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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 10

09/10/2019 PLENÁRIO

MANDADO DE INJUNÇÃO 3.499 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


IMPTE.(S) : JOAO GUILHERME CLARK
ADV.(A/S) : FELIPE NÉRI DRESCH DA SILVEIRA
IMPDO.(A/S) : PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
IMPDO.(A/S) : PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

MANDADO DE INJUNÇÃO – EXISTÊNCIA DE NORMA


REGULAMENTADORA – INVIABILIDADE. O cabimento do mandado
de injunção pressupõe a ausência de norma regulamentadora.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal em conhecer do mandado de injunção e
indeferir a ordem, nos termos do voto do relator e por unanimidade, em
sessão presidida pelo Ministro Dias Toffoli, na conformidade da ata do
julgamento e das respectivas notas taquigráficas.

Brasília, 9 de outubro de 2019.

MINISTRO MARCO AURÉLIO – RELATOR

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Relatório

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MANDADO DE INJUNÇÃO 3.499 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


IMPTE.(S) : JOAO GUILHERME CLARK
ADV.(A/S) : FELIPE NÉRI DRESCH DA SILVEIRA
IMPDO.(A/S) : PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
IMPDO.(A/S) : PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Adoto, como relatório,


as informações prestadas pelo assessor Paulo Timponi Torrent:

João Guilherme Clark insurge-se contra suposta omissão


legislativa relacionada à regulamentação do artigo 8º, § 3º, do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que dispõe
sobre a reparação de natureza econômica aos cidadãos
impedidos de exercer, na vida civil, atividade profissional
específica, em decorrência das Portarias Reservadas do
Ministério da Aeronáutica nº S-50-GM5, de 19 de junho de 1964,
e S-285-GM5.

Segundo narra, foi transferido, de ofício, em fevereiro de


1967, para a reserva da Força Aérea Brasileira, ante a desistência
da participação no curso de aperfeiçoamento de oficiais da
Aeronáutica, requisito para a promoção na carreira militar.
Sustenta ter sido forçado a renunciar ao curso, em razão de
divergências políticas com oficial ao qual subordinado.

Articula com os prejuízos morais e materiais sofridos,


considerado o posto ocupado à época do licenciamento –
Capitão Aviador R.R. – e a possibilidade de aposentadoria em
patente superior. Destaca a inviabilidade de exercer a profissão,

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Relatório

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na esfera civil, em decorrência da motivação do ato de


transferência para a reserva.

Apesar da existência de projeto de lei versando a matéria –


a exemplo do de nº 3.595/1989 –, assevera não haver diploma a
assegurar o exercício do direito constitucionalmente previsto.

Pede a formulação e a aplicação, ao caso concreto, pelo


Supremo, da norma regulamentadora do artigo 8º, § 3º, da
Carta da República. Sucessivamente, requer seja declarada a
omissão legislativa, com a notificação da autoridade
competente para a edição do ato.

Vossa Excelência, em 17 de novembro de 2010, determinou


fosse retificada a autuação, para que figurassem, no polo
passivo, os Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal.

A Câmara, em informações, noticia a regulamentação do


dispositivo constitucional pela Lei nº 10.599/2002.

O Ministério Público Federal, aludindo à edição do


mesmo diploma legal, diz inexistir omissão legislativa a ser
suprida. Opina no sentido da inadmissão do mandado de
injunção.

O Senado Federal, reforçando os argumentos da Câmara e


da Procuradoria-Geral da República, aponta dispositivo
específico da citada Lei a contemplar a situação do impetrante.

É o relatório.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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MANDADO DE INJUNÇÃO 3.499 DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – O pano


de fundo é o § 3º do artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias. Eis o teor:

Art. 8º […]

§ 3º Aos cidadãos que foram impedidos de exercer, na


vida civil, atividade profissional específica, em decorrência das
Portarias Reservadas do Ministério da Aeronáutica nº S-50-
GM5, de 19 de junho de 1964, e nº S-285-GM5 será concedida
reparação de natureza econômica, na forma que dispuser lei de
iniciativa do Congresso Nacional e a entrar em vigor no prazo
de doze meses a contar da promulgação da Constituição.

Antes mesmo do protocolo da petição inicial, a Presidência da Mesa


do Congresso Nacional promulgou a Lei nº 10.559/2002, visando
regulamentar o dispositivo mencionado. Surge a inobservância, pelo
impetante, das balizas do inciso LXXI do artigo 5º da Carta da República.
Transcrevo, ante a pertinência, o artigo 2º, inciso V, do diploma legal,
preceito a contemplar a situação versada no processo:

Art. 2º São declarados anistiados políticos aqueles que, no


período de 18 de setembro de 1946 até 5 de outubro de 1988,
por motivação exclusivamente política, foram:
[...]
V – impedidos de exercer, na vida civil, atividade
profissional específica em decorrência das Portarias Reservadas
do Ministério da Aeronáutica nº S-50-GM5, de 19 de junho de
1964, e nº S-285-GM5;

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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Destaco as normas constantes da Seção II da Lei, artigos 5º a 9º, a


preverem reparação econômica em prestação mensal, permanente e
continuada aos anistiados políticos.
Percebam a natureza anômala do mandado de injunção. É remédio
criado para sanar um problema comum na quadra vivida: a inefetividade
constitucional decorrente da inação legislativa. Sempre defendi –
inicialmente na minoria e, depois, vencedor na tese – que a especificidade
do mandado de injunção consiste em permitir ao Poder Judiciário a
edição da norma supridora da lacuna, conferindo, desde logo, efetividade
à Carta. O artigo 5º, inciso LXXI, do Diploma Maior revela, sob tal óptica,
um mandato outorgado diretamente pelo constituinte ao Judiciário, para
que, no exercício atípico de atividade legislativa, supere a patologia e
conceda ao impetrante aquilo que lhe é garantido pela Lei Fundamental.
Vindo o órgão constitucional dotado de tal atribuição – o Poder
Legislativo – a elaborar a norma jurídica faltante, esgota-se a
possibilidade de atuação do Judiciário. O cabimento do mandado de
injunção pressupõe, sempre, a ausência de norma regulamentadora.
Entendimento contrário importa violação do princípio da separação dos
Poderes, estampado no artigo 2º da Carta Federal.
Esse foi o entendimento adotado, à unanimidade, pelo Supremo, no
julgamento do mandado de injunção nº 6.422, relator o ministro Celso de
Mello, ocorrido em 9 de outubro de 2014. Eis a ementa do acórdão:

MANDADO DE INJUNÇÃO – REGULAMENTAÇÃO


DO ART. 8º, § 3º, DO ADCT – REPARAÇÃO DE NATUREZA
ECONÔMICA – ALEGADA INÉRCIA DO CONGRESSO
NACIONAL – LEI Nº 10.559/2002 – INEXISTÊNCIA DE
LACUNA TÉCNICA – PERDA SUPERVENIENTE DE OBJETO
– PREJUDICIALIDADE DA AÇÃO INJUNCIONAL
CARACTERIZADA – PRECEDENTES – RECURSO DE
AGRAVO IMPROVIDO.

Ante a existência de norma regulamentadora, julgo improcedente o


pedido formulado.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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MANDADO DE INJUNÇÃO 3.499 DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Presidente,


existindo lei, não há razão para mandado de injunção, portanto não há
omissão.

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

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MANDADO DE INJUNÇÃO 3.499 DISTRITO FEDERAL

VOTO

O Senhor Ministro Ricardo Lewandowski (Vogal): Trata-se de


mandado de injunção impetrado por João Guilherme Clark, servidor
militar transferido ex-ofício para a reserva da Força Aérea Brasileira em
2/2/1967, com proventos proporcionais.

O impetrante narra, em suma, que

“a ‘inabilitação para o acesso’ se deu em virtude de o


requerente ter sido obrigado, pelo então Brigadeiro do Ar
competente, sob pena de cassação, a desistir do curso de
aperfeiçoamento de oficiais da Aeronáutica (EAOAR) no qual
havia sido matriculado conforme o bol. DPAER 42 de 08/03/66.
A imposição da desistência do curso teve como intuito
exatamente criar a situação de transferência para reserva, pois,
por questões de divergência política, o então brigadeiro do ar
competente desejava ver o requerente, por vislumbrá-lo
revolucionário, fora de atividade da Força Aérea” (pág. 2 da
inicial).

Diz que, na época, possuía o posto de Capitão Aviador R.R. e que


seus proventos foram calculados com apenas 19/30 avos do soldo de
capitão, situação que lhe causou “privações de ordem econômica,
profissional e social”.

Pede, portanto, que este Tribunal supra a omissão decorrente da


inexistência de lei que regulamente o § 3º do art. 8º do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, o qual estabelece que:

“Aos cidadãos que foram impedidos de exercer, na vida


civil, atividade profissional específica, em decorrência das

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

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Portarias Reservadas do Ministério da Aeronáutica nº S-50-


GM5, de 19 de junho de 1964, e nº S-285-GM5 será concedida
reparação de natureza econômica, na forma que dispuser lei de
iniciativa do Congresso Nacional e a entrar em vigor no prazo
de doze meses a contar da promulgação da Constituição”.

É o relatório suficiente. Decido.

Não há omissão normativa a ser suprida na espécie.

Isso porque, como se sabe, em 13 de novembro de 2002 foi editada a


Lei 10.559, que “Regulamenta o art. 8º do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias e dá outras providências”.

E em seu art. 3º é possível encontrar as regras a serem seguidas para


a reparação econômica pretendida pelo impetrante, verbis:

“A reparação econômica de que trata o inciso II do art. 1º


desta Lei, nas condições estabelecidas no caput do art. 8º do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias, correrá à conta do
Tesouro Nacional.
§ 1º A reparação econômica em prestação única não é
acumulável com a reparação econômica em prestação mensal,
permanente e continuada.
§ 2º A reparação econômica, nas condições estabelecidas
no caput do art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, será concedida mediante portaria do Ministro de
Estado da Justiça, após parecer favorável da Comissão de
Anistia de que trata o art. 12 desta Lei”.

Em situação análoga, por ocasião do julgamento do MI 543/DF, Rel.


Min. Octavio Gallotti, o Plenário, quando ainda não havia sido editada a
Lei 10.559/2002, decidiu por deferir em parte o mandado de injunção
“para assegurar aos impetrantes o exercício imediato, na forma da
legislação comum, do direito à reparação de natureza econômica

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

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reconhecido e concedido pelo art. 8º, § 3º, do Ato das Disposições


Constitucionais Transitórias, independentemente de comunicação, ao
Congresso nacional, do estado de mora constitucional”.

Editada a norma, como visto acima, resta patente a falta do


pressuposto de ausência de norma reguladora que torne inviável o
exercício do suposto direito subjetivo do impetrante, não sendo o caso,
portanto, de conhecimento deste mandado de segurança.

É como voto.

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Extrato de Ata - 09/10/2019

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

MANDADO DE INJUNÇÃO 3.499


PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
IMPTE.(S) : JOAO GUILHERME CLARK
ADV.(A/S) : FELIPE NÉRI DRESCH DA SILVEIRA (2194A/DF, 33779/RS)
IMPDO.(A/S) : PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
IMPDO.(A/S) : PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL
ADV.(A/S) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu do mandado de


injunção e denegou a ordem, nos termos do voto do Relator. Não
participou, justificadamente, deste julgamento, o Ministro Gilmar
Mendes. Ausente, justificadamente, o Ministro Luiz Fux.
Presidência do Ministro Dias Toffoli. Plenário, 09.10.2019.

Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. Presentes à


sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar
Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Rosa Weber, Roberto
Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.

Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Luiz Fux.

Vice-Procurador-Geral da República, Dr. José Bonifácio Borges


de Andrada.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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