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Disciplina: Introdução a Metodologia Científica e Métodos de Estudo

Universidade Federal de Mato Grosso


Curso: Agronomia
Departamento de Solos e Engenharia Rural
Abril 2023
COMO ESCREVER A MONOGRAFIA

Este documento está direcionado para a elaboração da monografia, que segundo as normas da ABNT podem
ser relatórios acadêmicos, trabalho de conclusão de curso, dissertações e tese. A monografia é um documento
de conclusão de uma pesquisa que segue a metodologia científica e pretende apresentar a pesquisa em forma
objetiva e direta. É a comunicação de descobertas utilizando a linguagem escrita.
A redação da monografia na etapa final da pesquisa, é um processo complexo intelectual que inclui processos
de descoberta e aprendizagem (Ackerman, 1993, p 334). A escrita aproxima a dialética pensamento –
linguagem que também ocorre na conversa e vai focar na audiência e no processo de comunicação que conecta
leitores e escritores. A linearidade da escrita, uma palavra após a outra, leva a pensamentos mais coerentes e
sustentados do que pensar ou falar (Ackerman, 1993, p 347, 349).
A monografia é um documento que é um último requisito para obter um grau acadêmico, e é um elemento
importante na produção científica do estudante e da universidade. Por este motivo, a monografia e as
comunicações científicas devem preencher alguns requisitos de qualidade para serem publicados, alguns deles
sâo: a) a importância do problema ou situação, a relevância do trabalho, b) a qualidade da escrita, a forma para
apresentar as informações e ideias em sequência lógica e seu encaixe seguindo as formas de redação e
gramática, c) o modelo de pesquisa utilizado, a idoneidade do modelo, rigorosidade, d) o enfoque e atualidade
da revisão de literatura, e) a representatividade da amostra, f) implicações práticas e úteis da pesquisa
(Bordage, 2001, p 892).

COMPONENTES DA MONOGRAFIA
A estrutura da monografia compreende elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais que são organizados e
apresentados na norma NBR 14724: Trabalhos acadêmicos. Neste documento são comentados os
fundamentos dos componentes da monografia mais utilizados. Não é objetivo deste documento focar na
formatação dos componentes. Para informações sobre a formatação procurar o Roteiro do Trabalho.

TITULO
O título deve mostrar e descrever o propósito do conteúdo da monografia de uma forma direta (Anderson, 2014,
p. 2; Mack, 2018, p 46) e motivar a leitura da monografia pelas pessoas que vão se beneficiar da informação.
Para conseguir o anterior, o título deve indicar o campo de estudo onde está incluída a pesquisa, o escopo do
estudo e deve ser autoexplicativo para os leitores (Swales e Feak, 2012, p 379).
Pode ser proposto um título no início da redação do documento, porém, depois de finalizar a redação deve ser
revisto e se for necessário deve ser atualizado. Este componente da monografia é a porta de entrada do
documento.
A informação do título deve mostrar uma relação estreita entre palavras chaves e o conteúdo da monografia,
porque essas palavras chaves são as que os leitores utilizarão para buscar a monografia. Desta forma o título
cumpre sua função de direcionar a monografia ou documento para as pessoas certas (Anderson, 2014, p. 2;
Mack, 2018, p 41).
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O título faz parte do Projeto de Pesquisa e do Relatório Final ou Monografia e não deve indicar os resultados
do trabalho, e deve ser específico.

RESUMO
O propósito do resumo é apresentar o trabalho em forma breve, concisa e precisa. O resumo confirmará o
interesse sobre o assunto para as pessoas certas e ainda despertará maior interesse de leitura do documento.
O resumo pode ser indicativo, quando descreve o que foi realizado, e informativo quando inclui as principais
descobertas (Swales e Feak, 2012, p. 384).
Algumas editoras ou instituições de pesquisa recomendam o número de palavras que devem ser utilizadas no
resumo. O desafio será poder comunicar as informações do resumo em forma breve. O resumo deve ser escrito
no final da pesquisa. Deve ser evitada a utilização de acrônimos e citações no resumo. O resumo não faz parte
do componente Introdução, o seu propósito é diferente.
O resumo em comunicações científicas geralmente é apresentado em forma estruturada, uma sugestão sobre
a estrutura do resumo pode ser a seguinte:
- O Propósito do trabalho, o contexto do trabalho, a motivação da pesquisa. Isto pode ser escrito regularmente
a partir da primeira linha;
- O Método: indicar as condições do experimento, indicar o nome dos métodos utilizados; não detalhar a
metodologia;
- Os Resultados: relatar os resultados quantitativos relacionados com os tratamentos, indicar tendências, relatar
resultados que respondem às questões iniciais da pesquisa;
A Discussão: breve relato das interpretações e as conclusões.
(Anderson, 2014, p. 4; Cook et al., 2009, p. 143; Mack, 2018, p 41; Swales e Feak, 2012, p. 384)

INTRODUÇÃO
A introdução deve conduzir ao leitor para entender o contexto da situação ou problema de pesquisa. Em curto
espaço de alguns parágrafos até uma página, esclarecer a natureza, o escopo e importância do problema para
entender a questão-chave, a lacuna de informação ou a informação atual associada ao problema e, uns
argumentos concisos de suporte para à questão-chave, baseados em literatura consultada (Cook et al., 2009,
p. 143). A lacuna de informação, é o nicho que vai ocupar a pesquisa (Swales e Feak, 2012, p. 334).
Não deve ser utilizado o componente Introdução para relatar, comentar e avaliar muita literatura sobre o tema.
A introdução deve justificar ou facilitar o entendimento dos objetivos e das hipóteses da pesquisa porque
apresenta de forma direta ou indireta a questão-chave. A introdução não deve delinear a pesquisa ou seus
componentes no relatório (Mack, 2018, p. 7).

OBJETIVOS
Os objetivos devem focar o chamar a atenção sobre a ideia central da pesquisa, do estudo. Deve ser evitado
relacionar duas ou mais variáveis ou grupos e manter a ideia de relacionar ou comparar ideias (Creswell, 2009
n.p.). Em algumas condições é importante mencionar os participantes e o local da pesquisa. Existem
classificações e tipos de objetivos. Geralmente, em pesquisa científica podem ser utilizados objetivo geral e
objetivos específicos.

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Segundo o documento (projeto de pesquisa ou relatório final) podem ser utilizados verbos no futuro ou no
passado. Podem ser utilizados verbos de ação para indicar como será realizada a aprendizagem por exemplo:
estudar, analisar, entender, contribuir, etc. Evitar utilizar palavras que implicam algum resultado: benefício,
utilidade, positivo, etc. (Creswell, 2009 n.p.).
Doran (1981, p. 36) propus uma metodologia para escrever os objetivos: SMART que significa: Specific –
Measurable – Assignable – Realistic - Time-related. Nesse contexto, os objetivos devem preencher os seguintes
requisitos:
Específico, identificando um alvo de uma área específica;
Mensurável, indicando como vai ser quantificado ou sugira um indicador;
Atribuível, indicando quem é o responsável;
Realista, indicando os resultados possíveis de serem alcançados no contexto e recursos da pesquisa;
Relacionado ao tempo, indicar quando vai ser alcançado os resultados.

HIPÓTESE
Em pesquisa quantitativa é utilizada a hipótese. A hipótese é a suposição que explica um fenômeno. Em
pesquisas quantitativas podem ser utilizadas hipóteses quantitativas que podem ser suposições sobre relações
possíveis entre variáveis. São estimativas numéricas de uma população baseadas em dados coletados. As
hipóteses quantitativas utilizam um procedimento estatístico chamado de Teste de hipóteses onde o
pesquisador ao interpretar os resultados pode fazer inferências para a população com segurança.
As hipóteses indicam a direção que a pesquisa vai tomar. Através das hipóteses podem ser comparados
grupos, relacionar variáveis e descrever respostas de variáveis (Creswell, 2009 n.p.).
Neste contexto as hipóteses poder ser hipóteses nulas e hipóteses alternativas. A hipótese nula representa a
abordagem tradicional, o que até o presente parece que acontece, que na população geral não existe relação
ou não existe diferença significativa entre variáveis (Creswell, 2009 n.p.).
Por outro lado, a hipótese alternativa seria uma outra explicação ou previsão da relação entre variáveis que
está baseada em pesquisas e estudos. Uma variante é propor uma explicação alternativa não detalhada ou
especificada porque até o presente não existe informação (Creswell, 2009 n.p.).

REVISÃO DE LITERATURA
A revisão de literatura é a análise da informação relevante, atualizada relacionada à pesquisa. O pesquisador
vai conduzir ao leitor na análise da informação disponível até o momento. A revisão de literatura deve ser
dividida em tópicos, indo do geral até o específico, respeitando o escopo da pesquisa. Essa divisão por tópicos
ajuda a visualizar e facilita a busca de informações sem perder o foco da pesquisa.
As informações devem indicar as fontes, as citações dos autores consultados. As citações reconhecem as
descobertas realizadas anteriormente no assunto da pesquisa e dá os créditos aos responsáveis dessas
descobertas, fornece maior autoridade às informações e argumentos, ajudam ao pesquisador para se
aprofundar no tema. As citações são fundamentais nos trabalhos acadêmicos porque geram mais confiança e
separam outras publicações que são “populares” (Swales e Feak, 1994, p. 180-181)
Na monografia solicitada na disciplina de Introdução a Metodologia Científica e Métodos de Estudo serão
consideradas as citações indiretas e as citações das citações, de acordo às normas da ABNT, assim como a
extensão da revisão de literatura deve ser no mínimo 3 páginas.
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A redação da Revisão de Literatura não deve ser cópia literal da informação encontrada, assim como também
não pode ser uma resenha da informação encontrada, nem um resumo. Deve ser evitado o plágio em qualquer
de suas formas.
A redação da Revisão de Literatura deve interpretar as informações encontradas na literatura, e em algumas
oportunidades confrontar informações de outras fontes ou confrontar no contexto da própria pesquisa, por
exemplo, as pesquisas anteriores foram realizadas em outras épocas, ou foram utilizadas outras metodologias,
ou foram realizadas em outros ambientes, etc.

Exemplos de utilização das citações indiretas


1- A cargas negativas da matéria orgânica do solo são dependentes do pH do solo (Lopes, 1977, p 20), ....
2- A variação do pH do solo, age nos teores das cargas negativas da matéria orgânica (Lopes, 1977, p 20), por
esse motivo..
3- Lopes (1977, p 20) constatou que o pH do solo age nos teores das cargas negativas da matéria orgânica,
4- Como consequência da pesquisa de Lopes (1977, p 20) que demonstrou que o pH age nos teores de cargas
negativas da matéria orgânica...
5- Estes dados confirmam as conclusões de Lopes (1977, p 20)...
6- Foi encontrado que o pH do solo age nos teores de cargas negativas da matéria orgânica (LOPES, 1977, p
20)

MATERIAL E MÉTODOS
O componente Material e Métodos apresenta os procedimentos realizados baseados em métodos conhecidos
encontrados na literatura e também pode incluir o Modelo Experimental. Material e Métodos deve ser explícito
com suficientes detalhes sobre os procedimentos para permitir que outros pesquisadores consigam repetir o
trabalho nas mesmas condições (Kallestinova, 2011, p. 183). Na descrição dos procedimentos e aparelhos
devem ser incluídas as citações correspondentes.
Uma metodologia adequada e uma execução ou condução do experimento cuidadosa leva a confiabilidade nos
resultados. Em alguns relatórios de pesquisa podem ser incluídos equipamentos, programas e procedimentos
estatísticos, Fabricantes, Marcas, Fontes, Permissões, etc. (Swales e Feak, 2012, p. 189). Métodos conhecidos
ou padrão, não devem ser detalhados (Swales e Feak, 2012, p. 295). Escrever em tempo passado, procurando
escrever em voz passiva.

RESULTADOS
É importante conhecer a diferença entre dado e resultado, o dado é a informação obtida, que pode ser
apresentada em tabelas ou figuras, e o resultado é a declaração que resume ou interpreta o que os dados estão
apresentando (Swales e Feak, 2012, p. 305, 306).
Os Resultados exclusivamente devem descrever os resultados apresentados em tabelas e figuras e podem ser
apresentados em subseções para organizar a sequência das diferentes etapas da pesquisa com seus
respectivos resultados. Estas subseções devem apresentar subtítulos (Swales e Feak, 2012, p. 320, 323).
Quando se apresentem resultados estatísticos, devem ser escritos entre parêntesis depois da descrição ou
declaração, por exemplo:

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“O tamanho dos frutos foi significativamente maior em árvores que crescem na sombra (t = 3,45, df = 3, p <
0,05)” (Steingraber et al., 1985 p. 188).
As tabelas e as figuras devem apresentar títulos, número sequencial e fonte. Estas informações servem para
montar uma lista de tabelas e lista de figuras em algumas monografias. Ao mencionar as tabelas e figuras no
texto evitar: “Os resultados são apresentados na Figura 1”, é correto escrever assim: “A disponibilidade de água
no solo permitiu um bom desenvolvimento das plantas (Fig.1)”. Utilizar tempo verbal no passado.

DISCUSSÃO
Na discussão o autor considera que o leitor entendeu o propósito do estudo, a metodologia de condução do
experimento e a análise de dados, e compreendeu os resultados (Swales e Feak, 2012, p. 365) e agora está
pronto para analisar a argumentação dos resultados.
A discussão não vai repetir ou descrever os resultados. O componente Discussão não é simplesmente uma
inspeção dos dados senão precisa argumentar cuidadosamente as causas dos resultados e as condições que
geraram esses resultados. A Discussão não é lugar para provar o resultado, mas fornece suporte para o
resultado (Swales e Feak, 2012, p. 365).
As subseções de resultados apresentam declarações fatuais e sua interpretação, enquanto as subseções de
discussão lidam com as alegações que podem ser feitas, especialmente novas descobertas de conhecimento
(Swales e Feak, 2012, p. 365). Os argumentos devem ser apresentados cuidadosamente para avaliar se a
informação obtida é similar ou diferente de outras publicações e a causa desse comportamento (Hoogenboom
e Manske, 2012, p. 516) sendo um momento adequado para integrar os resultados da pesquisa com outras
pesquisas que forneçam mais informação sobre o resultado encontrado (Steingraber et al., 1985 p. 188)
A forma metodológica de elaborar a discussão depende do tipo de variável, da condição de obtenção do
resultado, etc. Alguns autores propõem formatos verticais e formatos horizontais. Em uma forma de discussão
vertical, são colocadas “lado a lado” as vantagens ou desvantagens de alguma ideia ou algum resultado. A
forma horizontal é a análise de vários pontos de vista sobre a ideia ou o resultado. Depois de organizar as
informações de forma vertical ou horizontal deve ser realizada a discussão ou análise dessas informações. A
forma de organização é somente uma forma de visualizar as informações antes da discussão (Bailey 2011, p.
102). Algumas vezes há lugar para um contra-argumento de algumas ideias (Bailey 2011, p. 106)
Na redação da discussão deve ser evitada a opinião ou argumento que não seja fundamentado em informações
de pesquisas para que os argumentos ou explicações apresentem maior autoridade. É recomendada a
utilização da voz passiva em todo o documento da monografia.

CONCLUSÕES
Na redação das conclusões, redigir com atenção para não reapresentar os resultados, senão elaborar
declarações finais e somativas vindas das argumentações dos resultados. As conclusões devem estar
relacionadas com os objetivos, as hipóteses e o problema da pesquisa (Hoogenboom e Manske, 2012, p. 517)

REFERÊNCIAS E CITAÇÕES
Seguir as normas da ABNT: NBR 10520 e NBR 6023

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