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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


FACULDADE DE DIREITO

LUÍS EDUARDO CORRÊA ASSUNÇÃO

CULTIVARES: conceito, natureza jurídica, procedimentos e regulamentação legal.

Paper referente à parte da avaliação da


disciplina de Direito da Propriedade
Intelectual, sobre o seguinte tema:
CULTIVARES: conceito, natureza jurídica,
procedimentos e regulamentação legal.
Prof. Dr. Luiz Felipe da Fonseca Pereira.

Belém-PA
Janeiro 2024
CULTIVARES

O termo “cultivares” não se trata de uma designação botânica, foi criado


especificamente para conter o conceito de variações de plantas com características
distintas (VIEIRA. A criação e aperfeiçoamento de cultivares remonta ao século XIX
na Europa, com o mesmo objetivo das outras proteções de criação/invenção, qual
seja, a possibilidade de se investir com certa segurança para obter um retorno
financeiro, possibilitando o melhoramento constante das cultivares.
Outros benefícios também são adquiridos com a proteção das cultivares, tais
como a manutenção de um alto nível da qualidade e/ou quantidade da mesma ou
mesmo a proteção contra sementes piratas, conforme Sérgio Paulinho de Carvalho
et al. (2008) quando fala do desenvolvimento do Brasil e Argentina, com seus órgãos
e instituições, no cenário agrícola “Notadamente nos últimos anos, a apropriação
econômica dos investimentos realizados por tais instituições tem sido muito
debatida, em virtude principalmente do avanço no mercado de sementes piratas”.
Um dos primeiros países interessados no trato legal das cultivares foi o EUA,
modificando – nos anos de 1930 – a sua legislação de patentes. Tal mudança se
mostrou não muito abrangente, pelo fato de as novas plantas reproduzidas por via
sexual não corresponderem aos critérios de viabilização da proteção (sendo
abarcadas somente nos anos de 1970), conforme ilustra Barbosa:
Ficaram excluídas da proteção as novas plantas reproduzidas por via
sexual, ou seja, por sementes. A partir de discussões legislativas, concluiu-
se que, na época, as variedades obtidas por variação assexuada já tinham
as condições mínimas de homogeneidade e estabilidade que permitiam a
proteção - o que não ocorria com as modalidades sexuadas. (Barbosa,
2003, pg. 564).

Na Europa, a discussão sobre esse desenvolvimento e proteção no sistema


agrícola se desenrolou de forma mais tardia em razão da resistência imposta pelos
princípios tradicionais da propriedade industrial (BARBOSA, 2003, pg. 565), o que
desembocou, no ano de 1961, na criação da União Internacional para Proteção das
Cultivares (UPOV), cujo objetivo é promover um sistema que garanta a proteção
dessas novas variedades de plantas e sementes.
Hodiernamente, no Brasil, foi implementado pala Lei 9.456/97 (Lei de
Proteção de Cultivares - LPC) a obrigatoriedade da efetivação de procedimentos e
requisitos específicos para que seja garantida a proteção da cultivar pela obtenção
do certificado de proteção de cultivar. Vale ressaltar que existe diferença quando se
fala de “proteção” e “registro”. Ambos são concedidos pelo Serviço Nacional de
Proteção de Cultivares (SNPC), todavia, enquanto o registro tem por função
promover a habilitação para a comercialização e produção de mudas e sementes em
território nacional, sejam essas cultivares protegidas ou não (BARBOSA, 2003, pg.
577), a proteção assegura ao seu titular o direito à reprodução comercial no território
brasileiro (art. 9° da LPC), também atuando sobre o material de reprodução ou de
multiplicação vegetativa da planta inteira (art. 8° da LPC).
Para se obter a referida proteção, deve-se atentar para o que dispõe o art. 4°
da LPC, por tratar de requisitos para as cultivares que são passíveis de proteção,
sendo algumas dessas condições cumulativas (§1° do mesmo artigo), além do teste
de distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade (DHE) para saber se a cultivar
preenche as exigências técnicas estabelecidas pelo SNPC (art. 14, VII da LPC). A
duração do prazo de proteção pode variar a depender da espécie que esteja sendo
protegida, conforme versa o art. 11 da LPC:
Art. 11. A proteção da cultivar vigorará, a partir da data da concessão do
Certificado Provisório de Proteção, pelo prazo de quinze anos, excetuadas
as videiras, as árvores frutíferas, as árvores florestais e as árvores
ornamentais, inclusive, em cada caso, o seu porta-enxerto, para as quais a
duração será de dezoito anos.
Salienta-se que, conforme art. 5° da LPC, a proteção conferida pelo
certificado de proteção de cultivar tem como natureza jurídica o direito de
propriedade, entretanto, funciona de uma maneira peculiar, nas palavras de
Barbosa:
... a propriedade não é sobre o elemento físico, que pode ser de outro
proprietário, mas sobre uma regra de reprodução. No caso, sobre as
características do cultivar, expressas por um patrimônio genético existente
no material de reprodução. (Barbosa, 2003, pg. 590).

Por fim, a regulamentação legal torna válida em todo território nacional a


proteção (art. 9° da Lei LPC) conferida pelo supramencionado certificado a apenas
uma única cultivar (art. 14 da Lei LPC), passando por um processo de formalização
estabelecido nos arts. 13 a 22 da LPC, iniciado pela assinatura de requerimento por
pessoa física ou jurídica ou procurador e protocolada em órgão competente,
passando pela obtenção do título precário (Certificado Provisório de Proteção) e indo

até a expedição do Certificado de Proteção de Cultivar.


REFERÊNCIA

BARBOSA, Denis Borges. Uma introdução à propriedade intelectual. 2° Ed. Rio


de Janeiro: Lumen Juris, 2003. Disponível em: https://www.dbba.com.br/wp-
content/uploads/introducao_pi.pdf. Acesso em: 30 de janeiro de 2024.

BRASIL. Lei 9.456, de 25 de abril de 1997. Institui a Lei de Proteção de Cultivares


e dá outras providências. Brasília-DF: abril de 1997. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9456.htm. Acesso em: 30 de janeiro de
2024.

CARVALHO, Sérgio Paulinho. et al. Propriedade intelectual em melhoramento


vegetal: Brasil e Argentina frente às possibilidades de mudanças
institucionais. São Paulo: Informações Econômicas, 2008. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/tec5-0908.pdf. Acesso em: 30 de janeiro
de 2024.

VIEIRA, Adriana Carvalho Pinto. Propriedade intelectual, biotecnologia e


proteção de cultivares no âmbito agropecuário. São Paulo: Instituto de
Economia/UNICAMP. Disponível em:
https://www2.ufpel.edu.br/biotecnologia/gbiotec/site/content/paginadoprofessor/
uploadsprofessor/ca0d8e86d33fab90945fee143b9362ed.pdf. Acesso em: 30 de
janeiro de 2024.

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