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RESENHA SOBRE A PERSONAGEM DONA PLÁCIDA COM BASE NOS TEXTOS

“A VELHA POBRE E O RETRATISTA” E DOIS CAPÍTULOS DE “MEMÓRIAS


PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS”

Renata Silva Araujo1

Publicado em 1981 por Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás


Cubas é a obra que inaugura o Realismo no Brasil. Narrada em primeira pessoa
pelo defunto-autor Brás Cubas, que ao descrever sua autobiografia vai também
narrar questões de classe da sociedade brasileira da época. Dona Plácida, uma de
suas personagens mais significativas é um grande exemplo desse retrato de
diferença de classes, principalmente de pobreza, como apontado por Roberto
Schwarz (1983) no texto A velha pobre e o retratista.
A história de Dona plácida é narrada por Machado de Assis como a de uma
pobre mulher de vida sofrida que perdeu o pai, o marido, precisava cuidar da mãe e
da filha sozinha. Era uma mulher que precisou trabalhar desde muito cedo. Fazia
doces e costurava, trabalhava muito para que não precisasse acabar na rua e pedir
esmola.
Dona Plácida também era alguém que acreditava no casamento, queria se
casar e considerava o matrimônio algo sagrado. Entretanto, “à custa de obséquios e
dinheiros”, D. Plácida acaba como uma alcoviteira.
O livro Os Pobres na Literatura Brasileira, organizado pelo crítico literário
Roberto Schwarz, vai apresentar as definições e representações da pobreza na
literatura brasileira, evidenciando os debates sobre luta de classes sociais.
Em A velha pobre e o retratista, Schwarz inicia apresentando o papel que
cabia ao pobre na sociedade brasileira do século XIX. Ao mestre-escola coube “uma
vida de trabalho humilde e honrado” (SCHWARZ, 1983). Ao amigo de infância de
Brás Cubas que virou um pedinte, cabe apenas desprezo. A situação era de uma
sociedade burguesa que sempre se colocava superior moralmente. Não restava
outra condição aos pobres que não fosse a de um trabalho desqualificado ou o

1
Graduanda em Letras/Inglês - Universidade Federal do Maranhão
Disciplina: Teoria da Literatura II
Resenha II
vexame de não trabalhar e ser obrigado a recorrer às ruas enquanto mendigos,
pedintes. Isso tudo dentro de uma sociedade de escravização ainda.
É nesse retrato social de frustração que está o caso de Dona Plácida. A
Pobre mulher vive uma situação de “trabalhos insanos, doenças e frustrações”
(SCHWARZ, 1983). A Personagem de Machado de Assis é justamente aquela que
tenta realizar um trabalho humilde e honrado para que não sucumba a degradação
de pedir esmolas na rua e a nenhuma outra quebra de bons costumes. O que acaba
não sendo possível evitar, já que posteriormente Dona Plácida termina se
agregando à família de Virgília e acobertando a relação adúltera entre ela e Brás
Cubas.
Por mais que D. Plácida fosse uma defensora do matrimônio, da fidelidade e
da família, por necessidade ela se viu obrigada a proteger uma situação com a qual
ela não concordava. Ou seja, ao pobre não se tem a escolha de seguir com o
trabalho honesto e digno pois a necessidade é o que prevalece, ele não tem
escolha. “A vida honesta e independente não está ao alcance do pobre.”
(SCHWARZ, 1983).
Diante disso, Schwarz (1983) aponta essa situação como explicação à
tristeza de D. Plácida, já que ela trabalha tanto e pouco reconhecimento tem. Faz
parecer até que a sua vida simplesmente não tem sentido. No entanto, ao imaginar
uma razão para a existência de D. Plácida, Brás Cubas diz que ela veio justamente
para isso, para trabalhar exacerbadamente, enquanto mal se alimenta. Para adoecer
e sarar a fim de que continue trabalhando e trabalhando. Sendo assim não é que
sua existência não tenha finalidade, mas muito pelo contrário, ela está ali justamente
para contribuir com a manutenção dessa ordem e sistema social.
O que Schwarz faz é demonstrar a qualidade com que Machado de Assis
consegue representar as diferenças de classes em suas obras, sendo muito
eficiente em retratar a pobreza pois a compreende muito bem.

REFERÊNCIAS
DE ASSIS, M. Memórias Póstumas de Brás Cubas. [S.l.]: [S.n.], 1881.
SCHWARZ, Roberto. Os Pobres na Literatura Brasileira. São Paulo: Brasiliense,
1983.

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