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Retroviroses felinas (DOENÇAS INFECCIOSAS)

Vírus da imunodeficiência dos felinos (FIV) e vírus da leucemia felina (FeLV), muito
importantes em membros da família Felidae e não existem casos comprovados de retrovírus em
caninos.

Epidemiologia

O FeLV só consegue se replicar durante a divisão celular. O FIV é endêmico em gatos de


vida livre e sua prevalência pode ser alta em alguns grupos de risco (animais em disputa de
território ou imunossuprimidos). A transmissão interespecífica (entre gatos e humanos) não
ocorre, devido aos receptores celulares específicos desse vírus. O FIV é pouco patogênico e
infecta felinos de diversas espécies; para cada uma delas existe uma linhagem viral específica.

Etiologia

Os retrovírus têm duas moléculas de RNA fita simples. O capsídeo viral, além das
proteínas estruturais e RNA, ainda contém enzimas virais (transcriptase reversa) e outras
moléculas da célula hospedeira (nucleotídeos e enzimas). O capsídeo é envolto pelo envelope.

Ciclo de vida: glicoproteínas do envelope viral ligam-se a um receptor celular específico.


Ocorre então a fusão do envelope viral com a membrana celular e o vírus, desprovido de
envelope, penetra na célula. Dentro da célula tem início a transcrição reversa, na qual o genoma
de RNA fita simples do vírus será convertido em DNA de fita dupla; o RNA viral serve de molde
para a primeira fita de DNA, e a segunda fita é complementada a partir da primeira. O DNA viral
migra então para o núcleo da célula e é inserido pela integrase no DNA celular. O DNA viral
integrado ao genoma do hospedeiro é denominado provírus, que servem de molde para a
síntese de proteínas virais. Os provírus podem ou não originar novas partículas virais. Uma vez
integrados ao genoma celular, os provírus ali permanecem, podendo, inclusive, ser transmitidos
às células germinativas durante a meiose. As partículas virais de lentivírus recém-saídas das
células ainda estão imaturas; a maturação ocorre fora das células pela enzima viral protease.

Patogenia

A integração do DNA viral ao genoma do hospedeiro já é potencialmente mutagênico.


As infecções causadas pelo FIV raramente são identificadas pelos veterinários, pois os animais
infectados não costumam adoecer e, quando mostram sintomas, estes são leves e transitórios.
Os animais infectados apresentam viremia no início da infecção e o vírus pode ser encontrado
especialmente na saliva; depois, poucas partículas virais são detectadas na circulação. Os
animais expostos ao FIV apresentam anticorpos 60 dias após o primeiro contato e o provírus
pode ser detectado por toda a vida. A transmissão é eminentemente pela saliva, e mordeduras
e arranhões são as principais formas de transmissão do vírus. Assim, machos jovens em idade
reprodutiva são o principal grupo de risco para infecções pelo FIV. Ocorre transmissão
horizontal.

Os gatos infectados por FeLV formam Ac dentro de 2-3 semanas após o contato inicial.
Os gatos se infectam pelo contato com a saliva de animais infectados; raramente as infecções
podem advir de mordidas e arranhaduras decorrentes de brigas. O vírus inicialmente replica-se
no tecido linfoide e depois se dissemina para outros órgãos por meio de monócitos e linfócitos.
Animais na fase virêmica eliminam partículas virais infectantes pelos fluidos corporais. Uma vez
infectado, o animal não elimina o vírus do organismo, mas isso não significa que o provírus
permaneça ativo para sempre no genoma do hospedeiro.
O curso da infecção pode seguir quatro formas: 1) infecção progressiva: replicação
intensa do vírus, havendo leucose e infecções secundárias em mucosas; a infecção progressiva
decorre de uma resposta imunológica deficiente contra as partículas virais do FeLV e os animais,
em geral, sucumbem em alguns anos. 2) infecção regressiva: resposta imune eficaz contra as
partículas virais; a replicação viral é contida antes de o vírus chegar à medula; os animais
normalmente não apresentam nenhum sinal de infecção e o vírus é eliminado da circulação
sanguínea; os Ac podem ser detectados até 8 semanas ou meses após infecção inicial. 3)
infecção abortiva: Ac são raramente observados. 4) infecção focal: animais apresentam focos de
replicação viral em órgãos como baço, linfonodos, intestinos e glândulas mamárias.

Diagnóstico

O diagnóstico clínico é impreciso, pois os sintomas (tosse, infecções pulmonares,


erupções nas mucosas, emagrecimento) não são específicos para a doença e nem todos os
animais adoecem. Apesar de os animais infectados poderem apresentar anemia, linfomas,
infecções crônicas e lesões das mucosas, normalmente essas características clínicas não auxiliam
o estabelecimento do diagnóstico. Dessa maneira, a presença de Ac específicos é a forma mais
segura de diagnóstico. O PCR funciona como teste confirmatório. Entretanto, animais vacinados
apresentam Ac e provírus, o que pode ser um fator de complicação para o diagnóstico do FIV.
Filhotes de mães vacinadas podem apresentar Ac (maternos) para o FIV até os 6 meses de vida;
o diagnóstico imunológico na progênie deve ser confirmado com dois testes em intervalos de,
no mínimo, 3 meses.

Prevenção

Visto que a disseminação, tanto do FIV quanto do FeLV, está associada ao convívio
próximo entre animais infectados e animais sadios, é imprescindível o isolamento dos animais
infectados. O vírus é instável fora dos hospedeiros, de modo que o uso de detergentes garante
a limpeza de gaiolas, abrigos, criadouros e clínicas.

As vacinas para FeLV existem com vírus atenuado e com vírus recombinante, ambas com
alta eficácia. Vacinar animais antes das 8 semanas de vida e fazer dose reforço 2-3 semanas
após, e depois reforço anual. Nos animais infectados, é possível detectar o provírus e o RNA
viral; no entanto, animais vacinados não apresentam viremia nem são passíveis de disseminar o
vírus para animais não vacinados.

Já a vacina para FIV ainda é um desafio. A única disponível utiliza o vírus atenuado com
adjuvantes; apresenta os subtipos A e D, e não há imunidade cruzada entre os subtipos. Vacinar
a partir da 8ª semana de vida e realizar 3 doses em um intervalo de 3 semanas, e depois realizar
reforço anual. Assim como na FeLV, animais vacinados apresentam Ac e o provírus pode ser
detectado por PCR; eles não disseminam partículas virais.

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