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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO-UFMA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS-CCH


DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA: TEORIA DA LITERATURA II
DOCENTE: JOSÉ DINO COSTA CAVALCANTE
DISCENTE: NOEMY PRAZERES SOUSA

RESENHA
Schwarz “Os Pobres na Literatura Brasileira” e Machado de Assis “Pai contra Mãe”
SCHWARZ, Roberto. Os Pobres na Literatura Brasileira. Editora Brasiliense, São Paulo, 1983.
ASSIS, Machado de. Pai contra Mãe. Relíquias da Casa Velha. Rio de Janeiro, H. Garnier Livreiro
Editor, 1906.

Roberto Schwarz, nasceu em Viena, Áustria, em 1983. Graduado em ciências


sociais pela USP, fez mestrado em literatura comparada na Universidade Yale e
doutorado na Universidade de Paris III, Sorbonne. Ensinou teoria literária na USP e
Unicamp. É um importante crítico de Machado de Assis, grande autor do realismo
brasileiro e representante da Literatura Nacional. É com a crítica de Schwarz que o
nosso escritor recebe uma análise social que parte da forma, e não do conteúdo.

O conto “Pai contra Mãe” de Machado de Assis, conta a história de Candinho,


que tem o ofício de pegar escravos fugidos. Cândido é a perfeita representação do
elemento da vida mental brasileira: “tinha um defeito grave esse homem, não
aguentava emprego nem ofício.” Ele se casa com Clara, que assim como D. Plácida
é um arquétipo da pobreza, representa assim, o trabalho indiferente (cozinhar,
costurar). Clara fica grávida e com isso, a problematização se inicia, Candinho não
tem um trabalho fixo, cedeu à pobreza e dessa forma começou a pegar escravos
fugidos. “Ora, pegar escravos fugidos era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas
por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta
outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por
desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptidão para
outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por
outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à
desordem.” Esse trecho é uma representação clara do modelo de retratar a pobreza
e as relações das classes sociais em Machado de Assis.
Roberto Schwarz afirma em “Os Pobres na Literatura Brasileira” que a escrita
de Machado resulta em um retrato social revelador. A escravidão é uma realidade no
conto em questão, representando o contexto escravocrata e a “luta” dos pobres pela
sobrevivência. Cândido, depois do nascimento do filho se encontra sem lucros, dessa
forma, a tia de Clara, Tia Mônica diz que o pai deve levar a criança à Roda dos
Enjeitados, Candinho não aceita, mas com o tempo acaba levando o filho. No
caminho aparece Arminda, uma escrava fugida, ele deixa o filho na farmácia e vai
atrás. Arminda estava grávida e implorou para sair, porém é levada até o senhor. Com
toda a pressão, a escrava grávida aborta. Arminda não encontra ajuda para si e nem
para o filho, Cândido Neves assiste tudo e não demonstra nenhuma compaixão, essa
situação causa um tipo de sentimento de injustiça e de revolta no leitor.

Machado de Assis, mostra em Pai contra a Mãe a realidade da escravidão e a


pobreza retratada pelos personagens que “lutam” para sobreviver a condições
extremas. Schwarz, no seu texto afirma que a situação da Literatura diante da
pobreza é uma realidade estética radical e a busca dos personagens pela
sobrevivência é a prova dessa realidade. No texto “Os Pobres na Literatura
Brasileira”, Roberto cita o exemplo de D. Plácida, nas Memórias Póstumas, que tem
uma vida pobre totalmente resumida em trabalhos insanos, desgraças e diversas
frustações, afirma que “a vida honesta e independente não está ao alcance do pobre”,
ela retrata a má-fé deliberada no tratamento dos pobres e uma vida de trabalho que
não resulta em reconhecimento algum. Schwarz diz que Machado viu outra face da
moeda; “o trabalho sem mérito ou valor é um ápice de frustração histórica.”

Os textos “Pai contra Mãe” e “Os pobres na Literatura Brasileira” destacam


uma triste realidade social. Ao tratar da pobreza, Machado a descreve em seu ciclo
funcional, a reprodução da espécie da sociedade e da injustiça é um importante traço
da literatura realista, o romance realista é a representação da realidade. Na
compreensão da escravidão, Arminda é o relato do sistema escravocrata. Cândido
Neves, não se mostra revoltado com o sofrimento da escrava, o personagem depende
do trabalho escravo para levar uma vida de ociosidade: “pegar escravos fugidos
trouxe-lhe um encanto novo. Não obrigava a estar longas horas sentado. Só exigia
força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda.” Cândido representa a
hipocrisia da sociedade brasileira e descrição do cenário brasileiro da época.
Referências

LOPES DOS SANTOS, Luiz Henrique; MOURA, Mariluce. Roberto Schwarz: Um crítico na periferia
do capitalismo. Pesquisa Fapesp, edição 98, 2004. Disponível
em:https://revistapesquisa.fapesp.br/um-critico-na-periferia-do-capitalismo/. Acesso em: 20 de
dezembro de 2022.

COUTO, Elvis Paulo. Roberto Schwarz e o crítica social na literatura de Machado de Assis.
Revista Florestan Fernandes – Ano 3 – N. 1. p. 151-163

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