Você está na página 1de 14

Aula 7 - Cultivares.

O que são, como apropriar, como consultar

1. Introdução:

Conhecimento e tecnologia são fundamentais para o crescimento sustentável do


agronegócio brasileiro. Os destaques nessa área são a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e as Instituições Estaduais de pesquisa que desenvolvem
estudos e técnicas agropecuárias e contribuem para a expansão das agroindústrias.

O melhoramento genético de plantas trouxe um avanço no setor agrícola por várias


razões, como a alta produtividade das sementes; resistência à pragas e doenças; menor
dependência da sazonalidade; vigor e longevidade das plantas; viabilidade de produzir
na entresafra, entre outras.

Para a obtenção de uma cultivar, há várias etapas como: caracterização de


germoplasma; estudos de variabilidade; planejamento de cruzamentos; métodos de
melhoramento; seleção das plantas melhoradas, validação em condições comerciais;
produção e comercialização.
Todo esse processo dispende tempo e investimentos, mas uma vez pronta, a
cultivar é facilmente reproduzida, daí a necessidade de proteção e registro. A proteção
da cultivar interessa ao agricultor face às qualidades de inovação da cultivar e
diversificação de cultivos; ao produtor de sementes, pela expansão dos negócios e
segurança nos investimentos; ao obtentor, pelo retorno de seus investimentos nas
pesquisas, além do governo, uma vez que aumenta os investimentos do setor privado na
pesquisa, atrai investimentos para o setor agrícola, é uma estratégia para o sucesso da
agricultura brasileira e, gera uma maior competitividade no agronegócio internacional.
As empresas de melhoramento precisam de estímulo para continuar gerando
novos materiais. A Propriedade Intelectual garante Direitos que permitem que o criador
(melhorista) se beneficie da sua própria criação (cultivar) por um certo período de
tempo.
Como decorrência da assinatura do Acordo TRIPs pelo Brasil foi feito o
reconhecimento de proteção para fármacos, alimentos e, particularmente, plantas,
alterando a legislação relativa à propriedade intelectual no Brasil e implicando em uma
redefinição institucional.

2. Definição:
Cultivar é a designação dada a uma determinada forma de uma planta cultivada,
correspondendo a um determinado genótipo e fenótipo que foi selecionado e recebeu
um nome único e devidamente registrado com base nas suas características produtivas,
decorativas ou outras que o tornem interessante para cultivo.

A cultivar deve apresentar em cultura, e manter durante o processo de propagação,


um conjunto único de características que o distingam de maneira coerente de plantas
semelhantes da mesma espécie.

O termo foi criado pelo especialista em horticultura Liberty Hyde Bailey, que o
derivou das palavras inglesas "cultivated" e "variety" ("cultivado" e "variedade") e
do latim: varietas culta, significando "variedade cultivada" de uma espécie vegetal.

O conceito foi oficialmente adoptado no XIII Congresso de Horticultura, realizado


em Londres (1952), com o objetivo de distinguir as variedades cultivadas das de
ocorrência natural.

3. Relevância:

A população mundial continua aumentando havendo necessidade de incremento de


produtividade frente à limitação de uso das terras cultiváveis, da água e de outros
recursos. Daí o desafio de elevar resistência dos cultivos a pragas e doenças, a fim de
tornar mais eficiente o uso de insumos e recursos naturais e contribuir para o
desenvolvimento econômico sustentável.

O potencial genético de uma cultivar é expresso, na lavoura, através do ótimo


desenvolvimento de mudas e das sementes. As exigências produtivas da agricultura
moderna requerem a multiplicação e disseminação rápida e eficaz das cultivares
modernas, aliadas à manutenção das características superiores das mesmas.

A multiplicação destas se dá através de pequenas quantidades que geram volumes


em escala comercial. Perdas do potencial genético podem ocorrer neste processo,
principalmente quando o produtor destina parte de sua safra para produção de sementes
para o ano seguinte.

Novas cultivares melhoradas somente se tornarão insumos agrícolas quando suas


sementes tornam-se disponíveis aos agricultores e mantém seu comportamento superior
no campo. Por outro lado, a utilização de sementes de qualidade aliada a práticas de
manejo inadequadas podem levar a redução da expressão genética da cultivar e,
consequentemente, ao insucesso da cultura. Desta forma, aliar o uso de sementes de alta
qualidade com práticas de manejo adequado trazem uma série de benefícios que
incluem:

a) aumento de produção e produtividade;

b) utilização mais eficiente de fertilizantes, irrigação e pesticidas, devido a maior


uniformidade de emergência e vigor das plântulas;

c) menores problemas com plantas daninhas, doenças e pragas do solo.

A semente é o veículo que leva ao agricultor todo o potencial genético de uma


cultivar com características superiores. O custo e o tempo requerido para criação e
liberação de uma nova cultivar são grandes. A produção de sementes comerciais é um
dos componentes mais importantes do programa de sementes, constituindo seu elo
central.

Para que a cultivar seja levada ao mercado como insumo ela deve passar por um
processo de registro. O processo de registro e liberação de uma cultivar passa pela
demonstração ao órgão registrador dos resultados obtidos em diferentes locais e anos,
demonstrando, através do valor de cultivo e uso (VCU), que o valor agronômico da
cultivar justifica o seu registro. Para isto é necessário que o valor agronômico da
cultivar demonstre que a mesma apresenta:

a) alto potencial de rendimento;

b) resistência a doenças e insetos;

c) resistência a fatores ambientais adversos;

d) qualidade de seus produtos;

e) resposta a insumos;

f) precocidade.

Promover o desenvolvimento sustentável e a competitividade do agronegócio em


benefício da sociedade brasileira é a missão do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA).
4. Marcos legais relacionados à Produção de Cultivares:

1944 - Nova Ordem Econômica Mundial: FMI: estabilidade ao sistema financeiro


internacional; BIRD: financiamento da reconstrução dos países atingidos; ONU (1945):
base política da ordem internacional;

1947 – Criou-se o GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) para permitir a
ampliação do mercado para as novas indústrias que vinham se organizando e organizar
as regras de comércio para facilitar o intercâmbio;

1994 – Criação da OMC para suceder o GATT, o Brasil esteve desde o início no GATT
visando aumentar seu volume de comércio, reduzir sua vulnerabilidade externa e
incrementar o desenvolvimento econômico. A ata final do GATT que criou a OMC
também estabeleceu o TRIPS (Trade Related Intelectual Property Rights) ou ADPIC
(Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao
Comércio) como instrumento de estímulo à inovação e ao desenvolvimento tecnológico.

TRIPS (ADPIC) – internalizado em 1996 estabelece na seção que dispõe sobre patentes,
no artigo 27.3(b), que os países-membros da OMC podem optar, para proteção
intelectual das variedades vegetais, por um sistema patentário, um modelo sui generis
ou uma combinação de ambos.

Registre-se que o acordo procurou contemplar as formas de proteção já existentes


em algumas legislações nacionais. Os Estados Unidos já haviam promulgado, em 1930,
a lei conhecida como Plant Patent Act que estabeleceu os direitos de patente aos
obtentores de novas variedades de muitas plantas propagadas assexuadamente. Por volta
do ano de 1950, surgiu em vários países europeus as primeiras iniciativas para a
elaboração de legislações específicas para a proteção de novas variedades vegetais, com
o objetivo de estabelecer um sistema mundialmente uniforme para a proteção dos
direitos dos melhoristas. Esse movimento resultou na Conferência de Paris, em 1961,
com a criação da União Internacional para a Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV,
sigla em francês para Union Internacionale pour la Protection des Obtentions
Vegetales).
5. União Internacional para Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV):

O instrumento original, que estabeleceu a Convenção Internacional para Proteção


das Novas Obtenções Vegetais e criou a UPOV, foi assinado em 2 de dezembro de 1961
e entrou em vigor em 1968. Posteriormente, foram realizadas revisões por meio de três
atos adicionais: em 1972, 1978 e 1991. O Brasil aderiu à Convenção desse organismo
em abril de 1999, em sua versão modificada de 1978, mais conhecida como a Ata de
1978 da UPOV.
Após 1978, a UPOV aprovou uma nova modificação na sua Convenção, traduzida
pela Ata de 1991, a qual faculta aos países que a ratificarem a estenderem o direito do
obtentor até o produto da colheita comercial, ou seja, o grão que vai para a indústria ou
para o consumo, bem como produtos dele derivado. Pela Ata de 1978, o direito do
obtentor só alcança o produtor de sementes, ou, não sendo produtor de sementes, o
agricultor que tentar vender o seu material como material de plantio. Esta disposição,
aliada à obrigatoriedade de estender a proteção a todo o reino vegetal, são as diferenças
fundamentais entre as duas Atas.
A legislação brasileira trouxe alguns dispositivos da Ata de 1991. O principal deles
foi o conceito de “cultivar essencialmente derivada” (definida na Lei como: a cultivar
predominantemente derivada da cultivar inicial ou de outra cultivar essencialmente
derivada, sem perder a expressão de suas características essenciais que resultem do
genótipo ou da combinação de genótipos da qual derivou, exceto no que diz respeito às
diferenças resultantes da derivação). Como consequência da adesão à UPOV,
estabeleceu-se a reciprocidade automática do Brasil com os demais países membros. A
partir desse fato, todos os países que fazem parte da UPOV obrigam-se a proteger
cultivares brasileiras e, em contrapartida, o Brasil também obriga-se a proteger
cultivares procedentes desses países, facilitando o intercâmbio de novos materiais
gerados pela pesquisa brasileira e estrangeira.
A UPOV também promove a harmonização de conceitos, documentos técnicos,
procedimentos administrativos além de viabilizar cooperações técnicas, com vistas a
facilitar o intercâmbio entre os países membros (SNPC, 2006). O Brasil sancionou, em
abril de 1997, a Lei de Proteção de Cultivar (nº 9456), que protege as novas variedades
vegetais pelo sistema sui generis, regulamentada pelo decreto 2.366 de novembro de
1997.
A missão da UPOV é “Propor e promover um sistema efetivo de proteção de
variedades vegetais, com vistas a encorajar o desenvolvimento de novas variedades de
plantas para o benefício da sociedade.”

6. UPOV Atos de 1978 e 1991: Principais Diferenças

Os principais Atos em vigor são os de 1978 e de 1991, abaixo uma tabela com
suas principais diferenças.

Dispositivo Ato 1978 Ato 1991


Espécies vegetais Definidas pelos Todas as espécies
abrangidas pela proteção membros podem ser protegidas.
Partes protegidas da Material de propagação Qualquer material
cultivar oriundo da cultivar.
Direitos sobre o produto Não há, exceto para Os mesmos do material
da colheita plantas ornamentais propagativo, no caso da
utilizadas para cultivar ter sido
propagação com utilizada sem
finalidade comercial autorização do detentor
do direito de proteção.
Cultivar poder ser Não Permitido Permitido
simultaneamente
protegida por patente
Cultivar Essencialmente Não prevista A comercialização de
Derivada cultivar essencialmente
derivada de cultivar
protegida requer
autorização do detentor
dos direitos de proteção
sobre a cultivar inicial.
Privilégio do Agricultor Não previsto Permitido desde que
dentro de limites
estabelecidos e
preservado o legítimo
interesse do detentor do
direito de proteção.
Período mínimo de 18 anos para espécies 15 anos para as demais
proteção arbóreas e videiras; espécies 25 anos para
espécies arbóreas e
videiras; 20 anos para as
demais espécies.

7. Critérios para a obtenção da Proteção da Cultivar (PC):


A cultivar tem que ser resultante de trabalho de melhoramento e ser designada por
uma denominação genérica (há normas específicas para a denominação, podendo ser
encontradas na Lei 9.456/97 e no Decreto 2.366/97), apresentando as seguintes
características: não podem ter sido oferecidas à venda no país, há menos de doze meses
em relação ao pedido de proteção, ou não houver sido comercializada no exterior há
mais de quatro anos (ou seis anos no caso de árvores e videira); ainda, a cultivar tem
que se distinguir das demais variedades por uma característica importante ou por várias
características, cuja combinação lhe dê a qualidade de "variedade nova"; a variedade
tem que apresentar baixa variabilidade quando plantada, ou seja, plantas de uma mesma
variedade devem apresentar características idênticas ou muito próximas e, as
características que descrevem a cultivar devem ser as mesmas ao longo de sua
reprodução. Os últimos três requisitos são comprovados através de experimentos
específicos denominados testes de DHE - distinguibilidade, homogeneidade e
estabilidade.

No Brasil os melhoristas são encarregados da execução destes testes, que devem ser
entregues na apresentação do pedido de proteção. Em outros países os testes são
realizados por autoridades governamentais que podem enviar os resultados dos mesmos,
mediante solicitação do SNPC e pagamento de uma taxa à autoridade examinadora.

8. Serviço Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC:

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tem como missão


promover o desenvolvimento sustentável e a competitividade do agronegócio em
benefício da sociedade brasileira. Pelo Decreto n o 5.351 / 2005 estabeleceu cinco
Secretarias:

 SDA: Secretaria de Defesa Agropecuária


 SDC: Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo
 SRI: Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio
 SPA: Secretaria de Política Agrícola
 SAE: Secretaria de Produção e Agroenergia

A SDC, em sua organização possui o DEPTA - Departamento de Propriedade


Intelectual e Tecnologia Agropecuária, com as competências de gestão da informação
no agronegócio; desenvolvimento da biotecnologia agropecuária; ampliação do capital
intelectual protegido e da inovação no agronegócio (cultura de PI); direitos de PI na
proteção de cultivares; fortalecimento do sistema marcário (marcas coletivas e IG’s).

Congrega as instâncias:

 CAPTA - Coordenação de Acompanhamento e Promoção da Tecnologia


Agropecuária, com áreas prioritárias de atuação:
- fomento à Inovação e à Propriedade Intelectual no agronegócio;
- apoio aos processos inovadores de Transferência da Tecnologia Agropecuária;
- apoio ao desenvolvimento da Biotecnologia Agropecuária
- fomento da Agricultura de Precisão;
- fomento à conservação e ao uso sustentável de Recursos Genéticos (animal e vegetal).

 CIG - Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários:


É uma forma de agregar valor e acumular credibilidade em produtos típicos, conferindo-
lhes um poderoso diferencial de mercado, em função das características geográficas de
sua origem. É uma propriedade intelectual coletiva e regional.

 SNPC - Coordenação do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares: órgão


competente para proteção de cultivares no Brasil, responsável por:
• aplicar a lei nº 9.456, de 1997;
• análise de pedidos e concessão de certificados de proteção; e
• zelar pelo cumprimento dos ordenamentos internacionais.

9. Base Legal de Cultivar no Brasil:

 Lei nº 9279, de 14/05/1996:


 “Art. 18. Não são patenteáveis: [...] III - o todo ou parte dos seres vivos [...]”
 Lei nº 9.456, de 25/04/1997
 Decreto nº 2.366, de 05/11/1997
 Decreto Legislativo nº 28, de 19/04/1999 (internalizou a Ata 1978 da União para
Proteção das Obtenções Vegetais – UPOV)
10. Registro Nacional de Cultivares – RNC:

O MAPA estabeleceu mecanismos para a organização, sistematização e controle da


produção e comercialização de sementes e mudas, e instituiu, por meio da Portaria n°
527, de 30 de dezembro de 1997, o Registro Nacional de Cultivares - RNC.

Atualmente, o RNC é regido pela Lei n° 10.711, de 05 de agosto de 2003, e


regulamentado pelo Decreto n° 5.153, de 23 de julho de 2004, tendo como preceito
fundamental que a geração de novas cultivares se traduz em altas tecnologias
transferidas para o agronegócio, indispensáveis ao sucesso deste, pelo aumento da
produtividade agrícola e da qualidade dos insumos e dos produtos deles derivados. As
cultivares são disponibilizadas ao agricultor com os mais recentes avanços da pesquisa
em genética e melhoramento vegetal, transformadas em insumos, sob a forma de
material de propagação.

O RNC tem por finalidade habilitar previamente cultivares e espécies para a


produção e a comercialização de sementes e mudas no País, independente do grupo a
qual pertencem - florestais, forrageiras, frutíferas, grandes culturas, olerícolas,
ornamentais e outros.

O RNC é de responsabilidade da Coordenação de Sementes e Mudas - CSM, do


Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas - DFIA, da Secretaria de Defesa
Agropecuária - SDA.

11. Termos e Denominação da Lei de Proteção de Cultivares:

- Cultivar: variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior, claramente


distinguível de outras variedades conhecidas por margem mínima de descritores, por sua
denominação própria, que seja homogênea e estável quanto aos descritores através de
gerações sucessivas e seja espécie passível de uso pelo complexo agroflorestal [...].

- Obtentor: aquele que descobre, melhora e desenvolve uma nova variedade vegetal.

- Descritor: define as características morfológicas, fisiológicas, bioquímicas ou


moleculares que herdadas geneticamente, são utilizadas na identificação de cultivar.
- Denominação de Cultivar: A atribuição de um nome a um cultivar é obrigatoriamente
feita em conformidade com o estabelecido no Código Internacional de Nomenclatura
de Plantas Cultivadas (mais conhecido pela sua sigla inglesa ICNCP ou por Código das
Plantas Cultivadas). No Brasil, a denominação é verificada e controlada pela UPOV. A
atribuição de um nome exige a demonstração que o cultivar é diferente de qualquer
outro já registado e que pode ser propagado de forma consistente mantendo as
características descritas através da metodologia para tal proposta (semente, enxertia,
estaca, ou outra).

- Cultivar Distinta: Aquela que se distingue claramente de qualquer outra cuja existência
seja notoriamente conhecida na data do pedido de proteção;

- Cultivar Homogênea: Aquela que é suficientemente uniforme nas suas características


relevantes (particularidades do método propagação/biologia reprodutiva);

- Cultivar Estável: Cultivar Estável Aquela que mantenha suas características relevantes
inalteradas após sucessivas propagações;

- Cultivar Híbrido: Híbridos são obtidos pelo cruzamento forçado entre duas plantas de
linhagens puras diferentes.

12. Cultivar Essencialmente Derivada – CED:

Uma cultivar é considerada essencialmente derivada de uma outra cultivar (cultivar


inicial) se: for predominantemente derivada da cultivar inicial; se distinguir claramente
da cultivar inicial; corresponder à cultivar inicial na expressão das características
essenciais (Fonte: Ata 1991 UPOV).

O desenvolvimento de uma cultivar requer: intensos trabalhos de melhoramento;


dezenas de cruzamentos; centenas de progênies testadas; a legislação referente às
essencialmente derivadas impede, por exemplo, que uma cultivar de rosa obtida por
mutação seja comercializada sem retorno financeiro ao obtentor da cultivar inicial.

Sem esta legislação, qualquer empresa de biotecnologia poderia, por exemplo,


agregar resistência à herbicida em uma cultivar protegida, proteger a nova cultivar e
comercializá-la sem que o obtentor da cultivar que foi utilizada inicialmente fosse
recompensado.
As Cultivares Essencialmente Derivadas (CED) podem ser obtidas, entre outros,
por: seleção de um mutante natural ou induzido, ou de uma variação somaclonal (mas
nem todas as mutações são considerada como CED); seleção de um indivíduo variante
escolhido entre as plantas da cultivar inicial; retrocruzamentos ou transformações
efetuadas por meio de engenharia genética.

13. Culturas Protegidas no Brasil:

A busca de cultivares protegidas no SERVIÇO NACIONAL DE PROTEÇÃO DE


CULTIVARES – SNPC, pode ser realizada no endereço:
http://extranet.agricultura.gov.br/php/snpc/cultivarweb/cultivares_protegidas.php.

Atualmente, existem 1.265 cultivares protegidas, no Brasil, e quase dois mil pedidos
de proteção já analisados ou em análise pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares
(SNPC).

O sistema CultivarWeb apresenta informações sobre as cultivares protegidas e as


solicitações de proteção em andamento. É possível consultar dados como o nome
científico e comum das espécies, a denominação da cultivar e os protocolos de pedido
de proteção.

14. Duração da Proteção:

O Certificado de Proteção é definido como: bem móvel para todos os efeitos legais e
única forma de proteção de cultivares e de direito que poderá obstar a livre utilização de
plantas ou de suas partes de reprodução ou de multiplicação vegetativa no país.

A proteção de cultivar vigorará, a partir da data da concessão do Certificado


Provisório de Proteção. Deste ponto em diante o prazo de proteção é de 15 anos para a
maioria das espécies, podendo estender-se para 18 anos para as videiras, árvores
frutíferas, árvores ornamentais e seus porta-enxertos. Após estes períodos a cultivar cai
em domínio público.

A proteção de cultivar recairá sobre o material de reprodução ou de multiplicação


vegetativa da planta inteira. A amostra viva entregue ao SNPC fará parte de coleção a
ser mantida em condições ideais de conservação, preservando a sua genética durante
todo o período de proteção da cultivar. A legislação brasileira de proteção de cultivares
define amostra viva como aquela fornecida pelo requerente do direito de proteção que,
se utilizada na propagação da cultivar, confirme os descritores apresentados. São
sementes ou partes da planta (estacas, borbulhas, folhas, bulbos etc.) que podem ser
utilizadas na propagação da planta.

A proteção assegura a seu titular o direito à reprodução comercial no território


brasileiro, ficando vedados a terceiros, durante o prazo de proteção, a produção com fins
comercias, o oferecimento à venda ou a comercialização, do material de propagação da
cultivar, sem sua autorização.

Ao seu uso próprio, há o privilégio do agricultor, ato de reservar parte da colheita


para usar no plantio subsequente, para uso próprio, em seu estabelecimento ou de
terceiros cuja posse detenha:

- Lei 10.711, Art. 2º, “XLIII - semente para uso próprio: quantidade de material de
reprodução vegetal guardada pelo agricultor, a cada safra, para semeadura ou plantio
exclusivamente na safra seguinte e em sua propriedade ou outra cuja posse detenha,
observados, para cálculo da quantidade, os parâmetros registrados para a cultivar no
RNC”;

- Decreto 5153/04, Art. 115: “O material de propagação vegetal reservado pelo


usuário, para semeadura ou plantio, será considerado "sementes para uso próprio" ou
"mudas para uso próprio", e deverá: I - ser utilizado apenas em sua propriedade ou em
propriedade cuja posse detenha; II - estar em quantidade compatível com a área a ser
plantada na safra seguinte, observados os parâmetros da cultivar no RNC e a área
destinada à semeadura ou plantio, para o cálculo da quantidade de sementes ou de
mudas a ser reservada; III - ser proveniente de áreas inscritas no MAPA, quando se
tratar de cultivar protegida de acordo com a Lei no 9.456/97, atendendo às normas e aos
atos complementares; IV - obedecer, quando se tratar de cultivares de domínio público,
ao disposto neste Regulamento e em normas complementares, respeitadas as
particularidades de cada espécie; e V - utilizar o material reservado exclusivamente na
safra seguinte. Parágrafo único. Não se aplica aos agricultores familiares, assentados da
reforma agrária e indígenas que multipliquem sementes ou mudas para distribuição,
troca ou comercialização entre si.”
Por outro lado, há também restrições ao uso próprio ou exceções ao direito (Art. 10)
ao uso próprio ou venda do produto da colheita, podendo ser para uso na pesquisa e
melhoramento; doação ou troca entre pequenos produtores (ex. Cana-de-açúcar) ou uso
público restrito.

O direito do detentor reside na Lei de Sementes e Mudas (nº 10.711/03) que


determina que: uso próprio deve ser informado previamente ao MAPA; para
propagarem cultivares, os estabelecimentos devem ser registrados junto ao MAPA; os
produtores devem também informar as cultivares que multiplicam; para propagarem
cultivar protegida, devem possuir autorização do obtentor; em caso de descumprimento
das normas, os infratores estão sujeitos a: multas, apreensão do produto, interdição do
estabelecimento; ações civis de indenização podem ser abertas pelo obtentor contra o
infrator tomando como base as provas colhidas pelo MAPA.

Ocorre a Extinção da Proteção, quando o prazo de proteção foi expiração; por


renúncia do titular; pelo cancelamento do certificado: ausência de pagamento da
anuidade; titular deixar de ter procurador no Brasil; não apresentação da amostra viva;
comprovação que a cultivar tenha causado impacto desfavorável ao meio ambiente ou à
saúde humana.

15. Referências

CARVALHO, S.M.P., SALLES FILHO, S.L.M., PAULINO, S.R. Propriedade


intelectual e organização da pesquisa e desenvolvimento vegetal: evidências
preliminares da implantação da Lei de Proteção de Cultivares. RER, Rio de Janeiro, v.
45, n. 1, jan/mar 2007, 009-026 p.

FURTADO, L.R. Sistema de propriedade industrial no direito brasileiro. Brasília:


Brasília Jurídica, 1996, 239 p.

GARCIA, S.B.F. A proteção jurídica das cultivares no Brasil:plantas transgênica e


patentes. Curitiba: Juruá, 2004.

SERVIÇO NACIONAL DE PROTEÇÃO DE CULTIVAR - órgão competente para a


aplicação da lei e para acatar os pedidos de proteção de cultivares.
http://www.agricultura.gov.br/

SERVIÇO NACIONAL DE PROTEÇÃO DE CULTIVAR.


http://www.agricultura.gov.br/vegetal/registros-autorizacoes/protecao-cultivares/
denominacao-cultivares
VIEIRA, .C.P., BUAINAIN, A.M., SILVEIRA, J.M.F.J., JUNIOR, P.A.V. Proteção da
biotecnologia na agricultura. Revista da Associação Brasileira da Propriedade
Intelectual, 2007, 39-55 p.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES
Elaborar um texto sobre o tema: A PROPRIEDADE INDUSTRIAL: DUPLA
PROTEÇÃO OU PROTEÇÕES COEXISTENTES SOBRE UMA MESMA PLANTA.

Você também pode gostar