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Ana Luiza Corrêa Alves

Gabriel Corrêa Marsom Leite


Giovanna de Paula Lopes
Isabela Catarina Fernandes Oliveira
Joyce Santos Costa
Tereza Gouveia Vasconcelos de Souza

Relatório: Praça Sete de Setembro e


Praça Rio Branco

Belo Horizonte

Escola de Arquitetura da UFMG

2017
1- INTRODUÇÃO

Não existe uma definição única para o conceito de praça, fato é que diversos
autores divergem sobre o assunto, no entanto, é conveniente estabelecer em termos
gerais que praça seja um espaço público e urbano, celebrada como um local de
convivência entre os habitantes. Dentro desse contexto, existem praças das mais
variadas espécies que são essencialmente produto da natureza humana e por isso,
tendem a refletir o comportamento da sociedade, tal como a cidade (PARK, 1999).
Além disso, também por esse motivo, as praças tendem a assumir um comportamento
semelhante à de um organismo vivo e como tais, elas são passíveis de transformações e
,assim como qualquer ser provido de animação, se não forem submetidas a cuidados
tendem a entrar em um processo de deterioração.
Além disso, a praça é um espaço dotado de valores simbólicos, que em geral,
representam a função desses espaços enquanto pontos referenciais e cênicos da
paisagem urbana, além de exercerem importante papel na identidade de um município,
bairro ou rua. Isso é evidente, na Praça Sete de Setembro localizada no hipercentro de
Belo Horizonte.
A Praça Sete de Setembro, popularmente conhecida como Praça Sete, está
localizada no cruzamento das avenidas Afonso Pena e Amazonas, duas das principais
avenidas da capital mineira. Considerada por muitos como o marco zero da cidade, a
praça é um dos principais pontos referenciais de BH tanto para os turistas tanto para os
residentes da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Ela é composta por
quatro quarteirões que foram batizados com os nomes de tribos indígenas que vivem em
Minas Gerais, sendo eles: Pataxó, Krenak, Xacriabá e Maxakali (Figura 1) e também
pelo icônico obelisco, conhecido como pirulito, que tem um importante papel na
identidade do município, principalmente para o Centro (Figura 2).
Figura 1- Quarteirões da Praça Sete

Legenda: 1 – Quarteirão Pataxó. 22- Quarteirão Maxakali. 3- Quarteirão Krenak. 4-


4 Quarteirão
Xacriabá. Disponível em Google Maps.
Figura 2- Praça Sete como ponto referencial do Centro de Belo Horizonte

Disponível:<
Disponível:<https://www.google.com/search?hl=en&biw=1366&bih=662&tbm=isc
ch?hl=en&biw=1366&bih=662&tbm=isc
h&sa=1&q=Centro+de+Belo+Horizonte&oq=Centro+de+Belo+Horizonte&gs_l=psy
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Acesso em 16. Set de 2017
Outra praça muito relevante para a cidade de Belo Horizonte é a Praça Rio
Branco, popularmente chamada de praça da rodoviária devido a proximidade com o
terminal rodoviário. Apesar de ser menos icônica que a Praça Sete, a Praça Rio Branco
é um dos primeiros pontos de referência que os visitantes da cidade que desembarcam
pela rodoviária e pela estação de metro Lagoinha têm contato. Uma das principais
características da praça é o grande fluxo de carros e de pessoas que decorre da
proximidade do espaço com grandes avenidas como a Afonso Pena e Contorno e
também com locais de baldeação (Rodoviária e Estação de Metro) (Figura 3). A praça
em si é composta por um quarto de circulo com um grande monumento denominado
“Liberdade em Equilíbrio” de autoria da artista plástica Mary Vieira.

Figura 3 – Praça Rio Branco e entorno

Disponível em Google Maps.

O presente estudo está divido em Introdução, Resultados, Considerações Finais,


Referências e Anexo. O primeiro tinha como objetivo apresentar em linhas gerais o
conceito de praça e a importância das duas praças que foram analisadas nos Resultados.
Os resultados visam analisar por meio do guia de observação de espaços públicos
(disponível no Dropbox) a Praça Rio Branco e o quarteirão Maxakali da Praça Sete
(Rua Rio de Janeiro com Tupinambás), sendo esse quarteirão escolhido devido a
grande diversidade de apropriações de espaço presente no local. O preenchimento do
guia foi feito a partir da observação presencial em escala predominantemente local
realizada nas duas praças no dia 6 de Setembro de 2017 no período das 09h50min até às
12h20min. O tempo nos locais no dia da observação era ensolarado e com baixa
umidade relativa do ar. A terceira parte do presente trabalho tem como objetivo
apresentar as considerações finais que tratam de mostrar as observações em relação as
funções das praças analisadas e como ambas possuem espacialidades distintas, além
disso, também será apresentado a forma como o estudo alterou algumas percepções do
grupo.

2- RESULTADOS
2.1- Praça Sete.
2.1.1- Croqui do grupo
2.1.2- Delimitação do quarteirão da Praça Sete
O espaço de análise da Praça Sete foi definido assim: o quarteirão fechado da Rua Rio
de Janeiro começa na calçada que vai de encontro à Avenida Afonso Pena até a
interseção com a Rua dos Tupinambás (Figura 4).
Figura 4 – Delimitação do quarteirão

Disponível em Google maps


2.1.3- Análise espacial do quarteirão Maxakali
A Praça Sete é um dos pontos mais conhecidos e importantes de Belo Horizonte,
sendo o encontro da Avenida Amazonas com Afonso Pena. Por estar localizada na área
central da cidade, há sempre um fluxo muito grande de pessoas e veículos, o que
contribui para o intenso movimento de comércio na região.
O quarteirão selecionado para análise foi o da Rua Rio de Janeiro com a Rua dos
Tupinambás, nomeado “Maxakali”, e é um local predominantemente comercial e de
prestação de serviços, destacando-se o Banco Itaú. Além desse, é importante apontar:
lanchonetes, farmácias, papelaria, comércio de pedras preciosas, entre outros. Há
prédios com 4, 9, 13, 22 e 15 andares. Sendo que os dois da esquina com a Av. Afonso
Pena são os maiores em altura (22 andares) e também em largura. Ademais, vale
ressaltar que o prédio da esquina, o qual foi a antiga sede do Banco de Minas Gerais
projetada por Oscar Niemeyer, foi tombado e conjurado à restauração. Considerando
que os demais prédios do quarteirão são antigos, a maioria deles se encontra em um
estado de conservação relativamente bom. Porém, há dois deles nos quais podem ser
vistas muitas pichações.
É possível notar que o mobiliário urbano do Maxakali (Figura 5) foi bem planejado,
diferentemente do da Praça Rio Branco, e majoritariamente distribuído nas
extremidades visando atender à população e liberar a circulação. Pode-se encontrar 18
telefones públicos — hoje pouco utilizados para sua finalidade original e acabam por
servir como suporte para fixação de cartazes —, 2 câmeras olho vivo (sendo uma delas
quebrada), 6 lixeiras em bom estado e dispostas regularmente, 6 bancos de pedra em
bom estado localizados no início do quarteirão e 1 banca de jornal. Há também uma
estrutura de metal no centro do local analisado que contém história e algumas fotos da
Praça Sete. Como a análise foi feita durante o dia, não foi possível a avaliação da
eficácia da iluminação nos períodos escuros, porém há postes de iluminação bem
dispostos ao longo do quarteirão e mais baixos que as copas das árvores, de forma que
não são escondidos por elas. Quanto à arborização, portanto, há uma boa quantidade de
árvores e estas estão mais concentradas do lado direito do quarteirão e próximo à
Avenida Afonso Pena. Elas se encontram nas extremidades, não atrapalhando o fluxo de
pessoas e possuem portes pequeno e médio.
Figura 5 – Quarteirão Maxakali da Praça Sete

Fonte: Acervo pessoal da Joyce Santos.


As calçadas são largas e bem conservadas e o revestimento é feito por blocos de
paralelepípedos sendo que, apenas uma faixa no encontro do quarteirão com a Avenida
Afonso Pena possui piso tátil. Além disso, a rua apresenta uma leve inclinação, o que
caracteriza movimentos de subida e descida pelas pessoas que ali transitam. Por fim, há
a presença de mesas de jogos de dama dispostas sob a marquise de um dos prédios,
colocadas ali pelas próprias pessoas que as utilizam, o que pode ser caracterizado como
uma manifestação da ocupação do espaço público.
Assim, de acordo com a análise feita, é possível notar uma preocupação maior com a
forma como as pessoas irão interagir com o espaço, por isso o cuidado com a
disponibilidade de bancos e outros mobiliários urbanos, como lixeiras. Isso, portanto, é
mais facilmente identificado no quarteirão Maxakali que na Praça Rio Branco, visto que
os dois locais possuem características e funções diferentes.

2.1.4Análise social do quarteirão Maxakali


Foi possível observar que o Quarteirão Maxakali possui duas funções principais
curiosamente contrastantes: a de passagem e a de permanência. A primeira delas é
facilmente observada no grande fluxo de pessoas que utilizam a rua apenas como um
corredor de acesso a outros lugares. A segunda característica, no entanto, é identificada
pela considerável quantidade de indivíduos que utilizam os bancos ali dispostos (Figura
5), também por aqueles que utilizam os comércios locais e ainda pelos que fazem uso
das mesas de dama, abordadas mais adiante.
Há uma maior concentração de trabalhadores de rua na extremidade próxima à
Avenida Afonso Pena devido ao maior fluxo de pessoas. Foi possível identificar uma
imagem (Figura 6) que marca o contraste do estabelecimento financeiro privado (Banco
do Itaú) com o público (calçadas). Em tal imagem, a "cama" de uma pessoa em situação
de rua se encontra posicionada em uma parte da fachada do banco. Um dos comércios
possui um equipamento anti ocupação por pessoas em situação de rua, mas no restante
das áreas de relações não foi possível identificar alguma segregação.
Figura 6 – Pessoa em situação de rua

Fonte: Acervo pessoal da Joyce Santos


Vale ressaltar que o local em pauta é um calçadão que não possui nenhuma área de
transição entre público (calçamento) e privado (comércio; edificações que cingem o
calçamento), conforme conceito apresentado por Herman Hertzberger, assim, o choque
entre esses diferentes espaços acaba sendo naturalizado no local do estudo. O mobiliário
urbano também acaba por se fundir nesse conceito, por exemplo, uma das vendedoras
utilizava um poste de iluminação como encosto e outro ambulante se apropriou de uma
das grades de proteção das árvores para utilizar de suporte para seus pertences.
A poluição sonora é muito presente ali devido ao grande trânsito de veículos na
Avenida Afonso Pena. Outra situação que contribui para isso, também, são alguns
vendedores que utilizavam o microfone como uma estratégia para atrair clientes e outros
que tentavam chamar atenção com o uso da alta voz. É ainda necessário destacar a
presença de um indivíduo que tocava violão e cantava em um dos bancos da praça. Em
relação a esse último, podemos destacar a atitude blasé dos transeuntes em relação a ele,
visto que eram poucas as pessoas que paravam o seu percurso para assistir à
apresentação. Assim, de acordo com Georg Simmel (SIMMEL, 1902) em “The
Metropolis and Mental Life”: “Isto [viver na cidade] resulta estímulo constante em
pessoas que estão sendo levadas a um estado onde elas não são mais capazes de reagir a
cada uma das coisas específicas que acontece com elas individualmente, em vez disso,
elas desenvolvem uma forma distante de observar as coisas ao seu redor: a atitude
blasé”. Tal comportamento, portanto, é muito presente na Praça Sete e é ainda
intensificado pela pressa das pessoas e pelo grande fluxo de indivíduos.
O principal conflito encontrado no local foi a permissão do trânsito de veículos
automotores (Figura 7 e 8) para o acesso a um estacionamento privado localizado no
centro do quarteirão. A área, que apresenta predominância de fluxo de pessoas, acaba
mostrando uma tensão quando veículos adentram o espaço, gerando um estranhamento
por parte dos transeuntes.
Figura 7 – Placa no quarteirão

Fonte: Acervo pessoal da Joyce


Figura 8 – Carros no quarteirão

Fonte: Acervo pessoal da Joyce.


No que tange à influência do fluxo de pessoas, o Banco Itaú tem uma participação
importante visto que grande parte daqueles que o utilizam acabam necessitando de
outros serviços ali presentes, como a papelaria que possui um grande foco no Xerox,
bastante necessário nas demandas bancárias. Além disso, o grande comércio de pedras
preciosas ali faz com que uma maior segurança seja necessária, de forma que esse
quarteirão fechado da Praça Sete é o único que apresenta policiamento, o que gera uma
maior sensação de segurança nas pessoas. Talvez por isso, o Maxakali seja o único dos
quatro que apresenta uma atividade de lazer: as mesas de dama (Figura 9). Ali, as
pessoas pagam um determinado valor e podem jogar no local indicado, o que contribui
para a permanência e concentração de indivíduos nessa área.
Figura 9 – Jogadores de dama

Fonte: Acervo pessoal da Joyce Santos


Dessa forma, o quarteirão analisado da Praça Sete possui uma diferença visível em
relação à Praça Rio Branco: uma maior delonga das pessoas no espaço, visto que esse
apresenta atividades de seu interesse e necessidade, ao contrário da praça mais perto da
Rodoviária, que foi planejada apenas como um local de acesso a outros.

2.2 Praça Rio Branco

2.2.1 Croqui do grupo


2.2.2 Delimitação da praça

A Praça Rio Branco, popularmente conhecida como “Praça da Rodoviária”, seria a


“entrada da cidade” segundo o plano de Aarão Reis, logo está localizada no início da
Avenida Afonso Pena, entre a Rua dos Caetés e a Rua Curitiba (Figura 10).

Figura 10 – Delimitação da Praça Rio Branco.

Disponível no Google Maps

2.2.3 Análise espacial da Praça Rio Branco

A praça está situada no bairro Centro, região Centro Sul de Belo Horizonte,
próxima aos bairros Barro Preto, Carlos Prates, Lagoinha, Colégio Batista e Floresta. A
praça, que conta com uma área aproximada de 5.000m2 (descontando-se o corredor do
Move), fica em frente à Rodoviária de Belo Horizonte. Possui fácil acesso ao metro e as
estações do Move BH e Move Metropolitano.

Circundada por vários tipos de comércio ao longo de suas ruas delimitadoras, a


praça fica próxima ao prédio da RISP (Região Integrada de Segurança Pública),
construído a 90 anos para abrigar inicialmente a alfândega de Minas Gerais; a um antigo
hotel – Excelsior – que hoje abriga um centro de formação profissionalizante
(CEDIPRO) e um residencial composto por Lofts; prédio de estacionamento; um
shopping popular (Uai Shopping); entre outros.

Possui árvores de pequeno e médio porte, e dois jardins laterais com


predominância de grama (Figura 11). É arejada e sombreada nas bordas, onde estão
localizados os bancos; e é bem quente na área de passagem, escadas e rampas, uma vez
que nesses locais não tem nenhum elemento de sombreamento. A praça fica em local
com topografia pouco acidentada, contando com rampas e escadas para acesso à parte
plana. O acesso das calçadas laterais à parte central e plana da praça é feito por planos
inclinados. Sendo que, algumas dessas características se assemelham ao quarteirão
Maxakali da Praça Sete, como: a presença de árvores, sombras, bancos e a relativa
topografia acidentada.

Figura 11 – Praça Rio Branco

Disponível em:
<https://img.r7.com/images/2014/11/10/228l7ao7ya_6o10rcym93_file.jpg?dimensions=460
x305> Acesso em 19 de Setembro de 2017.

A região é predominantemente comercial e de prestação de alguns serviços, se


assemelhando bastante com a praça Sete nesse quesito. Próximos à praça há
predominância de comércio de caráter popular, diversas drogarias, mas também
encontra-se lanchonetes, hotéis, estacionamento, cursos profissionalizantes e
recentemente um condomínio com residências tipo lofts. Logo, a região é mais
verticalizada, contando com alguns exemplares de dois pavimentos, e em sua maioria
prédios de quatro a oito pavimentos e dois prédios com aproximadamente vinte
pavimentos. Os prédios mais antigos, e que abrigam comércios diversificados não
possuem bom estado de conservação das fachadas. Já os prédios mais novos ou de uso
exclusivo de uma atividade comercial possuem melhor estado de conservação.

A praça possui bancos nas extremidades próximas a Av. Afonso Pena, algumas
lixeiras próximas aos jardins e as áreas de circulação e dezenove postes de iluminação.
A escada e rampas de acesso possuem corrimão, entretanto o piso é bem irregular. No
centro da praça há um monumento com 21m de altura, denominado “Liberdade em
Equilíbrio”, que divide os fluxos de passagem.

As ruas que circundam a praça são largas e em geral com sentido único de
circulação, são asfaltadas e encontram-se em bom estado. Possuem boa sinalização para
veículos e pedestres e faixas de pedestres bem demarcadas em todos os cruzamentos. As
calçadas das ruas são largas e bem pavimentadas, entretanto alguns mobiliários, como
os telefones públicos, dificultam a passagem em horários de maior movimento. Por fim,
é importante ressaltar que há uma ciclovia no entorno.

2.2.4 Analise social da Praça Rio Branco.

Os frequentadores da praça são em geral homens e mulheres com idade entre 30


e 60 anos, aparentemente de menor renda. A praça também serve de abrigo para pessoas
em situação de rua (Figura 12), que são mulheres e homens mais velhos, estes usam o
monumento central como abrigo, e também se espalham próximos as árvores e jardins
laterais.
Figura 12 – Pessoa em situação de rua na Praça Rio Branco

Disponível em: < https://homensapiens.files.wordpress.com/2011/03/prac3a7a-


rio-branco.jpg> Acesso em 17 de setembro.

Na praça há uma barraca que é utilizada como ponto de vendas especiarias e


temperos do Norte do Brasil, ademais, alguns comerciantes ambulantes transitam em
torno da praça na tentativa de conseguir vender os seus produtos. O que nos faz
mencionar um dos principais conflitos existentes na Praça Rio Branco e também na
Praça Sete: a prefeitura que busca por acabar com o comércio ambulante e os
ambulantes que recusam a se deslocarem para shoppings populares devido ao tipo de
comércio que eles praticam e o aluguel exorbitante que eles teriam que pagar após cinco
anos de uso.

Além disso, outro conflito relevante que ocorre na Praça Rio Branco (porém esse
já não é relatado no quarteirão Maxakali) é das de atividades ilícitas, como venda de
drogas (que apesar de não ter sido identificado durante a observação, há relatos
constantes sobre) versus a polícia militar que circunda muito pelo local (ainda sim a
sensação de insegurança persiste) devido a Região Integrada de Segurança Pública.

A praça é bem segregada podendo facilmente identificar os grupos de usuários.


Pelos eixos centrais e circulação lateral – contornando o monumento central -
concentram-se as pessoas que estão de passagem pela praça, que se deslocam em um
ritmo acelerado, com olhar fixo ao local de destino, demonstrando o caráter Blasé
(SIMMEL, 1902). Na parte baixa, ao lado da Rua dos Caetés concentram-se pessoas
que desenvolvem atividades ilícitas, que se relacionam com os moradores de rua e se
mostram atentos a toda movimentação no local, principalmente a presença de militares.
Outro grupo é formado por homens, que utilizam a praça de forma mais constante,
concentrados nos bancos e nas muretas dos jardins, onde há uma área sombreada.
Apesar dos bancos serem grandes, a maior concentração de pessoas se dá nas muretas e
corrimão, pois os bancos delimitam a praça e a calçada e podem ser facilmente
acessados por pessoas que estão passando, o que os torna um pouco inseguros.

Apesar de um fluxo intenso de pedestres e veículos, não há pontos de ônibus, taxi ou


qualquer outro que estabeleça pontos de parada, espera ou permanência. Com isso o
fluxo tanto de pedestres, quanto de veículos é rápido, fazendo da praça apenas um local
de passagem, o que demonstra que, apesar do mobiliário, a praça não é convidativa e é
insegura para os que passam por ali, diferentes do quarteirão Maxakali da Praça Sete,
em que muitas pessoas utilizam os bancos e ocupam diversos espaços. Para os que
moram na praça, os bancos semicirculares dificultam que eles durmam sobre essas
superfícies, o que mostra que até mesmo o Estado tende a criar ferramentas anti
ocupação de pessoas que estão em situação de rua. Para os que permanecem
temporariamente na praça, a posição dos bancos também não transmite segurança.

3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A percepção, originada do latim percptione, descreve o ato ou ação, efeito ou a


capacidade de um individuo perceber alguma coisa no espaço e tempo, tendo a
habilidade de interpretar os sinais e movimentos, as zonas e hábitos. A percepção do
comportamento humano em uma determinada área, e suas habilidades em usufruir dos
equipamentos ali expostos, toma tempo e observação. O ato de fracionar o momento,
esquecer o eu e focar no coletivo cria uma capacidade de inter-relações, somando as
atividades e a atuação humana em um determinado campo.

O trabalho de campo realizados nas duas áreas ( Praça Sete de Setembro e praça
Rio Branco) nos trouxe observações em relação as suas funções e como ambas tem
espacialidade distintas, entendemos como principais diferenças a forma espacial que
ambas diferem, e a localização, localizadas na região centro-sul de Belo Horizonte, mas
em áreas totalmente distintas.

A apropriação desses lugares é feita de maneiras distintas e curiosas. O ser


humano usufrui do mobiliário e espaço urbano de maneira interessante e divertida,
como as grades que servem de apoio para mercadorias ou relaxamento, as paredes e
telefones públicos como uma tela para a liberdade artística, publicidade e pichações,
usufruindo do espaço publico a sombra de uma marquise como área para jogar damas,
apostar e encontrar amigos e até mesmo uma obra de arte ( escultura Liberdade em
equilíbrio- Praça Rio Branco) como abrigo temporário ou até mesmo duradouro.

Ambas encontram-se entre grandes fluxos, sendo pontos intermediários de


comércios e ruas da cidade, assim tem como características o grande fluxo de pessoas,
que utilizam do espaço como corredores de conexão. Se por um lado ambas exalam
movimento, trazem também certa tranquilidade de permanência- tomando fato à
segurança, a Rua Rio de Janeiro se mostra mais convidativa ao encontro e permanência
no local. A Praça Rio Branco dispõe de mobiliários urbanos que convidam a
permanência, mas a constante utilização do espaço por usuários de entorpecentes e o
enorme barulho causado pelo transito circundante, desconvida o cidadão.

Nos dias atuais as praças urbanas se distanciam cada vez mais de suas
funcionalidades originais. Os dois sítios estudados revelam certo abandono ao
pensamento urbanístico e social, eles não geram nenhuma conexão entre as pessoas e o
espaço, fazendo com que sua função original fosse abandonada.

Tomar uma parcela do nosso tempo para o estudo desses lugares transforma e
evoluiu nossas percepções e nossa capacidade de observação dos espaços, tentamos
destruir dentro de nossas concepções o conceito de cidade maquinaria, que é vista
apenas como um mapa, onde se dispõe os mobiliários e espaços públicos. Buscamos
agora a percepção da cidade como espaço social, onde cada área tem suas
particularidades e problemáticas, sendo elas tratadas e resolvidas de maneiras diferentes.
Instiga então nossa assimilação do passado, presente e futuro, evoluindo nossos
conceitos e técnicas.
A cidade não pode ser vista meramente como um mecanismo físico e uma
construção artificial. Esta é envolvida nos processos vitais das pessoas que a compõe: é
um produto da natureza e particularmente da natureza humana (PARK, 1999)

4- REFERÊNCIAS

HERTZBERGER, Herman. Lições de arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

PARK, R. (1999). La ciudad y otros ensayos de ecología urbana. Barcelona:


Ediciones del Serbal. Numeral 3, a comunidade urbana. Página 89-100

Prefeitura de Belo Horizonte. Praça Rio Branco. Disponível em: <


http://www.belohorizonte.mg.gov.br/local/atrativos-turisticos/culturais-lazer/praca-rio-
branco> Acesso em 16 de set. 2017.

Prefeitura de Belo Horizonte. Praça Sete de Setembro. Disponível em: <


http://www.belohorizonte.mg.gov.br/local/atrativos-turisticos/culturais-lazer/praca-sete-
de-setembro> Acesso em 16 de set. 2017.

SIMMEL, G (1902). As grandes cidades e a vida do espírito. Mana vol 11. N° 2 Rio de
Janeiro. Outubro.

VIERO Verônica, FILHO Luiz. Praças Públicas: origem, conceitos e funções.


Jornada de pesquisa e extensão. ULBRA, Santa Maria- RS. Disponível em: <
http://www.ceap.br/material/MAT1511201011414.pdf> Acesso em 16 de setembro.

YOKOO Sandra, CHIES Cláudia. O papel das praças públicas: estudo de caso da
praça Raposo Tavares na cidade de Maringá. IV Encontro de produção científica e
tecnológica. Maringá- PR. Disponível em: <
http://www.fecilcam.br/nupem/anais_iv_epct/PDF/ciencias_exatas/12_YOKOO_CHIE
S.pdf> Acesso em 16 de set. 2017.
5- ANEXO

Croqui da Praça Sete- Quarteirão Maxakali


Ana Luiza Corrêa Alves
Croqui da Praça Rio Branco

Ana Luiza Corrêa Alves


Croqui da Praça Sete- Quarteirão Maxakali
Gabriel Corrêa Marsom Leite
Croqui da Praça Rio Branco

Gabriel Corrêa Marsom Leite


Croqui Praça Sete- Quarteirão Maxakali
Giovanna de Paula Lopes
Croqui da Praça Rio Branco

Giovanna de Paula Lopes


Croqui da Praça Sete- Quarteirão Maxakali

Joyce Santos Costa


Croqui da Praça Rio Branco

Joyce Santos Costa


Croqui da Praça Sete- Quarteirão Maxakali

Isabela Catarina Fernandes Oliveira


Croqui da Praça Rio Branco

Isabela Catarina Fernandes Oliveira


Croqui da Praça Sete- Quarteirão Maxakali

Tereza Gouveia Vasconcelos de Souza.


Croqui Praça Rio Branco

Tereza Gouveia Vasconcelos de Souza.

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