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Artigo publicado

na edição 20

j a n e i r o e f e v e r e i r o d e 2 0 11
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A LOGÍSTICA NA
CADEIA PORTUÁRIA
O CASO DO PORTO DE LISBOA*
No momento em que se discute a elaboração de ência de planejamento do Porto de Lisboa na busca de
um plano nacional de logística portuária, importa, entre alinhamento com as exigências da moderna cadeia de
!"#$%& ' (%$%)& *+,-(#& $& . %(/0 & * & . #" & -$& 1 *+#-$& suprimentos.
cadeia de suprimentos. O porto é cada vez mais perce-
bido como um elo da cadeia. Desta forma, uma pergun- !"#$%&$'(!)&$!('&"#$!)(!*()#+(!,&-.$'+*(!/&!
"$&+%%+-'($2&3&% 2!/0 &* %&$"!$(%&.# 42+1$%&-$&5#+$&6&$&
seguinte: qual o papel do porto na moderna cadeia de $#'&"!0(".'+0&!#!%&"'12"+&
suprimentos? O setor portuário está sendo fortemente impactado
Tanto no país quanto no exterior, a discussão está pelas mudanças nas cadeias de suprimentos. De uma
em curso em diferentes centros de pesquisa, em orga- 1$-+(#$&E+#$2&+&+-"#+& !"# %&$"#(4!" %)&4!%'$@%+&' -,$-
-(%1 %&.742(' %&8%+1(.742(' %&+&.#(9$* %:&#+%. -%59+(%& 4(2(*$*+)& 9+2 '(*$*+)& F+G(4(2(*$*+)& #$%"#+$4(2(*$*+)& .#+'(-
pela formulação e/ou implementação de políticas para a são e máximo equilíbrio entre custos e nível de serviços,
área e nas próprias unidades portuárias (incluindo aí os e isso ao longo de toda a cadeia de suprimentos.
"+#1(-$(%&.742(' %&+&.#(9$* %:;& Por outro lado e no âmbito de uma abordagem mais
Ainda que a compreensão da questão esteja avan- +%.+'B,'$)& "+-* &+1&9(%"$&$%&"#$-%= #1$/H+%& ' ##(*$%&
çando (Port Operations Research and Technology Cen- no transporte marítimo que conduziram a uma redu-
tre – PORTeC no Imperial College; International Mari- ção substancial dos custos, os custos do transporte no
time Ports and Logistics Management Institute da Old inland (transporte realizado internamente no País) têm
Dominion University; APEC-Antwerp/Flanders Port aumentado o peso no custo global do transporte. As-
Training Center entre outros); na maioria das situações, sim, por exemplo, o peso do transporte rodoviário, no
sobretudo no ambiente das administrações e unidades movimento de contêineres, varia entre 40% e 80% do
portuárias de diferentes países, percebe-se claramente a custo global e, por outro lado, a relação entre o custo
*(,'!2*$*+&+1&'$#$'"+#(<$#& &. #" &* &=!"!# &+1&=!-- do transporte por TEU-km rodoviário e marítimo varia
ção de uma falta de real compreensão do que seja a entre 5 e 30 vezes1.
moderna cadeia de suprimentos. Em parte e de uma Compreende-se, assim, que para tornar a sua cadeia
maneira geral, esta situação se explica pela falta de cul- mais competitiva, exista, por parte dos armadores, uma
"!#$&+&>- ?@A ?&+%.+'B,' &-$&5#+$&*+&%!..2C&'A$(-&D!+& pressão sobre os custos do inland, o que os leva, mui-
$(-*$&'$#$'"+#(<$& &+%%+-'($2&* &.+#,2&* %&.# ,%%( -$(%& tas vezes, a substituírem-se aos chamados transitários
do mundo portuário. Neste artigo, discute-se a experi- 1. Factual Report on the European Port Sector, ESPO (European
Sea Port Organisation)

Abílo Neves Marques Afonso


Diretor de Planejamento Estratégico e Controle de Gestão do Porto de Lisboa. Ex- Vogal do Conselho de Administração do Porto de Sines. Engenheiro civil pelo Instituto
Superior Técnico (IST) e Economista pelo Instituto Superior de Economia. Acumula experiência em projetos de estaleiros de reparação e construção naval (Lisnave,
Setenave, Cadiz e Bahrain) e, ainda, em projetos de instalações industriais.

Darli Rodrigues Vieira


Ph.D., professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o MBA em Gerência em Gerência de Sistemas Logísticos (www.mbalogistica.com.br ).

Dominique Altoé Vieira


Graduando em Engenharia de Produção.
CANADÁ 611.582
305.730

7
.841.57
EUA 4 8.668
2.64
6
. 53 1.31
2 0
ICO 792.52
MÉX
86
(empresas de despacho, de- 9 7.9 79
1.7 5.7
sembaraço aduaneiro e/ou L A 50
UE
trânsito de mercadorias) EZ

2 5
4.0 97 .38
N

54 66.1 25
VE

67
e a integrar na sua oferta

.
3.6

3.7 28
o próprio transporte em

79
A
N
terra. A oferta de condi-

TI
EN
ções que respondam a

SIL
G

A
AR
+%"+&*+%$, &*$&*(1(-!(/0 &

BR
do custo do inland é, assim,
olhada pelos armadores
como uma vantagem.

AN .15 0.30
Através de várias for-

1
G 8.92 9
O 7
mas de integração ao lon-

1.

LA
4 9
go da cadeia de distribuição,

ÁF
RI
as linhas tentam gerar valor,

C 4. 95
A 07 .0
" #-$#& F!(*$%& $%& .+#$/H+%& *+&

D 5. 85
O 91
transporte marítimo, as opera-

SU 5
L
ções portuárias e o transporte
rodoviário, criando valor para o
cliente.

Os operadores de terminais, por sua


vez, são por um lado cada vez mais pres-
sionados a fazer mais e melhor por menos e,
$261&* &=+-I1+- &*$&' -'+-"#$/0 &D!+&%+&9+#(,-
ca neste segmento de mercado, são também ameaça-
dos pelas linhas que, entretanto, ampliam seus negócios,
construindo os seus próprios terminais. Assim, e inde- deve
pendentemente de outras estratégias, uma das opções é ao au-
uma abordagem de forma integrada da cadeia de abas- 1+-" & *$& +,-
tecimento, oferecendo-se serviços porta-a-porta. Esta, ciência na movimentação de cargas nos portos, no
como se sabe, foi uma estratégia de sucesso adotada transporte marítimo e terrestre, e, muito especialmente,
pela LISCONT há bastante tempo. 3& '#($/0 & *+& %+#9(/ %& *+& 9$2 #& $E#+E$* & $ & 2 -E & *$%&
Porém nem todos os operadores de terminais apli- '$*+($%&2 EB%"('$%;&M&.# .J%(" &*+%"$&72"(1$& 4%+#9$/0 )&
cam esta estratégia na aquisição de empresas ou na (1. #"$&*+%"$'$#&D!+& &'2(+-"+&,-$2&-0 &=$#5&% 1+-"+&
1 -"$E+1&*+&!-(*$*+%&*+&-+EJ'( &+%.+'B,'$%;&K1&1!(- exigência com relação com o custo da entrega da mer-
tos casos a integração na rede é realizada através de cadoria, mas que ele, antes de mais nada, comparará o
uma melhor coordenação com operadores de trans- custo com o valor que lhe foi entregue.
porte ou operadores de logística. Estas mudanças e o consequente incremento da
Diante deste panorama, as autoridades portuárias, se ' -' ##L-'($& ' -%"("!+1& !1& *+%$, & .$#$& " * %& %&
desejarem posicionar suas unidades portuárias na linha operadores que atuam no porto. Porém a natureza do
do crescimento, são forçadas a reavaliarem o seu papel produto portuário, e em particular a sua complexidade,
de forma a criar as condições para obtenção de vanta- requer a existência de uma forte cooperação entre as
gens competitivas. O foco da atuação das autoridades #E$-(<$/H+%& .742('$%& +& .#(9$*$%&D!+& ' -"#(4!+1& .$#$&
portuárias e a vantagem competitiva de um porto já a formação do produto portuário, e, por outro lado, a
-0 &%+&2(1("$1&-$&4!%'$&*+&+,'(L-'($&#+2$"(9$&3& .+#$/0 & necessidade da presença de uma entidade que possa
de navios e movimentação de cargas. envolver o porto como um sistema integrado, sendo um
M&9$-"$E+1&*$&.# G(1(*$*+&"+1&%+&#+*!<(* &%(E-(,- fator incentivador da criação das condições para as me-
cativamente, de tal forma que, atualmente, não se possa lhorias necessárias. Reconhece-se que a autoridade por-
mais falar em hinterlands (potencial gerador de cargas do tuária é a entidade que se encontra melhor posicionada
. #" & !&%!$&5#+$&*+&(-F!L-'($&"+##+%"#+:&'$"(9 %;&N%" &%+& para levar a cabo esta missão. A transição para o regime

31
de landlord port (gestão com divisão de responsabilida- Em suma, melhora-se a qualidade do serviço pres-
*+%&+-"#+& &.#(9$* &+& &.742(' :&.+#1("+&3&$!" #(*$*+& tado e diminuem-se os respectivos custos, ou seja, ser-
portuária concentrar-se no planejamento, na regulação vem-se melhor os clientes.
+&-$&.# 1 /0 O1+2A #($&*$&+,'(L-'($&. #"!5#($; R1$& - "$& ,-$2& .$#$& *$#& ' -"$& *$& +%"#$"6E($& !%$*$&
P+%"+& ' -"+G" )& +& .$#$& #+%. -*+#& +,'$<1+-"+& $ %& por alguns portos europeus. Estando em fase já adian-
- 9 %& *+%$, %)& & .$.+2& *$& $!" #(*$*+& . #"!5#($& *+9+& tada, naqueles portos, o desenvolvimento de políticas
transitar de uma velha perspectiva meramente adminis- D!+&" #-$1&1$(%&F!(*$&$&.$%%$E+1&. #&+2+%&*+&-$9( %&
trativa para uma nova perspectiva de gestão e, ao mes- e mercadorias, estas autoridades portuárias optam por
mo tempo, passar de um enfoque na gestão das infraes- estabelecer acordos de cooperação com portos do seu
truturas para um enfoque na gestão das redes logísticas. foreland (origem ou destino das mercadorias) com vista
Uma das áreas onde se tem concentrado a atenção a “exportar” as suas práticas, tornando, deste modo, mais
das autoridades portuárias é no desenvolvimento de competitivas as redes logísticas onde se integram con-
sistemas de informação. Na verdade, hoje a gestão da juntamente com portos de países menos desenvolvidos.
informação desempenha um papel relevante na logística,
sendo um elemento determinante da competitividade A posição geoestratégica de Portugal
das redes logísticas. Mais e melhor informação permitem: A urgência da necessidade de revitalização do trans-
Q& Reduzir os níveis dos stocks, porque garante a ras- porte marítimo tem sido um tema recorrente ao nível
"#+$4(2(*$*+&* %&.# *!" %&- &F!G &+-"#+&$& #(E+1&+& das instâncias portuguesas e europeias. Assenta este fato
o destino. no reconhecimento de que se trata de um modo de
Q& Diminuir os desperdícios, porque são disponibi- transporte mais econômico e mais amigo do ambien-
lizados ao cliente dados que lhe permitem um co- te, conjugado com a constatação do congestionamento
nhecimento mais rigoroso dos produtos a adquirir de muitos dos grandes eixos de comunicação da rede
e, em termos de quantidade, pode encomendar-se o transeuropeia2 usados pelo transporte rodoviário no
estritamente necessário. comércio intracomunitário.
Q& Encurtar o tempo do percurso entre a origem e As expectativas quanto ao crescimento deste comér-
o destino, porque acelera operações de controle, em '( & ' -*!<+1& 3& ' -'2!%0 & *+& D!+)& '$% & -$*$& %+& =$/$&
.$#"('!2$#&.+2$%&+-"(*$*+%& ,'($(%)&+&" #-$&1$(%&F!(* & para reverter as atuais tendências (equilíbrio entre os
o diálogo entre os vários intervenientes, disponibi- modos de transporte), a situação tornar-se-á insusten-
lizando-se em tempo real os dados necessários ao tável.
planejamento das operações (os sistemas de infor- De forma complementar, também existe unanimi-
mações portuárias têm desempenhado um papel *$*+&#+2$"(9$&D!$-" &3&. %(/0 &.#(9(2+E($*$&*+&S #"!E$2)&
importante nesta área). e isso tanto no que diz respeito a tráfegos marítimos
Q& Reduzir os custos, não apenas os que resultam da quanto com relação ao efeito multiplicador, em termos
diminuição do tempo de imobilização dos produtos,
2. “7.500 km de estradas, ou seja, 10% da rede, estão quotidi-
mas também os custos administrativos associados ao anamente atingidas por congestionamento”, em “Livro Branco: a
processo de transporte. Política Européia de Transportes no Horizonte de 2010: a Hora
das Opções”

QUADRO 1. Importação, em toneladas, de Portugal, das regiões espanholas de


fronteira e de Madrid em 2008
IMPORTAÇÃO CANADÁ EUA MÉXICO VENEZUELA BRASIL ARGENTINA ANGOLA ÁFRICA TOTAL
DO SUL

PORTUGAL 192.930 1.546.501 158.353 406.366 3.232.981 1.102.495 949.373 1.351.628 8.940.627

ANDALUZIA 207.352 1.138.712 417.121 527.451 364.867 1.244.442 173.508 2.261.369 6.334.822

CASTELA E LEÃO 21.338 108.804 31.779 2.480 14.636 23.791 0 6.755 209.583

EXTREMADURA 445 4.522 30 27.521 5.500 254 0 1.449 39.721

GALIZA 9.499 891.758 1.903.352 20.112 339.762 779.066 35.939 200.123 4.179.611

MADRID 180.018 1.151.280 20.681 814.056 108.382 517.337 107 254.591 3.046.452

TOTAL 611.582 4.841.577 2.531.316 1.797.986 4.066.128 3.667.385 1.158.927 4.075.915 22.750.816

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econômicos, do transporte marítimo, capaz de gerar o Oceano”, sublinha-se que os momentos de maior gran-
$.$#+'(1+-" &*+&%+#9(/ %&+&$"(9(*$*+%&*+&$. ( &$ &F!G & deza para o país resultaram justamente de uma opção
de mercadorias, indutores do desenvolvimento de um estratégica pelo oceano.
tecido econômico que, se forte e devidamente estrutu- Acrescenta, ainda, que “contrariamente ao que ocor-
rado, é, ele próprio, fator de manutenção de cargas em reu com outros países e povos, para Portugal, o mar
regime cativo. nunca foi um obstáculo, mas sim um caminho para a
Assim, em Portugal, têm-se multiplicado algumas sua identidade nacional e para a sua viabilidade, enquan-
ações, com o empenhamento de atores de reconhecido to Estado multissecular” e constata que a centralidade
mérito no panorama nacional, no sentido de reposicio- atlântica do país se concretiza “face aos quatro pontos
nar a importância do mar para o país. Dois documentos cardeais e permite ao país valorizar a sua posição no
recentemente elaborados, o “Plano Nacional de De- ponto de encontro entre Norte e Sul, Leste e Oeste,
senvolvimento Econômico e Social” (PNDES – MEPAT/ Atlântico e Mediterrâneo, Europa, África e América.”
SEDR) e a “Estratégia Nacional para o Oceano” (CEO), Hoje, os tráfegos de Portugal (quadros 1 e 2), das
respectivamente, de 1998 e de 2003, e ambos da ini- regiões espanholas da fronteira e de Madrid com os
ciativa dos governos da época, enfatizam a necessidade principais países dos continentes africano e americano já
do desenvolvimento da atividade marítima em Portugal. assumem valores consideráveis, totalizando 6,6 milhões
T&.#(1+(# )& &SPUKV)&$,#1$&D!+& &E#$-*+&*+%BE-( & de toneladas nas exportações e 22,8 milhões de tonela-
para Portugal, no primeiro quarto do Século XXI, será das nas importações, no ano de 2008, ou seja, um total
“fazer do País uma primeira frente atlântica europeia, de 28,3 milhões de toneladas movimentadas, ou seja,
uma nova centralidade na relação da Europa com a eco- quase metade da movimentação total de todos os por-
nomia global.” tos portugueses. Assume particular destaque o comér-
Esta visão estratégica resulta da constatação do fato cio com os Estados Unidos (7,5 milhões de toneladas),
*$& . %(/0 & E+ E#$,'$1+-"+& .+#(=6#('$& *+& S #"!E$2& - & com o Brasil (4,6 milhões de toneladas), com a África do
contexto europeu, conjugada com a sua centralidade no Sul (4,2 milhões de toneladas) e com a Argentina (3,9
espaço atlântico, conferir “ao território português o pa- milhões de toneladas).
.+2&*+&=# -"+(#$&$"2W-"('$&+&*+&. #"$&*+&$'+%% &3%&# "$%&
dos continentes Americano, Africano e Asiático.” O Porto de Lisboa: um porto natural e
Em consequência, conclui aquele documento, “im- multifuncional
porta considerar a posição do território e das suas ca- V("!$* &- &9$%" &+%"!5#( &* &X+Y )&.$2' &*+&1$E-B,'$%&
racterísticas no contexto das mutações políticas, cientí- ' -*(/H+%&-$"!#$(%&+&*+&.#(9(2+E($*$&%("!$/0 &E+ E#5,'$)&
,'$%&+&"+'- 2JE('$%)& ' 1 &+2+1+-" &+%"#$"6E(' &*+&!1& no cruzamento das principais rotas marítimas mundiais,
novo ‘Modelo de Crescimento Econômico’”, devendo o porto de Lisboa, porto natural, amplo, protegido e
aquele modelo “assumir com convicção a situação de de águas profundas, oferece excelentes condições de
Portugal como fronteira atlântica da Europa em geral e navegabilidade que permitem o acesso de navios du-
do hinterland ibérico em particular”. rante todo o ano, independentemente das condições
No segundo documento, “Estratégia Nacional para o climáticas.

QUADRO 2. Exportação, em toneladas, de Portugal, das regiões espanholas


de fronteira e de Madrid em 2008
EXPORTAÇÃO CANADÁ EUA MÉXICO VENEZUELA BRASIL ARGENTINA ANGOLA ÁFRICA DO TOTAL
SUL
PORTUGAL 141.263 784.203 172.469 30.814 136.302 5.853 1.387.924 29.060 2.687.888

ANDALUZIA 117.990 1.347.379 522.844 323.608 186.287 39.341 60.999 31.272 2.629.720

CASTELA E LEÃO 3.795 16.733 9.748 127.870 35.185 10.874 5.231 6.026 215.462

EXTREMADURA 2.452 4.242 1.486 843 6.336 486 1.672 695 18.212

GALIZA 3.893 373.093 18.484 8.966 20.538 42.424 19.689 5.531 492.618

MADRID 36.337 123.018 67.489 13.678 159.076 98.247 14.794 22.499 535.138

TOTAL 305.730 2.648.668 792.520 505.779 543.724 197.225 1.490.309 95.083 6.579.038

33
A área de jurisdição do porto Tendo em conta a -71+# & *+& -$9( %& +-"#$* %)& +1&
de Lisboa é extensa, abrangendo a carga geral, incluindo a conteine-
frente de água de 11 conselhos ri- sua diversidade e rizada (500.857 TEU), em granéis
beirinhos em ambas as margens do multifuncionalidade, o sólidos alimentares e no transporte
estuário do Tejo, o maior da Euro- F!9($2& *+& .$%%$E+(# %)& %+-* )& .$#$)&
pa, e uma área banhada de grande
5&"'&!)#!6+$7&(!)("2! além disso, o porto preferencial na
dimensão (32 mil hectares). ênfase ao desenvolvimento 2(E$/0 &3%&Z+E(H+%&M!"I- 1$%&* %&
À APL, Administração do Porto dos segmentos da carga Açores e da Madeira, assim como
de Lisboa, S.A., entidade que geren- $ %&S$B%+%&M=#('$- %&*+&[B-E!$&T,-
cia o porto de Lisboa, estão desig- conteinerizada, dos granéis cial Portuguesa e aos Estados Uni-
nados dois tipos de atribuições e agroalimentares e do lazer e dos da América.
competências, nomeadamente as
que decorrem da sua função de
turismo.
Ações estratégicas para
Autoridade Portuária, isto é, a pro- consolidar a posição face
moção do desenvolvimento da atividade portuária no
estuário, e as que estão relacionadas com a gestão do (&$!'"23#-&$!)&! ',4/'+*&
* 1B-( &.742(' &1$#B"(1 &D!+&2A+&6&*+%"(-$* )&- &W14(- A autoridade portuária tem em desenvolvimento um
to das quais se insere a conservação do patrimônio his- conjunto de ações estratégicas que têm como objetivo
tórico eventualmente existente, em ações concertadas aumentar a competitividade do porto e, em particular,
com os diferentes municípios. consolidar a sua vantagem competitiva relativamente
Ao longo da vasta área de jurisdição desenvolvem-se aos tráfegos com origem e destino no Atlântico, a qual
%&1$(%&*(9+#%(,'$* %&"(. %&*+&$"(9(*$*+%&. #"!5#($%;&X#$- deriva não só da sua localização estratégica, mas tam-
tando-se de um porto multifuncional, dispõe de diversos bém das já referidas condições naturais que lhe permi-
terminais especializados para movimentação de todo o tem receber navios de linha direta.
tipo de carga, estando, contudo, particularmente voca- Entre outras se destacam aquelas que têm a ver com
cionado para o tráfego de granéis sólidos alimentares, a segurança e ambiente, com os sistemas de informação
de contêineres, assim como para o setor dos cruzeiros +& %(1.2(,'$/0 & *+& .# '+*(1+-" %)& ' 1& - 9 %& (-9+%"(-
turísticos. mentos e com a logística.
Na realidade, o porto de Lisboa tem uma capacida- Estas ações decorrem do plano estratégico, concluí-
de anual de movimentação de 1.000.000 TEU e de 4,5 do em 2007, e enquadram-se na visão e missão que se
toneladas de granéis agroalimentares, dispondo de três apresenta a seguir.
terminais especializados na movimentação de contêine- Visão do Porto de Lisboa
res – o Terminal de Contêineres de Santa Apolónia, o Tendo em conta a sua diversidade e multifuncionali-
Terminal Multipurpose de Lisboa, em Santa Apolónia, dade, o Porto de Lisboa dará ênfase ao desenvolvimen-
e o Terminal de Contêineres de Alcântara –, e quatro to dos segmentos da carga conteinerizada, dos granéis
terminais especializados na movimentação de granéis agroalimentares e do lazer e turismo. Assim, será um
agroalimentares – o Terminal da Trafaria, com capacida- fator estruturante da colocação da região de Lisboa no
de para armazenar cerca de 200 mil toneladas, o Termi- patamar mais elevado do sistema logístico ibérico, con-
nal do Beato, o Terminal de Alhandra e o Terminal de tribuindo para a construção de uma identidade ribeiri-
Palença. -A$) & .$#$&$&$,#1$/0 &*+&[(%4 $&+&*$&%!$&#+E(0 &' 1 &
A nível ibérico, o Porto de Lisboa ocupa o quarto metrópole europeia e atlântica e reforçando a compe-
lugar na movimentação de contêineres e, juntamente titividade nacional.
com Tarragona, é o primeiro lugar na movimentação de Missão do Porto de Lisboa
granéis agroalimentares. Dispõe, ainda, de terminais es- Q& \$#$-"(#&$%&' -*(/H+%&*$&.#+%"$/0 &* &%+#9(/ &.7-
pecializados na movimentação de granéis líquidos, assim blico alinhada com o interesse social.
como de dois terminais multiusos que movimentam es- Q& Assegurar a criação das condições para responder
sencialmente carga fracionada – o Terminal Multiusos do $ %& *+%$, %& * & 1+#'$* )& $"#$96%& *$& .# 1 /0 & *$&
Beato e o Terminal Multiusos do Poço do Bispo. inovação e do desenvolvimento de soluções tecno-
Destaque-se, ainda, que o Porto de Lisboa movimen- lógicas e operacionais que suportem a melhoria fun-
ta anualmente em torno de 12 milhões de toneladas cional das atividades portuárias, visando o reforço das
de carga marítima. É o primeiro porto português em vantagens competitivas do porto e tendo por base

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a competência dos seus colabo- A aposta nos sistemas de ativo na promoção das condições
radores. de competitividade do respecti-
Q& Ser um fator da dinamização informação contribui para vo porto, constituindo o diálogo
da cooperação entre os parcei- melhorar a qualidade do e a cooperação entre os diversos
ros operacionais com o objeti-
vo de se prestarem serviços de
serviço prestado e diminuir intervenientes da cadeia logística,
=$" #+%& +%%+-'($(%& 3& ' -'#+"(<$/0 &
excelência nas áreas portuária os respectivos custos, ou daquele objetivo.
e logística, orientados para o $#8(9!*"+(!($!*&/)+:;#$!%("(! Uma das áreas onde se tem
cliente e segundo princípios de concentrado a atenção das autori-
racionalidade econômica e de servir melhor os clientes. *$*+%&. #"!5#($%&6&-$&%(1.2(,'$/0 &
+,'5'($& % '($2& +& ' 1& #+%.+(" & de procedimentos e no desenvolvi-
pelas melhores práticas ambientais e de segurança. mento de sistemas de informação de suporte ao negó-
Q& Tirando partido de outras valências do Estuário cio portuário. Internamente um exemplo feliz da coope-
do Tejo, para além da portuária, e em estreita coope- ração promovida pela autoridade portuária é o Fórum
#$/0 &' 1& %&1!-('B.( %)&' -"#(4!(#&.$#$&D!$2(,'$#&$%& (&' !%/0!12&-.+'($'3,+2$(!%$)#+". Este fórum tem como
frentes ribeirinhas e dinamizar as atividades de lazer objetivo a coordenação da ação dos diversos interve-
e turismo, convivendo em harmonia com o território nientes na atividade portuária, envolvendo tanto as en-
envolvente. "(*$*+%& ,'($(%&D!$-" & %&$E+-"+%&.#(9$* %)& *+&= #1$&$&
" #-$#&1$(%&F!(*$&$&.$%%$E+1&* %&-$9( %&+&1+#'$* #($%&
Segurança e ambiente pelo porto. Não tendo apenas como objeto a discus-
Em primeiro lugar sublinhe-se que o Porto de Lisboa %0 &*$%&D!+%"H+%&#+2$"(9$%&3&Janela Única, estes assuntos
tem como preocupação o reforço dos meios de segu- "L1)&. #61)&!1&.+% &%(E-(,'$"(9 &-$%&%!$%&#+!-(H+%)&D!+&
rança, condição essencial para os tráfegos marítimos, es- ocorrem de forma regular de dois em dois meses, ou
pecialmente com os EUA, pelo que tem investido em com menor periodicidade se convocadas extraordina-
+D!(.$1+-" %&+&"+'- 2 E($%&' 1&9(%"$&3&' -'#+"(<$/0 & riamente.
daquele objetivo. A aposta nos sistemas de informação contribui para
São exemplos daquele esforço o sistema VTS (Vessel melhorar a qualidade do serviço prestado e diminuir os
X#$=,'&VC%"+1:)& ]+-"# &*+&] #*(-$'(J-&C&] -"# 2&*+& respectivos custos, ou seja, cria as condições para servir
X#5,' &^$#B"(1 &C&V+E!#(*$*)&$&+G(%"L-'($&*+&!-&S2$-&*+& melhor os clientes.
Emergencia del Puerto e de un Sistema (DUKC) Dyna- M& Y$-+2$& . #"!5#($& 7-('$& 8!1& (-%"#!1+-" & .$#$& E$-
mic Under Keel Clearance, .$#$&$!GB2( &3&+-"#$*$&*+&-$- rantir que os agentes econômicos possam relacionar-se
vios na barra.Também está em funcionamento no porto ' 1&'$*$&. #" &$"#$96%&*+&!1&7-(' &'$-$2&+2+"#I-(' :)&
um scanner de conteinêres, integrado no CSI (Container já em funcionamento no Porto de Lisboa, é um fator
Security Initiative) e, ainda, o sistema Megaports para a decisivo para a competitividade do porto, para o cresci-
detecção de produtos radioativos. mento da carga e para a integração do porto na cadeia
Por outro lado, o Porto de Lisboa hoje já é um porto logística. A Janela Única introduz transparência, previsibi-
que aposta no desenvolvimento sustentável. É um exem- 2(*$*+&+&' -,$-/$)& +&- &S #" &*+&[(%4 $& %&#+%!2"$* %&
.2 &*(%% &$&+G(%"L-'($&*+&% ,%"('$* %&%(%"+1$%&*+&' 2+"$& concretos são:
de resíduos dos navios e, ainda, a orientação com o ob- Q& Redução de custos (despachos totalmente eletrô-
jetivo de incentivar o recurso a novas formas de trans- nicos, 24hx7 dias da semana) – são dispensadas as
. #"+)&' 1 &6& &'$% &*$&9($&F!9($2)&*+&1 * &$&*(1(-!(#& deslocações físicas pelo fato da acessibilidade ser via
os seus impactos sobre a malha urbana. Web (só em redução de custos diretos dos parceiros
privados estimam-se cerca de 500 mil euros/ano, mas
!"#$%&"'($'!)*+,%&-.+'$'"!%/0!12&-.+'($'/,+2$(!%$)#+" há que se levar em conta que os parceiros privados
Para posicionar o porto no caminho do crescimen- "$1461&,<+#$1&(-9+%"(1+-" %&.$#$&1+2A #$#&$&%!$&
to, as autoridades portuárias são forçadas a reavaliar o +,'(L-'($&-$&!"(2(<$/0 &*$&_RS:;
seu papel, de forma a criar as condições para obtenção Q& Redução de tempo, nomeadamente no despacho
de vantagens competitivas. O foco da atuação das au- das mercadorias – autorização de saída das mercado-
toridades portuárias e a vantagem competitiva de um rias oriundas da União Europeia é dada previamente
. #" & Y5& -0 & %+& +%E "$1& -$& +,'(L-'($& +1& .+#$#& -$- 3&*+%'$#E$`& &"+1. &*+&*+%.$'A &$*!$-+(# &*+&1+#-
vios e movimentar cargas. Cabe-lhes, antes, um papel cadorias passou de 3 a 4 dias para máximo 2 horas

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(média atual – 58 minutos); a redução de tempo de e é uma condição essencial para a ampliação do hinter-
despacho de navios de carga e passageiros (autoriza- land, e isso porque a competição já não é entre portos,
ções de saída, dadas entre 2 a 4 horas antes da hora mas sim entre redes logísticas onde o porto é somente
prevista de saída do navio). um elo.
Q& No ano de 2009 ocorreram 12 mil despachos Hoje, o Porto de Lisboa já é servido por um conjunto
eletrônicos relativos a 3.200 escalas de navios, movi- de operadores logísticos que situam, principalmente, no
mentando 11,8 milhões de toneladas, 500 mil TEU e espaço entre a Bobadela e o Carregado.
426 mil passageiros. Além disso, já está em construção a Plataforma da
Q& Eliminação do papel – menos 10 milhões de folhas Zona Norte, na Castanheira do Ribatejo, da responsa-
A4/ano. bilidade da ABERTIS, a qual será uma plataforma multi-
Q& Existe previsibilidade e há o compromisso do 1 *$2&' 1&$'+%%(4(2(*$*+%&F!9($2)&# * 9(5#($&+&=+## 9(5#($)&
'!1.#(1+-" & *+& -B9+(%& *+& %+#9(/ & a& = #$1& ,G$* %& %+#9(-* &3&.$#"+&- #"+&*$&d#+$&^+"# . 2("$-$&*+&[(%4 $&
por acordo, os níveis de serviço, o despacho eletrô- e o Porto de Lisboa, com uma superfície total de 100
nico de todas as autoridades (SEF, VIAGILÂNCIA hectares.
SANITÁRIA, ALFÂNDEGA, SEGURANÇA E CAPI- A plataforma do Poceirão, também multimodal, com
TANIA) e é feita a monitorizarão do cumprimento $'+%%(4(2(*$*+%& # * 9(5#($& +& =+## 9(5#($)& %+#9(#5& 3& .$#"+&
desses níveis de serviço. sul da Área Metropolitana de Lisboa e os portos de Lis-
Q& Existem sistemas de alertas para as autoridades
4 $)& V+"74$2&+&V(-+%)& +&"+#5&!1$&%!.+#=B'(+&" "$2&*+&eff&
em situações de exceção (ao invés de todas as situa-
hectares. Esta plataforma ainda não teve sua construção
ções serem de exceção), pelo envio de SMS.
iniciada.
Q& b5& ' -"# 2+%& .#69( %& +& 9+#(,'$/H+%& 8#+%B*! %)&
À autoridade portuária, não excluindo a hipótese
mercadorias perigosas etc.).
de investir diretamente em plataformas logísticas, tem
Q& Está integrada com outros sistemas (SafeSeaNet).
hoje como orientação prioritária da sua atuação uma
Q& Permite um melhor planejamento de operações
estratégia de cooperação com diversos atores, visando
(informação recebida eletronicamente, previamente
3&'A+E$*$&+&*(#(E(*$&$&" * %& %&$" #+%:; $&'#($/0 &*+&' -*(/H+%&.$#$&!1$&#+%. %"$&+,'(+-"+&$ %&
Q& Permite a rastreabilidade das mercadorias no por- *+%$, %&D!+&%+&' 2 '$1&3&1+2A #($&*$&' 1.+"("(9(*$*+&
to, ou seja, é possível conhecer instantaneamente o do porto e da região.
estado do despacho de navios e da mercadoria.
<&/$+)#"(:;#$!=/(+$
Novos investimentos É com base na estruturação das redes logísticas que
Duas áreas de negócio consideradas estratégicas devem ser buscadas as soluções sustentáveis para a
para o Porto de Lisboa: a recepção e movimentação de área portuária. O projeto do porto do futuro é algo in-
granéis agroalimentares e a recepção e movimentação dissociável do projeto da rede logística, e esse aspecto
de carga conteinerizada. c!$-" &3 primeira, considera- será particularmente relevante para as soluções que, no
@%+&D!+&$&'$.$'(*$*+&(-%"$2$*$&- &. #" &#+%. -*+#5&3%& caso brasileiro, necessitarão ser encontradas não sim-
solicitações previstas para o longo prazo. Já no que se plesmente para minimizar diferentes gargalos existentes,
#+=+#+&3&'$#E$&' -"+(-+#(<$*$)& ' 1&!1$&1 9(1+-"$/0 & mas especialmente para criar robustos diferenciais.
atual na ordem dos 500 mil TEU, em 2009, as projeções Os projetos do setor precisam ser pensados confor-
de tráfego apontam para a necessidade de reforço da me as orientações do moderno Project Management,
capacidade no médio prazo. que em suas gestões considera os principais elos das
S$#$&#+%. -*+#&$&+%"+&*+%$, &(1. #"$&%$2(+-"$#&D!+)& redes logísticas em questão, assim como as respectivas
no quadro do planejamento regional, está prevista uma interfaces para garantir resultados sustentáveis. Isto obri-
reserva estratégica portuária na margem sul do Tejo ga criar outra forma de se pensar soluções no setor. De
onde será possível construir-se um terminal com capaci- certa maneira, obriga a mudar a cultura ainda dominante
dade para receber navios sem limitações de calado pelo nas atividades portuárias.
1+- %&=$'+&3&%("!$/0 &$"!$2; *
_____________________________
(*) a elaboração deste artigo ocorreu em novembro/dezembro
Logística 2010, como decorrência da atuação, em outubro de 2010, da
A existência de plataformas logísticas associadas aos atuação do professor Darli Rodrigues Vieira como visiting profes-
sor no programa de Ph.D. em Engenharia e Gestão do Instituto
portos constitui um verdadeiro fator de competitividade Superior Técnico (IST), em Lisboa.
36 www.revistamundologistica.com.br

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