Você está na página 1de 60

Albertina Armando Bucuane

MOBILIDADE E O HIV/SIDA NO DISTRITO DE MASSINGA 2017-2020

Licenciatura em Ensino de Geografia com Habilitações em Turismo

Universidade Save
Massinga
2021
Albertina Armando Bucuane

MOBILIDADE E O HIV/SIDA NO DISTRITO DE MASSINGA 2017-2020

Licenciatura em Ensino de Geografia com Habilitações em Turismo

Monografia Científica a ser apresentada na


Faculdade de Ciências Naturais e Exactas da
Universidade Save - Extensão de Massinga.

Supervisor: Prof. Doutor Carlitos Luís Sitoie

Universidade Save
Massinga
2021
Índice Pág.

Lista de tabelas ......................................................................................................................... iii

Lista de figuras .......................................................................................................................... iv

Lista de gráficos ......................................................................................................................... iv

Abreviaturas ............................................................................................................................... v

Declaração de Honra ..................................................................................................................vi

Dedicatória ...............................................................................................................................vii

Agradecimentos ...................................................................................................................... viii

Resumo ...................................................................................................................................... ix

Abstract ...................................................................................................................................... x

0. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11

0.1. Objectivos .......................................................................................................................... 12

Geral: ........................................................................................................................................ 12

0.2. Justificativa ........................................................................................................................ 13

0.3. Problematização ................................................................................................................. 14

0.4. Hipóteses ........................................................................................................................... 15

0.5. Metodologia ....................................................................................................................... 16

0.5.1. Tipo de pesquisa científica .............................................................................................. 16

0.5.2. Técnicas ou instrumento de colecta de dados ................................................................... 17

0.5.3. Universo e amostra .......................................................................................................... 18

0.6. Desafios no trabalho de campo ........................................................................................... 19

CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................... 20

1.1. Vírus de Imunodeficiência Humana e Síndroma de Imunodeficiência Adquirida ................ 20

1.2. Tratamento anti-retroviral................................................................................................... 20

1.3. Mobilidade ......................................................................................................................... 21


1.3.1. Tipos de mobilidade ........................................................................................................ 24

1.4. Diferença de género e diferentes projectos de emigração .................................................... 24

CAPÍTULO II: LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ........................... 26

2.1. Localização geográfica da área de estudo ........................................................................... 26

2.2. Geografia física e humana .................................................................................................. 26

CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........... 28

3.1. Epicentro do HIV/SIDA que afecta o distrito de Massinga ................................................. 28

3.2. Causas da mobilidade no distrito de Massinga .................................................................... 29

3.3. Níveis de mobilidade no distrito de Massinga 2017-2020 ................................................... 30

3.3.1. Quanto a mobilidade internacional .................................................................................. 30

3.3.2. Quanto a mobilidade interna ............................................................................................ 34

Fonte: ....................................................................................................................................... 34

3.4. Níveis de HIV/SIDA no distrito de Massinga 2017-2020 ................................................... 34

3.5. Causas do abandono ao tratamento ..................................................................................... 37

3.6. Os principais grupos de emprego que implicam mobilidade e a propagação do HIV/SIDA no


distrito de Massinga 2017-2020 ................................................................................................ 41

3.6.1. Camionista ...................................................................................................................... 41

3.6.2. Transportadores ............................................................................................................... 42

3.6.3. Mineiros .......................................................................................................................... 43

3.6.4. População chave .............................................................................................................. 43

3.6.5. Reclusos .......................................................................................................................... 44

3.7. Impactos negativos da mobilidade no distrito de Massinga 2017-2020 ............................... 44

3.8. Impactos positivos da mobilidade no distrito de Massinga 2017-2020 ................................ 45

3.9. Impactos do HIV/SIDA no distrito de Massinga ................................................................. 45

3.10. Proposta de medidas de mitigação dos impactos da mobilidade e do HIV/SIDA no .......... 46


CAPÍTULO IV: CONCLUSÃO ................................................................................................ 48

4.1. Conclusão .......................................................................................................................... 48

4.2. Referências bibliográficas .................................................................................................. 49

Apêndices ................................................................................................................................. 52
iii

Lista de tabelas

Tabela 1: Resumo da amostra.................................................................................................... 18

Tabela 2: Número de emigrantes que saíram de Massinga para África do sul 2017-2020 ........... 30

Tabela 3: Número de migrantes que saíram da Africa do sul para Massinga 2017-2020 ............ 31
iv

Lista de figuras
Figura1: Localização geográfica do distrito de Massinga........................................................... 26

Figura 2: Fronteira de Ressano Garcia no mês de Dezembro ..................................................... 32

Figura 3: Mapa de fluxos migratórios ........................................................................................ 33

Figura 4: Camiões estacionados a berma da estrada ................................................................... 41

Lista de gráficos

Gráfico 1: Distribuição dos passageiros, baseada na rota interna e no destino dos mesmos ........ 34

Gráfico 2: Número de infectados por HIV/SIDA 2017-2020 ..................................................... 35

Gráfico 3: Número de infectados pelo HIV/SIDA que iniciaram e os que abandonaram o


tratamento 2017-2020 ............................................................................................................... 36

Gráfico 4: Número de óbitos 2017-2020.................................................................................... 40


v

Abreviaturas

HIV – Vírus de Imunodeficiência Humana

DTS – Doença de Transmissão Sexual

ITS – Infecções de transmissão Sexual

OMS – Organização Mundial da Saúde

OIM - Organização Internacional de Migração

INE – Instituto Nacional de Estatísticas

US – Unidade Sanitária

ONG’s – Organizações não-governamentais

GATV – Gabinete de Testagem Voluntaria

TB – Tuberculose

CLC – Camionistas de Longo Curso

Prof. – Professor

C/P – Comunicação pessoal

S/d = sem data


vi

Declaração de Honra

Declaro que esta Monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu
supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção
de qualquer grau académico.

Massinga, aos 02 de Setembro de 2021

__________________________________

(Albertina Armando Bucuane)


vii

Dedicatória

Dedico esta monografia á minha mãe Albertina Arone Tchamo, ao meu irmão Milton Armando
Bucuane e as minhas irmãs Maria, Marta e Aventina Bucuane, que sempre estiveram comigo,
dando o seu grande contributo durante o meu percurso académico e para a elaboração desta
monografia com muito amor, carinho, respeito, simpatia e honestidade.
viii

Agradecimentos

Ao término desta grande etapa, é hora de agradecer a todos que directas ou indirectamente
tiveram sua contribuição.

Em primeiro lugar agradeço ao meu supervisor Prof. Doutor Carlitos Luís Sitoie pelas suas
competentes orientações e que pacientemente me ajudaram na produção deste trabalho. Agradeço
ainda a todos os docentes do curso de Geografia pelo excelente aprendizado e a sua competência
e paciência de ensinar. Á Universidade Save - Extensão de Massinga pela grandiosa oportunidade
de realização da minha formação.

Em seguida agradeço a Deus, que é a causa maior da minha existência, por continuar dando-me
mais do que mereço. Á minha mãe Albertina Arone Tchamo, por ser mãe e pai para mim e que
me apoiou sempre. Ao meu irmão Milton Bucuane, por ter lutado para que em meio a tantas
dificuldades não sentisse essa dor e para que não faltasse nada para que eu continuasse
estudando, as minhas irmãs Maria Bucuane, Aventina Bucuane e Marta Bucuane pelo apoio
sempre e aos meus sobrinhos Nice, Naite, Sandro, Chantel, Alana e Chayana.

Aos meus colegas e amigos Célia Alexandre, Deuldêncio Banze, Beny Fernando, Inocência
Fernando, Fátima Ádaina, Albuquerque Machava, por terem feito parte desta etapa muito
importante da minha vida, pelo carinho, amizade, suporte e troca de experiências e a todos os
colegas que directa ou indirectamente contribuíram para a elaboração desse trabalho e pela força
durante todos esses anos de formação.
ix

Resumo

Elaborada com o propósito de compreender a mobilidade e o HIV/SIDA no distrito de Massinga 2017-2020, a


monografia teve como objectivos específicos identificar o epicentro do HIV/SIDA que afecta o distrito de Massinga,
indicar as causas da mobilidade e os principais grupos de emprego que implicam mobilidade e a propagação do
HIV/SIDA, descrever os níveis e os impactos da mobilidade e do HIV/SIDA e propor as medidas de mitigação dos
impactos da mobilidade e do HIV/SIDA no distrito de Massinga. A pesquisa foi quali-quantitativa, explicativa,
básica, bibliográfica e como instrumento de colecta de dados foi usada a entrevista semiestruturada que implica um
elevado grau de flexibilidade na exploração das questões. Os resultados obtidos sugerem que a mobilidade em
Massinga é no entanto impulsionada pelos factores económicos e socias. Continua a tendência de que a emigração
para os países vizinhos com destaque para a África do Sul, é influenciada pela relativa estabilidade socioeconómica e
política do país, procuram segurança e melhores condições de vida. Verifica-se que a mobilidade no distrito de
Massinga é um factor relacionado com a infecção, aumenta a vulnerabilidade ao HIV/SIDA, tanto nas pessoas
móveis como nos seus parceiros, quando regressam, pelo facto de uma parte da população deslocar-se sem seus
parceiros e consequentemente, a falta de contacto com as suas famílias ou pelo menos com o meio social mais
restrito dos seus locais de origem torna-os mais susceptíveis a uma vida sexual menos controlada. Quanto aos
impactos a mobilidade apresenta o desequilíbrio do género pois a maioria dos que emigram são homens, a entrada de
remessas anualmente que contribuem para o desenvolvimento social e da economia do distrito. Quanto ao HIV/Sida,
o seu impacto é a morte da população, que consequentemente leva ao aumento do número de órfãos e viúvas e o
facto desta doença abrir caminho para várias doenças as chamadas oportunistas, a diminuição da população activa e
da mão-de-obra.

Palavras-Chave: Mobilidade, HIV/SIDA, impactos da mobilidade e do HIV/SIDA.


x

Abstract
Prepares of in order to understand mobility and HIV / AIDS in Massinga district 2017-2020, the monograph was to
identify the specific objectives epicenter of HIV / AIDS affecting the Massinga district, indicate the causes of
mobility and the main employment groups that involve mobility and the spread of HIV/AIDS, describe the levels and
impacts of mobility and HIV/AIDS and propose measures to mitigate the impacts of mobility and HIV/AIDS in the
district of Massinga. The research was qualitative-quantitative, explanatory, basic, and bibliographical and as an
instrument of data collection, semi-structured interviews were used, which implies a high degree of flexibility in
exploring the questions. The results obtained suggest that mobility in Massinga is however driven by economic and
social factors. The trend continues that migration to neighboring countries, especially South Africa, is influenced by
the relative socio-economic and political stability of the country, seeking security and better living conditions. It
appears that mobility in the district of Massinga is a factor related to the infection, it increases the vulnerability to
HIV/AIDS, both in mobile people and in their partners, when they return, due to the fact that part of the population
moves without its partners and consequently, the lack of contact with their families or at least with the more
restricted social environment of their places of origin makes them more susceptible to a less controlled sex life. As
for the impacts, mobility presents a gender imbalance since most of those who emigrate are men, the entry of
remittances annually that contributes to the social and economic development of the district. As for HIV/AIDS, its
impact is the death of the population, which consequently leads to an increase in the number of orphans and widows
and the fact that this disease paves the way for various diseases, the so-called opportunistic ones, the decrease in the
active population and in the labor force-constructions.

Keywords: Mobility, HIV/AIDS, impacts of mobility and HIV/AIDS.


11

0. INTRODUÇÃO

O trabalho tem como tema: Mobilidade e o HIV/SIDA no distrito de Massinga 2017-2020, o


mesmo que enquadra se na III linha de pesquisa (sociedade e educação), constitui um requisito
parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Ensino de Geografia com Habilitações em
Turismo, a ser apresentado no departamento de ciências da terra e recursos naturais da
Universidade Save- extensão de Massinga. Tem em vista analisar bem como compreender os
impactos, os níveis da mobilidade e do HIV/SIDA no distrito de Massinga 2017-2020.

A vida dos moçambicanos continua até hoje a ser caracterizada por uma série de eventos que
colocam a população em situação de permanente mobilidade. Esta mobilidade tem trazido
ganhos através das remessas (em produtos e em dinheiro), e também tem trazido consequências
nefastas dentre elas o alastramento do índice do HIV/SIDA. O surgimento do HIV/SIDA e o
aumento do seu índice de infecções, bem como a mobilidade, continuam como um dos grandes
desafios actuais do distrito de Massinga. Os diversos aspectos relacionados a mobilidade e o
HIV/SIDA no distrito de Massinga são aqui discutidos, incluindo as possíveis soluções para o
seu controle.

Esta pesquisa possui como objectos de estudos o HIV/SIDA e a mobilidade, contem um carácter
básico e tem como característica metodológica a aplicação de uma abordagem quali-quantitativa,
utilizando a técnica de entrevista bem como a análise documental como suporte desta. No
primeiro capítulo, aborda-se sobre os assuntos referentes a parte introdutória, os objectivos,
justificativa, problematização, hipóteses, revisão da literatura onde será preconizada uma revisão
referente aos conceitos básicos relativos ao HIV/SIDA e a mobilidade e as escolhas
metodológicas para a consecução deste estudo, explicando o tipo de investigação a utilizar e
quais os instrumentos de recolha de dados associados ao mesmo e, como estes foram aplicados.
No segundo capítulo serão apresentados os resultados do estudo, antecedidos por uma
apresentação da área em estudo. O terceiro capítulo termina com a conclusão, as sugestões e a
bibliografia referente.
12

0.1. Objectivos

Geral:
 Compreender a mobilidade e o HIV/SIDA no distrito de Massinga 2017-2020.

Específicos:

 Identificar o epicentro do HIV/SIDA que afecta o distrito de Massinga;


 Indicar as causas da mobilidade e os principais grupos de emprego que implicam
mobilidade e a propagação do HIV/SIDA no distrito de Massinga 2017-2020;

 Descrever os níveis e os impactos da mobilidade e do HIV/SIDA no distrito de Massinga


2017-2020;
 Propor as medidas de mitigação dos impactos da mobilidade e do HIV/SIDA no distrito
de Massinga.
13

0.2. Justificativa
Segundo Marconi e Lakatos (2009:221), afirmam que “justificativa é o único item da pesquisa
que apresenta resposta da pergunta porque e de sua importância, geralmente é o elemento
directamente ligado na aceitação de pesquisa pela pessoa ou entidade que vão financia-la”

A pesquisa surge pelo facto de procurar compreender como a mobilidade torna se um factor que
constitui vulnerabilidade a infecções pelo HIV/SIDA, não só mas também saber dos impactos
desses fenómenos, com a necessidade de querer mostrar as reais causas do alastramento e
aumento do índice de HIV/SIDA visto que o distrito de Massinga, apresenta o índice mais
elevado e é o mais populoso em toda província de Inhambane. O período deve se ao facto deste
coincidir com o período da minha formação, não só mas também por ser o período em que tive a
oportunidade de conhecer e viver em Massinga.

A pesquisa em abordagem assume um papel muito importante na vida social da população em


particular de Massinga, sendo de grande valia e de interesse social que possibilita fortes
esclarecimentos e possíveis soluções ao problema actual que se torna devastador a cada dia que
passa. Com esta pesquisa pode-se incrementar um desenvolvimento social da população usando
algumas e outras formas possíveis de resolução do problema que assola a sociedade e pode
contribuir para dar maior visibilidade desse problema.

Em um contexto académico esta temática é relevante na medida em que contribuirá, não só, para
o enriquecimento de debate literário sobre o tema, também servirá de base para o
desenvolvimento de outros estudos e contribuirá para o contínuo desenvolvimento da ciência,
tendo em conta o fenómeno mobilidade.
14

0.3. Problematização

A mobilidade é uma realidade irreversível do distrito de Massinga, que sempre ira incluir os
movimentos de imigração e emigração, a mesma constitui um factor que contribui na propagação
e aumento do HIV/SIDA. Desde o início da epidemia do HIV/SIDA, a preocupação dos
governos tem sido a de que as pessoas que se deslocam de um país para outro, assim como de um
ponto do país para o outro podem contribuir para propagar o HIV/SIDA. Actualmente,
reconhece-se cada vez mais que os emigrantes e a população móvel podem ser mais vulneráveis
ao HIV/SIDA que a população que não se desloca, podem contrair o HIV/SIDA durante as suas
deslocações e levar a infecção de volta para casa sem saber.

A mobilidade é um factor relacionado com a infecção. Estudos indicam que a mobilidade no


distrito de Massinga aumenta a vulnerabilidade ao HIV/SIDA, tanto nas pessoas móveis como
nos seus parceiros, quando regressam. Dado o grande número de pessoas emigrantes e móveis,
esta vulnerabilidade tem uma ampla repercussão e consequências trágicas.

É com base nestas e outras fundamentações que surge a seguinte questão de partida:

 Como a mobilidade influi na proliferação do HIV/SIDA no distrito de Massinga 2017-


2020?
15

0.4. Hipóteses

Segundo Andrade (2014), Hipótese é uma afirmação que consiste em uma resposta à pergunta
definida como problema de pesquisa, que ainda não foi testada. A hipótese constitui uma
resposta provisória a qual o investigador leva ao campo para poder testar, para que possa validar
ou não a resposta do problema que leva lhe ao campo. Assim sendo, para este trabalho levamos
as seguintes hipóteses:

H1: O epicentro do HIV/SIDA que afecta o distrito de Massinga pode ou não constituir uma
ameaça para a estrutura social do distrito de Massinga.

H2: Os níveis de mobilidade e do HIV/SIDA podem alterar o desenvolvimento e progresso social


e económico do distrito de Massinga.

H3: Os impactos da mobilidade e do HIV/SIDA podem provocar desequilíbrio da estrutura social


e económica do distrito de Massinga.
16

0.5. Metodologia
Para Dencker (2002) metodologia é a sucessão de passos pelos quais se descobrem novas
relações entre fenómenos que interessam um determinado ramo científico ou aspectos não
relevados, identificados através de procedimentos indispensáveis e que vão auxiliar no alcance
dos objectivos pretendidos.

0.5.1. Tipo de pesquisa científica

Segundo Andrade (2001:12) a pesquisa científica é um conjunto de procedimentos sistemáticos,


apoiado no raciocínio lógico e que usa métodos científicos para encontrar soluções para
problemas pesquisados. A pesquisa científica é muito importante pois é responsável pela
aquisição a produção de conhecimento.

Gil (2011) conceitua pesquisa como procedimento racional e sistemático que tem como objectivo
proporcionar respostas aos problemas propostos. A pesquisa é desenvolvida mediante aos
conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos
científicos, ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação
do problema até a satisfatória apresentação dos resultados.

a) Quanto á natureza

Quanto a natureza pautou-se pela pesquisa básica na medida em que este tipo de pesquisa
objectiva a geração de conhecimentos novos, úteis para o avanço da ciência mas sem aplicação
prática prevista, isto é, o conhecimento que será gerado nesta pesquisa poderá vir a ser usado
mais tarde, pois envolve verdades de interesse universal.

b) Quanto á abordagem

Quanto a abordagem usou se a pesquisa quali-quantitativa, onde houve a necessidade de


considerar a proximidade do sujeito e a quantificação dos dados usando algumas formas
estatísticas.

A modalidade de pesquisa quali-quantitativa “interpreta as informações quantitativas por meio


de símbolos numéricos e os dados qualitativos mediante a observação, a interacção participativa
e a interpretação do discurso dos sujeitos (semântica) ” (Knechtel, 2014, p. 106).
17

c) Quanto aos objectivos

Temos quanto aos objectivos a pesquisa explicativa, pois é um tipo de pesquisa que mais
aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão e o porquê das coisas. Ainda de
acordo com Gil (2008) elas têm como preocupação central identificar os factores que
determinam e contribuem para a ocorrência dos fenómenos. O contexto desta pesquisa leva ao
uso da pesquisa explicativa, visto a necessidade de explicar na íntegra os factores contribuintes
para a ocorrência dos fenómenos em causa.

d) Quanto aos procedimentos

Pesquisa bibliográfica, pois é elaborada a partir de material já publicado, como livros, artigos,
internet, monografias e mais, sua principal vantagem é permitir ao investigador, uma ampla
cobertura dos fenómenos.

De acordo com Gil (2007), a pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de


referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros,
artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa
bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Com
base na visão de Gil, procurou se abraçar assuntos de autores que versam sobre o tema com vista
a desenvolver um suporte teórico e melhor enquadramento temático do trabalho.

0.5.2. Técnicas ou instrumento de colecta de dados

Chama-se de “instrumento de pesquisa” o que é utilizado para a colecta de dados. O método


utilizado para a colecta de dados na pesquisa de campo foi a entrevista semiestruturada. A
entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações sobre
determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. Trata-se de um
procedimento utilizado na investigação social, colecta de dados, para ajudar no diagnóstico ou no
tratamento de um problema social. Sendo que é um importante instrumento de trabalho em
vários campos das ciências sociais ou de outros sectores de actividades, como o da sociologia,
antropologia, psicologia social, política, serviço social, jornalismo, relações públicas, pesquisa de
mercado e outras (Marconi e Lakatos, 2007).

A entrevista semiestruturada implica um elevado grau de flexibilidade na exploração das


questões e o desenvolvimento vai-se adaptando ao entrevistado. As entrevistas semiestruturadas
18

foram usadas para assegurar a obtenção de dados que se pretende directamente de pessoas. Esta
técnica de recolha de dados foi usada com o auxílio de um guião de entrevista que continha um
conjunto de perguntas abertas sobre as informações que se necessitava. As entrevistas foram
feitas oralmente com indivíduos em particular e as respostas foram gravadas, anotadas e
transcritas no software Word pela entrevistadora.

0.5.3. Universo e amostra

e) População

Segundo Rauen (2002), população em uma pesquisa, é designada como a totalidade de


indivíduos que possuem, pelo menos uma característica comum definida pela investigação.

Este estudo apresenta uma população de 228,437 de acordo com os resultados preliminares de
Censo de 2017, sendo 103,509 homens e 124,928 mulheres. Com base neste universo a
pesquisadora trabalhou com (1) Doutora do Hospital Distrital de Massinga, (1) Técnica do
serviço e acção social, (1) Secretario da Associação dos transportes – rota internacional
Massinga, (1) Fiscal dos transportes internos, (1) Transportador Internacional, (1) trabalhadora
de sexo, (3) pessoas com HIV/SIDA, (1) mineiro, (2) camionista.

f) Amostra

A amostra foi de caracter não probabilística, Levine et all., (2008:218), afirma que em uma
amostra não probabilística você selecciona os itens ou indivíduos sem conhecer suas respectivas
probabilidades de selecção. Assim sendo, uma amostragem será não probabilística quando a
probabilidade de alguns ou de todos elementos da população de pertencer a amostra é
desconhecida.

Tabela 1: Resumo da amostra

Designação da amostra Amostra Técnica de recolha de


dados

Técnica Superior, Chefe da área das ITS 1 Entrevista

Técnica do serviço e acção social 1 Entrevista


19

Secretário da Associação dos transportes – rota 1 Entrevista


internacional Massinga
Fiscal dos transportes internos 1 Entrevista

Transportador Internacional 1 Entrevista

Trabalhadora de sexo 1 Entrevista

Pessoas com HIV/SIDA 4 Entrevista

Mineiros 1 Entrevista

Camionistas 2 Entrevista

Fonte: Bucuane, (2021)

0.6. Desafios no trabalho de campo

Ao longo do trabalho de campo enfrentei um tipo de desafio que passo a apresentar. O desafio
prende-se ao acesso a informação. As pessoas com quem conversei não mostraram
disponibilidade para conversar comigo nem no momento e muito menos depois. As pessoas
dificilmente dão qualquer informação a respeito. Devido ao acesso limitado a informações no
começo do meu trabalho, fiquei bastante desmotivada e por um momento pensei em desistir e
pesquisar outro assunto.

As pessoas com quem conversei foi por intermédio de algumas pessoas que tinham muita
simpatia por mim e que através de recomendação consegui ser recebida e ser ouvida. Era normal,
iniciar uma conversa com um informante e depois de voltar para lá outro dia o informante
recusar falar, com a alegação de que não tem nada de novo a dizer, pois já disse tudo que tinha
para dizer. Portanto, essa dificuldade foi ultrapassada através da paciência e do reconhecimento
de que qualquer trabalho enfrenta dificuldades de várias índoles.
20

CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA

1.1. Vírus de Imunodeficiência Humana e Síndroma de Imunodeficiência Adquirida

O Banco Mundial (1999) define o Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH), como sendo uma
doença de transmissão sexual (DTS) que depois de uma ou duas semanas de sintomas gripais,
não tem nenhum efeito visível na pessoa infectada durante um período sintomático que pode ser
de dois anos ou 20 anos. Mas, a OMS (2008) define o Vírus de Imunodeficiência Humana como
sendo um vírus que enfraquece o sistema imunitário e conduz, por último, ao Síndroma de
Imunodeficiência Adquirida (SIDA).

A OMS (2008) define o SIDA como sendo um conjunto de quadros clínicos frequentemente
denominados por “infecções e cancros oportunistas” para os quais não existe actualmente cura.

Segundo BIT – Bureau Internacional do Trabalho (2014), “VIH” refere-se ao vírus da


imunodeficiência humana, que enfraquece o sistema imunitário humano. A infecção pode ser
prevenida através de medidas adequadas. “SIDA” refere-se à síndrome da imunodeficiência
adquirida que resulta do VIH em fase avançada, e que se caracteriza pelo aparecimento de
infecções ou cancros oportunistas relacionados com o VIH, ou de ambos.

A epidemia do HIV/SIDA é um dos maiores desafios alguma vez lançado ao desenvolvimento e


progresso sociais do mundo (Nhabinde, 2013), é também considerada uma das doenças mais
destrutivas que a humanidade alguma vez enfrentou.

Segundo o Governo de Moçambique (2010) o HIV/SIDA constitui, na actualidade, um dos


grandes problemas de desenvolvimento e uma séria ameaça aos progressos e ganhos em várias
esferas de actividade económica, social e política, exigindo um tratamento e atenção em todos os
sectores e, como mostra o estudo realizado por Jones-Smith (2007), tem um impacto negativo no
crescimento económico de um país.

1.2. Tratamento anti-retroviral

Para Cunha (2010) o tratamento anti-retroviral tem como resultado a redução progressiva da
carga viral e a manutenção ou restauração do funcionamento do sistema imunológico. Cunha
(2010) adianta ainda que o tratamento anti-retroviral tem sido associado a benefícios marcantes
21

na saúde física das pessoas seropositivas e permitindo que elas retomem e concretizem seus
projectos de vida.

De acordo com Gaspar (2016), cerca de um milhão e meio de pessoas vivem com SIDA em
Moçambique, mas, estima-se que apenas cerca de 640 mil procuraram tratamento. Esta fraca
afluência ao tratamento pode-se dever a vários factores, como por exemplo: a falta de
informação, a falta (fraca) existência de recursos humanos e financeiros para abranger todo o
grupo de infectados, medo da discriminação, factores culturais, entre outros factores.

1.3. Mobilidade

As deslocações são uma consequência das necessidades gerais de movimentação de pessoas ou


bens, as quais são geradas pelas diversas actividades económicas, sociais e de lazer.

Segundo Magalhães et al (2013) e Ferreira et al (2013), etimologicamente, o termo mobilidade


deriva do latim, mobilitas (átis), que por sua vez deriva de mobilis que significa móvel (que pode
se mover). No entanto, para os autores, que dominam o senso comum, “mobilidade é entendida
como a característica do que é móvel, do que tem a capacidade de se deslocar. Assim, é a própria
capacidade de mudança, de deslocamento. Os mesmos defendem, ainda, que nesta acessão o
termo mobilidade foi apropriado e delimitado por diversas áreas como: a sociologia, a
electrónica, a ciência da computação, a física, a geografia (demografia) e pela área de
planeamento urbano e de transportes.

Para Brandão (2012), “a noção de mobilidade está relacionada com o grau de liberdade com que
nos podemos movimentar em determinado espaço (capacidade de deslocação); é assim um
conceito que traduz o modo e a intensidade em que se desloca”, e que está na base da construção
de sistemas urbanos, com três subsistemas principais (transporte público, transporte individual e
deslocação pedonal).

Para muitos autores, como Alves e Júnior (s.d.) Teles et al., (2013) falar de mobilidade é falar de
fluxos de movimentos e fluxos, é desencadear em cada um de nós, uma forma diferente de
abordagem, é definir conceitos diversos, é participar num processo de conhecimento
multifacetado, ou não fosse este ser um dos temas de maior transversalidade disciplinar, é
compreender as novas realidades urbanas e sociais, é incluir nessa representação de fluxos, as
formas e modos de ir de um lugar a outro, é saber quem os faz, quais os motivos e quando são
22

feitos, é perceber os novos ritmos de vida que hoje desenham os territórios (sociais) da
mobilidade.

A mobilidade, segundo Teles (2005, p.37), já não é mais um conceito de distância entre dois
pontos, mas a deslocação de pessoas, bens, comunicações, informação e a relação que existe
entre o local de trabalho com as residências, do acesso aos bens com os espaços de lazer e até um
leque de questões politicas.

Vasconcelos (2001, 122) afirma que “tradicionalmente, mobilidade, é simplesmente tida como a
habilidade de movimentar-se, em decorrência de condições físicas e económicas”. Enquanto
Magalhães et al (2013, p. 4) defende que mobilidade “é a capacidade de grupos ou indivíduos de
mudar de residência, de trabalho ou de se mover fisicamente de um lugar para outro”.

As formas de mobilidades geográficas podem ser sistematizadas através de matriz articulada em


volta das dimensões temporal e espacial do movimento, sendo que a dimensão temporal se
divide em: i) movimento recorrente, com intenção de retorno em um curto espaço de tempo
(movimento circular de ida e volta), ou ao contrário; e ii) movimento não recorrente, quando há
ausência de intenção de retorno breve (movimento linear). Por sua vez, a dimensão espacial
também se divide em dois tipos e se trata: i) dos deslocamentos internos ao lugar de vida; e ii) da
dimensão espacial dos deslocamentos para além do lugar de vida, para outras cidades, países etc.

De facto, como lembram Wunsh e Termote (1978), mobilidade espacial refere-se à “habilidade”
de mover-se no espaço fenómeno que pode envolver não apenas a migração, considerada como
mudança de lugar de residência, mas também os movimentos diários dos quais os mais
conhecidos são os pendulares.

Neste sentido, a migração seria uma forma de mobilidade que implica decisivamente mudança de
residência, ao passo que a mobilidade envolve também deslocamentos diários e sazonais, que
não implicam mudança temporária ou permanente de residência.

Existem dois usos principais do termo [mobilidade] na geografia humana: (1) o movimento de
pessoas, ideias ou mercadorias em todo território (mobilidade física); e (2) mudança de status
social (mobilidade social). A mobilidade humana ocorre em várias escalas temporais e espaciais,
com a migração se referindo à mobilidade que envolve uma mudança na localização residencial,
23

dentro de uma cidade ou entre continentes e na mobilidade diária, incluindo pendulares,


referindo-se a movimentos que não implicam mudança de residência.

A mobilidade não é um fenómeno estático. Segundo a Organização Internacional de Migração


(OIM), estes fenómenos entendem-se melhor como um processo que compreende as fases
seguintes:

 Origem – o lugar de onde as pessoas procedem, por que é que partem, que relações
mantêm com as suas casas enquanto estão fora.
 Trânsito – o lugar por onde passam, como viajam e como se mantêm enquanto viajam.
 Destino – o lugar para onde vão, as atitudes que encontram ao chegar e as suas condições
de vida e trabalho no novo lugar.
 Regresso – as comunidades a que regressam, as suas famílias, os seus recursos ou a falta
destes.

A mobilidade da população abrange desde grandes deslocamentos populacionais que ocorrem


entre continentes e países, até os movimentos dentro de um país, de um estado, de uma região ou
no próprio município. Esses movimentos se originam por variadas razões. Entre os principais
motivos, as questões de cunho económico figuram como as mais relevantes, bem como os
aspectos políticos e sociais. Para Rocha (1998):

Mobilidade quer dizer “a capacidade dos corpos se deslocarem”. Esta é uma das definições mais
gerais desta palavra. Está relacionada com os corpos físicos, onde claro, estão incluídos os
corpos humanos. Mas a noção de mobilidade compreende em alguns casos a mobilidade de
empresas, factores de produção, etc. A complexidade dos movimentos destes corpos se dá devido
a inúmeras mediações para o seu deslocamento, além das escalas diferenciadas de manifestação.
O porquê de um individuo se deslocar está relacionado a vários aspectos: de ordem política,
social, afectiva, moral etc. Estes aspectos se interagem construindo para cada individuo um perfil
desses factores. (Rocha, 1998, p. 58).
24

1.3.1. Tipos de mobilidade

São vários os tipos de mobilidade espacial da população, entre os principais podemos identificar
as migrações inter-regionais, intra-regionais, transumância (sazonal), pendular e temporária.
Conforme análise de Adas (1998):

Migrações inter-regionais referem-se à migração de pessoas realizadas entre as regiões; migração


intra-regional corresponde à migração de pessoas dentro de uma mesma região; transumância é o
nome dado aos movimentos pendulares de população; isto é, populacionais temporários
relacionados às estações do ano ou às actividades económicas. Migrações sazonais quando os
trabalhadores se deslocam de uma região para outra durante um período de colheitas; migrações
temporárias do campo para a cidade onde o trabalhador busca trabalho na indústria, na
construção civil ou no sector terciário e depois de algum tempo, o retornam a sua área de origem.
(Adas, 1998).

Existem pois várias definições e acepções acerca do termo mobilidade. Essas derivações, como
visto, estão relacionadas – de uma forma ou outra – à duração do deslocamento, ao lugar de
permanência que o deslocamento implica (origens e destinos) e aos recursos económicos,
técnicos e simbólicos colocados em uso para a efectivação do movimento, seja físico e/ou social.
A mobilidade e migração podem ser utilizadas como sinónimos. Afinal, a migração pode ser
definida como Mobilidade Física da população, um deslocamento populacional, o qual reflecte
em mudanças nas relações entre as pessoas e consequentemente, nas relações de produção.

1.4. Diferença de género e diferentes projectos de emigração

A migração masculina implica a sua ausência do núcleo de residência familiar durante períodos
de tempo de no mínimo onze meses, pois os emigrantes contratados regressam cada ano durante
as férias. Esta distância entre os dois membros do casal sublinha ainda mais o sistema de divisão
sexual do trabalho característico das populações rurais africanas em geral, e de Moçambique em
particular.

Tanto os homens como as mulheres do meio rural de Massinga são potenciais migrantes na
procura de um futuro melhor. Os homens podem migrar a uma grande cidade moçambicana (no
caso de Massinga principalmente Maputo, mas também Beira) ou emigrar à África do Sul.
Podem emigrar solteiros ou depois de casar, mas se emigram para a África do Sul o fazem
25

sempre sozinhos, e geralmente com vontade de regressar ao local de origem para casar e
construir uma casa (de alvenaria ou de chapas de zinco, segundo o nível de sucesso). Por outro
lado, os homens que migram a Maputo ou Beira têm uma vontade maior de fixar sua residência
na cidade, e só regressar de visita principalmente quando há cerimónias importantes. Quanto
mais anos se passam, em geral, mais preguiçosos tornam-se para visitar sua aldeia de origem,
pois as condições de vida do mato são consideradas um grande incómodo. Os filhos nascidos nas
cidades ficam ainda mais afastados do meio rural.

As mulheres, por sua vez, quando ainda solteiras, podem migrar à capital da província para
ajudar em casa de algum parente que aí mora, ou para trabalhar no serviço doméstico na casa de
algum conhecido. Onde não há escola primária completa, um outro motivo de
deslocamento/migração pode ser a vontade de continuar os estudos, objectivo geralmente
compatível com o de ajudar em casa de algum parente. O casamento também pode justificar a
migração feminina em dois casos: quando as terras do marido sejam longe da terra de origem da
esposa (assim ela não poderá manter muita relação com a sua própria família) ou bem quando os
dois migram conjuntamente à cidade. Muito dificilmente as mulheres migram sozinhas a
Maputo. (Farré; 2009)
26

CAPÍTULO II: LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1. Localização geográfica da área de estudo

O distrito de Massinga é um distrito situado na parte central da província de Inhambane, em


Moçambique. A sua sede é a vila de Massinga.

Tem limites geográficos, a norte com os distritos de Vilanculos e Mabote, a este com o Oceano
Índico, a sul com o distrito de Morrumbene e a oeste com o distrito de Funhalouro.

O distrito de Massinga tem uma superfície de 7458Km2 e uma população de 228,437 de acordo
com os resultados preliminares de Censo de 2017, sendo 103,509 homens e 124,928 mulheres,
tendo como resultado uma densidade populacional de 42,9 habitantes/Km2.

Figura1: Localização geográfica do distrito de Massinga

Fonte: INE (2012)

2.2. Geografia física e humana

Massinga é um distrito com uma extensão de 7.458 Km2, e uma população que supera com
largura os 250.000 habitantes, o que faz dele o distrito mais populoso da província de
Inhambane. A vila sede foi recentemente elevada à categoria de município. Devidos as diferentes
27

características do solo e do regime das chuvas, a população concentra-se em determinadas partes


do distrito, que podem chegar a atingir densidades de população bastante elevadas.

O distrito não conta com um rio de caudal permanente, mais sim com lagoas de dimensões
diversas e pequenos rios que ali desaguam na época das chuvas. No posto administrativo de
Chicomo, na parte mais interior do distrito, há zonas com boas condições de pasto, assim como
áreas de savana arvorada onde se pratica a caça de fauna bravia menor. No leste, o distrito é
banhado pelo oceano índico, onde a pesca e o turismo convivem como actividades económicas
que, segundo o contexto e o nível de regulamento, poder-se-iam complementar bem. Na costa
mais setentrional, o distrito conta com uma zona protegida: a Reserva Natural de Pomene.

A população é principalmente jovem devido ao acelerado crescimento demográfico das últimas


décadas (Francisco, 2012), mas um facto que merece ser salientado por pouco conhecido é que
nas áreas rurais encontra-se também bastante população idosa que já viveu e trabalhou no meio
urbano, mais decidiu regressar ao local de origem para passar lá a última fase da vida. As razões
desta decisão podem aportar muita informação sobre as prioridades e os projectos de vida de
muitas pessoas.
28

CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1. Epicentro do HIV/SIDA que afecta o distrito de Massinga

Dentre os factores geralmente associados à expansão da epidemia no distrito de Massinga estão


as mobilidades. Estudos indicam que o trabalho migratório tem uma grande tradição em
Moçambique, sobretudo no sul e centro do país, onde o destino tradicional tem sido a África do
Sul, para a região sul.

Segundo as Nações Unidas, com 13,5 % da população total infectada pelo vírus, a Africa do Sul
continua a ter maior número de infectados com HIV/SIDA no mundo, com cerca de 7,6 milhões
de pessoas a viver com o vírus, sendo responsável por um terço de todas as novas infecções por
HIV/SIDA na Africa Austral.

A África do Sul é um epicentro do HIV/SIDA que afecta o distrito de Massinga pois alguma das
infecções são encabeçadas pelo mesmo devido ao período longo que os trabalhadores ficam na
África do sul exercendo suas actividades para o sustento de suas famílias e pelo facto de uma
grande parte da população emigrar para a África do sul pelas vias formais e informais, em busca
de melhores condições de vida. Muitos dos que emigram para a África do Sul não o fazem pelas
vias formais, como alude Muanamoha (2008).

Os mineiros vão e estão sozinhos, as famílias estão cá. E eles acabaram por ter relações com
mulheres infectadas (a África do Sul tem a taxa mais alta de infecções do HIV/SIDA), pelo que
muitos trabalhadores acabaram também por ficar infectados e por transmitir o vírus á família em
Moçambique, esclarece o economista Luís Magaço.

Dados indicam essa tradicional mobilidade da população do distrito de Massinga, sendo a que
trata de um tipo de mobilidade em que os homens se ausentam por um período longo de tempo
(entre 11-12 meses). A falta de contacto com as suas famílias ou pelo menos com o meio social
mais restrito dos seus locais de origem torna-os mais susceptíveis a uma vida sexual menos
controlada. Esta condição faz deles vectores importantes do vírus tendo as suas mulheres como
vítimas principais.

Segundo Constância (C/P., 2021, 10 de Maio), no distrito de Massinga a poligamia é tida como
um acto normal, este que é o sistema onde o homem tem mais de uma esposa ao mesmo tempo.
29

Um homem pode ter duas esposas em Massinga e mais uma na África do sul o que influencia a
propagação do HIV/SIDA, pois se uma está infectada a probabilidade de infectar as outras é
maior, sabendo que ambos podem até ser infiéis, as mulheres podem ter para si outros parceiros
bem como o homem (isso é podem cometer adultério que é quando um individuo possui outro
relacionamento, mas um dos parceiros não sabe) e essa cadeia vai se alastrando contribuindo
para o aumento do índice de HIV/SIDA.

3.2. Causas da mobilidade no distrito de Massinga

Actualmente, várias pessoas vivem e muitas vezes trabalham fora do local de origem é o caso do
distrito de Massinga uma percentagem significativa de pessoas emigram permanentemente todos
os anos. Outras percentagens de pessoas deslocam-se, cada ano, dentro do país. Dessas pessoas,
deslocam-se por motivos económicos e sociais.

O fenómeno mobilidade possui na questão socioeconómica o principal motivo de deslocamento,


parte-se do princípio de que quando uma região emerge economicamente, a mesma tende a
tornar-se pólo receptor de contingentes populacionais; quando uma região decresce
economicamente, torna-se pólo repulsor de população. Dados indicam para o distrito de
Massinga um grande fluxo de saída de homens para a República da África do Sul na procura de
melhores condições de vida.

 Económicos – Os desequilíbrios económicos entre as comunidades levam as pessoas a


mudarem-se à procura de uma vida melhor ou da sobrevivência. Assistindo se uma
elevada densidade populacional que conduz a má remuneração dos empregos,
contribuindo para elevados fluxos migratórios.
 Sociais – são derivadas da vontade do individuo de melhorar as condições de vida em que
se encontra.

Em Massinga encontramos a situação seguinte: a maioria do trabalho rural de subsistência é feita


por mulheres e crianças dentro do âmbito doméstico (não monetarizado). Grande parte dos
deslocamentos temporários de noras, sobrinhas, “irmãs mais novas” e demais relações
respondem a garantir trabalho doméstico suficiente para as necessidades básicas de subsistência
(ajuda a parentes idosos, mulheres recém casadas ainda sem filhos que caminhem sozinhos), ou
30

para os diferentes picos de trabalho doméstico durante uma cerimónia em algum lugar onde a
família está representada (Farré; 2009).

Para Vletter (2006), a mobilidade seja, sobretudo de nível interno e regional, envolve
“populações de alta mobilidade” que incluem comerciantes (formais e informais), mukeristas,
trabalhadores mineiros, da construção civil e doméstica.

3.3. Níveis de mobilidade no distrito de Massinga 2017-2020

3.3.1. Quanto a mobilidade internacional

A mobilidade sempre irá incluir os movimentos de emigração e imigração. Segundo a pesquisa,


os grupos que emigram para a Africa do sul são na maioria os mineiros, esposas de mineiros e
seus filhos, trabalhadores das plantações e comerciantes formais e informais.

Tabela 2: Número de emigrantes que saíram de Massinga para África do sul 2017-2020

Anos Número de emigrantes


2017 2398
2018 2320
2019 3180
2020 4120

Fonte: ATTII – (Associação dos transportadores Terrestres Internacional de Inhambane), 2021

Segundo J. J. Matsinhe1 (C/P., 2021, 20 de Maio), os destinos desses emigrantes são os


seguintes: Libombo, Nelspruit, Witbank, Tembisa, Johannesburg, Springs, Natalspruit,
Boksburg, Westonaria, Mogal city, Carletonvile, Orkinia, Rustenburg, Mugwaze, Brits Northam,
Welkom. Dentre essas cidades têm as destacadas mineiras tendo como exemplo a cidade de
Rustenburg (onde encontram-se as duas maiores minas de platina do mundo e a maior refinaria),
e outras sendo as dos trabalhadores das plantações de cana-de-açúcar, batata e mais, e outra
considerada central Johannesburg onde há um maior fluxo de negociantes que fazem comércio
formal e informal e devido a sua localização que facilita a interligação com as outras cidades.

O mesmo, deu o exemplo do caso dos mineiros que tem folga de 4 dias, começando do sábado,
retornam a Massinga enquanto, os carros que vão a cidade onde trabalham saem no domingo eles
1
Secretário da Associação dos transportes – rota internacional
31

só podem ter acesso aos carros que vão a Johannesburg pois saem todos os dias e é a mesma que
facilita a interligação com os seus locais de trabalho.

Tabela 3: Número de migrantes que saíram da África do sul para Massinga 2017-2020

Anos Número de migrantes que saíram da Africa


do Sul para Massinga 2017-2020
2017 6625
2018 5632
2019 6842
2020 ------------

Fonte: ATTII – (Associação dos Transportadores Terrestres Internacional de Inhambane), 2021

Nota se o retorno desses emigrantes no período de páscoa, no mês de Abril, onde ficam 3 ou 4
dias no máximo. A festa da Páscoa é maior festa da cristandade, pois é nessa data que se celebra
a ressurreição de Cristo. A semana que antecede a Páscoa é conhecida como Semana Santa e
começa com o Domingo de Ramos, que lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, ocasião em que
as pessoas cobriam a estrada com folhas da palmeira, para comemorar sua chegada.

A Sexta-Feira Santa é o dia em que os cristãos celebram a morte de Jesus na cruz. O Domingo de
Páscoa celebra a Ressurreição de Jesus e sua primeira aparição entre seus discípulos. E em
Dezembro que é o mês no qual são realizadas reuniões, encontros e festas de fim do ano, é nesse
período em que as pessoas aproveitam para fazer retrospectiva dos principais acontecimentos que
marcaram o ano, 25 de Dezembro dia do natal, essa data comemorativa ajuda a promover a
reunião das famílias. No último dia do ano, mais especificamente na passagem do dia 31 de
Dezembro para o dia 1 de Janeiro, comemora-se o réveillon (despertar).

A maioria dos que retornam são mineiros e os trabalhadores das plantações voltam apenas no
final do ano. Não há dados de 2020 que indiquem o número de migrantes que saíram da África
do sul para Massinga, porque neste ano não houve controlo devido a pandemia covid-19, na
mesma porque decretaram o estado de emergência e não havia como trabalhar.
32

Figura 2: Fronteira de Ressano Garcia no mês de Dezembro

Fonte: https://www.opais.co.mz
A fronteira de Ressano Garcia regista um intenso fluxo de viaturas e pessoas que chegam ao país
para a quadra festiva. Milhares de pessoas no mês de Dezembro, demandam entrar em
Moçambique oriundas da Africa do sul, as filas são longas por isso a fronteira abre as 6 horas e
encerra á meia-noite, funcionando 24 horas quando se trata das festividades da pascoa e do fim
do ano.
33

Figura 3: Mapa de fluxos migratórios

Fonte: https://pt.dreamstime.com, adaptado por Bucuane, (2021)


34

3.3.2. Quanto a mobilidade interna

Esta mobilidade é motivada, entre outros factores, pelas oportunidades de emprego e diante de
melhores oportunidades, muitos trabalhadores qualificados optam por novos deslocamentos
físicos em busca de melhores remunerações e condições de trabalho.

Segundo o Fiscal dos transportes internos de Massinga (C/P., 2021. 20 de Maio), não há registro
de números de pessoas que saem e os transportes tem como destino Maputo, mas pelo facto do
menor fluxo de passageiros em várias épocas do ano considera-se 15% dos passageiros os que
ficam nos seguintes pontos: Inharime, Zavala, Xai-Xai e Macia, 35% dos passageiros com
destino Maputo por motivos de negócios, visita a família e compra de mercadoria para revender
e os 50% com destino á vizinha África do sul, mas para tal vão até Maputo depois fazem
ligações para a África do sul, e se é por via clandestina ou formal não se sabe.

Gráfico 1: Distribuição dos passageiros, baseada na rota interna e no destino dos mesmos

15%
Inharime, Zavala, Xai-Xai e
50% Macia
Maputo
35%
Africa do sul

Fonte: Bucuane, (2021)

3.4. Níveis de HIV/SIDA no distrito de Massinga 2017-2020

O HIV/SIDA é um fenómeno no distrito de Massinga solidamente estabelecido, o mesmo é o


distrito da província de Inhambane que apresenta índices elevados de HIV/SIDA e dispõe de 10
Unidades Sanitárias (US).
35

Gráfico 2: Número de infectados por HIV/SIDA 2017-2020

Testaram positivo 0-14 anos Testaram positivo 15 anos a mais


13029
11868

4339
2052
998 868
354 123

2017 2018 2019 2020

Fonte: Base de dados Sisma, (2021)

O gráfico acima mostra que nos anos de 2017 e 2020 no distrito de Massinga usando o número
de testagens positivas como indicador, os adultos são os mais infectados com cerca de 13029 em
2017 e 11868 em 2020.

Para o distrito de Massinga as crianças com HIV/SIDA a transmissão é frequentemente vertical o


que significa que o vírus é passado para a criança durante o período de gestação ou á medida que
passam pelo canal do portador, bem como no período de amamentação, e a principal transmissão
de 90% dos adultos é sexual. A faixa etária mais infectada é dos 20 anos a mais e as mulheres
constituem o grupo mais vulnerável, não porque os homens sejam os menos infectados, mas
porque são menos que visitam a Unidade Sanitária (US), e os mesmos são os com um histórico
de propagação do HIV/SIDA, tendo como um dos motivos a poligamia, 2(Constância C/P., 2021,
10 de Maio).

O HIV/SIDA pode ser transmitido por via sexual, sanguínea, transmissão vertical, aleitamento
materno, perfuro-cortantes, transfusão sanguínea, agulhas injectáveis que estão contaminados
pelo vírus. (Lima et all., 2013)

Os adultos constituem o grupo que encontra-se em frequente mobilidade, devido a busca


concretamente de melhores condições de vida dentro ou fora do país, onde por ficarem muito
tempo sem contacto com seus parceiros acabam se envolvendo com outras pessoas, sem saber do

2
Técnica superior, chefe da área das ITS (infecções por transmissão sexual).
36

risco de infecção que pode ocorrer e gradualmente voltam e se relacionam com os seus parceiros,
o que causa a transmissão de doenças que contraíram quando esteve fora.

Segundo J. A. Sitoe de 42 anos (C/P., 2021, 23 de Julho), descobriu que tinha HIV/SIDA em
2007 através do seu filho que agora tem 16 anos de idade, mas antes dela descobrir o marido
testou positivo era biscateiro encontrava-se em frequente mobilidade, ela levantava os
comprimidos para ele mas não tomava, colocava dentro da mala isso foi descoberto depois de
sua morte, hoje tem um filho de 4 anos também é seropositivo e a transmissão certamente foi
vertical de mãe para filho.

Um dos motivos para o alcance dos números de indivíduos com HIV/SIDA são os meios usados
para testagem (grupos de activistas contratados para as testagens, os canais de rádio que abordam
sobre HIV/SIDA e mais), para o ano de 2020 detectou se cerca de 12736 infectados devido ao
trabalho árduo para alcançar as pessoas do distrito que tem dificuldades de chegar a unidade
sanitária com a ajuda de algumas ONG’s da área de saúde como o exemplo da associação
Tsinela que está localizada em Massinga, trabalhando com os gabinetes de testagem voluntaria
(GATV) (Constância C/P., 2021, 10 de Maio).

Gráfico 3: Número de infectados pelo HIV/SIDA que iniciaram e os que abandonaram o


tratamento 2017-2020

Iniciaram tratamento Abandono ao tratamento


4231
3758

2432

941 1067
866
347
65

2017 2018 2019 2020

Fonte: Base de dados Sisma, (2021)


37

O tratamento para o HIV/SIDA é a terapia anti-retroviral (TARV) que age inibindo a


multiplicação do HIV no organismo e consequentemente evitam o enfraquecimento do sistema
imunológico. O uso regular dos medicamentos anti-retrovirais é fundamental para garantir o
controle da doença, a boa adesão á terapia anti-retroviral (TARV) traz grandes benefícios
individuais, como o aumento da disposição, da energia e do apetite, e assim não há
desenvolvimento de doenças oportunistas.

E o tratamento está dividido em linhas onde tem a principal e a alternativa, para adultos a
principal é: a toma dos comprimidos é diária sendo um comprimido de manhã e a alternativa é a
toma diária um comprimido de noite; para crianças as linhas também são duas o tratamento é
pediátrico mas para as mesmas a toma dos comprimidos é diária 12/12h. Contudo essa toma
diária de apenas um comprimido em um único período, começou no ano de 2019, mas nos anos
de 2017 e 2018 o tratamento era rígido porque eram obrigados a tomar vários comprimidos
diariamente, Constância (C/P., 2021, 10 de Maio).

3.5. Causas do abandono ao tratamento

De acordo com os dados acima ilustrados mostram que uma grande percentagem dos indivíduos
abandonaram o tratamento nos anos de 2017-2020. Segundo Constância (C/P., 2021, 10 de
Maio) as causas do abandono ao tratamento são as seguintes:

 A distância

Os pacientes desistem por falta de recursos financeiros, o que acarreta o problema da falta de
meios de transportes, falando dos que vivem distantes da US e assim não conseguem sair sempre
para levar os comprimidos e só vem quando as coisas pioram, outros aguentam caminhar no
primeiro, segundo e no terceiro desistem, devido a esse problema.

 Tempo de espera na Unidade Sanitária (US)

Os pacientes encontram filas longas nas US, ficam cansados de esperar, sentem fome durante a
espera e isso acaba sendo motivo para desistirem.

Segundo a activista da Associação Tsinela, Lélia do Rosário, outro desafio que faz com que
muitos pacientes por vezes desistam de levantar sua medicação tem haver com o facto de os
mesmos terem que esperar muito tempo para o fazer devido ás filas intermináveis.
38

 O estigma e descriminação

Os portadores de HIV/SIDA antes de todos eles se estigmatizam e sentem medo da


discriminação, tem vergonha de ir ao hospital porque pode encontrar um conhecido e descobrir
que está doente. O medo de lidar com preconceitos e inseguranças.

 Quantidade dos comprimidos e seus efeitos colaterais

Em 2017 e 2018 o tratamento era muito rígido, pois a quantidade dos comprimidos por dia era
imenso, isso tomando no período de manhã, de tarde e de noite, mas de 2019-2020 o tratamento
melhorou pois toma-se apenas 1 comprimido por dia.

Esses efeitos colaterais acontecem muita das vezes no início do tratamento, o que pode ocasionar
dores intensas, diarreia e mais, mas o bom é que depois de um tempo passam, mas a maioria dos
pacientes não aguentam e desistem.

 Não-aceitação do seu seroestado

Há uma dificuldade enorme de aceitação do seu seroestado, o que consequentemente leva os a


não seguirem o tratamento.

Segundo activistas da Associação Tsinela existem vários constrangimentos relativamente aos


pacientes com HIV/SIDA: infelizmente ainda há muitos pacientes que não aceitam a doença,
bem como outros que preferem fazer o tratamento tradicional, através dos curandeiros.

 Dificuldade para revelar o seu seroestado ao parceiro

As mulheres que vivem com HIV/SIDA são vitimas de julgamento moral e são culpabilizadas
pela doença, o que reforça o estigma, que por sua vez gera exclusão social e consequentemente,
não adesão ao tratamento.

Muitas das vezes tratando se mais das esposas dos emigrantes as quais pensam que a sociedade,
a família, o parceiro podem-lhes acusar de infidelidade e lhes mandarem embora do lar, acabam
escondendo e quando regressado os maridos torna-se difícil cumprir com a medicação, só toma
os comprimidos quando tem uma oportunidade e por vezes num horário incorrecto e isso muita
das vezes dificulta o tratamento e consequentemente a doença acaba se agravando.

De acordo com F. P. Matsimbe de 27 anos de idade (C/P., 2021, 25 de Maio), descobriu o seu
seroestado em Dezembro de 2020, a partir do mesmo começou a fazer tratamento. A sua família
39

sabe menos o seu marido que é mineiro. A união entre os dois é recente e os seus familiares
aconselharam-lhe a não revelar porque o mesmo pode deixa-la, mas é difícil seguir com
tratamento pois faz as escondidas, não pode sair alegando ir ao hospital sabendo ele que não está
doente.

 Falta de apoio familiar

Esse é um grande desafio, pois o individuo não revela a sua situação, com medo de não
conseguir o apoio familiar, e uma vez não revelada a sua situação dificilmente vai sentir-se a
vontade sempre tendo que sair de casa para o hospital. Só tomam os medicamentos no dia em
que a esposa ou marido, os filhos, irmãos, não estiverem em casa, então não adere o tratamento
como deve ser.

 Falta de alimentação

A falta de alimentação faz com que a toma dos comprimidos torne-se muito complicado, pois
tomar os medicamentos sem comer pode provocar efeitos intensos no organismo.

 Mau atendimento ao nível da US

Relações insatisfatórias do sujeito com o médico e com os demais profissionais da equipe de


saúde. Com o mau atendimento por parte da equipe de saúde os pacientes ficam frustrados e
ainda sentem se constrangidos o que leva em algumas vezes a desistência dos mesmos ao
tratamento.

De acordo com Regina Fenias Vilankulo de 53 anos camponesa (C/P., 2021, 25 de Maio), diz
que o marido faleceu a 6 anos era pedreiro, e ficou a descobrir essa doença em 2018 apenas sua
família é que sabe a comunidade não por medo da descriminação, mas queixa-se do início do
tratamento ficou muito doente que pensou em desistir mas sua filha aconselhou-a a não desistir
porque ia morrer, mas desde que isso passou até quando não toma senti algo faltando. Diz ainda
que continua fazendo as actividades normais e mantendo demasiadamente relações sexuais com
seu parceiro actual, o mesmo tem uma outra esposa apenas vem por alguns dias, e sente-se activa
principalmente agora que toma esses comprimidos e o mau é que não sabe quais são os métodos
de prevenção.

Sobre adesão/abandono do tratamento anti-retroviral de pessoas vivendo com HIV/SIDA


surgiram várias explicações, que podem, entretanto, ser agrupadas em quatro dimensões:
40

dimensão económica, aspectos relacionados a efeitos colaterais dos medicamentos anti-


retrovirais, o tratamento da equipe de saúde e dimensão sócio cultural (Da Costa 2008).

As dificuldades de lidar com a medicação quando não se tem de comer e as dificuldades de


deslocamento à Unidade Sanitária, são as principais razões para a interrupção do TARV.

Gráfico 4: Número de óbitos 2017-2020

Óbitos 0-14 anos Óbitos 15 anos a mais


470

146

62
40 39
2 2 13

2017 2018 2019 2020

Fonte: Base de dados Sisma, (2021)

Em comparação dos dados acima ilustrados, nota-se que o maior número de óbitos é de adultos,
sendo considerado um dos motivos que leva a morte dos pacientes com HIV/SIDA o abandono
ao tratamento, mas como outro motivo tem as doenças oportunistas, como a tuberculose (TB),
doenças de transmissão sexual, e para a diminuição dessas doenças é necessário seguir com o uso
das terapias anti-retrovirais, factor que tem aumentado a sobrevida das pessoas infectadas pelo
HIV/SIDA. É importante ressaltar que o abandono do tratamento anti-retroviral consiste no
agravamento ou na situação limite de não adesão.

Doenças oportunistas são infecções que acometem organismo humano devido à alguma falha no
sistema imunológico, sistema este que é responsável por liberar células de defesa que irão
combater antígenos, ou seja, destruir algum corpo estranho que se adentrar ao corpo humano que
não faça parte do mesmo, necessitando assim de ser expulso do local que ele estiver. Com a falha
do sistema imunológico as infecções são favorecidas, pelo fato de não haver células capazes de
destruir antígenos das diferentes doenças oportunistas, por estas estarem infectadas pelo vírus
HIV e serem destruídas. (Camargo; Miranda; Bonafé, 2013).
41

3.6. Os principais grupos de emprego que implicam mobilidade e a propagação do


HIV/SIDA no distrito de Massinga 2017-2020

Nesses grupos incluem-se:


 Camionistas;
 Transportadores;
 Os mineiros;
 População chave que consiste em mulheres trabalhadoras de sexo, homens que fazem
sexo com homens, pessoas que injectam drogas, reclusos.

3.6.1. Camionista

Estudos indicam que os camionistas no distrito de Massinga implicam uma grande mobilidade e
a propagação de HIV/SIDA, porque a mobilidade associada com a sua ocupação profissional
pode contribuir para uma maior exposição à infecção pelo HIV/SIDA e outras ITS. E também
pelo facto de muitos camionistas não se beneficiarem dos serviços de prevenção, de educação
amigáveis para os mesmos devido a sua mobilidade.

Segundo E. Francisco (C/P., 2021, 29 de Maio) natural de Gaza, é camionista há bastante tempo,
tem um filho e esposa, a sua rota é de Maputo-Beira para chegar a esse ponto são dias de viagem
sozinho, sempre tem passado da Massinga e quando chega a alta hora (22-23horas) tem parado
para descansar as vezes no camião e por vezes na pensão e tem estacionado a berma da estrada.
Os corredores e zonas onde estacionam motoristas de camiões de longo curso são considerados
locais de concentração de prostitutas.

Figura 4: Camiões estacionados a berma da estrada

Fonte: Bucuane (2021)


42

De acordo com J. I. Nhamirre de 27 anos (C/P., 2021, 02 de Setembro) a sua rota de transporte é
Maputo-Tete, em seus pontos de parada que são: Zavala, Maxixe, Massinga, Pambara,
Muchungue, Inchope, Chimoio tem uma parceira, pelo facto de não querer se envolver com
trabalhadoras de sexo, com as mesmas diz que previne-se quase sempre apesar de considerá-las
pessoas de confiança. Diz ainda ter amigos que relacionam-se com trabalhadoras de sexo, pois
um deles envolveu-se com uma na vila de Massinga (bar-vip) tendo-lhe cobrado 200mt por
algumas horas.

Os CLC podem ter um risco de HIV e ITS elevado por serem homens em idade sexualmente
activa que passam longos períodos de tempo longe de sua residência principal, e que se
envolvem em relações sexuais com parceiras ocasionais ou trabalhadoras de sexo e circulam em
áreas com alta prevalência de HIV (OIM, 2011).

3.6.2. Transportadores

No distrito de Massinga existem transportadores que fazem a rota interna e a internacional. É


importante observar que algumas modalidades de emprego, especialmente a mobilidade de
trabalhadores, o que inclui os transportadores desempenham importante papel na transmissão do
HIV/SIDA.

Segundo Belito (C/P., 2021, 05 de Abril) diz que ser transportador não é fácil. É grande a
tentação pois na vizinha África do Sul, a prática da actividade de prostituição é considerada
normal e não é apenas clandestina, além do mais até em lugares públicos circulam. Deu exemplo
do estacionamento dos seus carros, onde as trabalhadoras de sexo chegam e batem na janela do
carro pedindo ajuda, os mesmos perguntam em que podem ajudar, elas com dinheiro e
disponibilizamos os nossos serviços.

São vários amigos que deixam esposas em casa e chegam na África do Sul procuram ter amantes
como forma de satisfazer algumas das suas necessidades, (Belito. C/P., 2021, 05 de Abril).

De acordo com o Fiscal dos transportes internos (C/P., 2021, 20 de Maio), diz que muitos dos
transportadores são de vários pontos do distrito de Massinga, por dia fazem uma viagem e se a
viagem for de Massinga a Maputo são eles obrigados a procurar acomodações e por outra
dormem nos carros, durante esse período não sabe o que faz-se tendo em conta que Maputo é um
dos maiores pontos de prostituição.
43

3.6.3. Mineiros

A actividade mineira é um trabalho fisicamente duro que acarreta riscos para a saúde.
Tuberculose, devido às poeiras, e o HIV/SIDA são as doenças que mais afectam e preocupam na
comunidade mineira. Um dos factores que mais contribuiu para a propagação do vírus no distrito
de Massinga foi a mobilidade de trabalhadores como mineiros e camionistas. As mais altas taxas
de incidência adulta são medidas para Massinga, caracterizada por grande quantidade de homens
adultos que ganham a vida como trabalhadores migrantes nas minas da África do Sul.

Artur (C/P., 2021, 16 de Junho) é mineiro a 13 anos na cidade de Rustenburg 3, tem ficado quase
1 ano inteiro, tendo a oportunidade de voltar (4 vezes), nos dias de folga, no mês de pascoa Abril
onde fica por 3 a 4 dias, no mês escalado de férias e por fim Dezembro para celebrar o natal
tendo que regressar no mês de Janeiro a partir do dia 1 a 3. A parte boa é que trabalha nas minas
e recebe o dinheiro no dia combinado, a má é que vai a África do sul sem sua mulher e seu
filhos, e muita das vezes por esse motivo vários amigos de Massinga, tem tido amantes e tem se
envolvido com algumas prostitutas e outros acabaram por serem infectados pelo HIV/SIDA, que
é um dos riscos para a comunidade mineira.

3.6.4. População chave

No contexto do HIV/SIDA, a população chave são as trabalhadoras do sexo, homossexuais e


pessoas que injectam drogas. O seu risco de HIV está associado aos seus comportamentos, mas
também a factores estruturais, tais como discriminação, estigma, violência, pobreza,
criminalização e falta de acesso aos serviços de saúde, (Constância C/P., 2021, 10 de Maio).

Os trabalhadores do sexo no distrito de Massinga operam a partir de pontos de acesso, definidos


por certas ruas e bairros, barracas (bancas de venda de álcool e outras bebidas), bares,
restaurantes à berma da estrada, pensões e hotéis. Este grupo implica a mobilidade na medida em
que não fazem as suas actividades em apenas um ponto mas em vários pontos do distrito. O
trabalho de sexo também é comum ao longo dos principais corredores de transporte. Estes
corredores atraem muitos motoristas de caminhões de longa distância, trabalhadores migrantes e
viajantes.

3
Considerada uma cidade mineira de acordo com o Secretário da Associação dos transportes – rota internacional
44

De acordo com uma trabalhadora de sexo que falou em anonimato, os preços são variados
dependendo da necessidade de cada homem, por exemplo: algumas horas 250mt, uma noite
1800mt, a mesma disse que não aceita fazer sem preservativo. Mas de acordo com Osório e
Arthur (2002:14) afirmam que “a utilização do preservativo depende, sobretudo da capacidade
de negociação da prostituta com o cliente não existindo uma estratégia comum de prevenção”.

Ainda em anonimato a trabalhadora de sexo diz que não há nenhum registro quanto ao seu
número, pois os trabalhos são feitos em grupos, existem aquelas que vem de Inharrime, Maxixe e
outras são de Massinga, se dão uma comissão ao proprietário do estabelecimento é por usarem os
quartos para suas actividades caso contrário não dão.

3.6.5. Reclusos

Os factores concretos responsáveis pela transmissão do HIV/SIDA na prisão são a injecção de


drogas com agulhas e seringas partilhadas e sem esterilização, as relações sexuais com
penetração entre homens, e a tatuagem com equipamento partilhado e sem ser esterilizado.

3.7. Impactos negativos da mobilidade no distrito de Massinga 2017-2020

 A mobilidade da população do distrito de Massinga nos anos de 2017-2020 tem causado


um desequilíbrio de género, pois quem parte são principalmente jovens e sobretudo de
género masculino, isso acentuando o envelhecimento da população e um desequilíbrio
social entre os sexos, pela predominância de população mulheres (segundo senso 2017) e
idosos.
 Economicamente a perda de jovens traduz-se também numa diminuição da população
activa ocasionando igualmente um desequilíbrio da economia do distrito, uma vez que há
diminuição de mão-de-obra para trabalhar em certos sectores de actividade.

Covane (2001) argumenta ainda que o dinheiro obtido do Trabalho Migratório era muitas vezes
usado para comprar alianças aos chefes locais, e mostrar ainda que este dinheiro era, sobretudo,
usado para o aumento da poligamia uma vez que os migrantes tinham mais posse para o
pagamento de lobolo e pouco se preocupavam com questão de melhoramento das suas vidas
materiais e investimentos deste dinheiro.
45

3.8. Impactos positivos da mobilidade no distrito de Massinga 2017-2020

Em contrapartida a mobilidade no distrito de Massinga tem causado uma redução do desemprego


liberando certos postos de trabalho.

Recepção de poupanças enviadas pelos emigrantes (remessas). A economia do distrito fortalece-


se com a entrada de remessas ou divisas enviadas pelos emigrantes.

A aplicação das remessas pelos emigrantes pode ser percebida através do trabalho de campo
realizado por Farré (2009) no distrito de Massinga (círculo de Quême), província de Inhambane.
As prioridades apontadas pelos emigrantes provenientes da África do Sul para o distrito são para
a:

 Construção de casas de alvenaria ou chapas de zinco e depósitos de água;


 Ritos e cerimónias (casamento e/ou pela igreja);
 Realização de cerimónias para os mortos, seja um membro familiar morto recentemente
ou há algum tempo que, por alguma razão, o defunto exigiu ou alguém recomenda a
realização duma cerimónia;
 Investimento no transporte. Compra de carros pick ups “Isuzu” para o transporte entre a
estrada nacional e algum ponto do interior da província;
 Compra de animais, porcos, cabritos e vacas para a sua reprodução e venda em pequena
escala, no caso dos bois para alugar a vizinhança;
 Compra de terra no distrito de Massinga (Farré, 2009).

3.9. Impactos do HIV/SIDA no distrito de Massinga

Um dos principais impactos do HIV/SIDA no distrito de Massinga é a morte tanto de adultos


como crianças, e com base nos dados tem sido uma das principais causas de morte no distrito nos
últimos 4 anos 2017-2020.

A mortalidade tem fundamentalmente um impacto demográfico (redução da população e mão-


de-obra; mudança da estrutura da população).E consequentemente crianças ficam órfãs, mulheres
ficam viúvas, tendo como base o caso da entrevistada S. F. Manhice (C/P., 2021, 25 de Maio),
diz que é camponesa, descobriu a doença em 2012 no começo doeu muito pensou que nunca
mais caminharia durante um novo dia, mas começou com o tratamento até então nunca parou, o
46

seu marido era mineiro também tinha essa doença, mas acabou falecendo em Junho de 2020,
deixando-a viúva com filhos órfãs.

Segundo Constância (C/P, 2021, 09 de Junho), o HIV/SIDA é uma doença que desencadeia
outras doenças como a malária, a tuberculose e consideram como doenças oportunistas. As
mortes conduzem directamente a uma redução no número da população activa. Essas mortes
ocorrem nos adultos nos seus anos mais produtivos, como indica a pesquisa. Também com a
morte de alguns membros activos da família, pode alterar o bem-estar financeiro de sua família.

O impacto devastador do HIV/SIDA afecta a população e também a produtividade económica,


pois a maior parte dos infectados nos últimos anos 2017-2020 é de pessoas em idade activa.
Motivadas pela:

Escala de propagação que se manifesta de forma diferente em relação às outras epidemias; O


facto de a doença afectar principalmente dois grupos etários específicos, normalmente crianças e
adultos entre os 15 e 49 anos de idade; O facto de a doença estar ligada a outras tantas
enfermidades.

3.10. Proposta de medidas de mitigação dos impactos da mobilidade e do HIV/SIDA no


distrito de Massinga

Durante a pesquisa notou-se que a população móvel encontra se em grande risco de infecção e
propagação do HIV/SIDA, porque muitos deslocam-se sem os seus parceiros e sendo assim
mesmo a população que não é móvel torna se alvo, assim temos as seguintes sugestões de
algumas acções para emigrantes, a população móvel bem como a fixa:

 Deve-se intensificar a tentativa de abrangência de toda a população no que diz respeito as


testagens, ao esclarecimento do assunto relacionado com prevenção contra o HIV/SIDA,
pois de algumas pessoas entrevistadas que vivem com HIV/SIDA alegaram não conhecer
os métodos de prevenção;
 Deve-se olhar muito mais no aconselhamento de pares para não intensificar a propagação
porque são várias pessoas que tem medo de revelar o seu seroestado ao parceiro;
 A população móvel deve ter cuidados e apoio ao longo das suas deslocações, tanto no
lugar de saída quanto no de chegada.
47

 Incidir os esforços de prevenção do HIV/SIDA nas zonas onde existe uma maior
probabilidade de ocorrência de comportamentos de risco e de presença do HIV/SIDA,
como nas terminais de camiões, nas estações de autocarros.
 Permitir que os trabalhadores emigrantes vivam com as suas famílias se assim o
desejarem reduziria os riscos de contrair o HIV/SIDA, que existe quando grandes
números de pessoas sós vivem em acampamentos de pessoas do mesmo sexo.
48

CAPÍTULO IV: CONCLUSÃO

4.1. Conclusão

Terminada a monografia, conclui-se que, um dos principais epicentros do HIV/SIDA que afecta
o distrito de Massinga é a Africa do Sul, sendo um dos países do mundo que se encontra no topo
da lista dos que apresentam grandes índices de infecção pelo HIV/SIDA e responsável por um
terço de todas as novas infecções por HIV/SIDA na Africa Austral, não só mas também pelo
facto da tradicional mobilidade para a vizinha Africa do Sul, por parte da população de
Massinga. As causas da mobilidade são as económicas e sociais, a população do distrito de
Massinga migra em busca de melhores condições de vida.

Os principais grupos de emprego que implicam mobilidade e a propagação do HIV/SIDA no


distrito de Massinga são Camionistas; Transportadores; Os mineiros; População chave que
consiste em mulheres trabalhadoras de sexo, homens que fazem sexo com homens, pessoas que
injectam drogas, reclusos.

Quanto aos níveis de mobilidade e do HIV/SIDA no distrito de Massinga, de referir que se


confirma a hipótese levantada anteriormente de que, os níveis de mobilidade e do HIV/SIDA
podem alterar o desenvolvimento e progresso social e económico do distrito de Massinga.

Os impactos são vários, os emigrantes por sua vez tem contribuído para o desenvolvimento
económico do distrito de Massinga, mandando remessas anualmente para suas famílias e usando
para fazer negócios que possibilitam desenvolvimento, a deslocação de indivíduos para
diferentes espaços territoriais internos e externos, é cada vez acentuada e assume proporções que
afectam a maior parte, esses desencadeados pela falta de empregos no distrito o que torna ele
repulsor, o que condicionou uma alteração no desenvolvimento do distrito devido a saída de
mão-de-obra activa. O HIV/SIDA drasticamente tem causado mortes contribuindo para o
aumento do numero de órfãos, viúvas e algo muito notável é o aumento de infecções nesses
últimos anos 2017-2020, esse aumento notório pode-se associar as mobilidades da população,
incluindo a migração clandestina a qual não contem registros.
49

4.2. Referências bibliográficas

Fontes Orais

Artur. Mineiro. Entrevistado no dia 16 de Junho de 2021.

Belito. Transportador. Entrevistado no dia 05 de Abril de 2021.

Constância. Técnica superior, chefe da área das ITS (infecções por transmissão sexual).
Entrevistada no dia 10 de Maio de 2021.

Ezequias Francisco. Camionista. Entrevistado no dia 29 de Maio de 2021.

Felismina Paulo Matsimbe. Doméstica (portadora de HIV/SIDA). Entrevistada no dia 25 de


Maio de 2021.

Joana Agostinho Sitoe. Portadora de HIV/SIDA. Entrevistada no dia 23 de Julho de 2021.

José Jostino Matsinhe. Secretário da Associação dos transportes – rota internacional.


Entrevistado no dia 20 de Maio de 2021.

Julião I. Nhamirre. Camionista. Entrevistado no dia 02 de Setembro de 2021.

Regina Fenias Vilankulo. Camponesa (portadora de HIV/SIDA). Entrevistada no dia 25 de Maio


2021.

Saugina Fernando Manhice. Camponesa (portadora de HIV/SIDA). Entrevistada no dia 25 de


Maio de 2021.

Bibliografia geral

I. Adas, M. (1998) Panorama Geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios


socio espaciais. 3ª Ed. São Paulo: Moderna.
II. Alves, P, Junior, A. (sd). Mobilidade e Acessibilidade Urbanas Sustentáveis: A Gestão
da Mobilidade no Brasil. Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana - PPGEU /
Universidade Federal de São Carlos-UFSCar.
50

III. BIT (Bureau Internacional do Trabalho). (2014) Manual sobre VIH e Sida para
inspectores do trabalho: Programa VIH e Sida e o Mundo do Trabalho (ILOAIDS).
Genebra.
IV. Camargo, Alison Pereira; Miranda, Murilo da Silva; Bonafé, Simone Martins. (2013)
Relação entre sida e infecções oportunistas no sistema respiratório. VIII Encontro
Internacional de Produção Científica. Maringá.
V. Covane, Luís. António. (2001). O Trabalho Migratório e a Agricultura no Sul de
Moçambique (1920- 1992). Maputo: PROMÉDIA.
VI. Cunha, J. (2010). Representações sociais sobre a Aids e a Terapia Anti-retroviral:
influencias no tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids. [Dissertação de Mestrado].
Belém: Universidade Federal de Pará/Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
VII. Da Costa, D. (2008). A experiência da adesão ao tratamento entre mulheres com
HIV/AIDS. [Dissertação de Mestrado]. Goiânia: Universidade Federal de
Goiás/Faculdade de Enfermagem.
VIII. De vletter, Fion. (2006). Migration and Development in Mozambique: poverty, inequality
and survival. South Africa: SAMP Migration Policy Series nº 43.
IX. Farré, Albert. (2009) Formas de investimento das poupanças no local de origem por
parte dos emigrantes do sul de Moçambique. O caso do distrito de Massinga
(Inhambane). II Conferência do IESE. Maputo.
X. Ferreira, D. et al. (2013) Impactos dos modos de transporte sustentáveis em instituições
de ensino superior - o caso do instituto Politécnico de Leiria. Instituto Politécnico de
Leiria, Escola Superior de Tecnologia e Gestão: Leiria.
XI. Gil, A. C. (2011). Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas.
XII. ___________. (2007). Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas.
XIII. Magalhães, M. et al. (2013) Definições formais de mobilidade e acessibilidade apoiadas
na teoria de sistemas de Mário bunge. Mobilidade, cidade e território: Paraná.
XIV. Nhabinde, S. A. (2013). Avaliação Do Impacto DO VIH/SIDA no Crescimento
Económico De Moçambique. Dissertação de Mestrado, Universidade Eduardo Mondlane,
Maputo.
XV. Organização Mundial da Saúde. (2008). Directizes Conjutas OIT/OMS Sobre os Serviços
de Saúde e a Infecção VIH/SIDA. Lisboa: OMS/OIT.
51

XVI. Osório, C. Arthur, M. J. (2002). Saúde sexual e reprodutiva, DTS, HIV/SIDA


Moçambique. Revisão da literatura. Maputo: FNUAP.
XVII. Organização Internacional de Migração (OIM). 2011. HIV “hot-spot” mapping of two
transport corridors in Mozambique. Maputo: OIM.
XVIII. Rocha, M. M. (1998). A (In) Determinação da Noção de Mobilidades nas Ciências
Humanas. Boletim de Geografia, Maringá.
XIX. Teles, P. (2005). Desenhar cidades com mobilidades para todos. Territórios (sociais) da
mobilidade um desafio para a área metropolitana do porto: Porto.
Apêndices
I. Questionário

O objectivo deste questionário, para o qual pede-se a vossa colaboração é de recolha de dados
referente ao estudo, que tem como principal tema Mobilidade e o HIV/SIDA no distrito de
Massinga 2017-2020, para que permita enriquecer o conhecimento e compreensão sobre o estudo
em causa.
Este questionário destina-se a uma pesquisa de caracter académico, os seus resultados não serão
divulgados e não serão usados para qualquer outro fim. Nele pretende-se obter da sua parte uma
verdadeira informação sobre as questões abaixo que cuidadosamente foram feitas para este fim.
Questões:

1. Técnica superior, chefe da área das ITS

Qual é o seu nome?

Qual é a sua dade?

Quantas unidades sanitárias existem em Massinga?

Qual é transmissão frequente para crianças e adultos?

O HIVSIDA pode desencadear outras doenças?

Qual é o tratamento para pessoas com HIV/SIDA?

Qual é o grupo mais vulnerável ao HIV/SIDA?

Quais são as causas de abandono ao tratamento?

Quais são as consequências do HIV/SIDA?

2. Mineiro

Qual é o seu nome?

Qual é a sua dade?

A quanto tempo vai a África do Sul?


Quais os motivos que te levam a ir África do sul?

Quanto tempo tem ficado na África do sul ?

Qual é o nome da cidade onde tem trabalhado na África do sul?

Será que leva esposa consigo?

Volta quantas vezes por ano?

O que faz com o dinheiro que tem ganhado na África do sul?

Será que tem feito investimento em algo aqui na Massinga com o valor ganho na África do sul?

Qual é a parte boa e a parte má de ir a África do sul?

Na África do sul será que trabalha com alguém infectado ou conhece alguém infectado pelo
HIV/SIDA que seja de Massinga?

Na cidade em que trabalha, existem trabalhadoras de sexo (prostitutas)?

Conhece alguém da Massinga que tem se relacionado com prostitutas na África do sul?

3. Secretário da Associação dos Transportes

Qual é o seu nome?

Qual é a sua dade?

Número de emigrantes que saíram de Massinga para a África do sul nos anos de 2017-2020 e dos
que saíram da África do sul para Massinga.

A maioria dos que vão a África do sul são homens ou mulheres?

Quais são os destinos desses emigrantes?

Em que época do ano tem maior fluxo de viajantes?

Quais são as actividades que realizam na vizinha África do sul?

A maioria dos que vão a África do sul qual é a actividade que realiza no mesmo?
Todos os dias saem carros para a África do sul?

4. Portadores de HIV/SIDA

Qual é o seu nome?

Qual é a sua dade?

Trabalha como?

Casado/a?

Quando é que descobriu que tem HIV/SIDA?

Como foi a descoberta do seu sero estado?

Faz tratamento? Como funciona e como é o cumprimento do mesmo?

Será que conhece os métodos de prevenção contra o HIV/SIDA? Será que usa esses métodos?

A comunidade e a sua família sabem que tem HIV/SIDA?

Qual é o tratamento das pessoas que sabem do seu seroestado?

O teu parceiro/a sabem do seu seroestado?

O que mudou na sua vida desde que soube que tem HIV/SIDA? Ainda realiza as mesmas
actividades de antes?

5. Transportador

Qual é o seu nome?

Qual é a sua dade?

Qual é o destino?

Quantas viagens faz por dia ou por semana?

Quanto tempo leva longe de casa?


Onde dormem quando não conseguem regressar a casa?

Será que tem um conhecido que aproveita os trabalhos das prostitutas na África do sul?

6. Fiscal dos transportes de Massinga

Qual é o seu nome?

Qual é a sua dade?

Qual é o destino dos transportes?

Quantas viagens fazem por dia?

De onde são a maioria dos transportadores?

Será que sabe quais são os destinos dos passageiros?

Sabem quais são os motivos que levam os passageiros a viajarem?

Em que épocas do ano há maior fluxo de viajantes?

7. Trabalhadora de sexo

Qual é o seu nome?

Qual é a sua dade?

Quais são os preços dos seus serviços?

Quais são os seus clientes?

Será que aceita fazer sexo sem protecção?

Como é que trabalham? São quantas na área?

Trabalham por conta própria ou para alguém?


8. Camionista

Qual é o seu nome?

Qual é a sua idade?

Qual é a sua rota de transporte?

Tem parado sempre em Massinga para descansar?

Em que pontos tem parado durante o seu percurso?

Quantas mulheres se envolve com elas em uma viagem?

Quanto tempo fica com uma mulher?

Tem sempre repousado nos mesmos sítios?

Quando conhece outra mulher o que acontece?

Tem se envolvido com as mesmas usando preservativo?

Onde estaciona o seu camião?

Tem-se deparado nos locais de repouso com trabalhadoras de sexo?

Você também pode gostar