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III COMPETIÇÃO DE ARBITRAGEM NO AGRONEGÓCIO CAMAGRO

RESUMO DO CASO

REQUERENTE: CASA NOVA


REQUERIDA: HARVEST COTTON

A REQUERENTE é um produtor rural reconhecido por sua produção de algodão,


sobretudo pela alta qualidade atrelada às suas fibras. A REQUERENTE possui 150.000
hectares de área plantada, espalhados em quatro regiões distintas.
Importante ressaltar que as diferentes regiões produtivas sofrem com uma
diferença na incidência solar, em virtude da padronização e da não adequabilidade,
integral, da semente, gera um desnível na qualidade da fibra e, com isso, perdas
financeiras.
A REQUERENTE, ainda em 2014, já tinha dado início a um grande projeto de
desenvolvimento de tecnologia de sementes, de modo a corrigir os impactos
produtivos atrelados à diferença na incidência solar em suas áreas de produção. Em
Abril de 2018, a REQUERENTE alcançou seus objetivos.
Todavia, em 1 de Agosto de 2020, a REQUERIDA se recusou a proceder com a
entrega dos 1.250 quilos da semente CAM2019, muito embora o produto já estivesse
todo quitado.
A REQUERIDA informou que só iria realizar a entrega das sementes caso
recebesse o pagamento de royalties decorrentes das sementes "Algodão 'Cultivar'
B613”, alegando que a “cultivar H22” teria as tecnologias e genéticas usadas na
“B613”.
A REQUERENTE, no dia 21/04/2018 entrou com pedido de proteção do seu
“cultivar” junto aos órgãos competentes. No dia 20/09/2018, foi emitido Certificado
de Proteção de Cultivar em favor da REQUERENTE, “Algodão – Cultivar H22”,
por intermédio da semente H22. Esse processo tomou como base, as sementes
"salvas" de ciclos anteriores oriundos da semente B613. (Página 8, tópico 9.)

O QUE É UMA CULTIVAR?


Segundo a Lei N° 9.456/97, conhecida como Lei de Proteção de Cultivares,
cultivar é a variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior que seja
claramente distinguível de outras cultivares conhecidas por margem mínima de
descritores, por sua denominação própria, que seja homogênea e estável quanto aos
descritores através de gerações sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo
complexo agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e acessível ao
público, bem como a linhagem componente de híbridos.

QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA A PROTEÇÃO DE UMA CULTIVAR?


 A cultivar passível de proteção deve:
 Ser produto de melhoramento genético;
 Ser de uma espécie passível de proteção no Brasil;
 Não haver sido comercializada no exterior há mais de 4 anos, ou há mais de 6
anos, no caso de videiras ou árvores;
 Não haver sido comercializada no Brasil há mais de doze meses;
 Ser distinta;
 Ser homogênea e;
 Ser estável.
Sendo assim, as características de uma NOVA CULTIVAR:
 Distinguibilidade
 Descritores das culturas
 Homogeneidade
 Estabilidade
 Teste de DHE.
Em outras palavras, antes da adoção da Lei, havia muitos programas de
melhoramento genético no País, dos quais resultavam variedades com grande valor de
cultivo e de uso. Porém, observou-se que a LPC agregou valor ao rigor científico,
introduzindo como condição para a proteção de uma nova cultivar a demonstração de
sua distinguibilidade, isto é, se for distinta das demais cultivares da mesma espécie
disponíveis no mercado; homogeneidade em plantio comercial em larga escala; e
estabilidade de suas características distintivas em relação às gerações sucessivas.

QUAL A VIGÊNCIA DA PROTEÇÃO DE UMA CULTIVAR?


No Brasil, o prazo de proteção é de 15 anos para a maioria das espécies,
principalmente de grãos (oleaginosas, cereais e outras). Para as videiras, árvores
frutíferas, árvores florestais e árvores ornamentais, incluindo seus portas-enxerto, esse
prazo estende-se para 18 anos.

A LEI DE PROTEÇÃO DE CULTIVARES DIZ RESPEITO ÀS ESPÉCIES


SUPERIORES DE PLANTAS, SENDO PASSÍVEIS DE PROTEÇÃO:
Lei de proteção de cultivares foi sancionada, em abril de 1997, com o objetivo de
fortalecer e padronizar os direitos de propriedade intelectual.
1. A Nova Cultivar, conforme está definido no artigo 3º, inciso 5º, da Lei nº
9.456/97;
2. A cultivar essencialmente derivada;
3. As cultivares não enquadráveis nestes dois grupos, mas que seus pedidos de
proteção sejam apresentados num prazo máximo de 12 meses após a divulgação dos
descritores da espécie, e que o prazo máximo de comercialização, a contar da data da
apresentação do pedido para trás, tenha sido de no máximo 10 anos.

QUEM CONCEDE A PROTEÇÃO DOS DIREITOS SOBRE CULTIVARES?


No Brasil, o órgão responsável pelos pedidos de proteção de cultivares, é o Serviço
Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC. O objetivo da proteção é o de garantir o
direito de propriedade intelectual dos obtentores de novas combinações filogenéticas na
forma de cultivares vegetais distintos, homogêneos e estáveis.
DIREITOS CONFERIDOS
A proteção dos direitos intelectuais sobre a cultivar se efetua mediante a
concessão de um certificado de proteção de cultivar. Este certificado é considerado um
bem móvel para todos os efeitos legais e esta é a única forma de proteção de cultivares e
de direitos que poderá obstar a livre autorização de plantas ou de suas partes, de
reprodução ou multiplicação vegetativa no País.

A PROPRIEDADE INTELECTUAL?

As razões apresentadas pelas REQUERIDA não se sustentam, pois a


REQUERENTE não violou qualquer mandamento legal relativo aos direitos
intelectuais referentes à semente B613.
O ordenamento jurídico brasileiro permite aos produtores rurais "salvar"
parte de sua produção. Para, além disso, o grupo CASANOVA desenvolveu seu
"próprio cultivar" e assim o fez mediante rigoroso preenchimento dos requisitos
legais, “Algodão Cultivar H22 - (H22)”. (Página 11, tópico 20 e 21)
Propriedade Intelectual pode ser compreendida como o direito de pessoa, física ou
jurídica, sobre um bem incorpóreo móvel. Assim sendo, a Propriedade Intelectual
corresponde ao direito sobre criações intelectuais, por determinado período de tempo,
estabelecido de acordo com os preceitos legais. Esse direito exclusivo, advindo da
Propriedade Intelectual, abrange as criações artísticas, literárias, tecnologias e
científicas.
Portanto, em momento algum a REQUERIDA e sua parceira comercial
GEWURZTRAMINER COMPANY refere-se a esse determinado período de tempo
vigente.

CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL


A propriedade intelectual decorre diretamente da capacidade inventiva ou criadora
do intelecto humano (conhecimento, tecnologia e saberes) de seus criadores. Em geral,
entende-se que o Sistema de Propriedade Intelectual compreende direitos relativos a:
 Propriedade Industrial: São direitos concedidos ao titular de tecnologias
industriais e marcas, com o objetivo de promover a criatividade pela proteção,
disseminação e aplicação industrial de seus resultados: Patentes.
 Direitos Sui generis: São do escopo de propriedade intelectual, mas não
abrangem direito e propriedade industrial: Proteção de Novas Variedades de Plantas;
A propriedade intelectual não é o único meio de proteção ao conhecimento
que os agentes da sociedade podem utilizar. Outros instrumentos são:
• Know how é o conhecimento não codificado, relacionado à performance de
um determinado produto e/ou processo produtivo.
• Segredo de negócio é um conhecimento relacionado à atividade comercial,
industrial e de serviço, que configura o modelo de negócio desenvolvido pela empresa.
• Tempo de liderança sobre competidores: Dada a complexidade do
produto e do processo, existe uma barreira à entrada ao desenvolvimento tecnológico de
um determinado produto e/ou processo produtivo por conta da falta de capacidade
tecnológica de reprodução do concorrente.

Assim,, a REQUERENTE solicita que o Tribunal Arbitral declare que: a


semente H22 está fora do escopo de proteção (propriedade intelectual) da
HARVEST COTTON e, também, da GEWURZTRAMINER COMPANY. (página
14. tópico 36 e 1).

O QUE É UMA PATENTE?


Patente é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de
utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores ou outras pessoas físicas ou jurídicas
detentoras de direitos sobre a criação. Com este direito, o inventor ou o detentor da
patente tem o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de produzir, usar,
colocar a venda, vender ou importar produto objeto de sua patente e/ou processo ou
produto obtido diretamente por processo por ele patenteado. Em contrapartida, o
inventor se obriga a revelar detalhadamente todo o conteúdo técnico da matéria
protegida pela patente.

O QUE PODE SER PATENTEADO?


Qualquer invenção que tenha por objeto um novo produto ou processo, desde que
atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, conforme o
artigo 8° da Lei da Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/1996):
 Novidade: A invenção e o modelo de utilidade são considerados novos
quando não compreendidos no estado da técnica, sendo que o estado da técnica é
constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do
pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no
Brasil ou no exterior.
 Atividade Inventiva: A invenção é dotada de atividade inventiva sempre
que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado da
técnica.
 Aplicação Industrial: A invenção e o modelo de utilidade são considerados
suscetíveis de aplicação industrial quando possam ser utilizados ou produzidos em
qualquer tipo de indústria.

O QUE NÃO PODE SER PATENTEADO? (ART. 10, LEI Nº 9.279/1996)

 O todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na


natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer
ser vivo natural e os processos biológicos naturais;
Também não pode ser patenteado:
O todo ou parte dos seres vivos, exceto os micro-organismos transgênicos que
atendam aos três requisitos de patenteabilidade – novidade, atividade inventiva e
aplicação industrial – previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, micro-organismos transgênicos são
organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante
intervenção humana direta em sua composição genética, uma característica
normalmente não alcançável pela espécie em condições naturais.

QUAIS SÃO OS TIPOS DE PATENTES E PRAZO DE VALIDADE?


Patente de Invenção (PI) – Produtos ou processos que atendam aos requisitos de
atividade inventiva, novidade e aplicação industrial. Sua validade é de 20 anos a partir
da data do depósito. De forma geral, a partir da data de concessão da patente, o prazo de
vigência não será inferior a 10 anos.
Patente de Modelo de Utilidade (MU) – Objeto de uso prático, ou parte deste,
suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo
ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. Sua
validade é de 15 anos a partir da data do depósito. De forma geral, a partir da data de
concessão da patente, o prazo de vigência não será inferior a 7 anos.

QUAL É A ABRANGÊNCIA TERRITORIAL DA PROTEÇÃO DE UMA


PATENTE?
Os direitos de uma patente se restringem às fronteiras territoriais do país em que
ela foi concedida. Logo, um mesmo pedido de patente deve ser requerido em todos os
países que se deseja proteger o objeto da invenção a ser comercializado. Entretanto, os
procedimentos de depósito, regulamentos quanto ao tipo de registro de diferentes
criações e as condições para concessão destas variam de país a país. Deste modo, a
mesma patente pode ser concedida em um país e não ser em outro (princípio da
independência das patentes).
A Patente é válida somente em todo o território nacional (princípio consagrado
pela Convenção da União de Paris – CUP). A existência de Patentes regionais (ex:
Patente Europeia) não constitui exceção ao princípio, pois são resultantes de acordos
regionais específicos, e para receber a proteção em outros países, será necessário que o
pedido seja feito em cada país em que se deseja obter a patente.

QUEM CONCEDE A CARTA PATENTE?


Quem concede a patente no Brasil é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial
– INPI, que é uma autarquia federal.

QUAIS OS BENEFÍCIOS PARA A SOCIEDADE DO SISTEMA DE


PATENTES?
Basicamente o sistema promove o progresso da técnica por dois motivos: ao
constituir um incentivo ao inventor em prosseguir em suas pesquisas uma vez garantida
a proteção aos investimentos realizados e em segundo lugar incentivando seus
concorrentes a buscarem alternativas tecnológicas para conquistarem o mercado que não
recorram de licenças de exploração de patentes.
Com a divulgação da invenção pelo documento de patente, a sociedade se
beneficia com o conhecimento de uma tecnologia que de outra forma permaneceria
como segredo comercial.
UMA VEZ TRANSCORRIDO O TEMPO DA VIGÊNCIA DA PATENTE TEM O
TITULAR ALGUM DIREITO DE IMPEDIR A UTILIZAÇÃO DA INVENÇÃO
OU DO MODELO?
Não. Uma vez decorrido o período de vigência, no caso de falta de pagamento de
alguma anuidade, no caso de não exploração da patente ou renúncia do titular, cessam
os direitos do titular, tornando-se a invenção domínio público, de forma que qualquer
pessoa dela se possa utilizar livremente.

PAGAMENTO DE ROYALTIES:
O pagamento dos royalties (direitos de propriedade pela invenção realizada) que as
empresas produtoras de sementes passaram a cobrar. Diante de uma questão jurídica,
baseada em lei, e não apenas diante de um fato econômico.
Jurídicamente: são parcelas do valor de um produto ou serviço (ou partes
referentes ao lucro) que são pagas a pessoa detentora de um direito, normalmente uma
patente, concessão etc...
Porém,
A REQUERENTE tentou resolver a questão de maneira amigável, informou
que a produção da semente H22 foi desenvolvida e multiplicada internamente, com
tecnologias próprias, o que gerou um cultivar distinto e devidamente registrado.
Assim, não tinha que se falar em pagamento de qualquer tipo de royalties, pois,
não foi utilizada tecnologia protegida pelo “Cultivar B613”. (ANEXO
REQUERENTE #7). (Página 8, tópico 12).

Todavia, em 1 de Agosto de 2020, REQUERIDA, de forma arbitrária, se


recusou a proceder com a entrega dos 1.250 quilos da semente CAM2019 que
serviriam para o plantio da safra 2020/21, muito embora o produto já estivesse
todo quitado.
A REQUERIDA informou que só iria realizar a entrega das sementes caso
recebesse o pagamento de royalties decorrentes das sementes "Algodão 'Cultivar'
B613", pertencentes a ela e a obtentora GEWURZTRAMINER COMPANY, no
montante de R$10.000.000,00 (dez milhões de reais). (ANEXO REQUERENTE #6)
(Página 8, tópico 11).
Em seguida,
A REQUERIDA ajuizou ação de produção antecipada de provas visando
subsidiar a defesa dos seus alegados direitos em relação à cobrança de royalties.
Em 15 de Novembro de 2020, em decisão liminar inaudita altera parte , houve o
deferimento do pedido. (Página 12, tópico 24).

No entanto,
Em 2015, a REQUERENTE, iniciou, tratativas, com a REQUERIDA para a
aquisição/licenciamento de sementes de algodão. Então, de acordo com a Cláusula 3º -
das Obrigações da COMPRADORA/LICENCIADA, descrito no item:
A REQUERENTE deve:
1.b. Realizar pagamento único e antecipado de R$ 18.562.500,00 (dezoito milhões
quinhentos e sessenta e dois mil e quinhentos reais), dos quais R$ 12.375.000,00 (doze
milhões trezentos e setenta e cinco mil reais) referentes a 7.500 Quilos da 18 semente
“B613”, e R$ 6.187.500 (seis milhões cento e oitenta e sete mil e quinhentos reais)
referentes a 3.750 Quilos da semente “CAM2019”. (Páginas 18 e 19).
1. d. Honrar com os royalties devidos pelo uso da tecnologia OGM e do cultivar
das sementes “B613” e “CAM2019”, já acoplados no pagamento único e antecipado.
(Páginas 19).

Em 1 de Janeiro de 2016, as partes concluíram Contrato de Compra e


Venda/Licenciamento de Tecnologia. (ANEXO REQUERENTE #2), estabelecendo a
comercialização de 7.500 Quilos de sementes B613, somados a 3.750 Quilos de
Sementes CAM2019 para serem entregues ao longo de um período de 3 anos, mediante
pagamento integral e antecipado de R$ 18.562.500,00 (dezoito milhões quinhentos e
sessenta e dois mil e quinhentos reais). (Páginas 7, tópico 6).

Diante deste contexto, a Requerente não deve arcar com a cobrança indevida por
parte da REQUERIDA, já que os valores cobrados em royalties foram pagos
anteriormente ao litigio, no ato do contrato firmado entre as partes.
Por fim, REQUERENTE busca indenização por violação contratual e pelos danos
causados.

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