Você está na página 1de 19

06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações

SEARCH All OpenEdition

Confins
Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia

37 | 2018
Número 37

Áreas de preservação
permanente de topos: das
alterações na legislação
brasileira às suas diferentes
interpretações
Les zones de préservation permanentes des sommets : les changements dans la législation brésilienne a leurs
différentes interprétations
Permanent preservation areas of hilltops: of the changes in the Brazilian law to different interpretations

Amanda Machado de Almeida et Eduardo Vedor de Paula


https://doi.org/10.4000/confins.15261

Résumés

☝🍪
Português Français English
A Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Código Florestal Brasileiro) estabelece as normas,
parâmetros e limites das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL). As APPs
Ceexercem
site utilise desambientais
funções cookiescomoet a proteção dos solos e a preservação dos recursos hídricos, que
vous donne
impedem le contrôle
a aceleração desur
processos erosivos e assoreamento, problema que afeta a baía de
ceux que localizada
Antonina, vous souhaitez
no litoral do estado do Paraná. As APPs das categorias de topo de morros,
montes, montanhas,
activer serras e linhas de cumeada foram instituídas pela Lei n° 4.771, de 1965,
entretanto suas normas de delimitação definiram-se somente com a Resolução CONAMA
004/85, posteriormente revogada pela Resolução 303/02. A versão atual da legislação (Lei n°
12.651/12), em seu Artigo 4°, inciso IX, apresentou mudanças consideráveis nas APPs de topos,
pois✓alterou
Tout suas
accepter
normas e excluiu as linhas de cumeada como categoria de APP. Além desses
fatores, a Lei se mostra subjetiva em sua redação e permite três interpretações do conceito de
base da elevação de terreno destas feições geomorfológicas. Nesse contexto, o presente estudo
teve ✗ Tout
como refuser
objetivos realizar uma avaliação das modificações das APPs de topos entre a legislação
anterior e atual, bem como comparar as três interpretações de base de elevação de terreno
presentes na legislação vigente. A área de estudo adotada foi a bacia do rio Sagrado
Personnaliser
(Morretes/PR), área de drenagem da baía de Antonina. Com a aplicação da legislação em vigor, as
APPs de topos reduziram 21% em relação à Lei n° 4.771/65. Quando comparadas as três
Politique de confidentialité
interpretações da Lei n° 12.651/12, notou-se diferença de mais de 96% de área legalmente
preservada. Diante do exposto, se faz necessário discutir a subjetividade da legislação vigente,
pois a adoção do ponto de sela como base de elevação de terreno poderá implicar na expansão da
https://journals.openedition.org/confins/15261 1/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
ocupação de áreas suscetíveis à produção de sedimentos e consequentemente agravar o processo
de assoreamento da bacia estudada.
La Loi de Protection de la Végétation Native (Code forestier Brésilien) établit les normes,
paramètres et limites des Zones ou Aires de Préservation Permanente (APP) et Réserve Légale
(RL). Les APP exercent des fonctions environnementales comme la protection des sols et
préservation des ressources hydriques empêchant ainsi l’accélération des processus érosifs et
d’ensablement qui sont des problèmes affectant la baie d’Antonina, situé sur la côte de l’état du
Paraná (Brésil). Les APP qui englobent les catégories sommets de collines, montagnes, cimes et
crêtes ont été instituées par la Loi n 4.771, de 1965. Cependant ces normes de délimitation ont
seulement été définies à partir de la Résolution CONAMA 004/1985, postérieurement révoquée
par la Résolution CONAMA 303/2002. La version actuelle de la législation (Loi n°12.651/2012),
dans son Article 4 , Section IX a présenté des changements considérables en ce qui concerne les
APP de sommet, car cette loi altère les normes et exclut les crêtes comme catégorie de APP. En
plus de ces facteurs, la Loi se montre subjective dans sa rédaction et permet trois interprétations
du concept de base d’élévation du terrain quand il s’agit des APP. C’est dans ce contexte que la
présente étude a eu comme objectifs de réaliser une évaluation des modifications des APP de
sommets entre la législation antérieure et l'actuelle ainsi que de comparer les trois interprétations
du concept de base d’élévation de terrain présentes dans la législation en vigueur. La zone d’étude
adoptée a été le bassin du fleuve Sagrado (Morretes/PR), zone de drainage de la baie d’Antonina.
Avec l’application de la législation en vigueur, les APP de sommet ont été réduites de 21% en
relation à la Loi n° 4.771/1965. Comparant les trois interprétations de la Loi n° 12.651/2012, il a
été noté une différence de plus de 96 % de la zone légalement protégée. Vu ce qui précède, il est
nécessaire de discuter la subjectivité de la législation en vigueur, car l’adoption du col comme
base d’élévation du terrain pourra avoir comme implication l’expansion de l’occupation des zones
susceptibles de produire des sédiments et par conséquent aggraver le processus d’ensablement du
bassin étudié.

The Law of Protection Native Vegetation (Brazilian Forest Code) defines the norms, parameters
and limits of the Permanent Preservation Areas (PPAs) and Legal Reserve (LR). Permanent
Preservation Areas (PPAs) it has developed environmental functions such as soil protection and
water conservation, that prevent the acceleration of erosion and silting processes, a problem that
affects Antonina Bay, located in Paraná state coast. The PPAs included the categories of hilltops,
hills, mountains, mountain systems and ridges in Law of number 4.771 in 1965. However, the
PPAs had their delimitation rules defined by CONAMA Resolution 004/85, which repealed by
Resolution 303/02. The last version of the legislation (12.651/12), in Article 4º, section IX,
changed the category of hilltops PPAs, with the exclusion the ridges and changed the limits of
hilltops, hills, mountains and mountain systems. Besides this, the Brazilian Forest Code is
subjective, because the text can have three interpretations for concept of the base of terrain
elevation for geomorphological features mentioned above. In this context, the present paper aims
to carry out an evaluation of the modifications in the PPAs of hilltops between the previous and
current legislation, as well as to compare the three interpretations of terrain elevation present in
the current legislation. The study area was the Sacred River Basin (Morretes/PR), drainage area
of Antonina Bay. With the application of the legislation current, the PPAs of hilltops reduced by
21% in relation to Law 4.771/65. Among the three interpretations of Law 12.651/12, there was a
difference of more than 96% of the legally preserved area. Therefore, it is necessary to discuss the
current legislation subjectivity, because the saddle point adoption as an elevation base may imply
the occupation expansion of the areas susceptible to sediment production and consequently
aggravate the sedimentation process of the studied basin.

Entrées d’index
☝🍪
Index de mots-clés : code forestier brésilien, sommets de collines, système d'information
Cegéographique
site utilise des cookies et
vous donne
Index le contrôle
by keywords: sur forest code, hilltops PPAs, geographic information system.
Brazilianf
ceux
Índiceque vous souhaitez código Florestal Brasileiro, APP de topo de morros, sistema de
de palavras-chaves:
informaçõesactiver
geográficas.

Texte intégral

https://journals.openedition.org/confins/15261 2/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações

Afficher l’image
1 Morretes (PR)
2 A Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Código Florestal Brasileiro), entre seus suas
diversas atribuições, estabelece os parâmetros, definições e limites das Áreas de
Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL). Sua última versão,
correspondente à Lei n° 12.651, foi promulgada no dia 25 de maio de 2012 e
posteriormente complementada pela Lei n° 12.727, de 17 de outubro do mesmo ano. As
APPs são áreas protegidas, com a função de manter o meio ambiente equilibrado e
assegurar o bem-estar das populações humanas (BRASIL, 2012).
3 O primeiro Código foi instaurado por meio do Decreto nº 23.793, de 23 de janeiro de
1934. O Decreto foi revogado em 15 de setembro de 1965, pela Lei n° 4.771, denominada
na época de Novo Código Florestal. Essa nova legislação instaurou as APPs, incluindo
como categorias os topos das elevações de terreno, sendo referentes aos morros,
montes, montanhas e serras. Contudo, somente com a instauração da Resolução
CONAMA n° 004, em 18 de setembro de 1985, é que foram estabelecidas normas,
parâmetros e definições para sua delimitação e inclusas as categorias de linhas de
cumeada e elevações com distância inferior a 500 metros como APPs. No ano de 2002,
a Resolução CONAMA n° 004/85 foi revogada pela Resolução n° 303 (complementada
pela Resolução n° 302/02 e alterada pela n° 341/03), que tinha as mesmas finalidades
da Resolução antecessora, porém apresentou uma linguagem mais simplificada e trouxe
novas definições, normas e parâmetros correspondentes às Áreas de Preservação
Permanente.
4 Apesar da regulamentação do processo de delimitação das APPs das categorias de
topo de elevações do terreno, variadas interpretações ocorriam por parte de gestores
públicos, analistas ambientais de empresas de consultoria e pesquisadores. Entre os
trabalhos que analisaram essa problemática está o de Cortizo (2007), que consiste na
análise geométrica dos termos referentes à base de elevação de terreno presentes na
Resolução CONAMA n° 303/02.
5 O artigo de Cortizo (2007) foi o de maior destaque nessa discussão, tanto que suas
propostas de base de elevação de terreno foram acatadas na Lei n° 12.651/12. A redação
desta legislação, em seu Artigo 4°, inciso IX, acarretou em mudanças significativas nas
definições e normas de delimitação das APPs de topos. Entretanto, as análises do autor
☝🍪
supracitado não contemplaram a revisão dos termos técnicos geomorfológicos
adotados, o que ainda implica em múltiplas interpretações. Nesse sentido, Silva et al.
Ce(2011),
site utilise des cookies et
ao analisarem o projeto de lei que originou o Código Florestal em vigor,
vous donne le contrôle sur
enfatizam que “a falta de clareza, assim como a ambiguidade das interpretações dos
ceux que vous souhaitez
termos norteadores
activer da legislação tendem a torná-la vulnerável em sua interpretação e
aplicação, negligenciando sua importância crucial como guia norteador do
planejamento e da gestão territorial”.
6 Em meio a essa questão, o presente trabalho consistiu em dois objetivos principais: 1-
comparar a delimitação das APPs de topos entre a Lei no 4.771/65 (juntamente com a
Resolução CONAMA 303/02) e a Lei n° 12.651/12, considerando-se um único conceito
de base elevação de terreno; 2- diante da subjetividade do Art. 4°, inciso IX, da Lei n°
12.621/12, realizar uma análise comparativa entre as três interpretações obtidas do
conceito de base elevação de terreno, no processo de delimitação das APPs de topo de
morros, montes, montanhas e serras.
7 Na conjuntura das recentes mudanças ocorridas legislação brasileira, se estima que
ocorrerão reduções expressivas de extensão de topos protegidos, levando em
https://journals.openedition.org/confins/15261 3/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
consideração a exclusão das categorias de linhas de cumeada e os conjuntos de morros e
montanhas com distâncias inferiores a 500 metros, e também devido ao aumento da
declividade e amplitude mínima obrigatória.

APPs de topo de morros, montes,


montanhas e serras e linhas de
cumeada: da sua criação à legislação
vigente
8 As APPs “são áreas protegidas, cobertas ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo, assegurar o
bem-estar das populações humanas e proteger as áreas úmidas” (BRASIL, 2012).
Assim, é imprescindível a proteção dessas áreas, de acordo com Varjabedian e Mechi
(2013, p.5):

As Áreas de Preservação Permanente de diferentes tipos, incluindo as de Topos


de Morro, Montanhas e Serras, merecem proteção especial inclusive porque, nos
espaços que ocupam os seus componentes bióticos e abióticos, em interação,
cumprem funções ecológicas indispensáveis para a persistência de todas as
formas de vida...

...Trata-se de uma diretriz que garante a manutenção e construção de corredores


ecológicos, bem como a proteção de mananciais no âmbito da paisagem.

9 Nesse contexto, Schäffer et al. (2011) ressaltam que “a manutenção das APPs garante
a integridade dos processos ecológicos e mantém seus serviços ambientais essenciais à
saúde, à segurança, ao bem-estar e à melhoria da qualidade de vida das populações”,
conforme previsto na Constituição Brasileira de 1988. Segundo Almeida et al. (2016, p.
367),

O desmatamento dessas áreas, voltado para a construção civil e atividades


agropecuárias, causam instabilidade nesses ambientes, que passam a ser
ineficientes no cumprimento de seus serviços ambientais, além de implicar em
gastos de dinheiro público com ações mitigatórias nos impactos negativos
gerados.

10 As Áreas de Preservação Permanente de topos de elevações de terreno, conforme Art.


3°, inciso V, da Resolução CONAMA n° 303/021 são caracterizadas por “florestas e
demais formas de vegetação natural situadas no topo de morros, montes e montanhas,
☝🍪
em áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços), da
altura mínima da elevação em relação à base” (Figura 1).
Ce site utilise des cookies et
Figura
vous 1 - Modelo
donne hipotético
le contrôle surde delimitação de APPs de topo de morros, montes,
montanhas e serras
ceux que vous souhaitez
activer

https://journals.openedition.org/confins/15261 4/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações

Fonte: Nowatzki et al. (2010)


11 A Resolução em questão separa os morros e as montanhas em duas categorias
distintas de APPs, sendo que “o morro é elevação do terreno com cota do topo em
relação à base entre 50 a 300 metros, à medida que a montanha é uma grande elevação
de terreno, com cota em relação à base superior a 300 metros”. É cabível ressaltar que
“para ser delimitada APP no terço superior, tanto o morro quanto a montanha devem
apresentar encostas com declividade superior a 30% (16,70º), na linha de maior
declive” (CONAMA, 2002).
12 A base de morro ou montanha, em conformidade com a Resolução Conama n°
303/02, compreende em “um plano horizontal definido por planície ou superfície de
lençol d'água adjacente ou nos relevos ondulados, pela cota da depressão mais baixa ao
seu redor”. A depressão é classificada como “forma de relevo que se apresenta em
posição altimétrica mais baixa do que porções contíguas”. Ainda na resolução, as linhas
de cumeada são “linhas que unem os pontos mais altos de uma sequência de morros ou
de montanhas, constituindo-se no divisor de águas”.
13 A proteção nas linhas de cumeada abrange “a área delimitada a partir da curva de
nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura, em relação à base, do pico mais baixo
da cumeada, fixando-se a curva de nível para cada segmento horizontal da linha da
cumeada equivalente a 1.000 metros”, como demonstra a Figura 2.

Figura 2 - Modelo esquemático da delimitação das linhas de cumeada, de acordo com a


Resolução CONAMA n° 303/02

☝🍪
Ce site utilise des cookies et
vous donne le contrôle sur
ceux que vous souhaitez
Fonte: Nowatzki et al. (2010)
activer
14 Além dos topos de morros, montes, montanhas e serras e dos conjuntos de 1.000
metros em linhas de cumeada, o parágrafo único do Art. 3°, da Resolução n° 303/02
determina que:

Na ocorrência de dois ou mais morros ou montanhas, cujos cumes estejam


separados entre si por distâncias inferiores a 500 metros, a APP abrangerá o
conjunto de morros ou montanhas, delimitada a partir da curva de nível
correspondente a dois terços da altura em relação à base do morro ou montanha
de menor altura do conjunto (CONAMA, 2002).

15 Nesse sentido, vale destacar que para esses casos não é estipulado um seguimento
horizontal máximo, como ocorre com as sequências de 1.000 metros para as linhas de

https://journals.openedition.org/confins/15261 5/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
cumeada.
16 Com a instauração da Lei n° 12.651/12, que atualmente rege a proteção da vegetação
nativa, seu o Art. 4°, inciso IX, define APPs de topos da seguinte maneira:

No topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100


metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva
de nível correspondente a 2/3 da altura mínima da elevação sempre em relação à
base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou
espelho d'água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela
mais próximo da elevação (BRASIL, 2012).

17 Nesse sentido, é perceptível que a lei vigente modificou significativamente os


parâmetros, definições e limites de delimitação das APPs de topos. Primeiramente as
linhas de cumeada e os conjuntos de morros e montanhas com distâncias inferiores a
500 metros deixaram de ser categorias de APPs. Assim, somente os topos de morros,
montes, montanhas e serras continuam sendo passíveis de preservação, mas os topos
passaram a ser delimitados de forma isolada.
18 Os parâmetros exigidos se tornaram mais restritivos para que uma elevação de
terreno seja passível de delimitação de APP em seu cume. As categorias de morros,
montes, montanhas e serras foram integradas em apenas uma categoria e a altura
mínima para a sua delimitação, que antes era de 50 metros, aumentou para 100 metros.
A declividade média das encostas, que antes devia ser superior a 30%
(aproximadamente 17 graus), passa a ser superior a 25° de inclinação. O conceito de
base de elevação de terreno também sofreu alterações, de acordo com as propostas de
Cortizo (2007), onde o termo lençol d’água foi substituído por espelho d’água. No caso
de elevações em relevos ondulados, a base deixou de ser definida pela cota da depressão
mais baixa ao seu redor, sendo desde então definida pelo ponto de sela mais próximo.
19 Diante das alterações descritas, o Art. 4°, inciso IX da Lei n° 12.651/12, se mostra
subjetivo em sua redação quanto ao conceito de base de elevação de terreno,
possibilitando pelo menos três interpretações do mesmo, as quais serão devidamente
descritas na sequência do presente trabalho.

Materiais e Métodos
20 O processo de delimitação das APPs de topo de morros, montes, montanhas e serras
foi realizado em ambiente SIG, com o uso do software ArcGIS 10.3, da ESRI. A base
cartográfica utilizada contemplou arquivos no formato vetorial (shapefile), escala
1:25.000, correspondentes às curvas de nível, hidrografia e pontos cotados. Estes dados
foram produzidos no ano de 2002, pelo DSG (Departamento de Serviço Geográfico do
Exército). A partir da base cartográfica citada, também com o auxílio do ArcGIS 10.3,

☝🍪
foi construído o Modelo Digital do Terreno (MDT) por meio do método Topogrid
(Hutchinson, 1988), com tamanho do pixel em 10 metros, do qual se extraíram as
Ceinformações de declividade,
site utilise des cookies etnecessárias à delimitação dos topos.
vous donne le contrôle sur
ceux que vous souhaitez
Delimitação
activer das APPs
conforme a Lei n° 4.771/65 e
Resolução CONAMA 303/02
21 As APPs de topos, conforme a Lei n° 4.771/65 e Resolução CONAMA 303/02, foram
delimitadas considerando três categorias: topo de morros (elevações de 50 até 300
metros de amplitude entre o cume e a base), topo de montanhas (amplitude superior a
300 metros) e linhas de cumeada. As linhas de cumeada foram delimitadas juntamente
com as elevações, nas quais dois ou mais cumes apresentaram distância inferior a 500
metros, integrando assim uma única categoria. O processo de delimitação dos morros e
montanhas foi realizado de acordo com Nowatzki et al. (2010) e Almeida e Paula (2014)
e, seguiu as etapas:

https://journals.openedition.org/confins/15261 6/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
1. Identificação das elevações de terreno da bacia;
2. Seleção dos picos isolados que possuem, em pelo menos uma das suas
vertentes, a declividade mínima de 30% (16,70°);
3. Verificação da amplitude altimétrica, permanecendo somente as elevações com
no mínimo 50 metros entre o topo e a base;
4. Cálculo das cotas dos terços superiores, pela seguinte equação implementada
no Microsoft Excel: ((Pico – Base) / 3) x 2) + Base);
5. Criação de um arquivo vetorial (shapefile);
6. Vetorização dos terços superiores.

22 Para as linhas de cumeadas a delimitação foi similar, porém foram selecionados


somente os topos de elevações em divisores de águas e topos isolados com distância
inferior a 500 metros. As APPs desta categoria foram delimitadas em sequências de
1.000 metros e o terço superior correspondeu à curva de nível do pico mais baixo de
cada conjunto. Por fim, é importante enfatizar que, no âmbito da Lei n° 4.771/65, os
cursos d’água foram considerados como sendo a única possibilidade de interpretação
para a definição de base de elevação de terreno.

Delimitação das APPs conforme a Lei n° 12.651/12


23 No processo de delimitação das APPs de elevação de terreno, conforme a Lei n°
12.651/12, os morros, montes, montanhas e serras integraram uma única categoria de
APP e foram delimitados isoladamente. Os procedimentos foram semelhantes aos
realizados para a Lei n° 4.771/65, entretanto foram contempladas como áreas de
preservação, apenas os picos de elevações com declividade mínima obrigatória de 25° e
a amplitude mínima de 100 metros entre o topo e a base. Todavia, devido à
subjetividade do conceito de base de elevação do terreno, três interpretações foram
consideradas, as quais estão descritas a seguir:

Interpretação 1: Curso d’água mais baixo adjacente à


elevação
24 O Art. 4°, inciso IX, da Lei n° 12.651/12, evidencia que “a base de uma elevação seja
definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d'água adjacente”.
Sendo assim, a primeira interpretação da base de topo consiste no curso d’água
adjacente mais baixo ao redor do pico (Almeida e Paula, 2014), como pode ser
visualizado na Figura 3. É importante salientar que esta interpretação de base de
elevação foi exatamente a mesma adotada para a delimitação das APPs de topos

☝🍪
normatizadas pela legislação anterior. Portanto, a comparação entre as duas legislações
foi efetuada a partir da desta primeira interpretação.
CeFigura
site utilise desd’água
3 - Curso cookies et
adjacente mais baixo como base de elevação
vous donne le contrôle sur
ceux que vous souhaitez
activer

https://journals.openedition.org/confins/15261 7/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações

Fonte: Almeida (2014)

Interpretação 2: Ponto de sela horizontal mais próximo do pico


(eixo x)
25 A Lei n° 12.651/12 define que, em relevos ondulados, a base de elevação seja o ponto
de sela mais próximo. O ponto de sela (Figura 4) é o ponto central de uma concavidade
negativa entre duas elevações, ou seja, o ponto mais baixo de um leve ou moderado
rebaixamento entre duas elevações. Na Geomorfologia, esse desnível é conhecido como
colo de morro, que é conceituado por Guerra e Guerra (1997) como “uma depressão na
☝🍪
linha de crista ou uma parte um pouco mais baixa entre duas montanhas”. A diferença
entre colo de morro e ponto de sela é que o primeiro está relacionado com toda a área
Cerebaixada,
site utilisejádes cookies
o ponto eté somente o ponto central da depressão.
de sela
vous donne le contrôle sur
ceux que
Figura vous souhaitez
4 - Exemplo de ponto de sela na bacia do rio Sagrado, Morretes – PR
activer

https://journals.openedition.org/confins/15261 8/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações

Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)


26 O ponto de sela, como base de elevação de terreno em relevos ondulados, foi proposto
por Cortizo (2007), mediante sua análise do Art. 2°, inciso VI da Resolução CONAMA
n° 303/02. O autor argumenta que “o ponto de sela é a única interpretação, que define
um plano horizontal matematicamente possível de uma depressão mais baixa ao redor
de elevações em relevos ondulados, pois a planície já é considerada nas elevações com
as demais formas de relevo”.
27 Todavia, o Art. 3°, inciso XXIII da Lei n° 12.651/12, define que “o relevo ondulado
pode ser classificado como suave ondulado, ondulado, fortemente ondulado e
montanhoso”. Desse modo, a legislação é subjetiva também em suas redações
complementares, pois permite interpretar os cursos d’água e o ponto de sela como bases
de elevação de terreno, independente da forma de relevo que o caracteriza.
28 Nesse contexto, a segunda interpretação relacionada à base de elevação de terreno
compreende ao ponto de sela horizontal com maior proximidade do cume (Figura 5). A
distância horizontal, ou eixo x, se refere à distância terrestre, ou seja, o percurso em
superfície.

Figura 5 - Ponto de sela horizontal como base de elevação

☝🍪
Ce site utilise des cookies et
vous donne le contrôle sur
ceux que vous souhaitez
activer

https://journals.openedition.org/confins/15261 9/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações

Fonte: Almeida (2014)

Interpretação 3: Ponto de sela vertical mais próximo do pico


(eixo y)
29 A redação do Art 4°, inciso IX da Lei n° 12.651/12, ao estipular o ponto de sela como
base de elevação de terreno em relevos ondulados, não foi específica quanto ao plano de
distância do ponto de sela em relação ao cume, ou seja, o ponto de sela mais próximo
pode ser compreendido tanto em distância horizontal, quanto em distância vertical.
30 Diante disso, na terceira interpretação, exposta na Figura 6, a base de elevação
☝🍪
consiste no ponto de sela verticalmente mais próximo do topo, ou seja, o ponto de sela
ao redor do topo que possui a maior altitude e, portanto, menor amplitude de altura em
Cerelação
site utilise des cookies et
ao topo.
vous donne le contrôle sur
ceux que
Figura vous souhaitez
6 - Ponto de sela vertical como base de elevação
activer

https://journals.openedition.org/confins/15261 10/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações

Fonte: Almeida (2014)

A Produção de Sedimentos na Bacia do


Rio Sagrado (Área de Estudo)
31 “O processo de assoreamento, é uma problemática diretamente interligada com a
Geografia Física, e consiste na resultante de processos erosivos e movimentos de massa
ocorridos nas bacias hidrográficas” (Nowatzki et al., 2009). Os processos erosivos e os
movimentos de massa ocorrem de forma natural, porém podem ser intensificados por
☝🍪
intervenções antrópicas em áreas destinadas à preservação permanente (APPs), como
os topos de elevação de terrenos.
32 Ce site utilise
Deste des atividades
modo, cookies etnessas áreas, como abertura de estradas rurais e usos
vous donne le contrôle
agropecuários, contribuemsur de forma significativa: ao desequilíbrio das dinâmicas
ceux que vous souhaitez
naturais das bacias; no aumento na produção de sedimentos e, consequentemente, na
activer
aceleração do assoreamento das porções de menor energia na rede de drenagem, tal
como vem ocorrendo na bacia hidrográfica do rio Sagrado (Morretes/PR).
33 Conforme a análise de Nowatzki et al. (2010), “entre as bacias hidrográficas que
drenam para baía de Antonina, a bacia do rio Sagrado, que abrange apenas ocupações
rurais, possui maior extensão das suas APPs degradadas (17,7%)”. Paula (2010) destaca
que “esta bacia apresentou o maior aumento na produção de sedimentos, dentre
aquelas que drenam para a baía supramencionada, comparando o cenário natural e o
cenário antropizado no ano de 2005”.
34 A bacia do rio Sagrado (Figura 7) apresenta área de 137,7 km², tendo como principal
rodovia de acesso a BR-277, no trecho que liga as cidades de Curitiba e Paranaguá.

https://journals.openedition.org/confins/15261 11/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
Localizada inteiramente no município de Morretes, no Paraná, a bacia abrange as
unidades geomorfológicas da Serra do Mar e Planície Litorânea.

Figura 7 - Mapa de localização da bacia do rio Sagrado, Morretes – PR

Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)

Resultados e Discussões

Comparação entre o Código Florestal de 1965


(juntamente com a Resolução CONAMA n° 303/02)
e a Lei Florestal de 2012 (Interpretação 1)
35 Dentre os resultados obtidos para as APPs de elevações de terreno da bacia do rio
Sagrado, segundo a Lei n° 4.771/65 (Tabela 1), os topos de morros totalizaram 4,35
km², os topos de montanhas 3,87 km² e as linhas de cumeada (juntamente com as
elevações com distância inferior a 500 metros) 14,79 km². As três categorias agrupadas
☝🍪
resultaram em 91 feições delimitadas (23,01 km²), o que representou 16,71% da área
total da bacia analisada.
Ce site utilise des cookies et
vous donne
Tabela le contrôle
1 - Extensão sur de topos da bacia do rio Sagrado (Lei n° 4.771/65)
das APPs
ceux que vous souhaitez
activer

Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)

36 Quando adotada a Lei n° 12.651/12, foram delimitadas 100 feições de topos, as quais
somaram 18,14 km². Ao se comparar as duas versões da Lei de Proteção da Vegetação
Nativa (Figura 8), verificou-se que de fato a legislação vigente é mais permissiva que a
https://journals.openedition.org/confins/15261 12/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
anterior, uma vez que houve redução de 21,16% (4,87 km²) de porção territorial a ser
preservada.

Figura 8 - APPs de topos de elevações de terreno (Leis ns 4.771/65 e 12.651/12)

Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)

37 A citada diminuição das APPs ocorreu por duas razões: a primeira atribui-se à
extinção da categoria que abrangia as linhas de cumeada e topos isolados, com distância
inferior a 500 metros, antes estipulada pela Lei n° 4.771/65. Esta categoria considerava
o terço superior mais baixo em cada sequência, e a proteção abrangia o máximo possível
da área recoberta todo o conjunto. Na atual legislação, a delimitação passou a ser
isolada e cada topo é preservado de forma independente, a exemplo da Figura 9.

Figura 9 - Comparativo da delimitação das APPs de linhas de cumeada (Lei n° 4.771/65) e


topos isolados (Lei n° 12.651/12)

☝🍪
CeFonte:
site utilise
Amanda des cookies
Machado et e Eduardo Vedor de Paula (2017)
de Almeida
vous donne le contrôle sur
38 A segunda
ceux que vous razão para o decréscimo se deve ao elevado valor da amplitude mínima
souhaitez
obrigatória entre o topo e a base de elevação de terreno. A Resolução CONAMA n°
activer
303/02 estabelecia a altura mínima de 50 metros para esta amplitude e com a
aprovação da Lei n° 12.651/12 esse valor foi alterado para 100 metros.

Comparação entre as três interpretações de base


de elevação de terreno, no âmbito da Lei n°
12.651/12
39 Ao delimitar as APPs de topo de morros, montes, montanhas e serras da bacia do rio
Sagrado, conforme a Interpretação 1 (curso d’água mais baixo), da Lei n° 12.651/12,

https://journals.openedition.org/confins/15261 13/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
foram identificados 100 topos como áreas de preservação, equivalente à 18,14 km². Esta
interpretação foi a que resultou na maior extensão de APPs de topos e compreendeu
13,17% da área de estudo.
40 Quando se considerou, como base de elevação, o ponto de sela com menor distância
horizontal em relação ao pico (Interpretação 2), a perda em extensão de áreas passíveis
de preservação foi expressiva, totalizando 0,62 km², delimitados em apenas 10 topos. A
redução foi de 96,58% em relação à primeira interpretação e a área a ser preservada
correspondeu somente a 0,45% de toda bacia.
41 Por fim, os topos delimitados a partir do ponto de sela, com maior proximidade
vertical do pico (Interpretação 3), somaram área total de 0,47 km², o que consiste em
0,34% do território da bacia estudada. Nessa circunstância, mais três topos perderam a
preservação e o decréscimo de APPs da categoria foi de 97,41% em comparação com a
Interpretação 1 e, 24,19% em relação à Interpretação 2.
42 A Tabela 2 representa o valor total das APPs de topos entre as três interpretações da
lei vigente, podendo ser observado decréscimos consideráveis de área, ao aplicar a Lei
n° 12.651/12, principalmente quando se adotou o ponto de sela vertical como base de
elevação de terreno.

Tabela 2 - Extensão das APPs de topos da bacia do rio Sagrado, conforme três
interpretações da Lei n° 12.651/12

Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)

43 Como pode ser observado na Figura 10, diferenças relevantes ocorreram entre as três
interpretações do conceito de base de elevação, tanto na quantidade de topos a serem
preservados, quanto na dimensão do terço superior destes topos. Estes resultados
destacam que houve importante decréscimo de APPs, quando a base de elevação deixou
de ter como referência os cursos d’água (Interpretação 1) e passou a se considerado o
ponto de sela, principalmente o vertical (Interpretação 3).

Figura 10 - APPs de topos da bacia do rio Sagrado, conforme três interpretações da Lei n°
12.651/12

☝🍪
Ce site utilise des cookies et
vous donne le contrôle sur
ceux que vous souhaitez
activer

https://journals.openedition.org/confins/15261 14/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)
44 Na Figura 11, tem-se representado o perfil transversal relativo à linha de cumeada,
destacado na área de zoom da Figura 10, a partir das três interpretações em análise.
Este perfil evidencia a redução das cotas de preservação, quando comparadas as duas
primeiras interpretações, enquanto que a Interpretação 3 implicou na ausência das
APPs de topos nesta porção da bacia do rio Sagrado em destaque.

Figura 11 – Perfil transversal das APPs de topos da bacia do rio Sagrado, conforme as
três interpretações da Lei n° 12.651/12

☝🍪
Ce site utilise des cookies et
vous donne le contrôle sur
ceux que vous souhaitez
activer

Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)

45 A diferença entre os valores obtidos com as três interpretações, sobretudo em termos


de área, revelou-se expressiva por dois motivos. O primeiro corresponde ao fato de os
pontos de sela situarem-se mais próximos aos topos, ou seja, têm amplitude altimétrica
consideravelmente inferior em relação aos cursos d’água mais baixos, que geralmente

https://journals.openedition.org/confins/15261 15/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
situam-se próximos ao sopé das elevações (Figura 11), e o segundo fator também é
devido ao aumento da amplitude mínima entre o topo e a base das elevações de terreno.
46 A partir dos resultados obtidos, verificou-se que a ambiguidade da redação
apresentada Artigo 4°, inciso IX, ao permitir interpretações geomorfológicas diversas,
dificulta o processo de delimitação das APPs da categoria e pode proporcionar uma
importante redução de áreas que demandam preservação, tal como ocorreu na bacia
hidrográfica selecionada no presente estudo quando se delimitou as APPs de topos, a
partir das interpretações referentes ao ponto de sela.
47 As APPs de topo de morros, montes, montanhas e serras são importantes por suas
especificidades e pelas funções ambientais e serviços ecossistêmicos que desempenham.
Nesse sentido, Silva et al. (2011, p. 12) enfatizam a relevância dessas porções da
paisagem e a aceitação desse fato por pesquisadores de diversos ramos da ciência:

Entre os pesquisadores, há consenso de que as áreas marginais a corpos d’água


sejam elas várzeas ou florestas ripárias e os topos de morro ocupados por
campos de altitude ou rupestres são áreas insubstituíveis em razão da
biodiversidade e de seu alto grau de especialização e endemismo, além dos
serviços ecossistêmicos essenciais que desempenham – tais como a
regularização hidrológica, a estabilização de encostas, a manutenção da
população de polinizadores e de ictiofauna, o controle natural de pragas, das
doenças e das espécies exóticas invasoras.

48 Em vista disso, a preservação dos topos se faz necessária mediante aos múltiplos
benefícios ao meio ambiente providos por essas áreas. A supressão irregular dos topos
colocará em risco a conservação da biodiversidade e a efetividade de suas funções e
serviços ecossistêmicos prestados.
49 A bacia do rio Sagrado apresenta a maior densidade de ocupação e de estradas rurais,
dentre as bacias que drenam para a baía de Antonina, bem como seus topos de morros e
montanhas denotam elevada suscetibilidade geopedológica à produção de sedimentos
(PAULA, 2010).
50 Diante do exposto, se considerada a Interpretação 1, as porções de topo da bacia
ainda se manterão recobertas por Floresta Ombrófila Densa e terão sua preservação
legal garantida. Entretanto, se adotada a Interpretação 2 ou 3, tem-se o risco eminente
de expansão da ocupação em ambientes suscetíveis, o que certamente implicará no
aumento da produção de sedimentos e resultará na intensificação do processo de
assoreamento da baía de Antonina.

Considerações Finais
51 As mudanças na Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei n° 12.651/12), relacionadas

☝🍪
ao aumento da amplitude mínima entre o topo e a base de morros, montes, montanhas
e serras (de 50 para 100 metros), além da extinção das categorias de APPs referentes às
linhas de cumeadas e topos isolados com distância inferior a 500 metros, implicaram na
Ce site utilise des cookies et
redução de 21,16% (4,87 km²) das porções de topos a serem preservados na bacia do rio
vous donne le contrôle sur
Sagrado.
ceux que vous souhaitez
52 Entretanto, a redação desta da lei em vigor está sujeita a diferentes interpretações, o
activer
que pode permitir uma redução, ainda maior, das áreas de preservação. A exemplo do
que ocorreu na bacia do rio Sagrado, quando o ponto de sela foi considerado
(Interpretações 2 e 3), verificaram-se decréscimos expressivos de 96% e 97% das APPs
de topos, respectivamente, em comparação à primeira interpretação, que contemplou os
corpos hídricos adjacentes.
53 A adoção do ponto de sela como base de elevação de terreno constitui-se num risco à
conservação da biodiversidade e à manutenção das funções e serviços ambientais
prestados pelas áreas de topos, tal como observado na bacia do rio Sagrado,
significativas porções de topos perdem sua obrigatoriedade de preservação.

https://journals.openedition.org/confins/15261 16/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
54 Por fim, recomenda-se que profissionais especialistas em geomorfologia analisem a
redação da legislação vigente e contribuam para uma maior objetividade e clareza
quanto à interpretação e delimitação da categoria de APP em questão.

Bibliographie
ALMEIDA, A. M.; PAULA, E. V. Delimitação das Áreas de Preservação Permanente de Topo de
Morros, Montes, Montanhas e Serras na Bacia do Rio Sagrado (Morretes - PR), Conforme
Diferentes Interpretações do Código Florestal Brasileiro. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE
GEOMORFOLOGIA, 10, 2014, Manaus. Anais... Manaus: Universidade Federal do Amazonas,
2014.
ALMEIDA, A. M.; PAULA, E. V.; ISAGUIRRE, K. R. A Lei Florestal Brasileira (Lei n° 12.651/12 e
a Problemática dos Parâmetros, Definições e Limites das Áreas de Preservação Permanente de
Topo de Morros, Montes, Montanhas e Serras. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO
AMBIENTAL, 21., 2016, São Paulo; CONGRESSO DE DIREITO AMBIENTAL NOS PAÍSES DE
LÍNGUA PORTUGUESA E ESPANHOLA, 11., 2016, São Paulo; CONGRESSO DE ESTUDANTES
DE DIREITO AMBIENTAL, 11., 2016, São Paulo. Anais... São Paulo: Instituto Planeta Verde,
2016. p. 366-379.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal, 1988.
BRASIL. Lei Federal nº 4771/65, de 15 de setembro de 1965. Diário Oficial da União. Brasília,
DF: Congresso Nacional, 1965.
______. Lei Federal n° 12.651, de 25 de maio de 2012. Diário Oficial da União. Brasília, DF.
Congresso Nacional, 2012.
CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução n° 004, de 18 de
setembro de 1985. Dispõe sobre definições e conceitos sobre Reservas Ecológicas. Diário Oficial
da União, Brasília, 20 de jan. 1986.
CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução n° 302, de 20 de março
de 2002. Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente
de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. Diário Oficial da União. Brasília, 13
de mar. de 2002.
CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução n° 303, de 20 de março
de 2002. Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente.
Diário Oficial da União. Brasília, 13 de mar. de 2002.
CORTIZO, S. P. Topo de Morro na Resolução CONAMA n° 303, de 20 de março de 2002. 2007.
Disponível em <http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/FBF21C00/
TopoMorroResolucaoCONAMA3031.pdf>. Acesso em 20/03/2014.
DSG - DIRETORIA DE SERVIÇO GEOGRÁFICO DO EXÉRCITO BRASILEIRO. Mapeamento
de hidrografia, curvas de nível e pontos cotados (Cartas Topográficas): folhas 2842-4
SE; 2843-1 SE; 2843-3 NE; 2843-3 SO; 2858-1 NE; e 2858-3 SO. 2002. DSG, 2002. Escala
1:25.000.
GUERRA, A T.; GUERRA, A J. T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

☝🍪
HUTCHINSON, M.F. Calculation of hydrologically sound digital elevation models. In:
INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON SPATIAL DATA HANDLING, 3, 1988, Sydney. Columbus:
International Geographical Union, Commission on Geographical Data Sensing and Processing,
CeDepartament
site utilise of
desGeography,
cookiesOhio
et State University, 1988. p. 117-133.
vous
MPSPdonne le contrôle sur
– MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Disponível em
ceux que vous souhaitez
<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/noticia?
id_noticia=13413385&id_grupo=118>.
activer Acesso em 20/07/2017.
NOWATZKI, A.; PAULA, E. V.; SANTOS, L. J. C. Mapeamento das Áreas de Preservação
Permanente na bacia hidrográfica do rio Sagrado (Morretes/PR) e avaliação do seu grau de
conservação. In: BOLDRINI, E. B.; PAULA, E. V. de (Ed.). Gestão Ambiental Portuária:
Subsídios Para o Licenciamento das Dragagens. 1. ed. Antonina: ADEMADAN, 2009, p. 161-178.
NOWATZKI, A.; SANTOS, L. J. C.; PAULA, E. V. Utilização do SIG na delimitação das Áreas de
Preservação Permanente (APPs) na Bacia do rio Sagrado (Morretes/PR). Revista Sociedade &
Natureza, Uberlândia, v. 22, n 1, p. 121-134, abr. 2010.
PAULA, E. V. Análise da produção de sedimentos na Área de Drenagem da Baía de
Antonina/PR: uma abordagem geopedológica. 220 f. Tese (Doutorado em Geografia) -
Departamento de Geografia, Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2010.

https://journals.openedition.org/confins/15261 17/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações
SCHÄFFER, W. B.; et al. Áreas de Preservação Permanente e Unidades de Conservação
x Áreas de Risco. O que uma coisa tem a ver com a outra? Relatório de Inspeção da
área atingida pela tragédia das chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, 2011.
SILVA, J. A. A.; NOBRE, A. D.; MANZATTO, C. V.; JOLY, C. A.; RODRIGUES, R. R.; SKORUPA,
L. A.; NOBRE, C. A.; AHRENS, S.; MAY, P. H.; SÁ, T. D. A.; CUNHA, M. C.; RECH FILHO, E. L.
O Código Florestal e a Ciência: contribuições para o diálogo. São Paulo: Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC; Academia Brasileira de Ciências, ABC. 124 p. 2011.
VARJABEDIAN, R.; MECHI, A. As APPs de Topo de Morro e a Lei 12.651/12. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA AMBIENTAL, 14, 2013, Rio de Janeiro.
Anais... 2013.

Notes
1 A Resolução CONAMA n° 303/02, por ter regulamentado a Lei n° 4.771/65 (revogada pela Lei
n° 12.651/12), a princípio também é considerada como automaticamente revogada. Entretanto, de
acordo com decisões judiciais e no entendimento de órgãos como os Ministérios Públicos Federal
e do Estado de São Paulo, a mesma ainda se encontra em vigor.

Table des illustrations


Figura 1 - Modelo hipotético de delimitação de APPs de topo de morros,
Titre
montes, montanhas e serras
Crédits Fonte: Nowatzki et al. (2010)
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-1.jpg
Fichier image/jpeg, 36k

Titre Figura 2 - Modelo esquemático da delimitação das linhas de cumeada,


de acordo com a Resolução CONAMA n° 303/02
Crédits Fonte: Nowatzki et al. (2010)
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-2.jpg
Fichier image/jpeg, 84k
Titre Figura 3 - Curso d’água adjacente mais baixo como base de elevação
Crédits Fonte: Almeida (2014)
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-3.png
Fichier image/png, 54k

Titre Figura 4 - Exemplo de ponto de sela na bacia do rio Sagrado, Morretes –


PR
Crédits Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-4.jpg
Fichier image/jpeg, 308k
☝🍪
Titre Figura 5 - Ponto de sela horizontal como base de elevação
Crédits Fonte: Almeida (2014)
Ce site utilise des cookies et
vous donne leURL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-5.png
contrôle sur
ceux que vousFichier
souhaitez
image/png, 52k
activer
Titre Figura 6 - Ponto de sela vertical como base de elevação
Crédits Fonte: Almeida (2014)
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-6.png
Fichier image/png, 52k
Titre Figura 7 - Mapa de localização da bacia do rio Sagrado, Morretes – PR
Crédits Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-7.jpg
Fichier image/jpeg, 340k

Titre Tabela 1 - Extensão das APPs de topos da bacia do rio Sagrado (Lei n°
4.771/65)

https://journals.openedition.org/confins/15261 18/19
06/02/2024, 15:10 Áreas de preservação permanente de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações

Crédits Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)


URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-8.png
Fichier image/png, 17k
Figura 8 - APPs de topos de elevações de terreno (Leis ns 4.771/65 e
Titre
12.651/12)
Crédits Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-9.jpg
Fichier image/jpeg, 252k
Figura 9 - Comparativo da delimitação das APPs de linhas de cumeada
Titre
(Lei n° 4.771/65) e topos isolados (Lei n° 12.651/12)
Crédits Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)
http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-
URL
10.png
Fichier image/png, 122k
Tabela 2 - Extensão das APPs de topos da bacia do rio Sagrado,
Titre
conforme três interpretações da Lei n° 12.651/12
Crédits Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)
http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-
URL
11.png
Fichier image/png, 14k
Figura 10 - APPs de topos da bacia do rio Sagrado, conforme três
Titre
interpretações da Lei n° 12.651/12
Crédits Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)
http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-
URL
12.png
Fichier image/png, 242k
Figura 11 – Perfil transversal das APPs de topos da bacia do rio Sagrado,
Titre
conforme as três interpretações da Lei n° 12.651/12
Crédits Fonte: Amanda Machado de Almeida e Eduardo Vedor de Paula (2017)
http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15261/img-
URL
13.jpg
Fichier image/jpeg, 210k

Pour citer cet article


Référence électronique
Amanda Machado de Almeida et Eduardo Vedor de Paula, « Áreas de preservação permanente
de topos: das alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações », Confins [En
ligne], 37 | 2018, mis en ligne le 01 octobre 2018, consulté le 06 février 2024. URL :
http://journals.openedition.org/confins/15261 ; DOI : https://doi.org/10.4000/confins.15261
☝🍪
CeAuteurs
site utilise des cookies et
vous donne le contrôle sur
ceux queMachado
Amanda vous souhaitez
de Almeida
Mestre emactiver
Geografia - Universidade Federal do Paraná, ama.almeida87@gmail.com

Eduardo Vedor de Paula


Professor Adjunto do Departamento de Geografia – Universidade Federal do Paraná,
edugeo@ufpr.br

Droits d’auteur

Le texte seul est utilisable sous licence CC BY-NC-SA 4.0. Les autres éléments (illustrations,
fichiers annexes importés) sont « Tous droits réservés », sauf mention contraire.
https://journals.openedition.org/confins/15261 19/19

Você também pode gostar