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O MAGO

ARCANO I

TÍTULO: O Mago, O Prestidigitador

Em seu Livro de Thoth, Crowley nos diz que o nome original desta carta vem do baralho
medieval, "Le Bateleur", isso é, "O Portador do Bâton", ou bastão (p.67). Na Idade Média
era comum a figura de um homem nas praças públicas exibindo performances com muita
habilidade e destreza, normalmente enganando ou iludindo àqueles que o assistiam. Trazia
em suas mãos um bastão, como a varinha dos mágicos de hoje que tiram de suas cartolas
coelhos, pombas e nos fazendo crer no desaparecimento de enormes monumentos diante de
nossos olhos. Esse é o sentido profano do Mago, o ilusionista, o prestidigitador. Entretanto,
nosso estudo procurará aprofundar o sentido sagrado desse arcano.

Comecemos pelo sentido que Crowley, de início, deu ao seu Mago. "Lê Bateleur" - o
portador do bastão - é também o deus grego Hermes, que tem sua versão romana com
Mercúrio e a egípcia em Thoth. A esses deuses é atribuída a principal característica da
comunicação, o mensageiro por excelência, aquele que faz contato entre os homens e os

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deuses, a Terra e o Céu. Cabe, nesse momento, contarmos um pouco a história desse
importante mito.

MITOS E SÍMBOLOS

HERMES - MERCÚRIO

Filho de Maia, uma ninfa, e Júpiter (Zeus) deus supremo do Olimpo, Hermes desde bebê
mostra-se muito esperto e precoce. Após sua mãe lhe dar a luz e, exausta, adormecer, livra-
se das faixas que cobriam seu corpo e, silenciosamente, deixa seu berço e sai noite adentro,
deslumbrando-se com as estrelas, com o ar noturno, até chegar a um belo campo aonde
pastava o gado especialmente cuidado por Apolo, seu irmão, o deus sol. No entanto, Apolo
se distraía com uma bela ninfa e não percebeu Hermes furtando 50 cabeças de seu precioso
rebanho. Malicioso e travesso, percebeu que ao caminhar deixava os rastros de seus pés,
bem como da boiada que levava consigo. Imediatamente atou aos pés do gado ramos de
folhas e os fazia andar de costas. Sua própria pegada disfarçou com sandálias que criou
com ramos de mirto e tamarindo. Para ocultar seu roubo, escondeu-o em uma caverna,
quando encontrou uma tartaruga e se encantou com o animal, percebeu nele um formato
especial, matou-o e de suas tripas fez 7 cordas, um novo instrumento musical foi criado, a
lira. Voltou para sua casa, já amanhecendo, fingindo dormir. Apolo, ao acordar, descobre o
roubo e se enfurece, descobre que foi Hermes o autor do furto, vai, então, até Maia
reclamar da atitude de seu filho. Maia, indignada, mostra Hermes dormindo inocentemente
em seu berço. Apolo o desperta com suas acusações e, cinicamente, Hermes desmente e
argumenta ser inocente, uma vez ser bebê, que o fruto do roubo ali não se encontrava e jura
por seu pai, Zeus, que nada viu e nem tinha notícias do ladrão das vacas. Apolo fica
desnorteado e vai a Zeus para que interceda e desvende o mistério desse roubo. Zeus não se
contém em risos ao perceber a malandragem de Hermes e o faz confessar. Esse confessa na
presença do supremo pai, entretanto volta alegar inocência ao ser deixado a sós com Apolo,
escolhendo belas palavras argumentando de forma incontestável, quase convencendo Apolo
novamente, nesse momento o deus-sol percebe a inteligência e esperteza do irmão
proferindo essas palavras:

"Astucioso malandro, bravo! Com uma tal


linguagem eu te vejo na frente em malícia. Sim, este
será teu talento, à noite, sem fazer barulho, forçar as
portas das casas para esvazia-las e deixar só as
paredes ou, rodando por montes e vales,
surpreender, flagelo dos pastos, os bois e os
carneiros de que se fia a lã, quando tiveres desejos de
come-los. Levanta-te! Se não queres dormir aqui teu
último sono. Vamos, companheiro da noite! Há uma
recompensa que te espera entre os deuses: o nome de

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rei dos ladrões, que será teu para sempre." (Coleção
Mitologia, vol. I, p.191)

Hermes, contente com a compreensão de seu irmão e com seu novo título, apanha sua lira e
começa a toca-la. Apolo, ao ouvir o som daquele novo instrumento fica extasiado e pede a
Hermes para trocar o gado roubado pela lira, malandramente Hermes diz que não é um
bom negócio, mas que trocaria com muito prazer pelo caduceu que Apolo trazia, uma
espécie de vara mágica pelo qual o dom da adivinhação se manifestava. Apolo aceita de
bom grado a troca e passam a ser grandes amigos. A partir de então, Hermes torna-se o
mestre da adivinhação pelos quatro elementos (geomancia-terra; piromancia-fogo;
hidromancia-água e aeromancia-ar).

Zeus, impressionado com as habilidades de Hermes, o escolhe para servi-lhe de mensageiro


junto aos homens e a Hades, deus das profundezas da terra, guardião das sombras. Dessa
sua função deriva seu nome Psicopompo, o acompanhador de almas.

THOTH

Continuando com a explicação dos mitos, Thoth é o deus egípcio da comunicação e, como
boa parte da lenda sobre a origem do tarot atribui a esse deus sua criação, é de suma
importância que entendamos seu significado.

Aparece representado por uma cabeça de Íbis ou de um babuíno. Deus lunar da escrita e das
ciências, mensageiro e escrivão dos deuses, patrono dos escribas. Seu nascimento é
obscuro, acredita-se que tenha sido um homem de extrema inteligência, inventor dos
hieróglifos que por sua importância no Egito ganhou o status de Deus. É através dele que
Rá (deus sol) materializou sua criação. Todas as ciências estão em seu poder e como tal é
sua responsabilidade difundi-las, por esse motivo criou a escrita como forma de
perpetuação dos conhecimentos transmitidos. Como deus da lua exerce suas funções
divinas, conta a lenda que Rá, cansado das intrigas e brigas incessantes dos homens, resolve
abandonar a terra para se refugiar no céu. Com essa decisão, cria um caos na terra, uma vez
que o astro solar (Rá) ilumina a terra durante o dia e à noite a deixa em total escuridão para
iluminar o mundo subterrâneo. Thoth, a lua, substitui, então, Rá em sua ausência noturna.

"Tu tomarás o meu lugar, serás o meu substituto.


Chamar-te-ão Thoth, o substituto de Rá. Farei que
rodeies os dois céus com a tua beleza e a tua
claridade." (A Mitologia Egípcia, p.106)

Por fim, ele intervém no Além, exerce as funções de escriba divino e de mensageiro dos
deuses funerários. No momento da pesagem do coração, feita por Maat, é ele quem anota o
veredicto da deusa, levando o defunto para Osíris (deus das sombras).

Analogia do Arcano I e os Mitos

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Diante da narrativa do mito, tanto Hermes-Mercúrio, quanto Thoth, possuem papéis muito
semelhantes em suas culturas. O que podemos depreender disso tudo é que esses deuses são
a encarnação de Deus no mundo dos homens, além de mensageiros, são responsáveis pela
transmissão do conhecimento, são o Verbo encarnado, o Logos, a Palavra, o Filho, a
manifestação da idéia do Pai.

Crowley, após muitas tentativas de criar o seu Mago (Arcano I) adota o Mago Alquímico,
ao qual chama de "The Magus". Em algumas edições do Tarot de Thoth pode-se encontrar
outras duas versões (vide abaixo), entretanto, descartadas pelo autor. O Mago medieval traz
um homem com chapéu em forma do símbolo do infinito ( ) em frente a uma mesa que
contém os símbolos dos 4 elementos (moedas-terra, taça-água, espada-ar, baqueta-fogo),
ele, como prestidigitador, domina esses quatro elementos, simbolizando o domínio da
natureza por aquele que detém seus mistérios. Crowley critica essa visão, que segundo ele é
grosseira e insatisfatória. O bastão que traz às mãos é uma referência ao caduceu de
Mercúrio. Crowley abole o caduceu, transformando o próprio Mago nesse instrumento,
firmando, assim, a idéia de que o mago não é só aquele que transmite a mensagem, mas é a
própria mensagem.

“Com a baqueta, Ele cria.


Com a Taça, Ele preserva.
Com a Adaga, Ele destrói.
Com a Moeda, Ele redime.
( Liber Magi vv. 7-10.”)

Seus pés tocam o mundo das sombras, sua cabeça alcança a luz branca de Kether, fazendo
com seu corpo a alquimia de transmutar a sombra em luz através da utilização dos objetos
que estão disponíveis para ele, como a moeda, a taça, a tocha, a adaga, o papiro e a pena.
Referência aos quatro elementos bem como o poder da palavra e da escrita. Aos seus pés
encontra-se um babuíno, uma das formas do Deus Thoth ou seu acompanhante como
preferem alguns egiptólogos, a função desse macaco é distorcer, ludibriar ou mesmo

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simular as palavras de Deus que chegam até nós, sendo esta sempre uma forma ilusória de
descrever a realidade.

"...Na linguagem filosófica, pode-se dizer, a


manifestação implica na ilusão. Esta doutrina é
encontrada na filosofia hindu, onde o aspecto de
Tahuti (Thoth) de que estamos falando é chamado de
Maya." (Livro de Thoth, p.70)

Caduceu: Emblema de Mercúrio (Hermes) é uma vareta em torno da qual se enrolam, em


sentido inverso, duas serpentes. Assim, ela equilibra os dois aspectos maléfico e benéfico,
apresentando o antagonismo e o equilíbrio ao unir os opostos no sol alado. É o símbolo do
equilíbrio dinâmico de forças contrárias.

Caminho na Árvore da Vida

Letra Hebraica:

Beth: ‫ב‬
Significado: CASA
Valor: 2
Letra dupla

Na Árvore da Vida é o caminho que liga Kether a Binah. Kether, a unidade que
tudo contém, ao se desdobrar cria os primeiros opostos - Chockmah (Sabedoria) e
Binah (Compreensão), Binah também é a mãe e a grande organizadora, representada na
astrologia por Saturno. O Significado da letra Beth, casa, também nos remete a
essa idéia de organização e limite, é o que contém o espírito, sua habitação. Beth é a
primeira letra da criação bereshit, que significa no começo, em princípio.

O Mago é aquele que conduz o espírito à matéria, é a ação. Para os cabalistas é ele quem
representa a Primeira Matéria ou o Mercúrio Filosófico. É o desdobramento natural do O
Louco, representa a manifestação primeira dos opostos, o masculino, a ação, a criação, o
fogo primordial, o fecundador, o que traz o phalus (o caduceu). Seu oposto feminino será A
Sacerdotisa que veremos em breve.

Número: 1
O número um emana do zero, do vazio, é a primeira manifestação dos opostos que são
neutralizados no zero. Com esse número expressa-se a idéia da dualidade, vida-
morte, princípio-fim. Principiar é criar a idéia de seu fim. É a primeira vibração pela qual O
Todo

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inicia seu processo de manifestação. O número 1 é o ponto, o princípio da manifestação que
como tal, implica na ilusão, como os hindus expressavam Maya que em sânscrito designa a
ilusão a que se reduz este mundo das aparências. A ilusão a qual Crowley faz referência é a
falsa idéia do mundo ser dual, quando na verdade os opostos se originam da mesma fonte,
logo, em essência, são idênticos não havendo diferença entre o bem e o mal, amor e ódio
etc.

"A presente carta se empenha em representar todas as concepções acima expostas. E,


contudo, nenhuma imagem verdadeira é possível de modo algum pois, primeiro, todas as
imagens são necessariamente falsas como tais, e segundo, sendo o movimento perpétuo e
sua taxa aquela do limite, c, o grau de velocidade de luz, qualquer estase contradiz a idéia
da carta: esta figura é, portanto, dificilmente mais do que apontamentos mnemônicos."
(Livro de Thoth, p.70)

Significado Geral:

O começo de um ciclo. O início de uma jornada. Flexibilidade, habilidade em lidar com


situações difíceis. Fazer acordos, conversar, manipular, iludir, enganar, distrair a atenção
das pessoas para outro assunto quando se sente acuado. Um grande vendedor de si mesmo.
Profissionalmente a comunicação é o seu forte, logo, carreiras como de jornalista,
marketing, professor, vendedor, são perfeitas. Comunica-se muito bem. É, ainda, um
homem jovem, ou, pelo menos, de espírito jovem. Deve-se ficar atento com uma
personalidade tão fascinante, pois é um manipulador de primeira, mexe com nosso ego,
vaidade e nos convence de qualquer coisa que queira. É absolutamente sedutor.

Na saúde vai falar da fragilidade da garganta, possível rouquidão, laringite ou faringite.


Indica o princípio de um tratamento.

No sentido negativo devemos ficar atentos com roubos, uma vez que o Mago é
representado por Mercúrio, o Deus cultuado dos ladrões e enganadores por natureza.

Indica começo de uma relação que pode ou não ir para frente. Chama a atenção para o
"canto da sereia", não cair na lábia de qualquer um.

Viagens, muitas vezes pequenas e curtas, muito movimento.

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