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Dicionário da mitologia grega e romana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, s. d. p. 241.
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D Dois relatos miticos De modo semelhante aos maué, os gregos dos tem-
pos homéricos narram o mito de Pandora, a primeira
Costumamos dizer que a filosofia é grega, por ter mulher. Em uma das muitas versões desse mito, Zeus
nascido nas colônias gregas no século VI a.C. E antes enviou um presente aos humanos, mas com a intenção
da filosofia, que tipos de pensamentos ocupavam a de puni-los por terem recebido o fogo do titã Prometeu,
mente das pessoas? que o roubara dos Céus. Pandora levava consigo uma
Vamos primeiro examinar o mito, modo de cons- caixa, que abriu por curiosidade, deixando escapar todos
ciência que predomina nas sociedades tribais e que os males que afligem a humanidade. Conseguiu, porém,
nas civilizações da Antiguidade ainda exerceu sig- fechá-la a tempo de reter a esperança, única maneira
nificativa influência. Ao contrário, porém, do que de suportarmos as dores e os sofrimentos da vida.
muitos supõem, o mito não desapareceu com o Nos dois relatos, percebemos situações aparen-
tempo. Está presente até hoje, permeando nossas temente diversas, mas que se assemelham, pois
esperanças e temores, como veremos. ambos tratam da origem de algo: entre os indígenas,
Entre os povos indígenas habitantes das ter- como surgiu a noite; e entre os gregos, a origem dos
ras brasileiras, encontramos várias versões sobre a males. E trazem como consequências dificuldades
origem da noite. Um desses relatos é o dos maué, que as pessoas devem enfrentar.
nativos dos rios Tapajós e Madeira. Segundo eles, A leitura apressada do mito nos leva a com-
no início só havia o dia. Cansados da luz, foram ao preendê-lo como urna maneira fantasiosa de expli-
encontro da Cobra-Grande, a dona da noite. Ela car a realidade, quando esta ainda não foi justificada
atendeu ao pedido com a condição de que os indí- pela razão. Sob esse enfoque, os mitos seriam len-
genas lhe dessem o veneno com que os pequenos das, fábulas, crendices e, portanto, um tipo inferior
animais como aranhas, cobras e escorpiões se pro- de conhecimento, a ser superado por explicações
tegiam. Em troca, receberam um coco com a reco- mais racionais. Tanto é que, na linguagem comum,
mendação de só abri-lo ao chegarem à maloca. Ao costuma-se identificar o mito à mentira.
ouvirem ruídos estranhos saindo dele, não resisti-
ram à tentação e assim deixaram escapar anteci-
padamente a escuridão da noite. Atônitos e perdi-
dos, pisaram nos pequenos bichos, cujas picadas
m ETIMOLOGIA
Mito. Mythos, em grego, sign ifica "pa lavra ", "o que
venenosas mataram muitos deles. Desde então, os se diz", "narrativa". A consciência mít ica é predomi -
nante em cu lturas de trad ição ora l, quando ainda
sobreviventes aprenderam os cuidados que deve-
não há escrita.
riam tomar quando a noite viesse.
u PARA REFLETIR
• Exemplos de rituais
A maneira mágica pela qual os povos tribais agem
O mistério é algo que não podemos compreend er, por
ser inacessível à razão e depender da fé. Um problema sobre o mundo pode ser exemplificada pelos inúme-
é algo que ainda não compreendemos, mas cuja res- ros ritos de passagem: do nascimento, da infância
posta nos esforçamos para descobrir. Você poderia
para a idade adulta, do casamento, da morte.
dar um exemplo de cada um desses conceitos?
Assim diz Mircea Eliade:
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ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Lisboa: Livros do Brasil, s. d. p. 143-144.
Incon sci ente coletivo. Para Jung, o inconsciente pessoal e co letivo, de sonhos, de del írios e em
coletivo é hereditário, "idêntico em todos os homens, manifestações artísticas.
e constitui um substrato psíquico comum, de natureza Manda la. Do sân scrito, "círculo". Segundo Jung, as
supra pessoal, que está presente em cada um de nós". manda las são imagens circulares desenhadas,
Arquétipo. Segundo Jung, imagens ancestrais e pi nt adas, modeladas e dançadas que sugerem ordenação,
simbólicas que se exprim em por meio do inconsciente recuperação do equil íbrio, ren ovação da personal idade.
SILVEIRA, Nise da. As imagens do inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981. p. 65.
mo mito nas civilizações antigas chamados aedos e rapsodos, que os recitavam de cor
em praça pública. Nem sempre é possível identificar
Até aqui, tudo o que dissemos sobre os mitos nos a autoria desses poemas, por serem produção cole-
remete aos povos tribais, cujas relações permane- tiva e anônima.
cem igualitárias. Nas sociedades mais complexas,
com novas técnicas e ofícios especializados, desen-
volvimento da agricultura, pastoreio e comércio de PARA SABER MAIS
excedentes, começaram a se estabelecer hierarquias Você sabe como identificar datas tão remotas?
Vamos dar um exemplo: o ano de 3500 a.C. per-
entre segmentos sociais, inclusive introduzindo a
t ence a que milênio? Para saber, dividimos 3-500
escravidão. por 1.000. O resultado é 3 (despreza -se a fração).
Assim floresceram as primeiras grandes civili- Acrescent amos 1 e temos 4, ou seja, o ano de 3500
zações, como na Mesopotâmia, no Egito, na Índia, pertence ao 4º milênio. Para saber a que sécu lo cor-
na China e em Israel. As duas primeiras são as responde este ano, dividimos 3-500 por 100 e acres-
centamos 1. Temos 36, portanto, sécu lo XXXVI a.C.
mais antigas e teriam surgido por volta do final
do quarto milênio a.C. É bom lembrar que essas
datas são aproximativas, uma vez que dependem
de interpretações históricas muitas vezes diver- Teocracia. Do grego theo, "deus", e kratia, "poder".
gentes entre si. Poder político que se funda no poder religioso.
Nessas civilizações tão antigas o mito era com- Aqueu . Oriundo da Acaia, região do norte da
Península do Peloponeso.
ponente importante da cultura, mas as instituições
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LÉVI-STRAUSS, Claude. O cru e o cozido. São Paulo: Cosac & Naify, 2004. p. 31.
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HOMERO. flíada (em forma de prosa). 9. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999. p. 72.
em geral des igna uma disposição ética para realizar ~PARA SABER MAIS
o bem, o que supõe autonomia e não mais imposi-
Positivismo
ção do dest ino. Você saberia indicar algumas virtu-
Consulte o Vocabulário, no fina l do livro, e o capí-
des desejáveis para o convívio humano?
tulo 15, "A crítica da metafís ica ".
b) Hesíodo
No entanto, ao criticar o mito e exaltar a ciência,
Hesíodo, outro poeta que teria vivido por volta do
contraditoriamente o positivismo fez nascer o mito do
final do século VIII e princípios do VII a.C., produziu
uma obra com particularidades que tendem a supe- cientificismo, ou seja, a crença cega na ciência como
rar a poesia impessoal e coletiva das epopeias. Essas única forma de saber possível. Desse modo, o positi-
características novas são indicativas do período vismo mostra-se reducionista, já que, bem sabemos,
arcaico, que então se iniciava. a ciência não é a única interpretação válida do real.
Mesmo assim, suas obras ainda refletem o inte- De fato, existem outros modos de compreensão,
resse pela crença nos mitos. Em Teogonia, Hesíodo como o senso comum, a filosofia, a arte, a religião, e
relata as origens do mundo e dos deuses, em que nenhuma delas exclui o fato de o mito estar na raiz
as forças emergentes da natureza vão se transfor- da inteligibilidade. A função fabuladora persiste não
mando nas próprias divindades. Por isso a teogo- só nos contos populares, no folclore, como também
nia é também uma cosmogonia, na medida em que na vida diária, quando proferimos certas palavras
narra como todas as coisas surgiram do Caos para ricas de ressonâncias míticas - casa, lar, amor, pai,
compor a ordem do Cosmo. mãe, paz, liberdade, morte - cuja definição obje-
tiva não esgota os significados que ultrapassam os
limites da própria subjetividade. Essas palavras nos
liiY ETIMOLOGIA remetem a valores arguetípicos, modelos universais
Teogonia. Do grego théos, "deus", e gonos, "origem". que existem na natureza inconsciente e primitiva
Cosmogonia. Do grego kósmos, "mundo", "ordem", de todos nós.
"beleza".
Caos. Para os gregos, o vazio inicial.
liiY ETIMOLOGIA
Arquétipo. Arché, em grego, significa "princípio",
Por exemplo, do Caos surgiu Gaia, ou Geia (a
"origem".
Terra, elemento primordial), que, sozinha, deu ori-
gem a Urano (o Céu). Em seguida, uniu-se a Urano,
gerando os deuses e as divindades femininas. Um de
seus filhos é Cronos (Tempo), que toma o poder do • A pennanência do mito
pai e é destronado pelo filho Zeus. O mito ainda é uma expressão fundamental do
Os deuses gregos permaneceram por muito viver humano, o ponto de partida para a compreen-
tempo na cultura ocidental da Antiguidade e foram são do ser. Em outras palavras, tudo o que pensamos
assimilados pelos romanos, com outros nomes. Por e queremos se situa inicialmente no horizonte da
exemplo, Cronos é Saturno, Zeus é Júpiter, Atena é imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido
Minerva, Mrodite é Vênus e assim por diante. existencial serve de base para todo trabalho poste-
rior da razão.
u PARA REFLETIR
Os arianos são um subgrupo indo-europeu que
veio das estepes da Ásia e se expand iu pela Europa .
Segundo a concepção racist a do nazismo, de les
descendiam os alemães, que constituíam uma
" raça pura ". Você já notou como as dout rinas racis -
tas consideram inferiores pessoas ou grupos que
são apenas diferentes?