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Ação – Adão

O silêncio de Adão é o começo da falha de cada homem, da rebeldia de Caim à impaciência de


Moisés, da fraqueza de Pedro até a minha falha ontem em amar bem a minha esposa. E é um
retrato – um retrato inquietante mas revelador – da natureza de nosso fracasso. – Larry Crab

E ele respondeu: "Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por isso
me escondi". - Gênesis 3:10

O homem foi criado por Deus para ser protagonista, tanto é que a Bíblia nos mostra Deus
dando tarefas para o homem, logo assim que este foi criado – “E disse Deus: Façamos o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e
sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move
sobre a terra. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a
terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o
animal que se move sobre a terra”. Gênesis 1.26, 28 - Daí, então, entendemos que o homem
tem um chamado, um papel a realizar.

Certa vez, viajei a serviço, para uma outra cidade, onde ficaria ali, mais ou menos três dias.
Nesta cidade, morava uma filha de um antigo amigo meu de escola, alguém que tenho como
uma sobrinha minha, já casada e mãe de filhos e agora, por conta da minha viagem, eu poderia
revê-la, matar as saudades. Chegando na cidade, meu “sobrinho”, marido da minha “sobrinha”
(ele sempre me chamou de tio, creio que para se aproximar mais de mim, cativando assim o tio
postiço, mas protetor) foi me buscar no aeroporto e me levou para almoçar em sua casa. Essa
“sobrinha” é uma cozinheira extremamente prendada e tal convite, meu estomago jamais
permitiria que eu recusasse. Quando cheguei na casa deles, fui recebido com todo o carinho
pela “sobrinha” que não via há tempos, juntamente com suas crianças, meus “sobrinhos netos”!
Estávamos nos preparando para sentarmos à mesa, quando toca o telefone fixo da residência.
Como o telefone insistia em tocar, e vi que o “sobrinho”, que estava ao meu lado não atendia,
fiquei intrigado para tentar descobrir quem teria a árdua tarefa de retirar o telefone do gancho e
pronunciar “Alô! ”. Vi o “sobrinho” então chamar a “sobrinha” discretamente e pedir que ela
atendesse. Notei então que ele não estaria disposto a conversar com alguma pessoa naquele
momento pelo telefone. Comprovada a minha observação e a “sobrinha” atendendo o telefone,
pude notar então que um espírito “adâmico” se apossara do marido da minha “sobrinha”. Ele
pedira-lhe que atendesse o telefone, pois se tratava do senhorio da casa, que estava ligando
para saber do pagamento do aluguel em atraso. Enquanto ela mentia para o senhorio dizendo
que ele não estava, o “sobrinho” gesticulava, tentando mostrar a sua habilidade com Libras, na
tentativa de fazer sua esposa dizer para o senhorio que ele somente voltaria tarde da noite.
Terminada a ligação, sentamo-nos à mesa, num clima terrível de constrangimento. Aquele
quase foi um dos almoços mais caros da minha vida, pois saindo dali, fui com meu “sobrinho”
ao banco, saquei um dinheiro da minha conta pessoal e entreguei a ele para que ele honrasse
o aluguel. Expliquei a ele nosso papel como homens e o fiz entender que aquele dinheiro era
apenas emprestado (ou seja, ele teria a obrigação de me pagar e que eu não cairia no truque
do não atendimento da ligação telefônica). Graças a Deus ele entendeu cada detalhe a
aprendeu direitinho a lição, vencendo na sua vida esse espírito adâmico, de silêncio e omissão.

Do homem se espera que seja ele o guardião, o provedor, o cabeça da família, o chefe do lar,
tudo isso desde os primórdios da civilização. Tanto é que, mesmo antes de Deus criar Eva, Ele
tem uma “conversa séria” com Adão em relação àquilo que seria mais uma das suas funções
no Jardim do Éden, conforme lemos: “E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do
Éden para o lavrar e o guardar. ” – Gênesis 2.15. Preste atenção a este texto. Existe uma
ordem de Deus para que ele não apenas CULTIVE, mas GUARDE o Jardim. Mas, guardar o
jardim do que? Ou de quem? Se Deus pede à Adão que GUARDE o jardim, é porque de uma
forma ou de outra havia algum perigo rondando! Ninguém pede para que se guarde algo se
não existe um perigo real. Deus não pediria a Adão para GUARDAR o jardim, se o jardim não
estivesse sendo ameaçado por alguma coisa…Deus dá uma ordem a Adão que demanda um
posicionamento da parte dele. O jardim nada mais era o lugar onde Deus habitava junto à Sua
criação! Um lugar sagrado, onde no final de cada dia, Deus se mostrava e estaria junto com
ele!

Mas não é preciso ser criacionista para concordar com isso, para se concordar que Deus fez o
homem para a ação, pois o papel da ação, da provisão, da defesa, é desempenhado pelo
homem, desde que ele se entende como gente! Numa pesquisa para a Revista Proceedings of
the National Academy of Sciences (PNAS)1, usando modelos matemáticos, o russo Sergey
Gavrilets, biólogo evolucionista da Universidade do Tennessee (Estados Unidos), relevou que a
maioria das teorias propostas para o relacionamento humano não é realista do ponto de vista
biológico. O pesquisador construiu um modelo matemático mostrando como a formação de
laços pode representar uma adaptação chave na evolução humana.

Antes da formação de pares, os ancestrais do ser humano se relacionavam de forma


promíscua. Os homens disputavam as fêmeas entre si, e essa era uma luta baseada em
características físicas: vencia o mais forte.

De acordo com Gavrilets, a transição desse tipo de convivência para o modelo que depois deu
origem à família dos dias atuais aconteceu quando fêmeas passaram a ser mais fiéis e a
preferir os machos que oferecessem melhores condições de sustento. Ou seja – era esperado
do macho da espécie um posicionamento diferenciado, havia uma expectativa da fêmea em
relação ao desempenho do seu futuro parceiro – Ação da fidelidade e ação do suprimento.
Preste bem atenção nisso – as famílias começaram a se fundamentar, segundo a pesquisa de
Gavrilets, em maridos fiéis e supridores. Esses tinham a preferência das esposas. Vemos aqui,
de uma maneira clara, o chamado à ação na vida do homem, do macho.

Diante desse papel, desse chamado à ação, o homem sempre conviveu com a antítese disso –
a omissão. A omissão é um substantivo feminino, que tem por definição:

1 - Ato ou efeito de não mencionar (algo ou alguém), de deixar de dizer, escrever ou fazer
(algo).

2 - Ato ou efeito de deixar de lado, desprezar ou esquecer; preterição, esquecimento.

O primeiro desafio que vamos avaliar é então o Desafio da Ação, ou seja – a necessidade de o
homem exercer seu papel, cumprir seu propósito, sem se esconder atrás de desculpas, sem se
calar ou se omitir.

Quando olhamos para o homem Adão, vemos claro Deus estabelecendo papéis para ele – o
papel de cabeça, de provedor, de marido. A Bíblia, entretanto, não nos dá muitos detalhes da
rotina diária de Adão. Entendo que, daquilo que a Bíblia não fala, é porque está tudo certo.
Minha mãe sempre diz: “Quando não se tem notícias, é porque está tudo bem! ” Então o dia a
dia de Adão ia transcorrendo de maneira tranquila – ele cuidava do Jardim do Éden, dominava
todos os animais, convivia com Eva, tudo transcorrendo às mil maravilhas.

O que vemos no Livro de Genesis é que tudo o que acontecera até então fora criado através da
Ação (o falar de Deus). Deus falava e o caos ia tomando forma, Deus falava e os animais iam
aparecendo. Entretanto, Adão não nasce apenas de uma palavra, mas sim de uma ação efetiva
das mãos de Deus – “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.” Gênesis 1.27 e “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra,
e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” - Gênesis 2.7,
pelo que então, compreendemos o seguinte – no homem está estabelecido não apenas o falar,
mas também o agir. Deus fala e acontece, Deus age, então no pó da terra e o homem
acontece. No homem foi estabelecida a imagem e semelhança da trindade divina – “Disse mais
Deus: Façamos um homem, um ser semelhante a nós, e que domine sobre todas as formas de
vida na terra, nos ares e nas águas. ” – Gn 1.26 (versão O Livro). Agora, curiosamente, qual é
o grande problema do homem, através dos tempos – se calar e deixar de agir. É o homem que
se cala e não consegue expor seus sentimentos. É o homem que se cala e não consegue
dialogar com a mulher que Deus lhe deu. E outras tantas vezes, é o homem que se omite, se
escondendo atrás de desculpas inteligentemente elaboradas.

Onde estava Adão, quando a serpente começa a seduzir Eva? Será que a sua agenda era tão
apertada que ele, já não tinha tempo para sua esposa? Seus afazeres diários, a atualização
das redes sociais ou até mesmo a necessidade de horas extras para honrar os compromissos
da sua casa, o obrigavam a estar distante da sua esposa, a única pessoa que existia então na
terra? A Bíblia, na Versão King James nos diz que Adão estava ao lado de Eva, em sua
companhia:

“Quando a mulher observou que a árvore realmente parecia agradável ao paladar, muito
atraente aos olhos e, além de tudo, desejável para dela se obter sagacidade, tomou do seu
fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que estava em sua companhia, e ele igualmente comeu”
– Gênesis 3.6

Mas as opiniões se dividem.... Ainda que esta versão seja clara, mostrando que Adão estava
ao lado de Eva, juntamente com outros pastores, escritores e comentaristas como R. Kent
Hughes2, John H Walton3 e Julie Faith Parker4, outras personalidades do mundo cristão
afirmam veementemente que Adão não estava com Eva, nesse momento crucial para a
humanidade, João Calvino, John Wesley e C. Leupold, entre outros.

Opiniões divididas, questionamentos lançados – estava Adão com Eva ou não?

Vemos que o problema não está, primeiramente na presença ou não de Adão, no momento do
fatídico diálogo da tentadora serpente com a primeira mulher Eva; mas sim no silêncio e na
omissão de Adão. Ora, se ele, Adão presenciou o tal diálogo, porque ele não interferiu,
dissuadindo sua mulher de obedecer à serpente ao invés de obedecer a Deus? Se Adão
estava lá, porque ele se calou?

Mas imaginemos então que ele não estivesse. Onde estava Adão, se Deus havia dado a
mulher a ele para que esta lhe fosse ajudadora, mas também parceira. “Disse o homem: "Foi a
mulher que me deste por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu comi".- Gênesis
3.12 – NVI - Note que a frase “por companheira” é traduzida do hebraico ‘immadi' que tem a
ideia de parceria e mutualidade.

Nosso foco não é a discussão teológica, mas sim a falta de atitude, a omissão de Adão. Adão
falha em não falar, em deixar Eva só e mais ainda, em não interceder diante de Deus por sua
mulher, carne da sua carne e ossos dos seus ossos.

Eu poderia até romancear a situação, dizendo que Adão seria um Romeu Montecchio
precursor, - numa alusão ao famoso romance de Shakespeare, Romeu & Julieta-, que por tanto
amar Eva, se deixa levar pelo fruto proibido, para que sua amada não fosse condenada só,
mas para que ele morresse com ela. Mas essa não seria a verdade. Um homem que tanto ama
sua mulher deve se posicionar por ela. Entregar-se à morte, literalmente não é a saída, pois a
ação que Deus requer de nós, como homens do presente tempo é outra - posicionamento.
Jesus Cristo já morreu por todos nós – “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado
em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de
que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido. ” Gálatas 3.13-14. Um marido que ama sua
esposa, um pai que ama seus filhos, um sacerdote que ame sua casa, deve se posicionar por
ela, defendendo-a e honrando-a! Adão falha, pois se cala, se omite, deixa de agir. A mulher foi
iludida, enganada pela serpente? Sim! Mas Adão foi o omisso – “E Adão não foi iludido, mas a
mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. ” 1 Timóteo 2.14

Não fosse essa ação já suficiente, lendo o livro de Genêsis, encontramos outra manifestação
inusitada da falta de ação de Adão:

“Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: "Vamos para o campo". Quando estavam lá, Caim
atacou seu irmão Abel e o matou. ” – Gênesis 4.8
Onde estava Adão enquanto Caim, seu primogênito, matava Abel? Mais uma vez não
encontramos um eco de resposta, uma ação, agora de um pai, na educação de seus filhos. A
história problemática de Caim não começa com a morte de seu irmão Abel, mas sim naquilo
que podemos entender ter sido uma fraca educação. A história de Caim começa no 4º.
Capítulo do Livro de Gênesis, com o episódio da entrega das ofertas, sua e de seu irmão, Abel.
Muito se tem falado, pregado e ensinado sobre essas ofertas e a questão da aceitação de
Deus. Antes de mais nada, precisamos entender o seguinte – Deus se agrada (e se desagrada
também) das nossas atitudes. Deus tem seus gostos e precisamos conhece-Lo, na Sua
intimidade, se queremos agrada-lo! Aristóteles escreveu em Ética a Nicômaco, sua principal
obra sobre o assunto da ética, por volta de 325 AC, o seguinte: “Dos apetites, alguns parecem
comuns e peculiares aos indivíduos e adquiridos... nem todos anseiam por esta ou aquela
espécie de alimento ou amor, nem pelas mesmas coisas. Por isso, tal anseio, parece ser uma
questão inteiramente pessoal. No entanto, é muito natural que assim seja, pois diferentes
coisas agradam a diferentes indivíduos, e algumas são mais agradáveis a todos que alguns
objetos tomados ao acaso”. Ora, isso pode parecer-nos muito claro, em se falando de seres
humanos – pessoas tem gostos peculiares, coisas específicas que lhes agradam, mas às
vezes nos esquecemos de algo essencial: Deus tem sentimentos! Ele se entristece: “Quantas
vezes se rebelaram contra ele no deserto e nos lugares áridos lhe causaram tristeza! ” -
Salmos 78.40 – Ele se agrada de certas ações que realizamos: “Não se esqueçam da prática
do bem e da mútua cooperação, pois de tais sacrifícios Deus se agrada.” - Hebreus 13:16 –
Ele se alegra – “Meu filho, seja sábio e alegre o meu coração, para que eu saiba responder
àqueles que me afrontam.” - Provérbios 27:11. Por isso, conhecer a Deus é uma ação
essencial, se queremos verdadeiramente agrada-Lo. Ora, de quem é a tarefa de apresentar
Deus a um filho biológico, se não seu próprio pai biológico? “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus,
de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te
ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua
casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal
na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e
nas tuas portas”. - Deuteronômio 6.5,6. Então eu pergunto: Será que Adão apresentou
corretamente Deus ao seu filho primogênito, Caim?

A Bíblia não traz detalhes sobre a educação da criança, do adolescente, do jovem, do filho
Caim, mas nos deixa claro algumas situações:

“Depois, deu à luz Abel, irmão de Caim. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi agricultor.
Aconteceu que, ao fim de um certo tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor.
Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. O Senhor se
agradou de Abel e de sua oferta, mas de Caim e de sua oferta não se agradou. Caim ficou
muito irritado e fechou a cara.” - Gênesis 4:2-5 – NAA

A profissão de Adão, agricultor, foi a mesma seguida por seu filho Caim. Até aí, podemos
entender até um motivo de certo orgulho para um pai, ver um filho trilhar o seu caminho, temos
até uma idéia de sucessão e continuidade. Caim oferece uma oferta do fruto da terra, pois
aquilo foi o que ele aprendeu com seu pai biológico – plantar e consagrar ofertas ao Senhor!
Até aí, nada aparentemente de errado.... Um filho que aprende com seu pai a se relacionar
com Seu Deus..., Mas Deus espera que nós sempre vamos além. “Seja como for, andemos de
acordo com o que já alcançamos.” - Filipenses 3:16 – ou seja, se na sua caminhada de hoje
você deu cinco passos, amanhã você não pode dar quatro ou três passos! O teu chamado para
amanhã é para seis passos! Isso é andar de acordo com aquilo que alcançamos.

A oferta de Abel era composta das primícias e da gordura do rebanho. Ora, enquanto Caim
simplesmente colhera algo da terra e trouxera ao Senhor, Abel para entregar a sua oferta,
precisou matar um cordeiro. Onde Abel aprendeu isso? Com Deus! Pois o primeiro cordeiro
morto na história da humanidade foi morto por Deus, para que vestes pudessem ser feitas para
Adão e Eva, tirando deles a vergonha propiciada pelo pecado. “E fez o Senhor Deus a Adão e
a sua mulher túnicas de peles e os vestiu” - Gênesis 3.21 – O pai biológico ensinara apenas o
natural – oferta da terra, mas o pai espiritual ensinara a oferta que tira a vergonha, reconecta o
homem a Deus, a oferta que verdadeiramente agrada a Deus! Como pais, precisamos ensinar
nossos filhos a irem além, não apenas a fazerem o trivial. E isso, somente é possível através
do nosso exemplo como homens. Mas você pode dizer uma coisa – como Abel aprendeu e
Caim não? Digo a você, querido leitor que, independente da resposta dos filhos, a
responsabilidade sempre será do pai. Se um filho aprendera a lição corretamente e outro não,
o pai Adão deveria ter notado isso e se esforçado, para que ambos pudessem não apenas
aprender, mas executarem no mesmo nível.

Onde estava Adão, quando deveria ter ensinado seus filhos? Vemos um Caim mimado, um
“homem infantil”, que se magoa quando é corrigido por Deus!

“Um dos nossos piores problemas modernos é o homem infantil que persiste em seus
caminhos de infância. Ele se casa, mas se recusa a amadurecer. Abusa de sua esposa e
filhos. Reproduz seu pobre personagem em seus filhos. Ele abandona sua família. Não
termina o problema na sua geração, mas o multiplica pelas gerações seguintes”. Ronald W.
Kirk, pastor da American Heritage Christian Church

Como pais, não podemos criar nossos filhos debaixo de um protecionismo excessivo, que os
livre de responsabilidade e de responderem por suas atitudes. Por conta disso, o próprio Deus
alertou Caim:

“Então o Senhor lhe disse: — Por que você anda irritado? E por que essa cara fechada? Se
fizer o que é certo, não é verdade que você será aceito? Mas, se não fizer o que é certo, eis
que o pecado está à porta, à sua espera. O desejo dele será contra você, mas é necessário
que você o domine”.- Gênesis 4:6,7

“Se inventarmos desculpas para o pecado e o mau comportamento da criança, em vez de


corrigi-la, criaremos um monstro em vez de uma criança piedosa. ” 8 - Seja Caim, sejam os
filhos de Eli, Hofni e Finéias, as “irmãs” da Cinderela, Anastácia e Drizela. A má conduta, a
omissão da parte do pai trará, com certeza sérios prejuízos.

E como “um abismo chama outro abismo” – Salmo 42.7, Caim vai afundando mais e mais na
sua falta de caráter. Ele premedita de maneira cruel o assassinato do irmão, o chamando para
ir ao campo, e uma vez, tendo matado seu irmão e posteriormente sendo inquirido por Deus,
responde ainda de maneira dissimulada. “O Senhor disse a Caim: — Onde está Abel, o seu
irmão? Ele respondeu: — Não sei; por acaso sou o guardador do meu irmão? ” - Gênesis 4:9 –
Caim torce um princípio correto (o mais velho cuidar do mais novo), para esconder o seu crime,
a sua transgressão.

Eu tinha por volta de quatro anos. Na época, éramos apenas dois irmãos. Eu e José Augusto,
meu irmão que é sete anos mais velho do que eu. Apesar da grande diferença de idade, havia
uma grande rivalidade entre nós dois. Era um aprontando contra o outro. Minha mãe sempre
gostou de plantas (herdei dela essa aptidão) e na época, final da década de 60, era moda o
cultivo de antúrios (Anthurium andraeanum). Certa manhã, num acesso “arteiro” de criança,
destruí por completo um belíssimo exemplar de Antúrios da coleção de minha mãe, picando
suas folhas verdes por completo. Uma obra que faria qualquer lagarta se sentir envergonhada!
Quando me dei conta do que eu havia feito e contemplando minhas mãozinhas fofinhas,
gordinhas, mas completamente verdes, da clorofila da planta, entendi que precisaria criar uma
saída, um escape, algo que salvasse a minha vida com urgência. Eu sabia que era
culpado. Mas a dor antecipada da correção era demais para suportar. Portanto, arquitetei uma
mentira para cobrir a minha iniquidade. Imediatamente, me apresentei à minha mãe,
tentando esconder atrás do meu corpo as mãozinhas que pareciam as mãos do Hulk, de tão
verdes que estavam, e já fui alegando minha inocência: “Fui eu não, mamãe, foi Zé (numa
alusão ao meu irmão mais velho)! “Fui eu não, mamãe, foi Zé! E repeti tal frase diversas
vezes, pois eu achava que minha insistência iria convencer de imediato a colecionadora de
Antúrios. Até que ela me perguntou: “O que é que não foi você? ” Ao que eu disparei “Fui eu
não, mamãe, foi Zé, quem picou a planta da mamãe. Vem vê! ” E com o dedinho todo verde,
apontei para a varanda onde jazia o finado Antúrio, tendo suas folhas picadas e espalhadas
como um tapete, pelo piso de tábua corrida! O crime teria sido perfeito se não fossem as
evidências verdes nas minhas mãos – se um assassino tem mãos sujas de sangue, um
destruidor de plantas tem mãos sujas de clorofila, além de que o meu irmão Zé estava na
escola... quase deu certo, por pouco! E como o crime não compensa, tive meu bum bum
aquecido por umas boas palmadas. Nunca mais destruí plantas. Pelo contrário, passei a amá-
las até os dias de hoje!

Entendo que faltou posicionamento para Adão na criação dos seus filhos. Como pais,
jamais devemos ser omissos. Como pais, devemos viver a verdade e também ensinar
aos nossos filhos sinceridade como uma questão de rotina. A sinceridade precisa ser um
exercício de fé. Os primeiros pecados da criança, deixados sem correção, levam a uma
consciência que tolerará pecados cada vez maiores.

E quando Caim é cobrado, quanto à responsabilidade do seu ato, ou seja, o assassinato do


seu irmão, ele grita: “Grande é minha culpa ser suportada! ” Gênesis 4:13 – mais uma ação
típica da criança mimada, do menino Caim, que não fora ensinado a crescer. Embora ele,
Caim, estivesse pronto para fazer qualquer coisa para satisfazer suas paixões egoístas,
percebemos que ele não estava de modo algum pronto para aceitar as consequências de suas
próprias ações.

A omissão de Adão não lhe custou “apenas” a expulsão do Jardim do Éden, a quebra do seu
relacionamento com Deus, mas trouxe também a dor da morte para sua descendência, com a
perda de Abel e o afastamento de Caim, que passou a viver como fugitivo.
Nosso primeiro desafio é vencer o espírito de Adão, esse espírito que nos impede de agir,
trazendo o silêncio e a omissão! Se por conta de Adão, ficamos vulneráveis à omissão, em
Cristo Jesus nós temos a vitória!

“Assim também está escrito: O primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente; o último Adão,
espírito vivificante. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, traremos também a
imagem do celestial. ” 1 Corinthios 15.45 e 49

Referencias:
1–
Revista PNAS 19 de junho de 2012;
2–
3 - O Mundo Perdido de Adão e Eva. O Debate Sobre a Origem da Humanidade e a Leitura de
Gênesis
4 - JOURNAL ARTICLE
Blaming Eve Alone: Translation, Omission, and Implications of ‫ עמה‬in Genesis 3:6b
JULIE FAITH PARKER
Journal of Biblical Literature
Vol. 132, No. 4 (2013), pp. 729-747
5 John Calvin e John King, Commentary on the First Book of Moses Called Genesis
(Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2010), 151–52.
6 John Wesley, Explanatory Notes Upon the Old Testament (Bristol: William Pine, 1765), 1:15.
7 C. Leupold, Exposition of Genesis (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1942), 152–53.
8 Chauncey A. Goodrich, “A Vida e Testemunho de Noah Webster” em Ensinar e Aprender a
História Cristã dos Estados Unidos (São Francisco: Fundação para a Educação Cristã
Americana, 1975), p. 294.

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