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Doutoranda em Nanociências e Materiais Avançados - Universidade Federal do ABC, Santo André-SP.
E-mail: alana_gs@live.com
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Doutor em Engenharia Química. Docente na Universidade Federal do ABC. E-mail:
dervalrosa@yahoo.com.br
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Doutor em Engenharia e Ciência dos Materiais. Docente no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de São Paulo – campus Bragança Paulista. E-mail: rubenspantano@ifsp.edu.br
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produção de alimentos, em mão de obra, fornecimento de recursos, mercado consumidor adicional
e capacidade de exportação aumentada. Essa atenção ao setor, até então marginalizado, resultou
em maiores tecnologias e em um processo de modernização em busca de embalagens, irrigação,
qualidade de solo, máquinas e insumos agrícolas.
A partir de 1990, a política econômica instaurou taxas de câmbio mais realistas e controle
de inflação, o que favoreceu ao crescimento exponencial sofrido nos anos anteriores. Isso colocou
o setor agrícola como principal responsável pelo superávit da balança comercial brasileira. Esse
avanço refletiu diretamente e positivamente na economia do país, de modo que, em 1999, a
agropecuária respondeu por cerca de 9% do PIB do país, fato que foi um indicativo do quanto
esse setor deveria ser explorado e valorizado. Assim, em 2016 o agronegócio foi responsável por
24% do PIB. Esses valores refletem a realidade brasileira: um país com recursos naturais em
abundância, extensa área disponível para plantações e boas condições climáticas. No entanto,
também refletem um diferencial: o crescimento em investimentos nesse setor, com avanços
científicos, tecnológicos e inovadores, no desenvolvimento de novas sementes, uso consciente e
adequado do solo, racionamento de recursos, tecnologias diferenciais para aumentos de
produtividade, equipamentos, além da competência dos agricultores e a assertividade em políticas
públicas voltadas ao setor agropecuário.
Além dos expressivos avanços tecnológicos com os quais a agricultura possui relação
direta, outro fator deve ser observado: o desenvolvimento humano. Como apresentado
anteriormente, o desenvolvimento das sociedades está intimamente ligado ao desenvolvimento de
práticas agrícolas. Porém, os avanços são ainda mais significativos: estudos da Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FEO) demonstram que regiões
essencialmente agrícolas do Brasil possuem um crescimento acelerado do índice de
desenvolvimento humano (IDH) - especialmente áreas de cultivo de culturas de exportação, como
soja, milho e algodão - quando comparadas com as áreas não produtoras. Isso porque, além dos
ganhos econômicos, há a valorização internacional, o que exige uma mudança de mentalidade
para acompanhamento das tendências internacionais dos compradores. Além disso, com o
crescimento tecnológico e políticas de modernização, exige-se uma especialização dos
agricultores, de modo a se familiarizarem com as novas tecnologias e produtos, criando, assim,
mão-de-obra mais qualificada. Essa mudança reflete no quadro familiar do agricultor e no
aumento da geração de empregos e aumento na renda. Ao se observar que o desenvolvimento
agrícola possui impactos diretos na qualidade de vida da população, ações governamentais
passaram a surgir ao redor do mundo, buscando incentivar práticas e garantir um contínuo
crescimento.
Em 1999, ano que o PIB nacional foi reconhecidamente afetado pela parcela ligada à
agricultura, ocorreu também a Reforma da Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia,
que visava uma agricultura competitiva, sustentável, de qualidade e que minimizasse os impactos
ambientais. Essa reforma foi essencial para mudanças gradativas em atividades e políticas
agrícolas, destacando a importância social dessa prática e os ganhos de desenvolvimento urbano
e humano. Há, então, uma inserção da comunidade agrária em uma sociedade urbano-industrial,
com a descentralização das problemáticas de um mundo rural para uma abrangência de uma
sociedade composta, além de agricultores e seus cargos atrelados, para políticos, empreendedores,
educadores e demais profissionais. A prática agrícola deixou de atender princípios voltados
exclusivamente para a geração de alimentos e passou a se destacar como área essencial para o
crescimento de indústrias, produtos e processos dos demais setores econômicos.
Embora os avanços agrícolas tenham sido expressivos, a demanda por produtos agrícolas
e alimentos é continuamente crescente, reflexo de um crescimento populacional e dos processos
de urbanização contínuos. As consequências dessa necessidade são contínuos investimentos em
tecnologias, de modo a impulsionar a produção de alimentos e diminuir os custos de produção e
do produto entregue ao consumidor final, além da produção de grãos de exportação, qualidade de
produtos, produtividade, impactos na qualidade de vida social, entre outros. A agricultura e os
avanços necessários para o contínuo crescimento e expansão não são um tema novo: têm recebido
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atenção desde 1960, e esse cenário é compatível com os dias atuais, o que o torna um tema
contemporâneo e que apresenta diversas lacunas a serem investigadas, debatidas e entendidas.
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• Recuperação de áreas degradadas ou comprometidas pelo uso excessivo da terra, visando
à recuperação para posterior reuso, revertendo a situação comprometida devido à erosão,
compactação, quebra da estabilidade de produção devido a não-constância produtiva ou
empobrecimento extremo do solo;
• Divulgação de indicadores econômicos, sociais e ambientais relacionados com o setor
agrícola, agropecuário e florestal;
• Incentivos para boas práticas ambientais;
• Otimização do uso de recursos naturais, com destaque para os recursos hídricos, por meio
de novos desenvolvimentos de sistemas de irrigação ou produtos que
substituam/minimizem a frequência de irrigação. O meio rural representa 80,7% do
consumo total de água do Brasil, sendo 67% utilizados na irrigação. Aproximadamente
40% da água não é totalmente aproveitada e resulta em desperdício de recursos, energia
e trabalho;
• Educação ambiental: do ensino fundamental ao profissional. Entender a importância do
setor agrícola no cenário nacional, as principais limitações, os problemas e os aspectos
positivos são uma necessidade social que precisa ser explorada. Enquanto grande parte
da sociedade não valoriza a agroindústria por falta de conhecimento ou acesso à
informação, tem-se um cenário em que os maiores IDH’s do país são encontrados nas
regiões rurais de alta produtividade, ou seja, a conscientização da população acerca de
medidas que podem ser tomadas para otimizar produção, diminuir custos e os impactos
sociais de ações e políticas públicas para a área rural são de extrema importância e podem
ter impacto significativo na renda, geração de empregos e qualidade de vida;
• Aprimoramento de ferramentas gerenciais nos âmbitos humano, de máquinas e sementes
e aspectos de plantio;
• Estabelecimento de políticas públicas e privadas de incentivo que auxiliem os
profissionais do setor que fazem uso de agricultura sustentável em casos de condições
climáticas extremas, visando uma estabilidade durante a transição de processos
produtivos (do atual para um com ações sustentáveis – como mudança no manejo de água
ou de bioquímicos);
• Fortalecimento e estabelecimento de novas parcerias e centros de pesquisas;
• Otimização das ferramentas meteorológicas;
• Aplicação consciente de agroquímicos (fertilizantes e pesticidas com potencial tóxico)
visando minimizar impactos à fauna, flora e saúde humana, além do desenvolvimento de
novos bioativos com potencial, como fertilizantes ou controle de pragas de baixo custo e
sem impactos ambientais significativos ou caráter tóxico;
• Diminuição da dependência de agroquímicos internacionais por meio da substituição por
bioquímicos naturais encontrados em solo brasileiro. Esse desafio é uma alternativa já
intensivamente estudada e que, tendo em vista que a flora brasileira é de grande
diversidade, agentes bioativos extraídos de plantas brasileiras, adequadamente extraídos
e aplicados, possuem potencial para controle de micro-organismos maléficos e pragas;
• Estímulo ao uso de bioativos naturais, visando maior eficiência e menor toxicidade;
• Reaproveitamento dos resíduos agrícolas por meio do seu uso no desenvolvimento de
novos produtos e processos e incentivem sua recuperação e agreguem valor econômico,
social e ambiental;
• Difusão da importância do reaproveitamento residual, com incentivos ao
desenvolvimento de tecnologias e inovações;
• Desenvolvimento de programas de pesquisa e desenvolvimento para obter novos
produtos, processos e tecnologias voltados aos problemas principais observados na
agricultura nacional.
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sistemas de produção, técnicas mais sustentáveis e rentáveis e aumentos contínuos de
produtividade. É possível, então, setorizar os principais aspectos que estão em destaque mundial,
conforme apresentado a seguir.
Figura 1. Ilustra a importância da adição de materiais que aumentam a retenção de água do solo.
Fonte: os autores
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Figura 2. Ilustra a estrutura de hidrogéis e a possibilidade de retenção de água e fertilizantes.
Fonte: os autores
Dentre as limitações que se apresentam para o uso extensivo dessa tecnologia, encontra-
se o uso de materiais sintéticos e não biodegradáveis. Os hidrogéis são uma solução inovadora
para um conjunto de problemas complexos enfrentados diariamente no setor agrícola.
Tendo em vista os desafios previamente apresentados, é possível resolver os problemas
hídricos por meio de uma ampla variedade de possibilidades de investigações: uso de diferentes
materiais e inclusão de polímeros biodegradáveis (incluindo resíduos coletados das próprias
plantações); desenvolvimento de novas técnicas; treinamento de cooperativas ou populações
rurais para, após a tecnologia ter sido desenvolvida, preparar esses materiais e comercializar,
estimulando a participação de uma comunidade em diferentes etapas de plantações; estimular a
educação ambiental para que a sociedade possa auxiliar na resolução de novas ideias e projetos
que otimizem o uso da água e resultem em ganhos econômicos, sociais e ambientais;
desenvolvimento de partículas, cápsulas, sprays e outros produtos que atuem com a liberação
controlada e lenta de nutrientes e podem ser inseridos na estrutura macroporosa; adaptação de
processos e materiais biodegradáveis para obtenção de um produto simples que seja acessível e
utilizável nas diferentes culturas, incluindo agricultura orgânica; entre outros. Ou seja, a educação
ambiental, o estímulo da participação social, aliados à tecnologia e a ciência, podem resultar em
ganhos para agricultores e demais profissionais da área.
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inovações em ascensão, pode-se citar a preparação de nanocelulose a partir de resíduos (casca de
frutas, folha de bananeira, palha e sabugo de milho, bagaço de cana de açúcar, casca de soja e
arroz, caules diversos, madeiras, entre outras infinitas possibilidades) – que posteriormente será
utilizada em aplicações mais nobres como preparação de compósitos, filmes mulching e
embalagens, por exemplo.
Outros exemplos são nanosensores para monitoramento de qualidade e análises
sensoriais, desenvolvimento de materiais para remoção de contaminantes orgânicos e inorgânicos,
preparação de novos medicamentos para uso veterinário, inovação no uso de insumos agrícolas
(fertilizantes e pesticidas, e agentes bioativos), entre outros. Apesar da grande tendência mundial
ao uso de nanopartículas e, comprovadamente, os benefícios que essa ciência pode trazer ao ser
humano, ainda são necessárias ações multidisciplinares que mudem a visão social acerca de riscos
do emprego de nanomateriais, da sua baixa toxicidade, das potencialidades desse tipo de produto,
dos avanços agregados ao emprego de novas tecnologias, além de uma expansão da importância
do emprego da nanotecnologia (por meio de educação ambiental, divulgações e afins) no setor
agropecuário.
Dentre os tipos de nanomateriais que são utilizados para essa classe de aplicações e que
não apresentam potencial toxicidade para o ambiente e ao ser humano, além das nanoceluloses já
citadas, pode-se citar argilas, algumas partículas metálicas (prata, ouro, zinco, cobre, níquel e
ferro), óxidos (TiO2, Fe2O3, SiO2, Al2O3), nanotubos de carbono, óxido de grafeno, polímeros
biodegradáveis e naturais (alginato, quitosana, hidroximetil celulose), lipídeos (lecitina), entre
outros.
Com os esforços contínuos para difundir inovações na área agrícola, destacam-se os
fertilizantes ou bioestimulantes. Os bioestimulantes convergem com a tendência da diminuição
do uso de agrotóxicos ou produtos com potencial contaminante, visando a induzir as plantas à
autodefesa, tornando-as mais resistentes a pragas e doenças, por meio de uma melhoria da
capacidade de absorção de água e nutrientes para as mesmas. Podem ser também considerados
como reguladores de crescimento, contendo os macro e micronutrientes essenciais para o
desenvolvimento da cultura, porém sem os malefícios de agrotóxicos ou fertilizantes em excesso,
ou seja, podem ser utilizados tanto em monoculturas presentes em extensas faixas de terra, tanto
quanto em agricultura orgânica. Assim, há um equilíbrio tanto na planta quanto no sistema em
que a mesma está introduzida, gerando benefícios para o solo, a cultura, o meio ambiente e,
indiretamente, a sociedade. Outra possibilidade são os fertilizantes na escala nanométrica, que
podem ser obtidos de acordo com as necessidades da planta, estimulando seu crescimento com
aplicação na semente ou foliar, possuindo uma ação direcionada e de precisão, seja por aplicação
direta, seja por nanopartículas, géis, emulsões, cápsulas e outros. Os nanofertilizantes fazem parte
da agrotecnologia mais recente e são pouco utilizados, principalmente no Brasil, pois é esse é um
campo em desenvolvimento e que ainda apresenta elevados custos, além de gerar discussões
acerca de nanosegurança. No entanto, por meio destes é possível prevenir o excesso de
fertilizantes tanto na aplicação quanto na absorção dos mesmos pelas plantas. Nesta classificação
também se encontram inoculados de microorganismos (como bactérias e fungos) que estimulam
o crescimento e saúde da planta.
Já no caso dos defensivos agrícolas, o cenário é distinto. A tendência mundial é uma
substituição de produtos altamente tóxicos e nocivos para os diferentes ecossistemas por produtos
com caráter biológico e sustentável. E a nanotecnologia se alia a essa tendência em dois cenários
distintos: o primeiro, com o desenvolvimento de detectores e sensores que acusam o uso de
pesticidas impróprio para uso ou em excesso por meio da indicação de compostos específicos
(como organofosforados); e o segundo, com a substituição de pesticidas químicos por materiais
naturais com ação direcionada para fungos, bactérias ou células. No caso dos chamados
biopesticidas (que podem ser nanofungicidas ou nanopesticidas), a ação é variante, porém pode
ocorrer por meio da interrupção do desenvolvimento do micro-organismo, ataque por meio de
enzimas que penetram na parede celular e interrompem o ciclo de desenvolvimento da praga,
inibição da reprodução do patógeno, danificação do DNA de fungos, entre outros. Outra
possibilidade de aplicação é o uso de cápsulas para realizar a entrega controlada dos pesticidas,
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de modo a minimizar o volume atualmente aplicado nas culturas. Com tais aplicações, espera-se
ser possível rastrear, controlar e eliminar pragas e doenças com antecedência e assertividade.
Outro aspecto relevante a ser levado em consideração é que na sociedade pós-moderna
há uma preocupação generalizada com desenvolvimentos e modernizações que estejam em
consonância com conceitos de sustentabilidade, química verde e biotecnologia. Ou seja, além da
busca incessante por avanços tecnológicos, há uma preocupação social que reflete diretamente
em conceitos de desenvolvimento sustentável. Dessa forma, a expectativa produtiva, industrial,
comercial e social que rege os desenvolvimentos visa à eficiência e produtividade, além de
aplicabilidade, baixos impactos ambientais e que estimulem o desenvolvimento do país,
colocando-o em níveis internacionais de qualidade de produção e produto final.
A Figura 3 apresenta, de forma sintetizada, as possibilidades de aplicação da
nanotecnologia voltada para a agricultura. Além das propostas já mencionadas, diversas outras
também podem ser destacadas.
Fonte: os autores
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científicos do entendimento aprofundado dessas nanopartículas em sistemas biológicos são
constantemente observados e alvos de tais problematizações.
Em geral, há uma simplificação das principais questões relacionadas à saúde ambiental e
humana que pode ser sumarizada em:
• Monitoramento sistêmico de possíveis efeitos fisiológicos envolvendo a presença das
novas partículas no organismo;
• Toxicidade;
• Impactos biológicos e a sua consequência (no ser humano, pode ser por variações
metabólicas, hormonais etc.);
• Necessidade da implementação de normativas abrangendo as novas tecnologias
emergentes;
• Conhecimento limitado da população acerca de benefícios da nanotecnologia devido a
informações centralizadas entre indústria, produtor e cientistas, ou seja, para que haja
uma melhor percepção social, a difusão de conhecimento é necessária;
• Implicações sociais e éticas da nanotecnologia;
• Aceitação social.
A nanosegurança é um tópico recente que abrange grande parte de tais questões,
promovendo e incentivando debates de modo a ampliar o conhecimento e impulsionar essa nova
área do conhecimento, que surge para complementar os desenvolvimentos técnicos e assegurar a
segurança de todas as formas de vida.
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contato direto ou indireto com essa “revolução invisível” que é, cada vez mais, uma tendência
mundial. A nanotecnologia e o uso de materiais naturais e biodegradáveis compõem um futuro
que já está ocorrendo, criando uma interface entre a visão humana e a explosão de novas
tecnologias, conectando ciência, meio ambiente e sociedade.
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