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Revolução verde

A Revolução Verde consistiu na modernização da agricultura em escala global, efetivada por


meio da incorporação de inovações tecnológicas na produção. Teve como base as sementes
geneticamente modificadas, os maquinários agrícolas e os insumos químicos, como
fertilizantes e agrotóxicos. No Brasil, a incorporação técnica foi feita por meio de incentivos
governamentais concomitantemente à expansão das fronteiras agrícolas para as regiões de
Cerrado.
O propósito da Revolução Verde era, inicialmente, o aumento da produção de alimentos em
escala mundial como forma de garantia de segurança alimentar. Embora tenha se registrado
ganhos produtivos em diversos países, a Revolução Verde trouxe consigo consequências para
os pequenos produtores, para o ordenamento do território e para o meio ambiente.

O que é Revolução Verde?


A expressão “Revolução Verde” é empregada para designar o processo de transformação
na agricultura em escala global que se deu por meio do desenvolvimento e incorporação de
novos meios tecnológicos na produção. Esse fenômeno teve início na segunda metade do
século XX, entre as décadas de 1960 e 1970. Pode ser chamada também de Paradigma da
Revolução Verde, por ter representado uma mudança profunda na forma de produzir-se no
campo e no aparato técnico utilizado para o desenvolvimento da produção agropecuária.
As inovações tecnológicas adotadas inicialmente em países como México e Estados Unidos,
e que tão logo se propagaram para o restante da América Latina e para a Ásia, iam desde as
etapas iniciais de preparo e seleção até a outra extremidade da cadeia produtiva, no processo
de colheita.

Características da Revolução Verde


A modernização da agricultura que aconteceu em meados do século XX teve como principal
característica a adoção de tecnologias modernas na produção e na criação de animais.
As novas técnicas que se desenvolveram a partir da década de 1940 foram baseadas em
extensas pesquisas científicas que, com o passar do tempo, ampliaram-se e deram origem a
uma série de inovações que passaram a ser empregadas no campo. Essas pesquisas foram
realizadas pelo financiamento oriundo de indivíduos e entidades privadas, e também por meio
do Estado via agências estatais de pesquisa, como aconteceu no Brasil.

O arcabouço tecnológico da Revolução Verde contemplou:


 Melhoramento genético de espécies vegetais (como o trigo e o arroz) e desenvolvimento de
híbridos, proporcionando a sua adaptabilidade a condições climáticas e de solo variadas bem
como um aumento na produtividade;
 Maquinários como tratores, utilizados em várias etapas da produção agrícola, semeadeiras e
colheitadeiras;
 Adubos, fertilizantes e defensivos agrícolas ou agrotóxicos empregados no preparo do solo,
na correção dos índices de acidez, no controle de doenças e pragas que podem acometer as
lavouras, entre outros;
 Modernização dos sistemas de irrigação.
A mecanização foi um dos pilares da Revolução Verde.
Levando esses fatores em consideração, tem-se que a Revolução Verde fez surgir uma
agricultura intensiva tanto em tecnologias quanto em capitais.
O capital entrou na forma de investimentos em pesquisas, nos incentivos fiscais para a
aquisição de pacotes tecnológicos e na adoção propriamente dita de insumos; apresentou-se,
ainda, por meio da expansão do agronegócio e da difusão das grandes empresas do setor por
diversas partes do globo. Por fim, atribui-se à Revolução Verde o crescimento do número
de monoculturas nos campos, o que se deveu a um intenso processo de especialização
produtiva.
Origem da Revolução Verde
A Revolução Verde teve início na segunda metade do século XX, entre as décadas de 1960 e
1970, quando houve maior difusão das inovações tecnológicas no meio agrícola. Entretanto,
os passos iniciais para essa mudança de paradigma e as suas principais motivações já se
encontravam no período precedente.
O contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) colocou em questão a necessidade de
garantia da segurança alimentar em ampla escala. Para que esse objetivo fosse possível, era
imprescindível a maior oferta de alimentos com base em um ganho de produtividade na
agricultura. Esse foi um dos motivadores do processo de inovação tecnológica no campo,
embora não tenha sido o único.
Os maiores financiadores de pesquisas nesse período foram grupos privados, entre eles a
Fundação Rockfeller, que investiu em estudos voltados ao melhoramento genético de cultivos
como o trigo e o milho. Liderando as pesquisas estava Norman Borlaug, que dirigiu o
Programa de Produção Cooperativa de Trigo no México, na década de 1940, uma parceria
entre o governo mexicano e o grupo mencionado.
Em conjunto com pesquisadores locais, Borlaug desenvolveu uma espécie de trigo resistente
a doenças e de elevada produtividade. Tais resultados, que ajudaram no aumento da produção
de cereais no México, renderam-lhe o Prêmio Nobel da Paz em 1970, sendo considerado
atualmente o principal nome da Revolução Verde.
As pesquisas com o trigo foram pioneiras na Revolução Verde, surtindo resultados
promissores no México.

Vantagens e desvantagens da Revolução Verde


O advento das novas técnicas produtivas na agropecuária trouxe aspectos positivos e
negativos a diversas áreas, como econômica, social e ambiental.
A principal vantagem trazida pela Revolução Verde foi o ganho de eficácia na produção
agrícola, que suscitou o aumento de produtividade em diversas lavouras, com destaque para
os cereais e para os grãos, como a soja e o milho.
Por intermédio do melhoramento genético e do desenvolvimento de fertilizantes e técnicas
de preparo do solo, foi possível adaptar os cultivos a condições climáticas e solos diversos,
como o caso da soja nos Cerrados. Somou-se a isso o avanço nas pesquisas e no incremento
tecnológico proporcionado pelos trabalhos derivados da Revolução Verde.
Entre as desvantagens desse processo, houve a expulsão de pequenos proprietários e
trabalhadores rurais do campo. Isso se deu, em primeiro lugar, pelo aumento dos custos
relativos para a produção devido à concorrência com grandes proprietários e grandes
empresas. As novas técnicas incorporadas ao campo exigiram, ademais, maior qualificação
profissional, o que acabou por colocar muitos trabalhadores menos qualificados em situação
de desemprego.
O emprego de agrotóxicos na lavoura é prejudicial tanto à saúde humana quanto ao meio
ambiente.
Os insumos utilizados no preparo do solo e manutenção das culturas, como fertilizantes e
agrotóxicos, podem ser extremamente prejudiciais à saúde humana. Em se tratando do meio
ambiente, o emprego desses elementos ocasiona a poluição dos solos e de corpos hídricos.
Ademais, a intensificação do uso do solo e o modelo monocultor podem levar ao esgotamento
de nutrientes e danos à sua estrutura.
Essas inovações são caras e relacionadas com elementos químicos perigosos à natureza, ao
solo, aos alimentos e aos seres humanos consumidores desses alimentos. Nas áreas plantadas,
houve a retirada da vegetação natural para expandir-se a produção agrícola, o que acentua
problemas ambientais, como: processos erosivos; assoreamento de rios; contaminação do
solo por parte do uso excessivo de agrotóxicos; perda da biodiversidade natural, entre outros
processos negativos para com a natureza.
Há, também, o problema social, como a acentuação do êxodo urbano por parte da população
mais carente e o endividamento de produtores rurais para a compra dos insumos químicos,
gerando-se concentração de renda e terra."

Revolução Verde no Brasil


A incorporação dos elementos técnicos e dos processos produtivos derivados da Revolução
Verde aconteceu no Brasil também na década de 1960, durante o período da Ditadura Militar.
Inicialmente, os planos e programas de ação elaborados entre 1964 e 1970 previam a
modernização técnica da produção agrícola, o aumento da produção de alimentos, o
abastecimento do mercado interno com matérias-primas, e melhorias no setor de exportação.
A partir de 1970, estabeleceram-se três Planos Nacionais de Desenvolvimento, que
consolidaram a Revolução Verde nos campos brasileiros e determinaram o avanço das
fronteiras agrícolas para as áreas de Cerrado. A modernização técnica da produção
agropecuária brasileira fez-se por meio de incentivos fiscais e subsídios provenientes dos
Estados e destinados aos produtores. Com isso, houve um aumento na produção, em especial
de commodities agrícolas, e ampliação das exportações.
No setor de pesquisa atrelada às culturas, à produção e ao desenvolvimento agrícola,
destacou-se a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 1973.

Consequências da Revolução Verde


A Revolução Verde ocasionou profunda reestruturação produtiva no campo, o que se
observou com maior intensidade nos países em desenvolvimento. Algumas de suas
consequências foram:
 Especialização produtiva;
 Êxodo rural devido ao aumento dos custos de produção, que oneraram principalmente os
pequenos produtores, os quais acabaram por arrendar ou vender as suas terras para grandes
produtores ou grandes empresas do agronegócio. A concentração de terras foi uma das
consequências diretas;
 Aumento do desemprego no campo, ocasionado pela mecanização das etapas produtivas e
modernização técnica, exigindo-se maior qualificação profissional;
 Problemas de saúde derivados da aplicação de agrotóxicos e defensivos agrícolas;
 Poluição do solo e das águas pela intensificação do uso de agrotóxicos;
 Compactação e esgotamento de nutrientes dos solos.

Exercícios
1 – (Fuvest 2018) As primeiras práticas de agricultura datam de, aproximadamente, 10.000
anos. Neste período, ocorreram inúmeras transformações na sua base técnica, mas é, no
decorrer da segunda metade do século XX, que a revolução agrícola contemporânea, fundada
na elevada motorização-mecanização, na seleção de variedades de plantas e de raças de
animais e na ampla utilização de corretores de pH dos solos, de fertilizantes, de ração animal
e de insumos químicos para as plantas e para os animais domésticos, progrediu vigorosamente
nos países desenvolvidos e em alguns setores limitados dos países subdesenvolvidos.
Marcel Mazoyer & Laurence Roudart. História das agriculturas no mundo: do neolítico à
crise contemporânea, São Paulo: Unesp; Brasília: NEAD, 2010. Adaptado.
As transformações ocorridas na agricultura após meados do século XX foram reconhecidas
como Revolução Verde, sobre a qual se pode afirmar:
A) Sua concepção foi desenvolvida no Japão e nos Tigres Asiáticos após a II Guerra Mundial.
B) Contribuiu para a ampliação da diversificação das espécies e do controle das sementes
pelos pequenos agricultores.
C) Seus parâmetros produtivos estavam fundados, desde sua origem, em preservar e proteger
a biodiversidade nas áreas de cultivo.
D) Com sua expansão, na África e no sudeste Asiático, as populações rurais puderam alcançar
padrões de consumo semelhantes aos das grandes metrópoles.
E) Foi baseada na inovação científica e está atrelada à grande produção de grãos em extensas
áreas de monocultura.

2 – (Unicamp 2018) Assinale a alternativa correta sobre a presença de agrotóxicos e de


sementes transgênicas na agricultura brasileira.
A) O uso de agrotóxicos e sementes transgênicas associa-se à busca de maior produtividade,
sobretudo em áreas de fronteira agrícola.
B) As sementes transgênicas e o uso de agrotóxicos adequados ampliaram o interesse de
países da União Europeia pelos produtos agrícolas brasileiros.
C) O uso de agrotóxicos no Brasil reduziu a necessidade de aproveitamento das sementes
transgênicas nos cultivos agrícolas de grãos no país.
D) Por ser signatário de acordos internacionais, o Brasil reduziu o uso de agrotóxicos e
sementes transgênicas em áreas próximas a mananciais.

3 – (UEA 2017) A agroecologia adota princípios sustentáveis nas relações de produção no


campo, constituindo-se uma alternativa ao modelo de agricultura definido pela

A) economia informal.
B) revolução verde.
C) rotação de culturas.
D) especulação financeira.
E) teoria do desenvolvimento.

4 – (Unimontes 2015) A partir da década de 1950, um modelo de desenvolvimento agrícola


exportado para países subdesenvolvidos ficou conhecido como Revolução Verde, que
provocou profundas transformações no espaço agrário desses países. Considerando os efeitos
da Revolução Verde, é possível inferir, EXCETO:

A) O uso de agrotóxicos e de máquinas agrícolas não adaptadas aos tipos de solos em que
foram usadas acarretou uma série de impactos ambientais nos ecossistemas dos países que
buscaram investir na Revolução Verde.
B) A concessão de financiamentos bancários subsidiados pelos governos dos países
subdesenvolvidos tornou-se uma medida emergencial devido aos altos custos dos pacotes que
os produtores assumiram com a adesão da Revolução Verde.
C) Na organização do espaço, as monoculturas avançaram sobre regiões ambientalmente
preservadas, criando áreas de fronteira agrícola em áreas de florestas e cerrados etc., que
cederam, assim, lugar para pastagens e plantações.
D) O aumento da produção de cereais nos países que aderiram à Revolução Verde desde a
década de 1960 conseguiu atingir a meta básica da Revolução Verde, que era a de assegurar
produção de alimentos suficientes para combater a fome.

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