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O QUE A EVOLUÇÃO PODE NOS ENSINAR SOBRE ANSIEDADE?

A ansiedade foi uma das principais ferramentas para a sobrevivência, onde frente ao perigo
ou ameaça é acionada no organismo para gerar Luta ou Fuga. Foi à maneira que a natureza
usou para instalar prudência em nós.

Mas, as condições de vida mudaram rapidamente nos últimos 20 anos, muito além do ritmo da
evolução, principalmente após a pandemia. Nós possuímos um aparato biológico que não se
encaixa nas circunstâncias em que vivemos atualmente, a ansiedade que uma vez nos servia
parece não mais funcionar e sim, bagunçar nossas vidas.

Recebemos um conjunto de respostas biológicas e psicológicas que nos preparam mal para as
exigências da atualidade. Qualquer transtorno moderno de ansiedade tem origem nos
mecanismos de sobrevivência:

 O medo de contaminação por germes: Até bem pouco tempo, nossos ancestrais eram
altamente suscetíveis a doenças contagiosas e envenenamento por alimentos que,
com frequência, eram fatais.

 O medo de estar em locais abertos e públicos, com ou sem aglomeração de pessoas,


está relacionada à vulnerabilidade dos nossos ancestrais aos predadores que estariam
expostos nesses ambientes.

 A insônia é apresentada pelos nossos ancestrais devido às preocupações com ataques


de animais e atualmente se expressa inadequadamente devido às preocupações
cotidianas.

 A preocupação e o pessimismo eram vivenciados pelos nossos ancestrais como forma


de prever situações de risco de vida.

 A timidez, apresentada pelos ancestrais como forma de não chamar atenção dos
demais com finalidade de não incomodar e sofrer retaliações que ameaçariam a sua
sobrevivência e da sua família.

 A preocupação com a forma física, por conta da possibilidade de fuga diante de


ameaças.

 Os Ataques de Pânico, devido ao estado constante de alerta do organismo.

 Os rituais de verificação, apresentados como o ato de checar o buraco da comida, pois


se não o fizer algo terrível poderia acontecer, ameaçando a sobrevivência.
O medo estava presente em todas as situações que os nossos ancestrais vivenciavam e foram
passadas de forma inadequada para a civilização atual.

Logo, devemos aceitar a ansiedade como parte da nossa herança biológica. Não como uma deficiência
que requer sentimentos de culpa ou constrangimento.

REGRAS DA ANSIEDADE
Agora que já sabemos de onde vem nossa ansiedade, que ela não surge em nossa mente por
acaso e que não é o resultado de algum erro que cometemos ou de algum defeito de
personalidade.

Vamos compreender que nossa programação evolutiva, o “software” do nosso cérebro nos
propiciou um conjunto consistente de instruções para lidar com o medo.

Nós sempre parecemos adotar certas regras em resposta a situações que nos causam medo. É
como se a natureza tivesse escrito uma lista dessas regras em nosso cérebro.

1- Detecte o Perigo:
CRENÇA: "Preciso prever
todo perigo possível, pois
é melhor previnir do que
remediar".
Quanto mais você
procura, mais
assustadora se torna a
evidência: O "arquivo do MENTE: orienta a
medo" se abre, e tudo o identificar o que pode
que você consegue é dar errado, pois quanto
buscar evidências em mais perigo prever mais
outros arquivos de estará preparado para
medo, que só detectam lidar e estará mais
perigo. seguro.

POR QUÊ? O cérebro


primitivo está organizado
em torno de emoções - REALIDADE: Quanto mais
não conseguindo você pensa em perigos,
diferenciar o que é ou mais ansioso e
não um perigo real. perturbado ficará.

Crença: Preciso identificar o mais rápido possível o perigo, porque preciso


eliminá-lo ou escapar dele. E muitas vezes imaginamos a quantidade de
perigos, sem evidência para estes.

Exemplos:

1. MEDO DE ARANHAS: posso imaginar a presença delas ou detectá-las de


forma muito mais rápida.

2. MEDO DE SER REJEITADO PELAS PESSOAS: posso perceber rapidamente


quando as pessoas estão mais fechadas, observo as expressões faciais
delas, imagino qual pode ser o tom de voz da mensagem que ela
escreveu no WhatsApp, tendo apenas as palavras como evidências
dessa minha interpretação.

3. MEDO DE DOENÇAS: basta alguém espirrar, tossir, se coçar, para que eu


saia do lado dela.

4. MEDO DE SAIR DE CASA: estou atenta aos noticiários dos telejornais e


internet procurando onde encontram-se os perigos.
5. MEDO DE PERDER O EMPREGO: basta meu superior pedir uma reunião,
o pessoal do Rh me chamar na sala, um colega parecer agindo mais
distante para acreditar que serei demitida.

6. MEDO DE FRACASSAR: basta uma situação que talvez faça parte do


processo daquilo que estou inserida e que eu já sabia que poderia
ocorrer, para acreditar que fracassarei, não darei conta ou não saberei
lidar com a situação.

7. MEDO DE NÃO SER “BEM-SUCEDIDO(A)” NA RELAÇÃO SEXUAL: fico


buscando na expressão corporal e facial indícios de que a pessoa não
gostou do momento.

8. MEDO DE PASSAR POR SITUAÇÕES VIVENCIADAS ANTERIORMENTE: fico


buscando sinais de que a situação será “exatamente igual” a situação
passada, sem evidências suficientes.

Vamos pensar por exemplo em um medo que muitas pessoas possuem:

MEDO DE AVIÃO
Vamos imaginar uma pessoa que tem muito medo de viajar de avião. Ela pode
adotar um comportamento de sucessivas fugas para não adentrar em um
avião. Ela buscar viajar mais de carro, ônibus, barco, só para não estar em um
avião. Afinal de contas, se ela não entra em um avião ele não cai, não houve
perigo, ou pelo menos assim parece.

Ou se porventura essa pessoa não consiga fugir da possibilidade de viajar por


outro meio de transporte e adentra ao avião, quando já estiver no avião, ela
poderá passar o caminho inteiro em alerta, usando toda a sua energia para
tentar identificar qualquer barulho estranho, pois talvez perceba algo que a
equipe do voo não percebeu e será capaz de alertá-los.

É evidente para você que esse modo de agir é absurdo?

Mas é ele que nos acompanha quando estamos ansiosos devido à carga
emocional.
2- Transforme o perigo em CATASTROFE:
CRENÇA: Qualquer
concequencia negativa ou
perigo percebido, se
chegar até você, será
intolerável.

Acreditam que seus Não existem pequenas


pensamentos e emoções inconveniências, apenas
refletem o que realmente desastres. Qualquer
irá acontecer. situação que implique em
ameaça é uma emergência
terrível!

Os pensamentos ansiosos
se tornam parte do perigo,
no momento em que vem Mesmo se a situação
o pensamento, já se temida estiver no futuro,
encontra em uma situação alguma coisa exige que
problemática. você lide com ela
imediatamente. E não
haverá descaso enquanto
ela não for evitada.

Mesmo as situações casuais podem estar repletas de maus pressentimentos e das


piores expectativas imagináveis:

- Você passa por um cachorro que está rosnando e imagina que ele vai rasgar seu
braço a dentadas.

- Dirigir um carro sobre uma ponte é assustador, pois você se enxerga batendo nas
laterais da ponte e se afogando na água.

- Se alguém não aceita seu convite para jantar, isso confirma que você é um excluído
social.

3. CONTROLE a situação
CRENÇA: "Tenho o
poder de impedir que
as coisas ruins
aconteçam." e se eu
não controlar as
coisas, elas me
causarão problemas.
Esse funcionamento
reforça a crença de A mente afirma que a
que não é capaz de sua segurança depende
lidar com qualquer da sua capacidade de
desafio da vida se controlar os fatores do
sentindo incapaze. ambiente.

Essa própria percepção


aumenta a ansiedade. Mas essa mensagem
Pois quanto maior a não está de acordo
tentativa de manter o com o fato lógico, de
controle, maior a que você não pode
sensação de estar fora controlar todos os
de controle. fatores.

Pessoas que sofrem de ansiedade usam de “pensamentos mágicos” para


afirmar seu controle, tem a falsa crença de que duas coisas estão associadas no
tempo:

- Se eu mantiver minhas mãos sobre a mesa, ninguém rirá de mim.


- Se eu apertar o botão do elevador bem forte, ele não vai parar.
- Se eu apertar meu travesseiro contra o meu corpo, o voo correrá bem.

É uma forma de sentir-se seguro.

4. EVITE OU ESCAPE
CRENÇA: Se o controle
total for impossível, talez
posso evitar a ansiedade
evitando a situação.
Posso eliminar os riscos
se não enfrenta-los.

Nosso cérebro primitivo


diz que não devemos A segurança está na
fazer nada até que manutenção da ilusão de
saibamos que é seguro e segurança. Gerando
não tenhamos mais paralisia.
medo. Com isso gera a
PROCRASTINAÇÃO.

Uma paralisia comum é a


O medo de tomar a indecisão, a pessoa se
decisão errada impede recusa a agir até que
de tomar qualquer considere ter
decisão, tentando evitar informações suficientes
completamente os para não tomar a decisão
riscos. errada.

A paralisia gera:

- O medo de andar de avião, por isso deixa de fazer viagens importantes com
familiares.

- O medo de não ser aceito em um trabalho que desejamos, por isso nunca nos
candidatos a ele.

- Alguém que não queremos encontrar mora em uma rua próxima, e por isso
mudamos a rota, mesmo se o caminho for mais longo.

- Tem medo de não ser bem sucedido ao realizar um trabalho, por isso adia o
momento que irá fazê-lo.

A regra é: Evitar lidar com qualquer confronto, limitando a própria vida.

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