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Curso de Conceitos

Básicos de Térmica em
Edifícios
Formação base no âmbito do SCE

Exercícios resolvidos
V1.4 | 2023

1
2
3
Exercício 2.1
Enunciado: Determinar o valor da resistência térmica total (Rtot) de uma parede exterior
com o seguinte pormenor construtivo:

Exterior Interior

Reboco armado 1 cm
Cortiça ICB 10 cm

Bloco betão leve 20 cm

Mosaico cerâmico 0,90 cm

Nota: Considere um reboco tradicional com densidade superior a 2000 kg/m3.

Resolução:
A resistência térmica total (Rtot) do elemento construtivo é dada pelo somatório das
resistências das várias camadas que compõem o elemento e das respetivas resistências
térmicas superficiais.

No caso de materiais homogéneos, a resistência térmica é calculada através da razão


entre a espessura e a condutibilidade do material. Em materiais não homogéneos a
resistência é obtida diretamente do catálogo ou das publicações do LNEC (ITE50).

4
𝒆 𝝀 𝑹=𝒆 𝝀
Material Homogéneo Fonte
𝒐
𝒎 𝑾/(𝒎. 𝑪) [(𝒎𝟐 . 𝒐𝑪)/𝑾]

Quadro I.2 ITE50, página I.10


Mosaico
Sim 0,009 1,3 0,0069 (Revestimentos de pisos ou de
Cerâmico
paredes)

Quadro I.5 ITE50, página I.12


Bloco de
Não ----- ----- 0,49 (Resistências térmicas de
Betão leve
paredes simples de alvenaria)

Cortiça Quadro I.1 ITE50, página I.3


Sim 0,10 0,045 2,22
ICB (Isolantes térmicos)

Quadro I.2 ITE50, página I.7


Reboco
Sim 0,01 1,8 0,0056 (Argamassas e rebocos
Armado
tradicionais)

∑ R= 2,72 (𝒎𝟐 . 𝒐𝑪)/𝑾

Dado que se trata de uma parede exterior, deverão ser ainda consideradas uma
resistência térmica superficial exterior, Rse= 0,04 (m2.ºC)/W e uma resistência térmica
superficial interior para um fluxo de calor horizontal, Rsi=0,13 (m2.ºC)/W.
E assim:
0,009 0,10 0,01
𝑅𝑡𝑜𝑡 = 0,13 + + 0,49 + + + 0,04 = 2,89 (𝑚2 . 𝑜𝐶 )/𝑊
1,3 0,045 1,8

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Exercício 2.2
Enunciado: Determinar o valor do coeficiente de transmissão térmica (U) das paredes
exteriores com os seguintes pormenores construtivos:

Nota: Considere painéis de resina fenólica com densidade superior a 1700 kg/m3, estuque
projetado com densidade igual a 1000 kg/m3, reboco tradicional com densidade igual a 1800
kg/m3

Resolução:
Situação 1 – Caixa-de-ar Fortemente Ventilada
• Painéis de resina fenólica → e = 0,012 m; ʎ = 0,25 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Revestimento de Pisos ou de Paredes “Plásticos ρ = 1700
kg/m3”
• Caixa-de-ar fortemente ventilada → Não se considera a resistência
• Cortiça ICB → e = 0,10 m; ʎ = 0,045 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.1, Isolantes Térmicos “Aglomerado de cortiça expandida ρ = 90
a 140 kg/m3”
• Bloco Betão leve → R = 0,49 (𝒎𝟐 . 𝒐𝑪)/𝑾
o ITE50, Quadro I.5, Paredes de Alvenaria “Bloco de Betão leve 0,20”)

6
• Estuque projetado → e = 0,015 m; ʎ = 0,43 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Gessos (Estuques) “Estuque projetado ρ = 900 a 1200 kg/m3”

Como a caixa-de-ar é fortemente ventilada não se considera a sua resistência nem a


resistência dos elementos entre a caixa-de-ar e o exterior. O valor de Rse dá lugar ao
valor de Rsi.
1 1
𝑈1 = =
𝑅𝑠𝑖 + ∑𝑗 𝑅𝑗 + 𝑅𝑠𝑖 0,10 0,015
0,13 + + 0,49 + 0,43 + 0,13
0,045
= 0,33 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶 )

Situação 2 – Caixa-de-ar Fracamente Ventilada


• Reboco → e = 0,02 m; ʎ = 1,3 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Argamassas (cimento ou cal), “Argamassas e rebocos
tradicionais ρ = 1800 kg/m3 a 2000 kg/m3”
• Betão Armado → e = 0,10 m; ʎ = 2,0 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Betões, “betão armado inertes correntes com % armadura
< 1%, ρ = 2300 a 2400 kg/m3”
• Caixa-de-ar fracamente ventilada → e = 0,03 m; R = 0,18 (𝒎𝟐 . 𝒐𝑪)/𝑾
o Tabela 24, Manual SCE, fluxo horizontal 3 cm
• XPS → e = 0,08 m; ʎ = 0,037 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.1, Isolantes Térmicos “poliestireno expandido extrudido (XPS)
ρ = 25 a 40 kg/m3”
• Tijolo cerâmico furado → R = 0,39 (𝒎𝟐 . 𝒐𝑪)/𝑾 ,
o ITE50, Quadro I.5, Paredes de Alvenaria “Tijolo cerâmico furado” 0,15
• Estuque projetado → e = 0,015 m; ʎ = 0,43 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Gessos (Estuques) “Estuque projetado ρ = 900 a 1200
kg/m3”

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Como a caixa-de-ar é fracamente ventilada, o valor da resistência da mesma depende
da resistência térmica das camadas que se encontram entre a caixa-de-ar e o exterior
(reboco + betão).
0,02 0,10
𝑅𝑝𝑎𝑛𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 = + = 0,07 (𝑚2 . 𝑜𝐶 )/𝑊 ≤ 0,15 (𝑚2 . 𝑜𝐶 )/𝑊
1,3 2,0

A resistência da camada de ar (𝑅𝑎𝑟 ) é obtida através da expressão:

𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 24 𝑀𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑆𝐶𝐸 0,18


𝑅𝑎𝑟 = = = 0,09 (𝑚2 . 𝑜𝐶 )/𝑊
2 2

Desta forma, o coeficiente de transmissão térmica resulta de:


1
𝑈2 =
0,02 0,10 0,08 0,015
0,04 + 1,3 + 2,0 + 0,09 + 0,037 + 0,39 + 0,43 + 0,13
= 0,34 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶 )

Situação 3 – Caixa-de-ar Fracamente Ventilada


• Aglomerado de Cortiça → e = 0,02 m; ʎ = 0,065 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Revestimento de pisos ou de Paredes, “Aglomerado de
cortiça ρ >400 kg/m3”
• Tijolo cerâmico furado → R = 0,27 (𝒎𝟐 . 𝒐𝑪)/𝑾
o ITE50, Quadro I.5, Paredes de Alvenaria “Tijolo cerâmico furado” 0,11
• Caixa de ar fracamente ventilada → e = 0,03 m; R = 0,18 (𝒎𝟐 . 𝒐𝑪)/𝑾
o Tabela 24, Manual SCE, Fluxo horizontal 3 cm
• XPS → e = 0,08 m; ʎ = 0,037 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.1, Isolantes Térmicos “poliestireno expandido extrudido (XPS)
ρ = 25 a 40 kg/m3”

8
• Tijolo cerâmico furado → R = 0,39 (𝒎𝟐 . 𝒐𝑪)/𝑾
o ITE50, Quadro I.5, Paredes de Alvenaria “Tijolo cerâmico furado” 0,15)
• Estuque projetado → e = 0,015 m; ʎ = 0,43 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Gessos (Estuques) “Estuque projetado ρ = 900 a 1200
kg/m3”
0,02
𝑅𝑝𝑎𝑛𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 = + 0,27 = 0,58 (𝑚2 . 𝑜𝐶 )/𝑊 > 0,15 (𝑚2 . 𝑜𝐶 )/𝑊
0,065

A resistência da camada de ar (𝑅𝑎𝑟 ) vem então:

𝑅𝑎𝑟 = 0,15 (𝑚2 . ℃)/𝑊

Desta forma, o coeficiente de transmissão térmica resulta de:

1
𝑈3 =
0,02 0,08 0,015
0,04 + + 0,27 + 0,15 + 0,037 + 0,39 + 0,43 + 0,13
0,065
= 0,29 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶 )

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Exercício 2.3
Enunciado: Determinar o valor do coeficiente de transmissão térmica (U) de uma
cobertura sob desvão fortemente ventilado, sabendo que a mesma solução de
cobertura em contacto com o exterior tem um coeficiente de transmissão térmica U =
0,35 W/(m2.ºC), calculado para um fluxo vertical ascendente.

Resolução
Qualquer valor de coeficiente de transmissão térmica inclui o valor do somatório das
resistências térmicas dos materiais construtivos e o somatório de duas resistências
térmicas superficiais.
Se a solução de cobertura em contacto com o exterior possui um U (↑) = 0,35
[W/(m2.oC)] para um fluxo vertical ascendente, significa que o valor de U foi calculado
considerando um Rsi = 0,10 [(m2.oC)/W] e um Rse = 0,04 [(m2.oC)/W].
Quando a mesma solução construtiva passa a ser uma solução interior, é necessário
corrigir o valor de U, ou seja, é necessário retirar o valor de Rse e adicionar o valor de Rsi
para a respetiva direção de fluxo.
Qualquer correção ao valor de um coeficiente de transmissão térmica, apenas pode ser
realizado com recurso a resistências térmicas, ou seja:

1º passo: Alterar o valor de U (↑) = 0,35 [W/(m2.°C)] para resistência:


1
𝑈 = 0,35 → 𝑅 = (𝑚2 . 𝑜𝐶)/𝑊
0,35

2º passo: Aplicar a correção das resistências com a expressão:


1
𝑈= 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶)
𝑅𝑠𝑖 + ∑𝑗 𝑅𝑗 + 𝑅𝑠𝑒

10
Subtraindo o valor de Rse e adicionando o valor de Rsi uma vez que a solução passa para
uma solução interior.
1
𝑈(↑) = = 0,34 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶)
1
− 0,04 + 0,10
0,35

Esta metodologia aplica-se também quando pretendemos inverter os fluxos de calor que
atravessa os elementos construtivos horizontais (coberturas e pavimentos).

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12
Exercício 2.4
Enunciado: Determinar o valor do
coeficiente de transmissão térmica do Cerâmica 1,3 cm
Betonilha 4,0 cm
pavimento em contacto com o solo (Ubf), XPS 4,0 cm
Betão armado 20,0 cm
sabendo que o pavimento possui z<0
isolamento contínuo, cota exterior
inferior a 0,5m e de acordo com o
seguinte pormenor:

Pavimento em contacto com solo

Nota: Considere betonilha com densidade igual a 1800 kg/m3.

13
Resolução:
As tabelas 27 a 29 do Manual SCE, identificam os valores de 𝑈𝑏𝑓 para as diferentes
soluções de colocação de isolamento térmico em que:

Despacho n.º 6476-H/2021 - Tabelas de Ubf

Tabela 27 Sem isolamento no pavimento, pavimento isolado em toda a sua dimensão

Tabela 28 Com isolamento horizontal no perímetro do pavimento

Tabela 29 Com isolamento vertical no perímetro do pavimento

No pormenor construtivo, existe isolamento de forma contínua em todo o pavimento


pelo que o valor de Ubf é obtido através da Tabela 27, em função da resistência térmica
do pavimento (Rf) e da dimensão característica do pavimento (B´).

Cálculo de Rf:
• Cerâmica → e = 0,013 m; ʎ = 1,3 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Revestimento de pisos ou de Paredes, “cerâmica
vidrada/grés cerâmico ρ = 2300 kg/m3”
• Betonilha → e = 0,04 m; ʎ = 1,3 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Argamassas, “argamassas e rebocos tradicionais ρ =
1800 a 2000 kg/m3”
• XPS → e = 0,04 m; ʎ = 0,037 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.1, Isolantes Térmicos “poliestireno expandido extrudido
(XPS) ρ = 25 a 40 kg/m3”
• Betão Armado → e = 0,20 m; ʎ = 2,0 𝑾/(𝒎. 𝒐𝑪)
o ITE50, Quadro I.2, Betões, “betão armado inertes correntes com %
armadura < 1%, ρ = 2300 a 2400 kg/m3”

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0,013 0,04 0,04 0,20
𝑅𝑓 = + + + = 1,22 (𝑚2 . 𝑜𝐶 ) 𝑊
1,3 1,3 0,037 2,0

O perímetro exposto é determinado da seguinte forma ( ): (obs: delimitado a laranja na


figura do enunciado)

Localização P (m)

3,20

Parede sul 2,80

4,00

4,00

Parede este 2,00

4,00

4,00

Parede norte 4,00

1,80

4,00

Garagem 2,00

4,20

P (total) 40,00

15
Assim, o fator B´ pode ser determinado, obtendo-se:

𝐴𝑝 99,56
𝐵´ = = = 4,98 𝑚
0,5 × 0,5 × 40

O pavimento tem uma resistência térmica de 1,22 [W/(m2.°C)] e um B´ de 4,98m.


Recorrendo à tabela 27 do Manual SCE, tem-se 𝑼𝒃𝒇 = 𝟎, 𝟒𝟒 𝑾 (𝒎𝟐 . 𝒐𝑪) .

Note-se que tanto o valor da resistência como o de B´ encontram-se intercalados entre


valores tabelados, sendo necessário efetuar três interpolações para obter o
coeficiente de transmissão térmica, que se apresentam de seguida.

Interpolações para determinação do coeficiente de transmissão térmica

16
Resultado das interpolações

E assim, o coeficiente de transmissão térmica deste pavimento é de 0,44 W/(m2.ºC).

17
18
Exercício 2.5
Enunciado: Qual o coeficiente de transmissão térmica de um vão envidraçado em
contacto com um espaço não aquecido, sabendo que é composto por caixilharia
metálica fixa sem corte térmico e vidro simples?

Resolução:

Recorrendo ao ITE 50, temos que para o vão em causa 𝑈𝑤 = 6,00 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶 ).
Atendendo a que para a determinação do coeficiente foram tidas em conta as
resistências térmicas superficiais interior e exterior, respetivamente 0,13 e 0,04
(m2.oC)/W, para determinação do coeficiente de transmissão térmica do vão interior, a
resistência térmica superficial exterior dará lugar a uma interior, existindo um acréscimo
de 0,09 (m2.oC)/W (i.e., 0,13-0,04).
Assim:

1 1
𝑈𝑊 (𝑖𝑛𝑡) = = = 3,90 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶)
1 1
𝑈𝑊 + 0,09 6,00 + 0,09

19
Exercício 2.6
Enunciado: Determinar o coeficiente de transmissão térmica de um vão envidraçado
vertical duplo exterior possuindo a janela interior um coeficiente de transmissão térmica
de 4,3 W/(m2.oC), a janela exterior de 4,5 W/(m2.oC) e a distância entre ambas é de 20
cm.

Resolução:

1
𝑈𝑊 =
1 1
𝑈𝑊𝑖 − 𝑅𝑠𝑒 + 𝑅𝑎𝑟 + 𝑈𝑊𝑒 − 𝑅𝑠𝑖

1
𝑈𝑊 = = 2,15 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶 )
1 1
4,3 − 0,04 + 0,18 + 4,5 − 0,13

20
Exercício 2.7
Enunciado: Determine o coeficiente de transmissão térmica do vão envidraçado médio
dia-noite (UWDN) de um vão envidraçado vertical exterior com caixilharia metálica com
corte térmico e vidro duplo com caixa-de-ar de 6 mm, possuindo uma proteção solar
exterior por intermédio de persiana de réguas de plástico.

Resolução:

Recorrendo ao ITE 50, temos que para o vão em causa 𝑈𝑊 = 3,70 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶 ).
Não se encontrando descrito se a proteção solar possui, ou não, preenchimento com
espuma, considera-se a situação mais desfavorável, obtendo-se:

𝛥𝑅 = 0,16 (𝑚2 . 𝑜𝐶)/𝑊

E assim:
1 1
𝑈𝑊𝑆 = = = 2,32 𝑊/(𝑚2 . 𝑜𝐶 )
1 1
𝑈𝑊 + 𝛥𝑅 3,70 + 0,16

𝑈𝑊 + 𝑈𝑊𝑆 3,70 + 2,32


𝑈𝑊𝐷𝑁 = = = 3,01 𝑊 (𝑚2 . 𝑜𝐶 )
2 2

21
22
Exercício 2.8
Enunciado: Determinar o fator solar do vão envidraçado com os dispositivos de
proteção solar totalmente ativados (𝑔𝑡𝑜𝑡), de um vão envidraçado exterior com vidro
duplo colorido na massa 4mm e incolor 4mm, possuindo uma proteção solar exterior
por intermédio de estore veneziano de lâminas metálicas e pelo interior por uma cortina
transparente de cor clara.

Resolução:
O vão envidraçado possui duas proteções solares, uma pelo interior e outra pelo
exterior, ambas não opacas. Do enunciado e por recurso às tabelas 51 (𝑔⊥,𝑣𝑖 ) e 48 (𝑔𝑡𝑜𝑡,𝑣𝑐 )
do Manual SCE, temos:
• 𝑔⊥,𝑣𝑖 = 0,60
• 𝑔𝑡𝑜𝑡,𝑣𝑐 (𝑒𝑠𝑡𝑜𝑟𝑒) = 0,09
• 𝑔𝑡𝑜𝑡,𝑣𝑐 (𝑐𝑜𝑟𝑡𝑖𝑛𝑎) = 0,39

𝑔𝑡𝑜𝑡,𝑣𝑐 0,09 0,39


𝑔𝑡𝑜𝑡 = 𝑔⊥,𝑣𝑖 × ∏ = 0,60 × × = 0,04
0,75 0,75 0,75
𝑖

23
Exercício 2.9
Enunciado: Determinar o fator solar do vão envidraçado com os dispositivos de
proteção solar totalmente ativados (𝑔𝑡𝑜𝑡), de um vão envidraçado exterior com vidro
duplo colorido na massa 4mm e incolor 4mm, possuindo uma proteção solar exterior
por intermédio de persiana de réguas metálicas de cor clara e pelo interior por uma
cortina transparente de cor clara.

Resolução:
O vão envidraçado possui duas proteções solares, uma pelo interior e outra pelo
exterior. Como a proteção exterior é opaca, o fator solar é retirado diretamente da
tabela 48 do Manual SCE, obtendo-se:

𝑔𝑡𝑜𝑡 = 𝑔𝑡𝑜𝑡,𝑣𝑐,𝑜𝑝 = 0,04

24
Exercício 2.10
Enunciado: Determinar o fator de sombreamento do horizonte de um vão envidraçado
orientado a Este, com uma altura de 2m e que a encontra a 6m do solo. Em linha reta
em relação ao vão envidraçado e a 15m de distância do mesmo, existe um edifício com
5 pisos.

Resolução:
De acordo com o enunciado, o centro do vão encontra-se a uma altura de 7m, existindo
um edifício a provocar sombreamento com 15m de altura (à falta de informação deve
considerar-se um total de 3m por piso).
O ângulo pode então ser determinado da seguinte forma:

(15 − 7)
𝑡𝑎𝑛(𝛼) = ⇔ 𝛼 = 28,07𝑜
15

25
O fator de sombreamento provocado por elementos no horizonte encontra-se na tabela
53 do Manual SCE, e tem-se:

Uma vez que o ângulo se encontra entre dois valores tabelas é necessário interpolar
para determinar o fator, obtendo-se 𝑭𝒉 = 𝟎, 𝟕𝟒.

26
Exercício 2.11
Enunciado: Determinar o fator de obstrução, na estação de aquecimento, de um vão
envidraçado de um apartamento, orientado a Este, com um edifício nas imediações a
provocar um sombreamento do horizonte (ângulo de 10o) e com uma pala horizontal
(ângulo de 53o).

Resolução:

Como visto no exercício anterior, o fator de sombreamento do horizonte (𝑭𝒉 ) na


estação de aquecimento é obtido através da Tabela 53 do Manual SCE. Uma vez que o
ângulo é de 10º, o fator 𝑭𝒉 toma o valor de 𝟎, 𝟗𝟒.
Por sua vez, os valores dos fatores de sombreamento de elementos horizontais (𝑭𝒐 ) na
estação de aquecimento encontram-se na Tabela 54 do Manual SCE. Uma vez que o
ângulo do elemento horizontal se encontra entre ângulos tabelados, será necessário
efetuar uma interpolação para obtenção do respetivo fator.

27
Ângulo Fator

45 0,74

53 𝐹𝑜

60 0,64

60 − 53 0,64 − 𝐹𝑜 0,64 − 𝐹𝑜
= ⇔ 0,47 = ⇔ 𝐹𝑜 = 0,69
60 − 45 0,64 − 0,74 −0,10

Uma vez que não se verifica a existência de sombreamento verticais, o fator 𝐹𝑓 toma o
valor de 1.
Assim, o fator de obstrução (𝑭𝑺 ) para o envidraçado em análise é:

𝐹𝑠 = 𝐹ℎ × 𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 = 0,94 × 0,69 × 1 = 0,65

28
Exercício 2.12
Enunciado: Determinar o fator de obstrução, na estação de aquecimento, de um vão
envidraçado de um apartamento, orientado a Este, possuindo os sombreamentos
visíveis na figura seguinte, onde B1= 60o e B2= 45o.

Resolução:
O vão possui dois elementos verticais, um à direita e outra à esquerda pelo que o fator
de sombreamento de elementos verticais será o produto entre os dois fatores.

29
𝐹𝑓 = 𝐹𝑓 𝑒𝑠𝑞. × 𝐹𝑓 𝑑𝑖𝑟. = 0,80 × 1 = 0,80

Não existindo sombreamentos do horizonte ou horizontais, o fator de obstrução toma


o valor do fator de sombreamento de elementos verticais.

𝐹𝑠 = 𝐹ℎ × 𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 = 1 × 1 × 0,80 = 0,80

30
Exercício 2.13
Enunciado: Determinar o fator de obstrução, na estação de aquecimento, de um vão
envidraçado de um apartamento, orientado a Este, possuindo um sombreamento do
horizonte com um ângulo de 30o. O vão envidraçado encontra-se recuado 10 cm em
relação à fachada.

Resolução:
Recorrendo à Tabela 53 do Manual SCE, o fator de sombreamento 𝐹ℎ , para uma
orientação oeste e um ângulo de 30º, toma o valor de 0,71.
Na ausência de sombreamentos provocados por elementos verticais ou por elementos
horizontais, os respetivos fatores, 𝐹𝑓 e 𝐹𝑜 , tomam o valor 1.
Para efeitos de cálculo, caso um vão envidraçado se encontre recuado em relação à
fachada, o produto 𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 não deve ser superior a 0,90.
Sabendo que este se encontra recuado, o fator de obstrução toma então o seguinte
valor:

𝐹𝑠 = 𝐹ℎ × (𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 ) = 0,71 × 0,90 = 0,64

31
32
Exercício 3.1
Enunciado: Determine a zona climática de verão e de inverno de um edifício localizado
em Penamacor a uma altitude de 268m.

Resolução:
1º- Identificação NUTS III (Tabela 116 do Manual SCE) → Beira Interior Sul

33
2º- Graus-dias para aquecimento (Tabela 9 Manual SCE)

𝑋 = 𝑋𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 )

𝐺𝐷 = 𝐺𝐷𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 ) = 1274 + 1800 × (0,268 − 0,328) = 1166 ℃

34
3º- Temperatura média exterior (Tabela 10 Manual SCE)

𝑋 = 𝑋𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 )

𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑣 = 𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑣,𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 ) = 25,3 + (−7) × (0,268 − 0,328) = 25,7 ℃

35
4º - Zonas climáticas
A zona climática de inverno é determinada através da Tabela 7 do Manual SCE, em
função do nº de graus-dias para aquecimento. Neste caso, o nº de graus-dias
determinado (GD) é igual a 1166ºC e, portanto, a zona climática de inverno corresponde
a I1.

Por sua vez, a zona climática de verão é determinada através da Tabela 8 do Manual
SCE, em função da temperatura média exterior. Tendo-se determinado 𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑣 igual a
25,7ºC, a zona climática de verão corresponde a V3.

Desta forma, um edifício localizado em Penamacor, a uma altitude de 268m, apresenta


como zonas climáticas I1 e V3.

36
Exercício 3.2
Enunciado: Considerando um edifício localizado em Odivelas, a uma altitude de 500m,
indique a duração da estação de aquecimento (em meses) e a temperatura exterior
média do mês mais frio da estação de aquecimento.

Resolução:
Pela Tabela 116, verifica-se que Odivelas corresponde ao NUTS III de Grande Lisboa.

Para determinação dos parâmetros climáticos da estação de aquecimento, é necessário


recorrer à Tabela 9 do Manual SCE e proceder às devidas correções em função da
altitude.
Os parâmetros que se pretendem corrigir são a duração da estação de aquecimento (M)
e a temperatura média exterior do mês mais frio nesta estação (𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑖 ). Assim:

37
𝑋 = 𝑋𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 )

Duração da estação de aquecimento:

𝑀 = 𝑀𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 ) = 5,3 + 3 × (0,500 − 0,109) = 6,47 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠

Temperatura média exterior do mês mais frio na estação de aquecimento:

𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑖 = 𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑖,𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 ) = 10,8 + (−4) × (0,500 − 0,109) = 9,2 ℃

Desta forma, é possível concluir que para um edifício localizado em Odivelas, a uma
altitude de 500m, a duração da estação de aquecimento (inverno) corresponde a
aproximadamente 6,5 meses e a temperatura média exterior do mês mais frio para esta
estação é de 9,2ºC.

38
39
Exercício 3.3
Enunciado: Identifique os espaços não úteis e indique a respetiva área útil de pavimento
desta fração de habitação.

40
Resolução:
A fração de habitação apresenta como espaço interior não útil a lavandaria. A
lavandaria, por norma, é sempre um espaço não útil, a não ser que neste espaço não se
verifique a possibilidade de ventilação para o exterior ou para um espaço interior não
útil, quer seja por infiltrações através dos vãos envidraçados, condutas, aberturas ou
outro componente. Neste caso, como a mesma apresenta uma grelha de ventilação para
o exterior, é considerada espaço interior não útil.
Desta forma, a área útil de pavimento, que corresponde ao somatório das áreas de
pavimento, medidas em planta pelo perímetro interior, de todos os espaços interiores
úteis pertencentes ao edifício, com ocupação atual ou prevista e com necessidades de
energia atuais ou previstas associadas ao aquecimento ou arrefecimento ambiente para
conforto humano, é dada pela soma das áreas dos restantes compartimentos: W.C.,
cozinha/sala e hall.

A área útil de pavimento desta fração de habitação é igual a 33,05 m2.

41
42
Exercício 3.4
Enunciado: Considere uma fração inserida num edifício exclusivamente de habitação, a
construir no Porto, em que as frações do 1º ao 4 piso são geometricamente iguais.
Considere que a espessura da parede que separa as frações de habitação é de 30 cm, e
a espessura da parede que separa a sala da lavandaria é 15 cm.

a) Qual o coeficiente de redução de perdas (bztu) do espaço interior não útil (ENU)
interior a esta fração autónoma de habitação, sabendo que a área de aberturas
permanente correspondente a 18% da área total de grelha (10x20cm)?

b) Considere agora que se trata de uma fração inserida num edifício enquadrado como
existente no âmbito do SCE. Quais os coeficientes de redução de perdas (bztu) de
todos os espaços não úteis?

43
Resolução:

a) O espaço interior não útil interior a esta fração autónoma é a lavandaria. Dado
que não é possível determinar a temperatura interior deste espaço, o valor de
bztu deve ser determinado recorrendo à metodologia de cálculo prevista no
manual SCE.

Desta forma, é necessário determinar:

1- A área de aberturas é de 0,0036 m2 (0,1 x 0,2 x 18%).

𝐴𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎𝑠 3600
= = 1006 < 1500 𝑚𝑚2 𝑚2
𝐴𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒 (1,35 × 2,65)

Logo o espaço não é fortemente ventilado.

2- O volume do espaço interior não útil (VENU), que neste caso é igual a:

𝑉𝐸𝑁𝑈 = 1,20 × 1,35 × 2,65 = 4,3 𝑚3 → 𝐿𝑜𝑔𝑜, 𝑉𝐸𝑁𝑈 ≤ 50 𝑚3

3- A razão Ai/Au, sendo que Ai corresponde ao somatório das áreas dos elementos
construtivos que separam o espaço interior não útil do espaço interior útil (da
fração de habitação ou de uma fração de comércio e serviços) e para Au são
contabilizadas as áreas dos elementos construtivos que separam o espaço
𝐴 9,54
interior não útil do exterior. Desta forma, 𝐴 𝑖 = 3,58 = 2,66.
𝑢

44
𝐴𝑖 = 2,65(2 × 1,2 + (1,35 − 0,15)) = 9,54 𝑚2

𝐴𝑢 = 2,65 × 1,35 = 3,58 𝑚2

𝐴𝑖 9,54
= = 2,66
𝐴𝑢 3,58

(Nota: No enunciado é referido que as frações do 1º ao 4º piso são geometricamente iguais, pelo que ao
nível do pavimento e da cobertura, a lavandaria contacta com outras lavandarias, consideradas espaço
interiores não úteis. Desta forma, as áreas destes elementos construtivos não são contabilizadas para Ai
nem para Au).

4- Dado que existe uma grelha de ventilação para o exterior, na tabela 16 do


Manual SCE deverá ser consultada a coluna correspondente a F.

E assim, pela tabela 16, tem-se que o valor de bztu para esta lavandaria é igual a 0,7.

45
b) Nesta alínea é solicitado o valor de bztu de todos os espaços não úteis, onde se
incluem a lavandaria e a circulação comum (note-se que uma circulação comum
exterior à fração autónoma deve ser sempre considerada como espaço interior
não útil). No entanto, os dados fornecidos no enunciado não permitem
determinar o valor de bztu da circulação comum.

Neste sentido, e alternativamente à determinação do valor de bztu conforme


tabela 16 do Manual SCE, tratando-se de um edifício existente, pode o mesmo
assumir um valor igual a 0,8 (valor por defeito).
Note-se que, a adoção desta regra de simplificação para determinação do bztu de
um determinado espaço interior não útil implica que a mesma seja aplicada a
todos os espaços interiores não úteis em análise.
E assim:
• bztu (lavandaria) = 0,8
• bztu (circulação comum) = 0,8

46
Exercício 3.5
Enunciado: Determinar o coeficiente de redução de perdas de uma lavandaria de uma
pequena loja, sabendo que a mesma possui cobertura exterior, pavimento em contacto
com o solo, pé-direito de 3m e uma grelha de abertura fixa com 20x30cm, sendo a área
de aberturas permanentes correspondente a 21% da área total.

Resolução:
De acordo com a informação, a área de aberturas é de 0,0126 m2 (0,2 x 0,3 x 21%).
Assim, tem-se:

𝐴𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎𝑠 12600
= = 600 < 1500 𝑚𝑚2 𝑚2
𝐴𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒 (2 × 3 + 3 × 3 + 2 × 3)

Logo o espaço não é fortemente ventilado (caso o espaço fosse fortemente ventilado,
bztu=1).

47
Desta forma, o bztu tem de ser estimado de acordo com a metodologia prevista no
Manual SCE:

• 𝑉𝐸𝑁𝑈 = 3 × 2 × 3 = 18 𝑚3 𝑉𝑒𝑛𝑢 ≤ 50 𝑚3
• Com aberturas permanentes F
• 𝐴𝑖 = (3 + 2) × 3 = 15 𝑚2

• 𝐴𝑢 = (3 + 2) × 3 + 3 × 2 = 21 𝑚2
• 𝐴𝑖 𝐴𝑢 = 15 21 = 0,71

E assim, pela tabela 16 do Manual SCE, o coeficiente de redução de perdas b ztu da


lavandaria em análise é igual a 0,9.

48
Exercício 3.6
Enunciado: Determinar o coeficiente de redução de perdas de uma garagem comum a
5 frações de um edifício (3 frações de habitação e 2 frações de comércio e serviços),
encontrando-se na figura seguinte os valores de Ai de cada fração em contato com a
garagem e o valor de Au da garagem. O volume da garagem é superior a 200 m3 e não
existem aberturas de ventilação.

Habitação Habitação Comércio e Comércio e Habitação


1 2 Serviços 1 Serviços 2 3

𝐴𝑖1 = 60 𝑚2 𝐴𝑖2 = 60 𝑚2 𝐴𝑖3 = 50 𝑚2 𝐴𝑖4 = 120 𝑚2 𝐴𝑖5 = 60 𝑚2

Garagem 𝐴𝑢 = 140 𝑚2

Corte

Resolução:
Para determinação do valor de bztu da garagem é necessário determinar a razão Ai/Au.
Ai corresponde ao somatório das áreas dos elementos de todas as frações de habitação
e comércio e serviços que separam os respetivos espaços interiores úteis do espaço
interior não útil, e Au corresponde ao somatório das áreas dos elementos que separam o
espaço interior não útil do ambiente exterior, que neste caso é igual a 140m2 (dados do
enunciado).

49
Assim:

𝐴𝑖 60 + 60 + 50 + 120 + 60
= = 2,5
𝐴𝑢 140

O volume do ENU (garagem) é superior a 200m3 e não existem ligações e aberturas de


ventilação permanentemente abertas, pelo que na tabela 16 do Manual SCE, o valor de
bztu deve ser consultado da coluna referente a f.

A garagem apresenta um coeficiente de redução de perdas, bztu, igual a 0,6.

50
51
Exercício 3.7
Enunciado: Atendendo aos resultados obtidos no exercício 3.5, indique quais as
condições fronteira a considerar na avaliação do desempenho energético do edifício
para quantificação das trocas térmicas entre os espaços interiores úteis e os demais
ambientes com os quais estes podem contactar.
6
1
8

2 3 2 4

3
7

Resolução:
As condições de fronteira são definidas relativamente ao espaço interior útil.
No que respeita às paredes 2, 5, 6 e 8, bem como a cobertura (assinalada com o número
1), as mesmas separam o espaço interior útil do exterior, pelo que aplica-se a condição
fronteira exterior.
As paredes assinaladas com os números 3 e 4 separam o espaço interior útil de um
espaço interior não útil. De acordo com o resultado obtido no exercício 3.5, a lavandaria
apresenta um valor de bztu igual a 0,9, pelo que a condição fronteira aplicável a estas
paredes é condição fronteira interior com bztu > 0,7.
Ao nível do pavimento da fração (7), a mesma contacta com o solo, pelo que a condição
fronteira aplicável é a condição fronteira solo.

52
53
Exercício 3.8
Enunciado: Efetuar a marcação da envolvente para os resultados obtidos nas alíneas a)
e b) do exercício 3.4, tendo em conta as tramas para pavimentos e coberturas da figura
8 e as cores para marcação da envolvente apresentadas na tabela 17 do Manual SCE.
Caso necessário, considere um bztu da circulação comum igual a 0,3.

Resolução:
De acordo com os resultados obtidos na alínea a) do exercício 3.4, o valor de bztu da
lavandaria é igual a 0,7. Considerando que a circulação horizontal comum apresenta um
coeficiente de redução de perdas igual a 0,3, a condição fronteira aplicável às paredes
que separam o espaço interior útil destes dois espaços é condição fronteira interior com
bztu ≤ 0,7, pelo que as mesmas devem ser delimitadas a azul.

54
Por sua vez, ao nível das paredes orientadas a este e a oeste que separam a fração de
habitação de outras frações de habitação, assim como ao nível do pavimento e
cobertura (que também contactam com outras frações de habitação), aplica-se a
condição fronteira sem trocas térmicas, pelo que a mesmas devem ser representadas a
verde. Por fim, a parede orientada a sul contacta com o exterior, pelo que a condição
fronteira aplicável é a condição fronteira exterior, devendo a mesma ser delimitada a
vermelho.
A figura seguinte apresenta a marcação da envolvente para os resultados obtidos na
alínea a) do exercício 3.4.

55
No que se refere à alínea b) do exercício 3.4, tendo-se recorrido à regra de simplificação
para determinação dos valores de bztu dos espaços interiores não úteis (lavandaria e
circulação comum), os mesmos assumem um valor igual a 0,8, pelo que a condição
fronteira aplicável aos elementos construtivos que separam o espaço interior útil destes
dois espaços é a condição fronteira interior com bztu > 0,7, devendo os mesmos ser
identificados a amarelo.
Relativamente aos restantes elementos construtivos que separam o espaço interior útil
dos demais ambientes, as condições fronteira mantêm-se.
Desta forma, a marcação da envolvente tendo em conta os resultados obtidos na alínea
b) do exercício 3.4, vem então igual a:

56
Exercício 3.9
Enunciado: Atendendo à planta de um escritório localizado no 2º andar de um edifício
com utilização mista (habitação e comércio e serviços), em que as frações do 1º ao 4
piso são geometricamente iguais. Considere que a espessura da parede que separa a
fração de habitação da fração de comércio e serviços é de 30 cm, e a espessura da
parede que separa o escritório do arquivo é 15 cm.
Indique:
a) Área interior útil de pavimento
b) O coeficiente de redução de perdas do(s) espaço(s) interior(es) não útil(eis)
interior(es) à fração de serviços
c) A marcação da envolvente, assumindo que a circulação comum apresenta um
valor de bztu=0,7 e que as restantes frações de serviços apresenta um bztu=0,8.

57
Resolução:
a) A área útil de pavimento corresponde ao somatório das áreas de todos os
espaços interiores úteis da fração em análise, medidas em planta, pelo interior.
Neste caso, identifica-se como espaço interior não útil o arquivo (devido à
presença de uma grelha de ventilação permanentemente aberta para o
exterior), pelo que a área deste compartimento não deverá ser contabilizada
para efeitos da determinação da área útil de pavimento.
Tem-se então:

𝐴ú𝑡𝑖𝑙 = 𝐴𝑒𝑠𝑐𝑟𝑖𝑡ó𝑟𝑖𝑜 + 𝐴𝑊𝐶 + 𝐴𝐻𝑎𝑙𝑙

𝐴ú𝑡𝑖𝑙 = 5,70 × 3,85 + 4,05 × 2,00 + 1,50 × 2,00 = 33,05 𝑚2

b) Para o cálculo do bztu do arquivo é necessário determinar os seguintes


parâmetros:

• 𝑉𝐸𝑁𝑈 = 1,20 × 1,35 × 2,65 = 4,3 𝑚3


• F: ENU permeável ao ar devido à presença de ligações e aberturas de
ventilação permanentemente abertas
𝐴𝑖 9,54
• = 3,58 = 2,66
𝐴𝑢

Assim, através da consulta da tabela 16 do Manual SCE, tem-se que o valor de bztu do
arquivo é igual a 0,7.

58
c) Para a marcação da envolvente, é necessário identificar as condições fronteira
dos elementos construtivos que separam o espaço interior útil dos demais
ambientes.

No que respeita às paredes que separam o espaço interior útil dos espaços interiores
não úteis (arquivo e circulação comum), ambos com bztu = 0,7, aplica-se a condição
fronteira interior com bztu ≤ 0,7, pelo que as mesmas devem ser delimitadas a azul.
Ao nível das paredes orientadas a este e oeste, que contactam com frações de
habitação, verifica-se uma condição fronteira sem trocas térmicas, pelo que as mesmas
devem ser identificadas a verde.
Quer ao nível do pavimento, quer ao nível da cobertura, a fração em estudo contacta
com outras frações de serviços, cujo valor de bztu é igual a 0,8. Para estes elementos
construtivos, aplica-se a condição fronteira interior com bztu > 0,7 e devem ser
delimitados a amarelo.

59
Por fim, a parede
orientada a sul contacta com o exterior, pelo que aplica-se a condição fronteira exterior
e deve ser delimitada a vermelho.

Na figura seguinte é apresentada a marcação da envolvente para a fração de escritórios


em estudo.

60
61
Exercício 4.1
Enunciado: Considere o pormenor construtivo apresentado para uma parede exterior,
pertencente a um edifício de habitação em projeto, localizado em Braga, a uma altitude
de 167 m, com a seguinte constituição do interior para o exterior:

int. ext.

(1) Revestimento com aglomerado de cortiça com a espessura de 8 mm e 4kg/m2


(2) Pano simples de alvenaria de tijolo cerâmico normal, com espessura de 11 cm
(3) Aglomerado de cortiça expandida com a espessura de 6 cm (6 kg/m2)
(4) Pano simples de alvenaria de tijolo cerâmico normal, com espessura de 15 cm
(5) Revestimento com reboco tradicional, com 1800 kg/m3 e espessura de 2 cm.

Esta solução construtiva cumpre com o requisito mínimo regulamentar a que está
sujeita?

Resolução:
Para verificar se a solução construtiva se encontra ou não regulamentar, é necessário
determinar o valor do seu coeficiente de transmissão térmica (U) e comparar com o
respetivo valor máximo admissível (Umáx).

62
1.º Determinação do coeficiente de transmissão térmica superficial da solução
construtiva (parede)
1 1
𝑈𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒 = =
𝑅𝑡𝑜𝑡 𝑅𝑠𝑖 + ∑𝑗 𝑅𝑗 + 𝑅𝑠𝑒

Tratando-se de uma parede, o fluxo de calor apresenta um sentido horizontal, pelo que
o valor de 𝑅𝑠𝑖 é igual a 0,13 (m2.ºC)/W. Uma vez que a mesma contacta com o exterior,
para o cálculo de 𝑅𝑡𝑜𝑡 deverá ainda ser considerada uma resistência térmica superficial
exterior, 𝑅𝑠𝑒 , igual a 0,04 (m2.ºC)/W.
A parcela ∑𝑗 𝑅𝑗 diz respeito à soma das resistências térmicas de todos os materiais que
constituem o elemento construtivo:

∑ 𝑅𝑗 = 𝑅𝑐𝑜𝑟𝑡𝑖ç𝑎 (𝑟𝑒𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜) + 𝑅𝑡𝑖𝑗𝑜𝑙𝑜 11𝑐𝑚 + 𝑅𝑐𝑜𝑟𝑡𝑖ç𝑎 (𝑖𝑠𝑜𝑙𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜) + 𝑅𝑡𝑖𝑗𝑜𝑙𝑜 15𝑐𝑚 + 𝑅𝑟𝑒𝑏𝑜𝑐𝑜


𝑗

(1) Tratando-se de um material homogéneo, o valor da resistência térmica desta


camada de material é dado pela razão entre a sua espessura e o valor da sua
condutibilidade térmica (). Pelo ITE 50, no quadro I.2 (pág. I.10), o valor de
 para o aglomerado de cortiça utilizado como revestimento de piso ou parede
é igual a 0,065 W/(m.ºC)

𝑑 0,008
𝑅𝑐𝑜𝑟𝑡𝑖ç𝑎 (𝑟𝑒𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜) = = = 0,12 (𝑚2 . ℃)/𝑊
𝜆 0,065

(2) O tijolo é um material não homogéneo, pelo que o valor da sua resistência
térmica é consultado diretamente no ITE 50 (Quadro I.5). O mesmo aplica-se à
camada (4).

𝑅𝑡𝑖𝑗𝑜𝑙𝑜 11 𝑐𝑚 = 0,27 (𝑚2 . ℃)/𝑊

𝑅𝑡𝑖𝑗𝑜𝑙𝑜 15 𝑐𝑚 = 0,39 (𝑚2 . ℃)/𝑊

63
(3) O valor da condutibilidade térmica da cortiça utilizada como isolante térmico
consulta-se no Quadro I.1 do ITE 50, obtendo-se:

𝑑 0,06
𝑅𝑐𝑜𝑟𝑡𝑖ç𝑎 (𝑖𝑠𝑜𝑙𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜) = = = 1,33 (𝑚2 . ℃)/𝑊
𝜆 0,045

(4) Por fim, o reboco é também um material homogéneo. O valor da sua


condutibilidade térmica pode ser consultado no Quadro I.2 (pág. I.7) do ITE 50.

𝑑 0,02
𝑅𝑟𝑒𝑏𝑜𝑐𝑜 𝑡𝑟𝑎𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 (1800 𝑘𝑔/𝑚3 ) = = = 0,015 (𝑚2 . ℃)/𝑊
𝜆 1,3

Desta forma:
𝑅𝑡𝑜𝑡 = 𝑅𝑠𝑖 + ∑ 𝑅𝑗 + 𝑅𝑠𝑒 = 0,13 + 0,12 + 0,27 + 1,33 + 0,39 + 0,015 + 0,04 = 2,3 (𝑚2 . ℃)/𝑊
𝑗

E assim:
1 1
𝑼𝒑𝒂𝒓𝒆𝒅𝒆 = = = 0,43 𝑊/(𝑚2 . ℃)
𝑅𝑡𝑜𝑡 2,3

64
2.º Determinação da zona climática de inverno
Da leitura da tabela 1 da Portaria n.º 138-I/2021, que apresenta os coeficientes de
transmissão térmica superficiais máximos dos elementos da envolvente opaca dos
edifícios de habitação, verifica-se que os valores de Umáx são definidos em função da
condição fronteira do elemento construtivo e da zona climática de inverno do local onde
se insere o edifício (I1, I2 ou I3).
Neste sentido, é necessário determinar a zona climática de inverno para um edifício
localizado em Braga, a uma altitude de 167 m.
Pela tabela 116 do Manual SCE, verifica-se que Braga corresponde à NUTS III Cávado.

A zona climática de inverno é definida em função do nº de graus-dias para aquecimento,


sendo necessário efetuar a devida correção em função da altitude a que se encontra o
edifício.

65
Assim:

𝐺𝐷 = 𝐺𝐷𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 ) = 1491 + 1300 × (0,167 − 0,171) = 1485,8 ℃

Pela tabela 7 do Manual SCE verifica-se que 𝐺𝐷 = 1485,8℃ corresponde a uma zona
climática de inverno I2.

66
3.º Verificação do cumprimento do requisito
Pela tabela 1 da Portaria n.º 138-I/2021, verifica-se que o valor de Umáx para um
elemento construtivo vertical com condição fronteira exterior, inserido numa zona
climática de inverno I2, é de 0,40 W/(m2.ºC).

𝑼𝒑𝒂𝒓𝒆𝒅𝒆 = 0,43 𝑊/(𝑚2 . ℃) > 𝑼𝒎á𝒙 = 0,40 𝑊/(𝑚2 . ℃)

Como o U da solução construtiva é superior ao respetivo valor máximo admissível


(Umáx), a mesma não se encontra regulamentar, pelo que, na ausência de
constrangimentos técnicos ou funcionais ou quando não garantidos os requisitos de
conforto térmico, deverá ser prevista uma alternativa à sua constituição até que a
mesma cumpra com o respetivo requisito.

67
Exercício 4.2
Enunciado: Considere uma moradia de tipologia T3 em projeto, a construir em Idanha-
a-Nova, a uma altitude de 285m, com as seguintes áreas:
• Sala – 40m2
• Quartos – 46m2
• Cozinha – 15m2
• Despensa – 2m2
• Corredores – 21m2
• WC’s – 16m2

Não existem quaisquer obstruções de horizonte nem palas verticais.


Existem palas horizontais nos vãos envidraçados a Sul que formam um ângulo de 33º
com esses vãos. Não existem quaisquer outras palas horizontais para além das referidas.
Os vãos envidraçados não se encontram à face exterior da parede.
Na cozinha, que apresenta inércia fraca, existem 2 vãos envidraçados com as seguintes
características:

• Vão 1: 1,50m x 1,10m, orientado a Poente, em caixilharia de PVC com vidro duplo
baixo emissivo, Uw= 1,60 W/(m2.ºC), fator solar do vidro= 0,61, proteção solar
exterior constituída por persiana de réguas metálicas de cor clara e proteção
solar interior constituída por cortinas ligeiramente transparentes de cor azul-
claro
• Vão 2: 1,50m x 0,60m, orientado a Norte, em caixilharia de PVC, com vidro duplo
baixo emissivo, Uw= 1,60 W/(m2.ºC), fator solar do vidro= 0,61, sem proteções
solares

Relativamente aos requisitos mínimos a que os vãos envidraçados estão sujeitos,


indique se os vãos envidraçados existentes na cozinha se encontram regulamentares.

68
Resolução:

Os vãos envidraçados estão sujeitos a dois requisitos: o coeficiente de transmissão


térmica superficial (UW) e o fator solar (gtot).

Verificação do requisito relativo ao coeficiente de transmissão térmica superficial

Ambos os vãos envidraçados possuem um coeficiente de transmissão térmica


superficial, UW= 1,60 W/(m2.℃).

Na tabela 6 da Portaria n.º 138-I/2021 encontram-se definidos os coeficientes de


transmissão térmica superficiais máximos dos elementos da envolvente envidraçada,
UW,máx, sendo os mesmos definidos em função da zona climática de inverno do local
onde se insere o edifício.

1.º Determinação da zona climática de inverno de um edifício localizado em Idanha-a-


Nova, a uma altitude de 285m.

Tabela 116 do Manual SCE:

69
E assim:

𝐺𝐷 = 𝐺𝐷𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 ) = 1274 + 1800 × (0,285 − 0,328) = 1196,6 ℃

Pela tabela 7 do Manual SCE verifica-se que 𝐺𝐷 = 1196,6 ℃ corresponde a uma zona
climática de inverno I1.

70
2.º Verificação do cumprimento do requisito (UW ≤ UW,máx)
Pela tabela 6 da Portaria n.º 138-I/2021 verifica-se que o valor de UW,máx para um
vão envidraçado vertical exterior, de um edifício de habitação inserido numa zona
climática de inverno I1 é igual a 2,8 W/(m2.ºC).

𝑼𝑾 (𝒗ã𝒐 𝟏) = 𝑼𝑾 (𝒗ã𝒐 𝟐) = 1,60 𝑊/(𝑚2 . ℃) ≤ 𝑼𝑾,𝒎á𝒙 = 2,80 𝑊/(𝑚2 . ℃)

Desta forma, verifica-se que tanto o vão 1, como o vão 2 cumprem o requisito relativo
ao coeficiente de transmissão térmica superficial.

Nota: O cumprimento dos requisitos aplicáveis ao coeficiente de transmissão térmica


dos elementos da envolvente envidraçada, pode ser avaliado tendo em conta o
contributo dos dispositivos de proteção solar, considerando o valor de U WDN (em
alternativa ao valor de UW).

71
Verificação do requisito relativo ao fator solar

De acordo com a alínea k) do número 2.2 do Anexo I da Portaria n.º 138-I/2021, estão
excluídos da verificação do requisito de fator solar os vãos envidraçados que se
encontrem orientados no quadrante Norte, inclusive.
Para além disso, e de acordo com a alínea m) do referido número, em edifícios de
habitação, os vãos envidraçados com condição fronteira exterior ou interior com ganhos
solares, inseridos em espaços interiores úteis, em que se verifique que Aenv,espaço seja
igual ou inferior a 5% da Apav encontram-se, também, isentos do cumprimento deste
requisito.
Desta forma, dado que o vão 2 se encontra orientado a Norte, está excluído da
verificação desde requisito.

Relativamente ao vão 1, que se encontra orientado a Oeste:

𝐴𝑒𝑛𝑣,𝑒𝑠𝑝𝑎ç𝑜 1,50 × 1,10


= = 0,11 = 11%
𝐴𝑝𝑎𝑣 (𝑐𝑜𝑧𝑖𝑛ℎ𝑎) 15

Dado que esta razão é superior a 5%, o vão 1 está sujeito ao requisito de fator solar, que
deve verificar a seguinte condição:

O fator solar (𝑔𝑡𝑜𝑡 ) de um vão envidraçado com as proteções solares totalmente


ativadas, definido no Manual SCE, para vidro duplo, é determinado de acordo com a
equação:

72
Constituição do vão 1:
• Vidro duplo; Fator solar do vidro: 𝑔┴,𝑣𝑖 = 0,61
• Proteção solar exterior constituída por persiana de réguas metálicas de cor clara
• Proteção solar interior constituída por cortinas ligeiramente transparentes de
cor azul-claro
Para a determinação do fator solar do vão envidraçado com os dispositivos de proteção
solar totalmente ativados (𝑔𝑡𝑜𝑡), devem ser considerados todos os dispositivos de
proteção solar, do exterior para o interior, até ao primeiro dispositivo de proteção solar
opaco, inclusive.
Pela leitura da tabela 48 do Manual SCE, verifica-se que o primeiro dispositivo de
proteção solar, exterior ao vidro, é opaco. Desta forma, o valor de 𝑔𝑡𝑜𝑡 deve ser obtido
através da seguinte equação:

73
Logo:
𝑔𝑡𝑜𝑡 = 𝑔𝑡𝑜𝑡 ,𝑣𝑐,𝑜𝑝 = 0,04

Os fatores 𝐹𝑜 e 𝐹𝑓 representam os fatores de sombreamento devidos a elementos


horizontais e verticais, respetivamente. Na ausência deste tipo de elementos, considera-
se que estes valores tomam o valor 1, pois não causam obstrução no vão envidraçado.
No entanto, nas situações em que o vão envidraçado não se encontre à face exterior da
parede, o produto 𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 não deve ser superior a 0,9, de forma a contabilizar o
sombreamento causado pelo contorno do vão. No enunciado é referido que os vãos
envidraçados não se encontram à face exterior da parede, pelo que, na ausência de
outros elementos horizontais e/ou verticais, 𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 = 0,9.
E assim:
𝑔𝑡𝑜𝑡 × 𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 = 0,04 × 0,9 = 0,036

74
Cálculo auxiliar: Determinação da zona climática de verão
Da leitura da tabela 8 da Portaria n.º 138-I/2021, que define os fatores solares máximos
admissíveis de vãos envidraçados com condição fronteira exterior ou interior com
ganhos solares, gtot,máx, verifica-se que os mesmos são dados em função da inércia do
espaço onde se insere o vão e da zona climática de verão onde se insere o edifício.
A zona climática de verão é definida em função da temperatura média exterior na
estação convencional de arrefecimento.
Desta forma:

𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑣 = 𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑣,𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 ) = 25,3 + (−7) × (0,285 − 0,328) = 25,6 ℃

75
Assim pela tabela 8 do Manual SCE, verifica-se que 𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑣 = 25,6 ℃ corresponde a
uma zona climática de verão V3.

Verificação do cumprimento do requisito:


Pela tabela 8 da Portaria n.º 138-I/2021, verifica-se que o valor de gtot,máx para um vão
inserido num espaço com inércia fraca e para uma zona climática V3 é igual a 0,10.

𝒈𝒕𝒐𝒕 . 𝑭𝒐 . 𝑭𝒇 = 0,036 ≤ 𝒈𝒕𝒐𝒕,𝒎á𝒙 = 0,10 𝑊/(𝑚2 . ℃)

Desta forma, o vão 1 cumpre com o requisito aplicável ao fator solar.

Em suma: O vão 1 cumpre 2 requisitos (UW e gtot.Fo.Ff) e o vão 2 cumpre 1 requisito (UW).

76
Exercício 4.3
Enunciado: Considere a informação constante da ficha técnica de um vão envidraçado,
inserido na sala de um edifício de habitação novo, localizado em Matosinhos, a uma
altitude de 67 metros.
O vão envidraçado, orientado a Sul, apresenta um dispositivo de proteção solar exterior
constituído por estore veneziano de réguas metálicas de cor escura e um dispositivo de
proteção solar interior, constituído por uma cortina ligeiramente transparente de cor
clara.
Para além dos dispositivos de proteção solar, o vão apresenta ainda sombreamento
provocado por uma pala horizontal (com um ângulo de 45º) e por duas palas verticais,
à esquerda e à direita do mesmo, cujos ângulos são de, respetivamente, 30º e 45º. O
vão encontra-se à face exterior da parede.
A sala onde se insere o vão envidraçado em análise, apresenta inércia do espaço média
e tem uma área de pavimento igual a 40m2, sendo a área útil de pavimento da fração de
habitação igual a 100m2. Para além disso, a área de vãos envidraçados deste
compartimento é igual a 6,3m2.
Verifique se o vão envidraçado cumpre com os requisitos mínimos a que está sujeito.

(Obs.: ficha técnica na próxima página)

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Resolução:
Os vãos envidraçados encontram-se sujeitos à verificação de requisitos relativos ao seu
coeficiente de transmissão térmica e de fator solar.
Dispondo de informação técnica por parte do fabricante, a mesma deverá ser
considerada para efeitos da caracterização e verificação regulamentar do vão
envidraçado.

Verificação do requisito relativo ao coeficiente de transmissão térmica (UW)

De acordo com a informação disponibilizada pelo fabricante, o vão envidraçado


apresenta um UW= 1,40 W/(m2.ºC).
Para verificar qual o valor de requisito (UW,máx) a que este vão está sujeito, é necessário
determinar a zona climática de inverno.
Cálculos auxiliares: determinação da zona climática de inverno
O edifício localiza-se em Matosinhos, a uma altitude de 67 m.
Pela tabela 116 do Manual SCE, Matosinhos corresponde à NUTS III do Grande Porto.

Uma vez identificada a NUTS III, é necessário determinar o número de graus-dias para
aquecimento, através da tabela 9 do Manual SCE e procedendo-se à devida correção
dos valores em função da altitude a que se encontra o edifício.

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𝐺𝐷 = 𝐺𝐷𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 ) = 1250 + 1600 × (0,067 − 0,094) = 1206,8 ℃

Pela tabela 7 do Manual SCE verifica-se que 𝐺𝐷 = 1206,8℃ corresponde a uma zona
climática de inverno I1.

2.º Verificação do cumprimento do requisito (UW ≤ UW,máx)


Pela tabela 6 da Portaria n.º 138-I/2021 verifica-se que o valor de UW,máx para um vão
envidraçado vertical exterior, de um edifício de habitação inserido numa zona
climática de inverno I1 é igual a 2,8 W/(m2.ºC).

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𝑼𝑾 = 1,40 𝑊/(𝑚2 . ℃) ≤ 𝑼𝑾,𝒎á𝒙 = 2,80 𝑊/(𝑚2 . ℃)

Alternativamente à verificação do requisito com o valor de UW, poderia ter-se utilizado


o valor de UWDN, sendo o valor de UWDN sempre inferior ao valor de UW, uma vez que
contabiliza um acréscimo de resistência térmica adicional provocado pelo dispositivo de
proteção e o espaço de ar formado entre este e o vidro.
Para este vão, o valor de UWDN viria então igual a:

Em que:

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Logo:
1 1
𝑈𝑊𝑆 = = = 1,26 𝑊/(𝑚2 . ℃)
1 1
𝑈𝑊 + ∆𝑅 1,40 + 0,08

𝑈𝑊 + 𝑈𝑊𝑆 1,40 + 1,26


𝑈𝑊𝐷𝑁 = = = 1,33 𝑊/(𝑚2 . ℃)
2 2
E, portanto:
𝑼𝑾𝑫𝑵 = 1,33 𝑊/(𝑚2 . ℃) < 𝑼𝑾 = 1,40 𝑊/(𝑚2 . ℃) < 𝑼𝑾,𝒎á𝒙 = 2,80 𝑊/(𝑚2 . ℃)

Verificação do requisito relativo ao fator solar

De acordo com a alínea m) do número 2.2 do Anexo I da Portaria n.º 138-I/2021, em


edifícios de habitação, os vãos envidraçados com condição fronteira exterior ou interior
com ganhos solares, inseridos em espaços interiores úteis, em que se verifique que
Aenv,espaço seja igual ou inferior a 5% da Apav encontram-se isentos do cumprimento dos
requisitos previstos relativos ao fator solar, em que Aenv,espaço representa o somatório
das áreas dos vãos envidraçados com condição fronteira exterior ou interior com ganhos
solares que servem o espaço, com exceção dos vãos orientados no quadrante norte,
inclusive [m2] e Apav representa a área útil de pavimento do espaço servido pelos vãos
envidraçados [m2].
De acordo com os dados fornecidos no enunciado, tem-se:

• Aenv,espaço= 6,3 m2 (área dos vãos envidraçados existentes na sala)


• Apav= 40 m2 (área útil de pavimento da sala)
Desta forma:
𝐴𝑒𝑛𝑣,𝑒𝑠𝑝𝑎ç𝑜 6,3
= = 0,158 ≈ 16%
𝐴𝑝𝑎𝑣 40

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Dados que a razão entre Aenv,espaço e Apav é superior a 5%, o vão em análise encontra-se
sujeito à verificação do requisito.
De acordo com a alínea g) do n.º 2.2 da Portaria n.º 138-I/2021, os vãos envidraçados
com condição fronteira exterior ou interior com ganhos solares em espaços interiores
úteis devem verificar a seguinte condição:

No entanto, de acordo com a alínea i) do mesmo número, em edifícios de habitação, nos


espaços interiores úteis em que Aenv,espaço seja superior a 15% da Apav, os vãos
envidraçados com condição fronteira exterior ou interior com ganhos solares devem
verificar a seguinte condição:

Como visto anteriormente, a relação entre Aenv,espaço e Apav é superior a 15%, pelo que a
condição a aplicar, neste caso, é a condição anterior (que consta da alínea i) da Portaria
n.º 138-I/2021).
Cálculos auxiliares: determinação de gtot
De acordo com a ficha técnica, o valor do fator solar da área transparente para uma
incidência da radiação perpendicular ao vão envidraçado (gꞱ,vi) é de 0,57.
No cálculo do fator solar do vão envidraçado com os dispositivos de proteção solar
totalmente ativados (gtot), para além do fator solar do vidro, deve ainda ter-se em
consideração os fatores solares dos dispositivos de proteção solar.
Dado que se trata de um vidro duplo (informação que consta do campo “descrição” da
ficha técnica), para determinação do gtot deve aplicar-se a seguinte equação:

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No cálculo do gtot, e para aplicação da equação anterior, devem ser considerados todos
os dispositivos de proteção, do exterior para o interior, até ao primeiro dispositivo de
proteção solar opaco, inclusive.
Os dispositivos de proteção solar do vão envidraçado em análise são:

• Exterior: estore veneziano de réguas metálicas de cor escura


• Interior: cortina ligeiramente transparente de cor clara
Analisando a tabela 48 do Manual SCE, verifica-se que um estore veneziano de lâminas
metálicas não constitui uma proteção solar opaca, pelo que no cálculo do gtot devem ser
considerados os dois dispositivos de proteção solar.

E tem-se então:
𝑔𝑡𝑜𝑡,𝑣𝑐,𝑖 0,09 0,38
𝑔𝑡𝑜𝑡 = 𝑔Ʇ,𝑣𝑖 ∏ = 0,57 × × = 0,03
0,75 0,75 0,75
𝑖

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Cálculos auxiliares: determinação dos fatores de sombreamento Fo e Ff
Para verificação do requisito relativo ao fator solar, deve ainda ter-se em consideração
a existência de sombreamento provocado por elementos horizontais e verticais, sendo
os mesmos traduzidos por Fo e Ff, respetivamente.
De acordo com o enunciado, existe um elemento de sombreamento horizontal, que faz
um ângulo de 45º com o vão em análise. O fator Fo para um ângulo igual a 45º, para a
estação de arrefecimento (verão), deve ser consultado na tabela 55 do manual SCE.
Note-se que para verificação do requisito do fator solar, a estação em análise é a estação
de arrefecimento (verão).
Assim, e sabendo que o vão se encontra orientado a Sul (dado do enunciado):

𝐹𝑜 = 0,55
Por sua vez, o vão apresenta também sombreamento provocado por elementos
verticais, à esquerda e à direita do mesmo, que fazem um ângulo de 30º e de 45º,
respetivamente.
O valor dos fatores de sombreamento provocados por elementos verticais (Ff), na
estação de arrefecimento, encontram-se definidos na tabela 57 do Manual SCE.
Assim, para um vão orientado a Sul, tem-se:

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𝐹𝑓 = 𝐹𝑓,𝑒𝑠𝑞 × 𝐹𝑓,𝑑𝑖𝑟 = 0,91 × 0,87 = 0,79

Assim, tem-se então:


𝑔𝑡𝑜𝑡 × 𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 = 0,03 × 0,55 × 0,79 = 0,01

Cálculo auxiliar: Determinação da zona climática de verão


Da leitura da tabela 8 da Portaria n.º 138-I/2021, que define os fatores solares máximos
admissíveis de vãos envidraçados com condição fronteira exterior ou interior com
ganhos solares, gtot,máx, verifica-se que os mesmos são dados em função da inércia do
espaço onde se insere o vão e da zona climática de verão onde se insere o edifício.
A zona climática de verão é definida em função da temperatura média exterior na
estação convencional de arrefecimento.
Desta forma:

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𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑣 = 𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑣,𝑅𝐸𝐹 + 𝑎 × (𝑧 − 𝑧𝑅𝐸𝐹 ) = 20,9 + 0 × (0,067 − 0,094) = 20,9 ℃

Para uma temperatura média exterior na estação de arrefecimento, 𝜃𝑒𝑥𝑡,𝑣 igual a


20,9ºC, pela tabela 8 do Manual SCE, tem-se uma zona climática V2.

Verificação do cumprimento do requisito:


Sabendo que o espaço apresenta uma inércia média, e que o edifício se insere numa
zona climática de verão V2, pela tabela 8 da Portaria n.º 138-I/2021, tem-se um gtot,máx
igual a 0,56.

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Assim, e como visto anteriormente, para verificação do requisito aplica-se a seguinte
equação:

E tem-se:
𝑔𝑡𝑜𝑡 × 𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 = 0,01

0,15 0,15
𝑔𝑡𝑜𝑡,𝑚á𝑥 . = 0,56 × = 0,53
𝐴𝑒𝑛𝑣,𝑒𝑠𝑝𝑎ç𝑜 0,16
( )
𝐴𝑝𝑎𝑣

Pelo que:
0,15
𝑔𝑡𝑜𝑡 × 𝐹𝑜 × 𝐹𝑓 ≤ 𝑔𝑡𝑜𝑡,𝑚á𝑥 . → 0,01 ≤ 0,53
𝐴𝑒𝑛𝑣,𝑒𝑠𝑝𝑎ç𝑜
( )
𝐴𝑝𝑎𝑣

O vão envidraçado cumpre com os requisitos mínimos a que está sujeito.

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