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O simbolismo no Mito de Ícaro

História do mito:
Dédalo, o pai de Ícaro, trabalhava para o rei Minos, ele quem construiu o labirinto para aprisionar o
Minotauro, que foi derrotado por Teseu (aqui já é outra história). Porém, por ajudar Poseidon,
Dédalo acaba conspirando contra Minos e sendo punido pelo rei por essa traição e preso no labirinto
junto com seu filho, Ícaro. Dédalo era um homem engenhoso e, portanto, querendo fugir do
labirinto, constrói asas colando penas de gaivotas em cera de abelhas. Antes de fugirem, Dédalo
aconselha Ícaro a não voar muito próximo da terra nem aproximar-se muito do sol. Ao iniciarem a
fuga, Dédalo observa Ícaro ascender rapidamente e aproximar-se cada vez mais do sol. Ao ficar
muito próximo, o calor do sol fez as asas de Ícaro derreterem, fazendo-o cair e submergir no mar.

Tradução simbólica:
Pela sua característica engenhosa, Dédalo é a representação do intelecto, mas um intelecto
depravado, que precisa construir asas para ascender. Na mitologia grega, a divindade que simboliza
o intelecto é Hermes, o mensageiro de Zeus. Hermes é o intelecto a serviço do espírito,
intermediário entre o espírito e os afetos. Porém, como todo símbolo tem seu inverso, Hermes é,
também, a divindade do comércio -- característica de um intelecto utilitário -- e a divindade dos
ladrões, característica de um intelecto pervertido.
Dédalo ser preso no labirinto que ele mesmo construiu é símbolo de um homem preso em seu
próprio subconsciente. O pensamento ofuscado pelos afetos perverte o intelecto e dirige-o ao
caminho de transformação em imaginação exaltada. Então Dédalo (intelecto pervertido),
procurando libertar-se do labirinto (domínio da perversão), esforça-se para encontrar uma saída,
porém o intelecto por si só não basta, seus meios (asas de cera) são insuficientes. Quando Dédalo
avisa Ícaro para não aproximar-se do sol (símbolo do espírito), ele quer dizer que não se deve
atingir o sublime somente por meio do intelecto, enquanto voar baixo simboliza a sedução diabólica
dos desejos exaltados.
Ícaro é a representação do intelecto cego, vaidoso, cheio de si. Diferente de seu pai, que é um
intelecto astuto e torna-se pervertido, mas essa é a simbolização da transformação de um intelecto
no outro. É desse último que nasce a cegueira vaidosa, quando a engenhosidade trai o espírito e é
aplicada de maneira utilitária e astuta. Esse símbolo é representado pela filiação: o intelecto
pervertido (pai-Dédalo) gera a imaginação exaltada (filho-Ícaro).
Quando Ícaro voa em direção ao sol, as asas de cera são uma forma insensata de espiritualização,
uma exaltação vaidosa, é o fim decisivo da revolta do intelecto contra o espírito que também
revolta-se e inflige o castigo derretendo as asas de cera, fazendo Ícaro cair no mar. O mar simboliza
o navegar da vida, enquanto as profundezas, o subconsciente. Ícaro torna-se vítima de Poseidon.
Ícaro é a representação do princípio da nervosidade: loucura da grandiosidade e megalomania.
Ícaro representa, portanto, um aspecto comum da juventude: a necessidade de elevação que viria a
dissipar-se na vida adulta. Quando essa necessidade de elevação do jovem não é esgotada, reveste-
se de forma intermitente na vida adulta. O sujeito submetido a isso permanece fixado nas exaltações
adolescentes, usa como pretexto querer conhecer a vida sob todas as formas, precisa experienciar
tudo para conhecer, confunde o conhecimento clarividente com a obscuridade da queda.

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