC, 2011. 643 p.

Você também pode gostar