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ASSIS, Machado de. Um encontro. In: ASSIS, Machado de. Obra Completa. vol. I. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 67-69.
Este trabalho tem por objetivo resenhar criticamente o capítulo “Um encontro”,
presente na obra “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Publicado como
livro em 1881, o romance apresenta um narrador que conta toda a trajetória de sua vida após a
própria morte, autointitulando-se defunto autor com a intenção de deixar clara a ordem dos
acontecimentos – primeiro se fez defunto, depois, autor. Para Schwarz (2000), “O
espevitamento desta abertura, em que o impossível está dito em primeira pessoa, é grande.
Parece claro que a situação de “defunto autor”, diferente de “autor defunto”, sendo uma
agudeza intencionalmente barata, aqui não desmancha a verossimilhança realista, embora a
desrespeite”. A sutil ironia de Machado é um traço notável em suas obras e aparece bastante
em Memórias póstumas, pelo uso de temas como as classes sociais e a escravidão, a fim de
ironizar os privilégios da elite da época. No capítulo “Um encontro”, por exemplo, o
personagem Brás Cubas encontra-se com dois personagens conhecidos que se divergem em
identidade de classe, mas também que se relacionam, tanto entre si quanto com o
protagonista. A construção desse encontro é feita por meio de diversos recursos e
procedimentos literários, sendo muito presente, por exemplo, o emprego da volubilidade –
“Neste sentido a volubilidade é, como propusemos no início destas páginas, o princípio
formal do livro” (SCHWARZ, 2000). No decorrer da narrativa, o defunto autor é definido
pela volubilidade, ou seja, definido por “desdizer e descumprir a todo instante as regras que
ele próprio acaba de estipular” (SCHWARZ, 2000).
O primeiro encontro que ocorre no capítulo 59 é dado pela saída de Brás da casa do
ministro. Brás não se encontra de fato com o personagem Lobo Neves, pois o encontro
referido trata-se da identificação de Brás com o personagem, enquanto considera assumir o
seu cargo profissional. Lobo Neves e Brás Cubas pertencem à mesma classe, eles cresceram
juntos no mesmo contexto social. No entanto, aos olhos de Brás Cubas, Lobo Neves alcançou
uma posição social mais elevada do que ele, já que seu antigo colega se tornou ministro de
Estado e roubou a sua amada.
(ASSIS, 1994)
Percebe-se, a partir do encontro dos dois personagens, que há um desdém por parte de
Brás Cubas sobre o seu conhecido e, também, uma sensação de reconhecimento. No romance,
o homem pálido aproxima-se de Brás e estabelece contato: “Aposto que não me conhece,
Senhor Doutor Cubas?”. Foi assim, a partir da confirmação de que não reconhecia sua face,
que o homem se apresentou como “Borba, o Quincas Borba”. A apresentação pelo sobrenome
denota que ele espera ser reconhecido pelo sobrenome antes do próprio nome, característica
essa de herdeiros de famílias da alta sociedade. Apesar de não fazer mais parte dessa classe,
Borba mantém comportamentos da elite, como se apresentar pelo sobrenome e reagir em
latim – “In hoc signo vinces! bradou.” (ASSIS, 1994).
Neste momento, pode ser notado o contraste de tratamento entre os personagens que
aparecem neste capítulo: Lobo Neves e Quincas Borba, um ministro e um mendigo. Ambos
vieram do mesmo meio social de Brás Cubas, tendo estudado no mesmo colégio e crescido
juntos. Apesar disso, Lobo Neves ocupa um renomado cargo público e pertence à alta classe
da sociedade, enquanto Quincas Borba encontra-se em situação de pobreza, fazendo uso de
roupas velhas e lidando com situações de fome. Brás Cubas encara Lobo Neves como uma
figura digna de respeito, ainda que não encare o ministro como uma pessoa superior a ele. Já o
Borba, por sua vez, é recebido com nojo e lástima. Quincas Borba é um personagem que
perdeu a sua fortuna e a sua posição social, tornando-se, como o próprio diz, um mendigo. A
repulsa de Brás Cubas sobre o colega de infância é explicitada no texto:
O Quincas Borba! Não; impossível; não pode ser. Não podia acabar de crer que essa
figura esquálida, essa barba pintada de branco, esse maltrapilho avelhentado, que
toda essa ruína fosse o Quincas Borba. E era. Os olhos tinham um resto da expressão
de outro tempo, e o sorriso não perdera certo ar escarninho, que lhe era peculiar.
Entretanto, ele suportava com firmeza o meu espanto.
(ASSIS, 1994)
ASSIS, Machado de. Marquesa, Porque Eu Serei Marquês. In: ASSIS, Machado de. Obra
Completa. vol. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 53-54.
ASSIS, Machado de. O Recluso. In: ASSIS, Machado de. Obra Completa. vol. I. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 58-59.